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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO FINANCEIRA DUPLICATA VIRTUAL E SUA APLICAÇÃO NO COMÉRCIO ELETRÔNICO ARTIGO CIENTÍFICO Danilo Orsida Pereira de Sousa Dionísio Orsida Pereira de Sousa GOIÂNIA, GO 2009 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO E M GESTÃO FINANCEIRA Danilo Orsida Pereira de Sousa Dionísio Orsida Pereira de Sousa DUPLICATA VIRTUAL E SUA APLICAÇÃO NO COMÉRCIO ELETRÔNICO Artigo científico apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Especialização em Gestão Financeira. GOIÂNIA, GO 2009 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mercado Brasileiro de Comercio Eletrônico ---------------------------------------------- 15 Figura 2: Evolução do Varejo On line -----------------------------------------------------16 RESUMO O presente artigo estrutura-se em 3 tópicos centrais, o primeiro traça a contextualização acerca da definição de Títulos de Crédito, destacando suas características e princípios gerais norteadores do Direito Empresarial.No segundo capítulo, serão observados aspectos sobre e-Commerce, ou como preferem alguns teóricos, comércio eletrônico, momento em que se analisará os pontos importantes acerca das novas configuração do mercado virtual. Em arremate, no terceiro capítulo será traçado um comparativo entre a Duplicata Cartular e a Duplicata Virtual, onde a finalidade maior é refletir e compreender a intenção do legislador na flexibilização de alguns preceitos doutrinários em prol de uma agilização no comércio de títulos de créditos na era da informática.Por fim, em conclusão do presente estudo, algumas considerações são traçadas sobre as Duplicatas Virtuais e a sua importância no cenário contemporâneo e as necessidades de adequação do meio jurídico a esses novos mecanismos de crédito. Palavras-chave: Duplicata virtual, E-commerce, títulos de crédito. 4 INTRODUÇÃO Atualmente, a utilização da Internet e do mercado eletrônico, são realidades tanto no mundo científico quanto no mundo de negócios. A todo o momento vê-se reportagens em jornais, revistas e televisão confirmando a importância que a rede mundial de computadores vem adquirindo neste mundo. Segundo SILVA (1998), o modelo tradicional de realização de negócios está se tornando obsoleto, e o que era uma receita de sucesso no passado, pode levar a um fracasso futuro. Ora, a Internet e a construção de ambientes virtuais hodiernamente apresentam-se como ferramentas fundamentais para negociação entre as empresas que atuam em diversos seguimentos da economia. Estima-se que existam atualmente, no Brasil, cerca de trinta milhões de pessoas com acesso à Internet, das quais, cerca de quatro milhões já realizam compras on-line regularmente. Entretanto, as transações através de títulos de crédito, esbarram nas novas configurações que o mercado começa a exigir, fomentando novas reflexões acerca da finalidade de tais documentos, e até mesmo a revisão alguns conceitos, sejam eles legais ou até mesmo doutrinários, afim de que se possa criar um ambiente de confiabilidade nas operações financeiras que se apresentam cada vez mais informatizadas e menos cartularizadas. Como disserta Bulgarelli1 (2001, p.17), os títulos de crédito representam o principal instrumento de circulação da riqueza. Contudo as novas formas de relações comerciais, hoje eminentemente virtuais, e independentemente dos riscos de segurança no mundo cibernético, nos fazem crer que o direito e a informática tem que estar necessariamente caminhando na mesma direção. 1 BULGARELLI, Waldirio. Títulos de Crédito, São Paulo: Atlas, 18ª edição, 2001, p. 17 MÉTODO O presente trabalho objetiva esclarecer a questão da desmaterialização dos títulos de crédito frente à evolução do mercado eletrônico. Desta maneira, o enfoque maior será dado a figura da duplicata virtual. Com efeito, o método de abordagem utilizado é o dedutivo, uma vez que o presente trabalho tem como objeto de estudo normas que, apreciadas em sua estrutura, constituem objetos ideais. Entretanto, o método indutivo também será essencial ao estudo, visto tratar-se de uma pesquisa bibliográfica documental que permitirá conceber certos esquemas genéricos de comportamentos possíveis, com auxílio dos quais a estimativa do fato humano pode expressar-se em normas jurídicas, incluindo, ainda, como ferramenta, a pesquisa bibliográfica e referencial teórico, obras científicas de doutrinadores renomados e estudiosos da ciência jurídica, econômica e áreas afins. Assim, os resultados serão analisados por meio de uma abordagem qualitativa, registrando-os de forma sistemática, de tal forma a tornar possível a obtenção dos objetivos aqui propostos. 5 6 1- TITULOS DE CRÉDITO 1.1 – Conceito O crédito tem seu fundamento na fidúcia, na ideia da confiança aplicada aos negócios; nasce da qualidade da pessoa que promete e a ele se obriga. A própria palavra crédito, do latim creditum, que decorre da expressão credere, significa "confiar", "ter fé". Numa concepção economicista, o crédito pode ser entendido como a troca de um bem presente por outro futuro, possibilitando àqueles que não dispõem de dinheiro transacionar no mercado. Bertoldi e Ribeiro2 (2006,p. 351), abordando a matéria, dissertam com propriedade sobra a importância do crédito, a saber: “O crédito é de fundamental importância para a implementação das mais variadas atividades econômicas. Para o comerciante, a possibilidade de oferecer sues produtos mediante pagamento a prazo significa facilitar, em muito, o poder de compra de seus clientes, fazendo com que suas vendas aumentem. Para o industrial, obter crédito perante uma instituição financeira ou do fomento significa a viabilização de um empreendimento que, com recursos próprios, não teria condições de desenvolver.” Sendo assim, a utilização