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Profa. Marlete Brum Cleff – Disciplina Terapêutica Veterinária – Depto. Clínicas Veterinária, FaVet,UFPel. UFPEL - FACULDADE DE VETERINÁRIA DEPTO. CLÍNICAS VETERINÁRIA DISCIPLINA TERAPÊUTICA VETERINÁRIA Profa. Marlete Brum Cleff - AULA PRÁTICA TRANSFUSÃO SANGUÍNEA A transfusão sangüínea ou hemoterapia é o processo pelo qual se administra sangue total ou um de seus componentes, como papa de hemácias, plasma, crioprecipitado, etc. de um doador para um receptor com finalidade terapêutica. INDICAÇÃO Em geral as principais indicações de transfusão são para cães que estejam com níveis celulares muito abaixo do normal (Hematócrito≤15% e hemoglobina≤ 5g/mL), com sintomas de anemia, como mucosas pálidas, taquicardia e taquipnéia; animais que sejam submetidos a cirurgias longas com grandes perdas de sangue; a pacientes com hipoproteinemia (inanição, parasitas, queimaduras, intoxicações), além do uso como terapia inespecífica imunoestimulante. A transfusão em animais deve ser vista como medida terapêutica emergencial e de efeito LIMITADO e TRANSITÓRIO, que tem como objetivo aumentar a sobrevida dos animais até que se consiga obter o diagnóstico, ou que o tratamento seja efetivo. DOADOR IDEAL IDADE: superior a um ano PESO: Igual ou superior a 30 Kg SEXO: Machos que não receberam transfusões, castrados, ou fêmeas nulíparas e castradas. TEMPERAMENTO: Dócil e tranqüilo. STATUS SANITÁRIO: Clinicamente sadio, com boa condição física, livre de doenças infecciosas (Sorologia negativa para: Brucella SP., Erlichia SP., Babesia SP., Haemobartonella canis), livre pulgas e carrapatos e com a vacinação em dia. GRUPO SANGUÍNEO DO DOADOR: Existem em torno de 11 Grupos para os cães, mas em torno de 8 são os mais encontrados e tipificados até o momento. Ideal que seja Negativo para os antígenos CEA-1.1 e CEA-1.2 e CEA-7 (risco hemólise severa). O anti-DEA 7 é o isoanticorpo mais comum nos cães, presente em 50% da população canina (Adams, 2003). OS CÃES DO GRUPO CEA-1 e CEA-7 NEGATIVOS e CEA-4 SÃO CONSIDERADOS OS DOADORES UNIVERSAIS. FELINOS: Foram identificados 3 grupos sanguíneos nos felinos, que são denominados A, B e AB. O grupo A é o mais comum ocorrendo entre 73 e 99,7%; o B, entre 0,3% e 26%, e o grupo AB ocorre entre 0 e 9,7% da população felina. Profa. Marlete Brum Cleff – Disciplina Terapêutica Veterinária – Depto. Clínicas Veterinária, FaVet,UFPel. Ao contrário dos cães os gatos podem apresentar Ac naturais sendo possível, desta forma, sofrerem reações transfusionais na primeira transfusão. Sendo aconselhável então, realização da prova cruzada antes de qualquer tranfusão em felinos. O doador felino deve ter no mínimo 4 Kg, sorologicamente negativos para FIV e FELv, PIF, Hemobartonella e Toxoplasma, além de serem vacinados anualmente contra raiva, clamidiose, rinotraqueíte, calicivirose, panleucopenia, PIF, Leucemia. Para coleta de sangue felino, normalmente utiliza-se uma seringa de 60 mL com 5 a 7 mL de anticoagulante citrato ou heparina. Um gato com 5 Kg, por exemplo, pode doar de 50 a 70 mL de sangue total (10 - 15 % peso) a cada 3 semanas. Para gatos maiores podem ser utilizadas bolsas para colheita de 100mL, sendo que deve ser retirado o excesso de anticoagulante quando o volume de sangue não for suficiente para encher a bolsa. REGIÕES PARA A COLHEITA O ideal é que o sangue seja obtido da veia jugular, com punção do vaso com agulha grossa ou cateter, podendo ser utilizada a veia cefálica, artérias carótidas e femural. Sempre deve ser feito a tricotomia e antissepsia do local a ser coletado, assim como do receptor, antes de administrar o sangue. QUANTIDADE DE SANGUE A SER COLETADA A quantidade de sangue que deverá ser retirada é de 20 ml/Kg (20% do peso doador) no caso de cães, enquanto que nos gatos recomenda-se até 14ml/Kg (no máximo 50 ml/coleta) sendo que a coleta poderá ser repetida a cada 2-3 semanas. EX: Cão com 15 Kg – 20 mL x 15 Kg = 300mL Cão com 55 Kg – 20 mL x 55 Kg = 1.100mL ARMAZENAMENTO O sangue fresco total de caninos colhido com CPDA-1 ou ACD, pode ser armazenado por até 30 dias sob refrigeração, pode também ser congelado. COLHEITA Para a colheita podem ser utilizadas preferencialmente bolsas contendo anticoagulantes, os principais anticoagulantes utilizados são Citrato fosfato dextrose adenina (CPDA), Citrato ácido dextrose (ACD), Citrato de sódio e Heparina, sendo que o CPDA e o ACD contêm fatores nutricionais