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Camila Hemerly HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL Hérnia >> significa ruptura ou brotamento, ou seja, algo novo está surgindo, rompendo ou brotando, portanto é a saída de um órgão ou uma estrutura por uma abertura congênita ou adquirida na parede em que limita a cavidade no qual se encontra. Portanto a hérnia é um órgão ou estrutura que deveria permanecer numa certa cavidade e por algum motivo está saindo desta cavidade, ou por um defeito congênito (como a persistência do fundo do peritônio vaginal) ou adquirido (como em casos onde pacientes fazem esforços extensos e tem tensão excessiva na parede, gerando um ponto de fraqueza por onde a estrutura vai acabar saindo). A hérnia abdominal é a protusão anormal de um saco de peritônio através do plano músculo- aponeurótico do abdômen. A protusão deverá ter o saco peritoneal (ou saco herniário), pele, subcutâneo, gordura, plano músculo-aponeurótico, fascia transversal, gordura periperitonial (ou pré-peritoneal?) e peritônio. Galeno dizia que a hérnia era uma ruptura na parede abdominal, mas na verdade não temos uma ruptura da parede, mas apenas um defeito. Hérnia Umbilical A área do umbigo >> região propensa devido sua anatomia. Fechamento deficiente e/ou fraqueza >> extravasamento do saco herniário com algum conteúdo da cavidade abdominal. Na linha média e acima da cicatriz umbilical >> hérnia epigástrica. Tb pode ser incisional. _______________________________________________________ • Região inguinal >> acima do ligamento inguinal; • Região crural/femoral: abaixo do ligamento inguinal; Pele >> subcutâneo >> fáscia de Camper (areolar e superficial), fáscia de Gilbernat (intermediária), fáscia de Scarpa (lamelar e profunda. Desce a região do testículo >> se espessa e forma a túnica Dartos). As fáscias são + fáceis de visualizar em crianças que no adulto. TIPOS • Hérnia Inguinal* o DIRETA o INDIRETA* • Hérnia Femoral • Hérnia Umbilical • Hérnia Incisional Epidemiologia • 5% da população desenvolverá hérnia de parede abdominal em algum momento da vida; • 75% das hérnias da parede abdominal são inguinais; o Indiretas > 50% o Diretas > 25% • 10-15% são hérnias incisionais (por cirurgia prévia); • Hérnias umbilicais e epigástricas correspondem a 10% dos casos; • As hérnias femorais (5%) surgem da região inguinal/crural (aquilo que é relativo à coxa/virilha) >> muito mais prevalentes (10x) nas mulheres. Camila Hemerly Fatores de risco – Hérnias Inguino- femorais - História familiar - Sexo masculino - Idade (70-80 anos) – fraqueza da parede abdominal - Doenças colagenosas - Fumo - Aumento da pressão abdominal – DPOC, HPB, ascite - Obesidade – tem se mostrado fator protetor – ainda pouco explicado (espessamento ajuda a conter) Cavidade abdominal >> pressão positiva, com cerca de 5- 7 mmHg >> que é contido por estruturas. � Superiormente: diafragma � Inferiormente: pelve � Posteriormente: coluna lombar (vertebras + músculos) � Anteriormente: músculos da parede abdominal - Tec. Subcutânea: fáscia de Camper (superficial) e Scarpa (profunda); - Fáscia transversalis: fina e pouco resistente; Fatores de risco – Hérnias Incisionais - Fatores cirúrgicos � Técnica cirúrgica � Complicações da ferida – seroma, hematoma - Desnutrição - Uso de corticoide - Uso de radiação local - Obesidade – fator de piora (e não protetor como nas inguinais) Camila Hemerly A aponeurose do musculo obliquo externo recobre toda a parede abdominal, inclusive a região inferior, delimitando o funículo espermático que está saindo de dentro do canal inguinal. A aponeurose do ob. externo recobre, é a parte superior, é a camada, o teto de todo o canal inguinal. Forma o anel inguinal externo por onde passa o funículo espermático O canal inguinal é um ducto que que vai de lateral para medial, obliquamente, de dentro para fora, de profundo para superficial. Ele é uma comunicação entre a cavidade abdominal e a bolsa escrotal (testículo). Embriologia: o testículo é formado dentro da cavidade abdominal, e por volta da 28ª semana >> começa seu processo de descida >> desce por dentro de uma estrutura que chamamos de conduto peritônio-vaginal até se alocar e terminar dentro da bolsa escrotal. Esse conduto peritônio vaginal se oblitera (fecha). Em um indivíduo saudável, sem problemas na região inguinal >> não existe comunicação entre a cavidade abdominal e a bolsa escrotal. O que existe são estruturas que ligam o testículo até a