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Caso: JM, sexo masculino, 54 anos, bancário che- ga em seu consultório com a queixa de distensão ab- dominal intensa após a maioria das refeições. Há dois anos teve o diagnóstico de colite ulcerativa, e vem fazendo tratamento com medicação, mas está em remissão e não utilizando-o atualmente, por orientação médica. Não teve orientações sobre alimentação para manutenção, apenas na fase aguda da patologia, feita pela nutricionista da clínica em que se tratava. Aplicando o questionário de sinais e sintomas, observamos a presença de: • Obstrução nasal eventual; • Pouca energia (indisposição, cansaço); • Cefaléia freqüente, porém não severa; • Flatulência, evacuação irregular (quanto à consistência e formas); • Eructação abundante após o almoço, em especial, mas não exclusivamente. Alimentação habitual: Como a Nutrição Funcional por meio do programa (4 R’s) trataria o caso? Tarefa 1: Explicar para o paciente JM o que está acontecendo com ele e por que apresenta esses sintomas: A colite ulcerativa é uma doença inflamatória intestinal e sua origem exata não é conhecida. Apesar disso, a teoria mais atual para explicá-la inclui fatores genéticos, infecciosos e imunológicos como possíveis elementos na sua causa. Em geral, 80% dos pacientes conseguem “calar” a doença com o tratamento medicamentoso (através do uso de antiinflamatórios como a sulfasalazina ou mesalazina, de corticosteróides e/ou imunossupressores como azatioprima, ciclosporina e metotrexato), enquanto 20% necessitam se submeter à cirurgia para conter o problema 2,3. Apesar de atualmente o Sr. estar em uma fase de remissão, isto é, sem manifestações da doença, deve lembrar-se que passou por um tratamento medicamentoso bastante agressivo, processo que gerou grande nível de estresse oxidativo orgânico (formação de radicais livres, moléculas que danificam nossas células), agredindo e debilitando o seu organismo através da utilização de suas reservas de nutrientes, além de sua capacidade de reposição pela alimentação. O cuidado nutricional que lhe foi recomendado na fase aguda da doença inflamatória (orientado pela nutricionista na ocasião), desempenhou papel fundamental na sua recuperação nutricional. O Sr. estava debilitado pelo quadro inflamatório e pela diarréia, mas agora na fase de remissão deveremos instituir um novo modelo alimentar, mais adaptado a sua nova condição, a fim de evitar uma nova recaída. A Nutrição Funcional oferece um enfoque diferenciado, pois o tratamento é individualizado de acordo com suas características peculiares. O foco principal será o de manter o equilíbrio dos seus órgãos e não simplesmente o tratar os sintomas da patologia. Agiremos também na prevenção do surgimento de outras doenças 4,5. Partindo das queixas relatadas, entre elas a distensão abdominal (queixa principal), flatulência, evacuações irregulares e eructações abundantes após o almoço (principalmente), observamos que seu sistema digestório continua comprometido, não desempenhando adequadamente suas funções de digestão e absorção. Este problema nas funções básicas nos leva a crer que os nutrientes não estão chegando até suas células, deixando o organismo sem energia (o que explica sua sensação de indisposição e cansaço) comprometendo assim todas as funções de seu organismo, incluindo a recuperação do próprio intestino! Na verdade muitos destes sintomas estão originados nestas disfunções do seu intestino. Muito provavelmente o Sr. desconhece que cerca de 20% das células intestinais são células imunológicas e que cerca de 50 a 75% dos sinais que ativam o sistema imunológico provém do intestino6. Inicialmente lhe expliquei que um dos fatores que podem causar a colite ulcerativa tinha a ver com o sistema imunológico, daí a sua grande correlação com o próprio