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A PROSA ROMÂNTICA NO BRASIL UMA QUESTÃO FOLHETINESCA Por Ana Paula Marques O romance não fazia parte da tradição cultural brasileira. Ele ganhou corpo com o Romantismo, graças à aquisição pelo público do gosto pela leitura de folhetins, importante fonte de lazer no século XIX. Leitura, Almeida Júnior ORIGEM DA PALAVRA ROMANCE Origina-se do termo medieval ROMANÇO, que designava as línguas usadas pelos povos sob o domínio do Império Romano. Também se chamavam romance as composições de cunho popular e folclórico, escritas neste latim vulgar, falado pelos povos dominados. Tais composições apresentavam-se em verso ou prosa e tematizavam histórias cheias de imaginação fantasia e aventuras. TENDÊNCIAS DO ROMANCE ROMÂNTICO Histórias de amor; Idealização de heróis e heroínas( protagonistas fortíssimos); o individualismo, como traço burguês; o casamento é o fim último; sentimentalismo; flash-back narrativo; amor como redenção; idealização da mulher; personagens planas; linguagem metafórica. CLASSIFICAÇÃO DOS ROMANCES ROMÂNTICOS URBANO; INDIANISTA; HISTÓRICO; REGIONALISTA OU SERTANEJO; ABOLICIONISTA; GÓTICO ROMANCE URBANO “A MORENINHA” Uma menina travessa Joaquim Manuel de Macedo A moreninha de Joaquim Manuel de Macedo O enredo do romance é bastante simples: Augusto, Leopoldo e Fabrício, jovens estudantes de Medicina, vão passar o dia de Sant’Ana em uma certa ilha de propriedade da avó de Filipe, um dos colegas. Augusto, que se dizia incapaz de se apaixonar por muito tempo apenas por uma mulher, faz uma aposta com Filipe: se ficasse apaixonado por uma jovem durante quinze dias ou mais, assumiria o compromisso de escrever um romance contando tal paixão. Nos dias em que fica na ilha, sente-se atraído por Carolina, a Moreninha, irmã de Filipe. O tempo passa e Augusto volta outra vez à ilha para visitar a moça. Apesar de apaixonado por ela, confessa-lhe que está preso ao juramento de fidelidade feito a uma menina, quando tinha 13 anos de idade, mas cujo nome desconhece e de quem nunca mais teve notícias. O amor por Carolina, entretanto, supera esse compromisso e ele está disposto a casar-se com ela. No final, para a resolução feliz do aparente conflito, descobrem que eles são as crianças que juraram amor eterno. Augusto ganha o amor de Carolina, mas perde a aposta com Filipe. Quando perguntam-lhe sobre o romance que vai escrever, ele diz que já está pronto e que se chama “A Moreninha”. ROMANCE URBANO “SENHORA” O casamento como consórcio José de Alencar Arrufos Senhora Emília era amante de Pedro Camargo, jovem de família rica, porém seu pai, Lourenço, não aprovava o romance do filho. Pedro então renega o pai e vai viver com Emília, e juntos têm uma filha, Aurélia. No entanto, Pedro morre, Emília tem que sustentar Aurélia e um filho que também acaba morrendo.Aurélia, no auge da sua jovialidade, conhece Fernando Seixas, e os dois apaixonam-se perdidamente, porém Fernando também era pobre, e tinha planos de mudar de vida casando com uma mulher rica. Eles começam à namorar, porém logo depois terminam, pois, por mais amor que ele sentisse, seus valores não permitiriam que se casasse com uma moça pobre. Lourenço morre, e Aurélia herda sua fortuna, resolvendo, então, vingar-se de Seixas. Ela, por intermédio do tio interesseiro Lemos, propõe que Seixas se case com uma moça que nunca tinha visto, e como recompensa ele ganharia uma farto dote. Seixas acaba aceitando e descobre que a moça é Aurélia. Na noite de núpcias Aurélia conta que fez tudo isso para se vingar de Seixas, para mostrar a ele que agora que ela estava rica, conseguiria tudo que quisesse, até seu ex- grande amor. Aurélia, num misto de amor e mágoa, humilha Fernando durante toda a história. Seixas, humilhado, junta e devolve o dinheiro que Aurélia lhe deu como dote de casamento, a fim de reconstruir seu orgulho. No último capítulo, Aurélia entrega a Seixas um testamento, no qual revelava todo o amor que sentia por ele. Ela pede perdão e o casamento concretiza-se. ROMANCE URBANO “LUCÍOLA” Um anjo disfarçado em mulher fatal? José de Alencar Lucíola - José de Alencar Na melhor tradição romântica, Lucíola é um livro no qual se debatem paixões tórridas e contraditórias. O amor que não resiste às barreiras sociais e morais. Assim é o romance da bela Lúcia, a mais rica e cobiçada cortesã do Rio de Janeiro, e Paulo, um jovem modesto e delicado. Um romance que sacode a corte e provoca um excitado burburinho na sociedade. De um lado a mulher que, sendo de todos, jurava não prender-se a nenhum homem, de outro o