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Trabalho TRJ II Direitos de personalidade - Casos de respeito e desrespeito

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DIREITOS DA PERSONALIDADE – TRJ II – Profª Camila
Dentre os direitos da personalidade, destacam-se a vida, a liberdade, a honra, o nome e a imagem. Sendo faixas de proteção de tais direitos a integridade física, intelectual e moral da pessoa, por exemplo. Nos artigos 11 a 21 do Código Civil vigente, bem como nos direitos fundamentais da Constituição Federal, encontra-se os princípios fundamentais dos direitos da personalidade. Foi com a Declaração Universal dos Direitos Humanos que, de fato, os direitos da personalidade tiveram destaque. Tendo como principal sustento o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF), sendo eles intransmissíveis e irrenunciáveis (art. 11 do CC).
Sílvio de Salvo Venosa concorda com o pensamento de Antônio Chaves, quando diz que os direitos da personalidade ou personalíssimos relacionam-se com o Direito Natural. Explica ainda, que a personalidade não é exatamente um direito, mas se trata de um conceito básico no qual se firmam os outros direitos. Aqueles direitos que incidem sobre bens imateriais ou incorpóreos, denominados personalíssimos, fundamentalmente são os direitos à vida, à liberdade, à manifestação do pensamento. 
Já para Francisco Amaral, direitos da personalidade são direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu aspecto físico, moral e intelectual. A sua importância é tão grande que as suas disposições de princípio estão hoje contidas nos textos constitucionais, atribuindo-se, portanto, uma posição superior no ordenamento jurídico nacional, que orienta o legislador e incide imediatamente (CR, art. 5º, § 1º). O objeto de tais direitos é a vida humana, o corpo humano nas suas integridades e quando separadas, a liberdade, o recato, a imagem, o nome; a liberdade de pensamento, o direito de autor e de inventor. Tudo se baseando na dignidade da pessoa humana, expressado pelo autor como complexo unitário de natureza física, psíquica e moral justificando um direito geral de personalidade.
Venosa elenca quatro características dos direitos da personalidade, seguindo o pensamento de Guillermo Borba, definindo-os como (a) inatos ou originários, (b) vitalícios, perenes ou perpétuos, sendo assim, os tornando imprescritíveis, (c) inalienáveis e (d) absolutos. Concluindo que os direitos da personalidade também são direitos subjetivos de natureza privada. O autor explica que “os direitos da personalidade são extrapatrimoniais porque inadmitem avaliação pecuniária, estando fora do patrimônio econômico.” Portanto, não há remuneração que seja capaz de indenizar possíveis lesões, já que para ele podemos afirmar que em um sentido poético e metafórico esses direitos pertencem ao patrimônio-moral de uma pessoa. De maneira parecida, Francisco Amaral afirma que os direitos da personalidade se caracterizam por serem essenciais, inatos e permanentes que caminham junto com o indivíduo desde seu nascimento até o seu pós-morte.
A teoria dos direitos da personalidade é produto da elaboração doutrinária que se iniciou no século XIX, atribuindo-se a Otto Gierke a paternidade da denominação. No direito natural encontra-se, portanto, o germe da teoria dos direitos naturais ou inatos, direitos inerentes ao homem e preexistentes no Estado, que os devia conhecer e respeitar.
De acordo com o Código Civil de 2002, são proibidas as utilizações da voz, nome, imagem ou qualquer exposição vexatória da pessoa humana. Sendo assim, o nome e a imagem não poderão ser utilizados em situações que exponham a pessoa ao desprezo público ou com fins comerciais, salvo com expressa autorização da pessoa referida, neste último caso. O que para Sílvio Venosa, é algo relativo. Por mais que para ele a imagem da pessoa é, sem dúvida, uma das principais projeções de sua personalidade e atributo fundamental dos direitos personalíssimos e o uso indevido da imagem traz, de fato, situações de prejuízo e constrangimento. No entanto, em cada situação é preciso avaliar se há real abuso na divulgação da imagem, porque nem sempre a simples divulgação de uma imagem é indevida, de outra forma seria inviável noticiário televisivo, jornalístico ou similar.
Mesmo assim, qualquer tentativa de desrespeito aos direitos da personalidade poderá ser coibida com fundamento legal, segundo o art. 12 do CC, e em seu parágrafo único discorre que quando se tratando de morto, poderão requerer a cessão da ameaça/lesão o cônjuge sobrevivente, qualquer parente em linha reta, ou colateral até quarto grau com legitimação para isso. 
