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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS CLAUDIA MAIA DE ANDRADE DE ALMEIDA GRIPP A CONSTRUÇÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL NAS STARTUPS NITERÓI 2017 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ MBA EM GESTÃO ESTRATÉGICA DE PESSOAS CLAUDIA MAIA DE ANDRADE DE ALMEIDA GRIPP MATRÍCULA: 201501683985 A CONSTRUÇÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL NAS STARTUPS Trabalho apresentado à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso da Universidade Estácio de Sá como exigência parcial do curso MBA em Gestão Estratégica de Pessoas. Orientadora: Professora Maria Cecília Trannin NITERÓI 2017 A construção da cultura organizacional nas startups Claudia Maia de Andrade de Almeida Gripp1 Resumo Este artigo se propõe abordar as especificidades do ambiente empresarial das startups e a importância de se manter uma cultura de inovação, assim como, analisar as dificuldades enfrentadas pelas startups para criar sua cultura organizacional e quais modelos existentes são mais adequados para serem adotados, bem como em qual momento a empresa deverá formalizar a cultura organizacional. O artigo também irá analisar quais elementos propiciam a implementação e manuntenção da cultura de inovação nas startups. O presente trabalho foi elaborado através de pesquisa bibliográfica, explorando as teorias de autores renomados nos temas abordados. Após este estudo foi possível reconhecer a importância da implementação da cultura organizacional e verificar modelos como a Cultura da Inovação e a Cultura Corporativa Adaptativa como paradigmas viáveis a realidade das startups. Analisando dados específicos do mercado de startups no Brasil, o crescimento no número das empresas e a quantidades de startups que fecham ainda no primeiro ano, prova-se a relevância de realizar-se estudos específicos para a realidade dessas empresas, de forma, a traçar guias para novos empreendedores. Palavras-chave: Cultura Organizacional, Startup, Cultura de Inovação 1 Claudia Maia de Andrade de Almeida Gripp é graduada em Comunicação Social e Pós-Graduanda em Gestão Estratégica de Pessoas pela Universidade Estácio de Sá – Niterói/RJ. E-mail: maiaandradec@gmail.com The construction of organizational culture in startups Abstract The article’s purpose is to approach the startup’s business environment specifities and the importance of maintain an innovation culture, such as, analyze the difficulties faced by the startups in order to create their organizational culture and which existents models are more suitable to be adopted and when formalize the organizational culture. The article will, also, analyze which elements propitiate the implementation and maintenance of startup’s innovation culture. The present work was elaborate through bibliographic research, exploring the theories of renowned authors in the topics covered. After this study, it was possible to recognize the importance of organizational culture’s implementation, and verify models like Innovate Culture and Adaptive Corporate Culture as viable paradigms to startups reality. Analyzing specific data of the startup’s market in Brazil, the companie’s number increase and the amount of failures, prove the relevance of accomplish specific studies to this companies reality in order to draw guides to the newest entrepreneurs. Key Words: Organizational Culture, Startups, Innovation Culture 1 INTRODUÇÃO A cultura corporativa permeia as relações empresariais em todas as suas formas, seja nas relações internas (entre os pares ou entre líderes e liderados) ou nas relações externas (com os fornecedores, a sociedade, os stakeholders, entre outros). Historicamente grandes empresas criam fortes culturas corporativas, que impactam positivamente no desempenho dos seus funcionários. As startups podem ser definidas como organizações formadas para buscar um modelo de negócios repetível e escalável. Dessa forma, podemos entender que em seu embrião, uma startup deve poder se redefinir até atingir o modelo de negócio repetível e escalável. Startups são formadas, em sua grande maioria, em um ambiente disruptivo, inovador e caótico. A necessidade de chegar a um modelo de sucesso faz com que processos administrativos, vistos como procedimentos antigos, não caibam nesse novo modelo