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1 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI DISCIPLINA DE BIOQUÍMICA PROFESSOR: MARCUS HENRIQUE CANUTO INTEGRAÇÃO METABÓLICA As reações metabólicas dos carboidratos, lipídeos, aminoácidos e bases púricas e pirimídicas, estudadas separadamente, ocorrem, na realidade, de modo integrado, visando a reprodução, o crescimento e desenvolvimento celular. A via final comum ao catabolismo de todas essas biomoléculas é o Ciclo de Krebs. Esse ciclo representa a mais importante série de reações na economia celular, na qual a energia dos processos oxidativos é liberada e captada. Ele possui também uma função importante pelo fato de que alguns de seus intermediários podem ser utilizados para síntese de metabólicos necessários para outras funções na célula, como por exemplo a formação de aspartato a partir de oxaloacetato. O acetil-CoA representa uma típica substância da interrelação metabólica. As três grandes vias do metabolismo dos carboidratos, dos lipídeos e das proteínas, encontram um denominador comum no acetil-CoA. O esquema abaixo mostra o catabolismo das grandes moléculas nutrientes que são degradadas em seus blocos construtivos tais como: polissacarídeos, produzindo hexoses ou pentoses; lipídeos, produzindo ácidos graxos, glicerol e outros componentes; e proteínas, produzindo os aminoácidos. Posteriormente, as hexoses, as pentoses, o glicerol, os ácidos graxos e os aminoácidos são desdobrados formando o acetil-CoA e alguns produtos finais. Finalmente, os grupos acetílicos do acetil- CoA são canalizados para o percurso catabólico final comum, onde são oxidados à dióxido de carbono e água com a produção de energia sob a forma de ATP. Isso ocorre graças à integração existente entre as reações do Ciclo de Krebs e às reações da Cadeia Respiratória. ESQUEMA 01 Proteínas Polissacarídeos Lipídeos ADP + Pi ADP + Pi ADP + Pi ATP ATP ATP Aminoácidos Hexoses e Pentoses Ácidos Graxos e Glicerol ADP + Pi ATP Fosfoenolpiruvato ADP + Pi ADP + Pi ATP ATP Piruvato ADP + Pi ATP O2 + e - + H+ H2O Note que as vias catabólicas iniciam-se a partir de diversos polissacarídeos, lipídeos e proteínas e convergem para uma rota final comum: o Ciclo de Krebs. A o contrário, as vias biossintéticas divergem; elas iniciam a partir de poucos precursores do Ciclo de Krebs e formam espécies muito diferentes de biomoléculas (carboidratos, lipídeos e aminoácidos). Como estamos observando, existe uma importante integração entre o metabolismo das diversas biomoléculas. Várias são as reações chaves que contribuem para a integração metabólica, possibilitando interconversões entre carboidratos, lipídeos e aminoácidos. Os esquemas que se seguem darão a vocês uma visão global de como o organismo utiliza esses metabólicos. Acetil CoA Ciclo de Krebs Cadeia Respiratória Transporte de Elétrons NH3 CO2 2 Algumas das principais reações, com suas respectivas enzimas que contribuem para a integração dos diversos metabolismos são apresentadas abaixo: 1 – Piruvato desidrogenase: Piruvato Acetil-CoA + CO2 2 – Piruvato quinase: P-enolpiruvato + ADP+ Pi Piruvato+ ATP 3 – Carboxilase pirúvica Piruvato + ATP + CO2 Oxaloacetato + ADP+ Pi (usa Biotina e é ativada pelo Acetil-CoA) 4 – Fosfoenolpiruvato - Carboxiquinase: Fosfoenolpiruvato + GDP + CO2 Oxaloacetato + GTP 5 – Acetil-CoA – Carboxilase: Acetil-CoA + ATP + H2O + CO2 Malonil-CoA + ADP + H3PO4 (Biotina) 6 – Propionil-CoA – Carboxilase Propionil-CoA + ATP + H2O + CO2 Metilmalonil-CoA + ADP + H3PO4 (Biotina) ESQUEMA 02 DNA e RNA Glicogênio CO2 + Pentose Glicose NADPHH+ NADP+ Ácidos Graxos Malonil CoA Corpos Cetônicos Fosfoenolpiruvato Colesterol Piruvato NADPHH+ NADP+ Acetil CoA Citrato Oxalacetato Aspartato Isocitrato Malato ∝ Cetoglutarato Fumarato Pirimidinas e Aminoácidos Aminoácidos Succinil CoA Metilmalonil CoA Propionil CoA Através do esquema 2 podemos concluir que: a) Os carboidratos são conversíveis em ácidos graxos, pois o acetil-CoA formado pela via glicolítica pode se transformar em malonil-CoA, um precursor dos ácidos graxos. b) Os ácidos graxos não podem ser convertidos em carboidratos embora sejam degradados em acetil-CoA. Isto porque o equivalente a dois átomos de carbono, adquiridos pelo acetil-CoA é oxidado no Ciclo de Krebs, antes da produção de ácidos dicarboxílicos. c) Ainda podemos notar a interrelação existente entre o