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DISCUSSÃO DE CASO CLÍNICO I LIGA DE PNEUMOLOGIA E TERAPIA INTENSIVA - FAMECA - 2019 Caso clínico Mulher branca, de 49 anos, procedente de Montene-gro, RS, não tabagista, sem história de exposição ocupa- cional ou medicamentosa, admitida por dispnéia de início insidioso e progressivo nos últimos seis meses (nos últimos dois meses aos mínimos esforços), febrícula, tosse seca, anorexia e emagrecimento de 5kg nesse período. Negava tabagismo e asma na infância. Encontrava-se em bom estado geral, eupnéica, acianótica, sem hipocra- tismo digital. Auscultas cardíaca e pulmonar, sem alterações. Hematócrito, 31%; hemoglobina, 9,5g/dL; leucó- citos totais, 9.930 (eosinófilos, 27%; linfócitos, 18%; neutrófilos, 49%), escarro com predomínio de eosinófi-lós no exame citológico diferencial. Testes de função pulmonar demonstraram distúrbio ventilatório restritivo leve, sem resposta ao broncodilatador, com redução da DCO e da CPT.. A paciente foi submetida a biópsia pulmonar a céu aberto no lobo médio, sendo retirado um fragmento que mediu 4,5 x 2,2 x 1,1cm. O exame anatomopatológico revelou, na quase totalidade do parênquima amostrado, consolidação por exsudato constituído predominantemente por macrófagos e eosinófilos, os quais preenchiam pequenos espaços aéreos, incluindo bronquío- los respiratórios e membranosos. Na maior parte dos espaços alveolares, os macrófagos eram mais numerosos, enquanto em alguns focos a proporção se invertia a favor dos eosinófilos. Ocasionais células gigantes multinuclea- das esparsas também foram encontradas, assim como poucos neutrófilos e mononucleares No interstício havia infilltração mista, com predomínio de linfócitos, plasmócitos, histiócitos e eosinófilos, não tão relevante como a exsudação intra-alveolar. O diagnóstico anatomopatológico foi de pneumonia eosinofílica. A paciente recebeu corticoterapia oral com predniso- na, 40mg dose/dia, com excelente resposta clínica, radiológica e funcional após os três meses iniciais de tratamento. Manteve o tratamento por seis meses, com regressão progressiva da dose de prednisona até 10mg/dia, sem evidências de recidiva (seis meses de seguimento). DISCUSSÃO DE CASO CLÍNICO II LIGA DE PNEUMOLOGIA E TERAPIA INTENSIVA - FAMECA - 2019 Caso Clínico Paciente masculino, 45 anos, solteiro, natural e procedente de Salvador,chega ao ambulatório queixando-se de dor torácica à esquerda há 2 dias. Paciente refere tosse produtiva com expectoração amarelada há 5 dias, além de febre alta (mensurada 39º). Nos últimos 2 dias, evoluiu com dor torácica ventilatório-dependente à esquerda, dispneia e escarros hemáticos.. É tabagista há 15 anos, 01maço/dia,etilismo diário, cerca de 2 garrafas de cerveja. Nega uso de drogas ilícitas e nega patologias prévias No exame físico, paciente apresentou regular estado egeral e nutricional, lúcido e orientado, taquipnéico, mucosas coradas. TA: 120/80mmHg, FC: 100bpm, T: 38,5ºC, FR: 33ipm, Sat O2 = 92% Expansibilidade levemente diminuída em 1/3 inferior do hemitórax esquerdo, macicez à percussão e frêmito tóraco-vocal aumentado neste local. Murmúrio vesicular preservado, estertores crepitantes em base esquerda. O restante do exame segmentar nao apresentou alterações. Nos exames complementares, a radiografia de tórax mostrava presença de consolidação no lobo inferior esquerdo,leucograma: 16500 (B 7%, S 78%), uréia: 20 mg/dl Creatinina: 0,8 mg/dl, glicemia de jejum: 90 mg/dl O paciente persistiu com febre e com dor torácica, apesar do uso correto do antimicrobiano. Nova radiografia de tórax evidenciou o aparecimento de derrame pleural ocupando o 1/3 inferior do HTE. Diagnóstico De acordo com os dados da anamnese, exame físico e exames complementares o paciente encontra-se com pneumonia adquirida na comunidade (PAC), um quadro de infecção aguda do parênquima pulmonar, em que o paciente procura o médico após poucos dias do início dos sintomas; o indivíduo a adquiriu na comunidade, distinguindo-se assim daquela adquirida no hospital. Os sintomas são geralmente tosse (inicialmente pode ser seca e evolui frequentemente