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113 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS Unidade III 5 TIPOS DE ATERROS SANITÁRIOS 5.1 Aterros sanitários Atualmente, os aterros sanitários são a solução mais econômica para a disposição final ambientalmente adequada de resíduos não perigosos e inertes, entre eles os resíduos sólidos urbanos. Um aterro sanitário é uma obra de engenharia que possibilita o confinamento seguro dos resíduos, evitando riscos à saúde e diminuindo os impactos negativos no ambiente (CALIJURI; CUNHA, 2013). Observação O contato com os agentes contaminantes presentes nos resíduos sólidos e esgoto podem contaminar os seres vivos por inalação, por contato direto através da pele e mucosas e por ingestão. No aterro, os resíduos são biodegradados em condições anaeróbicas. Esse processo tem como vantagem a estabilização dos resíduos, mesmo que a longo prazo, e uma ligeira diminuição no seu volume. No entanto, tal processo gera produtos líquidos lixiviados, conhecido como chorume, e gasosos, que escapam da massa do resíduo. É por isso que, mesmo quando bem projetados, construídos e operados, os aterros ainda podem apresentar riscos ao meio ambiente. Os resíduos ainda podem se transformar em fontes de efluentes gasosos e líquidos. Para que os impactos sejam mínimos, há uma série de requisitos a serem seguidos na construção e operação de um aterro sanitário. Na figura a seguir, podemos observar um esquema de um aterro sanitário. Lembrete O chorume é um líquido escuro rico em matéria orgânica, altamente poluente, devido a sua alta concentração de nutrientes de nitrogênio e fósforo. Causa sérios impactos ambientais quando penetra no solo. 114 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 Unidade III Setor em preparação Setor em execução Dreno de águas de superfície Setor concluído Selo de cobertura Célula de lixo Saída para estação de tratamentoCamada impermeabilizante Lençol freático Dreno de chorume Dreno de gás Figura 30 – Aterro sanitário A base deve ser impermeabilizada, o que geralmente é feito com argila compactada coberta com mantas geotêxteis. Se houver nascentes nas proximidades da área que vai receber os resíduos, elas devem ser canalizadas e, sobre os canos, deve ser colocada uma camada de impermeabilização da base do aterro com três metros de espessura. Sobre a base deve ser colocado um sistema de drenagem de fundo, composto por drenos dispostos em forma de espinha de peixe ou colchões drenantes. Os drenos geralmente são feitos de brita, pois tubos ocos seriam rompidos pelo peso dos resíduos. Esses drenos devem ter a inclinação de 2%, e as britas devem ser cobertas com material sintético ou capim seco, para evitar a colmatação. Os drenos conduzem o lixiviado para um sistema de armazenamento e tratamento. Nos aterros deve haver um sistema de drenagem de gases, com drenos verticais, que devem ter o diâmetro de 1 metro. Normalmente, são usados tubos de concreto perfurados e revestidos com brita nº 4, mas outras soluções, como fardos de tela metálica de formato cilíndrico, preenchidos com brita, sem tubo condutor, também podem ser aplicadas. No topo do dreno, deve ser colocado um queimador de gases ou um tubo que conduza o gás aos geradores de energia. A distância recomendada entre um dreno e outro é de 30 a 50 m. Os resíduos devem ser colocados em células com alturas de 2 a 4 m e serem compactados com tratores ou outros equipamentos apropriados, sempre de baixo para cima, subindo e descendo a rampa de três a cinco vezes. Ao final do período de trabalho, os resíduos devem receber uma cobertura provisória, com 15 a 30 cm de terra, para evitar a propagação de moscas e outros vetores. Uma vez preenchida a célula com volume de resíduo preestabelecido, ela recebe uma cobertura de argila compactada, com cerca de 40 a 60 cm de espessura, que impede a entrada de água de chuva. As águas do escoamento superficial devem ser interceptadas por drenos e afastadas do aterro. A frente de trabalho é um ponto de entrada preferencial para a água de chuva, pois não é impermeabilizada, mas deve ser mantida com a menor extensão possível. 115 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS Quando encerrado, o aterro deve receber uma cobertura final, na qual normalmente se coloca vegetação para aumentar a evapotranspiração e diminuir a produção de lixiviado. É interessante que a cobertura incorpore características que favoreçam o desenvolvimento de bactérias metanotróficas, que usam o metano como alimento e, assim, diminuem a fuga de metano por fora dos drenos de gás e minimizam a emissão de gases estufa. Devemos ressaltar que as áreas para instalação de aterros estão se tornando cada vez mais raras, o que se deve tanto ao crescimento das cidades quanto à legislação ambiental, cada vez mais exigente. Portanto, é preciso maximizar a vida útil dos aterros, o que se pode conseguir somente pela diminuição da quantidade de resíduos encaminhada a eles. Essa diminuição pode ser obtida com o tratamento prévio dos resíduos e com a reciclagem do que for possível. 5.1.1 Métodos construtivos Existem três métodos convencionais para a construção de um aterro sanitário: o método da vala ou trincheira, o método da meia encosta ou da rampa e o método da área. O método da trincheira consiste na abertura de valas onde os resíduos são dispostos, compactados e depois cobertos com solo. É ideal para pequenas comunidades cuja produção de resíduos sólidos urbanos não ultrapasse 10 t/d. Nesse caso, o espalhamento dos resíduos é manual e não há entrada de operadores na vala. No caso de trincheiras de grande porte, a operação é feita com tratores, e as células devem receber uma cobertura de argila compactada. O método da rampa é usado quando se pode aproveitar as encostas para fazer as contenções laterais do aterro e usar o ponto mais baixo para fazer a coleta do lixiviado. Os resíduos são compactados mecanicamente em células de até 4 metros de altura. O material escavado pode ser usado para cobertura do aterro. O método da área é usado em locais de topografia plana e lençol freático raso. Os resíduos são dispostos em células com forma de tronco de pirâmide. É necessário construir uma primeira célula para ter apoio para compactação dos resíduos nas demais. Como praticamente não há escavação da área, todo material de cobertura deve ser trazido de outros lugares. 