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77 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Unidade II 5 ARTE‑EDUCAÇÃO A educação pode ser considerada como um processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano, com o objetivo de melhorar a sua integração individual e social. Consiste em um dos segmentos mais importantes para o crescimento de um país, pois é por meio da construção do conhecimento que há desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida de toda a população. O Brasil é caracterizado como um país de diversidade cultural, tendo na arte uma de suas expressões mais relevantes, o que compõe um amplo leque de possíveis aprendizados. A arte apresenta‑se como necessidade e característica essencial do ser humano desde os primórdios; independentemente de cor, raça, cultura, ritmos, gestos, todos dançam, cantam, desenham, pintam etc. Dessa forma, quanto mais cedo se vivenciar a arte, maior será o investimento na formação de homens e mulheres conscientes da percepção de seu todo, e, consequentemente, da própria vida. A arte na educação de crianças e adolescentes é de suma importância, já que, por meio de um bom trabalho didático, é possível formar gostos, estimular a inteligência, e, ainda, contribuir para a formação da identidade do indivíduo. E, às vezes, mais do que isso, formar artistas. Ao criar uma arte, o indivíduo tem sua percepção aperfeiçoada, consegue soltar a imaginação e raciocinar mais facilmente. No momento em que está criando, ele busca em sua própria imaginação o que deseja criar, as cores que vai utilizar, os traços a serem feitos, consegue organizar seus pensamentos, sentimentos e sensações, que são capacidades psíquicas que influenciam seu processo de aprendizagem. Observando a escola como um meio para formar cidadãos e como primeiro espaço formal com que a criança tem contato, nada melhor do que também possibilitar seu contato com o meio artístico, por meio das artes visuais, da dança, da música ou mesmo pelo teatro; esse contato será enriquecedor para seu desenvolvimento. Porém, a maioria das escolas brasileiras trata o ensino de artes como algo secundário, uma atividade de lazer, e não como uma disciplina que merece atenção. Ana Mae Barbosa (2007) elucida que é essencial que o espaço pedagógico promova o acesso à arte. Na maioria das vezes, o profissional contratado para ensinar artes o faz de forma polivalente, por não ter conhecimento necessário sobre o assunto; sem contar que a carga horária destinada às aulas de arte é bastante reduzida. 78 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II Lembrete O ensino das artes já faz parte da realidade das escolas, contudo não é dada a devida atenção que esse estudo precisa. Assim, é fundamental que se reconheça o ensino das artes como forma de contribuir para o desenvolvimento de crianças e adolescentes, possibilitando a ampliação de seu potencial cognitivo e expandindo sua visão de mundo. É necessário, ainda, que os educadores internalizem essa postura para o ensino da disciplina, dando coerência à prática pedagógica e trazendo conhecimentos para o repertório cultural do aluno, sem imposição nem separação entre a reflexão e a prática. Saiba mais Para saber mais sobre arte‑educação, visite o site do Centro de Referência em Educação Mário Covas e acesse a coletânea de artigos disponíveis: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/aed_l.php?t=001>. 5.1 Quem foram nossos professores? É importante refletirmos sobre algumas indagações: quem foram nossos professores? O que aprendemos sobre artes em nossa infância? Na adolescência, a arte continuou viva em nossa vida escolar? Há dezessete anos, a arte tem sido uma disciplina obrigatória na escola, e isso decorreu do acordo oficial entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e o United States Agency for International Development (Usaid), a partir da visão ideológica de educadores norte‑americanos, constatando a disciplina como essencial para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Assim, a partir desse acordo, foi elaborada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei Federal nº 5.692, em 1971. A introdução da Educação Artística no currículo escolar foi um avanço, principalmente pelo aspecto de sustentação legal para essa prática e por considerar que houve um entendimento em relação à arte na formação dos indivíduos. No entanto, o resultado dessa proposição foi contraditório e paradoxal. Muitos professores não estavam habilitados e devidamente preparados para o domínio de várias linguagens que deveriam ser incluídas no conjunto das atividades artísticas: Artes Plásticas, Educação Musical, Artes Cênicas (BRASIL, 1998, p. 26). No início, não havia uma preocupação com o ensino, não se exigia formação superior para ensinar, buscava‑se apenas a mão de obra barata para “passar” os conhecimentos. Utiliza‑se esse termo “passar conhecimentos” porque o professor, por muito tempo, foi apenas um mero transmissor de conhecimentos. 79 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR No decorrer do tempo, sua postura foi se modificando, novas teorias de aprendizagem foram sendo desenvolvidas, e o professor assumiu a postura de educador. Da década de 1970 e até meados da década de 1980, como não se exigia formação superior para lecionar, o Estado passou a disponibilizar a profissionalização para alunos das chamadas escolas secundárias, hoje escolas de Ensino Médio. Constatando‑se a necessidade de um docente com formação na área artística, o Estado decidiu criar um novo curso superior: Licenciatura em Educação Artística. Pretendia‑se preparar em apenas dois anos um profissional capaz de lecionar música, teatro, artes, desenho, dança e desenho geométrico, algo humanamente impossível. Esse início tão desqualificado talvez possa justificar o ensino de música tão precário e desvalorizado nas escolas. Hoje existem inúmeros cursos na área artística; porém, em muitas escolas, não há o reconhecimento de sua importância para o desenvolvimento da criança e do adolescente. A arte é tratada apenas como um complemento do currículo escolar. A arte‑educação é uma questão que, lentamente, o Brasil tenta resolver; pois, de um lado, temos professores que lecionam sem formação específica, e, de outro, pessoas formadas em artes que não possuem didática metodológica para organizar seus conteúdos. Voltemos a pensar nas perguntas feitas no início deste tópico. E então, como foram suas aulas de Educação Artística? Foram chamadas de aulas de artes por muito tempo? Desenhos, pinturas, mistura de cores, tudo feito de forma básica, resumindo a aula apenas aos desenhos e pinturas, não é verdade? Ocorre que algumas escolas realmente resumem o ensino de Artes nessa essa esfera, esquecem‑se da riqueza da disciplina e se utilizam de uma visão equivocada do assunto. As práticas de ensino dessa disciplina apresentam níveis de qualidade tão diversificados no Brasil que em muitas escolas ainda se utilizam, por exemplo, modelos estereotipados para serem repetidos ou apreciados, empobrecendo o universo cultural do aluno. Em outras, ainda se trabalha apenas com a autoexpressão, sem introduzir outros saberes de arte. A polivalência ainda se mantém em muitas regiões. Por outro lado, já existem professores preocupados em também ensinar história da arte e levar alunos a museus, teatros e apresentações musicais ou de dança (BRASIL, 1998, p. 29). É preciso ter em mente que a arte não se resume apenas a desenhos e pinturas, pois, por meio de seu ensino, é possível conhecer um pouco de sua própria história, de sua culturae de outras espalhadas pelo mundo. Conhecer os processos criativos das linguagens artísticas é fundamental. Alguns artistas importantes como Leonardo da Vinci e Vicent Van Gogh pensavam que até mesmo uma simples fotografia pode tornar‑se uma obra de arte. A arte, além de integrar pessoas, possibilita outras formas de expressão e também faz que a pessoa analise criticamente aquilo que vê, ouve, assiste ou faz, tendo uma base para poder construir uma ideia ou um projeto. 80 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), por meio do ensino de Arte, o aluno, ao término do Ensino Fundamental, deve ser capaz de: • experimentar e explorar as possibilidades de cada linguagem artística; • compreender e utilizar a arte como linguagem, mantendo uma atitude de busca pessoal e/ou coletiva, articulando a percepção, a imaginação, a emoção, a investigação, a sensibilidade e a reflexão ao realizar e fruir produções artísticas; • experimentar e conhecer materiais, instrumentos e procedimentos artísticos diversos em arte (artes visuais, dança, música, teatro), de modo que os utilize nos trabalhos pessoais, identifique‑os e interprete‑os na apreciação e contextualize‑os culturalmente; • construir uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, sabendo receber e elaborar críticas; • identificar, relacionar e compreender a arte como fato histórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo, respeitando e podendo observar as produções presentes no entorno, assim como as demais do patrimônio cultural e do universo natural, identificando a existência de diferenças nos padrões artísticos e estéticos de diferentes grupos culturais; • observar as relações entre a arte e a realidade, refletindo, investigando, indagando, com interesse e curiosidade, exercitando a discussão, a sensibilidade, argumentando e apreciando arte de modo sensível; • identificar, relacionar e compreender diferentes funções da arte, do trabalho e da produção dos artistas; • identificar, investigar e organizar informações sobre a arte, reconhecendo e compreendendo a variedade dos produtos artísticos e concepções estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias; • pesquisar e saber organizar informações sobre a arte em contato com artistas, obras de arte, fontes de comunicação e informação (BRASIL, 1998, p. 48). 