intestino. O estresse gerado por fatores ambientais e emocionais também poderá interferir na função de seu intestino pela ação de um hormônio chamado cortisol, da seguinte forma: • Diminui a produção de muco protetor que reveste o intestino, diminuindo a proteção da mucosa e a adesão dos probióticos, “bactérias benéficas” ao intestino. • Diminui a irrigação sangüínea da mucosa e assim diminuindo o aporte de O2 e nutrientes; • Altera a movimentação do intestino (diminui ou aumenta o funcionamento intestinal); • Diminui a imunidade, reduzindo a defesa intestinal contra agressores; Aumentando assim a ocorrência de infecções crônicas intestinais (e também extra-intestinais como será explicado mais adiante). Existe uma associação entre as doenças inflamatórias intestinais 7,8 e certos microorganismos que podem estar habitando seu intestino, gerando a instalação do quadro chamado disbiose. De maneira simplista definimos disbiose como “o desequilíbrio entre microorganismos benéficos e maléficos gerando uma situação desfavorável à saúde do ser humano”. (Obs: Para explicar ao paciente, é possível fazer um paralelo entre disbiose vs . equilíbrio do ecossistema na natureza). Nas doenças inflamatórias intestinais há um aumento generalizado no ataque contra as bactérias que normalmente habitam nosso intestino, e acredita-se que isto tenha muita importância no desenvolvimento da doença 9. Havendo a disbiose, gera-se um desequilíbrio no organismo pelos seguintes mecanismos: • Destruição das vitaminas, tornando o senhor cansado; • Inativação de enzimas digestivas, prejudicando a digestão e induzindo a fermentação = distensão abdominal; • Desconjugação de sais biliares, comprometendo a digestão e absorção de gorduras; • Desidroxilação de ácidos biliares primários em secundários, potencialmente cancerígenos e irritantes da mucosa intestinal; • Produção de promotores tumorais, como as nitrosaminas; • Produção de substâncias capazes de atingir a circulação sistêmica, capazes de causar a dor de cabeça que o senhor apresenta, por exemplo; • Destruição da mucosa intestinal: gerando a hiperpermeabilidade (passagem de grandes moléculas mal digeridas para o sangue), e assim temos a ativação do Sistema Imunológico. Resumindo a evolução da disbiose: A ativação do sistema imunológico por este mecanismo pode explicar os sintomas de obstrução nasal que eventualmente o Sr. apresenta. Reações alérgicas respiratórias também podem estar relacionadas a alergia às proteínas do leite, que aumentam a produção de muco no trato respiratório, gerando o quadro. O estresse oxidativo (radicais livres em excesso) também poderá comprometer indiretamente o processo digestivo ao afetar a produção de HCl e outras enzimas digestivas dependentes de zinco. No estresse grandes quantidades do zinco são requisitadas depletando o organismo e desviando a sua utilização no processo digestivo e na imunidade. A redução na produção de HCl determina uma condição chamada de hipocloridria, caracterizada pela lentificação do processo digestivo no estômago (como relatado) e também agrava o quadro de disbiose, uma vez que torna o pH no intestino menos ácido (+ alcalino), condição adequada ao crescimento de baterias nocivas, e não para as benéficas. As eructações (i.e.: arrotos) após o almoço e distensão abdominal estão intimamente ligados a este problema. O estresse depleta também outros nutrientes importantes para a defesa e bom funcionamento doorganismo10 como selênio, cobre, manganês, magnésio, além de vitaminas antioxidantes, como a vitamina C, betacaroteno, vitamina E. Isso também pode levar a indisposição e ao cansaço. Outro ponto a ser avaliado e destacado ao Sr. são os erros alimentares que o são feitos no seu dia a dia. Muitos se correlacionam com queixas suas: Alto consumo de alimentos refinados (pão branco, arroz