5.1.2 Lixiviado O lixiviado é uma mistura dos produtos da decomposição anaeróbia dos resíduos com a água da chuva que penetra no aterro. Sua composição química é bastante variável e seu tratamento ainda se constitui em um desafio aos profissionais do setor. O lixiviado é tóxico para os organismos aquáticos, principalmente devido às elevadas concentrações de amônia. Se não for adequadamente gerenciado e tratado, pode contaminar águas superficiais e subterrâneas. As características do lixiviado mudam ao longo do tempo em função da fase em que o aterro se encontra. Há muitas maneiras de delinear as fases da vida de um aterro. Vamos estudar uma divisão simples, focada nas necessidades operacionais (CALIJURI; CUNHA, 2013): • Fase ácida: é a que acontece no início da operação do aterro, em que o lixiviado apresenta grandes concentrações de ácidos voláteis, elevada carga orgânica e pH baixo, e a microbiota metanogênica ainda não teve tempo de se desenvolver. Em países de clima tropical como o Brasil, esta fase pode durar até dois anos. 116 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16Unidade III • Fase metanogênica: uma vez que a microbiota metanogênica está bem desenvolvida, ela consome os ácidos voláteis e os converte em gás carbônico e metano. Com isso, o lixiviado apresenta baixos teores desses ácidos e carga orgânica mais baixa, pH elevado e concentrações significativas de nitrogênio amoniacal. • Fase de maturação: após o encerramento da operação do aterro, a massa de resíduos vai ficando progressivamente mais estabilizada, e, com isso, as emissões de gases diminuem até valores insignificantes. O lixiviado da fase ácida é conhecido como chorume novo e o da fase metanogênica, como chorume velho. Suas características são muito diferentes e a variação é grande, como podemos observar na tabela a seguir. Tabela 6 – Características do lixiviado dos aterros brasileiros Variável Fase ácida Fase metanogênica Mínimo Máximo Mínimo Máximo pH 5,1 8,3 7,1 8,7 DBO (mg/L) 35 25.400 60 6.000 DQO (mg/L) 540 53.700 700 13.500 Nitrogênio amoniacal (mg/L) 10 1.800 50 2.400 Cádmio (mg/L) nd 0,09 nd 0,1 Chumbo (mg/L) nd 1,3 nd 1,1 Zinco (mg/L) nd 7 0,01 2 Obs.: mínimo e máximo são valores extremos encontrados na maioria dos aterros, e a sigla nd significa que não há dados disponíveis. Fonte: Calijuri e Cunha (2013, p. 579). Existe a preocupação quanto aos teores de metais pesados e à presença dos poluentes orgânicos provenientes do lixiviado. Os vários estudos feitos mostram que as concentrações de metais pesados são muito inferiores ao que se imagina, mas estão dentro dos limites de emissão previstos nas resoluções do Conama, na maior parte das vezes. Já os poluentes orgânicos emergentes são de difícil identificação e quantificação numa mistura tão complexa quanto o lixiviado, assim, seu papel na toxicidade do lixiviado ainda não é conhecido O lixiviado apresenta grande variabilidade dentro da mesma fase, dificultando o seu tratamento. Quando removemos a carga orgânica da fase ácida, utilizando sistemas anaeróbicos, obtemos sucesso devido a sua alta degradabilidade. O lixiviado da fase metanogênica é muito refratário ao tratamento, e uma solução usada é o seu tratamento em conjunto com os esgotos sanitários nas estações de tratamento de esgoto. 117 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS 5.1.3 Gás do aterro O gás produzido pelo aterro é uma mistura de biogás com substâncias volatilizadas. O biogás é formado por metano e dióxido de carbono, mas pode conter outros gases, como o gás sulfídrico. O metano e o dióxido de carbono são gases de efeito estufa, o que torna importante que o gás do aterro receba algum tipo de tratamento antes de ser lançado na atmosfera. O metano, que é o gás com efeito estufa mais pronunciado, pode ser queimado, sendo este o tratamento mais simples (CALIJURI; CUNHA, 2013). Saiba mais Para saber mais sobre a queima do metano em aterros para produção de energia, leia: BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Aproveitamento energético do biogás de aterro sanitário. Brasília, [s.d.]. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/ cidades‑sustentaveis/residuos‑solidos/politica‑nacional‑de‑residuos‑solidos/ aproveitamento‑energetico‑do‑biogas‑de‑aterro‑sanitario>. Acesso em: 4 maio 2016. A queima do metano faz com que ele seja uma fonte de energia em potencial. Em vários aterros, o gás é coletado e utilizado para produção de energia elétrica. Cuidados especiais devem ser tomados em sistemas como esse, pois o gás sulfídrico, ao ser queimado, converte‑se em ácido sulfúrico e pode corroer os geradores. É necessário um tratamento prévio do gás antes da queima nas turbinas ou construir os geradores com materiais que resistam a esse tipo de ataque químico. No entanto, a geração de energia a partir do gás de aterro só se torna economicamente viável em aterros grandes. Tanto a queima quanto o aproveitamento energético do gás podem ser usados para a obtenção de créditos de carbono em mecanismos de desenvolvimento limpo, pois diminuem o potencial de efeito estufa do aterro (CALIJURI; CUNHA, 2013). Saiba mais Para estudar um pouco mais sobre resíduos sólidos e poluição ambiental, leia: OLIVEIRA, W. E. Resíduos sólidos e poluição ambiental. Revista DAE, n. 101, p. 46‑56, 1975. 5.2 Aterros de resíduos perigosos Os aterros para resíduos industriais perigosos são construídos de forma análoga aos aterros sanitários. No entanto, esse tipo de aterro deve ser executado e operado de modo muito mais criterioso 118 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 Unidade III devido ao alto risco ao meio ambiente. Deve possuir sistemas de detecção de vazamentos pela camada de impermeabilização e uma drenagem muito mais efetiva das águas pluviais. Geralmente, é útil encapsular os resíduos perigosos. Esse processo consiste em aplicar reações químicas que transformam os resíduos em uma forma menos solúvel e menos tóxica, associando‑o a polímeros impermeáveis ou cristais estáveis. 5.3 Aterros de resíduos inertes Aterros de resíduos inertes são voltados para os resíduos da construção civil, de acordo com a Resolução nº 307 (BRASIL, 2002b) do Conama (essa resolução foi alterada pelas resoluções nº 348/04, nº 431/11 e nº 448/12). Não é suficiente confinar os resíduos no menor volume possível, mas deve‑se mantê‑los segregados e reservados para propiciar sua possível utilização no futuro. Ou seja, os aterros inertes devem funcionar como locais de armazenamento, sendo possível reutilizar a área para outros fins no futuro. Os resíduos de construção civil não podem ser dispostos em aterros sanitários, mas podem ser usados como material de construção na operação desses aterros, geralmente na pavimentação das vias de acesso. Assim, é importante licenciar uma área anexa ao aterro sanitário para que funcione como aterro de inertes. 6 LEGISLAÇÃO SOBRE DESCARTE DE RESÍDUOS A longa espera pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), publicada na Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010b) e regulamentada pelo Decreto nº 7.404 (BRASIL, 2010a), foi compensada por seus princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos (JARDIM; YOSHIDA; MACHADO FILHO, 2012). A Política Nacional de Resíduos Sólidos apresenta um marco inovador e ousado na implementação da gestão compartilhada do meio ambiente, propugnada pelo art. 225 da Constituição Federal (CF), ao conceber uma abrangente articulação e cooperação entre o poder público das várias esferas, o setor econômico‑empresarial e os catadores de materiais recicláveis, com vistas à gestão e ao gerenciamento integrado dos resíduos sólidos. A PRNS compartilha e prioriza com o poder público das diversas esferas o setor econômico e os segmentos sociais, como os catadores de produtos recicláveis, a responsabilidade integrada e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. Ainda, utiliza‑se de instrumentos além do controle e comando, como acordos setoriais, diversas modalidades de planos e instrumentos econômicos. Institui um modelo participativo ímpar de implementação da responsabilidade compartilhada no sistema de logística reversa, priorizando os acordos setoriais, os termos de compromisso e os regulamentos. Aposta no funcionamento da responsabilidade compartilhada e na aplicação subsidiária da tríplice responsabilidade ambiental, isto é, responsabilidade civil objetiva e solidária, administrativa e penal. Quando as obrigações ambientais não são respeitadas, há violação de normas e resultados danosos ao meio ambiente e a terceiros. O funcionamento adequado da responsabilidade compartilhada na logística reversa leva à aplicação subsidiária da tríplice responsabilidade ambiental. 