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Unidade V - A Crônica e o Teatro

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Teoria Literária - Prosa
A Crônica e o Teatro
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Ms. Helba Carvalho
Prof. Dr. Manoel Francisco Guaranha
Revisão Textual:
Profa. Ms. Helba Carvalho 
5
• A Crônica
• O Teatro
Recomendamos que siga o seguinte roteiro para que tenha um melhor aproveitamento 
da unidade:
1) Leia o conteúdo teórico da disciplina;
2) Leia o mapa mental do conteúdo teórico;
3) Assista à apresentação narrada e à vídeo aula;
4) Faça a atividade de sistematização;
5) Faça a atividade de aprofundamento;
6) Leia o material complementar;
7) Formule suas dúvidas ao professor da disciplina por meio do módulo Mensagens do 
blackboard ou ainda por meio do fórum de dúvidas da disciplina;
8) Procure ler as obras indicadas na bibliografia, principalmente aquelas que estão 
disponíveis na biblioteca eletrônica da Universidade, isso irá colocar você em contato 
com diferentes visões sobre o problema além de fornecer a você um repertório maior de 
conceitos sobre a crônica e o teatro.
 · Seja bem vindo à unidade A crônica e o teatro. Nesta unidade, 
faremos uma reflexão sobre os elementos necessários para 
uma análise do texto dramático e da crônica. 
 · É necessário que você leia com atenção os textos disponibilizados, 
visite os sites sugeridos, leia obras importantes da bibliografia 
(principalmente aquelas que estão na biblioteca eletrônica da 
Universidade) e procure estabelecer relação entre a teoria e a 
prática, já que você perceberá que os textos foram concebidos 
com muitos exemplos. Não se esqueça, ainda, de interagir 
com o seu professor questionando sobre os pontos que não 
ficaram muito claros para você. Esse diálogo é fundamental 
no processo de aprendizagem.
A Crônica e o Teatro
6
Unidade: A Crônica e o Teatro
Contextualização
Ao ler o Conteúdo teórico, sobre A crônica e o teatro, você deve ter notado que a crônica 
é um gênero textual que está muito próximo de nossa vida cotidiana. Nesse gênero é possível 
observar que, por se apresentar na forma de um texto breve e recriar a vida miúda, descreve 
os acontecimentos diários, com poeticidade, podendo levar você, futuro professor, a incentivar, 
motivar o seu aluno a produzir textos que possam utilizar o elemento circunstancial da vida 
cotidiana desse aluno.
Por ser um gênero literário que teve suas origens no jornal, a crônica torna-se um texto mais 
acessível, também por conta de sua busca por manifestar a oralidade na escrita que evidencia 
situações mais próximas da realidade de nosso aluno. 
Agora observe como o trecho abaixo, da crônica de Fernando Sabino, reflete muito bem 
como este gênero é criado:
No fragmento da crônica de Fernando Sabino, você deve ter notado que o autor explica, em 
uma crônica, como se elabora este tipo de gênero, ou seja, como o flagrante do cotidiano, o 
casal de pretos com sua filhinha no botequim, torna-se o motivo de seu texto. Logo, este tipo de 
gênero pode ser uma boa forma de você mostrar ao seu aluno que o episódio aparentemente 
mais banal pode se tornar objeto, assunto, para o texto literário. Confira o final dessa crônica no 
link indicado acima.
A última crônica
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao 
balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.
A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano 
nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas 
recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que 
a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição 
do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num 
acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem 
mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se 
repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou 
sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que 
merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de 
mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de 
gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, 
laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal 
ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três 
seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da 
sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
(...) (disponível em http://www.releituras.com/i_samuel_fsabino.asp, acessado em 10 de 
março de 2013).
7
Você já leu alguma crônica? Já deve ter se deparado com algum texto do jornal ou de uma 
revista que tratava de algum acontecimento cotidiano ou ficcional que dava a impressão de 
realidade, expondo de maneira reflexiva ou crítica os eventos nele relatados. Esta é a forma mais 
atual de vermos este gênero na mídia impressa, mas em sua origem, a crônica não apresentava 
essas características.
Segundo Massaud Moisés, no início da era cristã a crônica designava “uma listagem de 
acontecimentos ordenados segundo a marcha do tempo, isto é, uma sequência cronológica. 
