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ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA PROFESSORES Dr. Bruno de Paula Caraça Smirmaul Dr. João Victor Del Conti Esteves ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 2 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SMIRMAUL, Bruno de Paula Caraça; ESTEVES, João Victor Del Conti. Atividade Física e Qualidade de Vida. Bruno de Paula Caraça Smirmaul; João Victor Del Conti Esteves. Maringá - PR.:UniCesumar, 2018. 182 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Atividade Física. 2. Qualidade de Vida. 3. Saúde. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0974-3 CDD - 22ª Ed. 701.1 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho, Head de Curadoria e Inovação Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria Giovana Costa Alfredo, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo, Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard. Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Hellyery Agda, Revisão Textual Cintia Prezoto Ferreira, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock. Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Débora do Nascimento Leite Diretoria de Design Educacional Janes Fidélis Tomelin Pró-Reitor de Ensino de EADKátia Solange Coelho Diretoria de Graduação e Pós-graduação Leonardo Spaine Diretoria de Permanência 6 autores 6 Professor Doutor Bruno de Paula Caraça Smirmaul Doutor em Atividade Física e Saúde pela UNESP Rio Claro, Mestre em Biodinâmica do Movimento e Esporte pela UNICAMP (com estágio de pesquisa na University of Kent com o Prof. Samuel M. Marcora) e Graduado em Educação Física pela UNICAMP (com estágio de pesquisa na University of Cape Town com o Prof. Timothy D. Noakes). Fundador e Autor Principal do site “EFBE - Educação Física Baseada em Evidências” (www.efbe.com. br). Professor das Faculdades ASSER nas seguintes disciplinas: I) Fisiologia do Exercício; II) Atividade Física para Grupos Especiais; III) Medidas e Avaliação; IV) Programas de Aca- demia; V) Saúde e Sustentabilidade; VI) Estágio Supervisionado. Para saber mais, acesse o currículo disponível em: <http://lattes.cnpq.br/1225203348100287>. Professor Doutor João Victor Del Conti Esteves Doutor em Ciências (Fisiologia Humana) pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Univer- sidade de São Paulo (ICB-USP) (2016), com período de estágio no Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (IMM-Lisboa); Mestrado em Educação Física (linha de pesquisa: Ajustes e Respostas Fisiológicas e Metabólicas ao Exercício Físico) pelo Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física - UEM/ UEL (2012); pós-graduação (lato-sensu) em Prescrição Personalizada de Exercícios Físi- cos - Personal Training (UEM) (2010) e graduação em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) (2008). Tem experiência na área de Fisiologia, Avaliação Física, Treinamento Físico Resistido e Aeróbio, com ênfase em Fisiologia do Esforço e Endócrina, atuando principalmente nos seguintes temas: atividade física e saúde, avaliação física e funcional, treinamento físico, obesidade, diabetes, tecido adiposo, músculo esquelético, GLUT4 e microRNAs. Para saber mais, acesse o currículo disponível em: <http://lattes.cnpq.br/2122237844359604>. apresentação ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo à disciplina “Atividade Física e Qualidade de Vida”. Este livro foi preparado por dois professores, ambos profissionais de Educação Física, com o intuito de apresentar a você conteúdos e reflexões fundamentais na área de atividade física, saúde e qualidade de vida. Esses conhecimentos lhe trarão a oportunidade de aprendizado e de desenvolver uma reflexão crítica que o auxiliará sobremaneira na sua formação e futura atuação como profissional de Educação Física. Este livro está dividido em cinco unidades: A Unidade I, intitulada “Saúde e Qualidade de Vida,” está dividida em quatro tópicos que abordarão sobre os diferentes conceitos de saúde, os aspectos relacio- nados às transições demográfica e epidemiológica e suas consequências no cená- rio da saúde, assim como os diferentes fatores que a determinam. Você também aprenderá sobre a qualidade de vida, seus diversos componentes e a sua relação com o estilo de vida das pessoas. A Unidade II, denominada “Atividade Física e Saúde,” está dividida em três tópicos que fornecerão uma compreensão da relação entre atividade física e saúde numa perspectiva da evolução humana, o impacto da tecnologia nos níveis de atividade física cotidiana e também discutirá a trajetória do conhecimento na área de atividade física e saúde, bem como as diferentes possibilidades de atuação do profissional de Educação Física. A Unidade III, denominada “Atividade Física, Aptidão Física e suas Relações com a Saúde: Conceitos e Evidências,” está dividida em cinco tópicos. Nessa unidade, você aprenderá conceitos essenciais para a sua atuação profissional: atividade física, exercício físico, aptidão física e suas inter-relações com a saúde. Além disso, você aprenderá sobre os diferentes componentes da aptidão física relacionada à saúde (aptidão cardiorrespiratória, composição corporal, aptidão musculoesquelética e flexibilidade), bem como os diferentes métodos de avaliá-los. A Unidade IV, chamada “Prescrição de Exercícios para melhora da Aptidão Física e Saúde”, abordará, numa perspectiva mais aplicada, as orientações gerais e princípios básicos para a prescrição do exercício aeróbio, de condicionamento neuromuscular (força e resistência musculares) e de flexibilidade para adultos saudáveis. As recomendações para crianças e adolescentes também serão debatidas. Por fim, a Unidade V, “Exercício Físico para Grupos Especiais”, discutirá os principais aspectos relacionados ao envelhecimento, à obesidade, ao diabetes melli- tus e à hipertensão arterial, bem como o papel do exercício físico nessas condições. Este livro possui conteúdos e reflexões valiosas e, desse modo, esperamos contribuir para a sua formação sólida e de qualidade. Aproveite a leitura e desejamos um ótimo curso! Bruno de Paula Caraça Smirmaul João Victor Del Conti Esteves sumário UNIDADE I SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA 14 O Que é Saúde? 20 Transições Demográfi ca e Epidemiológica 26 Determinantes da Saúde 30 Qualidade de Vida UNIDADE II ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE 46 Perspectiva Evolutiva da Atividade Física 50 Tecnologia e (IN) Atividade Física 54 Passado e Presente dos Conhecimentos Sobre Atividade Física e Saúde UNIDADE III ATIVIDADE FÍSICA, APTIDÃO FÍSICA E SUAS RELAÇÕES COM A SAÚDE: CONCEITOS E EVIDÊNCIAS 70 Atividade Física, Aptidão Física e Suas Relações com a Saúde 82 Aptidão Cardiorrespiratória 88 Composição Corporal 94 Aptidão Musculoesquelética 98 Flexibilidade UNIDADE IV PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS PARA MELHORA DA APTIDÃO FÍSICA E SAÚDE 112 Orientações Gerais Para a prescrição de Exercícios 118 Exercício Aeróbio (Condicionamento Cardior- respiratório) 129 Condicionamento Neuromuscular 134 Exercícios de Flexibilidade 136 Exercícios Para Crianças e Adolescentes UNIDADE V EXERCÍCIO FÍSICO PARA GRUPOS ESPECIAIS 152 Envelhecimento e Exercício Físico 158 Obesidade e Exercício Físico 164 Diabetes Mellitus e Exercício Físico 170 Hipertensão Arterial e Exercício Físico 182 Conclusão Geral Professor Dr. Bruno de Paula Caraça Smirmaul Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • O que é Saúde? • Transições Demográfi ca e Epidemiológica • Determinantes da Saúde • Qualidade de Vida Objetivos de Aprendizagem • Conhecer e refl etir sobre os diferentes conceitos de Saúde. • Compreender o que é Transição Demográfi ca e Transição Epidemiológica e suas consequências no cenário da saúde. • Estudar e refl etir sobre os Determinantes da Saúde. • Conhecer o conceito de Qualidade de Vida, seus componentes e sua relação com o estilo de vida. SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA I unidade INTRODUÇÃO C aro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! Na Unidade I, abordare- mos quatro tópicos principais de estudo. No primeiro Tópico (“O que é Saúde”), você estudará o con- ceito de Saúde, um conceito essencial para nós, profissionais da área. Para isso, apresentarei diferentes conceitos e discutiremos, juntos, sobre os pontos positivos e negativos de cada conceituação. Veremos que compreender bem esse tema implicará em uma atuação profissional de mais qualidade e mais abrangente, potencialmente beneficiando os resul- tados de nosso trabalho. O segundo Tópico (“Transições Demográfica e Epidemiológica”) ser- virá para você compreender as mudanças que estão ocorrendo no Brasil e no mundo em relação às características da população, assim como o per- fil de doenças e de causas de mortalidade. Além disso, você refletirá sobre como essa duas transições estão conectadas entre si. Esse conhecimento é essencial para analisarmos as atuais transformações em nossa sociedade e seu impacto nas condiçõese necessidades de saúde da população. No terceiro Tópico (“Determinantes da Saúde”), apresentarei os com- ponentes e características de uma pessoa, comunidade ou população que influenciam a saúde. Você irá refletir sobre diversos aspectos que afetam a nossa saúde, muito além do que apenas as nossas escolhas e comporta- mentos individuais. Por fim, o quarto Tópico (“Qualidade de Vida”) apresentará elemen- tos que facilitará a sua compreensão sobre o que é Qualidade de Vida, conceito tão popular e importante para os indivíduos e para a população em geral. Além disso, apresentarei um instrumento de fácil utilização para analisar o estilo de vida, componente intimamente relacionado à Qualidade de Vida. Bons estudos! ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 14 O Que é Saúde? 15 EDUCAÇÃO FÍSICA Começo esta unidade com uma pergunta muito simples. Quero que você, antes de prosseguir com o texto, pare, pense e tente responder de forma mais completa possível: “você é saudável?”. Em uma situação hipotética (no futuro), extrapo- le agora essa pergunta para outras pessoas e respon- da: “seus alunos, clientes ou pacientes são saudáveis?”. Enquanto você pensava nas respostas das per- guntas anteriores, tanto para você mesmo como para eventuais alunos, clientes e/ou pacientes, há grandes chances de que você tenha começado a perceber que a resposta para essa pergunta pode não ser tão sim- ples como inicialmente imaginado. Quais elementos ou aspectos relacionados à saúde você utilizou para compor a sua resposta? É notório que os elemen- tos contidos na resposta vão depender, em grande parte, do conceito que temos do “O que é Saúde?”. Dependendo desse conceito, utilizaremos diferentes elementos e aspectos para definirmos se uma pessoa é saudável ou não ou, ainda, qual o “nível” de saúde determinada pessoa possui. Assim, como profissionais da saúde e da edu- cação, é muito importante conhecermos alguns di- ferentes conceitos de “saúde” e refletirmos critica- mente sobre eles. Tal importância se dá pelo fato de que, de acordo com nossa visão de saúde, podere- mos considerar e abordar (ou não considerar e não abordar) determinados aspectos ao longo de nossa atuação profissional, impactando diretamente na vida das pessoas. Um primeiro conceito de saúde que podemos considerar é o seguinte: Independentemente do quanto você conseguiu ex- plorar o tema, vamos refletir juntos agora. De acor- do com o conceito anterior, se uma pessoa não apre- senta nenhuma doença específica, ela é considerada saudável. Porém, imagine uma pessoa que não pos- sui nenhuma doença específica, mas apresenta uma ou várias das características a seguir: SAÚDE É A AUSÊNCIA DE DOENÇAS O que você acha desse conceito? Bom? Ruim? Completo? Incompleto? Faria alguma alteração? Acrescentaria algo? Novamente, peço que você pare, pense e tente responder a essas perguntas an- tes de prosseguir. ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 16 • Tristeza; • Cansaço; • Angústia; • Possui uma defi ciência física; • É amputada; • Possui baixa aptidão cardiorrespiratória; • Possui baixos níveis de força; • Possui baixa capacidade funcional; • É incapaz de realizar as atividades de vida diária (AVDs) de forma independente; • Fuma; • Se alimenta de forma inapropriada; • Etc. E agora, depois de saber que a pessoa possui alguma, várias ou todas essas características, você ainda falaria que essa pessoa é saudável, somente por não apresentar nenhuma doen- ça específi ca? 17 EDUCAÇÃO FÍSICA Uma evolução do conceito anteriormente estudado é o conceito de saúde da Organização Mundial de Saúde ([2017], on-line)1, um dos mais populares atu- almente. De acordo com esse conceito, saúde é um: “Estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausên- cia de doenças” Isso mesmo, precisamos ter pensamento crí- tico sempre, mesmo se a fonte da informação seja um órgão famoso e respeitado, como a Organização Mundial de Saúde (ALMEIDA FILHO, 2000). Ape- sar de ser um conceito bem mais interessante que o primeiro, uma palavra presente nesse conceito não parece adequada para a defi nição de “ser saudável” ou não. Você consegue identifi car a palavra? No conceito da Organização Mundial da Saúde, a palavra “completo” acaba sendo um pouco estra- nha. É só pararmos para pensar. Será que algum de nós consegue passar um mês, uma semana, ou mesmo um dia inteiro em um “completo bem-estar físico, mental e social”? Dessa forma, ao utilizarmos esse conceito, teríamos que classifi car a maioria de nós, ou todos nós, como não saudáveis. Por fi m, apresento um conceito que considero bas- tante completo e interessante para defi nirmos saúde: “Estado dinâmico de bem-estar caracteriza- do pelo potencial físico e mental que satisfaz as demandas vitais compatíveis com a idade, cultura e responsabilidade pessoal” (BIRCHER 2005, p. 336). “Estado de completo bem-estar físico, “Estado dinâmico de bem-estar caracteriza- do pelo potencial físico e mental que satisfaz as demandas vitais compatíveis com a idade, do pelo potencial físico e mental que satisfaz E agora, você está satisfeito com esse conceito de saúde? Acha que abrange um espectro de elementos bem maior e é mais completo? Porém, mesmo assim, você ainda conseguiria pensar em algum ponto ne- gativo ou que poderia ser melhorado nesse conceito? ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 18 Esse conceito de saúde inclui a palavra “dinâmico”, considerando que nosso bem-estar é influenciado por diversos aspectos e totalmente mutável ao lon- go do tempo. Ainda, explicita a questão da idade, cultura e responsabilidades pessoais. É interessante pensar nisso, pois as mesmas características físicas e mentais que podem ser consideradas boas para um idoso, podem ser consideradas ruins, em termos de saúde, para um adulto jovem, por exemplo. O mes- mo pode acontecer para diferentes culturas ao redor do mundo. Apesar disso, não quero dizer que esse Lembre-se de sua resposta à pergunta inicial da Unidade (“Você é saudável?”) e reflita sobre os ele- mentos que você utilizou para responde-la. Agora responda novamente, utilizando todos os conceitos e informações que estudamos até aqui. Fonte: autor. REFLITA Figura 1 - Representação do “contínuo” da saúde Fonte: adaptada de Nahas (2013). último conceito é perfeito e que não possam haver outros mais interessantes ou que não podemos en- contrar pontos negativos neste. Outro ponto interessante é que esse último conceito de saúde estudado nos permite enxergar o processo de saúde como um “contínuo”, ao invés de algo binário, definido como “sim” ou “não” (sau- dável ou não saudável). De acordo com a natureza dinâmica de nossa saúde, diferentes comportamen- tos e fatores podem influenciar nosso “nível” de saúde. Veja a figura a seguir: 19 EDUCAÇÃO FÍSICA ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 20 Agora que estudamos e refletimos sobre diferen- tes conceitos de saúde, vamos dar o próximo passo e analisar o atual cenário brasileiro, em termos de saúde e doenças. Para a compreensão desse cenário, dois aspectos são essenciais: a Transição Demográfi- ca e a Transição Epidemiológica. A Transição Demográfica é um conceito que des- creve a alteração na dinâmica de crescimento da po- pulação. Certamente você já deve ter ouvido falar que o número de idosos no Brasil está aumentando rapi- damente, assim como algumas de suas consequên- Transições Demográfica e Epidemiológica cias. Uma das consequências que se tem falado muito ultimamente se refere à questão previdenciária, por exemplo. Porém, no que tange os aspectos de saúde e doenças, tais alterações na dinâmica de crescimento da população impactam profundamente esse cenário.Uma forma bem interessante de visualizarmos a Tran- sição Demográfica que tem ocorrido no Brasil (e no mundo) é por meio da utilização das pirâmides etárias. Confira, a seguir, a composição e características da pi- râmide etária do Brasil em 1980, atualmente (2016) e as projeções para o ano de 2050, de acordo com o IBGE. 21 EDUCAÇÃO FÍSICA Figura 2 - Pirâmide etária do Brasil em 1980, em 2016 e uma projeção para 2050 Fonte: IBGE (2017, on-line)2. Analisando a pirâmide etária brasileira, identifica- mos que, ao longo das décadas (e a projeção futura), a proporção de crianças, adolescentes e jovens está gradativamente diminuindo, enquanto a proporção de pessoas mais velhas, especialmente idosas, está aumentando gradativamente. Tais transformações populacionais (Transição Demográfica) têm sido impulsionadas por dois fatores principais: a taxa de natalidade e a expectativa de vida. Vamos estudar cada uma delas. A taxa de natalidade representa o número de nascidos vivos anualmente a cada mil habitantes. Atente-se a essa definição, pois ela é diferente da taxa de fecundidade, que é o número médio de fi- lhos que uma mulher tem em sua vida. Assim, quan- to menos filhos uma mulher tem (taxa de fecundi- dade), potencialmente a taxa de natalidade também será menor. Entre os anos de 1970 e o ano de 2008, por exemplo, houve uma rápida queda na taxa de fe- cundidade, de 5,8 para 1,9 filhos por mulher (PAIM et al, 2011). Essa taxa continua a cair, sendo que em 2015 ela já estava em 1,7 filhos por mulher (IBGE, 2017, on-line)3. Como esperado, essa redução da fecundidade tem levado a uma queda na taxa de natalidade, indo de 22 nascidos vivos a cada mil habitantes em 1995 para 15,8 no ano de 2010 (MIRANDA et al, 2017). A expectativa de vida representa o número mé- dio de anos esperado de vida de uma população, ao nascer. Tal índice aumentou substancialmente nas últimas décadas no Brasil, indo de 52,3 anos em 1970, para 72,8 em 2010 (PAIM et al, 2011). Esse grande aumento na expectativa de vida se deu, den- tre outros fatores, principalmente pela drástica re- dução nas taxas de mortalidade infantil, que caíram de 113/1000 nascidos vivos em 1970, para 19/1000 nascidos vivos em 2010 (PAIM et al, 2011). ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 22 Assim, a combinação das alterações desses dois fatores ao longo dos anos, ou seja, uma redução nas taxas de natalidade e aumento da expectativa de vida, são os principais responsáveis pela Tran- sição Demográfica em progresso no Brasil, confor- me observamos na pirâmide etária. Proporcional- mente nascem menos crianças, enquanto os mais velhos sobrevivem por mais tempo, criando esse aumento proporcional na quantidade de pessoas mais velhas no país. Em termos do perfil e caracte- rísticas da saúde e das doenças da população, como você acha que essas alterações podem influenciar o cenário brasileiro? A Transição Epidemiológica é um conceito que descreve as alterações no perfil de mortalidade e morbidade da população, sendo que morbidade é a taxa de doenças, lesões ou incapacidade. De uma forma simples, a Transição Epidemiológica repre- senta as alterações na mortalidade e nas doenças de uma população. Ao analisarmos o perfil de mortalidade e doen- ças ao longo das décadas no Brasil, identificamos uma drástica alteração. Em 1930, doenças infeccio- sas, como malária, poliomielite, caxumba, tétano, tuberculose, dentre diversas outras, representavam cerca de 46% de todas as mortes do país (SCHMI- DT et al, 2011). Em grande contraste, em 2003, por exemplo, a mortalidade por doenças infecciosas já representava apenas 5% de todas as mortes do Brasil (MALTA et al, 2006). Por outro lado, enquanto as doenças cardiovas- culares representavam apenas 12% das mortes na década de 30, atualmente elas representam cerca de 31% de todas as mortes (WHO, 2014, on-line)4. Ainda mais notório é o fato de que, atualmente, do total de mais de 1 milhão de 300 mil mortes anu- almente no Brasil, as chamadas doenças crônicas não-transmissíveis representam cerca de 74% de todas essas mortes (WHO, 2014, on-line)4. Exem- plos de doenças crônicas não-transmissíveis são doenças cardiovasculares, cânceres, doenças crôni- cas respiratórias, diabetes etc. Ainda, também podemos ver uma grande alteração no perfil de morbidade da população. Tomando a prevalência de sobrepeso como exem- plo, verificamos um aumento de 18,6% em 1974 para mais de 50% atualmente (MALTA; BARBO- SA DA SILVA, 2012). 23 EDUCAÇÃO FÍSICA Essas grandes alterações nos perfi s de mortalida- de e morbidade podem ser explicadas, em grande parte, pelos avanços tecnológicos, avanços na me- dicina e urbanização ao longo das décadas. O gran- de avanço em serviços, como saneamento básico; avanços na medicina, como vacinas, diagnósticos, tratamentos, acesso a diversos serviços de saúde, dentre outros fatores, contribuíram fortemente para tais mudanças. Até o momento, vimos a Transição Demográfi ca e Transição Epidemiológica como fenômenos isolados por motivos didáticos. Porém, essas alterações no per- fi l da população não ocorreram de forma independen- te, e sim de maneira conjunta, sendo que, ao mesmo tempo, um infl uenciou e infl uencia o outro. Pare por um momento e tente identifi car quais as conexões das duas transições. Como a Transição Demográfi ca in- fl uencia a Transição Epidemiológica e vice-versa? As Doenças Crônicas Não transmissíveis (DCNT) são as principais causas de mortes no mundo e têm gerado elevado número de mortes pre- maturas, perda de qualidade de vida com alto grau de limitação nas atividades de trabalho e de lazer, além de impactos econômicos para as famílias, comunidades e a sociedade em geral, agravando as iniquidades e aumentando a po- breza. Apesar do rápido crescimento das DCNT, seu impacto pode ser revertido por meio de intervenções amplas e custo-efetivas de pro- moção de saúde para redução de seus fatores de risco, além de melhoria da atenção à saúde, detecção precoce e tratamento oportuno. Os principais fatores de risco para DCNT são o ta- baco, a alimentação não saudável, a inatividade física e o consumo nocivo de álcool, responsá- veis, em grande parte, pela epidemia de sobre- peso e obesidade, pela elevada prevalência de hipertensão arterial e pelo colesterol alto. Fonte: adaptado de Ministério da Saúde (2011, p. 30, on-line)5. SAIBA MAIS ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 24 Após a sua reflexão, vamos analisar juntos. Confor- me as transformações (urbanização, melhorias de saneamento básico e avanços na medicina) foram ocorrendo, o perfil das doenças e das causas de mor- talidade também começaram a se alterar (Transição Epidemiológica). Por exemplo, a existência e dispo- nibilidade de vacinas para diversas doenças infec- ciosas, grande causa de mortes no passado, foram reduzindo esse problema e, consequentemente, as pessoas passaram a viver mais. Como vimos, a grande queda da mortalidade infantil também contribuiu bastante para o au- mento da expectativa de vida. Com menos mortes prematuras e maior expectativa de vida, há uma gradativa alteração na pirâmide etária (Transição Demográfica). Por sua vez, se a população em ge- ral vive por mais tempo, é natural que as doenças e causas de mortalidade também se alterem, uma vez que o perfil das doenças que atinge jovens e adultos se difere, em muitos casos, das doenças que afligem os idosos. Isto é, ambas as transições contribuíram, ao mesmo tempo, para acentuar as alterações uma da outra. Vale ressaltar que estamos abordando apenas alguns dos principais fatores responsáveis pelas transições, mas que este é um processo complexo e multifatorial, que recebeu influência de diversas ou- tras características do país, comocaracterísticas eco- nômicas, políticas e sociais. Além disso, apesar de termos focado o estudo dessas transições apenas no Brasil, tais transformações têm ocorrido, em diferen- tes velocidades, no mundo inteiro. 