119 Re vi sã o: C ar la - D ia gr amaç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS A PNRS se apresenta como uma verdadeira norma geral federal, com a pretensão de traçar diretrizes gerais a serem observadas pelos municípios, estados e Distrito Federal, sem retirar deles autonomia para suplementarem as diretrizes gerais, adaptando‑as às diversidades regionais e aos interesses locais. O fato complicador é que o advento da Política Nacional de Resíduos Sólidos se dá quando muitos estados, valendo‑se de permissivo da atual Constituição, já editaram suas políticas estaduais de resíduos sólidos, como podemos notar na tabela a seguir. Muitas cidades também já tinham legislação disciplinando a disposição da matéria, e a dificuldade se encontra na harmonização dessa legislação precedente com as diretrizes da PNRS. Com relação às disposições da legislação municipal e estadual, prevê‑se a suspensão automática e imediata da eficácia dessas disposições quando a norma federal geral entrar em vigor. Tabela 7 – Políticas Estaduais de Resíduos Sólidos e Decretos Regulamentadores Estado Ano Lei nº Decerto nº Ementa CE 2001 13.103 Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá providências correlatas. CE 2002 26.604 Regulamenta a Lei nº 13.103, de 24/01/01, que dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos do Ceará. DF 2003 3.232 Dispões sobre a Política Distrital de Resíduos Sólidos e dá outras providências. DF 2008 29.399 Regulamenta a Lei nº 3.232, de 03/12/03 e dá outras providências. MG 2009 18.031 Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos. MG 2009 45.181 Regulamenta a Lei nº 18.031, de 12/01/09, e dá outras providências. PE 2001 12.008 Dispões sobre a Política Estadual de Resíduos sólidos e dá outras providências. PE 2002 23.941 Regulamenta a Lei nº 12.008, de 01/06/01, que dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos, e dá outras providências. PR 1999 12.493 Estabelece princípios, procedimentos normas e critérios referentes à geração, acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos no estado do Paraná, visando o controle da poluição e da contaminação e a minimização de seus impactos ambientais, e adota outras providências. PR 2002 6.674 Aprova o Regulamento da Lei nº 12.493/99, que dispõe sobre princípios, procedimentos normas e critérios referentes à geração, acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e destinação final dos resíduos sólidos no estado do Paraná. RS 1993 9.921 Dispõe sobre a gestão dos resíduos sólidos, nos termos do art. 247, § 3º da Constituição do estado e dá outras providências. RS 1998 38.356 Aprova o regulamento da Lei nº 9.921, de 27/07/93, que dispõe sobre a gestão dos resíduos sólidos no estado do Rio Grande do Sul. SP 2006 12.300 Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos e define princípios e diretrizes. SP 2009 54.645 Regulamenta dispositivos da Lei nº 12.300, de 16/03/06, que institui a Política Estadual de Resíduos sólidos, e altera o inciso I do art. 74 do Regulamento da Lei nº 997, de 31/05/76, aprovado pelo Decreto nº 8.468, de 08/09/76. 120 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 Unidade III ES 2009 9.264 Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá outras providências correlatas. GO 2002 14.248 Dispõe sobre a política de Resíduos Sólidos e dá outras providências. GO 2009 16.746 Introduz alteração na Lei nº 14.248, de 29/07/02, que dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos. MT 2002 7.862 Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá outras providências. MT 2009 9.132 Altera e acrescenta dispositivos à Lei nº 7.862, de 19/12/02. MT 2009 9.263 Adiciona o inciso V ao art. 50, da Lei nº 7.862, de 19/12/02, que dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá outras providências. RJ 2003 4.191 Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá outras providências. RJ 2008 41.122 Institui sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos da região metropolitana do estado do Rio de Janeiro. RN 2004 272 Regulamenta os arts. 150 e 154 da Constituição Estadual, revoga as Leis Complementares Estaduais nº 140, de 26/01/96, e nº 148, de 26/12/96, e dispõe sobre a Política e o Sistema Estadual do Meio Ambiente, as infrações e sanções. RR 2004 416 Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá outras providências. SC 2005 13.557 Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá outras providências. SE 2006 5.857 Dispõe sobre a Política Estadual de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e dá providências correlativas. Fonte: Jardim, Yoshida e Machado Filho (2012, p. 5). Já as Resoluções do Conama foram recepcionadas pela PNRS, especialmente na obrigação da logística reversa no caso de pilhas e baterias, pneus e óleos lubrificantes. 6.1 A Política Nacional de Resíduos Sólidos e a gestão compartilhada do meio ambiente como exigência constitucional A Constituição Federal, ao mesmo tempo que assegurou o direito fundamental de todos ao meio ambiente equilibrado, impôs de maneira obrigatória a corresponsabilidade do poder público e da coletividade de protegê‑lo e preservá‑lo para as presentes e futuras gerações. Esse dever foi fundado na solidariedade e na equidade entre as gerações. A participação pública na gestão ambiental é manifestação particularizada do princípio da soberania popular em que se assenta a construção do estado democrático e social de direito brasileiro (BRASIL, 1988). A responsabilidade e a gestão compartilhada do meio ambiente entre o poder público e a sociedade, para fins de sua mais eficiente proteção e defesa, é uma importante inovação situada na evolução da tutela dos diretos difusos, incorporada pela Constituição de 88 e, cada vez mais, pelas legislações ambientais, como é o caso da PNRS instituída pela Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010b). 