81 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Saiba mais Para saber mais, leia: FERREIRA JR., A.; BITTAR, M. A ditadura militar e proletarização dos professores. Educ. Soc., Campinas, v. 27, n. 97, p. 1159‑1179, set./dez. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v27n97/a05v2797.pdf>. Acesso em: 6 out. 2015. Se realmente fosse colocado em prática o que propõem os PCN — Parâmetros Curriculares Nacionais, o ensino de Artes atingiria seu objetivo; todavia, infelizmente, isso não ocorre, haja vista que escolas e professores não o consultam, fazendo que ele não passe de palavras escritas. Nas escolas, as crianças são avaliadas na disciplina de Artes apenas por seu comportamento e sua dedicação; infelizmente, ainda não há espaço para o ensino de história das artes, ou mesmo para apreciação ou um olhar sobre a obra artística. O professor apenas segue um livro didático e transmite aos alunos os conhecimentos elencados por ele num roteiro. Visitas a exposições e museus são raras em algumas escolas. A maioria dos docentes ainda é malpreparada para esse tipo de atividade. Os alunos vivenciam as visitas muitas vezes sem ter informações básicas sobre as obras, seus autores etc. Logo depois da exposição, recebem apenas uns folhetos na aula com o nome da obra e do artista e a tarefa de preparar um relatório sobre o que viram. É aí que se pergunta: como esses relatórios serão preparados, se a criança pouco teve contato com as obras? Pois o professor não teve o discernimento de preparar uma aula rica, mesmo em um ambiente tão propício. Enfim, ainda há muito a ser visto para a melhoria do ensino de Artes. 5.2 Capacidades e habilidades para ensinar artes O ensino de Artes tem sofrido diversas transformações. Assim, cabe ao educador avaliar sua prática, pois é preciso ter disposição para responder às várias dúvidas que têm surgido. Entre as habilidades em arte que precisam ser analisadas, tem‑se o fazer artístico, em que é necessário realizar produções artísticas individuais ou coletivas; apreciação artística, para refletir sobre os processos de arte com seus diferentes instrumentos e manifestações sociais, bem como compreender os critérios culturalmente constituídos de conhecimentos em caráter filosófico, histórico, sociológico, antropológico, semiótico, entre outros; contextualização artística com a reflexão sobre determinadas maneiras de arte e suas múltiplas funções. Entre as habilidades citadas, o fazer artístico é o que se faz mais presente na arte, por englobar as práticas de desenho, pintura, gravura, colagem e os meios tridimensionais. 82 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II Lembrete Lembre‑se de que qualquer prática está contida em um contexto educacional, que exige, por sua vez, um grande esforço do educador, para que a atividade não fique restrita apenas ao desenvolvimento de habilidades manuais. As atividades artísticas têm papel de destaque no que se refere ao conhecimento do educando e à sua capacidade de analisar o universo das artes plásticas, tornando‑se uma grande contribuição para o processo de conscientização; porém, o exercício de apreciação acaba causando muitas dúvidas nos educadores de Artes. Então, a adequação da atividade deve ser realizada de acordo com os objetivos a serem alcançados pelo grupo ou com as atividades futuras que se deseja realizar. É preciso, portanto, criar um roteiro de questões organizado de forma livre para realizar a apreciação de uma obra do campo das artes plásticas, a fim de que seja desenvolvida uma atividade esclarecedora sobre seu significado e as intenções do autor. 5.3 Leitura de imagens A utilização de elementos verbais e não verbais dispostos em uma imagem caracteriza a extensão, a distância, a profundidade, a verticalidade, a estabilidade, a cor, a sombra, a textura, entre outros, buscando‑se definir de que modo se dá a leitura da imagem. O signo linguístico é composto por duas partes, o significante e o significado, bem como pelo seu caráter de eventualidade. Ele estará baseado na análise de todo e qualquer componente de significação (SANTAELLA, 1995). Outro ponto a ser discutido permeia os trabalhos que se enquadram nesses aspectos teóricos. É a questão da conotação da imagem, possível apenas por meio da palavra. Veja a concepção a seguir: A leitura da imagem vem sendo definida da mesma forma que a leitura do signo linguístico, e todo texto visual acaba por reduzir‑se a um texto linguístico, as unidades propriamente visuais não devem ser reconduzidas a categorias linguísticas, e sim a um sistema lógico‑simbólico de representação de categorias visuais (MALVESTITI; CAETANO, 2008, p. 4). O autor não abandona um projeto de leitura da imagem centralizada no signo e investiga esse projeto como se fosse um texto, no qual se registram unidades visuais e se torna a atenção para o significado das unidades relacionadas à imagem, aprofundando a leitura de imagem e acrescentando o autor desta, o contexto histórico‑social, entre outros. Ao analisar a linguagemvirtual, observa‑se que, ao associá‑la com o signo linguístico, ocorre uma redução em relação ao seu entendimento. Isso porque, ao se pensar na linguagem visual, acaba‑se por descrever a imagem, dando lugar a um trabalho de segmentação da imagem em unidades discretas. 83 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR A linguagem descreve a imagem, mas não revela sua matéria visual. É a visibilidade que permite a essência da imagem, e não a sua relação com o verbal. Essa não correlação não rejeita o fato de que a imagem pode ser lida. Um exemplo é a representatividade, que dá subsídio para que possa haver a leitura da imagem enquanto estado de linguagem. É o poder que ela exerce na mente das pessoas, a competência de reproduzir algo já presente na consciência, é a representação visual e mental de cada indivíduo. 6 A MÚSICA COMO RECURSO DIDÁTICO NO DECORRER DA HISTÓRIA A música surge com mais evidência na Grécia Antiga, quando tem início a tomada de consciência da necessidade do ensino da música por uma ótica que pode ajudar o desenvolvimento sociocultural do ser humano; mas por volta de 2.500 a.C., já existiam manifestações musicais no Egito, porém sem o cunho educacional. Figura 34 – Instrumentos musicais egípcios Em Roma, o ensino da música era marcado por alguns preconceitos, pois as mulheres eram proibidas de estudar música. Para os romanos, o ensino da música não fazia parte de seu currículo, como na Grécia, pois os romanos achavam que isso poderia enfraquecer a formação do cidadão, deixando‑o incapaz para a batalha. Um soldado sensível demais poderia não saber como reagir em um momento crucial da guerra. No Brasil, a música popular somente passou a ser alvo de discussões a partir da década de 1930, período conhecido como “folclorização da música urbana”, e também período em que o samba se torna gênero‑matriz do país. Com o Estado Novo, houve diversas políticas públicas para a área cultural, como disserta Napolitano (2002, p. 183): O Estado Novo, ao mesmo tempo em que abrigava projetos de pedagogia cívico‑nacionalista, cujo equacionamento do problema das origens e da autenticidade era crucial, [...] estimulava as forças do mercado que, no limite, inviabilizavam a manutenção de uma tradição purista, unívoca e linear. 84 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II Figura 35 – O Batuque, Rugendas Com o Estado Novo, as letras de samba tinham como ideologia o trabalho e o nacionalismo. Alguns sambas faziam apologia ao malandro sambista, carioca que não gostava de trabalhar, indo justamente contra o regime de Vargas. Por essa razão, alguns compositores tiveram de modificar suas letras. Um exemplo de samba composto de acordo com as exigências do governo Vargas foi o de Wilson Batista, que escreveu, em 1941, o “Bonde de São Januário”. Observe a letra: Quem trabalha é quem tem razão/eu digo e não tenho medo de errar/ o bonde de São Januário/ leva mais um operário/ sou eu que vou trabalhar/ antigamente eu não tinha juízo, mas resolvi garantir o meu futuro/ sou feliz, vivo muito bem/ a boêmia não dá camisa a ninguém/ e digo bem (HAUSSEN apud CAPELATO, 2003, p. 128). Saiba mais Ouça a composição na íntegra: ALVES, A.; BATISTA, W. Bonde de São Januário. In: BATISTA, W. História da música popular brasileira. São Paulo: Abril Cultural, 1971. 