do crédito evidenciou o problema da circulação dos direitos creditórios. A união patrimônio e pessoa, sendo o patrimônio um acessório da pessoa, caso esta contraísse dívidas, a obrigação pecuniária assumida em tempos passados ficava sem solução, uma vez que a própria pessoa deveria cumpri-la. Aparece o crédito como elemento novo a facilitar a vida dos indivíduos e, conseqüentemente, o progresso dos povos. Difícil era a circulação dos capitais através do crédito; criaram-se, então, os títulos de crédito, em que os capitais, pela rápida circulação, tornam- se mais úteis e, portanto, mais produtivos, permitindo que deles melhor se disponha a serviço da produção de riquezas. Os títulos de crédito surgiram na Idade Média, com algumas das características que possuem hoje. O seu nascimento foi mais um fruto de 2 BERTOLDI, Marcelo M., RIBEIRO, Márcia Carla Pereira. Curso Avançado de Direito Comercial. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 351 necessidades momentâneas de caráter mercantil, do que um procedimento visando especialmente à evolução de um problema jurídico. Nesta esteira de pensamento, Waldirio Bulgarelli3 (2001, p.17) sustenta que: “(...) A importância do crédito para o desenvolvimento da economia tem sido destacada unicamente, tanto por economistas como pelos juristas, que vêem nele o responsável pelo crescimento da economia das nações, em geral, e das empresas e suas operações, em particular (...)”. Esse entendimento reforça a tese de que a empresaé hoje a principal fonte de desenvolvimento econômico de uma nação. Fran Martins4 (1998, p. ), do mesmo modo, sustenta que: “(...) para ser título de crédito é necessário que a declaração obrigacional esteja exteriorizada em um documento escrito, corpóreo, em geral uma coisa móvel (cartularidade). Tal documento é necessário ao exercício dos direitos nele mencionados. E continua a expôr que a literalidade, por sua vez, reside no fato de que só vale o que se encontra escrito no título. Por último, relata que a autonomia do título de crédito determina que cada pessoa que a ele se vincula assume obrigação autônoma relativa ao título. É em razão da autonomia do título de crédito que o possuidor de boa-fé não tem o seu direito restringido em decorrência de negócio subjacente entre os primitivos possuidores e o devedor(...).” Tal entendimento é reforçado pelo pensamento de Olney Queiroz Assis5: “A Constituição Federal, ao proclamar o princípio da livre iniciativa como fundamento da ordem econômica, atribui à iniciativa privada o papel primordial na produção ou circulação de bens ou serviços. A livre iniciativa, dessa forma, constitui a base sobre a qual se constrói uma ordem econômica, cabendo ao Estado apenas uma função supletiva(...)” Em sua acepção econômica o crédito significa a confiança que uma pessoa deposita em outra, a quem entrega coisa sua para que, em futuro, receba coisa equivalente. O dinheiro é um instrumento de troca por excelência, 3 BULGARELLI, Waldirio. Títulos de Crédito, São Paulo: Atlas, 18ª edição, 2001, p. 17 4 MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. v 1: Letra de Câmbio e Nota Promissória Segundo a Lei Uniforme. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998 5 ASSIS, Olney Queiroz. Código Civil de 2002: a iniciativa privada e a atividade de produção ou circulação de bens ou serviços, Jus Navigandi, Teresina, a. 8, n. 231 7 e o que caracteriza a operação creditória é a troca de um valor presente por um valor futuro. Segundo Coelho6 (apud Vivante, 2007, p.233) título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado. O traço característico do crédito está na espera da coisa nova, que irá substituir a coisa vendida ou emprestada. Temos, então, dois elementos fundamentais que decorrem da troca de um valor presente e atual por um valor futuro: confiança e tempo. Waldo Fazzio Júnior7(2005, p.369), por sua vez, com claridade solar define: “Não são necessárias muitas palavras para a compreensão do significado do crédito. Juridicamente, é o direito a uma prestação futura, fundado, essencialmente, na confiança e no prazo. Dilação temporal e boa-fé são seus elementos nucleares. O título de crédito é um documento que, observadas determinadas características legais, representa e mobiliza esse direito, conferindo- lhe concreção, densificando-o” Posto isso, vale acrescer que para o referido autor, as modernas organizações comerciais jamais poderiam desenvolver com suficiente amplitude seus negócios e atuar eficazmente no mercado, sem a utilização do crédito, instrumento por excelência da mobilização de capitais, o que por sua vez, no seu sentir, tais títulos tem o condão de dar circularidade ao capital inerte, ensejando-lhe maior utilidade. Logo, verifica-se que a confiança fundamenta o próprio conceito de crédito, em seu aspecto econômico, ao passo que para que haja um desate numa determinada atividade comercial envolvendo a circulação de títulos de crédito, a confiança que uma pessoa inspira a outra de cumprir, no futuro, obrigação assumida, marca um passo avantajado para o desenvolvimento das relações comerciais. 1.2- Características 6 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Títulos de Crédito. 17ª ed.Ed. Saraiva. 2006, p. 233 7 JÚNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial. 4ª edição. Ed. Atlas, 2005, p. 369. 