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Elaboração da primeira LDB: contexto histórico e político

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Disciplina: Políticas Públicas e Organização da Educação Básica
Aula 3: O sentido da Lei nº. 4024/61: a elaboração da primeira
Lei de Diretrizes e Bases
Apresentação:
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo capitalista produziu duas tendências
importantes. Por um lado, verificamos a expansão dos mercados, especialmente o
mercado mundial de mercadorias, sob hegemonia e a pressão do mercado norte-
americano. Por outro lado, foi o período de crescimento do Estado, de forma
diferenciada, na Europa e no restante do mundo. A isto, na Europa Ocidental e na
América do Norte, damos o nome de Estado de bem-estar social.
Segundo Wood (2001:12), “o capitalismo é um sistema em que os bens e serviços,
inclusive as necessidades mais básicas da vida, são produzidas para fins de troca
lucrativa; em que até a capacidade humana de trabalho é uma mercadoria à venda
no mercado; e em que todos os agentes econômicos dependem do mercado, os
requisitos da competição e da maximização do lucro são as regras fundamentais da
vida (...). Acima de tudo, é um sistema em que o grosso do trabalho da sociedade é
feito por trabalhadores sem posses, obrigados a vender sua mão-de-obra por um
salário, a fim de obter acesso aos meios de subsistência”.
Objetivos:
Compreender que a primeira LDB foi o resultado dos embates entre setores
antagônicos da sociedade brasileira; 
Identificar e caracterizar as duas fases da elaboração da lei de diretrizes e
bases; 
Analisar o contexto histórico em que se desenrolam os debates para a
construção da lei de diretrizes e bases.
Elaboração do método científico
 Assembleia Constituinte de 1946 | Fonte:
marceloauler.com
Você está lembrado da aula passada? Pois então, naquele momento você foi
convidado a fazer um passeio histórico sobre a presença da educação nas
Constituições.
Nesta aula voltaremos a falar sobre o tema da Constituição de 1946 para que
possamos aprofundar o nosso debate sobre o processo que desencadeou a
elaboração da Lei 4024/61, que foi a primeira LDB que o Brasil produziu.
Esse momento histórico foi marcado pelo fim do governo de Getúlio Vargas, entre os
anos de 1930 e 1945 (caracterizado em seus últimos sete anos pela ditadura do
Estado Novo). Instalou-se, em decorrência, um processo de democratização da
sociedade, com novos partidos se organizando e a elaboração de uma constituição
que representasse essa nova fase política.

Saiba mais
A título de curiosidade, no vídeo a seguir, você verá cenas do “exílio voluntário”
de Getúlio Vargas após sua saída do poder, bem como o tom “pomposo” pelo
qual o narrador trata o então senador Getúlio. Mais tarde, ele voltaria ao poder.
Os resultados
A retomada de práticas democráticas, sobretudo as parlamentares, permitiu um
alongado debate sobre a legislação educacional do país. Nesse texto constitucional
ficara determinado, entre outras questões, como já vimos anteriormente, que a
educação era entendida como um direito de todos.
Vamos ver o trecho da lei?
Art. 5º
Compete à União:
(...)
XV - legislar sobre:
(...)
d) diretrizes e bases da educação nacional;
O processo de elaboração
A elaboração da primeira LDB que o Brasil conheceu demorou muitos anos. Na
verdade, esse processo pode ser dividido em dois períodos, que corresponderam a
discussões e polêmicas bem distintas.
Uma primeira fase caracterizou-se pelo conflito partidário entre dois políticos, cujas
trajetórias sempre estiveram vinculadas à educação.
De um lado encontrava-se o Ministro do governo ora no poder, o Sr. Clemente Mariani
(foto). Mariani era filiado à UDN (União Democrática Nacional), partido ligado a
setores conservadores, articulado às classes média e alta do país e à burguesia
internacional, e de oposição às forças de Vargas.
E do outro lado o ex-Ministro da Educação do Estado Novo, Deputado Gustavo
Capanema (foto), filiado ao PSD (Partido Social Democrático), apoiado pelas forças
getulistas. 
O Ministro Mariani representando os interesses do governo, apresentou um projeto
que possuía características descentralizadoras, que se chocou com os argumentos do
deputado Gustavo Capanema, que propunha um sistema de ensino centralizador. O
deputado redigiu um parecer que acabou por levar o projeto ao arquivamento.
Essa disputa político-partidária adiou por alguns anos a
discussão, que foi retomada efetivamente em 1957, quando da
apresentação em plenário do projeto de lei conhecido como
“Substitutivo Lacerda”.
Segundo período
Outra fase dessa longa trajetória de elaboração da LDB se iniciou. O debate, naquele
momento, girou em torno da questão das verbas públicas. Vamos ver como foi?
O Deputado Carlos Lacerda (foto), que deu nome ao projeto, encampou a proposta
dos representantes das escolas particulares. sobretudo os colégios confessionais, que
sob o lema da liberdade do ensino, defendiam os interesses privatistas, reivindicando
a aplicação de recursos públicos para a manutenção tanto de escolas públicas quanto
de particulares.
De outro lado, em torno da defesa de verbas públicas exclusivamente para escolas
públicas. se colocaram educadores e intelectuais, como Anísio Teixeira (foto),
Fernando de Azevedo, Florestan Fernandes, entre outros. Eles chegaram a articular e
publicar um outro Manifesto de Educadores, em 1959, intitulado "Mais uma vez
convocados". O famoso documento recuperou em parte as ideias presentes no
movimento de 1932, defendendo, destacadamente, a obrigatoriedade e a gratuidade
do ensino primário.
A primeira lei de diretrizes e bases
O texto final, aprovado pelo Congresso Nacional em 1961, representou em parte a
vitória dos setores privatistas, pois a lei (através de alguns mecanismos) permitia a
transferência para as escolas particulares de recursos públicos, contrariando a
proposta da "Campanha em defesa da Escola Pública".
A lei instituía a educação como um direito de todos e estruturava o ensino em:

Saiba mais
A estrutura do ensino instituída pela Lei n°. 4024/61 preservou a organização
tradicional da educação brasileira:
ENSINO PRÉ-PRIMÁRIO — formado por escolas maternais e jardins de
infância;
ENSINO PRIMÁRIO — de frequência obrigatória, curso de 4 anos,
podendo chegar a 6 anos;
ENSINO MÉDIO — compunha-se de duas fases: o ginásio em 4 anos. e o
colegial em 3 anos, que correspondiam ao ensino secundário e o técnico
(agrícola. comercial, industrial e normal).
Artigo 2º

Art. 2° A educação é direito de todos e será dada no lar e na
escola. 
Parágrafo único. À família cabe escolher o gênero de
educação que deve dar a seus filhos.
Lei n°. 4024/61
Artigo 3º

O direito à educação é assegurado: 
I - pela obrigação do poder público e pela liberdade de
iniciativa particular de ministrarem o ensino em todos os
graus, na forma da lei em vigor. 
II - pela obrigação do Estado de fornecer recursos
indispensáveis para que a família e, na falta desta, os demais
membros da sociedade se desobriguem dos encargos da
educação, quando provada a insuficiência de meios, de modo
que sejam asseguradas iguais oportunidades a todos.
Lei n°. 4024/61
A LDB tinha como seus principais títulos os seguintes:
Dos fins da educação
O desenvolvimento e formação do cidadão para a vida em sociedade, em uma
perspectiva democrática de acordo com o momento histórico.
Do direito à educação
Estabeleceu-a como um direito de todo cidadão cabendo à família a escolha do
tipo de educação a ser oferecida.
Da liberdade de ensino 
Todos tinham direito a transmitir seus conhecimentos.
Da administração do ensino 
Afirmou que cabia ao MEC exercer as atribuições do poder público federal, e
atribuiu competências ao Conselho Federal.
Da administração do ensino 
Afirmou que cabia ao MEC exercer as atribuições do poder público federal, e
atribuiu competências ao Conselho Federal.
Dos sistemas de ensinoCriou os sistemas de ensino federal, estaduais e municipais.
Dos recursos para a educação 
Instituiu que os recursos seriam aplicados preferencialmente nas escolas
públicas, abrindo espaço para o setor privado.
Referências
Shiroma, Eneida. Política educacional. Rio de Janeiro: DP&A, 2007.
Santos, Clovis R. Educação escolar brasileira: estrutura, administração, legislação.
2ªed. São Paulo: Thomson Pioneira, 2003.
SAVIANI, Dermeval. Política e educação no Brasil: o papel do Congresso Nacional
na legislação de ensino. 5ªed. Ver. Campinas: Autores Associados, 2002. p. 107- 129.
Libâneo, José C., Oliveira, J.F., Toschi, Mirza S. Educação escolar: políticas,
estrutura e organização. S.P.: Cortez, 2003.
Próximos Passos
Reformas educacionais introduzidas pelos governos militares, destacando os
objetivos e as características das mudanças.
Explore mais
SAVIANI, Dermeval. Política e Educação no Brasil: o papel do congresso nacional
na legislação de ensino. 5ªed. Ver. Campinas: Autores Associados, 2002. Pp. 31-
49.

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