de negócio, sendo, portanto, abandonados. Este artigo se propõe a entender a viabilidade de criar uma cultura corporativa dentro deste modelo de negócio disrupto e caótico das startups. Também será abordada a possibilidade de flexibilizar a cultura corporativa para que ela se redefina conforme a própria startup passe por transformações. Será analisado, ainda, em que momento e quais são as melhores teorias de cultura corporativa que se adequam às startups. Segundo levantamento realizado em 2016 pelo SEBRAE, 36% dos brasileiros possuem um negócio ou realizaram alguma ação, no último ano, para ser dono da sua própria empresa. Nesta mesma pesquisa, lê-se que cerca de 20% dos novos empreendedores dedicam-se a comercializar produtos e serviços novos, isto é, produtos que não existam no mercado. Esses dados mostram como o universo das startups está crescendo no país. Um estudo encomendado pela aceleradora de startups, Startup Farm, aponta que 74% das startups brasileiras fecham após 5 anos, enquanto 67% encerram suas atividades entre dois a cinco anos e 18% em até dois anos de operação. A pesquisa aponta também que um dos principais motivos que geram o fechamento das startups é a briga entre os sócios. 2 Sabe-se que uma cultura corporativa forte é um fator que contribui para o sucesso das empresas. Portanto, é necessário estudar de que forma e em que momento os empreendedores devem criar a cultura corporativa de suas startups. OBJETIVO OBJETIVO GERAL O objetivo deste artigo é apresentar a possibilidade da formalização de uma cultura organizacional pelas startups. Essas empresas enfrentam como dificuldade para esse processo, o seu ambiente empresarial e a visão de que procedimentos administrativos possam obstruir o processo criativo e inventivo necessário a sua sobrevidência. Por essa razão será investigada a possibilidade da adoção de uma cultura corporativa flexível e sensível às mudanças em seu ambiente. Desta forma, tornando-se não somente moldável e adaptável, mas propícia às inovações, característica essencial ao dia-a-dia das startups. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Avaliar a viabilidade de implementação de cultura organizacional formalizada nas startups Identificar o melhor momento para a formalização desta cultura Reconhecer os modelos de cultura organizacional mais propícios ao ambiente empresarial de uma startup. 3 METODOLOGIA O método utilizado para a realização deste artigo foi a pesquisa qualitativa de objetivo exploratório e, quanto ao seu método, pode ser classificada como bibliográfica. Köche (2015) define a pesquisa bibliográfica como aquela que se desenvolve tentando explicar um problema, utilizando o conhecimento disponível a partir das teorias publicadas em livros ou obras congêneres. 1. CULTURA ORGANIZACIONAL 1.1. CULTURA ORGANIZACIONAL E SUAS DEFINIÇÕES Chiavenato (2010) define como Cultura Organizacional o conjunto de hábitos e crenças, que foram estabelecidos por normas, valores, atitudes e expectativas e que são compartilhadas por todos os membros da organização. É através da cultura organizacionalque se pode estabelecer a missão e os objetivos da organização. Porém, ainda que bases tão importantes da organização sejam fundadas através da cultura organizacional, em um ambiente dinâmico como de uma startup ele deverá ser moldável e flexível. A cultura organizacional é formada por diversos níveis, alguns vísiveis, outros invisíveis. Chiavenato (2009) traz a analogia do iceberg ao explicar as camadas que compõe a cultura corporativa, tal qual a massa de gelo, a parte vísivel constituí a menor parte de todo o composto cultural. Embora a parte invisível constitua a maior fração, esta é a parte mais imutável da cultura organizacional. O autor identifica como os níveis que formam a cultura: artefatos, valores compartilhados e pressuposições básicas. Sendo eles definidos como: Artefatos: Constituem o primeiro nível da cultura, o mais superficial, visível e perceptível. Artefatos são as coisas concretas que cada um vê, ouve e sente quando se depara com uma organização. Incluem os produtos, serviços e os padrões de comportamento dos membros de uma organização. Quando se percorre os escritórios de uma organização, pode-se notar como as pessoas se vestem, como falam, sobre o que conversam, como se comportam, o que é 4 importante e relevante