8 A larga utilização dos títulos no mercado, ensejou a necessidade de padronização dos títulos, afim de proporcionar até mesmo maior negociabilidade nas transações. Dentre as principais características atribuídas aos títulos de crédito, que lhes dão agilidade e garantia, são: a) negociabilidade representada pela facilidade de circulação do crédito que o título representa;b) executividade isto é, a representativa garantia de cobrança mais ágil quando o credor resolve recorrer ao judiciário visando à satisfação do crédito. O Código Civil contemporâneo (lei 10.406 de 10 de Janeiro de 2002) em seu artigo 887, define título de crédito como "documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido". Deste conceito, extrai-se justamente os três princípios fundamentais dos títulos de crédito, ou seja, do direito cambiário, a saber: a literalidade (direito literal - valor expresso), a autonomia (direito autônomo – independência) e a cartularidade (documento necessário – original). 1.2.1 Literalidade A literalidade é o atributo do título de crédito pelo qual somente é considerado aquilo que no título está expresso, ou seja, só vale o que nele esté contido. Essa literalidade funciona de modo que somente do conteúdo ou teor do título é que resulta individuação e a delimitação do direito cartular. Bertoldi e Ribeiro (2006,p. 351)8, sobre o assunto em pauta ensinam: “O princípio da literalidade tem razão de ser na medida em que propicia segurança jurídica para o adquirente do título. Esclarecendo: o título está destinado a circular tal como se encontra redigido, sendo a aquisição do direito nele estampado fundamentada tão-somente nos termos do que nele vem redigido, de forma que seu adquirente, de posse do título, tem plenas condições de identificar seu conteúdo, extensão e modalidade dos direitos que representa.” Na realidade, a declaração cartular tem uma natureza constitutiva de um direito autônomo e independente da relação fundamental e, não se confundindo com formalismo, aliás, registre-se que ambos têm estrutura e 8 BERTOLDI, Marcelo M., RIBEIRO, Márcia Carla Pereira. Curso Avançado de Direito Comercial. 3ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 356/357. 9 funções diversas. O formalismo é estabelecido pela Lei e define o teor específico do documento sem o qual estará comprometida a sua existência, enquanto a literalidade visa à subordinação dos direitos cartulares unicamente ao teor do que está escrito, atribuindo relevância jurídica aos elementos contidos na cartular. Deste princípio, em suma, resulta que o adquirente de um título, adquire o direito tal qual nele está inserto literalmente, na medida em que 1.2.2 Autonomia O título de crédito é documento autônomo, pois, quando este é transferido, o que é objeto de transferência é o título e não o direito que nele se contém. Segundo o artigo 887, o título de crédito contém um direito autônomo, o que por sua vez, consiste em considerar cada obrigação derivada do título de crédito como independente e autônoma em relação às demais obrigações constantes do título e em relação aos vínculos existentes entre os possuidores anteriores e o devedor, sendo esta, um requisito fundamental para a circulação dos títulos de crédito. Pela autonomia, seu adquirente passa a ser o titular do direito autônomo, independente da relação anterior entre os possuidores. Deste princípio resulta que a obrigação referente a cada participante no título é autônoma, e o obrigado tem que cumpri-la, em favor do portador, nascendo daí o princípio, da inoponibilidade das exceções, segundo o qualnão pode uma pessoa deixar de cumprir sua obrigação alegando (opondo exceções) suas relações com qualquer obrigado anterior. Em linhas gerais, a obrigação, em princípio, tem a sua origem, nos verdadeiros títulos de crédito, em um ato unilateral de vontade de quem se obriga: aquele que assim o faz não subordina sua obrigação a qualquer outra por acaso já existente no título. Daí poder o portador, no momento oportuno, exigir de qualquer obrigado à realização da obrigação por ele assumida, desde que tenha praticado os atos determinados por lei. 1.2.3 Cartularidade 10 O título de crédito é sempre um documento representado por um pedaço de papel, isto é uma cártula. Portanto cártula significa o direito (abstrato que se incorpora), que se apresenta sob a forma de título. É a exteriorização do título por meio de um documento. O Princípio da Cartularidade, que nos dizeres de Fábio Ulhoa9 (2007, p.233 ) “para que o credor de um título de crédito exerça os direitos por ele representados é indispensável que se encontre na posse do documento (também conhecido como cártula). Sem o preenchimento dessa condição, mesmo que a pessoa seja efetivamente a credora, não poderá exercer o seu direito de crédito valendo-se dos benefícios do regime jurídico-cambial ” Entretanto, vale dizer que hodiernamente tem-se relativizado este princípio, isso em razão até mesmo do advento da informática no campo da documentação de obrigações comerciais, com a criação de títulos de crédito não cartularizados, dentre estes enquadra-se a figura da duplicata virtual, matéria em análise. Nas palavras de Fazzio Júnior10 (2005, p.371), cartularidade significa a densificação do direito de crédito no documento. O direito pode exercitar-se em virtude do documento, ou seja, o documento torna-se imprescindível à existência do direito nele apontado e necessário para sua exigibilidade. Como se vê, a cartularidade é, pois, a imperiosa necessidade da apresentação do título para o exercício do direito nele mencionado, ou seja, o credor deve possuí-lo, deve apresentá-lo ao devedor e deve restituí-lo a este quando receber o respectivo valor. Na ausência do título de crédito, não está o devedor obrigado a cumprir a prestação respectiva. Indispensável, pois, para a exigibilidade do crédito é a exibição do documento original. Feitas estas observações, nota-se que a finalidade maior das características aqui elencadas é proporcionar aceitação pacífica aos títulos, possibilitando a sua circulação sem demais embaraços. 9 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2007. p.233 10 JÚNIOR, Waldo Fazzio. Manual de Direito Comercial. 4ª edição. Ed. Atlas, 2005, p. 371. 