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Doenças de Suínos - Parte 4

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PARVOVIROSE
Definição
	É uma doença de alta prevalência e distribuição mundial, que causa morte embrionária, mumificação, natimortos, leitegadas de tamanho reduzido, quando atinge fêmeas não imunes e em gestação.
Etiologia
o parvovírus suíno (PVS) pertence à família Parvoviridae e gênero Parvovírus.
É um vírus muito resistente. Não é envelopado, o que lhe confere resistência a solventes de gordura como éter, clorofórmio e detergentes;
Em secreções de suínos infectados, em condições ambientais favoráveis, o ag resiste durante meses;
Existe somente um sorotipo identificado, embora hajam diferenças entre a patogenicidade de amostras diferentes. O vírus apresenta avidez por células em multiplicação, daí sua tendência a infectar tecidos como o feto e envoltórios ou linfáticos nos adultos.
Epidemiologia
é freqüente em todo o mundo e pode ser introduzido em uma criação através da aquisição de reprodutores. O cachaço desempenha um importante papel na disseminação da virose;
O PVS é extremamente resistente a condições adversas, podendo persistir em instalações desocupadas por mais de 20 semanas. As maiores concentrações de vírus estão nas baias de porcas gestantes, mas a maior parte da granja pode estar infectada. Estas representam fontes de infecção constante se as condições de higiene e de manejo não forem adequadas;
 a disseminação do PVS se dá, principalmente, pelo contato oronasal com fezes e secreções contaminadas. Os fetos e envoltórios de porcas contaminadas são também importantes fontes de vírus;
a via venérea pode desempenhar papel significativo na transmissão da PVS. O sêmen contaminado pode ser responsável pela infecção de porcas, bem como as secreções vaginais de fêmeas infectadas podem levar a contaminação dos machos;
o grupo de animais que mais sofre prejuízos são as porcas primíparas não imunes. Nestas, a probabilidade de ocorrência de problemas é maior;
a medida que aumenta o número de partos por porca, diminuem os problemas associados ao PVS. Os animais infectados podem eliminar vírus nas fezes e secreções até 14 d após a infecção. Anticorpos anti-PVS são detectados aos 6 a 8 d de infecção, atingindo níveis máximos 1 a 2 semanas após, persistindo em níveis detectáveis por vários meses ou anos;
os leitões podem ser imunizados através do colostro e os ac podem persistir até os 5 meses de idade. Assim, por ocasião da entrada em reprodução, a maior parte das leitoas é susceptível à infecção. Por esse motivo, as alterações reprodutivas causadas tendem a se manifestar em porcas de 1º e 2º crias, uma vez que, após esse período, a probabilidade dos animais já terem entrado em contato com o vírus aumenta consideravelmente;
o manejo utilizado, especialmente em fatores como as condições de isolamento dos animais e o nível de higiene, podem ser responsáveis por uma maior ou menor disseminação do vírus. Por ocasião da introdução do vírus em granjas indenes, a tendência é de que, em torno de 3 meses, a maioria dos animais se torne sorologicamente positivo, evidenciando infecção. Caso haja movimentos freqüentes de entrada e saída de animais ou segregação de animais em grupos isolados, os animais tenderão a apresentar níveis desiguais de proteção.
Patogenia
o PVS tem particular avidez pelos tecidos do embrião ou pelo feto e seus envoltórios. O feto é sensível aos efeitos do vírus durante a primeira metade da gestação. Após este período, ele se torna imunologicamente competente e capaz de eliminar a infecção, com o desenvolvimento de uma resposta imune ativa frente ao vírus. A ação patogênica do vírus sobre o feto varia conforme o estágio de desenvolvimento fetal. A difusão do vírus é lenta, podendo os fetos serem infectados via placenta (provavelmente através da passagem transplacentária de macrófagos maternos contendo o vírus) ou pela passagem de vírus de feto para feto, motivo pelo qual podem ser observados fetos afetados em diferentes períodos de gestação, ocasionando leitegadas irregulages, quanto ao desenvolvimento fetal e quanto ao número de leitões paridos.
Relação entre o momento da infecção uterina pelo parvovírus, sua ação e efeito sobre o andamento da gestação na fêmea suína.
	Momento da infecção
	Conseqüências
	Andamento da gestação
	Da cobrição até o 9º dia de gestação
	Morte de todos os embriões (ocorre absorção).
Morte de alguns embriões (com mais de 4 sobreviventes)
	Retorno ao cio com intervalo regular (18 a 24 dias) ou irregular (25 a 40 dias).
Leitegadas pequenas.
	Do 10º ao 35º dia de gestação
	Morte de todos os embriões (ocorre absorção).
Morte de alguns embriões.
	Retorno ao cio com intervalo irregular (até 50 dias) ou falsa gestação.
Gestação contínua, leitegadas pequenas (( 6 leitões), leitões normais, fracos e com peso baixo; leitões malformados.
	Do 35º ao 65º dia de gestação
	Morte de todos os fetos.
Morte de alguns fetos.
	Gestação prolongada (124 a 135 dias) leitegada com presença de mumificados.
Nascimento de leitões normais, junto com fracos e inviáveis; peso baixo e/ou malformados e fetos mumificados.
	Do 65º dia de gestação até o parto
	Sem efeitos sobre os fetos, porém com imunização ativa dos mesmos.