para elas. Os artefatos são todas as coisas ou eventos que podem nos indicar visual ou auditivamente como é a cultura da organização. Os símbolos, as histórias, os heróis, os lemas, as cerimônias anuais são exemplos de artefatos. Valores compartilhados: Constituem o segundo nível da cultura. São os valores relevantes que se tornam importantes para as pessoas e que definem as razões pelas quais elas fazem o que fazem. Funcionam como justificativas aceitas por todos os membros. Em muitas culturas organizacionais, os valores são criados originalmente pelos fundadores da organização. Pressuposições básicas: Constituem o nível mais íntimo, profundo e oculto da cultura organizacional. São as crenças inconscientes, percepções, sentimentos e pressuposições dominantes e nos quais as pessoas acreditam. A cultura prescreve a maneira de fazer as coisas, adotada na organização, muitas vezes, através de pressuposições não-escritas sem sequer falada. Edgar Schein (2004) aponta a necessidade do porquê devemos definir a cultura organizacional “(…) desordem ou a falta de sentido nos deixam ansiosos, então nós trabalhamos duro para reduzir a ansiedade desenvolvendo uma visão mais consistente e previsível de como as coisas devem ser”. É então, em um contexto de organização que a cultura organizacional é criada, tanto o é que muitas vezes é denominada como o “dna da empresa”. Schein explica que é importante que cada personagem, envolvido na cultura organizacional de uma determinada coorporação, deva entender, principalmente o que acontece na camada mais profunda, nas pressuposições básicas, do contrário ele pode projetar suas próprias cargas culturais em um determinada questão. Assim, se a organização não consegue envolver todos os seus colaboradores na sua forma de fazer cultura, ela não existe, pois cada indíviduo tem a sua carga de cultura acumulada, que, eventualmente, será usada para descodificar os códigos que enfrentará. 1.2. A CONSTRUÇÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL Marlene Marchiori teoriza que culturas são dificilmente planejadas ou presumíveis; elas são um produto naturais da interação social. A cultura influencia os sistemas e os comportamentos de uma sociedade, assim como recebe influencia deles. 5 Sua visão da cultura como um organismo em constante mutação é compartilhada por Brown (1998, p.35, apud MARCHIORI, 2017, p.109) uma cultura nunca é completamente estática, ou seja, é sempre um aprendizado gerado pela análise dos problemas internos e externos. Sendo assim, não adianta buscar habilidades permanentes, o mundo está em constante mudança e o maior aprendizado é o de aprender, numa reciclagem contínua. Isso é válido para a existência de uma organização. Afinal, são as diferentes experiências que contribuem para o amadurecimento de uma empresa. Segundo Schein, a cultura organizacional pode ser formada através de três formas, quais sejam: as crenças, valores e as suposições das organizações; as experiências de aprendizado vividas pelo grupo conforme a organização evoluiu e as novas crenças, valores e suposições trazidas por novos membros e líderes. Especialistas em Recursos Humanos, como Daniel Castelo, veem a criação da cultura organizacional como um desafio, pois desenvolver, conscientemente, a cultura de uma empresa não é simples. Aponta-se que a criação tem direta relação com a consistência em que se é atendida as expectativas dos clientes, com os exemplos que são criados e as histórias que são contadas. Robbins, Judge e Sobral (2010) salientam que uma cultura forte reduz o índice de rotatividade dos membros, pois demonstra um elevado grau de concordância sobre o que a organização representa. Uma startup, em seu início, é apenas a visão de seu fundador, portanto, é importante que ele esteja cercado de pessoas que compartilham e acreditam nessa visão. A capacidade de uma empresa crescer, analisando sob o ponto de vista de uma startup, pode ser medida a partir da disposição de seus colaboradores de fazer isso acontecer. Desta forma, o fundador da empresa, deve ter um poder persuasivo sobre os seus primeiros contratados, para que estes repassem aos próximos colaboradores, em um círculo virtuoso. Schein descreve o processo de criação da cultura organizacional através dos seguintes passos: 6 1. Uma ou mais pessoas (fundadores) tem uma ideia para uma nova empreitada. 