11 Entretanto, imperioso destacar que diante das novas possibilidades criadas pelo advento das relações comerciais eletrônicas e até mesmo em razão da informatização, estes conceitos cada vez mais perdem o caráter absoluto. 12 2. E-COMERCE 2.1. Noções Conceituais Desde os anos 50, os computadores são usados para executar aplicações empresariais comuns. Muitos dos sistemas pioneiros objetivam apenas reduzir custos, mediante a automatização de muitas rotinas e sistemas empresariais de mão de obra intensiva. Uma transação equivale a qualquer troca relacionada ao negócio como pagamento de empregados, vendas para clientes ou pagamentos de fornecedores. Posto isso, a fim de explicitar a matéria, cumpre trazer a baila o escólio de Albertini11 (2004, p.74),ao qual define e-commerce nos seguintes termos, in verbis: “a realização de toda cadeia de valor dos processos de negócio num ambiente eletrônico, por meio de aplicação intensa de tecnologias de comunicação e de informação, atendendo aos objetivos do negócio.” O Comércio eletrônico em termos gerais é a capacidade de realizar transações envolvendo a troca de bens ou serviços entre duas ou mais partes utilizando ferramentas eletrônicas e tecnologias emergentes Através da Internet, por exemplo, um comprador tem acesso a novos mercados, efetuará suas compras com maior agilidade e ainda pode testar produtos e serviços personalizados antes de comprar. Pelo que se observa, a consolidação das transações comerciais eletrônicas, está reconstruindo uma natureza dos contratos. Entretanto, vale destacar que embora seja uma figura nova, que ainda amadurece nas relações jurídicas, há de se respeitar alguns requisitos para a tessitura dessas relações. Erica Brandini Barbagalo12 (2001, p. 12), por sua vez sustenta: “para que tenham validade jurídica e surtam os feitos pretendidos pelas partes, os contratos eletrônicos, assim como quaisquer contratos, precisam ter presentes os requisitos que lhe asseguram a validade, como capacidade e legitimação das partes, objeto idôneo e licitude do objeto, forma prescrita ou não defesa em lei e consentimento” 11 ALBERTIN apud BARBOSA, Lucio de Oliveira. Duplicata Virtual . São Paulo : Memoria Juridica, 2004. p. 74 12 BARBAGALO, Erica Brandini. Contratos Eletrônicos. São Paulo. Saraiva, 2001. p. 12 13 Na realidade, o comércio eletrônico não demanda nenhum outro tipo de operação diferente do comércio tradicional. No final, tudo se resume em comprar e vender. São os hábitos globais dos consumidores que pressionam as empresas a inovarem continuamente em termos de contato com os clientes, agilizando vendas, realizando uma distribuição mais eficiente e promovendo marketing econômico e interativo (SILVA,1998) 13. 2.2. Tipos de comércio eletrônico O comércio eletrônico é dividido em dois tipos distintos de comércio, quanto aos agentes que participam do mesmo, sendo eles; o B2C (Business to Costumer) e o B2B (Business to Business). Referente ao B2C, entende-se como sendo vendas diretamente ao consumidor final, ou seja, diretamente do fornecedor ao consumidor. As empresas vendem seus produtos e prestam seus serviços por meio de um web site a clientes que os utilizarão para uso particular. Em relação ao B2B, entende-se como sendo comercialização não para usuário final, ou seja negócios entre empresas. As empresas podem intervir como usuárias – compradoras ou vendedoras – ou como provedoras de ferramentas ou serviços de suporte para o comércio eletrônico (por exemplo, instituições financeiras, provedores de serviços de internet, etc). Como se observa facilmente, a grande distinção que se tem entre esses dois tipos de comércio é o fato de o B2C ser realizado entre pessoa jurídica, ou seja, o fornecedor e uma pessoa física, o consumidor. No caso do B2B, o comércio se realiza entre duas pessoas jurídicas diferentes. 2.3. Evolução do comércio eletrônico no Brasil No Brasil, a Internet surgiu em 1988, mas apenas no ano de1995, com a publicação da Portaria nº. 295, de 20/07/1995, pelo Ministério das Comunicações, é que a Internet efetivamente passou ater uso comercial em nosso país. 13 SILVA, A.L.A Emergência da Empresa Virtual e os requisitos para os Sistemas de Informação . Revista Gestão & Produção, dez 1998. 14 Somente três anos após a publicação da referida portaria,é que foi possibilitada a comercialização do acesso à rede, por empresas conhecidas como"provedoras de acesso". Surgiram assim, os chamados “WEBSITES” de comércio eletrônico, que primeiramente eram utilizados como mecanismos de veiculação de propaganda ou mídia sobre os produtos. A partir de então, se pode verificar que o mundo eletrônico foi evoluindo cada vez mais, com criações tecnológicas surpreendentes. Teve início àcomercialização de bens pela Internet, principalmente bens destinados ao consumo. Para comercialização desses bens e regulamentação dos acordos firmados entre as partes contratantes, surgiu a celebração do contrato pela Internet. O aumento no consumo via internet foi notório pelo rápido acesso a compra e, consequentemente, aos contratos de compra e venda, induzindo a forma de contratação a mesma velocidade. O comércio eletrônico no mercado brasileiro está consolidado e apresenta claros sinais de evolução, mesmo que ainda possa ser considerado em um estágio intermediário de expansão (AlLBERTIN, 2001). No Brasil, a internet ainda não é um veículo de vendas em massa, o que pode ser explicado perfil ainda restrito dos usuários brasileiros, elitizado pela escassez e pelo preço dos computadores em geral (ALVES et al , 2000). A figura 1 mostra dados projetados da evolução do número de usuários e compradores no mercado nacional, a saber: Fonte:IDC –Instituto de Desenvolvimento Cultural Figura 1: Mercado Brasileiro de Comercio Eletrônico 15 Figura 2: Evolução do Varejo On-line Fonte eBit - Compilação www.e-commerce.org.br 16 3- DUPLICATA 