Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Gabriela Cordeiro LEISHMANIOSES Existem duas formas clínicas, causadas por espécies distintas de Leishmania: Leishmaniose tegumentar (LT): atinge a pele e/ou mucosas do paciente Leishmaniose visceral (LV): atinge, principalmente, o baço, o fígado e a medula óssea Importância das leishmanioses Está dentre as 6 mais importantes doenças do mundo 2 milhões de novos casos ao ano mundialmente Brasil tem notificação obrigatória da doença Leishmanioses no Brasil 1908 - construção da estrada de ferro noroeste do brasil : úlcera de Bauru LV encontra-se disseminada em todos os estados do Brasil, mais concentrada no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste Teresina teve a primeira epidemia LV: maior incidência de morte entre crianças. Fatores de risco para o adoecimento da LV: coinfecção HIV, subnutrição e etilismo AGENTE CAUSADOR Filo: Sarcomastigophora Subfilo: Mastigophora Ordem: Kinetoplastida Gênero: Leishmania sp. Formas evolutivas: AMASTIGOTA PROMASTIGOTA FORMA - ovóide ou esférica - sem flagelo exteriorizado - alongada - flagelo exteriorizado ONDE ESTÁ ? Sistema fagocitário do hospedeiro vertebrado mamífero (SER HUMANO) (dentro do macrófago) Tubo digestório do hospedeiro invertebrado (VETOR) (forma infectante do hospedeiro vertebrado) VETOR Filo: Arthropoda Classe: Insecta Ordem: Diptera Subordem: Nematocera Família: Psychodidae Subfamília: Phlebotominae Gênero: Lutzomyia sp. (nas Américas) ou Phlebotomus (na África, Europa e Ásia) Fêmea é hematófaga, portanto é ela que tem importância parasitológica Principal forma de transmissão é a vetorial Ciclo holometábolo terrestre: Ovos - Larva L1-L4 - Pupa - Adulto Final do abdômen bifurcado no macho e arredondado na fêmea A) CRIADOUROS A.1) Características dos criadouros (formas imaturas) na América do Sul e Central Solo rico em material orgânico de origem vegetal, em decomposição. Pode conter fezes de animais Umidade alta, porém com solo não encharcado Temperatura ideal: 25 - 28 graus celsius A.2) Localização dos criadouros em meio rural ou silvestre fendas de rochas base de troncos de árvores com raízes tabulares troncos ocos de árvores solo de florestas, sob arbustos tocas de animais A.3) Localização dos criadouros em meio urbano quintais muito arborizados e sombreados terrenos baldios com mato e lixo locais de criação de animais domésticos B) ALIMENTAÇÃO (fêmeas) TELMATOFAGIA = almentação em ‘’poço’’: ingestão de sangue e linfa intersticial Peças bucais curtas Saliva com MAXADILAN - ação vasodilatadora, imunomoduladora e quimiotática - aumenta a proliferação de macrófagos (o parasito vive dentro dos macrófagos, por isso precisa dessa atração dos macrófagos em um primeiro momento) - inibe a apresentação de antígeno aos linfócitos - reduz a produção de NO e metabólitos oxigenados pelos macrófagos, impedindo sua ação efetora CICLO BIOLÓGICO HETEROXENO (só completa se tiver 2 hospedeiros) CICLO NO INVERTEBRADO / VETOR Infecção do inseto: Flebotomíneo (fêmea) suga o sangue de um animal infectado, então ingere macrófagos infectados com AMASTIGOTOS. O sangue vai pro intestino do inseto e é encoberto por uma matriz peritrófica. Há ruptura do macrófago e então liberação dos amastigotos: mudanças bioquímicas (dentro de célula de mamífero pra dentro de um intestino de invertebrado) fazem com que eles virem PROMASTIGOTOS. Eles migram para a parte anterior do tubo digestivo do inseto. METACICLOGÊNESE: promastigotos atingem um estágio infectante CICLO NO VERTEBRADO / MAMÍFERO Flebotomíneo infectado, na tentativa de ingestão de