homem em dúvida entre o amor e o preconceito. José de Alencar utiliza este instigante argumento para descrever a enorme atração física entre um homem e uma mulher. A pena moralizadora do escritor busca a idealização espiritual da prostituta que quer se modificar e a alma pura de Paulo cujo amor arrebatador supera todas as barreiras. Lucíola é um dos mais curiosos trabalhos de José de Alencar. Há nele um clima de sensualidade constante combinado com o ardor e sofrimento, bem no clima da literatura romântica que predominava na segunda metade do século XIX, quando foi escrito este romance. ROMANCE URBANO “Memórias de um Sargento de Milícias” A vida agitada de um malandro carioca Manuel Antônio de Almeida Em vez de vida sofisticada da gente fina carioca, Memórias de um sargento de milícias mostra vida da gente do povo, que vive nas casinhas simples do Rio de Janeiro “do tempo do rei” (D. João VI). E são os tipos populares que participam da história – as comadres, os moleques, os soldados, as mulatas dengosas e maliciosas, etc. A linguagem do narrador apresenta um tom coloquial, como se estivesse conversando com os leitores. A descrição das cenas e festas populares – batizados, procissões, folias – dá ao romance um toque de realismo e documentário da vida da época. A figura central que garante a unidade das várias ações e dos vários cenários é Leonardo, filho enjeitado de Leonardo Pataca e Maria da Hortaliça e que foi criado pelos padrinhos: a parteira e o barbeiro. O romance conta as peripécias de Leonardo, seus casos com a mulata Vidinha, o namoro sério com Luisinha (com quem se casa no final) e seus planos para conseguir escapar da vigilância do severo major Vidigal, sempre de olho no malandro. ROMANCE INDIANISTA E HISTÓRICO “O GUARANI” O mito da povoação Já em meados do século XVII, D. Antônio de Mariz, fidalgo dos mais insignes da nobreza de Portugal, leva adiante no Brasil uma colonização dentro do mais rigoroso espírito de obediência à sua pátria. Sua casa-forte, às margens do Pequequer, afluente do Paraíba, é abrigo de ilustres portugueses, afinados no mesmo espírito patriótico e colonizador, mas acolhe inicialmente, com ingênua cordialidade, bandos de mercenários, homens sedentos de ouro e prata. O Guarani - José de Alencar Um desses aventureiros era Loredano, ex-padre que assassinara um homem desarmado, a troco do mapa das famosas minas de prata. A narrativa inicia seus momentos épicos logo após o incidente em que Diogo, filho de D. Antônio, inadvertidamente, mata uma indiazinha aimoré, durante uma caçada. Indignados, os aimorés procuram vingança: A luta que se irá travar entre os aimorés e a família de D. Antônio não diminui a ambição de Loredano, que continua a tramar a destruição de todos os que não o acompanhem. Durante todos os momentos da luta, Peri, vigilante, não descura dos passos de Loredano, frustrando todas suas tentativas de traição ou de rapto de Ceci. Muito mais numerosos, os aimorés vão ganhando a luta passo a passo. Num momento, dos mais heróicos, Peri, percebendo que estavam quase perdidos, tenta uma solução indígena: tomando veneno, pois sabe que os aimoréssão antropófagos, desce a montanha e vai lutar contra os aimorés. Ele sabe que, morrendo, seria sua carne devorada pelos antropófagos e aí estaria a salvação da casa de D. Antônio já que todos os aimorés morreriam. Depois de muita luta, em que morreram muitos inimigos, Peri é subjugado e, já sem forças, espera, armado, o sacrifício que lhe irão impingir. D. Álvaro, bravo guerreiro de D. Antônio, consegue heroicamente salvá-lo. Peri volta à floresta em busca de um antídoto, espécie de erva que neutraliza o poder letal do veneno. De volta, traz o cadáver de Álvaro morto em combate com os aimorés. Dá-se então o momento trágico da narrativa: Isabel (irmã bastarda de Ceci), inconformada com a desgraça ocorrida ao amado, suicida-se sobre seu corpo. Loredano, crendo-se completamente seguro, trama agora a morte de D. Antônio e parte para a ação. Quando menos supõe, é preso e condenado a morrer na fogueira, como traidor. O cerco dos selvagens é cada vez maior. Peri, a pedido do pai de Cecília, se faz cristão, única maneira possível para que D. Antônio concordasse,com a fuga dos dois, os únicos que poderiam ser salvos. Já distantes da Casa-forte, ouve-se o grande estampido provocado por D. Antônio, que, vendo entrarem os aimorés em sua fortaleza, ateia fogo aos barris de pólvora, destruindo índios e portugueses. Cecília acorda e Peri lhe relata o sucedido. Transtornada, a moça vê-se sozinha no mundo. Prefere não mais voltar ao