1 LP. Faixa 5. A intenção de Getúlio Vargas era expor na música a conjuntura econômica e política que o Brasil vivia, conforme menciona Tinhorão (1998, p. 290): No plano cultural, o espírito de aproveitamento das potencialidades brasileiras que informava a chamada nova política econômica, lançada pelo governo Vargas, encontrava correspondente nos campos da música erudita com o nacionalismo de inspiração folclórica de Villa‑Lobos, no da literatura 85 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR com o regionalismo pós‑modernista do ciclo de romances nordestinos e, no da música popular, com o acesso de criadores das camadas baixas ao nível da produção do primeiro gênero de música urbana de aceitação nacional, a partir do Rio de Janeiro: o samba batucado, herdeiro das chulas e sambas corridos dos baianos migrados para a capital. No fim da década de 1950, surge o movimento Bossa Nova, provocando ruptura nos padrões de nacionalidade da música brasileira ao incorporar elementos estrangeiros, além de preservar o samba do morro. Já os anos 1960 são marcados por uma mistura musical denominada MPB, abordada por Napolitano (2002, p. 64‑65) da seguinte forma: A MPB foi pensada a partir da estratégia de “nacionalização” da Bossa Nova que traduzia uma busca de “comunicabilidade e popularidade”, sem abandonar as “conquistas” e o novo lugar social da canção. Por outro lado, os novos intérpretes não só traziam a memória da “bossa” recente (Edu Lobo, por exemplo), mas também da bossa renegada do bolero e do hot‑jazz (como Elis Regina). Chico Buarque, por sua vez, trazia de volta à cena musical a memória do samba urbano dos anos 1930 (Noel), marcando sua obra inicial (1966‑1970) como um conjunto heterogêneo de expressão do samba, com predominância de elementos da “velha” e da “nova” bossa. Ainda na década de 1960, surge o Tropicalismo, criando uma oposição com a MPB, já que esta última era avessa ao estrangeirismo e a Tropicália era, além de estrangeirista, modista. No fim da década de 1960, com a instalação do AI‑5, tanto a Tropicália como a MPB passam a ser perseguidas pela censura do governo militar por representar ameaça à ordem nacional. A partir dos anos 1970, surgem outras tendências musicais, como o rock nacional. Saiba mais Assista a: UMA NOITE em 67. Direção: Renato Terra; Ricardo Calil. Brasil: Record, 2010. 93 min. (Documentário). Final do III Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, em 21 de outubro de 1967. Com imagens de arquivo e apresentações de músicas como “Roda Viva”, “Alegria, Alegria”, “Domingo no Parque” e “Ponteio”, o filme registra o momento do Tropicalismo, os rachas artísticos e políticos na época da Ditadura e a consagração de nomes que são ídolos até hoje no cenário musical brasileiro. 86 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II No que diz respeito ao processo educacional, na Antiguidade obedecia‑se a dois níveis: o básico para crianças; e o avançado, direcionado aos jovens. Todas essas organizações e preocupações com a estrutura do ensino da música em Esparta, Creta e Atenas tinham como objetivo primordial o enfoque religioso e sociocultural. Duas disciplinas formavam o currículo fundamental, a “música” e a “ginástica”, e elas se distribuíam nos três níveis de formação: primária (dos 7 aos 14 anos), secundária (20 aos 30 anos) e nível superior (30 aos 35 anos). A história da música como recurso didático tem sua relevância na possibilidade de permitir o desenvolvimento de competências relacionado a leitura e interpretação de textos. Consta nos PCN: Abre‑se aí um campo fértil às realizações interdisciplinares, articulando os conhecimentos de História com aqueles referentes à língua portuguesa, à literatura, à música e a todas as artes, em geral. Na perspectiva da educação geral e básica, enquanto etapa final da formação de cidadãos críticos e conscientes, preparados para a vida adulta e a inserção autônoma na sociedade, importa reconhecer o papel das competências de leitura e interpretação de textos como uma instrumentalização dos indivíduos, capacitando‑os à compreensãodo universo caótico de informações e deformações que se processam no cotidiano (BRASIL, 1998). Como elemento didático, a música atua na preservação da memória, da cultura humana. Essa questão de cultura e memória também é trazida no bojo dos PCN: O direito à memória faz parte da cidadania cultural e revela a necessidade de debates sobre o conceito de preservação das obras humanas. A constituição do Patrimônio Cultural e sua importância para a formação de uma memória social e nacional sem exclusão e discriminações é uma abordagem necessária a ser realizada com os educandos, situando‑os nos “lugares de memória” construídos pela sociedade e pelos poderes constituídos, que estabelecem o que deve ser preservado e relembrado e o que deve ser silenciado e “esquecido” (BRASIL, 1998). Assim, o ensino de música sempre esteve presente na história, pois a música é parte da história da própria sociedade, estando presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais até os dias de hoje, mesmo de forma implícita, merecendo uma maior atenção por parte das escolas. 6.1 Música: conceito e relações com estilos literários A música pode ser considerada uma das maiores criações artísticas do homem, por possuir um papel bastante significativo na vida do ser humano, ou seja, pode trazer prazer, confortar o espírito, ajudar a refletir, causar emoção, informar e comportar conteúdo crítico, entre outros. Segundo Nicola Abbagnano (2000, p. 689): 87 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Duas são as definições filosóficas fundamentais dadas da música. A primeira considera‑a como revelação privilegiada e divina ao homem [...] que pode assumir a forma do conhecimento ou do sentimento. A segunda considera‑a como uma técnica ou um conjunto de técnicas expressivas que concernem à sintaxe dos sons. O autor observa que a música é conceituada como uma ciência ou arte privilegiada, tendo como objeto a realidade suprema e divina, em que na primeira fase a música possui, como objeto, a harmonia como característica divina do universo; e, na segunda fase, o objeto da música é o princípio cósmico. Stravinsky (2000, p. 69), sobre o conceito da música, diz: [...] a música é o único domínio em que o homem realiza o presente. Por imperfeição da sua natureza, o ser humano está desatinado a sofrer o ser do tempo das duas categorias de passado e de futuro, sem nunca poder tornar real, logo estável, a do presente. O autor afirma que a música faz com que o homem se transporte ao futuro, idealizando seus sonhos. Outra concepção filosófica da música refere‑se à identidade que ela implica, entre a música e suas técnicas. Aristóteles expressava a identidade, reconhecendo a multiplicidade das técnicas musicais. Para ele a música deve ser praticada com objetivos e usos múltiplos, e não apenas por um único tipo de benefício. Aristóteles advogava a ideia de que a música serviria para a educação, para a catarse, para o repouso, o alívio da alma e a suspensão de todos os afãs. Na Poética de Aristóteles, a arte como a epopeia, a tragédia, a comédia e variadas espécies de música instrumental e de canto, assim como a dança e a pintura, possuem similares no que concerne à imitação da realidade natural e humana. Para isso, faz‑se uso de meios elementares, como as cores e as figuras, e também de princípios estéticos gerais, como o ritmo e a harmonia. No pensamento de Aristóteles, a diferença entre as espécies de música instrumental não reside nos meios que adotam, mas, sobretudo, naquilo que é imitado e na forma por que imitam. Na Poética de Aristóteles, linhas, cores, volumes, movimentos e palavras, coisas e ações eram imitados e representados por certos meios, com o máximo de semelhança ou de fidelidade possível. As artes como a escultura, a poesia e a pintura possuíam conteúdo representativo, na concepção aristotélica, diferentemente da música. Quanto a esta doutrina mimética, possui certas sutilezas. Segundo Nunes (2002, p. 38): No terceiro livro de A República, Platão relaciona determinados modos harmônicos com determinados sentimentos e qualifica os ritmos pela escala moral das atitudes. Há ritmos que imitam a baixeza e o desregramento, existem harmonias patéticas, melancólicas e lânguidas, como há entusiásticas, energéticas e marciais. É como se a música pudesse exteriorizar, no tempo, a qualidade efetiva dos sentimentos humanos. Portanto, na concepção de Platão, a música imita um conteúdo psíquico ou moral, e a forma de combinações dos sons corresponde às formas características do entusiasmo, da tristeza e da melancolia. O filósofo grego Aristóteles argumentava que a mimese artística é inerente à tendência natural dos 88 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II homens e animais. Valorizava a arte em decorrência de sua semelhança com a realidade, quando aceita a produção artística como aparência. Saiba mais ARISTÓTELES. Poética. Tradução de Ana Maria Valente. 