Buscar

Historico do Pens. Geografico

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

O HISTÓRICO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E AS CONTRIBUIÇÕES DE 
HUMMBOLDT E RITTER PARA A CONSTRUÇÃO DA GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA.
1
 
 
Mariane de Oliveira FERNANDES 
marianejf@gmail.com 
Graduanda em Geografia 
Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora 
 
 
Resumo: Para uma melhor compreensão do avanço das técnicas no nosso espaço de vivência e no 
que diz respeito ao desenvolvimento da ciência geográfica, necessitamos conhecer as origens do 
pensamento geográfico, desde os tempos mais remotos quando o homem mesmo sem o 
desenvolvimento da ciência já tinham ideias geográficas, perpassando por diversas concepções 
filosóficas até chegarmos a sua sistematização. Pesquisar, descrever e analisar as transformações 
ocorridas no espaço geográfico é de fundamental importância, destacando a necessidade de 
retomarmos aos clássicos, a fim de conhecermos a sua história, bem como refletirmos sobre as 
contribuições de grandes pensadores como Humboldt e Rittter para a construção do pensamento 
geográfico contemporâneo. O presente trabalho tem como objetivo descrever e analisar essas 
contribuições para a construção da Geografia como ciência. 
 
 
Palavras-chave: ciência; Geografia Clássica; Positivismo; espaço; sistematização. 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Desde a antiguidade o homem vem se preocupando em estudar o espaço em que 
vive. Entre os povos primitivos, aqueles que viveram na pré-história mesmo sem 
conhecimentos da escrita já eram ideias geográficas. Transmitiam os conhecimentos 
através da oralidade e dos manuscritos em rochas, demonstrando ter uma concepção de 
mundo. 
Andrade (1992) considerava que o homem através das suas experiências, 
desenvolviam ideologias de ordem geográfica e lançavam as sementes que no futuro seriam 
desenvolvidas com caráter científico. 
Os homens vivendo da caça, da pesca e da agricultura primitiva tinham contato com 
o meio natural e dele retiravam o seu sustento. 
Desde então o espaço vem sendo alvo de estudo por parte do homem. Pelo fato de 
viver no espaço e se sentir parte dele, indagações, na medida em que a humanidade ia 
adquirindo experiências, foram desenvolvidas. Saber os motivos e o porquê dos fenômenos 
tornou-se necessário. 
Com o desenvolvimento da ciência, no século XIX, a concepção filosófica inserida 
tinham suas bases no Positivismo no qual a Geografia Clássica estava inserida. Neste 
 
1
 Epistemologia da Geografia 
período as máximas geográficas começavam a ser levantadas e discutidas, porém sem a 
inserção do homem como indivíduo. É no século XIX que ocorre a sistematização da ciência 
geográfica tendo seu inicio com o desenvolvimento do capitalismo e suas relações com 
diversas partes do mundo no qual a ciência geográfica contribui de forma gratificante para 
este processo. 
Este trabalho vem descrever o histórico do pensamento geográfico e sua 
importância para o que conhecemos como a ciência geográfica nos dias de hoje, a 
Geografia Clássica e seus precursores como Humboldt e Ritter, no qual o olhar geográfico 
nasce da visão destes dois pensadores alemães que deveriam ser discutidos e repensados 
no que chamamos de Geografia contemporânea. 
 