2. O fundador seleciona uma ou mais pessoas e cria um grupo principal que tem um objetivo e uma visão em comum com o fundador; ou seja, todos eles acreditam que a ideia é uma boa ideia, funcional e que vale correr alguns riscos por ela, bem como vale o investimento de tempo, dinheiro e energia. 3. O grupo fundador começa a agir buscando criar uma organização, arrecandando investimentos, criando patentes, incorporando, alugando um escritório e etc. 4. Outras pessoas são contratadas e uma história comum começa a ser construída. Se o grupo permanece estável e dividiu algumas experiências de aprendizado, o mesmo irá, aos poucos, desenvolver suposições sobe si mesmo, o seu ambiente e como agir para sobreviver e crescer. Os procedimentos descritos não se diferem muito do processo de criação de uma startup. O maior desafio na construção da cultura organizacional é estar apta às mudanças que terá que passar para alcançar o crescimento estável e ainda, manter o espírito de inovação característico do início das startups. Por outro lado, ignorar a própria cultura organizacional poderá, em uma análise mais aprofundada, mostrar ao seu mercado consumidor, parceiros, investidores e colaboradores que faltam à empresa valores que possam ser seguidos a longo prazo, correndo-se o risco, portanto, de fechar as portas, mesmo com uma boa ideia. 2. AS STARTUPS 2.1. DEFINIÇÃO DE STARTUPS As startups são por definição, organizações formadas para buscar um modelo de negócios repetível e escalável (BLANK, 2012). Steve Blank aponta que não há apenas um modelo de startup, mas cinco tipos, descritos abaixo: Empreendedorismo de Pequenos Negócios: (...) Normalmente, são negócios de serviços, como lavanderias, postos de combustíveis, lojas de convêniencias, em que empreendedores definem o sucesso pagando bem o dono e realizando lucro, e, raramente, aspiram a tomar conta de uma indústria ou construir um negócio de 100 milhões de doláres. Startups Escaláveis são o trabalhotradicional de empreendedores de tecnologia. Esses empreendedores começam uma empresa acreditando que sua visão irá mudar o mundo e resultar em uma companhia de centenas de milhões, se não bilhões de dolares em 7 vendas. No início, as startups escaláveis estão em busca de um modelo de negócio repetível e escalável. Se tornar escalável requer investimento externo para propiciar a expansão rápida. Startup “compráveis” são um novo fenômeno. Devido ao baixíssimo custo de desenvolver web/mobile apps, startups podem, literalmente, serem fundadas financiadas pelo cartão de crédito dos fundadores e arrecadar pequenas quantidades de capital de risco, normalmente menos de 1 milhão. Essas startups (e seus investidores) se sentem satisfeitos ao serem adquiridos por 5 milhões, ou ainda, por 50 milhões, comprados por companhias maiores desejosas por adquirir o talento tanto quanto o negócio em si. Empreendimentos de grandes companhias: Grandes companhias tem ciclo de vida finito. A maioria cresce oferecendo novos produtos que são variações de seu produto principal (uma abordagem conhecida como inovação sustentável). Essas grandes companhias podem realizar a inovação disruptiva, tentando introduzir novos produtos em novos mercados com novos consumidores. Ironicamente, o tamanho das grandes companhias e suas culturas fazem com que a inovação disruptiva extremamente difícil de executar. Empreendedores Sociais constroem inovações sem fins lucrativos para mudar o mundo. O Desenvolvimento de Clientes provê a eles um scorecard por avaliação de escalabilidade, ativos de alavancagem, retorno do investimento e métricas de crescimento. Esses empreendedores de risco procuram mais por soluções do que lucro e surgem em todos os continentes em áreas diversas como água, agricultura, saúde e microfinanças. É possível notar que cada tipo de startup pertence a um microsistema empresarial distinto, com suas próprias vantagens e dificuldades. No entanto, em comum entre elas há a existência de uma cultura corporativa, seja nos pequenos negócios com poucos funcionários, ou nas grandes empresas com milhares de funcionários. Portanto, antes mesmo de conhecer a sua cultura organizacional, o fundador da startup deverá saber qual modelo sua empresa se adequa. 