para produtiva, podendo haver hemoptise associada ao escarro), dor torácica pleurítica (ventilatório-dependente, localizada, piora com a tosse ), dispnéia, febre, adinamia. Ao exame físico o paciente geralmente encontra-se taquipneico, com diminuição da expansibilidade respiratória, aumento do FTV, macicez, murmúrio vesicular preservado ou aumentado no local e presença de crepitos. À radiografia de tórax os achados mais frequentes são as opacidades alveolares, sendo em alguns casos homogêneas, acompanhadas de broncograma aéreo, caracterizando a imagem de consolidação. O paciente em questão também evoluiu com derrame pleural parapneumônico, evidenciado na segunda radiografia de tórax, persistindo com febre e dor pleurítica apesar do uso correto de antimicrobiano. Conduta Terapêutica - O tratamento pode ser feito a nível ambulatorial, pois o paciente possui escore CURB-65 entre 0 e 1 1-Iniciar uso de antimicrobiano macrolídeo: Claritromicina ou outro. 2-Realizar radiografia de tórax em decúbito lateral com raios horizontais; se o derrame tiver espessura maior que 1 cm realizar toracocentese para estudo do líquido; as características macroscópicas, bioquímicas e microbiológicas definirão tratar-se de empiema ou não, o que tem importantes implicações no tratamento. Se o derrame for extenso, realizar drenagem torácica. - Orientações: Aconselhar abandono do hábito tabágico e do etilismo PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE DIRETRIZES SBPT CONCEITO “A PAC se refere à doença adquirida fora do ambiente hospitalar ou de unidades especiais de atenção à saúde ou, ainda, que se manifesta em até 48 h da admissão à unidade assistencial”. É considerada PNEUMONIA NOSOCOMIAL: ● Pacientes que estiveram hospitalizados por 2 dias ou mais nos últimos 90 dias ● moradores de asilos e casas de saúde ● aqueles que receberam ATB EV, quimioterapia e tratamento de escaras nos últimos 30 dias ● e os que estão em diálise. PNEUMONIA ≠ PNEUMONITE DIAGNÓSTICO SINAIS DE DOENÇA AGUDA DO TRI ● Tosse ● Expectoração ou ● falta de ar ou ● dor torácica ACHADOS FOCAIS NO RAIO X DE TÓRAX ● Opacificações novas ● Pedir PA e perfil MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS ● Θ ⪖ 37,8° C ● confusão ● delirium ● cefaleia ● sudorese ● calafrios ● mialgias ATENÇÃO: dados semiológicos têm acurácia menor em relação aos exames de imagem! Entretanto, o exame físico deve ser detalhado. PNEUMONIA LOBAR BRONCOPNEUMONIA (SEGMENTAR) PNEUMONIA INTERSTICIAL “A radiografia de tórax [...] é também útil na monitorização da resposta ao tratamento. Entretanto, a classificação em padrões radiológicos (lobar, broncopneumônico e intersticial) é de utilidade limitada quanto à predição do agente causal”. A presença de cavitação indica germe anaeróbio (como Staphylococcus aureus e G-), sempre investigar tuberculose. “Derrames pleurais significativos (com 5 cm ou mais, identificado na projeção lateral em ortostatismo a partir do sulco posterior) devem ser puncionados.” Empiema deve ser descartado. CLASSIFICAÇÃO DE RISCO E LOCAL DO TRATAMENTO (British Thoracic Society) ESCORE CURB-65 C = CONFUSÃO MENTAL U = UREIA > 50 mg/dl R = FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA > 30 ipm B = PRESSÃO SISTÓLICA < 90 mmHg ou PRESSÃO DIASTÓLICA < 60 mmHg 65 = IDADE ≥ 65 ANOS Classificação Mortalidade Recomendação 0 0.7% Baixo risco, tratamento ambulatorial 1 3.2% Baixo risco, tratamento ambulatorial 2 13.0% Risco intermediário, hospitalização de curta estadia ou tratamento ambulatorial com supervisão 3 17.0% Pneumonia grave, considerarhospitalização 4 41.5% Pneumonia severa, considerar hospitalização 5 57.0% Pneumonia muito grave, considerar leito em UTI “A presença de choque séptico e a necessidade de ventilação mecânica são critérios absolutos de admissão à UTI.” “As condições psicossociais e econômicas devem ser consideradas quando da decisão do local de tratamento”. TERAPÊUTICA A antibioticoterapia nunca deve esperar o resultado da cultura, sendo iniciada empiricamente contra os microorganismos mais prevalente! DEVEMOS AVALIAR RISCO PARA Pseudomonas æruginosa ● PNEUMOPATAS (BRONQUIECTASIAS) ● CORTICOTERAPIA CRÔNICA (>10 mg/dia) ● DESNUTRIÇÃO ● USO DE ANTIBIÓTICO DE AMPLO ESPECTRO NOS ÚLTIMOS 7 DIAS ● IMUNODEPRESSÃO AMBULATORIAIS INTERNADOS NÃO GRAVES ADMITIDOS EM UTI PREVIAMENTE HÍGIDOS DOENÇAS ASSOCIADAS ANTIBIÓTICOS (3 MESES) QUINOLONA OU BETALACTÂMICO + MACROLÍDEO SEM RISCO DE PSEUDOMONAS COM RISCO DE PSEUDOMONAS MACROLÍDEO OU TETRACICLINA BETALACTÂMICO + MACROLÍDEO OU QUINOLONA BETALACTÂMICO + MACROLÍDEO OU QUINOLONA BETALACTÂMICO OU AZTREONAM + CIPRO OU LEVO OU BETALACTÂMICO + AMINOGLICOSÍDEO + QUIONOLONA Grupo Microrganismos prováveis Tratamento empírico I. Pacientes ambulatoriais — sem fatores modificantes† Streptococcus pneumoniae, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae, Haemophilus influenzae, vírus respiratórios, diversos organismos (p. ex., Legionella sp, Mycobacterium tuberculosis, fungos endêmicos) Macrolídeo (azitromicina, 500 mg, VO, 1 vez/dia e, em seguida, 250 mg, 1 vez/dia; claritromicina, 250 a 500 mg, VO, 2 vezes/dia); ou claritromicina de liberação prolongada, 1 g, 1 vez/dia ou Doxiciclina, 100 mg, VO, 2 vezes/dia (se houver alergia a macrolídeos) II. Pacientes ambulatoriais — com fatores modificantes† S. pneumoniae, incluindo as formas resistentes a antibióticos; M. pneumoniae; C. pneumoniae; infecção mista (bactéria + patógenos atípicos ou vírus); H. influenzae; Gram-negativos entéricos; vírus respiratórios; diversos organismos (p. ex., Moraxella catarrhalis, Legionella sp, anaeróbios [aspiração], M. tuberculosis, fungos endêmicos) Betalactâmicos (cefpodoxima, 200 mg, VO, a cada 12 h; cefuroxima, 500 mg, VO, a cada 12 h; amoxicilina, 1 g, a cada 8 h; amoxicilina/clavulanato, 875/125 mg, a cada 12 h) mais Macrolídeo VO ou Fluoroquinolonas antipneumocócicas VO ou IV (isoladamente; p. ex., moxifloxacino [400 mg VO/IV a cada 24 h] gemifloxacino [320 mg VO/IV a cada 24 h], levofloxacino [750 mg VO/IV a cada 24 h]. III. Pacientes internados, não na UTI S. pneumoniae, H. influenzae, M. pneumoniae, C. pneumoniae, infecção mista (bactéria + patógenos atípicos ou vírus), vírus respiratórios, Legionella sp, diversos organismos (p. ex., M. tuberculosis, fungos endêmicos, Pneumocystis jirovecii) Azitromicina, 500 mg, IV, a cada 24 h mais Betalactâmicos, IV (cefotaxima, 1 a 2 g, a cada 8 a 12 h; ceftriaxona, 1 g, a cada 24 h) ou Fluoroquinolona antipneumocócica VO ou IV (isolada) IVA. Pacientes internados na UTI — sem fatores de risco de Pseudomonas S. pneumoniae, incluindo as formas resistentes a antibióticos; Legionella sp; H. influenzae; Gram-negativos entéricos; Staphylococcus aureus; M. pneumoniae; vírus respiratórios; diversos organismos (p. ex., C. pneumoniae, M. tuberculosis, fungos endêmicos) Betalactâmicos, IV (cefotaxima, 1 a 2 g, IV, a cada 8 a 12 h; ceftriaxona 1 g, IV, a cada 24 h) mais um dos seguintes Fluoroquinolona antipneumocócica IV ou Azitromicina, 500 mg, IV, a cada 24 h IVB. Pacientes internados na UTI — com fatores de risco de Pseudomonas Os mesmos do grupo anterior, além de Pseudomonas sp β-lactâmicos antipseudomonas‡ ou aztreonam (se houver intolerância ou alergia aos β-lactâmicos) 1 a 2 g a cada 8 h mais um dos seguintes Ciprofloxacino, 400 mg, IV, a cada 12 h ou levofloxacino 750 mg, VO ou IV a cada 24 h Alternativamente: β-lactâmicos antipseudomonas‡ mais Um aminoglicosídio mais um dos seguintes Ciprofloxacino, 400 mg, IV, a cada 12 h ou levofloxacino 750 mg, VO ou IV a cada 24 h REFERÊNCIAS 1. CORREA, R. A. et al. Diretrizes brasileiras para pneumonia adquirida na comunidade em adultos imunocompetentes. J. bras. pneumol. 2009, vol. 35, n. 6, pp. 574-601; 2. HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEIN. Pneumonia adquirida na comunidade, versão eletrônica atualizada em março de 2012. Disponível em: <http://www.saudedireta.com.br/docsupload/1340227609_pneumonia_comunidade.pdf>. Acesso em 27 mar 2019, às 13h30; 3. SETHI, S. Pneumonia adquirida na comunidade. In: <https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/pneumonia/pn eumonia-adquirida-na-comunidade>. Acesso em 27 mar 2019, às 13h.
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