3.1 – Conceito Como é cediço, a duplicata é uma espécie de título de crédito criada pelo direito brasileiro, tendo como marco inicial, o art. 219 do Código Comercial, isto é, da Lei nº 556/1850, ao qual já previa: “ Art. 219 - Nas vendas em grosso ou por atacado entre comerciantes, o vendedor é obrigado a apresentar ao comprador por duplicado, no ato da entrega das mercadorias, a fatura ou conta dos gêneros vendidos, as quais serão por ambos assinadas, uma para ficar na mão do vendedor e outra na do comprador. Não se declarando na fatura o prazo do pagamento, presume-se que a compra foi à vista (artigo nº. 137). As faturas sobreditas, não sendo reclamadas pelo vendedor ou comprador, dentro de 10 (dez) dias subsequentes à entrega e recebimento (artigo nº. 135), presumem-se contas líquidas.” Conforme se vê, já existia por parte do legislador a preocupação com a representação documental na relação comercial, criando-se assim, uma forma de registrar documentalmente a relação estabelecida nos atos de compra e venda mercantil. Embora bem diferente da que circula nos dias atuais, pode-se dizer que a duplicata já existia desde o Código Comercial de 1850, isso porque ao comerciantes já era imposto aos comerciantes a emissão de fatura -duplicata, registrando-se por escrito a relação das mercadorias negociadas. Neste passo, vários foram os diplomas legais que registraram a preocupação com às duplicatas, sendo a mais relevante, a Lei nº 5.474/68, a chamada Lei das Duplicatas, diploma legal vigente, que regulamenta as duplicatas. Rubens Requião14 (1998, p. 435) resgatando o desenvolvimento histórico da duplicata, aponta que o seu nascedouro encontra respaldo na Lei nº 5.474, de 1968, ao qual com didática professoral, aduz o autor: 14 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 17 ed. 2º Vol. Saraiva,1988, p. 435. 17 “Com a extração da fatura de venda o vendedor poderá sacar uma duplicata correspondente, para circular como título de crédito. Esse título é a duplicata comercial, ou duplicata de fatura, por alguns também denominada conta assinada. São três expressões sinônimas. A Lei nº 5.474, de 1968, não exige a emissão da duplicata, constituindo, portanto, uma faculdade do credor. Se pretender ele operar bancariamente com o crédito resultante da venda, emitirá a duplicata; não o desejando, porém, poderá cobrar simplesmente a fatura do comprador, sem que tenha a necessidade de emitir o título. Pode até figurar como condição do contrato de compra e venda e não extração de duplicata, comprometendo-se o comprador, findo o prazo concedido, a efetuar o pagamento, mediante recibo na fatura ou por outro documento que identifique a causa da quitação” Na mesma esteira de pensamento é o escólio de Waldo Fazzio Júnior (2005, p. 465), que com clareza solar verbera: “ A duplicata regulamentada pela Lei nº 5.474/68, é um título de crédito causal, facultativamente emitido pelo empresário com base em fatura representativa de compra e venda. Por outros termos, é um saque representativo de um negócio preexistente. Não é possível, pois, emissão de duplicata cm base em contrato de compra e venda para entrega futura.” A duplicata, como se vê, cuida-se de título de crédito emitido pelo fornecedor de mercadoria ou serviço, correspondente a uma fatura de venda mercantil a prazo (da qual é cópia), e que, aceito pelo comprador, é em geral descontado num banco, que efetua sua cobrança. Vale trazer, a título de conhecimento, o sentido dicionarizado de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, ao qual define duplicata nos seguintes termos: “sf. 1. Cópia. 2. Título de crédito formal, nominativo, que representa e comprova crédito preexistente, e destinado a aceite e pagamento pelo comprador” Não é uma pura e simples reprodução, já que serve para munir o comerciante de um título líquido e certo, facilmente negociável. Trata-se de um título eminentemente causal, que se manifesta de uma compra e venda mercantil ou da prestação de serviços. Causal em seu nascimento, já que se torna abstrato após o aceite, desatando-se do negócio de origem. 18 É importante sublinhar que quando a duplicata nasce não é um título de crédito. Ao receber o aceite é que ela passa a ser um título de crédito, portador dos princípios da literalidade e da autonomia. Recorda-se que a literalidade é o princípio que não admite discutir o que se encontra expresso no título, pois vale o que está nele inserido; autonomia é o princípio que determina o desligamento do título da relação que lhe deu origem. Graças a esses princípios, a duplicata torna-se abstrata, valendo apenas pelo que expresse o seu conteúdo, circulando, então, livremente. 3.2. Duplicata Virtual ou Duplicata em Meio Magnetico. O hodierno Código Civil de 2002, na parte que trata das normas gerais sobre os títulos de crédito, reconhece, ainda que de forma superficial, a existência de títulos virtuais em seu art. 889, § 3º, conforme se pode ver a seguir: "Art. 889: Deve o título de crédito conter a data de emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. §1º É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento. §2º Considera-se lugar de emissão e pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente. §3º O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo” Quanto às novas disposições trazidas pelo Código Civil § 3º do art. 889, em relação à possibilidade da emissão de títulos de crédito a partir de caracteres criados em computador ou em meio técnico equivalente, são esclarecedoras as ponderações do Professor Wille Duarte Costa15 : 15 COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito: de acordo com o novo Código Civil, p. 43. 