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3- Apostila Segunda

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Profº. Ms. Flawbert Farias Guedes Pinheiro
flawbertguedes@ig.com.br
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PRINCÍPIOS E NORMAS CONSTITUCIONAIS DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR
(PROPOSTA DE SUPRESSÃO EM RAZÃO DA SUPERPOSIÇÃO COM DIREITO CONSTITUCIONAL)
 Os princípios exercem uma função importantíssima dentro do ordenamento jurídico-positivo, já que orientam, condicionam e iluminam a interpretação das normas jurídicas em geral.
 Embora os princípios e as normas tenham a mesma estrutura lógica, aqueles têm maior pujança axiológica do que estas. São, pois, normas qualificadas, que ocupam posição de destaque no mundo jurídico, orientando e condicionando a aplicação de todas as demais normas.
 Na lição de BANDEIRA DE MELO, 1994, p. 451:
“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comando. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade. Conforme o escalão do princípio atingido, pode representar insurgência contra todo o sistema jurídico”.
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A doutrina e a jurisprudência tendem a considerar possível a aplicação dos Princípios Constitucionais em questões de consumo, tendo em vista se tratar de matéria de ordem constitucional, pública e de interesse social. Dentre eles, destacamos:
 A Dignidade da Pessoa Humana 
No art. 1º da CF/88 a dignidade aprece como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, que funciona como princípio maior para a interpretação de todos os direitos e garantias conferidos às pessoas no texto constitucional. Isto porque todo ser humano tem dignidade só pelo fato de ser pessoa.  
O professor jus-ambientalista brasileiro Fiorillo, citado por NUNES (2005), utilizou a expressão “mínimo vital”, para definir, em suma, o que seria o princípio da dignidade humana.
Diz o professor que, para começar a respeitar a dignidade da pessoa humana, tem-se de assegurar concretamente os direitos sociais previstos no art. 6º da Carta Magna, que por sua vez está atrelado ao caput do art. 225, que assim dispõe:
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Art. 6º. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
 
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
É forçoso, pois, reconhecer que não há como falar em dignidade se esse mínimo não estiver garantido e implementado concretamente na vida das pessoas.
Como é que se poderia imaginar que qualquer pessoa teria sua dignidade garantida se não lhe fosse assegurada saúde e educação? Se não lhe fosse garantida sadia qualidade de vida, como é que se poderia afirmar sua dignidade?
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 O direito à Vida é outro princípio constitucional
Quando se fala em direito a vida, é preciso entender que a constituição está falando em vida digna, já que a dignidade é o fundamento mais importante, como primeira e última garantia das pessoas (art. 1º, inciso III, da CF/88).
A garantia a uma vida digna deverá ser acompanhada da garantia da qualidade de vida. Daí, ser o direito a vida o primeiro direito básico do consumidor, previsto no art. 6º, inciso I, do CDC, in verbis:
Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:
I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
(...)
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 Direito à Intimidade, Vida Privada, Honra e Imagem
Esses princípios, previstos no art. 5º, inciso X, da Carta Política de 1988, refletem diretamente nas relações de consumo, posto que o Código de Defesa do Consumidor traz como um dos direitos básicos do consumidor, a efetiva prevenção e reparação dos danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (art. 6º, inciso VI, do CDC).
 A informação
A Informação é um princípio constitucional de enorme relevância no que diz respeito às relações de consumo, sobretudo e, tendo em vista ser ela o ponto de partida para toda e qualquer aquisição de produtos ou contratação de serviços.
A informação aparece em vários dispositivos do CDC, como por exemplo, nos artigos 4º, IV; 6º, III, 31, 36, parágrafo único e 44, este último servindo inclusive, como instrumento essencial de defesa e orientação dos consumidores.
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Além de ser um direito básico do consumidor, a informação aparece em vários dispositivos do CDC, como por exemplo, nos artigos 4º, IV; 6º, III, 31, 36, parágrafo único e 44, este último servindo inclusive, como instrumento essencial de defesa e orientação dos consumidores.