branco, açúcar refinado e massas): com estas escolhas, fica pequeno o consumo de fibras e amido resistente presentes apenas nos cereais integrais e retirados em grande proporção no processo de refinamento. Isto leva a redução no peristaltismo e na freqüência de evacuações (constipação), alterando a “flora intestinal” (microbiota patógenos e lactobacilos) levando também ao quadro de disbiose e hiperpermeabilidade. Esses alimentos deixam resíduos ácidos no sangue, enquanto que no intestino, mantêm o meio mais alca lino, prop í cio ao desenvolvimento de bactérias patogênicas. As fibras e o amido resistente são usados pelas bactérias intestinais, que assim produzem substâncias (ácidos graxos de cadeia curta) usadas como combustível pelas células de seu intestino (os colonócitos), mantendo o ambiente intestinal ácido e saudável. A presença de leveduras (Sacharomices) nos pães também pode contribuir com a flatulência e distensão abdominal relatada pelo senhor. Consumindo cereais integrais, ao invés de refinados, o senhor estaria consumindo uma grande quantidade de vitaminas do complexo B e minerais como o magnésio, o que lhe devolveria a energia e disposição. Baixo consumo de frutas e verduras: além de privar sua alimentação em fibras e outras substâncias benéficas (oligossacarídeos), sua dieta tornase pouco saudável devido à falta dos fitoquímicos normalmente encontrados neste tipo de alimento, substâncias com grande capacidade de destruir os radicais livre e aumentar a eliminação de toxinas. O baixo consumo de frutas e vegetais e maior consumo de alimentos industrializados tem sido associado a maior incidência de doenças inflamatórias intestinais em países desenvolvidos e em áreas urbanas 11. Alto consumo de café com açúcar: considerado como “caloriavazia”, por não conter nutrientes essenciais, o açúcar espolia o organismo de nutrientes para que seja realizada sua auto metabolização, além de contribuir com o crescimento de fungos. A fermentação dos carboidratos pode levar ao quadro de distensão abdominal relatado pelo senhor. Já a cafeína, além de irritante da mucosa gástrica por estimular a secreção ácida e por ação direta na mucosa, pode deixar o paciente em estado de alerta (dificultando o relaxamento, o aprofundamento do sono e assim aumentando o seu nível de estresse). Alta ingestão de proteínas (200 a 300g de carne no almoço/ 4 copos de leite/dia): o excesso de carne tende, já no estômago, a não ser bem digerida gerando eructações, uma de suas queixas, ainda mais considerando que o senhor parece produzir pouco ácido no estômago, como já comentado. No intestino então ocorrerá a putrefação desta proteína (com produção de gases, levando a distensão abdominal), o que também altera a “flora” intestinal (disbiose). As macromoléculas de proteínas mal digeridas poderão ativar o Sistema Imunológico. As proteínas do leite (principalmente a caseína e lactoglobulinas) têm grande potencial desencadeador de quadros alérgicos (como por exemplo a obstrução nasal e o próprio quadro inflamatório intestinal). Além da proteína, a intolerância a lactose do leite também se correlaciona ao quadro clínico de distensão abdominal e flatulência. A proteína do trigo (glúten) também tem forte potencial alergênico sendo também esta uma possível desencadeadora de processos inflamatórios intestinais como na Doença de Crohn12 e na colite. EDUCAÇÃO NUTRICIONAL A abordagem acima é suficiente para a compreensão da história pregressa e do quadro atual do paciente. Logicamente tudo isso deve ser explicado de maneira mais simplista adequando cada termo à linguagem e à capacidade de compreensão do paciente. A utilização de figuras e imagens pode ainda facilitar a compreensão destes conceitos e ajudar na memorização e conscientização do paciente Tarefa 2: Desenvolver um Programa Nutricional