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Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Cirurgia Veterinária I 3) MÉTODOS DE SÍNTESE E CLASSIFICAÇÃO DAS SUTURAS SÍNTESE É o conjunto de manobras manuais e instrumentais destinadas a restituir a continuidade anatômica e funcional dos tecidos que foram separados na cirurgia ou por traumatismo. NORMAS PARA UMA BOA SUTURA • Promover, de forma correta, a anti-sepsia e a assepsia. • Unir os tecidos de mesma natureza, de acordo com os diferentes planos. • A hemostasia dos tecidos deverá ser a mais perfeita possível. • Abolir os espaços mortos para evitar a formação de seromas. • Manter a ferida cirúrgica livre de corpos estranhos e de tecidos desvitalizados. • Empregar suturas e fios adequados, com as técnicas apropriadas. CARACTERÍSTICAS DE UM FIO IDEAL • Deve manter aproximadas as bordas da ferida até a completa cicatrização. • Apresentar boa resistência tênsil ao meio no qual atua. • Não deve apresentar capilaridade, evitando preservar as infecções Ex: fio monofilamentoso. • Não provocar reações alérgicas e não ser carcinogênico. • Ser confortável ao usar (alta pliabilidade). • Ter uma boa segurança na permanência dos nós (baixa memória). • Provocar mínimas reações inflamatórias teciduais (inerte ao organismo). • Se for absorvível, ter um período de absorção previsível. • Se não for absorvível, ser encapsulado sem complicações. • Passível de ser esterilizado e ter baixo custo. Os fios considerados ideais são aqueles que preenchem grande parte destes requisitos, lembrando que os mesmos devem estar associados a agulhas apropriadas para os diferentes tecidos. CLASSIFICAÇÃO DAS SUTURAS a) Suturas absorvíveis: são aquelas que decorrido algum tempo após a implantação, por ação mecânica, são absorvidas. Podem ser de origem animal ou sintéticas. Prof. Daniel Roulim Stainki 13 Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Cirurgia Veterinária I b) Suturas não absorvíveis ou inabsorvíveis: são aquelas que ficam permanentemente no organismo, mesmo sofrendo ação dos elementos de defesa orgânica não se desfazem, são envolvidos, após algum tempo, por tecidos fibrosos. Pode ser de origem animal, vegetal, metálica e sintética. TIPOS DE FIOS: # FIOS ABSORVÍVEIS NATURAIS: a) Categute: preparado do intestino delgado de ovinos ou de bovinos. Apresenta capilaridade e é multifilamentoso. Pode ser simples ou cromado, o categute simples é o fio que determina a maior reação inflamatória nos tecidos, já o cromado apresenta uma reação tecidual menos exuberante por ser revestido por sais de cromo. Todavia, aos 30 – 60 dias quando perde sua cobertura a reação acaba por se assemelhar a do categute simples. A graduação do fio categute cromado é a seguinte: • cromado fraco (tipo B): perde a resistência de tensão ao redor de 10 dias. • cromado médio (tipo C): perde a resistência de tensão ao redor de 20 dias. • cromado extra (tipo D): perde a resistência de tensão ao redor de 40 dias. b) Colágeno: fio monofilamentoso, feito de tendão flexor de bovinos. Normalmente é utilizado em cirurgias oftálmicas. # FIOS ABSORVÍVEIS SINTÉTICOS: A reação inflamatória a estes fios é bem menos intensa que a reação ao categute, e sua absorção completa-se ao redor dos 60 dias após a implantação. Praticamente, estes fios não determinam reação inflamatória crônica. a) Dexon (ác. Poliglicólico): absorvível entre 100 e 120 dias. Perde 50% de sua resistência de tensão após 2 semanas. b) Vicryl (Polyglactina): absorvível entre 60 e 90 dias. Perde 50% de sua resistência de tensão em 2 semanas. c) PDS (Polydiaxonona): absorvido em média aos 182 dias após implante. Perde 50% de sua resistência de tensão em 6 semanas. # FIOS NÃO ABSORVÍVEIS NATURAIS: a) Origem animal – Seda: não é recomendada para unir tecidos em presença de contaminação, promove reação tecidual intensa. Prof. Daniel Roulim Stainki 14 Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Cirurgia Veterinária I b) Origem vegetal – Algodão: potencializa infecções, e promove reação tecidual intensa. – Linho: semelhante ao algodão. # FIOS NÃO ABSORVÍVEIS SINTÉTICOS: a) Poliamida (Nylon): mono