cavidade abdominal >> essas estruturas passam dentro do canal inguinal: Quais são essas estruturas? � Funículo espermático, formado pelas fibras do músc. cremaster, vasos cremastéricos, ducto deferente com sua artéria e veia, artérias e veias testiculares, artérias e veias espermáticas externas, conduto peritoneovaginal obliterado, plexo pampiforme, ramo genital do nervo genitofemoral, nervo cremastérico e vasos linfáticos E por isso os homens têm muito + hérnias inguinais que as mulheres. Pq nas mulheres, o que habita o canal inguinal feminino é o ligamento redondo do útero, fazendo-as menos propensas à hérnia inguinal. Lembrando que no RN >> testículo ainda pode estar no trajeto da descida >> esperar até 3-4 meses >> se não se realocar na bolsa escrotal >> tto cirúrgico para evitar disfunção e fibrose dos testículos, preferencialmente antes dos 6 meses. O funículo espermático é uma continuação da parede abdominal, então as estruturas se correlacionam anatomicamente, por exemplo: a túnica vaginalis (membrana que recobre o testículo) é muito parecida com o peritônio, pq quando ela evaginou (saiu da cavidade) ela o levou junto. Veja na figura que não há nenhuma ligação, nenhum ducto aberto entre a túnica vaginalis e o peritônio. O conduto peritônio-vaginal está fechado/obliterado. Imagem SEM aponeurose Limites do canal inguinal SUPERIORMENTE- Tendeo condunto é uma inserção conjunta, uma fusão do músculo obliquo interno e do musculo transverso do abdômen. 10% das pessoas – fusão da porção final das aponeuroses (ob. interno e transv. abdome). INFERIORMENTE – Ligamento inguinal (Poupart) >> é um espessamento fibroso na região onde termina a aponeurose do músculo oblíquo externo, vai da EIAS até o tubérculo púbico. Canal femoral >> é por onde surgem as hérnias femorais (abaixo do ligamento inguinal). Aqui começamos a entender pq as hérnias inguinais surgem acima do ligamento inguinal, e as femorais surgem abaixo do ligamento inguinal. A camada posterior, que recobre posteriormente o canal inguinal (atrás do funículo espermático) é a fáscia transversalis, ou seja >> não tem músculo, não tem aponeurose, é apenas a camada fina da fascia transversalis. Região “fraca” >> local onde surgem as hérnias diretas e indiretas. * tb chamada de parede posterior do canal inguinal Imagine que estamos dentro da cavidade abdominal, olhando a parede (uma visão laparoscópica). Ligamento de Gimbernat: tb é um espessamento da aponeurose oblíquo externo. MEDIAL Fruchaud percebeu que era região de grande fraqueza, propensa a hérnias inguinais e femorais. Observe seus limites. Ligamento pectíneo >> espessamento do periósteo do ramo do púbis. Óstio miopectíneo de Fruchaud: local de surgimento das hérnias inguinais direta e indireta, e hérnias femorais Hérnia inguinal DIRETA = Trígono inguinal de Hesselbach MEDIALMENTE aos vasos epigástricos inferiores >>>> hérnias DIRETAS LATERALMENTE aos vasos epigástricos inferiores>>> hérnias INDIRETAS INDIRETAS >> CANAL INGUINAL (fechamento incompleto do anel inguinal interno - congenitas). DIRETAS >> TRÍGONO HESSELBACH (fraqueza). FEMORAIS >>> CANAL FEMORAL Quais são os limites anatômicos do Trígono de Hesselbach? LATERAL Camila Hemerly � Medial: Músculo reto abdominal � Lateral: Vasos epigástricos inferiores � Inferior: Ligamento inguinal Classificação de NYHUS I – Indireta, anel inguinal interno de tamanho e estrutura normais Indireta >> por dentro do canal inguinal, onde não há destruição das estruturas >> essa não tem defeito pq é a hérnia da criança – é congênita >>> não obliteração do conduto peritoniovaginal II – Indireta, anel inguinal interno alargado Algum alargamento/destruição do anel interno, e alguma coisa conseguiu passar ali por dentro. III Fraqueza da parede posterior – em algum grau existe alguma hérnia associada – fáscia transversalis enfraquecida. A – Direta, apenas. Fraqueza da fáscia transversalis (parede posterior), causando a hérnia diretamente. B – Indireta – anel inguinal interno alargado e distorcido. Fraqueza da parede posterior + alargamento do anel inguinal interno (mista). C – Crural (Femoral) – o defeito da parede posterior ocorreu abaixo do ligamento inguinal, através do canal femoral. IV Recorrentes A – Direta B – Indireta C – Crural (Femoral) D – Qualquer combinação das 3 – Hérnia complexa (+ de uma associada) ESPECIAIS • Hérnia por deslizamento: O que sai não é conteúdo peritoneal, e sim EXTRAperitoneal (cólon, bexiga) >> desliza por baixo, não tem saco