25 EDUCAÇÃO FÍSICA ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 26 Determinantes da Saúde 27 EDUCAÇÃO FÍSICA • Renda: uma maior renda está ligada a uma melhor saúde. Quanto maior a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres, maior as diferenças nos níveis de saúde. • Educação: baixos níveis de educação estão li- gados a uma pior saúde, maior estresse e me- nor autoconfiança. • Ambiente Físico: a qualidade da água e do ar, ambientes saudáveis de trabalho, moradia segura, estradas e ruas seguras são todos fa- tores que influenciam a saúde das pessoas. As condições de emprego e o quanto as pessoas possuem controle sobre esse ambiente tam- bém influenciam a saúde. • Aspectos Sociais: um maior suporte social da família, amigos e da comunidade como um tudo está relacionado a melhores níveis de saúde. A cultura, crenças e tradições locais também afetam a saúde. • Fatores Genéticos: fatores hereditários po- dem influenciar a longevidade e o risco de desenvolvimento de determinadas doenças. • Serviços de Saúde: a disponibilidade, o aces- so e o uso dos serviços de saúde agem como fatores que podem colaborar na prevenção e tratamento de doenças, afetando a saúde. • Gênero: homens e mulheres sofrem de dife- rentes tipos de doenças em diferentes idades. Em resumo, observamos que os determinantes da saúde passam por uma série de esferas, desde o com- portamento individual (que na verdade também é afetado por uma série de outros fatores) até caracte- rísticas socioeconômicas, culturais e ambientais, em que o indivíduo, de forma isolada, tem pouco ou ne- nhum controle. Uma ilustração bastante didática e interessante dos determinantes da saúde é o popular modelo de Dahlgren e Whitehead (BUSS; PELLE- GRINI FILHO, 2007). Veja a seguir: Depois de estudarmos alguns diferentes conceitos de saúde, assim como o impacto das Transições De- mográfica e Epidemiológica no cenário da saúde e das doenças do Brasil, vamos avançar e refletir sobre os fatores que determinam a saúde. É muito comum a ideia de que um dos princi- pais fatores que determinam a nossa saúde é repre- sentado unicamente pelos nossos comportamentos voluntários. Essa ideia, que coloca praticamente toda a responsabilidade da saúde das pessoas nos próprios comportamentos, tem sido denominada “culpabilização do indivíduo”. Isto é, a pessoa que não faz atividade física, não se alimenta adequa- damente, não realiza exames preventivos, dentre outras ações, deveria ser responsabilizada pela própria saúde. Apesar de ouvirmos frequente- mente esse tipo de ideia entre amigos, familiares, na mídia e, até mesmo, entre profissionais da área, a “culpabilização do indivíduo” ignora uma varie- dade de conhecimentos atuais sobre os determi- nantes da saúde. Atualmente, sabemos que a saúde de uma pes- soa ou de uma população é influenciada por uma grande e complexa variedade de fatores. Segundo a Organização Mundial da Saúde (2017, on-line)6, em termos gerais, os determinantes da saúde incluem: • o ambiente social e econômico; • o ambiente físico; • as características e comportamentos individuais. Mais especificamente, a Organização Mundial da Saúde indica diversos aspectos que já são conheci- dos por afetar a saúde de um indivíduo, comunidade ou população: ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 28 Com base nesses conhecimentos sobre os determi- nantes da saúde, começamos a entender e visuali- zar que o campo de atuação dos profissionais e in- teressados na área da saúde é bem mais amplo do que costumamos imaginar. Ações e intervenções de saúde podem abranger desde uma “simples” oferta de atividade física em um espaço público até uma política de planejamento urbano para melhoria de ruas, calçadas e parques, para o estímulo do uso do transporte ativo, da caminhada no lazer etc. Observe a imagem a seguir, que apresenta um condomínio de luxo situado ao lado de uma favela. Considerando o contraste das condições de mora- dia, saneamento básico, presença de árvores, segu- rança, acesso a possibilidades de lazer, dentre outros fatores, reflita sobre a influência dos determinantes estudados na saúde das pessoas. Você consegue fa- zer uma lista de quais aspectos da saúde poderão ser influenciados, independentemente do comporta- mento individual? Figura 3 - Modelo dos Determinantes da Saúde, que inclui desde fatores pessoais, até fatores socioeconômicos, culturais e ambientais gerais Fonte: Centro Cultural do Ministério da Saúde (2016, on-line)7. 29 EDUCAÇÃO FÍSICA Quando pensamos especificamente em relação à prática de atividades físicas, é interessante realizar- mos uma análise similar. O comportamento da prá- tica de atividades físicas é, por si só, um determinan- te da saúde. Porém, o que será que determina esse comportamento? Novamente, é comum ouvir, e nós mesmos pen- sarmos, que a “culpa” de não fazer atividades físi- cas se dá apenas por fatores pessoais, como falta de motivação ou, até mesmo, preguiça. Porém, imagine o seguinte cenário: considere duas pessoas que mo- ram em cidades diferentes. Uma cidade possui níveis baixíssimos de violência, possui parques e praças iluminadas e com a presença de equipamentos de lazer; a prefeitura oferece uma variedade de espor- tes e programas de atividade física gratuitos, possui um sistema de transporte público eficiente e barato, ruas e calçadas seguras, sem buracos, limpas, dentre outras características. O morador da outra cidade se encontra em um cenário em que a cidade é violenta, os poucos parques e praças não têm iluminação e manutenção nenhuma, há somente oferta de ativi- dade física e esportes privados e caros, ruas e calça- das são perigosas e mal cuidadas etc. Em qual cidade você acha que a população praticará mais ativida- des físicas, desde caminhar até a padaria, brincar no parque, usar bicicleta ou mesmo praticar esportes? Na primeira ou na segunda? Assim, após trilhar toda essa linha de estudos, finalizaremos esta unidade com o estudo de um conceito bas- tante relevante e que tem ganhado grande atenção nas últimas décadas: a qualidade de vida. ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 30 Como vimos anteriormente, as Transições Demo- gráfica e Epidemiológica estão resultando em uma população que possui maior longevidade (maior ex- pectativa de vida), mas que tem apresentado elevado níveis de morbidade. Esse último é evidenciado pe- los elevados e crescentes níveis de sobrepeso e obesi- dade, hipertensão, diabetes, dentre outras condições crônicas na população. Assim, nos últimos anos, grande atenção tem sido direcionada à questão da qualidade de vida. O conceito de qualidade de vida é definido por Nahas (2013, p. 14) como: “a percepção de bem-estar resultante de um conjunto de parâmetros indivi- duais e socioambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano.” Qualidade de Vida É interessante notar que, baseado no conceito ante- rior, observamos que essa percepção de bem-estar (qualidade de vida) é subjetiva, resultante de uma combinação de fatores, fenômenos e situações que, após passar por um “filtro individual”, gera essa sen- sação abstrata (NAHAS, 2013). Assim, uma mesma situação de vida, com fatores e fenômenos similares, pode gerar uma percepção de bem-estar e qualidade de vida diferente de pessoa para pessoa. O mesmo também pode ocorrer, em que pessoas vivendo em situações totalmente diferentes podem julgar que suas qualidades de vida são similares. Dentre os di- versos fatores, fenômenos e situaçõesque podem afetar a qualidade de vida de uma pessoa ou de uma comunidade ou população, veja alguns considera- dos bastante relevantes no quadro a seguir: 31 EDUCAÇÃO FÍSICA Quadro 1 - Parâmetros socioambientais e individu- ais que podem afetar a Qualidade de Vida QUALIDADE DE VIDA Parâmetros Socioam- bientais Parâmetros Individuais Moradia, transporte, segurança Hereditariedade Assistência médica Estilo de Vida: Condições de trabalho e remuneração • Hábitos alimentares Educação • Controle do estresse Opções de lazer • Atividade física habitual Meio ambiente • Relacionamentos Cultura • Comportamento preventivo Fonte: Nahas (2013). Conforme observado, a qualidade de vida reflete a percepção das pessoas sobre uma variedade de as- pectos. Nas últimas décadas, questões relacionadas à saúde, mais especificamente ao estilo de vida, têm ganhado grande atenção e crescente importância quando falamos de qualidade de vida. Isso é mui- to interessante, uma vez que nós, profissionais da saúde, temos grande influência no estilo de vida das pessoas. Assim, nosso foco principal serão os aspec- tos da qualidade de vida que estão intimamente re- lacionados ao estilo de vida. Nos últimos anos, a questão da qualidade de vida ganhou muita notoriedade, principalmente quando considerada em relação aos cuidados de pacientes com doenças infecciosas graves, como AIDS, por exemplo, assim como com doenças crônicas não- -transmissíveis, por exemplo, doenças cardiovascu- lares, diabetes, hipertensão e câncer. Particularmente um aspecto do estilo de vida, a prática de atividade física habitual, hoje é considerada como um potente influenciador da qualidade de vida (NAHAS, 2013), sendo associada a: • Maior capacidade de trabalho físico e mental. • Mais entusiasmo para a vida. • Positiva sensação de bem-estar. • Menores gastos com saúde. • Menor risco de doenças crônicas não-trans- missíveis. • Redução da mortalidade precoce. Assim como previamente estudado em relação aos determinantes da saúde, o estilo de vida das pessoas, incluindo a prática habitual de atividade física, é influenciada por um conjunto comple- xo de fatores. Nesse sentido, o conceito de estilo de vida pode ser entendido como um “conjun- to de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades na vida das pessoas” (NAHAS, 2013). Devido ao cenário atual da popu- lação, advindos das transformações demográfica e epidemiológica, dentre outros fatores, atualmente o estilo de vida e seus diversos componentes são considerados essenciais para a saúde, bem-estar e qualidade de vida da população. Uma forma bem simples e de fácil visualização para a avaliação de alguns aspectos do estilo de vida é o instrumento PERFIL DO ESTILO DE VIDA, derivado do modelo do Pentáculo do Bem-Estar (NAHAS et al, 2000). Esse instrumento inclui cinco aspectos do estilo de vida que estão relacionados ao bem-estar e à saúde. São eles: ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 32 1) Alimentação 2) Atividade Física 3) Comportamento Preventivo 4) Relacionamentos 5) Controle do Estresse Cada um dos cinco aspectos possui três itens para preenchimento, em uma escala que vai de 0 pontos (ausência total de tal característica no estilo de vida) até 3 pontos (completa realização do comportamen- to considerado). O instrumento, que deve ser pre- enchido por meio da pintura dos espaços de acordo com a escala de resposta, além de ser autoadminis- trado, é bastante ilustrativo e de fácil visualização, uma vez que quanto mais colorida estiver a figura, mais adequado está o estilo de vida da pessoa, base- ada nesses cinco aspectos (NAHAS, 2013). Confira, a seguir, o instrumento completo: 33 EDUCAÇÃO FÍSICA PERFIL DO ESTILO DE VIDA O ESTILO DE VIDA corresponde ao conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, valores e oportunidades das pessoas. Essas ações têm grande influência na saúde geral e qualidade de vida de todos os indivíduos. Os itens a seguir representam caracterís- ticas do estilo de vida relacionadas ao bem- -estar individual. Manifeste-se sobre cada afir- mação considerando a escala: [ 0 ] Absolutamente não faz parte do seu estilo de vida. [ 1 ] Às vezes corresponde ao seu compor- tamento. [ 2 ] Quase sempre verdadeiro no seu comportamento. [ 3 ] A afirmação é sempre verdadeira no seu dia a dia; faz parte do seu estilo de vida. Componente: Alimentação a. Sua alimentação diária inclui pelo menos 5 porções de frutas e hortaliças. b. Você evita ingerir alimentos gordurosos (carnes gordas, frituras) e doces. c. Você faz 4 a 5 refeições variadas ao dia, incluindo um bom café da manhã. Componente: Atividade Física d. Seu lazer inclui a prática de atividades físi- cas (exercícios, esportes ou dança). e. Ao menos duas vezes por semana você realiza exercícios que envolvam força e alongamento muscular. f. Você caminha ou pedala como meio de deslocamento e, preferencialmente, usa as escadas ao invés do elevador. Componente: Comportamento Preventivo g. Você conhece sua pressão arterial, seus níveis de colesterol e procura controlá-los. h. Você se abstém de fumar e ingere álcool com moderação (ou não bebe). i. Você respeita as normas de trânsito (como pedestre, ciclista ou motorista); usa sempre o cinto de segurança e, se di- rige, nunca ingere álcool. Componente: Relacionamentos j. Você procura cultivar amigos e está satis- feito com seus relacionamentos. k. Seu lazer inclui encontros com amigos, atividades em grupo, participação em as- sociações ou entidades sociais. l. Você procura ser ativo em sua comunida- de, sentindo-se útil no seu ambiente social. ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 34 Componente: Controle do Estresse m. Você reserva tempo (ao menos 5 minu- tos) todos os dias para relaxar. n. Você mantém uma discussão sem alterar- -se, mesmo quando contrariado. o. Você equilibra o tempo dedicado ao tra- balho com o tempo dedicado ao lazer. Considerando suas respostas aos 15 itens, procure colorir a figura abaixo, construindo uma representação visual do seu Estilo de Vida atual • Deixe em branco se você marcou zero para o item. • Preencha do centro até o primeiro cír- culo se marcou [ 1 ]. • Preencha do centro até o segundo cír- culo se marcou [ 2 ]. • Preencha do centro até o terceiro círcu- lo se marcou [ 3 ]. Alimentação b c d e fm l g hk j i n o a Controle do estresse Atividade física Comportamento Preventivo Relacionamentos Figura 4 - Pentáculo do bem-estar Fonte: Nahas et al (2000). Ao encerrar essa primeira Unidade, espero que você tenha ampliado a sua visão sobre saúde, desde o seu conceito, passando por como as transformações populacionais a afe- tam, seus determinantes e sua estreita relação com a Qualidade de Vida. Tais conhecimentos, além de contribuir para a sua formação pro- fissional, embasarão diversos aspectos das próximas unidades. Até breve! A utilização do instrumento, que pode ser re- alizada de maneira individual ou em grupo, analisando o perfil do grupo como um todo, permite identificar aspectos positivos e nega- tivos do estilo de vida das pessoas, facilitando a visualização e reflexão, tanto pelo próprio avaliado como pelo avaliador (Profissional de Educação Física). Os resultados podem ser utilizados para a identificação de aspectos a serem mantidos, aprimorados ou iniciados. Assim, cabe ao profissional, em posse dos resultados, identificar e elaborar estratégias para o aprimoramento dos diferentes aspec- tos, a fim de melhorar o estilo de vida das pes- soas e, consequentemente, seu bem-estar e qualidade de vida. 35 considerações finais Caro(a) aluno(a), aqui encerramosa Unidade I. No primeiro Tópico (“O que é Saúde”), vimos algumas diferentes conceitu- ações para o termo “Saúde”. Discutimos que Saúde não é apenas a ausência de doenças e que o atual conceito da Organização Mundial de Saúde é questionável, uma vez que raramente temos um completo bem-estar físico, emocional e social. Assim, apresentei um modelo de Saúde como um “contínuo”, que se revela dinâ- mico, de acordo com as situações e comportamentos. No segundo Tópico (“Transições Demográfica e Epidemiológica”), estuda- mos o que são essas transições, seus principais componentes e como elas estão afetando as características populacionais do Brasil, tanto em termos de idade, como em termos de mortalidade e morbidade. Ainda, apesar de inicialmente estudarmos as transições separadamente, vimos que, na verdade, elas estão co- nectadas. A alteração na mortalidade afeta características da população que, por sua vez, afetam novamente o perfil das doenças e da mortalidade, forman- do um ciclo. O terceiro Tópico (“Determinantes da Saúde”) foi dedicado a melhor com- preendermos o que determina a saúde de um indivíduo, comunidade ou popula- ção. Vimos que a saúde depende de muitos fatores, como a renda, educação, am- biente físico, aspectos sociais, fatores genéticos, serviços de saúde, dentre outros. Assim, a “culpabilização do indivíduo” por sua saúde é uma abordagem muito rasa e simplista. Por fim, o quarto Tópico (“Qualidade de Vida”) foi dedicado à questão da Qualidade de Vida, que tem ganhado bastante atenção devido às transformações populacionais que vivenciamos. Além de conceituar e estudar alguns fatores do estilo de vida que afetam a Qualidade de Vida, conhecemos o “Perfil do Estilo de Vida”, um instrumento simples e prático para os profissionais utilizarem. Até breve! 36 atividades de estudo 1. Considere o seguinte conceito de Saúde: “Saúde é a ausência de doenças”. Descreva as limitações desse conceito, ilustrando suas explicações com exemplos práticos. 2. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde conceitua a Saúde como “Es- tado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausên- cia de doenças”. Qual é a principal palavra dessa conceituação que não parece adequada para o mundo real? Explique. 