3 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2008. Após abordar os conceitos de arte e música sob concepções fundamentadas na filosofia, agora se faz necessário adentrar o âmbito da história da música e sua relação com a literatura. Pode‑se dizer que a relação da música com a literatura, produto do domínio artístico, transcende um isolamento artístico específico, e que a canção pode ser considerada como um gênero híbrido de caráter intersemiótico, ou seja, há uma predominância da relação entre a linguagem verbal (a letra) e a linguagem musical (ritmo e melodia). Como as letras materializam‑se na escrita, facilitando a interface verbal, muitos estudiosos têm investigado a relação e a comparação das canções com o caráter literário de suas letras. Como as letras de música utilizam, muitas das vezes, os mesmos recursos dos poemas, estabelecem uma análise comparativa de aproximação. Por exemplo: as letras musicais utilizam também estrofes, possuem métricas, figuras de linguagem, rimas, dão ênfase à sonoridade, ao ritmo, evocam o lirismo e os sentimentos subjetivos. Para Fernanda Falcão (2005, p. 3): O “eu” procura expressar suas emoções, sua experiência pessoal ou sua interpretação da vida coletiva por meio do signo verbal. As funções poéticas, hedonísticas, comunicativas e a social, entre outras, que são tidas como características da literatura física, narrativa ou teatral, também estão presentes nas canções. No caso específico do conceito de canção, pode‑se dizer que é a arte que combina música e poesia, entoação e discursos utilizados como meios de expressão. A canção aproxima a expressividade musical ao dramatismo e à afetividade presentes no texto poético. Para Edward (apud AGUIAR, 1998, p. 6): Uma canção não é mais do que a interação de várias personagens dramáticas: cantores, acompanhadores e compositores, mas nunca do poeta. Uma canção é acima de tudo uma nova criação da qual o poema é um componente. Não é só uma recitação melódica, uma interpretação musical ou a crítica de um poema, embora possa ser tudo isso. Contudo, para Aguiar (1998), a pessoa que compõe não se utiliza propriamente do poema, mas sim da interpretação deste depois que lê, ou seja, utiliza‑se dele e transforma‑o em música. Assim, deduz‑se que na composição de uma música pouco se consegue assimilar o poema, porém este se 89 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR incorpora na música, e esta cria sua própria identidade. Na relação entre literatura e música, as ligações estabelecem‑se através de diferentes épocas e culturas. A literatura incorporou nomes como leitmotiv,anacruse, dissonância, melodia, harmonia, polifonia, dominante às suas análises literárias. Nomes estes oriundos da música, em contrapartida, a arte musical tomou da poética termos emprestados: elegia, censura. Isto sem falar na nomenclatura comum: cadências, período, tema, frase, motivo, entoação, timbre, metro, ritmo (DAGLIAN apud ASSIS, 2007, p. 3). Portanto, com isso, apresenta‑se relevância de mostrar a relação entre música e literatura como forma de se analisar e compreender a própria história e cultura de uma época. Na época da Antiguidade Greco‑Romana, música e literatura eram inseparáveis, pois, segundo Fiúza (1998, p. 122) “cabia à música o papel de artifício à memorização das criações poéticas e dos relatos épicos, como aqueles atribuídos a Homero”. Nesse período, cantadores populares divulgavam os poemas. Esses cantadores eram chamados de: rapsodos (entre os gregos), barbos (entre os celtas) ou jograis (entre os povos românticos e medievais). Esses poemas eram cantados através da melopeia, que nada mais era do que uma peça musical para acompanhar um recital. O próprio conceito grego de mousike (artes das musas) já trazia essa simbiose entre melodia e verso, aliada à dança. Outra palavra ligada ao conceito é a Lírica, do grego lyrukos, relativo ao antigo instrumento musical de cordas conhecido por Lira (AGUIAR, 1998, p. 122). Para muitos estudiosos, a música mais antiga, tanto sacra quanto profana, insere‑se na época medieval; talvez a mais importante seja o canto gregoriano. A música cristã era solidária com a liturgia e inspirava‑se, a princípio, nas tradições judaicas, e depois nas pagãs, sírias, egípcias, gregas, romanas, africanas e gaulesas. Começou, sem dúvida, por três cantos: o das litanias de estilo popular, animado por tradições pagãs, o canto do Glória in Excelsis e o do Phos Hilaron, alem de outros propriamente cristãos. A existência dessa música cristã puramente vocal, no tempo dos apóstolos, é atestada por São Paulo. A liturgia na qual essa música se enquadrava compreendia, a princípio, o pedaço de pão com quem o apóstolo, ao fim do banquete, repetia o gesto de Cristo na divina ceia, depois de uma reunião para orações. Apóstolos e bispos cuidaram de manter o caráter religioso dos cantos. Dessa intenção permanente nasceu a antífona, frase musical que, precedendo e terminando o salmo, atraía a atenção dos fiéis para as palavras nas quais se exprime a ideia religiosa santificadora. A reforma gregoriana difundiu‑se, pouco a pouco, unificando o canto das Igrejas. Enquanto, no Oriente, a música bizantina tomava impulso, a reforma gregoriana triunfava no Ocidente. É a grande época, a idade de ouro dessa música. Entretanto, a partir do século XIII, aparecem os primeiros sinais da 90 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II decadência: o canto gregoriano irá corrompendo‑se pouco a pouco em contato com a música profana. De acordo com Roy Bennet (1988, p. 18): É igualmente ao contato de uma nova forma de música, a que chama medida e, ainda, ao contato da polifonia, que o canto gregoriano perde sua frescura e flexibilidade, após o século XIII, a tradição oral deformou‑se. Ninguém mais sabe interpretar os manuscritos antigos, que representavam a verdade. O canto gregoriano, denominado cantochão, tinha como característica essencial ser um perpétuo recitativo de ritmo livre: nada de tempo forte nem tempo fraco. Entre os anos de 1450 a 1600, emerge a música renascentista. O período renascentista se caracterizava, na Europa Ocidental, sobretudo, pelo enorme interesse devotado ao saber e à cultura, particularmente, e a muitas ideias dos antigos gregos e romanos. Até o começo do século XIX, os instrumentos eram considerados muito menos importantes do que as vozes. Contudo, durante o século XVI, os compositores passaram a ter cada vez mais interesse em escrever músicas para instrumentos. A partir do século XVII, nasce a música barroca, juntamente com a invenção de novas formas e configurações, como: ópera, oratório, fuga, suíte, sonata e concerto. Saiba mais Veja o filme O NOME da rosa. França; Itália; Alemanha: Cristaldifilm; France 3 Cinéma; Les Films Ariane; Neue Constantin Film, 1986. 131 min. Durante o período barroco, a música instrumental passa a ter, pela primeira vez, a mesma importância que a vocal. Os compositores ainda usavam formas populares da Renascença, como a canzona, a ricercata, a tocata, a fantasia e as variações. Após o período barroco, emerge o arcadismo com suas influências ideológicas, as tendências da época e as características (predomínio da razão, busca da objetividade, culto à natureza, equilíbrio e sobriedade clássica e presença da mitologia greco‑latina). No período literário do romantismo, as influências ideológicas da burguesia ascendente eram caracterizadas por individualismo, valorização das emoções, moralismo, antitradicionalismo, melancolia, evasão espacial e temporal, valorização da imaginação, culto à natureza e nacionalismo. No Brasil, um dos grandes compositores que se aproximam do estilo romântico é Ary Barroso. Em sua música “Aquarela do Brasil”, por exemplo, evidencia‑se um nacionalismo de forma lúdica, que remete às poesias e ao imaginário de Gonçalves Dias. Segundo Rodrigues (2003, p. 78): A estética romântica não quer seguir mais os modelos clássicos; impõe‑se a emoção e a visão subjetiva; cria novos gêneros, como a tragicomédia, o 91 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR romance folhetinesco para o entretenimento do público burguês, enfim, altera o padrão estético, buscando na tradição popular, nacional, a fonte de criação. Ao observar o simbolismo, podem ser feitas as mesmas reflexões. Fatores influentes e características de concepções místicas do mundo, interesse pelo indefinido, pelo mistério, interesse pelo particular, alienação social, flexibilidade formal podem ser retratadas pela música. Dessa forma, mostra‑se a grande importância existente entre as duas artes, música e literatura. Ambas se coadunam e remetem às características profundas de uma época e um estilo literário, musical e histórico. 6.2 A influência da música no comportamento socioafetivo de crianças e de adolescentes A música faz parte da vida da criança, seja através da escola, da família ou mesmo da mídia, e participa das atividades cotidianas da criança, das trocas afetivas e da aprendizagem. Muitos estudos se dedicaram a esse objeto, no entanto, em raridade no que diz respeito à canção enquanto prática discursiva, ou seja, considerando tanto a articulação das linguagens musical e textual quanto sua dimensão dialógica, ideológica e histórica. A música para crianças no contexto escolar tem inscrito em si a construção de práticas que só foram possíveis através da significação da infância enquanto “ideia” e da consolidação da indústria cultural. Normalmente a canção em si não é tomada como objeto de estudo, mas como um instrumento para atingir determinados fins, como nas pesquisas sobre o papel da musicalização infantil ou da musicoterapia. Diversos estudos vêm sendo realizados com relação à música infantil, e, dentro desse universo, há duas maneiras diferentes de concebê‑la: uma que dá maior relevância à canção (a música para a criança) e outra que dá mais relevância à infância (a música na criança). Nas ciências da educação se dá grande enfoque à musicalização infantil, principalmente nas séries de formação inicial, o que por consequência leva a um grande debate acerca de métodos; e, partindo desses métodos, a canção infantil é utilizada como meio para atingir certo objetivo pedagógico ou o domínio da linguagem artística. Emadolescentes, a música também exerce bastante influência na vida pessoal e social, considerando‑se a sua cultura e a família como berço. Gradativamente, um adolescente