121 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS O dever de tutela de bem de natureza difusa, como é de proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado, não fica afeito a ninguém em particular, mas a todos em geral, já que se trata de bem de uso comum de todos. O caráter difuso do direito e do bem jurídico perpassa para a respectiva tutela, que constitui igualmente um dever de todos. A particularidade no direito brasileiro é a importância da atuação do Ministério Público na defesa do meio ambiente e de outros interesses sociais, que se insere entre as relevantes funções institucionais que lhes são atribuídas pela Constituição Federal. Na previsão embrionária da ação civil pública ambiental da Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), o Ministério Público aparece como legitimado exclusivo para essa ação desde a disciplina da Lei nº 7.347 (BRASIL, 1985), que estabeleceu quebra desse monopólio. É o legitimado mais atuante na tutela do meio ambiente por meio desta ação, da celebração de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e da transação penal nos procedimentos das infrações de menor potencial ofensivo. As entidades ambientalistas despontam no cenário internacional na Rio‑92 e têm atuação destacada na proteção da biodiversidade brasileira e do meio ambiente em geral. A preocupação crescente com a questão ambiental, principalmente diante da aceleração do aquecimento global e do agravamento dos fenômenos climáticos atribuídos às emissões históricas de gases de efeito estufa, trouxe para o cenário da responsabilidade socioambiental mais um importante ator, o setor econômico, abrangente dos setores financeiro, industrial, comercial, agrícola e de serviços. Movido pela lógica de mercado e atentos à tendência de investidores,consumidores e usuários, o setor econômico vislumbra na responsabilidade socioambiental o estímulo para a adoção de práticas de gestão ambiental e para exigir o cumprimento das normas ambientais por todos os elos da cadeia de fornecedores e prestadores de serviços, de modo a minimizar e compartilhar a responsabilidade após o consumo. A PNRS constitui sem dúvida um marco legal histórico na gestão compartilhada do meio ambiente como exigência constitucional, compartilhando a responsabilidade pela gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos entre os poderes estatais dos diferentes níveis federativos e entre os atores econômicos e sociais. A Lei nº 6.938 (BRASIL, 1981) é bastante abrangente em relação ao conceito de poluidor. A PNRS aponta os que estão sujeitos à observância de suas disposições, as pessoas jurídicas ou físicas, de direito privado ou público, responsáveis, indireta ou diretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvem ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos. Ainda descreve como um dos seus princípios fundamentais a cooperação entre as várias esferas do poder público, dos segmentos da sociedade, do setor empresarial, ressaltando entre seus objetivos a articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos. Da mesma forma, aponta como instrumento dessa mesma política a cooperação financeira e técnica entre os setores público e privado para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reutilização, tratamento de resíduos e disposição final ambientalmente adequada de rejeitos. A PNRS contempla também a previsão de integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos comercializados em embalagens plásticas, metálicas ou de vidro e demais produtos e embalagens, 122 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 Unidade III do incentivo à criação e ao desenvolvimento de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores, da atuação dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos em parceria com tais cooperativas e outras formas de associação. A preocupação e a inserção de cooperativas de catadores na forma acima descrita em muito contribuem para a promoção do desenvolvimento sustentável com inclusão social, fundamental na realidade brasileira na concepção mais abrangente do desenvolvimento humano. O conceito de desenvolvimento humano possui quatro dimensões complementares e integrais: • pressupõe que o crescimento econômico, por ampliar a oferta de bens e serviços à disposição da população, é uma condição necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento humano; • que o desenvolvimento humano não ocorre num contexto de exclusão social, pois tem de se processar em benefício das pessoas; • que as pessoas têm que ter acesso a informações, conhecimento e bens culturais para a sua própria promoção; • que a forma de crescimento econômico atual não venha a comprometer a gama das oportunidades das gerações futuras, isto é, o desenvolvimento humano pressupõe a sua sustentabilidade. O êxito da gestão compartilhada entre a sociedade e o poder público proposta pela PNRS depende da complexa cooperação, integração e coordenação das esferas federativas na estrutura do federalismo cooperativo no Brasil, da participação direta e efetiva da sociedade organizada e mobilizada através de seus múltiplos setores econômicos e segmentos sociais e da observância da responsabilidade compartilhada entre todos os elos da cadeia geradora dos produtos, serviços e respectivos resíduos. 6.2 A integração da PNRS na PNMA e as articulações com a PNEA Como está impresso nas disposições inaugurais da Lei e comentado no art. 5º, a PNRS integra a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) pela Lei nº 6.938 (BRASIL, 1981) e articula‑se com a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) pela Lei nº 9.795 (BRASIL, 1999), com a política Federal de Saneamento Básico pela Lei nº 11.445 (BRASIL, 2007) e com a Lei dos Consórcios Públicos, Lei nº 11.107 (BRASIL, 2005). Os instrumentos (de controle e comando, de planejamento e econômicos), os institutos jurídicos e os princípios da PNMA são incorporados pela PNRS: os princípios clássicos de desenvolvimento sustentável, da precaução e da prevenção, do poluidor pagador; no que couber, os instrumentos da PNMA, como os padrões de qualidade ambiental; o cadastro técnico federal de atividades potencialmente poluidoras ou usuárias de recursos naturais; o cadastro técnico federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental; o sistema nacional de informação sobre o meio ambiente; a avaliação de impactos ambientais; o licenciamento e a revisão de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras. 123 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS É importante lembrar que a PNMA e a Constituição Federal são básicas e fundamentais para a consolidação e institucionalização do sistema de comando e controle repressivo e preventivo, enfrentando problemas complexos e desafios para o adequado funcionamento, na realidade do país, do sistema nacional de meio ambiente instituído pelo PNMA. Ainda podemos citar que a PNMA e a constituição vigente são marcos fundamentais na estruturação e consolidação do sistema tríplice de responsabilidade ambiental (CF, art. 225, §3º), abrangente da responsabilidade civil solidária e objetiva (PNMA, art. 14, §1º e CF, art. 225, caput) e das responsabilidades administrativas e penal (CF, art. 225, §3º, Lei nº 9.605/98 e Decreto nº 6514/08), na seara ambiental agrega‑se a responsabilidade por improbidade administrativa ambiental (CF, art. 37, §§ 4º e 5º, Lei nº 8.429/92). A PNRS constitui um marco fundamental na transição do predomínio do sistema de comando e controle estatais de cunho repressivo‑corretivo ao juntar mecanismos, diretrizes e instrumentos econômicos, de gestão e planejamento, propícios a incentivar e promover a institucionalização, promoção e valorização da auto‑organização dos setores econômicos e sociais, a participação efetiva e a mobilização e controle sociais, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos, com inclusão social dos catadores. Além disso, a PNRS se preocupa em estruturar um sistema de gestão e de gerenciamento integrado aos resíduos como base, com as seguintes diretrizes: na integração, cooperação e atuação harmoniosa dos níveis federativos nos campos da