Funcional Completo 1º Passo: Aplicar O Programa Funcional dos 4 Rs Objetivos: Restabelecer o processo digestivo reduzindo assim as queixas do paciente; Promover a detoxificação hepática13,14 e equilíbrio orgânico; Manter e/ou recuperar o estado nutricional do paciente, restabelecendo suas reservas orgânicas; Etapas: 1º Remover: Patógenos, xenobióticos, e alérgenos alimentares: Restrição nº 1 Leite e derivados: Esta é a mais importante restrição por representar uma dupla ameaça. Além do prob lema de intolerância à lactose em paciente com comprometimen to da mucosa intestinal, existe ainda o problema de hipersensibilidade a proteína do leite (caseína e lactoglobulinas), que poderá ocorrer com a translocação de macromoléculas da proteína, comum no quadro de disbiose/hiperpermeabilidade. A restrição aos derivados do leite representa uma opção terapêutica indicada nas doenças inflamatórias intestinais11 e deve ser testada nestes casos, com uma dieta de eliminação e desafio. Restrição nº 2 Glúten: Apesar dos cereais (aveia, trigo, centeio e cevada) serem ricos em fibras, serão restritos num primeiro momento do tratamento por serem fontes de glúten (potencialmente alergênico para uma parcela da população e também por ter correlação com doenças inflamatórias intestinais). Pelo fato do paciente apresentar um consumo excessivo de farinha de trigo na forma de pães e massas, optamos por fazer a restrição, mesmo sem a certeza quanto à sensibilidade individual do paciente ao glúten. A restrição deverá ocorrer por no mínimo 30 dias e depois ser reintroduzido para observação dos sintomas. A sensibilidade ao Sacharomices (fermento) também será avaliada e testada na reintrodução. Remoção de xenobióticos: orientar dieta ecológica (vide orientação nutricional). Remoção de patógenos: Por não termos a confirmação da presença de patógenos específicos através do exame coproparasitógico de fezes, optei por orientar fontes dietéticas, como: inclusão na dieta de semente de abóbora, alho, ervas com função antifúngica (vide orientação nutricional e quadro alimentos funcionais ). O alho mostrase uma opção interessante por ter ação geral sobre vírus, bactérias e fungos, auxiliando no combate a disbiose, além de ser antiinflamatório da mucosa intestinal. Maximizar a freqüência evacuatória para diminuição das toxinas produzidas pelos patógenos, através de uma boa hidratação e consumo de fibras (vide orientação nutricional). Suco de Aloe Vera também auxilia nesta função (vide quadro suplementação). 2º Renocular: Probióticos e Prebióticos: Prebióticos: Importantes como fonte de energia para a manutenção do equilíbrio da microbiota probiótica. Optouse pela orientação de fontes alimentares (frutas, alcachofra, alho, chicória, bardana, etc), a fim de diminuir o número de cápsulas e também para evitar o aumento da flatulência no paciente que num primeiro momento ainda está microbiota alterada. (Ver quadro alimentos funcionais) Probióticos: Importante para o equi líbrio e restabelecimento da microbiota intestinal. É indicado nos casos de disbiose, alteração das fezes, déficit de digestão, intolerância a lactose, nas doençasinflamatórias intestinais e na presença de infecções respiratórias (todos os sintomas apresentados pelo paciente). Recomendação na forma de suplemento industrializado com potencia máxima de 50 bilhões/dia (vide suplementação). 3º Recolocar: HCL e enzimas digestivas:Indicação de chás digestivos (180 ml após as refeições) c/ gotas de limão: alecrim, sálvia, cidreira, canela, ervadoce e hortelã. Abacaxi e Limão – Por estimularem a secreção ácida melhoram a digestão. O abacaxi é também rico em bromelina, com função digestiva sobre as proteínas (indicado como sobremesa após as refeições). Suco de Aloe ve ra: Rico em acemaman, glucomanan e outros polissacarídeos, possui ação reparadora (cicatrizante) sobre a mucosa gástrica e intestinal, além da ação imunomoduladora, antioxidante e antiinflamatória. A dose utilizada será de 50 ml (2 vezes ao dia antes das refeições). Auxilia também no processo digestivo. 