3. Em relação a Transição Demográfica, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F). ( ) Pode ser observada pela alteração no perfil das doenças e causas de morte. ( ) Pode ser observada pela alteração no perfil da população, vista na pirâmide etária, com crescente proporção de idosos. ( ) Alteração na dinâmica de crescimento da população. ( ) Alteração no perfil de mortalidade e morbidade da população. ( ) É caracterizada pela redução das doenças infecciosas e aumento das doenças crô- nicas não-transmissíveis. ( ) Influenciada principalmente pelas taxas de natalidade (nascimentos) e expec- tativa de vida. 4. Em relação a Transição Epidemiológica, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F). ( ) Pode ser observada pela alteração no perfil das doenças e causas de morte. ( ) Pode ser observada pela alteração no perfil da população, vista na pirâmide etária, com crescente proporção de idosos. ( ) Alteração na dinâmica de crescimento da população. ( ) Alteração no perfil de mortalidade e morbidade da população. ( ) É caracterizada pela redução das doenças infecciosas e aumento das doenças crô- nicas não-transmissíveis. ( ) Influenciada principalmente pelas taxas de natalidade (nascimentos) e expec- tativa de vida. 5. Considerando as diversas esferas dos Determinantes da Saúde, indique pelo menos três parâmetros socioambientais e três parâmetros indi- viduais que têm relação com a Qualidade de Vida. 37 LEITURA COMPLEMENTAR Leia as seguintes passagens de um artigo de opinião bastante interessante sobre o tema do envelhecimento populacional e suas consequências. O envelhecimento da população mundial é um fato incontestável. É praticamente con- senso, também, que o ritmo deste processo nas próximas décadas será particularmen- te acelerado em países que, como o Brasil, se encontram em vias de desenvolvimento. [...] Entre 2000 e 2025 estima-se que a proporção da população com 60 anos e mais aumente de 8% para 15% e subsequentemente para 24% no ano 2050 (Nações Unidas, 2005a). Embora esta proporção se encontre ainda muito aquém da observada nos paí- ses mais desenvolvidos, este aumento proporcional irá representar, em termos absolu- tos, um incremento da ordem de 45 milhões de pessoas idosas na população. O envelhecimento contínuo de uma população traz uma série de implicações que afe- tam, direta ou indiretamente, diferentes esferas de sua organização social, econômica e política. [...] Em algumas áreas, como é o caso da saúde, as conseqüências deste fenômeno se fa- zem sentir de forma mais clara e imediata. O impacto de uma crescente massa de população idosa não somente sugere a necessidade de desenvolvimento de técnicas e metodologias de atendimento diferenciado, mas passa também pela questão funda- mental da utilização mais intensiva dos serviços e equipamentos de saúde por parte da população em idades mais avançadas. [...] É sabido, portanto, que as transformações demográfi cas e epidemiológicas irão resul- tar em mudanças dramáticas no quadro de demandas na área de saúde. Entre as prin- cipais mudanças está, sem dúvida, o aumento considerável na demanda por cuidados continuados de pessoas idosas. [...] Recentemente, a Organização Mundial da Saúde adotou o termo “envelhecimento ativo” para expressar a idéia de que uma vida mais longa deve vir acompanhada por oportunidades contínuas de saúde, participação e segurança (Organização Mundial da Saúde, 2002). A palavra “ativo”, no caso, refere-se não somente à prática de atividades físicas ou à participação no mercado laboral, mas também à participação contínua em assuntos sociais, econômicos, cívicos, culturais e espirituais. [...] 38 LEITURA COMPLEMENTAR A defi nição de “saúde” adquire uma maior abrangência dentro deste conceito, pas- sando a referir-se não somente ao bem-estar físico, mas também ao bem-estar men- tal e social. Portanto, dentro de um contexto de envelhecimento ativo, programas e políticas voltadas à promoção de saúde mental e ao incremento de conexões sociais passam a ser tão importantes quanto aquelas dedicadas à melhoria das condições de saúde física. Manter autonomia e independência à medida que se envelhece é a meta primordial tanto para os próprios indivíduos que envelhecem quanto para os setores de planeja- mento na área de saúde. Neste sentido, todas as estratégias de promoção de saúde e prevenção de doenças que contribuam para diminuir o risco da perda de autonomia do indivíduo idoso constituem peças fundamentais das políticas de planejamento em saú- de. Em particular, reconhece-se que, em todas as idades, a prática de atividades físicas está diretamente associada a uma melhor qualidade de vida. Para pessoas de idades mais avançadas, existe uma crescente evidência científi ca indicando a atividade física como um fator importante no prolongamento dos anos de vida ativa e independente, na redução das incapacidades e na melhoria da qualidade de vida em geral (Pelaez, 2002). Embora as evidências sejam claras, elas raramente têm se traduzido em planos de ação nacionais direcionados a criar oportunidades de atividades físicas para pessoas idosas como uma medida de saúde pública. [...] Fonte: Saad ([2017], on-line). 39 EDUCAÇÃO FÍSICA Vídeo bastante didático sobre os Determinantes Sociais da Saúde que, por meio de um exem- plo prático, explica como a nossa saúde depende de fatores que vão além do comportamen- to individual. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=79z4Thkuw90> 40 referênciasALMEIDA FILHO, N. O conceito de saúde: ponto cego da epidemiologia? Revista Brasileira de Epide- miologia, v. 3, n. 1, p. 4-20, 2000. BIRCHER, J. Towards a dynamic definition of health and disease. Medicine, health care, and philosophy, v. 8, n. 3, p. 335-341, 2005. BUSS, P. M.; PELLEGRINI FILHO, A. A saúde e seus determinantes sociais. Physis: Revista de Saúde Co- letiva, v. 17, n. 1, p. 77-93, 2007. MALTA, D. C. et al. A construção da vigilância e pre- venção das doenças crônicas não transmissíveis no contexto do Sistema Único de Saúde. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 15, p. 47-65, 2006. MALTA, D. C.; BARBOSA DA SILVA, J. 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As principais limitações desse conceito se dão pelo fato de que não possuir nenhu- ma doença específica diagnosticada (“ausência de doenças”) não significa, necessa- riamente, que a pessoa seja saudável. Apesar de não ter nenhuma doença específi- ca, alguém pode apresentar, por exemplo, tristeza, cansaço, angústia, possuir uma deficiência física, ser amputada, possuir baixa aptidão cardiorrespiratória, baixos níveis de força, baixa capacidade funcional, ser incapaz de realizar as atividades de vida diária de forma independente, fumar, se alimentar de forma inapropriada, dentre outros. 2. A principal palavra dessa conceituação que não parece adequada para o mundo real é a palavra “completo”. Isso se dá pelo fato de que é praticamente impossível que algum de nós consiga passar um mês, uma semana ou mesmo um dia inteiro em um “completo” bem-estar físico, mental e social. Sempre haverá algum problema, pe- queno ou grande, que afetará o nosso dia a dia. Um estado “dinâmico” de bem-estar é mais realista. 3. F, V, V, F, F, V. 4. V, F, F, V, V, F. 5. Enquanto o tópico “Determinantes da Saúde” explora bastante o tema, há um qua- dro no tópico “Qualidade de Vida” que apresenta diversos parâmetros socioambien- tais e individuais. Professor Dr. Bruno de Paula Caraça Smirmaul Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Perspectiva Evolutiva da Atividade Física • Tecnologia e (In)Atividade Física • Passado e Presente dos Conhecimentos sobre Atividade Física e Saúde Objetivos de Aprendizagem • Entender como a evolução nos ajuda a compreender a atual relação entre a Atividade Física e a Saúde. • Visualizar e refl etir sobre os efeitos da tecnologia na (In) Atividade Física. • Conhecer um pouco da trajetória do conhecimento na área de Atividade Física e Saúde e suas diferentes possibilidades atuais. ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE II unidade INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)! Na Unidade II, abordaremos três tópicos principais de estudo. O primeiro Tópico (“Perspectiva Evolutiva da Atividade Física”) ser- virá como base para toda a estrutura seguinte de nossos estudos. Isso acontece porque compreenderemos como a evolução humana, em ter- mos de movimento corporal e demandas de atividades do dia a dia, nos ajuda a entender grande parte da relação entre a prática de atividades físicas e seus efeitos na saúde que conhecemos atualmente. Para isso, re- alizaremos uma jornada ao longo de diversas eras da evolução humana e veremos como a necessidade de movimento corporal de nosso dia a dia se alterou ao longo do tempo. No segundo Tópico (“Tecnologia e (In)Atividade Física”), refletire- mos sobre o impacto da tecnologia atual nos níveis de atividade física da população em geral, com diversos exemplos práticos e reflexões de como isso tem alterado o nosso cotidiano. Especificamente, abordare- mos como a tecnologia tem impactado o nosso gasto energético, com implicações não somente para a gordura corporal, mas também para a saúde em geral. Para isso, analisaremos o gasto energético de diversas atividades de nosso dia a dia, com e sem a utilização da tecnologia atual, e como isso pode impactar em nosso gasto energético total ao longo de um dia. Ainda, veremos o quanto precisaríamos praticar de atividades físicas específicas para compensar tal diferença. Por fim, no terceiro Tópico (“Passado e Presente dos Conhecimentos sobre Atividade Física e Saúde”), abordaremos como se deu a trajetória do conhecimento na área de Atividade Física e Saúde. Além disso, co- nheceremos alguns temas específicos nos quais o conhecimento tem se aprofundado, o que nos permite expandir nosso horizontes e possibilida- des de atuação profissional. Bons estudos! ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 46 Perspectiva Evolutiva da Atividade Física Imagine o dia a dia de uma pessoa que acorda cedo, utiliza seu veículo para ir ao trabalho, trabalha por cerca de 8 horas sentada em um escritório, volta para sua casa e gasta algumas horas da noite em ativida- des de lazer antes de dormir, geralmente sentado na frente da TV, computador ou celular. Qual a quanti- dade de movimento corporal que essa pessoa realiza diariamente? Provavelmente, muito pouco! E, atual- mente, essa é a realidade de um número enorme de pessoas no Brasil e no mundo. Porém, esse cenário nem sempre foi assim. A seguir, utilizarei a linha de raciocínio que desenvolvi em um recente trabalho (SMIRMAUL, 2017), para analisarmos a evolução dos níveis de atividade física do homem. Ao longo da evolução humana, desde que de- senvolvemos a capacidade de locomoção bípede, o movimento corporal foi um componente essencial para a sobrevivência humana e altamente presente no dia a dia de nossos antepassados. As atividades essenciais para a sobrevivência envolviam altas e fre- quentes quantidades de movimento corporal, como procurar/explorar por água, coletar e caçar alimen- tos, fugir de predadores, além da locomoção em si de uma forma geral (LIEBERMAN, 2011). Esse pa- drão de vida, com elevada quantidade e frequência de movimento corporal, perdurou por cerca de 2 milhões de anos (SMIRMAUL, 2017). Figura 1 – Ilustração do padrão de vida de nossos antepassados, que envolviagrande quantidade de movimento corporal no dia a dia com atividades essenciais para a sobrevivência Fonte: Wikimedia Commons (2017, on-line)1. 47 EDUCAÇÃO FÍSICA Após a Revolução da Agricultura, cerca de 10 mil anos atrás, o padrão de vida das pessoas se alterou substancialmente. Apesar disso, a neces- sidade de movimento corporal na rotina conti- nuou bastante elevada. Mesmo após a Revolução Industrial - outro marco histórico que ocorreu cerca de 200 anos atrás -, as atividades diárias das pessoas ainda envolviam grandes quantidades de movimento. Foi apenas após a Mecanização das Atividades Di- árias, com início cerca de 60 anos atrás, e da Revo- lução Digital, aproximadamente 30 anos atrás, que a necessidade de movimento corporal em nosso dia a dia se alterou drasticamente, com uma grande re- dução dessa necessidade. O movimento, que estava integrado em praticamente todas as atividades do passado, foi substancialmente reduzido devido aos avanços tecnológicos das últimas décadas. Figura 2 - Ilustração do padrão de vida após a Revolução da Agricultura (imagem 1), cerca de 10 mil anos atrás, e após a Revolução Industrial (imagem 2), cerca de 200 anos atrás Fonte: Wikimedia Commons (2017, on-line)2 e Wikimedia Commons (2017, on-line)3. Figura 3 - Ilustração do padrão de vida após a Mecanização das Ativi- dades Diárias (imagem 1), com início cerca de 60 anos atrás, e após a Revolução Digital (imagem 2), cerca de 30 anos atrás e em que vivemos atualmente Fonte: Wikimedia Commons (2017, on-line)4. 1 1 2 2 ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 48 Por que analisar toda a evolução do homem e sua relação com o movimento? Porque é justamente por meio dessa análise que conseguimos entender a relação entre a atividade física e a saúde humana. Para melhor entender essa relação, recentemente eu criei o “Calendário da Atividade Física” (SMIR- MAUL, 2017), uma forma pedagógica para melhor visualizar as alterações dos níveis de atividade física ao longo da evolução humana. Em resumo, eu com- primi cerca de 2 milhões de anos (desde quando nossos antepassados eram caçadores-coletores) em um calendário de 1 ano (365 dias). Nesse calendá- rio, o dia 01 de Janeiro representa 2 milhões de anos atrás, enquanto o dia 31 de Dezembro, às 00:00h (meia-noite), representa o dia de hoje. Nesse calendário (acompanhe a tabela a se- guir para melhor compreensão), podemos obser- var alguns dados impressionantes. Por exemplo, a Mecanização da Vida Diária e a Revolução Digi- tal, que reduziram drasticamente a necessidade de movimento corporal, somente ocorreram depois de mais de 71 mil gerações. E, desde então, apenas 2 gerações se sucederam. Nos termos do calendá- rio, é como se tivéssemos vivido do dia 01 de Janei- ro até o dia 31 de Dezembro às 23h44 com muito movimento (atividade física) em nosso dia a dia. Isto é, apenas nos últimos 16 minutos, ou 0,003% do tempo de nossa evolução, os níveis de atividade física declinaram radicalmente. Confira todos os detalhes da Tabela 1: Tabela 1 - Calendário da Atividade Física Caçadores-Coletores (2 milhões de anos atrás) 01 de Janeiro a 30 de Dezembro 04h00 71.400 gerações 99,5% do tempo Revolução da Agricultura (10 mil anos atrás) 1 dia e 20h atrás 350 gerações 0,5% do tempo Revolução Industrial (200 anos atrás) 1h atrás 7 gerações 0,01% do tempo Mecanização da Vida Diária (60 anos atrás) 16 minutos atrás 2 gerações 0,003% do tempo Revolução Digital (30 anos atrás) 8 minutos atrás 1 geração 0,0015% do tempo Fonte: adaptada de Smirmaul (2017). Você pode estar se perguntando: “ok, todas essas in- formações são muito interessantes, mas como isso me ajuda a entender a relação entre a atividade física e a saúde?”. A resposta para essa pergunta advém da compreensão de que todos os nossos sistemas cor- porais sofreram, por milhares de anos e milhares de gerações, pressões evolutivas em um ambiente com alta necessidade e frequência de movimento cor- poral e, ao mesmo tempo, de escassez de alimento. Em outras palavras, adaptações em nossos sistemas corporais, que favoreciam a sobrevivência e repro- dução nesse ambiente (altos e frequentes níveis de movimento e escassez de alimento), eram passadas de geração para geração. 49 EDUCAÇÃO FÍSICA Sendo assim, nossos sistemas corporais são muito eficientes em conservar energia e a respon- der (se adaptar) a altos e frequentes níveis de ativi- dade física. O primeiro ponto pode ser observado em nossa capacidade de acumular gordura frente ao consumo excessivo de alimento, enquanto o se- gundo ponto é observado na incrível capacidade de adaptação frente à atividade física. Porém, desde a Mecanização da Vida Diária (60 anos atrás) e, ain- da mais, após a Revolução Digital (30 anos atrás), a redução da necessidade de movimento pelas pes- soas tem causado um desequilíbrio de nossos siste- mas corporais. Juntamente com a disponibilidade “ilimitada” de alimento em nosso dia a dia, a falta de atividade física gera, por exemplo, problemas como o acúmulo de gordura. Características que antigamente eram uma vantagem para a sobrevi- vência, agora são uma grande preocupação devido às mudanças em nosso estilo de vida. Atualmente, já sabemos que a falta de movimen- to corporal (atividade física) está associada a mais de 35 condições de saúde (veja a Figura 4), envolvendo os sistemas cardiorrespiratório, muscular, nervoso, reprodutivo, digestivo, imune, ósseo e endócrino (BOOTH et al, 2012; BOOTH et al, 2017). Gran- de parte desses problemas ocorre porque os nossos sistemas corporais “precisam” de, relativamente, al- tos e frequentes estímulos advindos do movimento corporal (atividade física) para o seu bom funciona- mento. A condição de baixos níveis de movimento não é algo para o qual nosso organismo está adap- tado, sendo esse o motivo pelo qual, atualmente, grande parte dos problemas crônicos de saúde estão relacionados à falta de atividade física. Diabetes Obesidade Síndrome Metabólica Osteoporose Osteoartrite Quedas Fraturas Artrite Reumatóide Dor Esteatose Hepática Câncer de Cólon Diverticulite Constipação Câncer de Mama Ovário Policístico Diabetes Gestacional Disfunção Erétil Etc... Atro�a Sarcopenia Cardiorrespiratório En dó cri no Ó ss eo Muscular Imune Digestivo INATIVIDADE FÍSICA Re pr od ut ivo N ervoso Disfunção Cognitiva Depressão Ansiedade Infarto do Miocárdio Hipertensão Derrame Aterosclerose Doença Arterial Periférica Etc... Figura 4 - A falta de movimento corporal (atividade física) está associada a mais de 35 condições de saúde, envolvendo diversos sistemas corporais Fonte: adaptada de Booth et al (2017). Três linhas de raciocínio de que o corpo hu- mano é “desenhado” para a atividade física: 1. O organismo humano é capaz de se adap- tar a uma variedade de demandas metabó- licas impostas pelos esforços de diferentes atividades físicas. 