sangue, regurgita e introduz o PROMASTIGOTO no local da picada (lembrar da ação do maxadilan aqui) O promastigoto é interiorizado pelos macrófagos para um vacúolo fagocitário e vira AMASTIGOTO Reprodução (divisão binária) dos amastigotos e rompimento do vacúolo Mas porque o parasito não é destruído? Porque ele libera duas coisas: 1) Protease GP63 : rompe a matriz peritrófica. degrada enzimas lisossomais preservando as amastigotas (garante a sobrevivência do parasito frente aos mecanismos microbicidas nos macrófagtos) 2) LPG (lipofosfoglicano) retarda a passagem de enzimas lisossomais que viriam a matar o parasito (resultando em maior tempo para a promastigota virar amastigota) recobre os promastigotos, impedindo a ligação do sistema do complemento TRANSMISSÃO DAS LEISHMANIOSES PRINCIPAL: vetorial, picada do Lutzomyia sp. Compartilhamento de seringas Transfusão sanguínea Congênita Acidentes laboratoriais LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA Há 3 tipos de LTA: cutânea, cutâneo mucosa e cutânea difusa. A variação das formas clínicas está intimamente ligada ao estado do paciente e às espécies de Leishmania O controle da infecção e a cura da lesão dependem da resposta imune celular do paciente, que pode ser: - Padrão Th1: favorece o controle da infecção - padrão de resposta pró inflamatória - Padrão Th2: favorece a suscetibilidade à lesão Os reservatórios geralmente não adoecem e podem ser: Domésticos: cachorro, gato, equino Silvestres: roedores, gambás, tamanduás, preguiças (boas fontes de infecção para o vetor) É importante fazer um diagnóstico diferencial, pois o padrão de lesão pode ser confundido com o de outras doenças (sífilis, hanseníase, tuberculose, micobacterioses atípicas, pcm) Formas clínicas Localização Agente Etiológico CUTÂNEA (LC) Infecção confinada na derme, com epiderme ulcerada Leishmania amazonensis Leishmania braziliensis CUTÂNEO MUCOSA (LCM) Infecção na derme, com úlceras. Podem ocorrer lesões metastáticas com invasão de mucosa e destruição de cartilagem Leishmania braziliensis CUTÂNEA DIFUSA (LCD) Infecção confinada na derme, formando nódulos não ulcerados. Disseminação por todo o corpo - ocorre em indivíduos imunodeficientes - nódulos ricos em parasitos Leishmania amazonensis PROGRESSÃO DA LESÃO Lesão leishmaniótica tegumentar típica: úlcera crostosa típica com bordas altas, fundo de cor vermelho-vivo, recoberto por exsudato inflamatório. Lesão em forma de cratera de vulcão Evolução da lesão: nódulo = epiderme intacta, forte infiltrado de macrófagos bastante parasitados no ponto de inoculação dos parasitos. Pode involuir ou pode progredir para necrose / ulceração Obs: A evolução da LC para LCM ocorre por demora na cicatrização da lesão primária, ou se o tratamento inicial for inadequado.O primeiro sinal manifesta-se por eritema e infiltrado inflamatório no septo nasal,resultando em coriza persistente e posteriormente ulceração. Pode resultar no nariz de tapir: metástase de macrófagos infectados, via hematogênica, com o aparecimento de lesões destrutivas nas mucosas e cartilagens, podendo causar lesões mutilantes na mucosa nasal com envolvimento do septo, laringe, faringe e boca. LEISHMANIOSE VISCERAL ou CALAZAR ou FEBRE DUM DUM Doença infecciosa sistêmica, de evolução crônica grave, de alta letalidade se não tratada TRANSMISSÃO: inoculação de formas promastigotas metacíclicas infectantes de Leishmania chagasi, na pele do hospedeiro, durante a picada da fêmea de Lutzomyia longipalpis Ocorre o espalhamento de monócitos móveis contendo amastigotas: visceralização para o fígado, medula