vai formando sua identidade e, tendo a consciência de suas diferenças em relação ao outro, segue em constante busca de interagir e integrar‑se com os outros. Os adolescentes, além de passarem por um período de mudanças físicas e alterações psicológicas, também são vítimas de preconceitos oriundos da sociedade em geral. Os que mais sofrem com críticas são aqueles que evidenciam suas tribos, seus estilos musicais preferidos, o uso de roupas “diferentes”, cabelos ou quaisquer informações visuais. Exemplificando, os “metaleiros” são frequentemente vistos ,em nossa sociedade, seja por integrantes de outras “tribos”, seja por parte da população, como violentos e usuários de drogas, da mesma forma 92 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II que os sambistas, que também são frequentemente classificados como “malandros”, ou “vagabundos”. Os rappers e os “funkeiros” são colocados na mesma categoria, a dos considerados bandidos, marginais, estereotipados como favelados, gente pobre, em geral. Além disso, o funk tem carregado consigo um estigma de vulgaridade, devido às temáticas das letras e das danças ligadas ao estilo. Os “emos” são depreciativamente classificados como homossexuais, assim como os fãs de gêneros de música eletrônica, que também carregam o estereótipo de usuários de drogas. Nessa mesma categoria estão os fãs de reggae, que fazem uso de adereços relacionados à maconha. Importa destacar que associações de gêneros musicais e as mensagens contidas nas letras com a personalidade do adolescente influenciam seu comportamento. 6.3 A música em sala de aula Diversos autores, dentre eles psicólogos, psicanalistas e estudiosos do assunto, relatam que a música tem a capacidade de atender aos mais diversos aspectos do desenvolvimento humano, como físico, mental, social, emocional e espiritual. Entende‑se que a linguagem musical é uma importante forma de expressão e que deve ser inserida no contexto educacional nas suas diversas etapas, desde a infância até a adolescência. Com a música, o aluno desenvolve sua coordenação motora, acuidade visual e auditiva, assim como memória, atenção, criatividade e capacidade de comunicação e socialização. Percebe‑se, pois, a introdução da música em sala de aula como prática educativa, constituindo‑se em uma aprendizagem não arbitrária, e assim se desperta na criança e no adolescente maior interesse pelos diversos assuntos abordados. Educar musicalmente é propiciar à criança uma compreensão progressiva da linguagem musical, através de experimento e convivências orientadas. O conhecimento é construído a partir da interação do aluno com o meio ambiente, e o ritmo é parte primordial do mundo que o cerca (MARTINS, 1985, p. 47). Alguns autores se preocupam com o avanço do ensino. A música gradativamente vai perdendo espaço para os livros didáticos e exercícios repetitivos, conduzindo a práticas enfadonhas e descontextualizadas. Importante ressaltar que a música está inserida na prática escolar desde o século passado, porém passando por mudanças de acordo com as tendências e os enfoques de ensino, constituindo‑se num recurso pedagógico de operacionalização de ensino. A música no contexto de ensino‑aprendizagem conta com meios auxiliares, como os recursos naturais, audiovisuais, visuais, auditivos e estruturais como componentes auxiliadores do momento de ensino‑aprendizagem. Nesse contexto, a música deve estar presente em sala de aula, envolvendo situações desafiadoras e significativas, favorecendo a exploração, a descoberta e a apropriação de conhecimento. Por ser uma grande aliada para a percepção, estimula a memória e a inteligência, relacionando‑se ainda com habilidades linguísticas e lógico‑matemáticas, ao desenvolver procedimentos que ajudam o aluno a reconhecer‑se e a orientar‑se melhor no mundo. Entende‑se assim que, com a música, os alunos são estimulados e desenvolvem suas atividades com mais facilidade, por adquirirem o equilíbrio emocional. Além disso, a música é uma ponte para a desinibição, contribuindo para o envolvimento social, despertando noções de respeito e consideração pelo outro e abrindo espaço para outras aprendizagens. 93 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Saiba mais Para saber mais, leia: LOUREIRO, A. M. A. O ensino de música na escola fundamental: um estudo exploratório. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica, Belo Horizonte, 2001. Disponível em: <http://server05.pucminas. br/teses/Educacao_LoureiroAM_1.pdf>. Acesso em: 6 out. 2015. Conclui‑se, assim, que a música é uma linguagem cujo conhecimento é construído e não está pronto em “prateleiras”. A musicalização na escola é uma condutora de aprendizado com alegria, descontração e entusiasmo. 6.4 Metodologias pedagógicas para inserção da música no contexto escolar A música pode ser utilizada na materialização da escrita, facilitando a interface verbal, pois as letras de música utilizam muitas vezes os mesmos recursos dos poemas, estabelecendo uma análise comparativa de aproximação. A literatura incorporou nomes como leitmotiv, anacruse, dissonância, melodia, harmonia, polifonia, dominante às suas análises literárias. Nomes estes oriundes da música, em contrapartida, a arte musical tomou da poética termos emprestados: elegia, censura. Isto sem falar na monenclatura comum: cadências, período, tema, frase, motivo, entoação, timbre, metro, ritmo (DAGLIAN apud ASSIS, 2007, p. 3). Ao observar o simbolismo, podem ser feitas as mesmas reflexões. Fatores influentes e características de concepções místicas do mundo, interesse pelo indefinido, pelo mistério, interesse pelo particular, alienação social e flexibilidade formal podem ser retratadas pela música. Existem tendências da metodologia de ensino e aprendizagem envolvendo o uso da música na escola. Apesar desse delineamento pedagógico, não se pode afirmar que não existam, por parte dos educadores, outras filosofias educacionais além da tradicional, a qual se baseia na transmissão do conhecimento em posteriores análises dos resultados baseados no fator quantitativo, que consiste em teste para obter notas e com isso medir o grau de aprendizagem. A metodologia de ensino e aprendizagem por meio do uso da música é complexa, pois, além de envolver o professor, o aluno e a escola, devem‑se levar em conta as dificuldades encontradas pelos educadores, considerando o interesse e o compromisso do aluno com a filosofia de ensino e fatores que influenciam o processo, tais como socioculturais, políticos e econômicos. 94 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II Os estudos relacionados às variadas concepções de ensino e aprendizagem observam que as técnicas tradicionais aplicadas não despertam no aluno maiores interesses, sendo mais como uma obrigação, causando monotonia, falta de engajamento e aflições, quando os alunos são submetidos a testes. É preciso que os educadores tracem estratégias de ensino, de maneira que envolva o aluno com dinamismo, de forma que desperte interesse e comprometimento. Como visto, a música permite ao educador e ao aluno uma maneira harmoniosa de aprender, sem imposições e sem monotonia, em que todos participam, despertando criatividade. No que se refere à criatividade, a paródia é um gênero que aguça raciocínio, inteligência para criar e consciência crítica. No momento em que interpretam as letras da música e dentro docontexto da língua portuguesa, com tema determinado pelo professor, os alunos são capazes de criar paródias, atentando para gramática, ortografia, contextualização, tendências para a arte, entre outras observações. Paródia significa uma imitação burlesca, cômica, própria para se fazer rir; porém, quando voltada ao estudo, esta é abordada instrutivamente, permitindo aos educandos criar, encenar, cantar e expor seus conhecimentos, permitindo uma maior aproximação com o educador, ao contrário do que acontece no ensino tradicional. Não é raro observarmos no dia a dia os alunos batucando, cantando músicas de sucesso do momento, e muitos deles mudam as letras dando outro sentido à melodia. Mesmo sem ter o conhecimento, estão naturalmente fazendo paródias musicais. O objetivo desses alunos é fazer comédias para professores e alunos. A escola, ao perceber a facilidade dos alunos em elaborar paródias, principalmente transformando a letra original em temas que lembram fatos políticos e de vivências sociais, adotou essa metodologia como estratégia de ensino, quando é percebido e aproveitado o dom dos alunos para a arte; ao mesmo tempo, corrigindo a letra elaborada, atentando para os erros gramaticais, de concordância, etc. Vale ressaltar que, mediante tais observações, poderão ser elaborados novos planos de aulas. Para que o professor possa fazer um bom plano de aula, é preciso que o educador conheça os gostos musicais dos alunos, o que pode ser adquirido rapidamente, bastando para isso elaborar um questionário sobre o tema. A partir desse questionário de perguntas objetivas e subjetivas, o professor fará uma análise que constatará, em termos percentuais, os ritmos citados. Então, poderá considerar os dois que são de maior índice e aplicar em sala de aula. Cita‑se também como método pedagógico o estudo de canções, no qual se apresenta o vídeo em sala de aula e depois se forma o debate entre os alunos. Por exemplo, a canção “Ovelha Negra”, originalmente gravada por Rita Lee, tem sua regravação feita pelo grupo musical Pato Fu. Na gravação original a canção se inicia com uma ovelha berrando. Como no caso da canção “Gatinha Manhosa”, regravada por Adriana Partimpim, a intenção aqui parece ser uma aproximação maior do imaginário da criança, que pode se dar em interação com a canção. O mais recente trabalho do grupo Pato Fu tem como característica principal a utilização de instrumentos de brinquedo (juntamente com a formação “camerística” padrão da banda). O grupo 95 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR afirma ter feito uma grande pesquisa musical para a escolha dos instrumentos, o que demonstra a intenção de manter certo rigor com relação à parte musical. Saiba mais Ouça a composição na íntegra: LEE, R. Ovelha negra. In: PATO FU. Música de brinquedo. Rotomusic, 2010. 