19 “ (...) o § 3º introduz uma grande bobagem pois, mandando observar os requisitos mínimos previstos no artigo, admite que possa ser o título emitido a partir de caracteres criados por computador. Ora, entre os requisitos mínimos estabelecidos neste artigo está a assinatura do emitente. O que se entende então, é que o teor do título pode ser digitado em um computador ou meio técnico equivalente. Neste caso, pode sercriado em máquina de escrever, em impressora gráfica, computador e até de forma manuscrita. A emissão é ato de criar o título e entregá-lo a terceiros, já com a assinatura. Então, não podemos admitir que o título de crédito possa ser criado e enviado a terceiro pelo computador. Para tanto, precisaria estar regulamentada a assinatura criptografada, o que não está. Seria preciso também regular a chave privada e a chave pública, coisa que, certamente, quem redigiu o artigo desconhece completamente.(...)” Entretanto não é este um posicionamento dominante, ao qual podemos citar o pensamento externado Bertoldi e Ribeiro16 (2006, p. 447), que adotando uma linha de posicionamento mais flexível, corroboram a existência das duplicatas virtuais, externando o seguinte posicionamento: “Colocando fim a qualquer dúvida a respeito da possibilidade de existência da duplicata virtual, dispõe o Código Civil, no § 3º. do art. 889, que “ o título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente” Luiz Emygdio F. Da Rosa Jr17. (2000, p. 698), sobre o que chama de duplicata virtual, ensina: “ O parágrafo único do art. 8º da Lei 9.492, de 10.09.1997, em notável inovação, veio a permitir que as indicações a protesto de duplicatas mercantis e de prestação de serviços possam ser feitas por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, respondendo o apresentante pelos dados apresentados. Trata-se de reconhecimento pela lei da duplicata virtual, ou seja, não materializada em papel mas registrada em meios magnéticos, inclusive para envio aos bancos para que procedam à cobrança, desconto ou caução. Não havendo pagamento e não tendo o sacado recusado expressamente o aceite no prazo do art. 7º e por qualquer das razões do art. 8º, o portador poderá promover a execução com base no instrumento de protesto por indicações e no documento probatório da entrega e recebimento das mercadorias, não podendo falar em execução de duplicata porque esta não será apresentada” 16 BERTODI, Marcelo M e RIBEIRO, Márcia Carla Pereira Ribeiro. Curso Avançado de Direito Comercial. 3ª edição. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais. 2006, p. 447. 17 Luiz Emygdio F. Da Rosa Jr. Títulos de Crédito. Rio de Janeiro. Ed. Renovar, 2000, p. 689 20 Mamede18 (2008, p. 63) no mesmo liame de pensamento, defende a tese da desmaterialização dos títulos de crédito, apontando ainda que este movimento é decorrente dos avanços da tecnologia eletrônica, que cada vez mais nos conduz a rotinas mais ousadas. Assim sendo, cumpre trazer a baila o pensamento externado pelo autor em sua obra títulos de crédito, a saber: “ O amplo movimento transacional dos créditos iniciou-se há séculos e prossegue em sua evolução, deixando-nos cada vez mais distantes da troca de bens e serviços (o escambo), que outrora subsistiu. Ao longo do século XX, os avanços na tecnologia eletrônica nos conduziram a contextos em que se tornaram possíveis rotinas ainda mais ousadas, nomeadamente um amplo movimento de créditos sem representação material, mas com mera representação virtual, confinado às combinações eletromagnéticas dos arquivos eletrônicos. (...) Nesse contexto, não se poderia deixar de destacar o artigo 889, §3º, do Código Civil, ao permitir que o título seja emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, o que já representa um reconhecimento da nova tecnologia no plano da teoria geral do Direito Cambiário. Outra questão se mostra quando se fala em duplicata virtual, isto é, o seu caráter executivo. No direito contemporâneo já se dá sustentação, contudo, à execução da duplicata virtual, porque não exige especificamente a sua exibição em papel, como requisito para liberar a prestação jurisdicional satisfativa. Institutos ausentes no direito cambiário nacional, como são o aceite por presunção, o protesto por indicações e a execução da duplicata não assinada permitem que o empresário, no Brasil, possa informatizar por completo a administração do crédito concedido. Ao admitir o pagamento a prazo de uma venda, o empresário não precisa registrar em papel o crédito concedido; pode fazê-lo exclusivamente na fita magnética de seu microcomputador. A constituição do crédito cambiário, através do saque da duplicata virtual, se reveste, assim, de plena juridicidade. O crédito registrado em meio magnético, por sua vez, será descontado junto ao banco, muitas vezes em tempo real, também sem a necessidade de papelização. Por via telefônica, os dados são remetidos aos computadores da instituição financeira, que credita – abatidos os juros 18 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: títulos de crédito, Vol.3. 4ª ed. São Paulo. Atlas, 2008, p.63. 