 Dos Princípios Constitucionais da Atividade Econômica, previstos no art. 170, da CF, destaca-se o da Livre Concorrência
Livre Concorrência
Sem dúvida, uma garantia do consumidor e do mercado. A sua essência consiste em que ela tem de oferecer ao consumidor produtos e serviço melhores do que os de seu concorrente, sempre procurando uma melhor qualidade ao lado do melhor preço.
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 A liberdade
Em relação ao consumidor, a liberdade que o texto lhe garante é a prevista no art. 1º do Texto Constitucional, um dos objetivos da República Brasileira. Ou seja, o Estado brasileiro tem entre seus objetivos, o de assegurar que a sociedade seja livre. Isso significa que, concretamente, no meio social, dentre as várias ações possíveis, existe a de que a pessoa designada como consumidora seja livre.
Por essa razão, é que o Estado deverá intervir, seja na produção, seja na distribuição de produtos e serviços. Não apenas para garantir essa liberdade, mas também para regular aqueles bens que, essenciais às pessoas, elas não possam adquirir por falta da capacidade de escolha.
 O princípio da Justiça Real 
Previsto no art. 3°, inciso I, da CF/88, estabelece ser objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
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O objetivo da sociedade, entendida como uma nação ou comunidade, é a busca da paz e da harmonia social. As normas jurídicas são o instrumento para que tal fim seja atingido. E esse objetivo só será alcançado numa sociedade justa.
A Isonomia sem dúvida coloca a questão da igualdade de todos perante a lei, a partir da norma do caput do art. 5° da Constituição Federal, que assim dispõe: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
Esse Princípio é representado por uma determinação obrigatória ao intérprete e ao aplicador, que devem seguir todos os esforços possíveis a fim de obter a igualdade como resultado prático de seu mister.
NUNES, 2005, p. 32, cita um caso típico de discriminação ao consumidor: o sucesso do filme “Titanic”, ganhador de vários prêmios Oscar, levou, durante semanas, milhares de pessoas às salas de cinema. A procura era tamanha que o público tinha que chegar mais de três horas antes do início de cada sessão. 
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Era um enorme esforço. Mas, ao que tudo indica, os consumidores não se importavam. 
Acontece que, os exibidores firmaram um contrato com os administradores do cartão de crédito Diners Club que permitia que seus usuários pudessem adquirir os ingressos para assistir ao filme sem pegar fila. Foi um verdadeiro “fura-fila”. 
Esses consumidores privilegiados passaram a gozar de direito não oferecido aos demais. Isso porque somente podiam comprar por telefone os portadores do indigitado cartão de crédito. 
Não resta dúvida, de que aquela prática era ilegal, na medida em que feria o princípio de isonomia previsto na Carta Magna.
Com efeito, utilizando-se dos critérios
acima elencados, percebe-se que a discriminação do exibidor não poderia ser efetuada, uma vez que não tem correspondência lógica com o tratamento jurídico de maneira diferenciada (o que os portadores do cartão têm para serem mais bem tratados que os demais que ficam na fila?). 
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Não há, ainda, qualquer afinidade dessa correlação com os valores protegidos pelo ordenamento constitucional (só se justifica o tratamento diferenciado em questão de consumo desse tipo quando o consumidor protegido merecer o tratamento favorável: por exemplo, atendimento privilegiado para idosos e mulheres grávidas). 
O fato de alguns consumidores, dentre muitos, serem portadores de um cartão de crédito específico, não pode ser motivo legitimador da discriminação.
É patente a violação ao princípio da igualdade quando fatos, como o exemplo supracitado, são mostrados, demonstrando claramente como o consumidor deve ser efetivamente protegido de práticas que, sem dúvida, ofendem a honra e a dignidade de qualquer pessoa.
De tudo que foi dito, pode-se concluir que a defesa de princípios constitucionais na aplicação em contendas consumeristas é o mais novo desafio que o operador do direito vai ter que encarar, sempre com vistas à vulnerabilidade técnica, econômica e jurídica do consumidor.
