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ESTAGIO SUPERVISIONADO 2019/1 - Constitucional 3

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Processo N°
O Ministério Publico do Estado de São Paulo nos autos do processo em epigrafe, por seu promotor infra-assinado, inconformado com a r. sentença proferida neste feito, vem respeitosamente à presença de vossa Excelência interpor RECURSO DE APELAÇÃO oportuno tempore, com espeque no artigo 1.009 e seguintes do código de processo civil.
Em se tratando de recurso interposto pelo Ministério Publico Estadual, dispensável o recolhimento das custas de preparo.
Assim, requer o recebimento do presente recurso de apelação, com as razões em anexo a fim de conceder-lhe efeito suspensivo/ativo, a luz do artigo 1.012 do digesto processualista, intimando-se a parte contraria a oferecer contrarrazões, no prazo legal na forma do artigo 1.010, parágrafo 2, inciso II também do código de processo civil.
Termos em que,
Pede deferimento
Rosana/SP, dia de mês de 2019.
__________________________
Luiz de Tal
Promotor de Justiça da Comarca de Rosana/SP
RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO
Apelante: MINISTÉRIO PUBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Apelado: MUNICÍPIO DE ROSANA/SP
PROCESSO N°
Egrégio Tribunal de justiça
Colenda câmara 
Doutos desembargadores
DOS FATOS
O Ministério Público ajuizou a Ação Civil Pública nº (...) visando à criação de vagas para o ensino fundamental do município de Registro. Foi requerida tutela de urgência em razão de as crianças não terem acesso à escola e correrem o risco de perderem o ano letivo. Contudo, o magistrado indeferiu a tutela liminar fundamentando a sua decisão no fato de o direito à educação ser um direito social e, por isso, teria natureza de norma programática não cabendo ao judiciário interferir na Administração Pública para concretizar tais direitos. Merece reforma a decisão do magistrado de primeiro grau, o recurso cabível foi o de agravo de instrumento. No entanto o juiz de primeiro grau sentenciou a ação, julgando-a extinta sem o julgamento do mérito.
Para que o juiz esclareça sua decisão foram opostos embargos de declaração, porém o magistrado deixa claro e fundamentado que a propositura não deveria ser de ação, sendo essa inadequada. Além disso, alegou que não pode haver a interferência do Poder Judiciário nas políticas públicas em razão da impossibilidade de interferir na discricionariedade dos atos administrativos, sendo inadequada a judicialização da medida.
Contudo, a vulpina decisão recorrida não merece prosperar eis que eivada de argumentos inválidos e desvirtuados do mais comezinho entendimento jurisprudencial acerca da matéria, vejamos:
PRELIMINARMENTE DO EFEITO SUSPENSIVO/ATIVO
Requer-se a Vossa Excelência, a concessão do efeito suspensivo (ativo) ao presente Recurso de Apelação em razão da patente urgência que reside no caso em análise, nos termos do art. 1019 do CPC: 
“Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente, se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV, o relator, no prazo de 5 (cinco) dias: I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; ” (grifou-se)
Clara está no presente processo a presença dos elementos que autorizam a concessão do efeito, tanto no que tange à probabilidade do direito (fumus boni juris) quanto no perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo (periculum in mora) na não concessão da medida. O fumus boni iuris decorre do patente desrespeito à obrigação constitucional de o município prover o atendimento no sistema educacional infantil. O periculum in mora decorre do patente prejuízo que essas crianças estão sofrendo, inclusive de perderem o ano letivo em razão de reprovação por ausência dos dias letivos no patamar mínimo necessário à progressão curricular. Além disso, há claro desrespeito ao princípio da absoluta prioridade, prestigiado expressamente na Constituição da República e no artigo 4ª do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010), (grifo nosso).
DO MÉRITO-ADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA
Em que pese todo o respeito que deva ser carreado as R decisões prolatada pelo juízo sentenciante, no caso em apreço equivocou-se o magistrado ao entender que a ação civil publica não é o meio correto para persecução dos direitos das partes que, segundo ela, deveriam se valer de ações individuais, inclusive, através de mandado de segurança.
CABIMENTO DA AÇÃO CIVIL PUBLICA
A Constituição Federal determinou as atribuições do Ministério Público em seu artigo 129, dentre elas: a) zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias à sua garantia, e b) promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos. 
Portanto, o Ministério Público Estadual por seu órgão representativo que esta subscreve é parte legítima para a propositura da presente ação.
A Ação Civil Pública é regulamentada pela Lei nº 7.347/85 e tem como objeto ato lesivo que cause danos morais e patrimoniais a qualquer interesse difuso e coletivo. 
A ACP poderá ter por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, a fim afastar a lesão ao direito de acesso à educação que está sendo perpetrado pelo Município de Rosana em desfavor de seus cidadãos. Percebe-se de forma clara que o Município réu está infringindo a norma constitucional.
 
“Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (...) IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente”. 
Evidente também é o papel prioritário do Município na promoção do ensino fundamental e infantil:
“Art. 211. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. § 2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil.” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996). 
Da absoluta prioridade no atendimento, pelo que passamos a transcrever: 
“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010).
Dessa forma, cabível a presente ação, eis que tem por finalidade de cumprimento das normas constitucionais. O Estatuto da Criança e do Adolescente ainda prevê a educação como um dever do Estado e um direito fundamental da criança: 
“Art. 53. A criança e o adolescente têmdireito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: (...) V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.” 
O artigo 54, do ECA, afirma que:
“Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria. ” 
Assim sendo, não há dúvida de que a Administração Pública, ora requerida, encontra-se equivocada em seu procedimento, bem como, comete ato ilícito contra a municipalidade ao suspender as aulas nas escolas da rede municipal.
DA SEPARAÇÃO DOS PODERES E A INTERVENÇÃO JUDICIAL
A Constituição Federal em seu artigo II aponta que são poderes da união, harmônicos independentes entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Apesar de independentes as funções estatais se harmonizam, tendo o judiciário à função de dizer o direito a quem o aciona, dando as partes, através da jurisdição uma proposta com qualidade e definitiva, o que se denomina coisa julgada.
Em razão disso, cabe ao poder judiciário sanar omissões de outros poderes, sem que isso lhes tire a discricionariedade para a prática dos atos.
Neste sentido, fornece educação básica é um dever constitucional previsto expressamente na norma suprema em seu artigo 208.
“Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I - educação básica obrigatória e gratuita dos 04 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)” “(...) § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente”. Assim, Excelências, é fácil perceber que a educação é um direito básico e fundamental de toda criança e adolescente, dos 04 aos 17 anos. Além disso, como forma de tornar concreta e exigível o dever do Estado, a nossa constituição obriga a aplicação de recursos públicos na educação § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola.
Não há, portanto, nenhuma ingerência de deferência do poder judiciário sobre as funções do executivo, mas, simplesmente, o cumprimento de múnus constitucional de tornar efetiva a norma patentemente descumprida pelo município no caso vertente.
DO DIREITO A EDUCAÇÃO
Conforme o artigo 227, da carta magna, é dever do Estado promover a criança e adolescente o ingresso e acesso á educação, e no mesmo sentido os artigos consoantes ao ECA. 
ECA (artigo 53), “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”, em seu artigo 54 o Eca estipula quais são os deveres do Estado:
O artigo 54, do ECA, afirma que: 
“Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria. ” 
Por fim, é importante lembrar que o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é um direito público subjetivo, ou seja, pode sempre ser exigido do Estado por parte do cidadão. Assim, caso o Poder Público não garanta o acesso à educação ou caso não o faça de maneira regular, o cidadão tem a possibilidade de exigir judicialmente que seu direito seja observado, obrigando o Estado a fazê-lo.
DOS PEDIDOS
Ante o exposto requer:
 Que seja conhecido e provido o presente recurso, com a reforma da sentença recorrida a fim de deferir o pedido de criação e disponibilização de vagas no ensino fundamental e infantil no município apelado.
 Seja deferido o pedido de efeito suspensivo/ativo ao presente recurso, intimando-se a parte contraria para que cumpra para que cumpra imediatamente a criação de vagas na forma postulada em exordial.
Termos em que,
Pede deferimento
Rosana/SP, dia de mês de 2019.
__________________________
Luiz de Tal
Promotor de Justiça da Comarca de Rosana/SP

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