Situada entre os anais e a história, limitava-se a registrar os eventos sem aprofundar-lhe as 
causas ou tentar interpretá-los” (MOISÉS, s.d.: 101).
A crônica abrangia, pois, a vida ou reinado de um monarca, seus sucessos político-militares, 
ou a vida de corporações religiosas e de alguns dos seus membros mais ilustres (Crônica da 
Ordem dos Frades Menores). A partir do século XIX que a crônica passou a ser concebida como 
gênero literário, vinculado aos jornais. Como observou Massaud Moisés, a crônica
“move-se entre ser no e para o jornal, uma vez que se destina a ser lida 
na folha diária ou na revista. Difere, porém, da maneira substancialmente 
jornalística naquilo em que, apesar de fazer do seu quotidiano o seu húmus 
permanente, não visa à mera informação: o seu objetivo, confesso ou não, 
reside em transcender o dia-a-dia pela universalização das suas virtualidades 
latentes, objetivo esse via de regra minimizado pelo jornalista de ofício. 
O cronista pretende-se não o repórter, mas o poeta ou o ficcionista do 
quotidiano” (MOISÉS, s.d.: 104).
Conforme a visão do crítico literário Massaud Moisés, você deve ter percebido que a crônica é, 
muitas vezes, uma apreciação crítica, um juízo de valor, uma narração de fatos/acontecimentos 
(reais, como pretexto, ou ficcionais), alternando entre a subjetividade literária e o relato de fatos. 
A crônica oferece reflexão e solicita reflexão.
Mesmo sendo um gênero literário muito cultivado por diferentes escritores de épocas distintas, 
segundo Antonio Candido,
 “A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma literatura 
feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos 
grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em 
atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, 
parece mesmo que a crônica é um gênero menor.” (p.13)
A Crônica
8
Unidade: A Crônica e o Teatro
Como “gênero menor”, Antonio Candido vê na crônica um texto que “fica perto de nós”, na 
medida em que fala com uma linguagem mais informal, despretensiosa, perto do “nosso modo 
de dizer mais natural” (p.13). O crítico também ressalta que a crônica, como não foi feita para 
o livro e sim para o jornal, não tem a pretensão de durar.
A partir do século XX, a crônica, em sua fórmula moderna de apresentar o fato miúdo, 
em um texto breve insere um toque humorístico e, muitas vezes, poético, atingindo uma certa 
profundidade de significado, identificando certasingularidade e beleza no que é contado, 
aproximando-nos daquilo que é mais humano (CANDIDO, 1992, p.14)
Mas as crônicas apresentam certas peculiaridades que as distingue umas das outras. Em 
função disso, o crítico Antonio Candido criou uma tipologia da crônica. Quanto a essa tipologia 
de crônica feita por Candido (1992), José Marques de Melo (1985) resume:
“Sem a pretensão de criar categorias, mas tão-somente destacar diferenças 
entre os modernos cronistas brasileiros, Antônio Cândido sugere a seguinte 
classificação: Crônica-diálogo – onde o cronista e seu interlocutor imaginário 
se revezam, intercambiando informações e pontos de vistas; exemplos: 
Gravador (Carlos Drummond de Andrade) e Conversinha mineira (Fernando 
Sabino); Crônica narrativa – tem certa estrutura de ficção, marchando 
rumo ao conto; Crônica exposição poética – divagação livre sobre um 
fato ou personagem; cadeia de associações; Crônica biografia lírica narra 
poeticamente a vida de alguém.”(MELO, 1985, p. 118)
Agora que temos algumas informações básicas sobre o gênero crônica, vamos fazer uma 
leitura de uma crônica de Rubem Braga, intitulada “Recado ao senhor 903”:
Recado ao senhor 903, de Rubem Braga
Vizinho –
Quem fala aqui é o homem do 1003. Recebi outro dia, consternado, a 
visita do zelador, que me mostrou a carta em que o senhor reclamava 
contra o barulho em meu apartamento. Recebi depois a sua própria 
visita pessoal – devia ser meia-noite – e a sua veemente reclamação 