4º Reparar: Dieta não irritativa; nutrientes de crescimento e reparo da mucosa. Dieta não irritativa da mucosa: sem frituras, café, refrigerantes e alimentos industrializados (vide orientação nutricional). Nutrientes de crescimento e reparo da mucosa: Serão selecionados os nutrientes de maior prioridade para a primeira etapa, os quais serão fornecidos através da dieta equilibrada, alimentos funcionais e suplementos. A fim de viabilizar o número de cápsulas e custo do tratamento para o paciente. (vide quadro suplementação e alimentos funcionais). 2º Passo: Recomendações Nutricionais Obs: Deve conter informações básicas sobre alimentação funcional (aplicando o programa dos 4 Rs) e também enfatizar os erros encontrados na anamnese alimentar do paciente, correlacionando às queixas, sinais e sintomas. Mastigar bem os alimentos (aprox. 30 vezes): Mastigar bem os alimentos é fundamental para uma boa digestão. Os alimentos bem fragmentados facilitam a ação das enzimas digestivas e assim serão completamente digeridos sendo mais bem absorvidos e aproveitados pelo organismo. Outro fator importante, é que na composição da saliva existe um fator de crescimento da epiderme (FCE), que facilita a recuperação da mucosa de todo o trato gastrintestinal. Fazer as refeições de maneira consciente, com calma e em local tranqüilo: Evite ambientes com excesso de barulho ou estímulos visuais e sonoros estressantes. Faça das suas refeições um momento tranqüilo e prazeroso, procure um ambiente agradável. Preste atenção no que está comendo e procure repousar os talheres. Evitar a ingestão de líquidos às refeições: Os líquidos em demasia diluem os sucos digestivos prejudicando a digestão. Além disso, aumentam o pH intestinal ao diluir e neutralizar o HCl propiciando o crescimento de patógenos. Ideal é ingeri-los até 15 minutos antes ou apenas 2 horas após. Dentro deste período, restrinja o volume ao máximo de 200 ml. Hidratese bem: Consume pelo menos 2 litros de líquidos na forma de água, chás, sucos e sopas distribuídos durante o dia, evitando que você sinta sede em demasia no momento das refeições. Dentre todos esses itens a água pura continua sendo o de maior importância na hidratação e contribuindo também com a detoxificação, devendo ser cerca de 1litro/dia. Fracione sua alimentação em 5 ou 6 refeições /dia: Evite pular refeições e/ou consumir grandes volumes de alimentos em uma única refeição. Para facilitar o processo digestivo o ideal é fracionar em 56 refeições/dia de menor volume: Café da manhã, colação, almoço, lanche, jantar e ceia (opcional). Evite o consumo exagerado de carnes: A carne mal digerida é susceptível a putrefação e produção de gases com odor mais intenso. Além disso, macromoléculas mal digeridas podem aumentar as chances de sensibilizações alérgicas na presença de hiperpermeabilidade na mucosa. Limite a porção para 100 a 120g/refeição (preferencialmente cortes magros) e procure fazer um rodízio entre carne vermelha, frango, peixe (mínimo 2x/sem,), ovo e carne de soja durante a semana. Evite frituras e alimentos gordurosos: As gorduras de modo geral possuem digestão mais lenta e portanto, devem ser evitadas, principalmente na forma de preparações fritas, carnes gordurosas e derivados da gordura do leite, que além de alterarem a microbiota, são também próinflamatórias. Use óleos vegetais (preferencialmente azeite ou canola, ricos em monoinsaturados) com moderação no preparo dos alimentos assados, cozidos, grelhados e no vapor. Evite o consumo de bebidas alcoólicas: O álcool além de induzir a inflamação da mucosa e aumentando a