ou multifilamentoso, biologicamente inerte, não capilar na forma monofilamentosa e boa tensão ao estiramento. • Desvantagens: pobre manuseio e pouca segurança no escape dos nós (deve- se dar de 4 a 5 laçadas). b) Poliester (Mersilene): é forte, tem bom suporte para tecidos de cicatrização lenta, reativo, pobre segurança no escape dos nós, associados a infecções locais resistentes. c) Polipropileno (Prolene): semelhante ao nylon, biologicamente inerte, melhor segurança no escape dos nós que o nylon e resistente a infecções. d) Polietileno (Dermalene): baixa reação tecidual e boa resistência ao estiramento. e) Suturas metálicas – aço inoxidável: não reativo aos tecidos (praticamente inerte ao organismo), maior resistência de tensão e segurança no escape dos nós, recomendado para tecidos de cicatrização lenta. Ex: osteossíntese. CONSEQÜÊNCIAS DA REAÇÃO TECIDUAL EXCESSÍVA Pode haver a ocorrência dos seguintes fenômenos indesejáveis em conseqüência ao processo inflamatório excessivo causado pela presença do fio nos tecidos. # FENÔMENOS PRECOCES: • Corte do tecido (Cutting out) – É o corte pelo fio dos tecidos excessivamente inflamados e amolecidos. • Retardo na cicatrização das feridas. • Formação de bridas intraperitoniais (neoformação de tecido fibroso). • Predisposição a infecções. # FENÔMENOS TARDIOS: • Abscesso local. • Formação de cavidades (pequenos seios). • Eliminação espontânea e periódica dos fios, associadas à descarga de material seroso ou purulento (sinus). Prof. Daniel Roulim Stainki 15 Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Cirurgia Veterinária I SELEÇÃO DO MATERIAL DE SUTURA Princípios a serem observados: • As suturas devem ser tão ou mais fortes que os tecidos através dos quais são dispostas. • As suturas não são mais necessárias após a cicatrização da ferida. • As feridas viscerais cicatrizam com maior rapidez, sendo as suturas absorvíveis mais adequadas para estes tecidos. • A pele e as fáscias cicatrizam mais lentamente, sendo as suturas não absorvíveis mais indicadas. • Suturas monofilamentosas evitam mais as contaminações que as suturas multifilamentosas. • O uso de suturas muito grossas tem como resultado uma quantidade excessiva de material estranho na ferida enquanto suturas muito finas acabam em rupturas. AGULHAS CIRÚRGICAS: São feitas de aço inoxidável e compostas de fundo, corpo e ponta. O fundo pode apresentar-se de forma verdadeira ou falsa, ou ainda vir com o fio embutido no fundo da agulha, permitindo uma sutura menos traumática. • Comprimento: deve ser o suficiente para abranger os dois lados da incisão. • Diâmetro: muito grande resulta em um maior trauma tecidual. Proporções entre diâmetro e comprimento além de 1:8, tendem a quebrar ou entortar facilmente. • Formato: varia de acordo com o tecido: - agulhas traumáticas: são cortantes e indicadas para tecidos com maior resistência, como o tecido fibroso e a pele. - agulhas atraumáticas: são arredondadas e estão indicadas para órgãos parenquimatosos, músculos e tecidos gordurosos. Geralmente o fio já vem montado (embutido) no fundo desta agulha. • Curvatura: As agulhas podem ser classificadas em retas, semi-retas e curvas. As agulhas retas são usadas para a sutura sem o auxílio do porta-agulhas. As semi-retassão aplicadas mais em estruturas superficiais como a pele, e as curvas em suturas profundas. GRUPOS DE SUTURAS As suturas são divididas em dois grupos, as suturas interrompidas e as suturas contínuas. Prof. Daniel Roulim Stainki 16 Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Cirurgia Veterinária I # SUTURAS INTERROMPIDAS: - Horizontais - Verticais • Tipos: • Sutura simples – Quando é aproximada somente uma estrutura. Ex: sutura de pele. • Sutura composta – Quando é aproximada mais de uma estrutura. Ex: sutura de peritônio e músculo transverso do abdome na celiorrafia. • Sutura de aposição – São as suturas que fazem a justaposição dos tecidos. Ex: sutura isolada simples. • Sutura invaginante – São aquelas suturas em que as bordas da ferida ficam voltadas para dentro da incisão. São suturas utilizadas para órgãos ocos. Ex: Sutura de Cushing, sutura de