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CASO PEDRO MIGUEL DA SILVA CARDOSO
a)Descrição do fato –caso/acontecimento/notícia que tenha relação com a matéria. NÃO serão aceitos os casos abordados no livro Direito Internacional Privado de Jacob Dolinger.
Trata-se de do caso do português naturalizado brasileiro Pedro Miguel da Silva Cardoso. O pedido de extradição foi formulado pelo governo de Portugal, acusando o português de prática dos crimes de falsificação, burla qualificada e branqueamento de capitais. Os crimes de que Pedro Miguel é acusado teriam sido praticados no período entre 2002 e 2006. Consta no processo que , valendo-se da condição de funcionário de uma empresa seguradora, ele teria forjado sinistros de automóveis, sendo o dinheiro das indenizações pelos supostos sinistros divididos entre ele e corréus. Do produto do crime teriam sido transferidos para a conta dele pelo menos 17.500 euros. Após o cometimento dos crimes, Pedro Miguel mudou-se para o Brasil, onde se casou com uma brasileira, obtendo naturalização como brasileiro.
A defesa alegou que essa naturalização, o fato de residir no Brasil desde 2003, ser casado com uma brasileira, que estaria esperando um filho dele, além de ter ocupação lícita e residência fixa no Brasil, impediria sua extradição. O ministro Teori Zavascki, entretanto, refutou tais alegações. 
A defesa alegou que essa naturalização, o fato de residir no Brasil desde 2003, ser casado com uma brasileira, que estaria esperando um filho dele, além de ter ocupação lícita e residência fixa no Brasil, impediria sua extradição. O ministro Teori Zavascki, entretanto, refutou tais alegações
Por votação unânime, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) deferiu parcialmente, o pedido de extradição (EXT 1272) do cidadão português Pedro Miguel da Silva Cardoso, formulado pelo governo de Portugal. O mandado de prisão contra ele foi expedido pelo Ministério Público de Almada (Portugal) para que responda pela suposta prática dos crimes. Mas a extradição foi deferida parcialmente, somente quanto ao crime de burla qualificada, que no Brasil equivale ao estelionato. 
b)Posicionamento
É preciso atentar nesse caso para algumas atitudes tomadas pelo Supremo, consideradas de acordo com a legislação vigente no Brasil.
É preciso ressaltar que primeiro para que uma extradição seja concedida, é preciso que haja a ocorrência do requisito da dupla tipicidade, isto é , o crime pelo qual o extraditando é acusado deve estar previsto na legislação penal do país requerente e também na legislação brasileira.
Quanto ao delito de branqueamento de capitais, o relator do processo, ministro Teori Zavascki afirmou que o requisito da dupla tipicidade não foi plenamente atendido. O relator explicou que, embora o branqueamento de capitais encontre correlação com o nosso crime de lavagem de dinheiro, a lei brasileira pressupõe a existência de uma conduta delitiva antecedente. No caso, entretanto, o delito precedente imputado ao extraditando burla qualificado (estelionato) não estava arrolado nos incisos I ao VIII do artigo 1º da Lei brasileira 9.613/98, na redação adotada ao tempo dos fatos imputados, afirmou. Quanto ao crime de falsificação de documento, o ministro salientou que o STF tem o entendimento de que este crime corresponde a fato anterior que não pode ser punido quando o falso se exaure na fraude. Nesses casos, o entendimento do STF é o de que a falsificação constituiu circunstância elementar do crime mais grave, sendo por este absorvida. Em relação ao argumento da defesa quanto a naturalização (ocorrida após o cometimento dos crimes), o ministro apoiou-se no artigo 5º, inciso LI, da Constituição Federal, que admite a extradição de naturalizado, entre outros, quando crime comum tiver sido por ele praticado antes da naturalização. Quanto ao casamento com brasileira e filho brasileiro, reportou-se à Súmula 421 do STF, segundo a qual “não impede a extradição a circunstância de ser o extraditando casado com brasileira ou ter filho brasileiro”. 
c) Justificativa/ análise utilizando os dispositivos dados em aula.
De acordo com os dispositivos usados em sala, torna-se necessário saber responder a algumas perguntas. Primeiro, um cidadão que goze da nacionalidade brasileira e de outra cidadania poderia ser extraditado do Brasil para esse país, ou vice-versa? A princípio, sim, uma pessoa com cidadania de duas democracias poderia ser extraditada de uma jurisdição para a outra, com base em tratado ou em promessa de reciprocidade, pois em ambas tal indivíduo teria seus direitos fundamentais respeitados como cidadão local, sem qualquer distinção em relação a qualquer outro compatriota. Ou seja, essa pessoa não seria “estrangeira” no Estado de destino (requerente), nem no Estado de origem (requerido). Estaria acolhido pela Constituição e pelos tratados de direitos humanos de que os países em questão fossem signatários.
A respeito de tal premissa, assegura o art. 5° caput da CRFB, que não haverá qualquer distinção de tratamento entre brasileiros e estrangeiros, no que tange às garantias judiciais no processo penal.
Cabe ressaltar ainda que os portugueses residentes no País podem ter estatuto especial no Brasil, em função do artigo 12 da Constituição, que lhes assegura, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, todos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos na Constituição de 1988. Esse artigo fundamenta o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Federativa do Brasil e a República Portuguesa, celebrado em Porto Seguro, em 22 de abril de 2000 (Decreto 3.927/2001), cujo artigo 18 assim dispõe:
“Art. 18. Os brasileiros e portugueses beneficiários do estatuto da igualdade ficam submetidos à lei penal do Estado de residência nas mesmas condições em que os respectivos nacionais e não estão sujeitos à extradição, salvo se requerida pelo Governo do Estado da nacionalidade“.
Assim é possível verificar a regularidade da decisão, tendo em vista que portugueses residentes no Brasil e que gozem do estatuto da igualdade, tal como os brasileiros, somente poderão ser extraditados para o próprio país de origem, isto é, Portugal, tendo por base a Convenção de Extradição entre os Estados Membros da CPLP (Decreto 7.935/2013) e o Tratado de Porto Seguro, de 2000.
Como ainda, os crimes praticados por PEDRO MIGUEL DA SILVA CARDOSO não são totalmente previstos no Código Penal Brasileiro, a extradição parcial deferida pelo STF, foi a solução para tal caso.