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Lógica Formal e Lógica Razoável LÓGICA FORMAL Também chamada de Lógica Simbólica, preocupa-se, basicamente, com a estrutura do raciocínio. A Lógica Formal lida com a relação entre conceitos e fornece um meio de compor provas de declarações. Na Lógica Formal os conceitos são rigorosamente definidos, e as sentenças são transformadas em notações simbólicas precisas, compactas e não ambíguas. LÓGICA DO RAZOÁVEL É um dos métodos mais modernos no que diz respeito à lógica, utilizado frequentemente no julgamento de processos. Consiste em um conceito lógico baseado em algo justo e razoável, ou seja, imparcial e correto. É fundamentada sempre em características sociais, econômicas e legais do problema posto em discussão. O Direito não tem como acompanhar o ritmo de relações que ocorrem normalmente na sociedade com a mesma velocidade. Assim, não será mais admissível que o legislador possa pensar em normas que definam de forma precisa, certos pressupostos e condutas e consiga antever suas consequências num sistema fechado. Um sistema sem mobilidade pode até conferir mais segurança às relações jurídicas, mas pode mais facilmente trazer injustiças. Os princípios gerais de direito são regras de conduta que norteiam a atividade jurisdicional no momento da interpretação da norma ou do negócio jurídico. Auxiliam o magistrado no preenchimento das lacunas e estão inclusive explicitados na Lei de Introdução ao Código Civil e no Código de Defesa do Consumidor. Deste modo, cláusulas gerais são normas orientadoras sob a forma de diretrizes para o juiz. Ao mesmo tempo em que o vinculam, dão-lhe liberdade de decidir. São formulações de caráter genéricas e abstratas, distintas dos conceitos legais indeterminados, pois estes já contêm a solução pré-estabelecida. Nas cláusulas gerais, o julgador encontra campo para formular a solução que lhe parecer mais correta, concretizando os princípios gerais de Direito e da razoabilidade. O legislador opera com valorações sobre situações reais ou hipotéticas, em termos gerais e abstratos, de forma que o essencial em sua obra não reside no texto da lei, mas nos juízos de valor adotados como inspiradores da regra de Direito. A estimativa jurídica informa ao intérprete sobre quais são os valores cujo cumprimento deve ou não ser perseguido pelo Direito, tais como justiça, dignidade da pessoa humana, liberdades fundamentais do homem, segurança, ordem, bem-estar geral e paz. Mas há outros que podem ser englobados no conceito do que tradicionalmente se denomina prudência: sensatez, equilíbrio, possibilidade de prever as consequências da aplicação da norma, entre vários interesses contrapostos, legitimidade dos meios empregados para atingir fins justos, etc. A Lógica do Razoável está sempre impregnada por valorações, ou seja, critérios axiológicos. Esta característica valorativa é totalmente estranha à lógica formal ou qualquer teoria da inferência, constituindo um dos aspectos que, definitivamente, distingue a lógica do razoável da lógica matemática. Existem outros setores que pertencem igualmente à lógica, que possuem natureza completamente diversa da lógica do racional, que é a lógica dos problemas humanos de conduta prática, a “lógica do razoável”. O complexo de notações normativas e não-normativas reunidas no contexto de um processo decisório constitui ponto de apoio para uma decisão: a) Argumentos trazidos na dialogia do pro0cedimento, expandindo o leque de hipóteses interpretativas possíveis da matriz normativa; b) Aspectos psicológicos emanados da formação do agente decisório, de sua consciência de julgador, de suas influências, de sua vulnerabilidade; c) Informações sociológicas, jornalísticas ou técnicas trazidas pelo auxílio de outros profissionais ou técnicos que desenvolvem atividades judiciais (peritos, psicólogos, assistente social, técnico contábil, médico legista); d) d) Normas jurídicas ou preceitos que cumpram o papel de resolução da querela processual, pois na ausência da norma jurídica, o costume, a equidade, os princípio podem integrar a falta da norma escrita. e) e) Descrições fáticas situacionais presenciadas por terceiros ou trazidas por relatos pelas partes. f) f) Orientações jurisprudenciais, normas de serviço, forças políticas e corporativas,orientações técnicas internas; g) g) Valores sócio-culturais majoritários ou que não se agregam à consciência e ao entendimento do agente decisório como cidadão e homem social. Nas cláusulas gerais, o julgador encontra campo para formular a solução que lhe parecer mais correta, concretizando os princípios gerais de Direito e da razoabilidade. Para uma melhor colocação do tema proposto, impende trazer à colação dois exemplos sobre o fracasso da lógica formal e a necessidade do “razoável” na interpretação do Direito. Para isto, relata-se um caso no qual, em uma estação ferroviária da Polônia, havia um cartaz proibindo a entrada de pessoas acompanhadas de cachorros. Sucede-se, entretanto, que certa vez chegou àquele recinto, um homem acompanhado de um urso. Ato contínuo, o empregado que vigiava a porta lhe impediu o acesso. O indivíduo protestou, afirmando que o regulamento transcrito no cartaz proibia somente cachorros, mas não outra classe de animais. Surgiu então um conflito em torno da interpretação daquele regulamento. Não resta a menor dúvida que se aplicarmos estritamente os instrumentos da lógica tradicional, teremos que reconhecer que à pessoa acompanhada de um urso era dado o direito de adentrar ao recinto. Também o leigo, e não somente o