1 CD. Faixa 5. A canção “Ovelha Negra” tem letra de Rita Lee, e o clip tem como cenografia uma mulher narrando sua história de “diferença”, também produzida discursivamente, já que a personagem passa a perceber sua condição problemática quando seu pai lhe disse “filha, você é a ovelha negra da família” (LEE, 2010). A inscrição do corpo no cenário se dá também de maneira discreta, não há acompanhamento de dançarinos e a dança se resume na de cada artista que se apresenta, mais um indício do posicionamento em relação à liberdade individual. A participação das crianças, particularmente no caso do concerto ao vivo do “pequeno cidadão”, dá‑se também de forma espontânea, não é preestabelecido (pelo menos aparentemente) como as crianças devem se movimentar no espaço do palco, cada uma dança ou não dança como quiser, se veste como quiser e canta como quiser, afinada ou não. Essa inserção física da criança no trabalho do grupo é fato que consideramos observável. No caso do Pato Fu, essa presença simbólica se dá através do brinquedo, algo concreto que faz parte da vida cotidiana da criança e, no caso do pequeno cidadão, da inserção da própria criança. 7 DANÇA E MOVIMENTO 7.1 Histórico da dança A dança mostra vestígios desde os primórdios da humanidade. Sabe‑se que a comunicação é resultado de um longo processo de evolução, pois, antes mesmo de surgir a fala, o homem se comunicava através de gestos, grunhidos e ruídos que imitavam os animais e barulhos da natureza. Os homens se comunicavam através de seus corpos, transmitiam e recebiam mensagens, compartilhavam com seus grupos uma linguagem de signos e sinais. Existem indícios de que o homem dança desde os tempos mais remotos. Todos os povos, em todas as épocas e lugares, dançaram. Dançaram para expressar revolta ou amor, reverenciar ou afastar deuses, mostrar força ou arrependimento, rezar, conquistar, distrair, enfim, viver! (TAVARES, 2005, p. 93). 96 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II Figura 36 – Desenho rupestre Durante a era paleolítica e a mesolítica (9.000 a 8.000 a.C.), a dança relacionava‑se com a sobrevivência do homem, que fazia rituais dançantes para impedir fenômenos naturais. Daí surgiu, por exemplo, a dança da chuva. Além disso, a dança era utilizada para agradecer dádivas, para a colheita, para fertilização e para diversão. Já no período neolítico (6.500 a.C.), o homem passou a utilizar a dança em celebrações de preparo da terra para plantio e colheita e de fertilidade do rebanho. A dança pode ser considerada a primeira manifestação do emocional humano, antes da linguagem, antes da música, a necessidade de extravasar um sentimento fez o homem dançar. Com passos simples, movimento místico, dançou de alegria, de tristeza, de gratidão, dançou até para anunciar a guerra e descobriu, em sua longa e difícil trajetória, que poderia dançar por prazer para ostentar sua riqueza e afirmar seu poder (ACHCAR, 1998, p. 11). Saiba mais Assista a: A GUERRA do fogo. Direção: Jean‑Jacques Annaud. França; Canadá: Belstar Productions, 1981. 100 min. As sociedades surgiram quando o homem passou a viver em grupos, e cada um destes grupos possuía sua forma de dançar que desempenhava o papel de identificação. No Egito (5.000 a.C.) as danças eram realizadas em culto aos deuses, principalmente à deusa da música Hathor e ao deus considerado o inventor da dança, Bés; eram as chamadas danças sagradas. Nessa época, havia também as danças profanas, que eram realizadas em banquetes em honra aos vivos ou aos mortos, ou para recompensar funcionários, ou ainda por elevação de cargo. 97 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Observação Quem é? Hathor, no Egito Antigo, era a deusa do céu, do amor e da beleza feminina. Cultuada em festas alegres, barulhentas, com dança, música, vinho e embriaguez. Representada por uma vaca que usa entre os chifres um disco solar e duas plumas (QUESNEL, 1993). Figura 37 – Dança egípcia Na Índia, em 2.000 a.C., e no Egito, a dança era de âmbito espiritual. A dança indiana buscava união com a natureza, invocando o deus Shiva. Na Grécia, (século VII a III a.C) também se volta a dança para os rituais religiosos, nos quais se representava o equilíbrio da mente e do espírito. Por meio de Platão, Sócrates, um dos grandes filósofos gregos, considerou a dança como a atividade que formava o cidadão por completo. A dança daria proporções corretas ao corpo, seria fonte de boa saúde, além de ser ótima maneira de reflexão estética e filosófica, o que a faz ganhar espaço na educação grega. O homem grego não separava o corpo do espírito e acreditava que era o equilíbrio entre ambos que lhe trazia o conhecimentoe a sabedoria (DINIZ; SANTOS, 2008, p. 5). A cultura grega utilizava a dança em cerimônias religiosas e cívicas, na educação das crianças e no treinamento militar. Somente com a queda da cultura grega a dança passa a significar apenas entretenimento. As danças eram apresentadas em teatros, eram leves e ligeiras quando se tratava do gênero comédia, com 98 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II saltos, piruetas e rotação dos quadris. Sua característica sensual foi levada para o Ocidente, sendo proibida pelos cristãos na Idade Média. Vale salientar que os gregos viam a dança como um dom dos imortais e como uma ligação entre os homens e os deuses, assim, não havia nenhuma celebração sem dança, pois esta era considerada a melhor forma de agradar, honrar e alegrar um deus. Os gregos acreditavam que a dança era o equilíbrio entre o corpo e a mente que formava o cidadão por completo, sendo fonte de boa saúde e reflexão estética e filosófica, trazendo‑lhes o conhecimento e a sabedoria. Figura 38 – Dança na Grécia, vasos pintados Na Idade Média, a Igreja proibiu as manifestações corporais, alegando estarem vinculadas ao pecado; no entanto, os camponeses permaneceram com suas danças na época da semeadura, da colheita e do início da primavera, camuflando seus rituais com nomes de anjos e santos. A dança perdeu sua força nessa atmosfera de suspeita em relação ao corpo. A partir do século IV, com os imperadores ditos “cristãos”, o teatro e a dança foram condenados. O batismo era recusado aos que atuavam no circo ou na pantomima. Em 398, no Concílio de Cartago, os que iam ao teatro nos dias santos foram excomungados (DINIZ; SANTOS, 2008, p. 6). Durante os séculos XI e XII, houve uma epidemia na Europa que causou muitas mortes. Diante desse fato, as pessoas desesperadas dançavam com o intuito de afastar a morte, e essa dança ficou conhecida como dança macabra ou dança da morte. Nos séculos XIII e XIV, os trovadores ensinam à nobreza uma dança lenta, denominada de basse danse, pelos trajes pesados das castelãs, que, diferentemente das camponesas, não utilizavam roupas que facilitassem seus movimentos. A partir dos séculos XV e XVI, com o Renascimento, as cortes reais, com necessidade de ostentar suas riquezas, passaram a comemorar com festas eventos como nascimento, casamento, aniversários, entre outros. Há uma transição da dança religiosa para a dança folclórica. Nesse contexto, cabe afirmar que o ser humano necessita do movimento para sobreviver. Desde os primórdios, a dança se apresenta como uma necessidade e característica humana. Independentemente de cor, raça, cultura, etnia, ritmos e gestos, os povos dançam. Apesar de possuírem motivos diferentes, a essência é a mesma. Através da dança, o homem se comunica, se alimenta, trabalha, enfim, vive. Com a diversidade de civilizações e necessidades diferentes dos povos, a dança foi se misturando e se modificando em suas formas de expressão e interpretação. Por esse motivo, quanto mais cedo vivenciar a arte de dançar, maior será a concepção, por homens e mulheres, de seu todo, de sua própria vida. 99 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Observação Quem é? Shiva – Deus Hindu, considerado transformador, de energia criativa. É representado na figura de um homem, sentado em posição de lótus, tendo quatro braços (SANTANA, [s.d.]). 7.2 Histórico da dança no Brasil A dança no Brasil possui fortes influências de diversas culturas, principalmente das culturas indígena, africana e europeia, sendo vista pela primeira vez, conforme relato de Ellmerich (1964, p. 108), [...] Em solo europeu, realizou‑se em 1550 na cidade de Ruão, capital da Normandia, por ocasião da visita do rei Henrique II de Valois e sua mulher, Catarina de Medicis. Num ambiente que devia representar a terra selvagem, há pouco descoberta, 50 índios brasileiros, em companhia de mais de 200 indivíduos, todos nus, pintados e enfeitados à moda dos primitivos habitantes do Brasil, simularam uma luta entre tupinambás e tabajaras. Ressalta‑se que no Brasil cada região possui danças com aspectos diferentes, em decorrência da influência das diversas culturas trazidas de outros países; por exemplo, na região Nordeste, a presença africana está nas danças como axé, olodum e capoeira; na região Sul, a influência europeia fica evidente nas danças como a chula, a dança de espadas e os bailões de pares. Saiba mais Assista a: BESOURO. Direção: João Daniel Tikhomiroff. Brasil: Globo Filmes, 2009. 