permeabilidade, consome os estoques orgânicos de nossos antioxidantes, como a glutationa e a vitamina C. Evite o consumo exagerado de café: O café emdemasia pode irritar a mucosa gástrica e intestinal. Pior ainda é consumilo com açúcar, que é altamente calórico e fermentativo! Se não conseguir ficar sem o café tente reduzir lenta e gradualmente a sua ingestão, ao ritmo 10% a cada semana. Em pouco tempo, você terá se libertado do vício! Evite alimentos ricos em açúcar e carboidratos refinados (pão branco, arroz polido, biscoitos, bolachinhas, massas): Esses alimentos tendem a alcalinizar o pH intestinal nos quadros de disbiose. São alimentos refinados, e assim pobres em vitaminas e minerais, fornecem um carboidrato susceptível a fermentação e a produção de gases que levam a distensão abdominal. Prefira alimentos integrais ricos em fibras: Substitua alimentos refinados, por grãos e cereais integrais (arroz integral, milho, feijões, soja, grão de bico, lentilha e ervilha). São ricos em fibras solúveis e insolúveis, e amido resistente, que auxiliam o funcionamento regular do intestino, no equilíbrio da microbiota e na integridade da mucosa. A dieta rica em fibra é conduta consagrada para pacientes com doenças inflamatórias intestinais em fase não aguda11. Além de terem outros efeitos, como o controle da glicose, na sínt ese de colesterol hepático e o efeito protetor contra o câncer de cólon. Atenção! Cereais como aveia, trigo, centeio e cevada, apesar de serem ricos em fibras, serão restritos nesta primeira etapa do tratamento e não devem ser ingeridos num período de 30 dias, ou até segunda ordem. Como opção de fontes de amido utilize: arroz (farinha), milho (farinha, fubá ou amido), batata (fécula), mandioca (farinha ou fécula), soja (farinha). Restrição a leites e derivados: Atenção! Além da intolerância à lactose, leite e seus derivados (queijo, iogurte, creme de leite, manteiga, requeijão, molhos brancos) são alérgenos potentes e podem agravar seu quadro clínico: não consuma esses alimentos neste período inicial de tratamento. O seu empenho em fazer cumprir esta recomendação será fator primordial ao sucesso do tratamento, onde você é o maior interessado. Aumente o consumo de frutas e hortaliças: 5 a 9 porções diárias. Esses alimentos além de ricos em fibras e oligossacarídeos (com efeito prebiótico, isto é, alimentam as boas bactérias que habitam nosso intestino), são fontes de vitaminas, minerais e fitoquímicos com efeito antioxidante e detoxificante, restabelecendo as funções orgânicas. Procure ingerir diferentes qualidades e cores, preferencialmente na sua forma crua in natura, comosuco ou salada. Dê preferência por alimentos orgânicos (ecológicos), livre de agrotóxicos e fertilizantes. Especi almente aqueles consumidos emmaior quantidade, como arroz, feijão, carnes, aqueles mais susceptíveis a presença de agrotóxicos (tomate, morango, mamão, pêssego, batata inglesa). Para estimular a digestão, consuma alimentos ácidos, como suco de limão, vinagre, abacaxi ou outra fruta ácida, no almoço e jantar. Veja também recomendação dos chás digestivos (3 xícaras/dia). Evite alimentos industrializados, adicionados de aditivos (corantes, conservantes, aromatizantes, acidulantes) artificiais. Prefira alimentos naturais, vivos e energizantes, naturalmente ricos em fitoquímicos e com ação detoxificante Dê preferência por alimentos descongestionantes (ou detoxificantes – em VERDE) e evite os mais congestionantes (VERMELHO) de acordo com a tabela abaixo. Os alimentos “intermediários” em amarelo, também devem ser consumidos diariamente. 