legislação municipal, estadual e federal e das ações administrativas comuns; como um incentivo à adoção de consórcios ou de outras formas de cooperação, objetivando a elevação das escalas de aproveitamento e redução dos custos envolvidos na articulação entre as várias esferas de poder público, e dela com o setor empresarial, visando à cooperação técnica e financeira para o desenvolvimento de pesquisas de novos produtos, métodos, processos e tecnologias de gestão, reciclagem, reúso, tratamento de resíduos e disposição final adequada para os rejeitos; na participação e mobilização organizadas não somente do setor econômico‑empresarial, mas também dos catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis nas ações que envolvam responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, que tem como seu principal instrumento a logística reversa. Ainda, a PNRS inova ao introduzir e disciplinar a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto na logística reversa e deixa clara a estratégiadesafiante de conduzir a transição do controle passivo para o controle ativo, que se mostrou muito mais eficaz para promover e incentivar a transformação dos padrões insustentáveis para padrões sustentáveis de produção e consumo baseados na participação, cooperação e mobilização sociais e na construção da consciência e da cidadania ambientais. A implementação e o funcionamento correto do sistema de gerenciamento e gestão têm como consequência importante o afastamento do sistema de comando e controle corretivo repressivo, que foi considerado um grande avanço na direção da transição do predomínio de um sistema para o outro. No caso de não implementação, não funcionamento ou mau funcionamento do sistema da logística reversa e da responsabilidade compartilhada, deverá ser aplicado subsidiariamente o já consolidado sistema jurídico‑legal da tríplice responsabilidade no campo ambiental: a responsabilidade civil objetiva e solidária, consagrada pela PNMA e pela Constituição Federal, sem prejudicar a responsabilidade administrativa e a responsabilidade penal, sem falar na responsabilidade por improbidade administrativa 124 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 Unidade III ambiental, citando, ainda, importantes precedentes jurisprudenciais do Superior Tribunal de Justiça com nítido caráter pedagógico. O sistema clássico da responsabilidade civil solidária é aplicável na seara ambiental como benefício pro societatis e pro ambiente. Pela regra da sociedade passiva, o credor pode exigir de um só devedor solidário o total das obrigações, o que deverá acontecer, em relação à PNRS ora analisada, se não observada e respeitada a responsabilidade compartilhada na forma disciplinada nos acordos setoriais, termos de compromisso e regulamentos, conforme o caso. Na disciplina da PNRS, caberá ao poder público atuar, subsidiariamente, com o objetivo de minimizar ou cessar o dano, logo que tomar conhecimento do evento lesivo ao meio ambiente ou à saúde pública, relacionado ao gerenciamento de resíduos sólidos. Os responsáveis pelo dano deverão ressarcir integralmente o poder público pelos gastos decorrentes das ações empreendidas. Nas disposições transitórias e finais, a Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010b) faz expressa referência à aplicação das responsabilidades civil objetiva, penal ambiental e administrativa, introduzindo disposições específicas: Art. 51. Sem prejuízo da obrigação de, independentemente da existência de culpa, reparar os danos causados, a ação ou omissão das pessoas físicas ou jurídicas que importe inobservância aos preceitos desta Lei ou de seu regulamento sujeita os infratores às sanções previstas em lei, em especial às fixadas na Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que “dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”, e em seu regulamento. Art. 52. A observância do disposto no caput do art. 23 e no § 2o do art. 39 desta Lei é considerada obrigação de relevante interesse ambiental para efeitos do art. 68 da Lei nº 9.605, de 1998, sem prejuízo da aplicação de outras sanções cabíveis nas esferas penal e administrativa. Art. 53. O § 1o do art. 56 da Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, passa a vigorar com a seguinte redação: [...] Art. 56 [...] § 1o Nas mesmas penas incorre quem: I – abandona os produtos ou substâncias referidos no caput ou os utiliza em desacordo com as normas ambientais ou de segurança; II – manipula, acondiciona, armazena, coleta, transporta, reutiliza, recicla ou dá destinação final a resíduos perigosos de forma diversa da estabelecida em lei ou regulamento (BRASIL, 2010b, p. 21) 125 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS A PNRS tem como objetivo viabilizar e incentivar a implementação prioritária do sistema de gestão integrada e de gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos, mediante a mobilização e participação direta e efetiva da sociedade organizada através de seus múltiplos setores econômicos e segmentos sociais, instituindo a responsabilidade compartilhada entre todos os elos da cadeia geradora dos produtos, serviços e resíduos. Para que esse processo integrativo e participativo se torne realidade e opere de forma eficaz, a PNRS se articula com a PNEA e incorpora a educação ambiental como um de seus instrumentos, exigindo que o plano municipal de gestão integrada de resíduos contenha programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a reutilização, a redução e a reciclagem de resíduos sólidos. Muito ligado ao instrumento da educação ambiental está o da informação ambiental, muito valorizado pela PNRS que, afora proclamar como princípio básico o direito da sociedade à informação e ao controle social, introduz entre os instrumentos o sistema nacional de informações sobre a gestão dos resíduos sólidos, o sistema nacional de informações em saneamento básico e o próximo sistema nacional de informações sobre meio ambiente da PNMA (BRASIL, 1981). Agregam os instrumentos de planejamento e de estímulo econômico, imprescindíveis à transição do predomínio atual do controle social passivo para o controle social ativo. A PNRS proclama como um de seus princípios vetores o direito da sociedade à informação e ao controle social, que é definido pela própria lei como conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam à sociedade informações e participação nos processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos. O controle social faz parte da concepção de gestão integrada de resíduos sólidos enquanto conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões econômicas, políticas, culturais, ambientais e sociais, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável. Ao ser assegurada ampla publicidade ao controle de planos de resíduos sólidos, também é feita menção ao controle social em sua formulação, operacionalização e implementação, existindo referência expressa para a PNRS, que deve conter entre seus requisitos mínimos meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito nacional, de sua implementação e operacionalização, assegurando o controle social; deve ser elaborado mediante processo de mobilização e participação social, incluindo a realização de audiências e consultas públicas, como prevê o parágrafo único (art. 15, XI). À medida que se estabelece a educação, a participação, a informação, a mobilização e o controle social, haverá reflexos positivos na observação e na implementação adequada da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Com isso, os instrumentos de auto‑organização, autocontrole e autogestão sociais ganham efetividade e operacionalidade; a consequência será tornar cada vez mais subsidiária a atuação do sistema de controle e comando e o sistema da tríplice responsabilidade ambiental, como já mencionado. 