óssea, baço, linfonodos, intestino, pele, pulmões, rins Ocorre imunodepressão, por reduzir a capacidade de resposta e a resistência a outras doenças infecciosas (broncopneumonia, tuberculose, malária, esquistossomose) FATORES DE RISCO: desnutrição, drogas imunossupressoras, etilismo crônico e HIV SINTOMATOLOGIA: há casos assintomáticos (sorologia +), oligossintomáticos e relatos de cura espontânea INCUBAÇÃO: 2 a 4 meses SUSPEITA CLÍNICA: febre irregular, baixa ou alta, de longa duração, anemia progressiva, esplenomegalia, palidez, astenia, esgotamento geral FORMAS CLÍNICAS a) Aguda: evolução rápida, fatal. Geralmenteocorre em lactentes, crianças e subnutridos Sinais: febre alta, esplenomegalia, anemia, hemorragias, emagrecimento, tosse seca, bronquite, edema, desnutrição grave. Morte por infecções associadas (septicemia), hemorragia grave, caquexia, tratamento tardio ou sem resposta à quimioterapia b) Crônica: evolução lenta (anos) alternando remissões e recaídas Intestino: hiperplasia dos macrófagos, necrose com pequenas ulcerações Hepatoesplenomegalia (é a + frequente): hipertrofia e hiperplasia dos macrófagos, hipoalbuminemia Medula óssea: os macrófagos substituem o tecido hematopoiético, causando anemia, trombocitopenia e leucopenia Rins: glomerulonefrite, albuminúria e hematúria Ascite, edema generalizado, infecções bacterianas secundárias - estado de debilidade progressiva - anorexia, desnutrição grave, caquexia e óbito RESERVATÓRIO DO CALAZAR: canídeos silvestres, domésticos e felinos. intenso parasitismo cutâneo lesão no ponto de inoculação alopecia e descamação da pele dermatite ulcerativa ou nodular perda de peso e de apetite pelo opaco aumento dos linfonodos paresia e onicogrifose (aumento exagerado das unhas) ascite, hepatoesplenomegalia Obs: Programa de vigilância e controle contra a leishmaniose visceral (PCLV) Tem como objetivos reduzir a morbidade, letalidade e os níveis de transmissão. Estratégias: diagnóstico e tratamento precoce dos humanos infectados identificação e eliminação dos reservatórios domésticos controle vetorial educação em saúde manejo ambiental DIAGNÓSTICO DAS LEISHMANIOSES Anamnese: dados epidemiológicos do paciente + exame clínico (observar o aspecto da lesão) Diagnóstico laboratorial:biópsia da lesão 2.1) Esfregaços corados em lâminas 2.2) Exame histopatológico: (+ importante e preconizado) 2.3) PCR Diagnóstico imunológico: 3.1) Teste Intradérmico de Montenegro usado geralmente para monitoramento de programas de controle (levantamento epidemiológico) avalia a resposta imune celular de hipersensibilidade retardada aos antígenos de Leishmania. paciente nunca entrou em contato: não vai dar pápula paciente entrou em contato com algum dos 6: vai dar uma pápula (pápula > ou = a 5 mm - o paciente já teve contato com leishmania ou está parasitado) 3.2) Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) Na LT, a produção de anticorpos não é acentuada, mas ainda assim é possível fazer o teste sorológico O teste não é específico, pode ter reação cruzada com outros Obs: Diagnóstico da VISCERAL O material é obtido através de aspirado de medula óssea, baço, fígado e linfonodos A punção de medula óssea é uma técnica simples e que tem pouco risco para o paciente TRATAMENTO DAS LEISHMANIOSES Antimonial pentavelente: não pode ser usado em cardíacos e mulheres grávidas PROFILAXIA E CONTROLE Proteção individual: repelentes, mosquiteiros, inseticidas de ação residual (contra o inseto ADULTO) Manejo ambiental: limpeza de quintais e terrenos (contra formas IMATURAS) - identificação e eliminação dos reservatórios domésticos
Compartilhar