verbal. Devo dizer que estou desolado com tudo isso, e lhe dou inteira 
razão. O regulamento do prédio é explícito e, se não o fosse, o senhor 
teria ainda ao seu lado a Lei e a Polícia. Quem trabalha o dia inteiro 
tem direito ao repouso noturno e é impossível repousar no 903 quan-
do há vozes, passos e músicas no 1003. Ou melhor: é impossível ao 
903 dormir quando o 1003 se agita; pois como não sei o seu nome 
nem o senhor sabe o meu, ficamos reduzidos a ser dois números, dois 
números empilhados entre dezenas de outros. Eu, 1003, me limito a 
9
Você deve ter observado que a crônica que acabou de ler chama a atenção pela sua brevidade, 
o que é comum neste gênero. O texto curto vai se fixar em um evento extremamente banal, ou 
como pensou Antonio Candido, pega o “fato miúdo” do cotidiano, da “vida ao rés-do-chão”, 
que é um desentendimento entre vizinhos de um prédio residencial. O narrador, em primeira 
pessoa, relata uma situação comum, porém a forma com que apresenta as personagens e a 
si mesmo coloca em xeque certa humanidade natural às pessoas envolvidas. Note que todos 
são identificados por números, como se fossem somente um lugar, uma localização dentro 
de um edifício. O narrador protagonista se nomeia como “o homem do 1003” que recebe a 
reclamação do barulho em seu apartamento por parte de seu vizinho, o “senhor 903”. Todos os 
demais vizinhos são, também, identificados por números e isso revela a forma como a sociedade 
moderna industrializada e desenvolvida desumaniza os homens, projetando-os no mundo do 
anonimato, no qual fazemos sentido e temos uma “identidade” apenas na quantidade, ou seja, 
somos identificados como números, como observa o narrador: “Nossa vida, vizinho, está toda 
numerada; e reconheço que ela só pode ser tolerável quando um número não incomoda outro 
número, mas o respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos.”
Leste pelo 1005, a Oeste pelo 1001, ao Sul pelo Oceano Atlântico, 
ao Norte pelo 1004, ao alto pelo 1103 e embaixo pelo 903 – que é o 
senhor. Todos esses números são comportados e silenciosos; apenas 
eu e o Oceano Atlântico fazemos algum ruído e funcionamos fora dos 
horários civis; nós dois apenas nos agitamos e bramimos ao sabor da 
maré, dos ventos e da lua. Prometo sinceramente adotar, depois das 
22 horas, de hoje em diante, um comportamento de manso lago azul. 
Prometo. Quem vier à minha casa (perdão, ao meu número) será 
convidado a se retirar às 21:45, e explicarei: o 903 precisa repousar 
das 22 às 7 pois às 8:15 deve deixar o 783 para tomar o 109 que o 
levará até o 527 de outra rua, onde ele trabalha na sala 305. Nossa 
vida, vizinho, está toda numerada; e reconheço que ela só pode ser 
tolerável quando um número não incomoda outro número, mas o 
respeita, ficando dentro dos limites de seus algarismos. Peço-lhe des-
culpas – e prometo silêncio.
Mas que me seja permitido sonhar com outra vida e outro mundo, 
em que um homem batesse à porta do outro e dissesse: “Vizinho, 
são três horas da manhã e ouvi música em tua casa. Aqui estou.” E 
o outro respondesse: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de 
meu vinho. Aqui estamos todos a bailar e a cantar, pois descobrimos 
que a vida é curta e a lua é bela”.
E o homem trouxesse sua mulher, e os dois ficassem entre os amigos 
e amigas do vizinho entoando canções para agradecer a Deus o brilho 
das estrelas e o murmúrio da brisa nas árvores, e o dom da vida, e a 
amizade entre os humanos, e o amor e a paz.
(In: 200 Crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 2002).
10
Unidade: A Crônica e o Teatro
A crônica de Rubem Braga surpreende na medida em que o narrador encara a reclamação 
do vizinho com passividade e aceitação, assumindo a culpa e se comprometendo a não fazer 
mais barulho em seu apartamento depois das 22 horas. Caso raro, se compararmos com a 
nossa realidade em que um conflito desse tipo poderia acabar na delegacia de polícia. 