126 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 Unidade III 6.3 A PNRS no sistema de competência legislativa concorrente Na realidade do federalismo cooperativo brasileiro, a tendência de centralização político‑administrativa da união federal (centrípeta), que é peculiar ao federalismo cooperativo, convive em constante e crescente embate com a tendência de descentralização político‑administrativa dos entes federativos (centrífuga), característica marcante da federação brasileira, justificada pelas origens de sua formação. Ela não resulta do desmembramento de um estado unitário, masda união de entes políticos autônomos, configurando uma estrutura federativa de três níveis de poder: municipal, estadual e federal, em que o município desempenha um papel destacado sob o aspecto da descentralização, lastreada no princípio da subsidiariedade. A viga mestra do sistema de competência legislativa na seara ambiental é a concorrente/suplementar, consentânea com a estrutura do federalismo cooperativo vigente entre nós. É o que podemos observar no art. 24 da Carta Federal, que concentra várias disposições a respeito: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I – direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; II – orçamento; III – juntas comerciais; IV – custas dos serviços forenses; V – produção e consumo; VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX – educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação (BRASIL, 1988, p. 15). Os delineamentos do sistema vertical de competência legislativa concorrente estão definidos nos parágrafos do art. 24. A competência concorrente limitada é adotada como regra, abrindo espaço para a competência cumulativa na hipótese e na forma dos §§ 3º e 4º da Constituição: § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar‑se‑á a estabelecer normas gerais. 127 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário (BRASIL, 1988, p. 16). Tais critérios constitucionais relativos à competência legislativa concorrente/suplementar disciplinados nos parágrafos do art. 24, transcrito aqui, não evitam os frequentes conflitos entre normas municipais, estaduais e federais, que se colocam diante de situações concretas, conforme já estudado, com os critérios de distribuição da competência administrativa comum atualmente vigentes para o licenciamento ambiental (Resolução do Conama nº 237/97) e que deverá suceder os critérios contemplados no Projeto de Lei nº 01 (BRASIL, 2010). 6.4 Principais diretrizes gerais estabelecidas na PNRS imbricadas com a questão competencial 6.4.1 Hierarquia das ações no manejo de resíduos sólidos A diretriz principal é a que estabelece a hierarquia, a ordem de prioridade a ser observada na gestão e no gerenciamento dos resíduos sólidos. Ela trouxe inovações fundamentais: introduziu, primeiramente, a não geração de resíduos, antes da tradicional política dos 3R (reciclagem, redução e reutilização), e na ponta oposta, da distribuição final, introduziu o conceito bem restritivo de rejeito, em consonância com a concepção arrojada e as premissas da PNRS. No art 9º da PNRS, no gerenciamento e gestão de resíduos sólidos, devemos observar a ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento de resíduos sólidos e disposição final adequada ambientalmente, que é a distribuição ordenada de resíduos em aterros, observando normas específicas de modo a evitar danos ou risco à saúde pública e à segurança e minimizar os impactos ambientais adversos (art. 3º, VIII). 6.4.2 Incineração no contexto da PNRS A próxima diretriz a ser abordada é também de extrema importância e trata‑se da controvertida questão da incineração com recuperação energética de resíduos urbanos. A concepção elogiada da PNRS tem como contrapartida uma maior complexidade na sua implementação, notadamente no que se refere às diretrizes referentes à logística reversa, à destinação final dos resíduos, à disposição final dos rejeitos, com o objetivo de gestão integrada, e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos, com a preocupação social das cooperativas e outras formas associativas de catadores. Não podemos ignorar os riscos das emissões tóxicas, liberadas pelos incineradores mais modernos, constituídas por três tipos de poluentes perigosos para o ambiente e para a saúde 128 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 Unidade III humana: os produtos de combustão incompleta, os metais pesados e as substâncias químicas novas altamente tóxicas e cancerígenas formadas durante o processo de incineração, as dioxinas e os furanos. Nenhum processo de incineração opera com 100% de eficácia. Essas substâncias podem viajar longas distâncias pelas correntes oceânicas e pelo ar, ocasionando uma contaminação global. As dioxinas liberadas pelos incineradores também podem se acumular nos peixes e em animais ruminantes por meio da cadeia alimentar. A proposta para PNRS apresentava a incineração e o coprocessamento em fornos de cimento como as principais políticas para redução de resíduos. Essa proposta de lei foi muito criticada na época, pois regulamentava a utilização de incineradores e priorizava o uso de tecnologias sujas, além de atentar contra a Convenção de Estocolmo, tratado da ONU para o combate dos poluentes orgânicos persistentes, assinado pelo Brasil em 2001. A Convenção aponta a incineração de resíduos como uma das principais fontes geradoras desses poluentes e recomenda que o uso de incineradores seja eliminado progressivamente. A Resolução do Conama, resultado da 39ª reunião extraordinária realizada em 29 de outubro de 2002, Processo n. 02000.007884/2001‑48, que dispôs sobre procedimentos e critérios para funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos, também foi alvo de críticas. Além de regulamentar a utilização de incineradores, a Resolução estabeleceu valores máximos para a emissão de furanos e dioxinas cinco vezes maiores que os permitidos em países europeus e nos Estados Unidos. A atual PNRS não veda o uso da incineração fora dos casos em que ela é obrigatória, estabelecendo condições e exigências do seguinte teor: Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com a implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão ambiental (BRASIL, 2010b). Mesmo assim é condenável propalar e adotar tecnologias avançadas de aproveitamento energético desconsiderando a hierarquia estabelecida para o manejo dos resíduos sólidos, que contribui para aumentar o ciclo de vida de produto, reduzir a geração de resíduos e rejeitos, bem como o consumo de recursos naturais como insumos. 