HISTÓRICO DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO 
 
Desde os tempos mais remotos, no período da Antiguidade, os povos viviam em 
grupos os quais se deslocavam em busca de meios de subsistência e assim conheciam o 
espaço em que viviam. Tinham conhecimento do mecanismo das estações do ano e, 
através dessas migrações, novos caminhos eram percorridos. A partir daí, os primeiros 
esboços com representações da superfície terrestre eram construídos, surgindo os primeiros 
mapas. O mapa mais antigo já registrado foi encontrado na cidade de Ga Sur, na Babilônia, 
datado de 2500 a.C. Neste mapa havia representações do vale de um rio que possivelmente 
representava o rio Eufrates acompanhado de montanhas, assinalando os pontos cardeais. 
As civilizações do Egito e Mesopotâmia desenvolviam a agricultura, e por isso, dependiam 
das irrigações, servindo de grande importância para o estudo hidrológico da região. 
Ainda na Antiguidade com a expansão política, comercial e marítima no 
Mediterrâneo, aconteceu a construção de mapas marítimos contendo a descrição de lugares 
e de seus habitantes. Segundo Andrade (1992), deve-se ressaltar a importante contribuição 
de Aristóteles para o desenvolvimento do conhecimento geográfico. Este filósofo admitiu a 
esfericidade da Terra, mas não apenas tratou deste tema, fez também relações aos 
aspectos físicos e humanos, como a variação do clima com a latitude e a relação entre as 
raças humanas. Os gregos na costa do Mediterrâneo instauraram colônias em que 
desenvolviam o comércio e o conhecimento dos lugares. Entre os romanos pode-se 
destacar a expansão do Cristianismo, religião oficial de Roma no século IV. Neste período, 
estudiosos afirmavam que os princípios religiosos sobrepunham às ideias científicas já 
estabelecidas pelos gregos, como por exemplo, a negação aos estudos feitos sobre a 
esfericidade da Terra, dificultando assim o avanço do conhecimento científico. 
Ferreira e Simões (1994) relatam que na Idade Média a reorganização do espaço 
vem com a queda do Império Romano no Ocidente, já que mudanças territoriais foram 
ocorrendo, pois por meio das invasões bárbaras, guerras foram acontecendo e novas 
fronteiras foram sendo consolidadas. O pensamento geográfico passa a não ser formalizado 
em termos científicos. “Neste ambiente, a Igreja torna-se o maior poder, já que é o único 
poder central europeu. As respostas às questões colocadas passam a ser dadas a partir de 
interpretações bíblicas.” (FERREIRA E SIMÕES, 1994, p. 45). O sistema feudal 
desencadeado a partir da crise romana é instaurado. Este sistema dominou a vida dos 
reinos europeus do século X ao século XIII, quando o comércio havia se tornado uma 
atividade de muito pouca importância. No final da Idade Média temos importantes relatos de 
viagens como as Cruzadas, tendo como consequência a dinamização das relações 
comerciais entre Ocidente e Oriente. Segundo Ferreira e Simões (1994), com o 
ressurgimento das curiosidades pelo mundo desconhecido, há o renascimento do comércio 
entre a Europa e o Oriente e as peregrinações aos lugares santos. Sendo assim, torna-se 
necessário o desenvolvimento dos instrumentos de navegação, com a utilização de uma 
Cartografia denominada realista e não mais uma Cartografia religiosa como no início da 
Idade Média quando a busca por respostas se encontrava numa ordem religiosa. 
A Cartografia foi reformulada, passando a ser produzidos os chamados portulanos, 
que para Ferreira e Simões (1994, p. 52) “O nome portulano vem provavelmente da 
designação <<mapas de piloto>> (do italiano portolano)”, que são os mapas que tinham a 
capacidade de descrever com detalhes as rotas marítimas. Descrições de viagens entre o 
Ocidente e o Oriente eram feitas, trazendo importantes informações das regiões 
desconhecidas. Ao mesmo tempo em que o conhecimento do espaço geográfico vinha 
sendo ampliado, o relacionamento entre sociedade e natureza era estabelecido. 
Entre os séculos XV e XVIII há o aperfeiçoamento do estudo sobre o magnetismo 
terrestre, estabelecendo com melhor exatidão a medida das longitudes, podendo-se fazer 
correções em antigos mapas. Para Ferreira e Simões (1994) este é um período importante 
para a ciência geográfica, pois a Geografia retoma os dois rumos que vinha seguindo na 
Antiguidade, a Geografia matemática e a descritiva. Através das viagens e da grande 
expansão das navegações ao novo mundo, os cientistas puderam fazer observações 
astronômicas e descrever os lugares. Ferreira e Simões (1994, p.53) descrevem que “Aconcepção geográfica do mundo mudou mais rapidamente no primeiro quartel do século XVI 
do que qualquer outra época.” Correções de mapas eram feitas; o primeiro globo terrestre 
foi construído nessa época e, no século XVII por meio das observações de estudiosos como 
Galileu, Copérnico e Kepler, muda-se a concepção sobre a posição da terra no Universo, 
deixando de ser geocêntrica e passa a ser heliocêntrica. Ferreira e Simões (1994) relatam 
que na França desenvolve-se uma cartografia de maior escala podendo atender às 
necessidades de representações territoriais, como administração política, engenharia: 
estradas e canais; estratégias de guerra, entre outras. 
Porém, com o tempo, a manipulação das experiências praticadas pelo homem 
vinha sendo feita, alargando a capacidade do desenvolvimento das atividades humanas. 
Com a manipulação desses problemas respeitando uma ordem preestabelecida por meio de 
técnicas, surgiu o que chamamos de ciência. 
E o que compete à Geografia no campo da ciência? Segundo Ferreira e Simões, 
 