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Entrementes, não se pode olvidar da importância do Código de Defesa do Consumidor – CDC, nas relações de consumo, instrumento jurídico de fundamental importância para a aplicação da justiça social e da busca do equilíbrio e da harmonia nas relações de consumo.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR: UMA LEI PRINCIPIOLÓGICA
As legislações contemporâneas que tutelam os direitos fundamentais costumam ser estruturadas através de proposições principiológicas. 
O art. 4º do CDC, ao prescrever o objetivo da Política Nacional de Relações de Consumo, afigura–se como referencial para a interpretação de todo o arcabouço normativo do Código de Defesa do Consumidor, visto que, mediante a compreensão dos princípios jurídicos catalogados no art.4º, o hermeneuta logra apreender os fins maiores que imantam a legislação consumerista. Nesse sentido, é pois, que o CDC é considerado uma lei principiológica.
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O CDC antes de tratar da Política Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor, trata da Política de Relações de Consumo, apresentando os objetivos e princípios que devem nortear o setor. 
POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE 
CONSUMO E SEUS PRINCÍPIOS
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Os objetivos da Política Nacional de Relações de Consumo estão inseridos no art. 4º do CDC.
Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo,
atendidos os seguintes princípios:
Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor (art. 4º, I)
A doutrina aponta três tipos de vulnerabilidade do consumidor, quais sejam:
Técnica – O consumidor não possui conhecimentos específicos sobre o objeto que está adquirindo, tanto no que diz respeito às características do produto quanto no que diz respeito à utilização do produto ou serviço;
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2) Jurídica – reconhece o legislador que o consumidor não possui conhecimentos jurídicos, de contabilidade ou de economia;
3) Fática (ou socioeconômica) – baseia-se no reconhecimento de que o consumidor é o elo fraco da corrente, e que o fornecedor encontra-se em posição de supremacia, sendo o detentor do poder econômico.
A hipossuficiência é outra característica do consumidor, mas não se confunde com a vulnerabilidade. Para o Código de Defesa do Consumidor, todos os consumidores são vulneráveis, mas nem todos são hipossuficientes. 
A hipossuficiência pode ser econômica, quando o consumidor apresenta dificuldades financeiras, aproveitando-se o fornecedor desta condição, ou processual, quando o consumidor demonstra dificuldade de fazer prova em juízo. 
Esta condição de hipossuficiente deve ser verificada no caso concreto, e é caracterizada quando o consumidor apresenta traços de inferioridade cultural, técnica ou financeira.
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b) Princípio do Dever Governamental
II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:
por iniciativa direta;
por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;
pela presença do Estado no mercado de consumo;
pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.
Exemplo bastante conhecido são os PROCONS.
c) Princípio da Harmonização dos Interesses e da Garantia de Adequação
O objetivo da Política Nacional das Relações de Consumo deve ser a harmonização entre os interesses dos consumidores e dos fornecedores, compatibilizando a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico com a defesa do consumidor. Com isso, o CDC não pode servir como bloqueio ao incentivo de novas pesquisas e tecnologias e nem como obstáculos para o desenvolvimento econômico, consequentemente. 
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III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores.
 O equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores
Por ser o consumidor a parte mais vulnerável na relação de consumo, deve a busca pela igualdade nortear o legislador na hora de criar leis e o magistrado na hora de interpretá-las e aplicá-las.
 Boa-fé
Dever de conduta de ambas as partes que devem agir com lealdade, ética e confiança, na fase pré-contratual, durante a execução do contrato e após o seu encerramento, protegendo as expectativas tanto do consumidor quanto do fornecedor. 
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Podemos dizer, ainda, que a boa-fé está ligada a três deveres:
 Dever de informação – A relação contratual deve se mostrar clara entre as partes. O fornecedor tem o dever de informar ao consumidor todas as características sobre o produto ou serviço. È com base nesse dever que, por exemplo as cláusulas escritas em letras minúsculas e em cores claras, visando o cansaço da leitura são consideradas nulas.