jurista, haverá de concordar como era descabida esta interpretação, dada a finalidade para qual a norma foi elaborada, qual seja, a segurança dos visitantes daquele ambiente. Disto resulta que somente a lógica tradicional, não contendo caracteres valorativos não é suficiente. Requer-se portanto, razões diferentes do racional de tipo matemático, porque a razão não se exaure no campo tradicionalmente conhecido como racional, uma vez que existem outros campos, diferentes, como o razoável, o logos do humano. À vista daquela proibição contida no cartaz já mencionado, podemos afirmar com segurança que a razão de sua elaboração está intimamente ligada à ideia de que, ainda que em alguns casos tratem-se de cães dóceis, estes podem tornar-se perigosos conforme a situação. Demais disto, ainda existe certamente a preocupação com o barulho, sujeira, zoonoses e mais uma série de fatores conexos. Neste diapasão, maior risco correriam as pessoas se lá adentrassem ursos, o que resulta dizer que a validade das normas jurídicas positivas estão necessariamente condicionadas pelo contexto “situacional” em que se produziram e para o qual se produziram. A lógica formal não esgota a totalidade do “logos”, da razão, é apenas um setor dela. Existem outros setores que pertencem igualmente à lógica, que possuem natureza completamente diversa da lógica do racional, que é a lógica dos problemas humanos de conduta prática, a “lógica do razoável”. As leis não se aplicam sozinhas, decorrente de um mecanismo intrínseco que elas tivessem, pois nem remotamente existe tal mecanismo. As leis têm seu âmbito de império, dentro do qual figura um aspecto material, relativo ao conteúdo, ou seja, cada norma jurídico-positiva se refere a uns determinados tipos de situações, de assuntos, de fatos ou de negócios jurídicos, sobre os quais trata de produzir especiais efeitos; efeitos que o legislador, portanto, autor da norma, considerou justo, adequado e pertinente. Deve haver alguém que declare qual é a norma aplicável ao caso concreto, como é aplicável esta norma e com qual alcance. Este alguém é o juiz, na sua função interpretativa e agora privilegiado com ascláusulas gerais, com os conceitos legais indeterminados e conceitos legais indeterminados pela função. A LÓGICA DO RAZOÁVEL E A INTERPRETAÇÃO A interpretação das normas jurídicas incluem a referência a princípios axiológicos e a critérios valorativos, os quais muitas vezes não estão expressos no texto da lei, o que resulta dizer, que um ordenamento jurídico positivo não tem como funcionar, atendendo-se única e exclusivamente ao que nele está Formulado. Torna-se mister recorrer a princípios ou critérios, que embora não formulados explicitamente, são necessários, na medida em que o texto legal deva ser interpretado em função do propósito para o qual fora emitido, sempre com relação ao sentido e o alcance dos fatos particulares em relação à norma. Desta forma, a interpretação apenas literal, além de absurda, torna-se sem sentido, pois se está buscando uma interpretação, esta nunca poderá ser literal, ainda que realcemos a importância do caráter semântico como elemento facilitador de acesso à correta via de interpretação. A LÓGICA DO RAZOÁVEL E A FUNÇÃO LEGISLATIVA Na atividade de elaboração da norma, o legislador tem diante de si um enorme leque de opções e, por certo, deve escolher a que melhor se ajuste aos propósitos eleitos, no sentido de melhor adequação ao fato social gerado no seio da sociedade, que “requeira” e que justifique a sua formulação. O termo “requerer” está intimamente ligado àquela crítica de que o legislador, em várias situações, estaria apartado da realidade. A LÓGICA DO RAZOÁVEL E A FUNÇÃO JURISDICIONAL O legislador opera com valorações sobre os tipos de situações reais ou hipotéticas, valorações sobre gêneros ou espécies de situações, enquanto o Juiz, na sua atividade jurisdicional, completa a obra do legislador. Isto porque em vez de avaliar os tipos de situações em termos de gênero e espécie, avalia as situações individuais em termos concretos. Torna-se evidente então a incontestável diferença entre a operação do julgador e a do legislador, pois o essencial na atividade do primeiro não é necessariamente o texto da lei. A LÓGICA DO RAZOÁVEL E A EQUIDADE A equidade deve ser considerada em toda extensão possível do termo e liga-se a três acepções intimamente correlacionadas: a) latíssima, o princípio universal da ordem normativa, a razão prática extensível a toda conduta humana como religiosa, moral, social, jurídica e outras, que configura-se como uma suprema regra de justiça a que os homens devem obedecer; b) lata, confundindo-se com a ideia de justiça absoluta ou ideal, com os princípios de Direito, com a ideia do Direito, com o Direito natural em todas as suas significações; c) estrita, o ideal de justiça enquanto aplicado, ou seja, na interpretação, integração, individualização judiciária, adaptação, etc. Sendo, nessa acepção empírica, a justiça no caso concreto. Desta forma, a interpretação deve operar-se dentro de critérios de razoabilidade, de sorte que o Direito seja interpretado com vistas à realidade, para atingir seu objetivo: regular comportamentos sociais. O Direito não deve se ocupar dos homens, mas da sua conduta. “Eu não recearia muito as más leis se elas fossem aplicadas por bons juízes. Não há texto de lei que não deixe campo à interpretação. A lei é morta. O magistrado vivo. É uma grande vantagem que ele tem sobre ela.” (Anatole France) In: www.mundojuridico.adv.br
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