 
Compete a geografia descobrir quais os processos que produzem essas 
estruturas espaciais, descobrir qual a sua ordem, de modo a integrar essa 
ordem na experiência, para que possam ser manipulados os 
conhecimentos adquiridos.(FERREIRA E SIMÕES, 1994,p.10) 
 
 
Portanto, a Geografia encontra-se inserida no campo científico, permitindo ao 
homem obter respostas mais eficazes sobre problemas espaciais, suas respectivas 
estruturas e consequências. 
Segundo Andrade (1992) o desenvolvimento das ciências acelerou-se nos séculos 
XVIII e XIX. Com o desenvolvimento do capitalismo comercial a partir do século XV, o 
interesse por matérias-primas e a conquista de territórios para a produção de alimentos 
pelos países europeus que eram os detentores dos meios de produção promoveu a 
expansão econômica e territorial desse continente. Com isso, a burguesia ia enriquecendo-
se através das relações comerciais, e intensificando as relações entre os povos. Foram 
necessárias revoluções políticas como a Revolução Gloriosa, na qual a burguesia tomava o 
poder enriquecendo-se. A burguesia “[...] provocou verdadeira revolução de ordem cultural e 
técnica”. (ANDRADE, 1992, p. 47). A Revolução Industrial estabelecida na Inglaterra no 
século XVIII chega à França provocando verdadeira revolução de ordem técnica e industrial. 
A França, assim como outros países, começou a desenvolver a cartografia com 
representações de larga escala que representavam o território, mais precisamente, para 
atender as necessidades da política, de guerras e de revoluções, como a Revolução 
Francesa. 
 Através desse enriquecimento, crescia o estímulo para o desenvolvimento das 
técnicas e das pesquisas e, consequentemente, o crescimento da exploração do espaço 
natural. 
Desde o século XVIII, os filósofos posicionavam-se em relação aos problemas e se 
preocupavam com o avanço da ciência, sua classificação. Andrade (1993) descreve que a 
classificação das ciências deveria ser uma tentativa de conjugar o amplo saber e a 
capacidade do homem em expandi-lo, sendo isto objetos de estudos de Immanuel Kant 
(1724–1804), filósofo e professor de Geografia Física na Alemanha. A sua importância para 
a ciência geográfica não foi pelo fato de relatar viagens, mas, por trazer a esta ciência suas 
reflexões sobre a natureza do conhecimento, pois, para Kant, o conhecimento se dava pela 
experiência e raciocínio. Nesta época, o conhecimento científico vinha sendo 
compartimentado e, esta classificação vinha preocupando estudiosos. Para Moreira, (2008a) 
Kant argumentava que, o conhecimento deveria estabelecer relações entre natureza e 
homem, pois, para este filósofo, 
 
 [...] é necessário encontrar o ponto comum de pensar a natureza e pensar 
o homem , seja no plano empírico trilhado pela ciência, seja no abstrato 
que é característico da Filosofia. E vai buscar os pontos de apoio na 
Geografia e na História. Na Geografia vai buscar os conhecimentos 
empíricos concernentes à natureza. (MOREIRA, 2008a, p.14) 
 
 
Para Kant, dados empíricos eram necessários, pois, a ciência vem das 
experiências dos homens. Este filósofo assume uma grande e singular importância ao 
levantar questões sobre a natureza do conhecimento geográfico. Segundo Moreira (2008a), 
Kant, mesmo não sendo geógrafo de formação, percebe que o avanço da ciência encontra-
se na interpretação da natureza, com isso, a Geografia ganha sentido por meio do olhar 
humano e da descrição, gerando o registro dos lugares de forma corográfica. 
 