3o Passo: Exemplo De Cardápio Funcional Outros alimentos: - Tempero para salada: limão, azeite extra vir- gem, sal marinho e ervas à gosto; - Conserva de gengibre: preparada com gengibre, vinagre, açúcar mascavo e dentes de alho; - Ervas digestivas para chá: alecrim, sálvia, hortelã, erva doce. 4-5 xícaras/dia - Condimentos essenciais recomendados: gengibre, cúrcuma, alho, orégano, tomilho, cravo, canela e ervas acima. Alimentos Funcionais: Deverão ser incluídas na dieta habitual conforme orientações abaixo: 4o. Passo: Suplementação Suplementação reparadora de mucosa Suplementação antioxidante, reparadora e de reservas corporais. Suplementação de reservas corporais: Complexo B: Componente de vários cofatores importante para o metabolismo energético de Carboidratos, Proteínas e Lipídeos. Faz parte das enzimas detoxificantes19 de Fase I. Por atuarem em sinergismo foram selecionadas as vitaminas com funções mais específicas sobre o sistema digestório, conforme descrição abaixo Suplementação complementar: de reinoculação e reserva 5o. Passo: Exames Laboratoriais Essenciais para o Acompanhamento do Paciente Para avaliar o quadro do paciente foram analisa-dos os seguintes exames laboratoriais20 : 1º Coprológico funcional: Foi escolhido entre os essenciais visto que as queixas e sintomatologias principais apresentadas pelo paciente são gastrintestinais. Permitirá avaliar a presença de parasitas e como está o nível de digestão e absorção do paciente e assim melhor direcionar o tratamento através da melhor compreensão de suas causas. 2º Hemograma completo: permite avaliar o estado de saúde geral do paciente, como a presença de anemia, eosinofilia (ligada a parasitose e alergias) e leucocitoses, alterações de volume do eritrócito (observação do status de ferro, B12 / B9), contagem de plaquetas (se reduzida, associada a metais tóxicos, agrotóxicos e outros xenobióticos mielotóxicos). 3º Ferritina: exame de interesse, uma vez que o paciente esteve em um estado hipercatabólico o que pode ter levado a depleção do ferro, mas também é um grande consumidor de carne vermelha, o que pode levar a ter depósitos de ferro. Assim, só avaliando para saber! Não esqueçamos que quadros inflamatórios podem elevar a ferritina também. 4º Zinco (eritrocitário): Tem por objetivo avaliar as reservas orgânicas deste importante mineral, e assim nortear a suplementação. Apesar de Zn, Cu e Mn serem necessários à produção de SOD e o selênio para Glutationa peroxidase. Como prioridade escolheria o Zn , por ser cofator da SOD, que está num estágio anterior à GPx na cascata antioxidante, além de ter papel importante na imunidade e na formação de HCl e enzimas digestivas pancreáticas. 5º Função hepática: TGP, entre todas as enzimas que avaliar a função hepática (TGO, TGP, Gama GT e fosfatase alcalina) é a mais específica para avaliar o estresse hepático. Outros testes: - O teste de tolerância a lactose seria dispensável num primeiro momento, pois é bastante previsível pela sintomatologia e quadro clínico do paciente. Apesar do teste de Biorressonância ou do Perfil de Alérgenos Alimentares IgG para identificação de alérgenos ser também bastante interessante, optei por deixá-lo em segundo plano e iniciar o tratamento com a exclusão de leites e derivados e cereais fontes de glúten, devido à correlação entre estes alérgenos e as doenças inflamatórias intestinais já descritas em algumas literaturas 11,12. Ou seja, iniciamos com um teste terapêutico, e então, havendo dúvidas e necessidade de refinar o tratamento, vamos para a análise detalhada. Os exames de minerais tóxicos (Pb, Hg, Mn, Al, Ar) e de outros nutrientes (Cu, Mn, Se) também serão deixados para uma próxima etapa, especialmente na persistência dos sintomas. Referências Bibliográficas 1. Remove, replace, Reinoculate, Repair: the 4R Gastrointestinal Support Program Technical Bulletin. www.healthcomm.com 2. BRAUNWALD, E. etal. Harrison’s Principles of Internal Medicine. 15th edition. McGraw-Hill, 2001. 3. HARDMAN, J. G., et al. 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