ou preservantes de hemácias, e são usados quando se pretende armazenar o sangue colhido. Quando o volume é menor, o sangue pode ser colhido em seringas heparinizadas, devendo ser transfundido logo após a colheita. A quantidade de anticoagulante dependerá da quantidade de sangue retirado, e do anticoagulante utilizado, mas podemos dizer que a quantidade a ser utilizada deverá obedecer a proporção de 4 ml de sangue para 1 ml de anticoagulante. ACD e CPDA: 14mL/100mL sangue HEPARINA: 300-600Unidades/mL VELOCIDADE DE ADMINISTRAÇÃO: Lento nos 30min iniciais, depois passa para 10- 20mL/Kg/h. ** Observação constante do paciente!!!! Profa. Marlete Brum Cleff – Disciplina Terapêutica Veterinária – Depto. Clínicas Veterinária, FaVet,UFPel. TESTE DE COMPATIBILIDADE SANGÜÍNEA OU "PROVA CRUZADA" A compatibilidade entre o sangue de dois indivíduos é determinada através do Teste de Compatibilidade Sangüínea ou "Prova Cruzada". O sangue do doador é testado contra o sangue do receptor, para verificar a ocorrência de aglutinação das hemácias (formação de grumos - aglutinação), indicativa de incompatibilidade. A prova cruzada completa é realizada em duas etapas. A 1a etapa ou PROVA MAIOR: consiste em misturar uma pequena quantidade do sangue total ou suspensão de hemácias do sangue doador com uma pequena quantidade de soro do receptor. O resultado positivo é dado a partir da observação de grumos (macroscopicamente) e a aglutinação dos eritrócitos (microscopicamente). Esta é a etapa é considerada a mais importante. Na 2a etapa ou PROVA MENOR: uma pequena quantidade de sangue total ou uma suspensão de hemácias do sangue do receptor é misturada com o soro do doador e, do mesmo modo, pesquisa-se a formação de grumos de hemácias. A ausência de grumos nas duas etapas da prova cruzada significa que a transfusão pode ser realizada. Ao realizar a prova, deve-se evitar hemólise durante a colheita e o anticoagulante (EDTA) deve estar em volume adequado para não diluir a amostra. A prova cruzada pode ser realizada através de uma técnica rápida em lâmina de microscopia ou através de uma técnica mais demorada em tubos de ensaio. “ É importante lembrar que a prova de reação cruzada NÃO evita reações de hipersensibilidades a outros antígenos, como plaquetas, leucócitos e proteínas plasmáticas.” TÉCNICA RÁPIDA EM LÂMINA DE MICROSCOPIA 1) Colher 0,5 a 1mL de sangue do doador em dois frascos (um com EDTA e outro sem anticoagulantes), identificar os tubos. 2) Colher 0,5 a 1mL de sangue do receptor em dois frascos (um com EDTA e outro sem anticoagulantes), identificar os tubos. 3) Centrifugar o sangue do doador e do receptor a 1000-1500g por 5-10 min para separar os eritrócitos do plasma e do soro. 4) Separar o plasma e as células do doador e do receptor sempre utilizando pipetas diferentes. 5) Preparar uma solução a 4% do receptor e uma do doador (concentrado de eritrócitos 0,2mL + solução salina 4,8mL). Obs: Esta diluição em solução salina retarda a formação de rouleaux e facilita a observação microscópica, mas resulta em uma aglutinação menos intensa. 6)Identificar 4 lâminas de microscopia: Controle Doador (eritrócitos do doador + soro/ plasma do doador) PROVA MAIOR - Doador x Receptor (eritrócitos do doador + soro/ plasma do receptor) PROVA MENOR - Receptor x Doador (eritrócitos do receptor + soro/ plasma doador) Controle Receptor (eritrócitos do receptor + soro/ plasma do receptor). Profa. Marlete Brum Cleff – Disciplina Terapêutica Veterinária – Depto. Clínicas Veterinária, FaVet,UFPel. 7) Em cada uma das lâminas, mistura uma gota do soro/ plasma e uma gota da suspensão de eritrócitos ou duas gotas do soro/ plasma e uma gota do concentrado de eritrócitos. 8) Misturar com uma espátula/ pipeta ou outro material disponível. 9) Misturar por inclinação da lâmina e observar se ocorre aglutinação macroscópica dentro de 2 minutos. 10) Colocar uma lâmina sobre a mistura e observar se ocorre aglutinação microscópica (objetivas 40x a 100x) dentro de 5 minutos. 11) Verificar se há aglutinação, se ocorrer é positivo (incompatível). REFERÊNCIAS ANDRADE, S.F. Manual de terapêutica veterinária. ROCCA, 2002. DAY, M.; MACKIN, A.; LITTLEWOOD, J. Manual of Canine and Feline Haematology and Transfusion Medicine. Hampshire: BSAVA, 2000. FELDMAN, B. F.; ZINKL, J.G., JAIN, N. C. Schalm's Veterinary Hematology. 5a ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2000.
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