 
 Assim, a corografia ganha o sentido geométrico da localização e 
distribuição que a Geografia vai usar para o aperfeiçoamento da 
representação cartográfica, através da combinação rigorosa da percepção 
sensível com o registro e precisão matemáticos dos mapas. (SANTOS, 
2002 apud MOREIRA, 2008a, p. 14). 
 
 
A Geografia para Kant é organizada em classificações de conhecimentos empíricos 
num mundo físico, a descrição das paisagens terrestres, fazendo dela uma ampla e densa 
corografia, ou seja, o estudo geográfico das diversas localidades eram realizados. 
Para os geógrafos do século XIX, levantar questões sobre as características dos 
lugares, distribuição no espaço e problemas de ordem espacial, eram aspectos 
fundamentais. Portanto, a Geografia encontra-se inserida neste campo científico, pois a 
ciência consiste em dar explicações às indagações do homem. 
 
A GEOGRAFIA CLÁSSICA 
 
No início do século XIX cientistas e intelectuais preocupavam-se com a expansão da 
ciência vinculada às observações e experimentações. O pensamento científico do século 
XIX tinha suas bases no Positivismo, uma concepção filosófica instaurada por Auguste 
Comte (1798-1857), filósofo francês, defendendo a perspectiva da observação já discutida 
por Immanuel Kant. 
Ferreira e Simões (1994) descrevem que esta corrente filosófica está firmada em 
três regras ditas como essenciais, que são 
 
 
1)A observação é a única base do conhecimento; 2)O estudo dos 
fenômenos deve basear-se apenas no que é observável, renunciando a 
qualquer especulação sobre a sua origem ou o seu destino; 3)As leis 
positivistas destinam-se a prever. (FERREIRA E SIMÕES, 1994, p.67) 
 
 
Segundo Moraes (1992), a concepção filosófica em que os geógrafos do século 
XIX vão buscar suas orientações é o Positivismo, no qual a Geografia Tradicional está 
fundamentada. Moraes (1992, p. 21) diz que “Os postulados do positivismo (aqui entendido 
como o conjunto das correntes não-dialéticas) vão ser o patamar sobre o qual se ergue o 
pensamento geográfico tradicional, dando lhe unidade.” Na Geografia tradicional, a 
descrição, enumeração e classificação são elementos presentes neste dado momento 
histórico. 
Neste momento, as máximas geográficas vão sendo elaboradas e transmitidas, 
sendo tratadas como elementos principais do pensamento geográfico. Eram traçados como 
princípios fundamentais, como a citada por Moraes (1992, p. 23) “A Geografia é uma ciência 
de contato entre o domínio da natureza e o da humanidade”. Através da leitura desta 
máxima geográfica, verifica-se que o homem não está inserido nos estudos geográficos 
como indivíduo, apenas através de dados numéricos como estudo populacional, sem uma 
visão social, mas como um elemento da paisagem. 
Para Moraes (1992), a Geografia só conquista sua sistematização no início do 
século XIX, pois, até então 
 
 
 [...] trata-se de todo um período de dispersão do conhecimento geográfico, 
onde é impossível falar dessa disciplina como um todo sistematizado e 
particularizado. Nélson Werneck Sodré denomina esse período de “pré-
história da Geografia”. (MORAES, 1992, p.34). 
 
 
No início do séculoXIX, a sistematização da Geografia tem seus princípios na 
expansão do capitalismo, pois neste período há o desenvolvimento do capitalismo em 
países como a Alemanha e a Europa estabelecia relações econômicas com diversas partes 
do mundo, sendo uma excelente contribuição para esta ciência. Neste momento a Terra já 
era toda conhecida e com o desenvolvimento do comércio, o intercâmbio por diversos 
lugares do planeta aumentava. 
Humboldt e Ritter, pensadores alemães, são considerados os fundadores da 
Geografia moderna e vão dar à ciência geográfica um caráter sistematizado, contribuindo 
para a continuidade desta ciência. 
 
A SISTEMATIZAÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA COM HUMBOLDT E RITTER 
 
No século XVIII o mundo passava por uma revolução científica, uma delas, o 
renascimento cultural na qual estava presente o senso crítico, permitindo ao homem 
observar mais atentamente os fenômenos naturais. Segundo Gomes (2007), esta revolução 
científica do século XVIII tinha uma busca epistemológica, substituindo uma visão 
metafísica. Nela continha o uso do método e uma organização lógica do saber, sendo 
assim, duas tendências são discutidas: o humanismo e o racionalismo. 
A Geografia passa a ser interpretada através das relações entre o homem e a 
natureza, relacionando os aspectos sociais ao meio ambiente. Segundo historiadores e 
pensadores, Alexander Von Humboldt e Karl Ritter são os fundadores da ciência geográfica 
moderna. A Alemanha é o berço das primeiras metodologias e correntes do pensamento 
geográfico. A partir do início do século XIX temos a sistematização do conhecimento 
geográfico. O território alemão até meados do século XIX não era unificado, e com isso, a 
Geografia surge para atender a duas necessidades, sendo estas: a unificação territorial e a 
sua expansão de domínio. A Alemanha só vem unificar-se em 1870, considerada uma 
unificação tardia. Segundo Moraes (1992), devido a esta falta de constituição de um Estado 
Nacional neste território, fez-se necessário uma discussão geográfica no século XIX, 
fazendo com que a Geografia percorresse novos rumos. 
Para Moraes (1992) 
 
 
Temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território, 
variação regional, entre outros, estarão na ordem do dia e na prática da 
sociedade alemã. É, sem duvida, deles que se alimentará a sistematização 
geográfica. (MORAES, 1992, p.46-47) 
 
 
 É nesta temática que irão surgir dois pensadores alemães membros da aristocracia 
prussiana e estudiosos da época. Humboldt e Ritter, sendo o primeiro, naturalista e o 
segundo, filosófico e historiador. 
Alexander Von Humboldt (1769-1859) nasceu em Berlim, na Alemanha, dedicando-
se aos estudos da Botânica foi considerado um naturalista. Estudou Geologia, Física, 
Astronomia, entre outras ciências e, por pertencer a uma família aristocrata, fez inúmeras 
expedições por todos os continentes, fazendo excelentes observações na América Latina. 
Através dessas expedições, ele pode observar os diferentes climas e paisagens e registrou-
os em suas obras, nas quais temos ricas informações através dos seus relatos. Para Gomes 
(2007), Humboldt descrevia os fenômenos, e pela sua grande cultura, proporcionou um novo 
modelo à ciência geográfica, fazendo com que se realizassem novas descobertas, 
descrevendo-as. 
Andrade (1992, p. 52) relata que “Apesar de ser naturalista, tinha grande 
curiosidade pelos homens e pela sua organização social e política, achando que esta tinha 
relação íntima com as condições naturais.” Sendo assim, Humboldt fez relações entre o uso 
da terra e o homem, das mais diversas formas, pois acreditava que através destas relações 
poderia obter os recursos disponíveis. Segundo Gomes (2007, p. 151), “Seu olhar tinha por 
objeto os elementos mais variados do meio físico, mas não se limitava a eles, Humboldt 
observara também a sociedade local”. Através das suas observações estabelecia relações 
com tudo o que estava inserido no espaço geográfico. 
Este pesquisador a partir de suas viagens escreveu obras como Cosmos (1845) um 
livro contendo cinco volumes, sendo que um deles foi publicado posteriormente a sua morte. 
Para Humboldt, a Terra tem uma ordem estabelecida, constituída de uma totalidade de 
todas as coisas deste Universo de forma ordenada; nestas obras o pesquisador descreve os 
fatos concretos e paisagens detalhadas. Dessa forma, Moraes (1992) descreve que a 
ciência geográfica seria uma disciplina sintética dotada de métodos, pois 
 
 
Em termos de método, Humboldt propõe o “empirismo raciocinado”, isto é, 
a intuição a partir da observação. O geógrafo deveria contemplar a 
paisagem de uma forma quase estética (daí, o título do primeiro capítulo do 
Cosmos: “Dos graus de prazer que a contemplação da natureza pode 
oferecer”). (MORAES, 1992, p.48) 
 