2.2. O AMBIENTE EMPRESARIAL DAS STARTUPS As startups tem construído seus modelos de negócio baseados em duas teorias administrativas idealizadas respeitando as peculiaridades das startups. Uma teoria é derivada da outra, são elas: Costumer Development e a Lean Startup (Desenvolvimento para o Consumidor e Startup Enxuta). As teorias criadas, respectivamente, por Steve Blank e Eric Ries, dizem respeito sobre o ciclo de vida 8 das startups e a melhor forma de chegar ao negócio repetível e escalável que irá definir o negócio ao qual aquela empresa irá se dedicar. Esses modelos veem sendo tão utilizados pelos empreendedores das startups que é impossível descrever o ambiente das mesmas, sem defini-las: Costumer Development: Muitas startups tem uma ideia, propõem uma solução e definem seu modelo de negócios baseado em suposições que elas tem do mercado. Mas nem sempre as suas suposições são as mais adequadas, e dessa forma elas somente descobrem isso quando o produto é lançado no mercado. O Customer Development considera que tudo definido no problema e na solução são apenas hipóteses que precisam ser testadas, validadas e renovadas. Dessa forma, depois de uma validação no mercado, é possível que a ideia inicial seja completamente modificada. A metodologia propõe um processo iterativo e paralelo ao desenvolvimento do produto, criando um plano de negócios cada vez mais voltado à necessidade real do cliente e diminuindo assim o risco do produto não ser aceito no mercado Lean Startup: Similar aos preceitos do gerenciamento enxuto, a filosofia de lean startup de Ries pretende eliminar práticas de desperdício e aumentar práticas de produção de valor durante a fase de desenvolvimento do produto, para que as startups possam ter melhores chances de sucesso sem necessitar de grandes quantidades de financiamento externo, planos de negócios elaborados ou o produto perfeito. Ries acredita que o feedback do consumidor durante o desenvolvimento do produto é parte integrante do processo de lean startup e garante que o produtor não invista tempo projetando recursos ou serviços que o consumidor não necessita ou não fará uso no primeiro momento. Isto é feito primariamente através de dois processos, utilizando indicadores chaves de desempenho e um processo de implementação contínua. Já que startups tipicamente não podem se dar ao luxo de ter todo seu investimento dependendo do sucesso de um único lançamento do produto, Ries defende que, ao lançar um produto minimamente viável - MVP - (não finalizado), a empresa pode então fazer uso do feedback do cliente para adaptar seus produtos às necessidades específicas de seus consumidores. Um artigo da Associação Brasileira de Startups identifica as principais características de uma startup: Inovação: a startup apresenta um produto ou serviço novo – ou com aspectos novos em seu modelo de negócio – para o mercado a que se destina, como elementos de diferenciação. Escalabilidade: o modelo de negócio de uma startup precisa ser escalável, isto é, poder atingir rapidamente um grande número de usuários a custos relativamente baixos. Repetibilidade: o modelo de negócios de uma startup deve ser repetível, ou seja, deve ser possível replicar ou reproduzir a experiência de consumo de seu produto ou serviço de forma 9 relativamente simples, sem exigir o crescimento na mesma proporção de recursos humanos ou financeiros. Flexibilidade e rapidez: em função de sua característica inovadora, do ambiente incerto e altamente competitivo, a startup deve ser capaz de atender e se adaptar rapidamente demandas do mercado. Geralmente, tem estruturas enxutas, com equipes formadas por poucas pessoas, com flexibilidade e autonomia. As startups têm, em sua estrutura organizacional, elementos que propiciam a inovação e a criatividade. Esse ambiente é criado através de treinamento dos funcionários e da implementação da cultura da inovação. Esta, por sua vez, é construída através de algumas dimensões como aponta Apekey, McSorley, Tilling e Siriwardena (2011, apud Bruno-Faria & Fonseca, 2015), são elas: risco, recurso, informações, metas, ferramentas, recompensa e relacionamentos. As dimensões apontadas significam que a necessidade da startup estar aberta aos riscos inerentes da inovação; que tenha recursos para investir, incluindo nesse item, o investimento em treinamento; que traceje metas atingíveis, de forma a, continuadamente, desafiar sua equipe; que haja à disposição de seus