 Dever de cooperação – O fornecedor deve cooperar com o consumidor para que esse possa adimplir com o seu contrato. Ex.: Nos contratos bancários as instituições financeiras não devem ficar inertes, espe3rando que a dívida atinja patamares astronômicos, deve contactar o consumidor em dificuldades e ajudá-lo com mecanismos que possam facilitar o seu adimplemento contratual. 
 Dever de proteção – Ligado ao princípio da segurança, impondo ao fornecedor a preservação da integridade do consumidor e de seu patrimônio, pois, quando violados, acarretará danos materiais e/ou morais. 
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Quanto ao caráter interpretativo e sua função controladora, o juiz deve interpretar as cláusulas de forma a retirar sempre aquelas de caráter maliciosas e individualistas, visando coibir qualquer abuso do direito subjetivo, limitando condutas e práticas comerciais abusivas.
Visualizamos, ainda, o Princípio da Segurança, no qual o consumidor possui o direito básico à proteção de sua vida e saúde. Dessa forma, não pode o fornecedor colocar no mercado produtos ou serviços que ofereçam riscos ao consumidor. Caso isso ocorra, os riscos devem ser claramente advertidos ao consumidor, inclusive de forma pormenorizada, com orientações seguras de como minimizar esses riscos.
d) Princípio da Educação e Informação dos Consumidores (Art. 4º, IV)
Cabe ao Estado e às Instituições de Defesa do Consumidor educar e informar o consumidor acerca dos seus direitos, com vistas à melhoria do mercado de consumo, e, com isso, criar-se-ia uma sociedade mais
justa e equilibrada, uma vez que isso se trata de um dos objetivos da República Federativa do Brasil (Art. 3º, I, da CF/88).
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e) Princípio do Incentivo ao Autocontrole (ou Controle de Qualidade e Mecanismos de Atendimento pelas Próprias Empresas) (Art. 4º, V)
O Estado deve incentivar os fornecedores a tomarem medidas para solução de eventuais conflitos, visando assim maior proteção ao consumidor. É com base nisso que as empresas devem sempre manter um controle qualitativo em seus produtos e serviços juntamente com o atendimento aos consumidores.
f) Princípio da Coibição e Repressão de Abuso no Mercado (Art. 4º, VI)
Tal Princípio visa proteger a Ordem Econômica, possibilitando uma concorrência leal, a fim de evitar o monopólio do mercado, para que não haja abusividade perante o consumidor.
As Leis 4.137/62 e 8.884/94 criaram o CADE, que tem por finalidade a prevenção e repressão às infrações contra a ordem econômica, orientada pelos ditames constitucionais de liberdade de iniciativa, livre concorrência, função social da propriedade, defesa dos consumidores e repressão ao abuso do poder econômico.
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g) Princípio da Racionalização e Melhoria dos Serviços Públicos (Art. 4º, VII)
O consumidor tem o direito de exigir serviços públicos efetivos com qualidade e segurança.
h) Princípio do Estudo das Modificações do Mercado (Art. 4º, VIII)
O estudo dessas modificações visa evitar que as normas fiquem ultrapassadas e, consequentemente, sem eficácia.
i) Princípio do Acesso à Justiça no CDC:
 O Foro competente é o do consumidor (Art. 101, I, do CDC).
Inversão do ônus da Prova (Art. 6º, VIII, do CDC) – Verossimilhança da alegação ou hipossuficiência do consumidor. Cabe ao fornecedor a obrigação de produzir as provas.
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 Ações coletivas (Art. 81 e segs., do CDC).
Proibição de Denunciação da Lide (Art. 88 do CDC) – A fim de evitar o retardo na prestação jurisdicional.
Outros mecanismos de efetivação da política nacional de consumo são (Art. 5º do CDC):
 Assistência jurídica integral e gratuita às pessoas hipossuficientes.
 Órgãos de Promotorias de Justiça e Defesa do Consumidor.
Delegacias de Polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo.
Juizados Especiais e Varas Especializadas para a solução de litígios decorrentes da relação consumo etc. 
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