 
A Geografia, como uma ciência sintética e metodológica, procurava buscar uma 
relação entre os objetos observados e a razão, propondo a ideia de que tudo que é 
apreciável deve ser pensado e construído pelo sujeito. 
Karl Ritter (1779-1859), discípulo e amigo de Humboldt, foi um grande pesquisador e 
estudou Filosofia, Matemática, História entre outros ramos do conhecimento. George et.al 
(1975, p. 10) descrevem que Ritter “Propõe determinar as relações entre a Geografia e 
História, entre o meio e as características originais das sociedades e das civilizações.” 
A formação de Ritter é bem diferenciada da de Humboldt, mas tinham fatores 
comuns: são contemporâneos e pertenceram ao seleto grupo de pesquisadores que viveram 
a Revolução Francesa, contribuindo para os ideais revolucionários da época, formulando 
ideias de nível intelectual e filosófico e proporcionando a busca pelo conhecimento, levando 
a Geografia a conquistar sua sistematização. Pereira (1993, p.118) descreve que “Para ele, 
a geografia é essencialmente uma disciplina histórica que tem o seu próprio centro no 
estudo das relações entre o ambiente natural e o desenvolvimento dos povos.” 
Moraes (1992, p. 48-49) relata que “Ritter define o conceito de “sistema natural”, isto 
é, uma área delimitada dotada de uma individualidade.” Para Ritter, cabe a Geografia se 
valer dos estudos dos lugares, mas em busca de suas individualidades. Ritter analisou 
diferentes fenômenos da superfície da Terra sem deixar de lado a ação humana. Por isso, a 
proposta de Ritter é antropocêntrica e regional, ou seja, fazendo relações entre a natureza e 
o homem, fazendo uso das individualidades dos lugares, não deixando o empirismo, pois 
para fazer tais relações fazia uso da observação. 
Moreira (2006) relata que, 
 
 
Para chegar à “individualidade regional”, Ritter compara recortes de áreas 
diferentes, com o fim de identificar as suas características comuns e assim 
chegar a um plano de generalização (método indutivo). De posse desse 
plano de comparação possível, individualiza e analisa cada área 
separadamente, com o fim agora de identificar o que é específico a cada 
uma, distinguir o que as separa e assim classificar as áreas por suas 
propriedades comuns a todas (método dedutivo). Obtém-se com isto a 
individualidade de cada área, isto é, a construção teórica da região, que 
Ritter concebe de maneira a ver cada área como recorte de uma unidade 
de espaço maior, sendo uma unidade em si ao mesmo tempo que é parte 
diferenciada do conjunto maior da sua superfície terrestre. (MOREIRA, 
2006, p.21) 
 
 
Neste fragmento, fica clara a preocupação de Ritter sobre o conceito de 
individualidade regional, dando uma visão humanística ao espaço geográfico. Para Ritter, 
dever-se-iam buscar semelhanças entre as regiões formulando comparações mas sem 
perder sua individualidade. Nessa busca por semelhanças e explicações, é perceptível osdesígnios do Criador, pois para este pensador, os acontecimentos dos fenômenos têm um 
fim previsto por Deus. 
Humboldt e Ritter partem do princípio holístico, ou seja, pensar, ou considerar a 
realidade, segundo a qual nada pode ser explicado pela mera ordenação ou disposição das 
partes, mas antes pelas relações que elas mantém entre si e com o próprio todo. Segundo 
Moreira (2006), para Humboldt a superfície terrestre seria a globalidade do planeta, partindo 
de diversas interações orgânicas e inorgânicas e, para Ritter, parte das individualidades, de 
um ser único. 
Gomes (2007) discute a ideia de que o geógrafo era um mero observador do espaço 
natural que experimentava a fim de compreender as leis da natureza. Descreve ainda que a 
noção de “olhar geográfico” nasce a partir de Humboldt e Ritter. Além disso, Gomes destaca 
que estes pensadores têm suas bases num discurso científico de meados do século XIX, ou 
seja, o racionalismo e positivismo. Gomes (2007) descreve que, 
 
 
Paradoxalmente, a geografia de Ritter, mais influenciada pelos conceitos 
românticos, utiliza uma linguagem muito mais próxima da ciência 
racionalista/positivista do que a linguagem de Humboldt. Esse último, a 
despeito de uma retórica por vezes poética, tinha, de uma maneira geral, 
uma aproximação muito maior com os cânones da ciência racionalista, tal 
como ela era definida no séc.XIX. (GOMES, 2007, p.174) 
 