Para Francisco Amaral, o direito à vida e integridade física ocupa posição capital no sistema dos direitos de personalidade. Para o direito, é um bem jurídico fundamental, origem e suporte dos demais direitos, protegido por vários diplomas legais, a Constituição da República, o Código Civil e o Código Penal. Sua extinção põe fim à condição de ser humano e a todas as manifestações jurídicas que se apóiam nessa condição. O valor da vida torna, por isso, extremamente importante a sua defesa contra os riscos de sua destruição ou de alteração da estrutura ou funcionamento normal do corpo humano, inclusive a simples ameaça contra a saúde.
Previsto nos artigos 13 a 15 do CC e por se tratar da integridade física da pessoa humana, o ato de disposição do próprio corpo é defeso quando esse acarretar em diminuição permanente do mesmo. Salvo por exigência médica e/ou para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial. Mas, depois da morte, é válida a doação do próprio corpo, no todo ou em parte, para fins científicos ou altruísticos, sendo possível a revogação dessa disposição gratuita a qualquer momento. Além de que ninguém poderá ser obrigado a submeter-se a tratamento médico ou intervenção cirúrgica quando esses apresentarem risco de vida.
Quanto ao direito do embrião, Qual a natureza jurídica do embrião? É pessoa ou coisa? Considerando que a vida é um processo contínuo de desenvolvimento protegido pelo direito (CF, art. 5º, caput), iniciando-se com a fecundação do óvulo, e que o embrião humano é o início desse processo, deve-se considerá-lo ser humano em potência e, como tal, revestido da dignidade própria da pessoa humana, questiona Amaral. Não é simples conjunto de células, é o começo de uma vida, o início de uma pessoa humana, completa o escritor.
Agora quanto ao direito ao cadáver, Amaral diz que é legal a doação realizada somente por “pessoa juridicamente capaz, gratuitamente, para fins terapêuticos ou de transplantes”. Em caso de morte “a retirada do tecido, órgãos ou parte do corpo humano, deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada na forma da lei”. Em ambas as modalidades verificadas são imprescindíveis a vontade do titular querer dispor de seus órgãos. A desistência pode ser dada a qualquer momento em vida e, no caso de morte, por seus familiares também.
O direito à integridade moral consiste na proteção que a ordem jurídica concede à pessoa no tocante à sua honra, liberdade, recato, imagem e nome (arts. 17 a 20 do CC). Sendo honra considerada como dignidade pessoal, o conjunto de predicados que lhe conferem consideração social e estima própria. É a boa reputação. A liberdade é a ausência de impedimentos e a intimidade o recato da vida privada. Há também, o direito de à integridade intelectual que consiste na liberdade de pensamento e o direito autoral de personalidade, isto é, o direito de ligar seu nome com suas obras produzidas, direito à sua invenção.
Como toda pessoa tem direito ao nome (prenome e o sobrenome), sendo sua identidade, o interesse essencial da pessoa, a expressão que distingue a pessoa no meio, tornando-se algo pessoal, ele não pode ser objeto ou empregado ao desprezo público, ainda que não haja essa intenção de fato, assim como o pseudônimo adotado para atividades lícitas. De outro lado, a divulgação da imagem pode atender ao interesse de administração da justiça e manutenção de ordem pública, como o art. 20 põe a salvo. Não pode reclamar contra a divulgação de sua imagem o indivíduocondenado criminalmente, pernicioso à sociedade e inserido nos cartazes de "procurados" ou em programas televisivos. Em se tratando de morto ou ausente, tem legitimação para requerer a proteção do nome: o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes (disposto nos arts. 16 a 20 do CC). 
Além de tudo isso, é resguardada e inviolável a vida privada da pessoa natural, sendo possível e a requerimento do interessado, a tomada de providências cabíveis para impedir ou cessar ato contrário do que acima descrito. 
CASOS (RESPEITO E DESRESPEITO AOS DIREITOS DE PERSONALIDADE)
CASO 1: Respeito aos Direitos de Personalidade
Uriel Siqueira Melo dos Santos, 23 anos, com a sentença publicada na última semana pela Justiça em Bauru. A decisão deu a ele o direito de mudar seu registro civil. Agora, no documento de identidade, constam nome e sexo masculinos.
O parecer favorável à ação de retificação de prenome e sexo, tramitada na 2.ª Vara de Família e Sucessões do Fórum de Bauru, considerou que um transexual não é obrigado a realizar cirurgia de redesignação de sexo para ser reconhecido, “uma vez que importa, para definição da pessoa, seu sexo psíquico, o gênero que o indivíduo atribui a si mesmo e não a maneira como um terceiro o enxerga”.
 Na sentença, o juiz cita o artigo 5.º da Constituição, que instituem direitos como à vida, à liberdade e à igualdade, considerando que, os mesmos princípios devem, de igual forma, nortear os direitos dos transexuais e atendê-los. Ainda na decisão, ele aponta que o registro civil deve “espelhar a individualidade da pessoa ali identificada, sobrepondo-se o gênero ao sexo biológico”.