2. Baixos níveis de atividade física estão asso- ciados a um maior risco de doenças (prin- cipalmente doenças crônicas) e a morte prematura. 3. A história evolutiva nos mostra que nossos antepassados não teriam sobrevivido sem a capacidade de realizar relativamente al- tos e frequentes níveis de atividades físicas. Fonte: adaptado de Bouchard et al (2007). SAIBA MAIS ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 50 Avanços tecnológicos fazem parte da história da hu- manidade e têm alterado substancialmente diversos aspectos de nossas vidas, como as áreas de saúde, transportes, informação, ciência, lazer, educação, dentre outras. Geralmente, tais avanços tecnológi- cos aprimoram componentes de nosso cotidiano, tornando-o mais eficiente, mais prático, mais con- fortável, mais prazerosoetc. Quando pensamos no impacto na atividade física, não há dúvida que avan- ços tecnológicos podem ter facilitado o acesso à prá- tica. Porém, quando visualizamos o cenário como um todo, verificamos que a tecnologia tem causado diminuições, de uma forma geral, nos níveis de ati- vidade física das pessoas. Tecnologia e (in) Atividade Física Para refletir melhor sobre isso, vamos imaginar o impacto da tecnologia em quatro momentos de nossas vidas bastante comuns quando o assunto é atividade física: trabalho, transporte, doméstico e lazer. O trabalho, independentemente se realizado no campo ou nas cidades, era predominantemente manual, ou seja, exigia relativamente altos níveis de esforço. Com o passar do tempo, a substituição por máquinas, automatizações e mudanças no tipo de trabalho (trabalhos de escritório, por exemplo) vêm exigindo cada vez menos esforço físico. Na área de transportes, a locomoção, antes realizada a pé ou de bicicleta, tem sido substituída majo- ritariamente por meios automotivos. Atividades 51 EDUCAÇÃO FÍSICA domésticas, como lavar roupa e limpar a casa, por exemplo, são facilitadas e alteradas cada vez mais pelos avanços tecnológicos, de modo a facilitar sua execução. Por fim, as opções de lazer, que se am- pliaram muito, sofrem uma forte tendência tecno- lógica, como celulares, videogames, televisão (ne- tflix, por exemplo), dentre outros, sendo a maior parte atividades sedentárias e envolvendo pouco movimento corporal. Assim, temos um cenário em que os avanços tec- nológicos, parte integral e essencial do desenvolvi- mento humano e que têm impactado positivamente diversos aspectos de nossas vidas (inclusive a saúde), também têm causado um efeito inesperado. Esse efeito é a progressiva diminuição da necessidade de esforços físicos na maioria das atividades de nosso cotidiano (NG; POPKIN, 2012), levando a um qua- dro de altos índices de sedentarismo. O grande pro- blema é que, como visto anteriormente, nosso orga- nismo necessita de movimento. ATIVIDADE FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA 52 Um interessante estudo (LANNINGHAM-FOSTER et al, 2003) intitulado “Trabalho, economizando calorias perdidas: o impacto energético dos equi- pamentos domésticos” (tradução pessoal), nos dá uma boa perspectiva de como os avanços tecnoló- gicos têm impacto nossos níveis de atividade física. Os pesquisadores compararam a diferença de gasto energético entre quatro atividades: 1. Lavar roupa à mão x máquina de lavar. 2. Lavar louças à mão x lavar máquina de lavar louças. 3. Subir alguns andares de escada x subir de elevador. 4. Ir ao trabalho a pé x ir de carro. Os resultados mostraram que, juntando o gasto energético despendido das atividades sem e com os “avanços tecnológicos”, temos um gasto energético de 111 kcal/dia superior quando essas atividades são realizadas sem o suporte tecnológico (LAN- NINGHAM-FOSTER et al, 2003). Interessante- mente, essa diferença de gasto energético é equiva- lente a uma caminhada leve de cerca de 45 minutos. É importante notar que tamanha diferença se deu apenas com a análise de quatro atividades, longe de considerar todas as atividades que desenvolvemos em nosso dia a dia. Para ampliar essas informações e trazer para uma situação real, a seguir, eu mostrarei informações que apresentei em uma palestra do 4º Congresso de Edu- cação Física IFSULDEMINAS/UEMG, em Setembro de 2017. Para essa palestra, eu levantei algumas infor- mações sobre a rotina de meu pai (hoje com 61 anos) quando ele tinha 24 anos de idade, em 1980. Após isso, fiz uma comparação com as atividades que realiza hoje, em 2017. Para a estimativa do gasto energético dessas atividades, eu utilizei o “Compêndio de Ativi- dades Físicas” ([2017], on-line)5. Veja a tabela a seguir: Tabela 2 - Comparação do gasto energético de dife- rentes atividades do dia a dia de um adulto em 1980 e em 2017 1980 Kcal 2017 Kcal Bicicleta para o Transporte 400 Kcal Carro para o Transporte 200 Kcal Atividades no Trabalho (4h de atividades moderadas e 4h sentado) 1500 Kcal Atividades no Trabalho (8h sentado) 880 Kcal Atividades de Lazer (Futebol) 140 Kcal Atividades de Lazer (TV) 40 Kcal Total 2040 Kcal Total 1220 Kcal DIFERENÇA DE 820 Kcal Fonte: o autor. Apesar da análise envolver grande parte do dia a dia (8h de trabalho), ainda assim há atividades rotineiras que foram impactadas pelos avanços tecnológicos e, provavelmente, contribuem para reduzir ainda mais o gasto energético total. Além disso, independen- temente da tecnologia, há comportamentos, ações, ambientes e situações que podem impactar a quan- tidade de movimento e, consequentemente, de gas- Ao mesmo tempo que os avanços tecnológi- cos trouxeram melhorias em diversas áreas, inclusive na área da saúde, esses mesmos avanços reduziram drasticamente a necessi- dade de movimento corporal em nosso dia a dia. Para onde essa situação paradoxal levará nossa saúde? REFLITA 53 EDUCAÇÃO FÍSICA to energético ao longo do dia. Confira mais alguns exemplos na Tabela 3: Tabela 3 - Comparação do gasto energético de dife- rentes atividades de nosso dia a dia Subir 6 andares de escada 48 Kcal Subir 6 andares de elevador 1,2 Kcal Estacionar e ir em um restaurante 23 Kcal Pegar comida no drive-through 5 Kcal Falar ao telefone em pé (30 min) 20 Kcal Falar ao telefone reclinado (30 min) 4 Kcal Andar com ca- chorro (30 min) 125 Kcal Jogar a bolinha e esperar sentado (30 min) 45 Kcal Total 216 Kcal Total 55 Kcal DIFERENÇA DE 161 Kcal Fonte: o autor. Após essa ilustração prática de atividades individu- ais, é interessante olharmos para o cenário como um todo. Assim, evidências que utilizaram informações dos quatro domínios comentados anteriormente (trabalho, doméstico, transporte e lazer) demons- tram que, do ano de 1965 para o ano de 2009, o gasto energético médio das pessoas relacionado às atividades físicas caiu de 2467 Kcal para 1680 kcal, ou seja, uma queda de, aproximadamente, 800 Kcal (NG & POPKIN, 2012). Projeções para o ano de 2030 estimam que o declínio continuará, com valo- res médios chegando a 1323 Kcal. Não há dúvidas de que a prática de exercícios fí- sicos e esportes podem compensar pela redução do movimento causado pela tecnologia, porém, para um gasto adicional de cerca de 1000 Kcal por dia, confira, em média, a quantidade de atividades que precisariam ser feitas diariamente: • 4 horas de caminhada em intensidade mo- derada; • 2 horas e 30 minutos de pilates em intensida- de vigorosa; • 2 horas de musculação em intensidade vigorosa; • 1 hora e 40 minutos de bicicleta em intensi- dade moderada; • 1 hora e 20 minutos de corrida a 10 km/h. Apesar do gasto energético ser um importante fa- tor relacionado ao ganho de gordura, por exem- plo, é importante destacar que a redução do gasto energético se dá pela redução das atividades físi- cas (movimento). Dessa forma, olhar apenas para o gasto energético é demasiado simplista, uma vez que, como vimos anteriormente, baixos níveis de atividade física impactam mais de 35 condições de saúde (BOOTH et al, 2012; BOOTH et al, 2017). Dentre essas condições, podemos destacar algu- mas muito populares e que afetam a população em geral, como a hipertensão, a aterosclerose, o infarto do miocárdio, a sarcopenia, a depressão, a diabetes, a obesidade, a síndrome metabólica, a osteoporose, dentre outras. Faça uma análise de todas as atividades do seu dia a dia, desde o momento que acorda até o momento em que vai dormir, incluindo o transporte, o trabalho, atividades domésti- cas e o lazer. Quais atividades poderiam ser substituídas ou alteradas para incluir mais movimento? REFLITA ATIVIDADE FÍSICA
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