herniário. • Hérnia de Amyand: Presença do apêndice cecal no saco herniário inguinal; • Hérnia de Garengeot: Presença do apêndice cecal no saco herniário femoral; • Hérnia de Littré: Qualquer hérnia contendo o divertículo de Meckel • Hérnia de Richer: Isquemia da borda anti mesentérica – abaulamento de parte do intestino >> borda anti mesentérica. • Ou seja, o trânsito intestinal está preservado, com pequena parte do intestino estrangulada >> repercussões clínicas. • Hérnia de Spiegel: Hérnia na linha semilunar, lateralmente ao reto abdominal. • Hérnia obturadora: Hérnia que passa através do forame obturador (formado por ramos do púbis e do ísquio) • Hérnias Lombares: o Grynfelt – Trígono lombar superior o Petit – Trígono lombar inferior Camila Hemerly Quadro Clínico • Queixa de abaulamento na região inguinal, “bola”, uma protusão que pode ser evidente ao esforço físico; • Maioria >> oligossintomáticas; • Sensação de dor vaga e peso na região • Dor intensa >>> é sinal de complicação (estrangulamento, encarceramento) Hérnias pequenas têm maior chance de estrangular (pq não incomoda o paciente); Alguns casos >> difícil recolocar conteúdo dentro da cavidade abdominal >> hipertensão intra-abdominal. Nesses casos >> pneumoperitôneo agressivo para aumentar pressão positiva e tentar reduzir conteúdo. Diagnóstico Clínico: - Paciente em posição supina, em ortostase >> solicitar que realize a manobra de Valsalva - Fazer a palpação do anel inguinal externo, introduzir o dedo até o anel inguinal interno >> manobra de Landivar: Hérnia direta x indireta • Se durante a manobra de Valsava, a hérnia tocar na polpa (face anterior) do dedo = DIRETA • Se durante a Valsava, a hérnia tocar a ponta >>> INDIRETA (pq tá vindo de dentro do canal inguinal). Segundo alguns protocolos >> USG é dispensável para o diagnóstico das hérnias (clássicas, simples), devendo ser reservado para casos duvidosos/complexos (medição para planejamento da cirurgia). Diagnósticos Diferenciais: • Linfedema • Neoplasia testicular • Hidrocele de testículo • Varicocele • Testículo ectópico • Adenomegalia inguinal • Diástase: afastamento dos músculos retos do abdome, não ocorre ruptura, abaulamento assintomático, comum em mulheres > 35 anos, gravidez, obesidade, idade, cirurgia >> estética. Hérnia encarcerada (dói): hérnia presa >> foi e não conseguiu voltar >> não tem isquemia/necrose; pode gerar cronificação. - Hérnia cronicamente habitada (não dói) Hérnia estrangulada (dói): isquemia >> sofrimento vascular >> necrose da alça >> urgência cirúrgica. Após 6 horas de encarceramento = hérnia estrangulada. TRATAMENTO CIRÚRGICO Locais de colocação da tela. As telas comuns não podem ser colocadas intraperitoneais (ulceração do intestino). Camila Hemerly Hérnias femorais: Linchtenstein é ineficaz. Utilizar Mc Vay, Plug femoral e laparoscopia. A técnica de STOPPA é reservado para hérnias complexas e recidivadas, consiste na dissecção do peritônio com colocação de grande tela pré-peritoneal. Causa dor, fibrose e maiores índices de ferida operatória. Técnicas videolaparoscópicas: padrão ouro. • TEP: totalmente extraperitoneal – colocação de tela pré-peritoneal, sem entrada a cavidade abdominal; • TAPP: transabdominal pré-peritoneal – entra na cavidade, coloca a tela pré-peritoneal por acesso intraperitoneal, fecha o peritônio. Camila Hemerly A dor inguinal crônica pós-herniorrafia é uma síndrome dolorosa, tardia, da região inguinal previamente operada, que se caracteriza por sensação de dor ou parestesia, e que pode se irradiar para os genitais e coxa. Pode ser decorrente da inabilidade dos cirurgiões em identificar e preservar os nervos da região inguinal, já que a lesão nervosa é tida como o principal fator de neuralgia crônica A dor neuropática ou neurálgica é importante não só pela prevalência como pelo seu potencial incapacitante. Relaciona-se com a lesão dos nervos ilioinguinal, iliohipogástrico e genitofemoral, além do seu envolvimento no tecido cicatricial ou na formação de um neuroma. Na lesão do nervo ilioinguinal ou iliohipogástrico (nervo menos lesionado na cirurgia) os sintomas usualmente envolvem a região inguinal com irradiação para a porção interna (face medial) e superior da coxa, para o escroto e lábio maior. As lesões do nervo genitofemoral também produzem sintomas na região inguinal com irradiação para a pele da genitália (testículo e grandes lábios) e parte superior e medial da coxa
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