21 contratados – o seu valor na conta depósito do empresário. Nesse momento, expede-se a guia de compensação bancária que, por correio, é remetida ao devedor da duplicata virtual. De posse desse boleto, o sacado procede ao pagamento da dívida, em qualquer agência de qualquer banco do país. Em alguns casos, quando o devedor tem o seu microcomputador interligado ao sistema da instituição descontadora, já se dispensa a papelização da guia, realizando-se o pagamento por transferência bancária eletrônica, caso a obrigação não seja cumprida no vencimento, os dados pertinentes à duplicata virtual seguem, em meio magnético, ao cartório de protesto. Assim é, na maioria das grandes comarcas. Trata-se do protesto por indicações, instituto típico do direito cambiário brasileiro, criado inicialmente para tutelar os interesses do sacador, na hipótese de retenção indevida da duplicata pelo sacado Voltando ao pensamento de Bertoldi e Ribeiro19 (2006, p. 447), mostra-se necessário destacar “ Nos termos do que menciona o parágrafo único do art. 8º da Lei nº 9.492/97, que regula o regime relativo ao protesto de títulos e documentos, poderão ser recepcionadas as indicações a protesto das duplicatas mercantis e de prestação de serviços, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sendo de inteira responsabilidade do apresentante os dados fornecidos, ficando a cargo dos tabelionatos a sua mera instrumentalização. Em virtude desse dispositivo legal verificamos nesses últimos anos a utilização em larga escala das chamadas “duplicatas virtuais”, consubstanciadas na operação por meio da qual o vendedor transmite por meio magnético ordem de pagamento para a cobrança do sacado. De posse das informações enviadas, o banco gera um documento chamado “boleto bancário”, onde constam todas as informações necessárias a respeito do título. Esse boleto bancário é enviado ao devedor, geralmente pelo correio. De posse desse documento, o devedor dirige-se a uma agência bancária e efetua o pagamento na data de seu vencimento. Veja-se em nenhum momento chegou a se materializar a duplicata. Caso o sacado não venha a efetuar o pagamento em seu vencimento, mediante a utilização do referido boleto bancário, caberá ao banco, também por meio magnético, encaminhar a ordem de protesto ao respectivo cartório, que realizará o protesto por indicações, modalidade de protesto, lembre-se, que dispensa a apresentação física da duplicata. Fábio Ulhoa Coelho, ao defender a possibilidade jurídica da duplicata virtual, esclarece que “o instrumento de protesto da duplicata, realizado porindicações, quando acompanhado de comprovante dispensável a exibição da 19 BERTODI, Marcelo M e RIBEIRO, Márcia Carla Pereira Ribeiro. Curso Avançado de Direito Comercial. 3ª edição. São Paulo. Editora Revista dos Tribunais. 2006, p. 447. 22 duplicata, para aparelhar a execução, quando o protesto é feito por indicações do credor (Lei da Duplicata, art. 15, §2º). O registro magnético do título, portanto, é amparado no direito em vigor, posto que o empresário tem plenas condições para protestar e executar. Em juízo, basta a apresentação de dois papéis: o instrumento de protesto por indicações e o comprovante de entrega das mercadorias” Eis a propósito, o escólio de Fábio Ulhoa Coelho(1998, p. 458)20 in Curso de Direito Comercial: “ Não há, na lei, nenhuma obrigatoriedade do papel como veículo de transmissão das indicações para protesto, de modo que também é plenamente jurídica a utilização dos meios informáticos para a realizar.” Portanto, pelo que se vê, embora não seja matéria consensual na literatura sobre a matéria, contemporaneamente não se pode mais negar a existência dos títulos de crédito eletrônicos. Embora já seja uma realidade, há de se reconhecer que o processo de mudança gera discussões. Ainda vivemos numa sociedade do papel, onde a cartularidade dos títulos de crédito é marcante. Todavia, vale acrescer que os Tribunais brasileiros, acompanhando a inovação trazida pela Lei substantiva supra citada, tem reconhecido a figura dos títulos de créditos eletrônicos no ordenamento jurídico nacional, razão pela qual, cada vez mais se consolida na jurisprudência brasileira a existência das duplicatas virtuais. A este respeito, convêm destacar o posicionamento já externado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, acerca da matéria em testilha, in verbis: “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CAUTELAR E DECLARATÓRIA JULGADAS EM ÚNICA SENTENÇA. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE TÍTULO ENVIADO PARA PROTESTO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. DUPLICATA POR INDICAÇÃO ENCAMINHADA A APONTE POR MEIO DE BOLETO BANCÁRIO. CONFIRMAÇÃO DO DECISUM. I – Não negando o autor a existência da relação comercial com a empresa sacadora, bem como sua inadimplência, advém a possibilidade de emissão de duplicata. Título que surge de lançamento contábil, sendo desnecessária, portanto, a Indicações presentes no boleto bancário confirmadas pelo sacado, autorizando, como decorrência o seu 20 COELHO, Fábio Ulhoa . Curso de Direito Comercial, volume 1, Editora Saraiva, 1998, p. 458 23 aporte. Existência da chamada duplicata virtual. Protesto por indicação válido. II - Demais disso, não havendo nulidade nos protestos efetuados, não haveria que se falar em supostos danos morais. Recurso conhecido e improvido.”21 grifo nosso “APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NEGATIVA DE DÉBITO C/C SUSTENÇÃO DE PROTESTO. PROTESTO DE DUPLICATA POR INDICAÇÃO TIRADA POR MEIO DE BOLETO BANCÁRIO. VALIDADE. SENTENÇA MANTIDA. I - A duplicata é um título causal, condicionada a efetiva entrega das mercadorias, bem como sua inadimplência, legitima e a emissão da duplicata. II - Não procede o pedido de anulação dos protestos por indicação tirados de boletos bancários representativos da cártula, frente a desmaterialização dos títulos de crédito. Existência da chamada duplicata virtual. III - Apelo conhecido e improvido22 grifo nosso Neste diapasão, na mesma esteira de pensamento são os julgados de outros Tribunais de Justiça, a saber: “APELAÇÃO CIVIL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. FORNECIMENTO DE LEITE. RECEBIMENTO DO PRODUTO. DÍVIDA EXISTENTE. PROTESTO. 1. Nos termos do art. 333, I, CPC, cabe ao autor comprovar fato constitutivo do seu direito. APELAÇÃO CÍVEL Nº 126702-3/188 (200802274646) Demandante que não demonstra a sua versão no tocante as condições de pagamento dos produtos (32.024 litros de leite) recebidos. 2. Comprovado o negócio jurídico subjacente, admitido pelo próprio autor, bem como a existência da dívida, cabível a emissão de boletos bancários, que substituem as duplicatas e podem ser levados a protesto ante a inadimplência do devedor. 