Lembert. • Sutura evaginante – São aquelas suturas que fazem com que as bordas da ferida fiquem voltadas para fora. Ex: Sutura de Wolff, sutura de Donatti. • Nó de cirurgião – É o nó utilizado para o fechamento dos pontos isolados e para iniciar ou terminar a sutura contínua. Para a sua confecção, primeiramente, são realizadas duas passadas (laçadas) sobre si mesmo, seguido por uma passada para o lado contrário. Este nó evita que as bordas dos tecidos se afastem no transcorrer da realização dos pontos. # VANTAGENS DAS SUTURAS ISOLADAS: • Mantém a aposição dos tecidos se um ponto romper. • Cada ponto tem um nó individual. • Cada ponto é uma unidade independente, não sujeita a pressões dos pontos adjacentes. # DESVANTAGENS DAS SUTURAS ISOLADAS: • Grande quantidade de material usado. • Maior lentidão na execução. # SUTURAS CONTÍNUAS: As suturas contínuas, assim como as isoladas, podem também ser classificadas como horizontais ou verticais, simples ou composta, de aposição, invaginante ou Prof. Daniel Roulim Stainki 17 Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Cirurgia Veterinária I evaginante. As suturas contínuas iniciam com um ponto simples e seguem com sucessivos pontos conforme a sutura, devendo ser finalizada com mais um nó simples no final. São mais utilizadas para suturas internas. # VANTAGENS DAS SUTURAS CONTÍNUAS: • Previne a perda de fluidos pela boa coaptação. • Fácil aplicação e mais veloz na confecção. • Fácil remoção e menor quantidade de material usado. # DESVANTAGEM DAS SUTURAS CONTÍNUAS: • Dependência entre os pontos, se um ponto romper, ocorrerá um afrouxamento de toda a sutura. TÉCNICAS MAIS UTILIZADAS DE SUTURAS # SUTURAS ISOLADAS OU INTERROMPIDAS: a) Isolada Simples: Mais utilizada para a pele, é uma sutura de coaptação. b) Pontos de Relaxação: Feitos em locais de muita tensão. c) Wolff ou “U” deitado: Mais utilizada para pele, é uma sutura de eversão (evaginante). d) Donatti ou “U” em pé: Mais usado para pele, também utilizado para reduzir o espaço morto no subcutâneo. É uma sutura de eversão. e) Lembert: Sutura invaginante, utilizada para órgãos ocos. É uma sutura sero- muscular não contaminante. f) Cushing ou Gely: Sutura invaginante, utilizada para órgãos ocos. É uma sutura sero- muscular não contaminante. g) Swift: Indicada para esôfago, o nó permanece para a luz do órgão. h) Jaquetão: Sutura utilizada para o fechamento de paredes abdominais. É uma sutura que apresenta uma boa resistência a tensão. i) Sutura em “8”: É uma sutura usada para promover hemostasia. Prof. Daniel Roulim Stainki 18 Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia – PUCRS Curso de Medicina Veterinária Cirurgia Veterinária I j) Sutura com Agrafes: É uma sutura metálica, geralmente usada na pele, que promove eversão das bordas. # SUTURAS CONTÍNUAS: a) Contínua Simples: Apresenta boa coaptação das bordas, usada com maior freqüência em vísceras. b) Colchoeiro ou “U” contínuo: É uma sutura mais utilizada para hemostasia de vísceras e para áreas fibrosas. c) Festonada ou Reverdin: Sutura de boa coaptação, resistente a tensão e muito utilizada em incisões longas, pois seus pontos são difíceis de afrouxarem. d) Zigue-Zague: Sutura que promove uma boa aproximação tecidual, normalmente utilizada para aproximação da pele. e) Em bolsa de Tabaco (Fumo): Utilizada para o fechamento de orifícios ou esfíncters. f) Schmiedem: Sutura de boa coaptação e contaminante (muco-serosa). Usada em órgãos ocos, necessita uma sutura não contaminante por cima. Muito utilizada como primeira sutura em útero. g) Cushing ou Gely: Sutura usada em órgãos ocos, sero-muscular, não contaminante e invaginante. h) Lembert: Usada em órgãos ocos, sero-muscular, não contaminante e invaginante. LEITURA OBRIGATÓRIA HERING, F.L.O. , GABOR, S. , ROSENBERG, D. Bases técnicas e teóricas de fios e suturas. Capítulos 01, 02, 03, 04, 05, 06, 07. São Paulo: Ed. Roca, 1993. 232p. TURNER, A.S., McILWRAITH, C.W. Técnicas cirúrgicas em animais de grande porte. São Paulo: Roca, 1985. 341 p. cap. 5: Nós e ligaduras, p.79-101. Prof. Daniel Roulim Stainki 19
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