metabolismo dos carboidratos e lipídeos, quando analisamos a influência da via das pentoses sobre a síntese de ácidos graxos e colesterol. O NADPH gerado pela via das pentoses é utilizado na síntese dos lipídeos. Assim uma deficiência no metabolismo dos carboidratos reflete na biossíntese dos lipídeos. Lembre-se que essas vias têm a mesma localização celular: citosol. No jejum ou no diabetes não há metabolização de glicose; como conseqüência, não há formação do NADPH pela via das pentoses e nem síntese do acetil-CoA pela glicólise. O organismo então, lança mão da via de degradação de ácidos graxos para produzir acetil-CoA. Esse excesso não étotalmente drenado pelo Ciclo de Krebs por deficiência de oxaloacetato, oriundo principalmente da glicose. Como consequência, em jejum prolongado e diabetes, há um acúmulo de acetil-CoA que não segue a via da síntese de ácidos graxos por falta de NADPH. As alternativas que seguem são: formação de colesterol e corpos cetônicos. Porém, a síntese do colesterol também requer NADPH; então, o acetil-CoA canaliza-se para a formação de grandes quantidades de corpos cetônicos que acumulam-se no sangue e são excretados na urina. d) Também certos aminoácidos podem ser sintetizados a partir dos carboidratos via transformação da glicose até piruvato e moléculas do Ciclo de Krebs (acetil-CoA, ∝-cetoglutarato, oxaloacetato). e) Dependendo dos intermediários produzidos no metabolismo dos aminoácidos, esse podem ser convertidos em carboidratos e/ou lipídeos. f) Propionil-CoA aparece como produto do catabolismo de : pirimidinas, certos aminoácidos como valina e treonina e ácidos graxos de número ímpar de átomos de carbono. O propionil-CoA entra no Ciclo de Krebs como succinil-CoA. 3 ESQUEMA 03 glicogênio piruvato Aminoácidos glicogênicos oxaloacetato ∝-cetoglutarato fosfoenolpiruvato Aminoácidos cetogênicos Acetil-CoA Corpos cetônicos Intermediários da síntese de glicogênio Aminoácidos mistos Acetil-CoA O Esquema 04 mostra que o ácido acético, na forma de acetil-CoA tem um papel central como precursor biossintético de muitos lipídeos. ESQUEMA 04 Ácidos Graxos Carboidratos Aminoácidos Malonil-CoA Acetil-CoA Acetoacetil-CoA Acetil-CoA Ácidos Graxos CO2 Hidroximetil-glutaril-CoA Triacilglicerol Corpos cetônicos Terpenos e outros lipídeos complexos Colesterol Ácidos Biliares Hormônios Esteróides fecais Esteróides ESQUEMA 05 Integração entre o metabolismo das bases púricas e pirimídicas com os carboidratos, aminoácidos e lipídeos. Glicose Piruvato Ribose Acetil-CoA PRPP Ácidos graxos Bases púricas DNA Bases pirimídicas RNA Ciclo de Aminoácidos Ciclo Krebs da Uréia Carbamil fosfato Uréia Outro esquema, simplificado, que poderá mostrar as interconversões possíveis entre carboidratos, lipídeos e certos aminoácidos: ESQUEMA 06 Hexoses Ácidos graxos CO2 Piruvato Acetil-CoA Triglicerídeo Aspartato Oxaloacetato Citrato CO2 Alanina Malato ∝-cetoglutarato glutamato CO2 Fumarato Succinato Todas estas vias metabólicas são controladas pela célula viva de acordo com suas necessidades e por mecanismos diversos. Por exemplo: a própria carga energética disponível, na célula, controla o caminho seguido pelos diversos metabólitos. Existem pontos de controle dessas reações feitos pelos próprios níveis de ATP, ADP e AMP, como é o caso da reação de transformação da frutose 6-P em frutose 1,6-di-P, catalisada pela fosfofrutoquinase. Essa enzima, é estimulada quando há elevação dos níveis de ADP e AMP e consequentemente diminuição dos níveis de ATP. Sua inibição ocorre quando os níveis de ADP e AMP diminuem e o de APT se eleva. Outra enzima controlada pela concentração do ATP é a citrato sintetase. Como o Ciclo de Krebs é a via final comum ao metabolismo dos carboidratos, lipídeos e aminoácidos, um controle a nível de uma de suas enzimas provocará controle no catabolismo de todos eles. Inibição da síntese do citrato eleva a concentração de acetil-CoA, provocando assim, aumento na síntese de ácidos graxos. Na regulação dessa integração metabólica, estão também envolvidos os mecanismos nervosos e hormonais. Ora, a célula necessita de um trabalho organizado em que a anarquia não é permitida. É pois, um dos maiores desafios à bioquímica atual a compreensão dos mecanismos pelos quais uma determinada ordem é mantida entre as inúmeras reações metabólicas possíveis.
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