3. Inexistência de responsabilidade civil a ser imputada à ré em virtude do procedimento adotado. Negaram provimento. Unânime.”23 grifo nosso “AÇÃO DECLARATÓRIA. PEDIDO LIMINAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO. DUPLICATA POR INDICAÇÃO ENCAMINHADA A APONTE POR MEIO DE BOLETO BANCÁRIO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE TÍTULO PASSÍVEL DE PROTESTO. AUTOR QUE, NO ENTANTO, NÃO NEGA A COMPRA E VENDA MERCANTIL, TAMPOUCO O RECEBIMENTO DA MERCADORIA OU ALEGA PAGAMENTO. INDEFERIMENTO DA INICIAL QUE SE CONFIRMA. Não negada a compra e venda mercantil, tampouco sua perfectibilização mediante a entrega da mercadoria, bem como admitido o inadimplemento, autorizada a emissão de duplicata e seu aponte para protesto por falta de pagamento. Inócuo argumento de que o autor pretendia provar a inexistência da duplicata, pois que a possibilidade de sua existência surge quando do lançamento contábil, não sendo a impressão do título em papel pressuposto de sua existência. Pretensão que conflita 21 TJGOAPC. n° 126719-7/188, Rel. Des.Felipe Batista Cordeiro. 3ª Câmara Cível. DJ 207 de 03/11/2008. 22 TJGOAPC nº 126702-3/188 . Rel. Dr. Jair Xavier Ferro. 3ª Câmara Cível. DJ 294 de 13/03/2009 23 TJRS, APC nº 70011865292, Relator: Odone Sanguiné. 9ª Câmara Cível. Julgado em 24/08/2005 24 com os fatos, porquanto já demonstrada a existência do título, ainda que virtual, pelas indicações constantes do boleto bancário, as quais, ademais, vieram corroboradas pelo próprio sacado. Fatos que não amparam juridicamente a pretensão ensejam o indeferimento da inicial por inepta. Apelação improvida por maioria.” 24 grifo nosso Pelo arrazoado, fica fácil reconhecer que os títulos virtuais cada vez mais se tornam realidade frente as evolução nas relações comerciais, aliás, o que se extrai dos posicionamentos dos tribunais de justiça brasileiros, é que a duplicata virtual já é uma realidade que se consolida. Com efeito, pode-se destacar ainda que as empresas e o mercado financeiro é que se beneficiam com toda esta situação, já que com a consolidação das duplicatas virtuais, a necessidade imediata de disponibilidade financeira e até mesmo as barreiras impostas pela distância serão superadas nas operações mercantis, ou seja, ao invés de utilizarmos a moeda para circular a economia, ao passo que os títulos virtuais já se apresentam como grandes instrumentos na política de creditícia das empresas. Por fim, vale sublinhar a importância da matéria para os profissionais ligados à Gestão Financeira das empresas, porquanto o mercado globalizado já desponta para o e-commerce, isto é, comércio eletrônico, razão pela qual, imperioso se faz conhecer as novas configurações que os títulos creditícios tem assumido nos últimos anos. 24TJRS. APC nº 70011428125, Relator: Cláudio Augusto Rosa Lopes Nunes. 18ª Câmara Cível. Julgado em 19/05/2005. 25 CONCLUSÃO A temática do títulos de crédito envolve questões amplas que vão desde a da criação do crédito, recebimento ou o protesto, sem contarmos com o avanço da tecnologia, que a cada dia nos apresenta novas soluções, eminentemente simples, práticas e eficientes. Diante do arrazoado, no presente trabalho, conclui-se que a circulação do crédito através do meio magnético, já se configura como uma realidade, fomentandoa necessidade de relativização de alguns preceitos do direito cambiário intrinsecamente ligados à condição de documento dos títulos de crédito, isto é, cartularidade, literalidade. Ademais, da mesma maneira, percebe-se que crédito é elemento fulcral no mercado, ao passo que afasta a necessidade imediata de disponibilidade de moeda para as operações mercantis, ambiente informatizado. Em suma, extrai-se da matéria pesquisada que a legislação e o posicionamento jurisprudencial nos Tribunais brasileiros, em específico, no Estado de Goiás, já sinalizou no sentido de reconhecer a figura das duplicatas virtuais, isto é, não ficando a parte dos novos desafios impostos pela modernização das relações comerciais. De resto, convêm trazer a lume que os operadores na área da Gestão Financeira, deve enxergar essa nova realidade como um desafio a ser enfrentado, porquanto cada vez mais será exigida desta classe de profissionais, estratégias para uma atuação eficiente no mercado. 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERTIN, Alberto Luiz. Comercio Eletrônico. São Paulo: Atlas, 2004. ALBERTIN apud BARBOSA, Lucio de Oliveira. Duplicata Virtual . São Paulo : Memoria Juridica, 2004. p. 74 ALVES, Mauro H. F.; LAMOUNIER, Ana E. B.; JABUR, Fábio P. Internet – adi- cionando valor por meio de inovações descontínuas: a experiência brasileira. 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Luiz Emygdio F. Da Rosa Jr. Títulos de Crédito. Rio de Janeiro. Ed. Renovar, 2000, p. 689 MAMEDE, Gladston. Direito empresarial brasileiro: títulos de crédito, Vol.3. 4ª ed. São Paulo. Atlas, 2008, p.63. MARTINS, Fran. Títulos de Crédito. v 1: Letra de Câmbio e Nota Promissória Segundo a Lei Uniforme. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998 REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 17 ed. 2º Vol. Saraiva,1988, p. 435. SILVA, A.L.A. Emergência da Empresa Virtual e os requisitos para os Sistemas de Informação . Revista Gestão & Produção, dez 1998. TJGOAPC. n° 126719-7/188, Relator. Desembargador.Felipe Batista Cordeiro. 3ª Câmara Cível. DJ 207 de 03/11/2008. TJGOAPC nº 126702-3/188 . Relator. Dr. Jair Xavier Ferro. 3ª Câmara Cível. DJ 294 de 13/03/2009 TJRS, APC nº 70011865292, Relator: Odone Sanguiné. 9ª Câmara Cível. Julgado em 24/08/2005 TJRS. APC nº 70011428125, Relator: Cláudio Augusto Rosa Lopes Nunes. 18ª Câmara Cível. Julgado em 19/05/2005. 28
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