6.4.3 A competência dos entes federativos pela gestão integrada dos resíduos gerados nos respectivos territórios Ao Distrito Federal e aos municípios incumbe a gestão integrada dos resíduos sólidos gerados nos respectivos territórios, sem prejuízo das competências de controle e fiscalização dos órgãos federais e estaduais do Sisnama, do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e do Sistema Único de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa), bem como da responsabilidade do gerador pelo gerenciamento de resíduos. Aos estados incumbe, entre outras diretrizes e determinações estabelecidas na lei e no decreto: promover a integração da organização, do planejamento e da execuçãodas funções públicas de 129 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS interesse comum relacionadas à gestão dos resíduos sólidos nas regiões metropolitanas, microregiões e aglomerações urbanas, nos termos da lei complementar estadual prevista no § 3º do art. 25 da Constituição Federal, e fiscalizar e controlar as atividades geradoras sujeitas a licenciamento ambiental pelo órgão estadual Sisnama (BRASIL, 1988). Ainda foi atribuído aos estados o importante papel de priorizar e apoiar as iniciativas do município de soluções consorciadas ou compartilhadas entre dois ou mais municípios. A PNRS estabelece que todos os entes federativos, municípios, estados, Distrito Federal e União, têm responsabilidade pela manutenção e organização de forma conjunta do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos (Sinir), articulado com o Sinisa e o Sisnama. Os estados, o Distrito Federal e os municípios devem fornecer ao órgão federal responsável pela coordenação do Sinir todas as informações necessárias sobre os resíduos sob sua esfera de competência, na forma e na periodicidade estabelecidas no regulamento. 6.4.4 Diretrizes para elaboração e implementação dos planos de resíduos sólidos Os diversos planos de resíduos a serem implementados pelas instâncias federativas são instrumentos fundamentais na consecução da PNRS, que cuida de estabelecer o conteúdo mínimo de cada um (arts. 15, 17, 19 e 21) e a vigência por prazo indeterminado, com horizonte de atuação de vinte anos e revisões a cada quatro anos. Os estados poderão elaborar e implementar planos microrregionais de resíduos sólidos, planos específicos de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas, sendo obrigatória a participação dos municípios envolvidos sem excluir nem substituir prerrogativas dos municípios previstas na Lei. Respeitada a responsabilidade dos geradores, o plano microrregional deve atender o previsto para o plano estadual e estabelecer soluções integradas para a coleta seletiva, a recuperação e a reciclagem, o tratamento e a destinação final dos resíduos sólidos urbanos e, consideradas as peculiaridades microrregionais, outros tipos de resíduos. Como mecanismo indutor, a PNRS estabelece planos de resíduos como condição para os estados, o Distrito Federal e os municípios terem acesso a recursos da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por financiamentos ou incentivos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade. Com o mesmo objetivo indutor, no que se refere ao acesso aos recursos da União, prioriza os municípios que optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão de resíduos sólidos, incluída a elaboração e implementação de planos intermunicipais, ou que se inserirem de forma voluntária nos planos microrregionais de resíduos sólidos, implementando a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou associações de catadores de lixo formadas por pessoas físicas de baixa renda. O plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos pode estar inserido no plano de saneamento básico (art. 19 da Lei nº 11.445/2007); vai ter o conteúdo simplificado para municípios com 130 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 Unidade III menos de vinte mil habitantes, com exceção dos municípios integrantes de área de interesse turístico, inseridos na área de influência de empreendimentos ou atividades com grande impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, cujo território abrange unidades de conservação de forma parcial ou total (art. 19, §§ 1º, 2º e 3º, I, II e III da Lei nº 11.445/2007). A existência desse plano não libera o município do licenciamento ambiental de aterros sanitários e de outras infraestruturas e instalações operacionais integrantes do serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos pelo órgão competente do Sisnama. Na definição de responsabilidade quanto à implementação e operacionalização, incluídas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos a cargo do poder público, é proibido atribuir ao serviço público de limpeza urbana e de manejo de lixo e a realização das etapas do gerenciamento dos resíduos sólidos não obedecendo à licença ambiental ou às normas estabelecidas pelo Sisnama. O conteúdo do plano municipal foi estabelecido pelo Decreto nº 7.404 (BRASIL, 2010a), e contempla ações específicas a serem desenvolvidas no âmbito dos órgãos da administração pública, com o objetivo de usar os recursos naturais de forma racional, com a minimização de formação de resíduos sólidos e combate ao desperdício. A falta de um plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos não pode ser usada para impedir a instalação ou a operação de empreendimentos ou atividades licenciadas pelos órgãos competentes. Segundo o Decreto, o município pode ser dispensado da elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos na hipótese de optar por soluções consorciadas intermunicipais e estar assegurado o preenchimento dos requisitos mínimos pelo plano intermunicipal. NR 25 – Resíduos industriais A Norma Regulamentadora 25 dispõe sobre medidas preventivas a serem tomadas pelas empresas em relação ao destino final dado aos resíduos industriais gerados nos ambientes de trabalho, com o objetivo de preservar a integridade física e a saúde dos trabalhadores. Segue abaixo a norma: 25.1 Entende‑se como resíduos industriais aqueles provenientes dos processos industriais, na forma sólida, líquida ou gasosa ou combinação dessas, e que por suas características físicas, químicas ou microbiológicas não se assemelham aos resíduos domésticos, como cinzas, lodos, óleos, materiais alcalinos ou ácidos, escórias, poeiras, borras, substâncias lixiviadas e aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como demais efluentes líquidos e emissões gasosas contaminantes atmosféricos. 25.2 A empresa deve buscar a redução da geração de resíduos por meio da adoção das melhores práticas tecnológicas e organizacionais disponíveis. 25.3 Os resíduos industriais devem ser eliminados dos locais de trabalho através de métodos, equipamentos ou medidas adequados, sendo proibido o lançamento ou a liberação no ambiente de trabalho de quaisquer contaminantes que possam comprometer a segurança e saúde dos trabalhadores, sob a forma de matéria ou energia, direta ou indiretamente. 131 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS 25.3.1 As medidas, métodos, equipamentos ou dispositivos de controle do lançamento ou liberação dos contaminantes gasosos, líquidos e sólidos devem ser submetidos ao exame e à aprovação dos órgãos competentes. 25.3.2 Os resíduos líquidos e sólidos produzidos por processos e operações industriais devem ser adequadamente coletados, acondicionados, armazenados, transportados, tratados e encaminhados à adequada disposição final pela empresa. 