colaboradores ferramentas adequadas e que todos sejam recompensados adequadamente. No início de uma startup, no momento em que seu futuro ainda é muito incerto e o lucro ainda não é linear ou, muitas vezes, inexistente, é difícil se falar sobre recompensas financeiras. Muitas startups oferecem um percentual de ações para sua equipe, de forma a mantê-la motivada a produzir eficientemente. Porém, não é simples para um funcionário aceitar um contrato de risco, especialmente quando se trata de colaboradores contratados aleatoriamente, sem qualquer grau de amizade com o fundador da startup. Nestes casos, é extremamente necessário que o colaborador tenha total confiança no produto ou serviço que está sendo criado e que poderá lucrar mais dessa forma do que trabalhando sob um contrato tradicional. Uma nota especial diz respeito ao ambiente físico das startups. Percebe-se em muitos escritórios de startups grandes salas sem divisórias,bem iluminadas, com vasta utilização de mobiliário colorido e vibrante. Essas escolhas não são sem propósitos, John Kao, consultor especializado em inovação, escreveu um livro 10 apontando a influência do ambiente físico na criatividade e na inovação. (PEARSON, 2011) 2.3. A CRIAÇÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL NAS STARTUPS As startups são criadas baseadas na visão de seus fundadores, e, inicialmente, terão uma equipe de poucas pessoas que acreditam nesse mesmo ideal. As startups passam por três fases de um ciclo, nomeadas por Blank (2015) de Pesquisa, Construção e Crescimento. O autor as caracterizou da seguinte forma: Pesquisa: Nesse primeiro passo, o objetivo da startup é buscar um modelo de negócios repetível e escalável. Normalmente, requer várias tentativas e pivotagem até encontrar o produto /market fit – combinação perfeita entre seu produto e seu público. [...] Startups em fase de pesquisa tem menos processos e muito “faça o que for preciso”. Construção: Quando uma startup atinge por volta de 40 pessoas, a empresa precisa se transformar em uma que consiga escalar consumidores/usuários/pagantes na mesma medida que permite que a empresa: Atinja um fluxo de caixa positivo Gere usuários a uma taxa que possa ser monetizada Infelizmente conforme você contrata mais pessoas, a casual e informal cultura do ‘faça você mesmo’ que funcionava tão bem com 40 pessoas, se torna caótica e menos eficiente. Agora, a organização precisa colocar no papel a cultura de treinamento, gestão de produtos, processos e procedimentos (escrever o manual do RH, o plano de vendas da companhia, relatório de despesas, manual da marca, etc). Crescimento: Na fase de crescimento, a companhia já atingiu a liquidez (é uma IPO, foi comprada ou se fundiu para se tornar maior) e o seu crescimento é um processo repetível. E todo o conjunto de KPIs (Key Performance Indicators), processos, e procedimentos estão organizados. Ao alcançar a validação dos consumidores, a visão dos fundadores se mostrou um negócio viável e passará para a fase seguinte ‘Construção’. Até então, a startup, possivelmente, terá poucos funcionários e sua cultura existirá apenas em um nível informal. Nesta próxima fase, já não será possível realizar as coisas da mesma forma casual, pois isto resultará em práticas pouco eficientes e caóticas. É então, neste momento, que segundo Blank, as empresas precisam criar e colocar no papel o Código de Cultura. 11 Neste sentido, um artigo da Associação Brasileira de Startups afirma que não há fórmula pronta para criar a cultura corporativa nas startups, mas importante entender o que deixa os colaboradores felizes e o que eles consideram importante quanto a valores, convivência e, principalmente, o que os motiva a trabalhar ali. Uma vez definida, a cultura organizacional deverá ser o norte para as futuras contratações, bem como as decisões e manifestações internas e externas das startups. Um exemplo de como uma cultura deve ser bem definida para ser o guia das decisões corporativas é o Culture Code da Netflix. Our culture is how we work together as employees to serve our members and grow. Our culture has been instrumental to our success and we keep improving it; our culture helps us attract and retain stunning colleagues; our culture makes working here more satisfying. Like many companies, we strive to hire the best and we value integrity, excellence, respect, and