Rio de Janeiro, para onde iria e ficar com Peri, morando nas selvas. Uma tempestade faz as águas subirem ainda mais. Por segurança, Peri sobe ao alto de uma palmeira, protegendo fielmente a moça. Com força descomunal, arranca a palmeira do solo, improvisando uma canoa. O romance termina com a palmeira perdendo-se no horizonte, não sem antes Alencar ter sugerido, nas últimas linhas do romance, uma bela união amorosa, semente de onde brotaria mais tarde a raça brasileira... ROMANCE INDIANISTA “IRACEMA” A virgem dos lábios de mel José de Alencar Em Iracema, Alencar criou uma explicação poética para as origens de sua terra natal. A virgem dos lábios de mel tornou-se símbolo do Ceará, e seu filho, Moacir – nascido de seus amores com o colonizador português Martim -, representa o primeiro cearense, fruto da união das raças. Baseando-se em alguns fatos históricos da época da colonização, Alencar imaginou o amor entre Iracema, a virgem tabajara consagrada a Tupã, e Martim, guerreiro branco inimigo dos tabajaras. Por esse amor, ela abandona sua tribo e vai viver com o inimigo de seu povo. Quando, mais tarde, percebe que Martim sente saudades de sua terra natal e talvez de alguma outra mulher, começa a sofrer. Tem o filho, Moacir, enquanto Martim está lutando em outras regiões. Quando ele regressa, Iracema está muito fraca. Ela morre e Martim parte com o filho. ROMANCE REGIONALISTA “INOCÊNCIA” Amor e tragédia no sertão Visconde de Taunay Inocência - Visconde de Taunay No ambiente rústico do interior de Mato Grosso, transcorre a história da jovem Inocência. Filha única de Pereira, um mineiro viúvo, ela se apaixona por Cirino, um curandeiro ambulante que passava por médico e que fora levado a sua casa pelo pai para tratar da saúde da jovem. Cirino é o primeiro homem a despertar- lhe realmente as emoções do amor, criando nela uma grande perturbação íntima, pois estava prometida a Manecão, rude vaqueiro do lugar. Além de Cirino, encontra-se na casa de Pereira um naturalista alemão, Meyer, que estava no Brasil à procura de novas espécies de borboletas. Desconhecendo os preconceitos que marcavam a vida familiar sertaneja, Meyer não esconde a sua admiração pela beleza de Inocência. Isso preocupa Pereira, que passa a vigiá-lo constantemente, dando oportunidade a Cirino de comunicar-se mais facilmente com a moça. Com a partida de Meyer, as coisas se complicam, aumentando o medo de Inocência, que teme uma reação violenta do pai caso venha a saber do romance. A jovem instrui Cirino a procurar seu padrinho para que ele convença Pereira a concordar com o rompimento do compromisso com Manecão. Na ausência de Cirino, porém, o romance é descoberto através de Tico, um anão que espreitava continuamente Inocência. Manecão persegue Cirino e o mata. Algum tempo depois, morre Inocência. ROMANCE REGIONALISTA E ABOLICIONISTA “A escrava Isaura” O amor contra a escravidão Bernardo Guimaraens Escrava Isaura - Bernardo de Guimarães Numa fazenda da cidade de Campos, no Rio de Janeiro, vivia Isaura, uma belíssima escrava que fora criada como filha pela mãe de seu patrão, o cruel Léôncio. Isaura tivera uma educação esmerada, era culta, sabia cantar e tocar piano. Embora casado com Malvina, que era muito amiga de Isaura, Leôncio começa a atormentar a jovem com propostas amorosas, mas ela sempre rejeita. Desesperada com essa situação e ameaçada por Leôncio, ela foge com o pai, um antigo feitor da fazenda, para Recife, onde conhece Álvaro, um jovem rico, abolicionista e republicano. Os dois se apaixonam, mas Leôncio consegue trazê-la de volta. Quando tudo parece perdido para Isaura, Álvaro chega com a salvação. Descobrindo que Leôncio estava em péssimas condições financeiras, com seus bens nas mãos de credores, Álvaro compra os títulos da dívida e manda executar sua falência. Desesperado Leôncio suicida-se. Com a morte do vilão, o triunfo do amor, encerra-se o romance. ROMANCE GÓTICO “NOITE NA TAVERNA” Amor e morte: o relato do absurdo Álvares de Azevedo Noite na Taverna - Álvares de Azevedo O livro divide-se em 7 contos. O primeiro introduz a atmosfera boêmia e os 5 que seguem são uma história de cada um dos clientes. Em cada uma um tabu é quebrado. São eles: necrofilia (Solfieri), antropofagia (Bertram), traição (Gennaro), poligamia (Claudius) e incesto e fratricídio (Johann). No sétimo e último aparece uma figura toda de preto, a irmã desonrada de Johann, a qual o mata e se mata junto com outro cliente da taverna, que revela ser o homem com quem Johann duelou e pensava ter matado.
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