25.3.2.1. Em cada uma das etapas citadas no subitem 25.3.2 a empresa deve desenvolver ações de controle, de forma a evitar risco à segurança e saúde dos trabalhadores. 25.3.3 Os resíduos sólidos e líquidos de alta toxicidade, periculosidade, os de alto risco biológico e os resíduos radiativos devem ser dispostos com o conhecimento, aquiescência e auxílio de entidades especializadas/públicas e no campo de sua competência. 25.4 A empresa deve atender todos os critérios de potabilidade para a água fornecida aos trabalhadores e utilizada para ingestão, preparo de alimentose higiene corporal. 25.5 Os trabalhadores envolvidos em atividades de coleta, manipulação, acondicionamento, armazenamento, transporte, tratamento e disposição de resíduos devem ser capacitados pela empresa, de forma continuada, sobre os riscos envolvidos e as medidas de eliminação e controle adequado dos mesmos (BRASIL, 2011a). A fiscalização ambiental é feita pelo Ibama, por órgãos municipais ou estaduais. A aplicação da NR 25 é feita após consulta da legislação municipal, estadual e federal e o Conama é o órgão competente para elaborar diretrizes técnicas para implementação da PNMA. As normas regulamentadoras referentes à segurança do trabalho são obrigatórias para qualquer organização que tenha empregados sob o regime da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), independentemente de a empresa ser pública ou privada. Durante uma fiscalização, os auditores do trabalho podem pedir ao empregador a convenção ou acordo coletivo, quando existir, com o objetivo de verificar requisitos mínimos de saúde e segurança mais restritos que os previstos nas NRs. Nesses documentos podem estar determinados pagamentos de adicionais de insalubridade e periculosidade. O auditor fiscal do trabalho, além de aplicar multas, também pode orientar os empresários sobre como a lei deve ser aplicada, principalmente em se tratando da legislação vigente. As inspeções geralmente são realizadas de forma imprevista, com toda cautela, em horários e épocas mais adequadas para sua eficiência. 132 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 Unidade III A Instrução Normativa MTE/SIT nº 19, de 27 de setembro de 2000, determinou a competência das Unidades Regionais de Inspeção do Trabalho Portuário e Aquaviário em estabelecer a fiscalização das condições do trabalho, segurança e saúde e de vida a bordo de embarcação comercial estrangeira ou nacional, usada na navegação marítima, fluvial ou lacustre. Resumo Atualmente, os aterros sanitários são a solução mais econômica para a disposição final ambientalmente adequada para resíduos não perigosos e inertes, entre eles os resíduos sólidos urbanos. Um aterro sanitário é uma obra de engenharia que possibilita o confinamento seguro dos resíduos, evitando riscos à saúde e diminuindo os impactos negativos no ambiente. No aterro, os resíduos são biodegradados em condições anaeróbicas. Esse processo tem como vantagens a estabilização, mesmo que a longo prazo, dos resíduos, e uma ligeira diminuição no seu volume. No entanto, tal processo gera produtos líquidos lixiviados, conhecidos como chorume, e gasosos, que escapam da massa do resíduo. É por isso que, mesmo quando bem projetados, construídos e operados, os aterros ainda podem apresentar riscos ao meio ambiente. Os resíduos ainda podem se transformar em fontes de efluentes gasosos e líquidos. Para que os impactos sejam mínimos, há uma série de requisitos a serem seguidos na construção e operação de um aterro sanitário. A Política Nacional de Resíduos Sólidos apresenta um marco inovador e ousado na implementação da gestão compartilhada do meio ambiente, propugnada pelo art. 225 da Constituição Federal, ao conceber uma abrangente articulação e cooperação entre o poder público das várias esferas, o setor econômico‑empresarial e os catadores de materiais recicláveis, com vistas à gestão e ao gerenciamento integrado dos resíduos sólidos. A PRNS compartilha e prioriza com todos, poder público das diversas esferas, setor econômico e segmentos sociais, como os catadores de produtos recicláveis, a responsabilidade integrada e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos. A PRNS utiliza‑se de instrumentos de controle e comando, como acordos setoriais, das diversas modalidades de planos e dos instrumentos econômicos. A Norma Regulamentadora 25 dispõe sobre medidas preventivas a serem tomadas pelas empresas em relação ao destino final dado aos resíduos industriais gerados nos ambientes de trabalho, com o objetivo de preservar a integridade física e a saúde dos trabalhadores. 133 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS Exercícios Questão 1. (Enem 2015) Diálogo: – Por que o sr. desconfia que sua mulher está tentando matá‑lo? – Ela me serviu pimentão, alface e tomate no jantar. E de sobremesa morango e uva. Na charge há uma crítica ao processo produtivo agrícola brasileiro relacionada ao: A) Elevado preço das mercadorias no comércio. B) Aumento da demanda por produtos naturais. C) Crescimento da produção de alimentos. D) Hábito de adquirir derivados industriais. E) Uso de agrotóxicos nas plantações. Resposta correta: alternativa E. 134 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 Unidade III Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: no diálogo a preocupação é com o uso dos agrotóxicos, e não do preço das mercadorias no comércio. B) Alternativa incorreta. Justificativa: não há a preocupação no diálogo a respeito do aumento da demanda por produtos naturais. C) Alternativa incorreta. Justificativa: fica explícito no diálogo que a preocupação é referente aos vegetais e frutas com elevado índice de agrotóxicos. D) Alternativa incorreta. Justificativa: o hábito de adquirir derivados industriais não é a questão levantada na charge. E) Alternativa correta. Justificativa: essas são as frutas e verduras com os maiores teores de agrotóxicos no Brasil, que podem fazer dos alimentos um veneno para a saúde humana. Ou seja, a charge crítica o extenso uso de agrotóxicos. Questão 2. (Enem 2010, adaptada) O lixão que recebia 130 toneladas de lixo e contaminava a região com seu chorume (líquido derivado da decomposição de compostos orgânicos) foi recuperado, 135 Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 25 /0 5/ 20 16 MEIO AMBIENTE E GESTÃO DE RESÍDUOS transformando‑se em um aterro sanitário controlado, mudando a qualidade de vida e a paisagem e proporcionando condições dignas de trabalho para os que dele subsistiam. Revista Promoção da Saúde da Secretaria de Políticas da Saúde. Ano 1, nº 4, dez. 2000 (adaptado). Quais procedimentos técnicos tornam o aterro sanitário mais vantajoso que o lixão em relação às problemáticas abordadas no texto? A) O lixo é recolhido e incinerado pela combustão a altas temperaturas. B) O lixo hospitalar é separado para ser enterrado e sobre ele é colocada cal virgem. C) O lixo orgânico e inorgânico é encoberto, e o chorume é canalizado para ser tratado e neutralizado. D) O lixo orgânico é completamente separado do lixo inorgânico, evitando a formação de chorume. E) O lixo industrial é separado e acondicionado de forma adequada, formando uma bolsa de resíduos. Resposta desta questão na plataforma.