 Segundo o juiz, o ordenamento jurídico tem se atualizado em favor dos direitos de transexuais. Como exemplo, cita decretos recentes sobre o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de travestis e transexuais, nos âmbitos federais e estaduais. “Essas medidas propõem um viés humanista ao transexual e lhe permitem ser quem verdadeiramente é, despido de julgamentos alheios, de tendências conservadoras e de execrações públicas irracionais”, diz a sentença.
A ação foi proposta há oito meses pela advogada Ana Carolina Borges, que também é coordenadora da Comissão da Diversidade Sexual da OAB de Bauru (CDS/OAB Bauru). A decisão considerou ainda parecer favorável emitido pelo Ministério Público Estadual e estudo psicossocial do autor da ação. “O judiciário tem se mostrado sensível. E dependemos deles, já que não há lei específica para essa causa. Quem sabe assim, com ações em massa, criamos uma jurisprudência”, comenta Ana Carolina, lembrando-se de outras decisões. “Há alguns anos, o sexo não era alterado se não houvesse cirurgia, ou havia necessidade de laudo atestando doença”, complementa.
 Optando por não citar seu nome de nascimento, feminino, Uriel lembra que desde criança não se identificava como menina. “Eu não queria fazer o que elas faziam. Na adolescência, até tentei namorar, mas não deu muito certo, eu agia como homem”. Ele conta que chegou assumir ser lésbica aos pais por volta das 15 anos. “Naquela época eu nem sabia o que era a transexualidade”.
 Foi aos 20 anos, contudo, que ele procurou um médico particular para tratamento psicológico e hormonal. “A barba foi crescendo. Algumas pessoas se assustavam no começo, mas a maioria me tratava normalmente e estava do meu lado. Minha família e amigos sempre me apoiaram. Tive muita sorte”, afirma. Agora, ele planeja realizar mastectomia e mudar-se para Santa Catarina, onde construirá vida nova ao lado de sua companheira Ana Rosa, 24 anos
O direito ao nome é espécie dos direitos de personalidade, pertencente ao gênero do direito a integridade moral, pois todo individuo tem o direito à identidade pessoal, de ser reconhecido em sociedade por denominação própria
A mudança do prenome normalmente é feita por decorrência de ser vexatório, ou por correção de grafia, nesse caso, Uriel estava passando por constrangimento como muitos outros transexuais que possuem aparência física e fenótipo em total desconformidade com o nome disposto no ato registral, assim sendo seus nomes os deixam em situação de incerteza, angustia e conflitos internos que dificulta a sua vida em sociedade.
A jurisprudência deve evoluir ainda mais em relação ao caso de transexuais não operados, para conferir a máxima dignidade ao principio constitucional da promoção da dignidade da pessoa humana. O ser humano transexual já passa por diversas dificuldades na vida em sociedade, o seu prenome não deveria ser mais uma.
CASO 2: Desrespeito aos Direitos de Personalidade
O vazamento na internet de imagens em que Carolina Dieckmann, 33, aparece nua e em situações de intimidade ocorreu após a atriz tentar preparar um flagrante contra uma pessoa que a chantageava, pedindo R$ 10 mil reais para não divulgar as fotos (…)
Segundo o advogado, até o vazamento, ela tinha preferido não registrar a tentativa de extorsão por temer que o assunto se tornasse público.
Responsável pelas investigações, o delegado Gilson Perdigão disse que foi aberto ‘registro de ocorrência de extorsão qualificada pelo concurso de agentes [quando há mais de um envolvido no crime], difamação e furto’.
O laptop em que estavam as fotos foi encaminhado para perícia, e o laudo deve ficar pronto em 15 dias.
No sábado, Almeida Castro afirmara que o computador da atriz havia sido enviado para o conserto pouco antes das tentativas de extorsão. Ontem, porém, ele não quis falar sobre isso nem dizer para onde o equipamento fora levado, argumentando que as informações poderiam atrapalhar as investigações (…)
‘Esses crimes deixam rastros e vamos chegar até o criminoso. É importante que esse caso surja para que se discuta a legislação de crimes na internet’, disse o advogado.
A notícia publicada na Folha de São de Paulo (08/05/2012) relata um caso de desrespeito aos direitos da personalidade da vítima Carolina Dieckmann, que teve fotos suas intimas publicadas por outrem, sem autorização, na internet. Neste caso, é desrespeitado um dos direitos da personalidade de Carolina, presente no artigo 20 do código civil, que proíbe a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa se essa lhe ferir a honra, a boa fama ou a respeitabilidade. Além disso, antes das fotos serem publicadas, foram feitas ameaças à vítima, com o objetivo de receber um pagamento em troca da não divulgação das fotos na internet, por esse fator, o caso também foi analisado como crime de extorsão.

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