95 min. No Brasil, os índios que habitavam antes mesmo de seu descobrimento podem ser considerados como grandes influenciadores da dança, pois pintavam o corpo e dançavam em dias festivos em homenagem ao sol ou à chuva, o que influenciou a origem do carimbó, dança típica do estado do Pará. Com a chegada da família real ao Brasil, a princesa Isabel realizava saraus e bailes em seu palácio, o que ajudou a inserir as danças europeias no Brasil. Da influência europeia destaca‑se a portuguesa, como os reisados, os pastoris, o bumba meu boi; e a espanhola, como fandangos e boleros. 100 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II Em 1538, as primeiras levas de negros africanos, que foram de grande influência para a dança brasileira, introduziram no Brasil danças com o caxambu, o maracatu e a congada. Os negros vinham de diferentes pontos da África, com diferentes grupos étnicos, religiões e costumes. Trouxeram para o Brasil a capoeira, o jongo e o samba. A capoeira é uma dança com característica de arte marcial, utilizada pelos escravos para defender‑se e atacar. O jongo é um ancestral do samba, é a principal forma de dança que os africanos trouxeram para o Brasil, e, como referência a essa dança, utilizou‑se da palavra angolana semba, que significa umbigo. Vale destacar que a literatura da dança no Brasil é pouco difundida, apesar da grande diversidade de danças existentes. 7.3 Tipos de dança A dança pode vir em diversas formas, seja como uma manifestação artística, seja como uma simples diversão. Na manifestação artística, a dança se expressa através dos movimentos corporais, com ou sem ligação musical para um determinado público, e no decorrer dos tempos foi se desvinculando das peculiaridades do teatro. A dança pode ser classificada segundo diferentes critérios, como: pelo modo de dançar, por sua origem ou por sua finalidade. Quanto ao modo de dançar, tem‑se: a dança solo, a dança em dupla e a dança em grupo. A dança solo consiste na apresentação de uma única pessoa, por exemplo, a coreografia de um solista de balé. A dança em dupla consiste na apresentação de duas pessoas, indiferente do sexo, como o tango. A dança teatral é uma dança para espetáculos, por exemplo, o balé. Quanto à sua origem, a dança pode ser classificada em dança folclórica, histórica, cerimonial e étnica. A dança folclórica trata‑se da forma tradicional de dançar de determinado povo, como o carimbó. Como exemplo de dança histórica, pode‑se citar a sarabanda, que consiste em uma dança lenta originada na Espanha. E como dança cerimonial, citam‑se as danças rituais indianas. As danças étnicas são aquelas tradicionais de países ou regiões. Quanto à sua finalidade, a dança pode ser: erótica, por exemplo, o streeptease; cênica ou performática, como a dança do ventre; social, que consiste na dança para o próprio prazer do participante, como a dança de salão; e a religiosa, como a dança sufi. Desta forma, pode‑se dizer que o mundo da dança é amplo; sua riqueza e diversidade atraem os mais diversos públicos, podendo seruma manifestação artística, um exercício físico, ou apenas divertimento, e ser realizada por qualquer pessoa, independentemente de sua cultura, etnia ou religião. 7.3.1 Dança étnica A dança étnica possui derivação de vários locais e períodos, sendo, no Brasil, as mais conhecidas: dança do ventre, flamenca e afro. A dança do ventre surgiu há cerca de 5 mil anos, era praticada por civilizações como a babilônica e a egípcia, durante os ritos sagrados de fertilização, quando apenas as 101 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR sacerdotisas podiam praticar dentro do templo, movimentando o ventre para receber a força da Grande Mãe (Terra). Com o passar dos anos, passou a ser apresentada em público, sofrendo modificações. A dança flamenca surgiu no fim do século XVII e consiste na reunião de elementos de diversas culturas que atravessavam a região sul da Espanha, principalmente a dos ciganos. Com o tempo, foi sofrendo influências de outras culturas, adquirindo novas características. A dança africana ou afro foi introduzida pelos escravos na época do Brasil‑Colônia, tendo como características a sensualidade, o ritmo marcado no chão com os pés e os movimentos fortes e vibrantes. A dança étnica é praticada quase sempre em grupo, assim, são consideradas também danças de inclusão, pois mesmo que nunca se tenha participado, o ritmo coletivo presente nas danças étnicas acolhe as pessoas, deixando o participante à vontade. Ao dançar, o indivíduo entra em contato com seu corpo, firmando suas relações sociais, desenvolvendo harmonia tanto individual quanto coletiva. 7.3.2 Dança folclórica Danças folclóricas são expressões populares desenvolvidas em conjunto ou individualmente. Existe grande número dessas danças no Brasil, em todas as regiões do país. Na região Norte, podem‑se citar: a camaleão, típica do Amazonas, que consiste em uma dança de pares soltos, que desenvolvem coreografia constituída por sete diferentes passos, chamados jornadas; o carimbó, típico do Pará, que é uma dança de roda formada por homens e mulheres, com solista no centro que baila com requebros, trejeitos, passos miúdos arrastados e ligeiros; a ciranda, também do Amazonas, que é uma unidade formal de melodias populares composta de várias partes, acompanhada da música “Ciranda, Cirandinha” (a dança é feita em círculo, com moças e rapazes vestidos à moda antiga); a gambá, característica de toda a região Norte, é uma dança de terreiro, constituída de brincantes, sendo um “marcador”, um grupo de quatro cantores, uma mulher solista e seu parceiro. Da região Nordeste, citam‑se o cavalo piancó, no Piauí, com formação de pares de cavalheiros e damas com danças que imitam trote de cavalo manco; ciranda de Paraíba e Pernambuco, na qual se forma uma grande roda; ainda no estado de Pernambuco, tem‑se o frevo, dança muito comum no carnaval; na Bahia, o maculelê, em que acontece um bailado guerreiro desenvolvido por homens, dançarinos e cantores, todos comandados por um mestre, o “macota”; e torém, no Ceará, onde os participantes formam um círculo e um solista dança ao centro. Na região Sudeste, podem‑se citar: o batuque, característico dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, uma dança de terreiro com dançadores de ambos os sexos, organizados em duas fileiras, sendo uma de homens e outra de mulheres; e o caxambu, típico dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, dança de terreiro executada por homens e mulheres postos em roda sem preocupação de formar pares. Da região Centro‑Oeste, cabe citar: a caninha‑verde, comum em toda a região, consiste em uma roda de homens e mulheres que cantam e dançam mudando de lugares e formando pares; o siriri, típico 102 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II do Mato Grosso, é uma dança de pares soltos organizados em duas fileiras, sendo uma de homens e outra de mulheres. Na Região Sul, podem‑se citar: o fandango, típico do Paraná e do Rio Grande do Sul, (o termo designa uma série de danças populares, denominadas “marcas”); e o pau de fita, característico de toda a região, consiste em um mastro com cerca de três metros de comprimento, com um conjunto de largas fitas multicores, de maior tamanho, onde os dançadores, em pares, seguram na extremidade de cada fita e, ao som das músicas, giram em torno do mastro, revezando os pares, compondo tranças no próprio mastro, com variados desenhos. Uma dança folclórica comum a todos os Estados é a quadrilha, é uma dança própria dos festejos juninos que se originou nos salões franceses e depois se difundiu por toda Europa. No Brasil foi introduzida como dança de salão e depois foi adaptada aos gostos populares; consiste em uma dança de pares guiada por um marcador que determinará as figurações diversas que serão desenvolvidas. Atualmente, a dança sustenta inclusive festivais. Ressalta‑se que não foram citadas todas as danças folclóricas brasileiras, ainda existem inúmeras outras. Todos os países possuem suas danças folclóricas, por exemplo, a tarantela, típica da Itália, havendo alguns países que possuem danças executadas somente em datas especiais, como a polca de Natal sueca. Algumas são executadas em pares, outras em fileiras e outras em rodas. No decorrer dos tempos, essas danças sofreram modificações, contudo o estilo dos passos e das músicas preserva a originalidade. 