collaboration. What is unique and special about Netflix is how much we: encourage independent decision-making by employees share information openly, broadly, and deliberately are extraordinarily candid with each other keep only our highly effective people avoid rules Our core philosophy is people over process. More specifically, we have great people working together as a dream team. With this approach, we are a more flexible, fun, inventive, stimulating, creative, and successful organization. (Código de Cultura Netflix, tradução nossa) Nossa cultura é sobre a forma de trabalharmos juntos como empregados para servir nossos assinantes e crescer. Nossa cultura tem sido um instrumento para nosso sucesso e nós continuámos melhorando-a; nossa cultura faz o trabalho aqui ser mais satisfatório. Como muitas empresas, nós nos esforçamos para contratar o melhor e nós damos valor a integridade, excelência, respeito e colaboração. O que é único e especial sobre o Netflix é o quanto nós: Encorajamos que nossos funcionários tomem decisões por si próprios Divulgamos informações abertamente, amplamente e deliberadamente Somos extremamente sinceros uns com os outros Mantemos apenas pessoas extremamente efetivas Evitamos regras Nossa filosofia central é pessoas acima de processos. Mais especificadamente, nós temos ótimas pessoas trabalhando juntas como um time dos sonhos. Com essa abordagem, nós somos uma companhia mais flexível, divertida, inventiva, estimulante e bem sucedida. 12 2.4. CULTURA DE INOVAÇÃO Robbins, Judge e Sobral (2010) definem inovação como um tipo mais especializado de mudança: é uma ideia nova aplicada para criar ou melhorar um produto, processo ou serviço. Peter Drucker amplia a noção acima de inovação para um conceito geral de organização inovadora A organização inovadora compreende que a inovação começa com um uma ideia, e estimula e orienta os esforços para transformar uma ideia num produto, num processo, numa empresa ou numa tecnologia. Ela mede as inovações não por sua importância científica ou tecnológica, mas pelo que contribuem para o mercado e para o cliente. Considera a inovação social tão importante quanto a inovação tecnologica [...]. A empresa inovadora não começa com um “orçamento de pesquisa”; começa determinando quanta inovação será necessária para permanecer no mesmo nível. (DRUCKER, 1962, P. 64 apud PEARSON ACADEMY) As inovações possuem diversas classificações, no que diz respeito às startups, suas inovações são, de forma geral, as chamadas inovações tecnológicas. Podem ser inovações de produto, ou seja, um bem ou serviço completamente novo ou significativamente melhorado; ou uma inovação de processo sendo, nesse caso, no método de produção ou distribuição. A qualificação no que tange ao grau do impacto provocado pode ser do tipo incremental ou radical. Cameron e Quin (2006) desenvolveram um instrumento de avaliação e interpretação os tipos de cultura organizacional, este possui quatro dimensões, são elas: Clã, Inovativa/Adhocracia, Cultura de Mercado, e Hierárquica. Os autores definem a cultura inovativa/adhocracia como um tipo de cultura voltada para inovação. Trata-se de um tipo de cultura orientada para o ambiente externo e direcionada para mudanças e novos desafios. As organizações enquadradas nesse perfil possuem ambiente de trabalho dinâmico, empreendedor e criativo e possuem iniciativas inovadoras e pioneiras. A liderança na cultura inovativa é visionária, inovadora e orientada para o risco e os líderes estão envolvidos em estimular o empreendedorismo e a 13 criatividade. Segundo os autores, os processos chave são a adaptação política, a resolução criativa de problemas, a inovação e gestão da mudança. (CAMERON; QUINN, 2006, apud MENDONÇA, 2016) Chiavenato (2003) caracteriza a Adhoracracia como: 1. Equipes temporárias e multidisciplinares de trabalho, isto é, autônomas e auto-suficientes. 2. Autoridade totalmente descentralizada por meio de equipes autogerenciáveis, ou auto-administradas. 3. Atribuições e responsabilidades fluidas e mutáveis. 4. Poucas regras e procedimentos, ou seja, muita liberdade de trabalho. Percebe-seentão, como o modelo corporativo da cultura inovativa ou adhorocracia adapta-se perfeitamente às startups e seu ambiente caótico, de constantes mudanças, e dependente da inovação e da agilidade de soluções. 