 
Filósofos e pensadores de diversas épocas da história da humanidade discutiam 
ideias e mostravam as oposições da ciência positivista e racionalista. Humboldt tinha ideias 
racionalistas, ou seja, sempre estabelecendo e propondo caminhos para alcançar 
determinados fins como a exploração racional dos recursos econômicos do Novo Mundo. Já 
Ritter além do racionalismo, construiu uma imagem lógica do mundo e, com ideias 
positivistas, sempre esclarecendo aspectos conceituais dos métodos, ideias e descobertas 
da ciência, fez relações com as experiências práticas a fim de provar hipóteses. 
Humboldt e Ritter morrem em 1859, já final do século XIX. Para Moraes (1992, 
p.51), “[...] a Geografia seguia constituída de levantamentos empíricos e enumerações 
exaustivas sobre os diferentes lugares da Terra.” Segundo Andrade (1992) a obra destes 
dois pensadores alemães correspondeu ao desafio em que a Europa vivia naquele século, 
mais precisamente na Alemanha, onde aspiravam à unificação nacional e política. A partir 
destes dois pensadores, ficou estabelecida a metodologia da Geografia descritiva, 
proporcionando maior desempenho na propagação e ampliação do conhecimento. 
 
CONCLUSÃO 
 
No conteúdo deste trabalho podemos perceber a importância de conhecermos a 
história do pensamento geográfico até mesmo antes de sua sistematização. Ao relatarmos 
que na Antiguidade com a expansão política, comercial e marítima no Mediterrâneo, 
aconteceu a construção de mapas marítimos contendo a descrição de lugares e de seus 
habitantes e na Idade Média a reorganização do espaço vem com a queda do Império 
Romano no Ocidente é de total relevância pois, mesmo sem a sistematização da Geografia 
como ciência , o pensamento geográfico estava inserido nestas transformações, pois o 
espaço geográfico estava sendo alvo de debate. 
Ao pensarmos na sistematização da Geografia no seu período clássico, as 
máximas geográficas sendo elaboradas e transmitidas, sendo tratadas como elementos 
principais do pensamento geográfico, mesmo o homem não fazendo parte de tais 
discussões, porém a partir destas máximas o pensamento geográfico foi desenvolvido. 
Destacamos o pensamento de Humboldt e Ritter, pensadores alemães que através 
de viagens e dos seus relatos e mesmo estabelecendo uma Geografia descritiva, faz-se 
necessário a realização de observações empíricas a fim de facilitar a sistematização de 
conceitos, A importância de tais observações retoma à consolidação do pensamento 
geográfico moderno. Tanto Ritter quanto Humboldt formularam ideias importantes para a 
época, trazendo alicerces para esta ciência. 
 
 REFERÊNCIAS 
 
ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à 
análise do pensamento geográfico. 2.ed.São Paulo: Atlas, 1992. 
 
 
______. Caminhos e descaminhos da Geografia. 2.ed. Campinas, SP: Papirus, 
1993. 
 
 
FERREIRA, Conceição; SIMÕES, Natércia. A evolução do pensamento 
geográfico. 8.ed. Lisboa: Gradiva, 1994. 
 
 
GEORGE, Pierre; GUGLIELMO, Raymond; LACOSTE, Yves; KAYSE, Bernard. A 
Geografia Ativa. Trad. Gil Toledo; Manuel Seabra; Nelson de la Corte, Vincenzo 
Bochicchio.4.ed. São Paulo: DIFEL, 1975. 
 
 
GOMES, Paulo César da Costa. Geografia e Modernidade. 6.ed. Rio de Janeiro: 
Bertrand Brasil, 2007. 
 
 
MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia Pequena História Crítica. 11.ed.São 
Paulo: Hucitec,1992. 
 
 
MOREIRA, Ruy. Para onde vai o pensamento geográfico? Por uma epistemologia 
crítica. São Paulo: Contexto, 2006. 
 
 
______. O pensamento geográfico brasileiro: as matrizes clássicas originárias. 
São Paulo: Contexto, 2008a. 
 
 
PEREIRA, Raquel Maria Fontes do Amaral. Da Geografia que se ensina à gênese 
da Geografia moderna. 2.ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 1993.

Continue navegando