7.3.3 Dança teatral A dança teatral é aquela encenada para entreter um público, por exemplo, o balé, danças folclóricas, sapateado, entre outras. Até meados do século XIV, o cristianismo era considerado força maior, tendo suas decisões acatadas por boa parte da sociedade. Nesse período, seus representantes proibiram a dança teatral, por apresentar movimentos sensuais. Essa realidade foi modificada com o desencadear do Renascimento, quando o homem passou a ser visto como centro de suas próprias decisões. A dança teatral se desenvolveu entre os séculos XIV e XIV, época do Renascimento, quando as danças folclóricas foram incorporadas pela aristocracia de países como França e Itália, tornando‑se mais elitizadas. Em meados de 1700, a dança chega aos palcos de teatros como coadjuvantes de trechos de ópera, sendo o balé a primeira dança apresentada. O conceito de dança teatral vem evoluindo no decorrer dos tempos; atualmente, não é fácil limitar essa categoria, tendo em vista que nos palcos teatrais dos dias de hoje é possível assistir a diversos números musicais com manifestações cênicas e expressões corporais capazes de passar qualquer mensagem aos espectadores. 7.4 Atividades rítmicas e expressivas através da dança Pode‑se dizer que a dança é um conjunto de gestos e emoções, sentimentos opostos que se unem e contagiam. Através dela é possível sentir alegria, tristeza, angústia, enfim, todos os sentimentos inerentes ao homem. Desta forma, a dança possibilita que a criança se expresse de forma verdadeira, 103 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR incentivando o desenvolvimento de um ser humano crítico, capaz de tomar suas próprias decisões e buscar uma melhor qualidade de vida. Para tanto, o conteúdo de atividades rítmicas e expressivas é eficiente para o desenvolvimento motor e cognitivo e para as relações socioafetivas. As atividades rítmicas e expressivas têm como principal característica a expressão e a comunicação de gestos com presença musical, tendo como finalidade estimular, desenvolver e educar o ritmo físico, o emocional e ainda proporcionar os conhecimentos fundamentais do ritmo musical. Ressalta‑se que as atividades rítmicas e expressivassão tidas como prazerosas, funcionando como um estimulante para a criatividade e as relações sociais, independentemente da idade e do contexto em que o indivíduo está inserido. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), esse tipo de atividade: Constitui‑se em códigos simbólicos, em que a vivência de cada ser humano, em interação com valores e conceitos socioculturais, produz, com isso, possibilidades de comunicação por gestos e posturas, tendo como característica comum a intenção explícita de expressão e comunicação por meio dos gestos e com presença de ritmos, sons da música na construção da expressão corporal, e através disso, encontram‑se subsídios para enriquecer o processo de informação e formação dos códigos corporais do indivíduo e do grupo (BRASIL, 1998, p. 98). As atividades rítmicas e expressivas são organizadas em dois itens: os conteúdos atitudinais, os conceituais e os procedimentais. Os conteúdos atitudinais consistem em normas, valores e atitudes, valorizando a cooperação e a solidariedade, estimulando o diálogo, a cultura popular nacional, buscando ampliar conhecimentos, bem como o respeito a si e ao outro, e as diversas culturas existentes. Nesse contexto, as atividades rítmicas e expressivas constituem‑se na vivência de cada ser humano influenciado com valores e conceitos socioculturais, gerando possibilidades de comunicação por gestos e posturas, objetivando a expressão e a comunicação por meio de gestos, ritmos e músicas, nos quais encontram subsídios para o enriquecimento do processo de formação dos códigos corporais do indivíduo ou do grupo. Constituem ainda conteúdos que colaboram com o aluno no atendimento de suas pretensões de lazer, que estão relacionadas com a cultura do movimento, e assim estes conseguem atingir seus objetivos, pois se almeja que os alunos apreendam informações e mecanismos, de modo que possam aplicá‑los, modificá‑los e ampliá‑los. Desta forma, fica claro que as atividades rítmicas e expressivas devem enfatizar movimentos com sons e músicas com o intuito de inspirar diversas vivências e, simultaneamente, desenvolver o domínio motor, cognitivo e social. 7.5 A linguagem corporal através da dança Sabe‑se que a leitura e a comunicação através de atitudes e pensamentos expressos no comportamento do indivíduo foi o primeiro sistema de comunicação utilizado pelo homem, bem antes de a linguagem oral ser desenvolvida. A linguagem corporal é aquela transmitida através de gestos e posturas, como a expressão facial, o movimento dos olhos, das mãos, das pernas, enfim, do corpo em geral. Nas teorias de Darwin, as emoções são expressas de uma forma geral dentro de determinada cultura. 104 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 Unidade II Considera‑se que existe um acordo geral dentro de uma determinada cultura para se reconhecer distintos estados emocionais. O cérebro humano é programado para levantar as fendas da boca quando nos sentimos felizes e voltá‑las para baixo quando estamos descontentes; segundo a sensação que chega ao cérebro, as pessoas franzirão a testa, levantarão as sobrancelhas ou levantarão um lado da boca (PEASE; PEASE, 2008, p. 6). Enquanto a linguagem oral é ainda entendida por muitos como a principal forma de comunicação entre os homens, tem‑se a linguagem corporal, que é uma forma de transmissão de sentimentos e emoções, em que as pessoas se comunicam utilizando gestos para enfatizar o que está sendo dito. Pease e Pease (2005, p. 17) elucidam que: Albert Mehrabian, pioneiro da pesquisa da linguagem corporal na década de 1950, apurou que em toda comunicação interpessoal cerca de 7% da mensagem é verbal (somente palavras), 38% é vocal (incluindo tom de voz, inflexão e outros sons) e 55% é não verbal. O antropólogo Ray Birdwhistel, pioneiro do estudo da comunicação não verbal, calculou que, em média, o indivíduo emite de 10 a 11 minutos de palavras por dia em sentenças com duração média de apenas 2,5 segundos e estimou também que somos capazes de fazer e reconhecer cerca de 250 mil expressões faciais. Tal como Mehrabian, Birdswhistel descobriu que o componente verbal responde por menos de 35% das mensagens transmitidas numa conversação frente a frente; mais de 65% da comunicação é feita de maneira não verbal. Nas primeiras décadas do cinema, por volta dos anos 1920, os atores, como Charles Chaplin, utilizavam as técnicas de linguagem corporal para transmitir sua mensagem ao público. Era o chamado cinema mudo. Nele, o ator era considerado bom ou ruim pelo que conseguia transmitir. De acordo com Laban (1978, p. 155): O público tem necessidade dessa articulação em pensamento, sentimento e acontecimento. Trata‑se daquilo que a plateia deseja essencialmente ver e experienciar, posto que o custo da vida nem sempre permite nos contemplar a origem e as consequências de todos os nossos atos. Desta forma, temos uma dívida de gratidão para com o dramaturgo e para com os atores que espelham para nós estes acontecimentos. Saiba mais Assista a: O GAROTO. Direção: Charles Chaplin. EUA: Fisrt National, 1921. 68 min. 105 Re vi sã o: V irg ín ia - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 0 9/ 10 /1 5 ARTES VISUAIS INTERDISCIPLINAR Desta forma, fica clara a importância da linguagem corporal no cotidiano do ser humano. Por meio dela, pode‑se perceber o estado emocional de um indivíduo; assim, é uma fonte de informação sobre o que ele está sentindo em determinados momentos. Considera‑se que existe um acordo geral dentro de uma determinada cultura para se reconhecer distintos estados emocionais. O cérebro humano é programado para levantar as fendas da boca quando nos sentimos felizes e voltá‑las para baixo quando estamos descontentes; segundo a sensação que chega ao cérebro, as pessoas franzirão a testa, levantarão as sobrancelhas ou levantarão um lado da boca (CORDEIRO JR., 2013, p. 54). Os movimentos da dança devem ser definidos de forma intencional rítmica, com influências culturais, e ainda de acordo com a sequência da linguagem verbal, musical ou visual. Os elementos básicos da dança são espaço, dinâmica, forma, locomoção, gesto, frase corporal e motivo. Existe uma dinâmica cíclica entre a informação, quem a transmite e aquele que recebe. É um processo contínuo de transmissão e recuperação de informações através de canais ou sistema de códigos envolvendo o processo, isto é, a comunicação em si e o objeto, ou seja, a informação. Para que este sistema comunicativo ocorra de forma plena, um fator importante deve ser destacado: a percepção do mundo que envolve os interlocutores. Portanto, é necessário perceber o contexto onde ocorre o fenômeno. Essa percepção torna‑se viável através dos sistemas receptores do homem, através dos quais as informações chegam e são modificadas culturalmente, tanto de modo individual quanto de modo coletivo (VIANA; NÓBREGA, 2002, p. 3). Nos pequenos gestos de uma criança já é possível notar os pensamentos e sentimentos que a rodeiam, bem como seus processos e representações mentais, portanto, se esses gestos forem colocados na dança, será possível entender em suma o que se passa em seus pensamentos. Desta forma, é correto afirmar que através da dança pode‑se perceber uma linguagem corporal capaz de transmitir as percepções e emoções de quem dança. 7.6 A dança na escola e a “inteligência do movimento” A dança, ao utilizar o corpo como instrumento de manifestação, atua na construção da personalidade, situando o homem como um “ser no mundo”. Por ser um movimento cinestésico, estimula a inteligência corporal‑cinestésica, a musical, a espacial, a interpessoal e a intrapessoal, pelo fato de que a dança é auditiva, afetiva, cognitiva e motora. Por meio de estímulos
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