2.5. CULTURA CORPORATIVA ADAPTATIVA A cultura corporativa pode ser do tipo conservadora ou adaptativa. Segundo Chiavenato (2003), as empresas realizam constantes revisões e atualizações em sua cultura adaptativa se caracterizam pela criatividade, inovação e mudança. E, como vimos acima, esse é o modelo empresarial mais adequado a ser seguido pelas startups. Chiavenato ressalta, porém, que há de existir alguma noção de estabilidade nesse ambiente de mudanças, pois, do contrário, haverá um ambiente de tensões e confusão entre os membros da organização, podendo resultar no desaparecimento da mesma. Segundo o autor, existem situações ou ambientes mais propícios a mudanças nas organizações, tais como: uma crise dramática, modificações na liderança e organização pequena e jovem. Uma startup ainda passará por muitas mudanças em seu produto ou serviço, em sua ideia antes de começar a crescer e todas essas alterações terão um impacto direto na cultura corporativa. 14 3. CONCLUSÃO O objetivo deste trabalho é apresentar a importância e o modo de criar uma cultura corporativa nas startups. As startups são empresas que não seguem um modelo corporativo de negócios como as grandes empresas. São utilizados métodos como a startup enxuta ou o Costumer Development, que propõe soluções adequadas ao ambiente empresarial das startups. Sendo a cultura corporativa considerada como o dna das empresas, a sua construção para as startups também deve se guiar em paradigmas adequados ao seu modelo de negócio. Através da pesquisa bibliográfica realizada, foi possível destacar modelos de construção de cultura que coadunam com as necessidades empresariais de uma startup, tais como a Cultura de Inovação ou Adhoracracia e a Cultura Corporativa Adaptativa. Esses sistemas permitem que a startup possa padronizar uma cultura corporativa, sem, contudo, perder sua essência inovativa, criativa, ágil, disruptiva e carente de mudanças constantes. Também foi possível provar que para se criar uma cultura forte e inovativa não é basta apenas o desejo para que isso aconteça. É necessário algumas ações como aceitar erros, propiciar a criação de uma equipe auto-gerenciável, investir em treinamento, traçar metas atingíveis e recompensar acertos. Este artigo também respondeu às questões de como e em que momento seria o mais propício a criação dessa cultura corporativa. Neste sentido, a cultura é criada informalmente no primeiro dia em que seu fundador tem uma ideia e passa a ser compartilhada no momento em que encontra pessoas que acreditam nessa ideia e desejam que ela se torne um produto ou serviço. Já o momento de formalizar esta cultura em um Código de Cultura, este se torna necessário apenas quando a empresa consegue a validação de sua ideia por seus possíveis consumidores. Ou seja, ela já atingiu o modelo escalável e repetível de negócios e está pronta para entrar na fase “Construir” e não poderá mais se guiar pelo modelo casual de cultura “faça o que for preciso”. Como foi apontado anteriormente, existem diversos tipos de startups e cada uma tem suas particularidades. Logo, cada empresa terá suas próprias dificuldades e metodologias para construir sua própria cultura corporativa. O essencial, de modo 15 geral, é que esta reproduza fielmente o espírito da empresa, seus valores e suas crenças. Concluí-se então que, tal como, nas grandes corporações, nas startups também é necessário e factível que se crie uma cultura corporativa que sirva de guia para os colaboradores em suas ações e que mostre ao ambiente externo a forma de fazer negócios daquela empresa. Porém, é necessário que se entenda que um modelo de cultura conservador, muito fechado e que não esteja aberto a inovação estará fadado ao insucesso dentro de uma startup e poderá, ainda, levar a própria empresa ao fracasso. BIBLIOGRAFIA ABStartups, Por que a cultura organizacional é importante na sua startup. Disponível em: < https://abstartups.com.br/2016/11/17/por-que-a-cultura-organizacional-e- importante-na-sua-startup/>. Acesso em 03 de Ago de 2017. ABStartups, Tudo o que você precisa saber sobre startups. Disponível em: < https://abstartups.com.br/2017/07/05/tudo-que-voce-precisa-saber-sobre-startups/>. Acesso em 26 de Julho de 2017. ACADEMIA PERSON. Criatividade e Inovação. São Paulo. Pearson Prentice Hall, 2011. 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