	Nascimentos de leitões normais e com anticorpos contra o PVS.
se os blastocistos forem infectados até os primeiros 9 dias de gestação e morrerem, deixando vivos entre 1 e 4 embriões em desenvolvimento, a porca deverá reabsorver o restante da leitegada e voltar ao cio em 3 a 4 semanas, uma vez que seu sistema hormonal não a reconhecerá como prenhe. Portanto, se a porca parir entre 1 a 4 leitões, provavelmente, o problema reprodutivo terá ocorrido após a primeira semana, pois havendo alguns embriões vivos entre o 9º e o 30º dia, a gestação continuará mesmo com a leitegada reduzida;
após o 30º dia, já ocorre deposição de cálcio nos ossos do feto, impedindo a reabsorção. Como resultado, os fetos são mumificados. Se toda a leitegada estiver mumificada, o parto poderá ocorrer além da época esperada;
após 65-70 dias de gestação, os fetos adquirem competência imunológica, sendo capazes de gerar ativamente seus próprios ac quando infectados. Após esse período, não deverão apresentar sinais clínicos de infecção, apesar do vírus poder ser isolados desses animais e mostrarem a presença de ac contra PVS>
Sintomas
a infecção passa despercebida na maioria dos casos, tanto em animais jovens quanto adultos. Ocasionalmente, poderá ser observada febre e moderada panleucopenia em torno de 4 a 5 dias após a infecção. Muitas vezes, o único indício de infecção são os casos de falhas reprodutivas em porcas em gestação, particularmente, em fêmeas de 1º parto. Essas alterações podem consistir em retorno ao cio, nascimento de reduzido número de leitões, presença de fetos mumificados e fêmeas que se apresentam vazias na época do parto. Atrasos na data de parição são, também, seqüelas comuns após infecções com o PVS;
a alteração mais típica causada pela parvovirose são os fetos mumificados. Estes se apresentam, usualmente, de diferentes tamanhos, devido à difusão da infecção no útero de modo horizontal. Devido à difusão lenta do vírus, é comum observar-se leitões em diferentes estágios de desenvolvimento, podendo haver fetos infectados, mumificados e normais na mesma leitegada. Também pode ser observada mortalidade neonatal;
a infecção no macho é assintomática e não tem efeito sobre a qualidade do sêmen. Machos e fêmeas, persistentemente infectados, podem se tornar portadores assintomáticos do vírus, e assim, transmitir a infecção a outros suínos.
Diagnóstico
a parvovirose deve ser lembrada sempre que forem observados sinais clínicos como, retorno ao cio e atraso na data de parição, associado à presença de fetos mumificados e leitegadas com reduzido número de leitões, especialmente em fêmeas de 1º e 2º parto;
o material a ser remetido ao laboratório deve fetos mumificados (vários), acondicionados em caixas isotérmicas contendo gelo. Estes não devem medirmais do que 16cm (metade da gestação). Restos fetais e fragmentos de tecidos necróticos em reabsorção, se disponíveis, também podem ser remetidos para o diagnóstico. Fetos maiores, quando infectados, usualmente permitem a identificação de acs, porém, a detecção do vírus a partir dos mesmos é difícil. Recomenda-se também, o envio de úteros de porcas abatidas por problemas reprodutivos;
como os fetos/leitões podem carrear vírus ou ter ac, dependendo do período que foram infectados, o diagnóstico laboratorial deve ser feito através de um conjunto de técnicas, buscando a detecção do ag (como imunofluorescência direta ou hemaglutinação), bem como, dos ac anti-PVS (como inibição da hemaglutinação ou ELISA) nos tecidos de fetos. O PCR tem sido empregado em alguns laboratórios;
o teste sorológico da inibição da hemaglutinação, tem sido largamente usado para detectar níveis de ac em animais infectados. A sorologia permite uma avaliação aproximada do estado imunitário do rebanho. A observação de diferentes níveis de ac no plantel são indicativos de infecção em evolução. Este tipo de perfil sorológico tem sido o mais comumente encontrado em rebanhos suínos no Brasil. Presença de ac em leitões, antes da ingestão de colostro, indicam infecção intrauterina. Baixos níveis de ac, em leitões de 4 meses de idade, sugerem ac colostrais em declínio. O uso de vacinas induz baixos níveis de ac. Não obstante, animais com baixos níveis de ac podem estar protegidos contra a infecção;
muitas vezes, questiona-se qual o título de ac que pode ser considerado como protetor. Este resultado é variável, pois depende da metodologia empregada nos testes de IH. Títulos acima de 1/160 ou 1/320;
é imprescindível fazer o diagnóstico diferencial com leptospirose, brucelose e doença de Aujeszky, através dos testes sorológicos. Se disponível solicitar testes para PRRS.
Controle
deve-se avaliar o estado imunológico do rebanho, para que se possa estabelecer medidas adequadas no controle, visto que não existe tratamento específico;
a vacinação é capaz de evitar a infecção intra-uterina. Os animais devem ser vacinados em torno de 1 mês antes de entrarem em reprodução. Pode ser necessário um reforço, cerca de 30 d após a 1º dose para induzir uma resposta mais intensa. Além disso, resquícios de imunidade passiva podem estar presentes e dificultar a imunização;
Não devem ser introduzidas porcas gestantes, pois estas, se susceptíveis, podem infectar-se, e se contaminadas, transmití-lo ao resto do rebanho;
Caso não seja utilizada a vacinação, deve-se buscar estabelecer contato de fêmeas com PVS, antes da 1º gestação. Isso pode ser tentado mediante a promoção de contato com fêmeas mais velhas, administração de fezes, restos de placentas e fetos contaminados com o vírus, antes da entrada dos animais em reprodução (1 mês). Estes métodos são recomendados apenas para granjas com controle sorológico para outras doenças de impacto econômico sobre a reprodução.

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