Note que a proposta do narrador, a partir do segundo parágrafo, projeta um ideal de convívio 
entre vizinhos, que remete à ideia de uma comunhão cristã, fraterna, solidária e poética ao 
mesmo tempo: “Entra, vizinho, e come de meu pão e bebe de meu vinho. Aqui estamos todos 
a bailar e a cantar, pois descobrimos que a vida é curta e a lua é bela”. Antes deste trecho, o 
narrador, inclusive, se refere à “casa” e não mais a um número, como se esta representasse um 
lugar acolhedor, com uma humanidade, tornando possível a cena acima, de comunhão, que 
continua no último parágrafo, evocando, novamente, a mitologia cristã e o mundo da natureza, 
como o lugar de paz, amor e tranquilidade, em que o homem se encontra livre do processo de 
desumanização contemplado no mundo das grandes cidades e dos apartamentos.
Retomando o que foi dito sobre a crônica, você deve ter observado que Rubem Braga 
conseguiu imprimir ao acontecimento, com uma linguagem simples e um tom humorístico, 
singularidade, profundidade e beleza que permitem uma reflexão mais profunda, para além do 
simples fato, fazendo com que esta crônica consiga ultrapassar o seu tempo e fazer sentido para 
as próximas gerações. Se retomarmos, também, a classificação proposta por Antonio Candido, 
para as diferentes formas de crônica, notamos que esta crônica de Rubem Braga está mais 
próxima dos tipos crônica narrativa, por apresentar uma estrutura de ficção muito semelhante 
a um conto, e a exposição poética, no momento em que o narrador, nos dois últimos 
parágrafos, faz divagações livres e diferentes associações que imaginam uma cena idílica, ideal, 
com seus vizinhos, evocando a natureza e a comunhão cristã.
Agora que você já teve uma amostra do gênero crônica, vamos ao teatro!
O teatro pertence ao gênero dramático, que se refere particularmente “ao entrechoque de 
vontades e à tensão criada por um diálogo através do qual se externam concepções e objetivos 
contrários produzindo o conflito.”(ROSENFELD, 2008, p.34)
Segundo Anatol Rosenfeld, na dramática, “os personagens apresentam-se autônomos, 
emancipados do narrador (que neles desapareceu), mas ao mesmo tempo dotados de todo 
o poder da subjetividade lírica (que neles se mantém viva).” (2008, p.28) Isso significa que 
ao contrário dos outros gêneros que você viu, como o conto, a novela, o romance, a crônica, 
no teatro não há a presença de um narrador que conduzirá a narrativa e apresentará os 
acontecimentos: “estes de apresentam por si mesmos, comona realidade” (ROSENFELD, 
2008, p.29). Os personagens se apresentam dialogando, sem a interferência de um autor e as 
ações acontecem no presente e não no passado. 
O Teatro
11
A função do narrador é absorvida pelos atores que, transformados em personagens, se 
relacionam e se expõem de maneira compreensível uma ação complexa e profunda por meio 
do diálogo. Como não há o narrador que contextualize as personagens, no gênero dramático, 
o palco, os cenários, os elementos coreográficos e musicais complementam o texto dramático 
cenicamente, ou seja, na representação.
Segundo Angélica Soares: “O diálogo é a forma própria para que as personagens ajam sem 
qualquer mediação, dando-nos sempre a impressão, até mesmo nos dramas históricos, de que 
tudo está acontecendo pela primeira vez”. (2001, p.59)
Depois de uma breve exposição teórica, vamos observar alguns elementos da peça teatral 
O santo e porca, de Ariano Suassuna. Você já deve ter ouvido falar desse escritor, famoso 
por outra peça, O auto da compadecida, adaptado para a TV (em forma de seriado) e para 
o cinema. Conhecido por suas comédias, o dramaturgo Ariano Suassuna busca colocar em 
diálogo o universo mítico sertanejo com o teatro da Antiguidade clássica. 
A peça O Santo e a Porca é um bom exemplo desse diálogo, pois apresenta, como subtítulo, 
Imitação Nordestina de Plauto, uma referência à peça A Marmita, do dramaturgo romano 
Plauto, do século III e II a.C. Isso mostra que Ariano Suassuna estabelece uma relação dialógica 
ou intertextual com o texto de Plauto, na medida em que usa o texto do dramaturgo como base 
para recriar a sua peça.
Plauto, em A Marmita (também denominada de Aululária), aborda, com bom humor, a 
questão do homem dominado pela avareza. Trata-se da história de Euclião, homem simples 
que descobre a existência de uma panela (marmita) cheia de ouro, herança de seu avô, que a 
deixara escondida. Porém, a descoberta do local onde estaria a panela se deu com o auxílio do 
deus Lar da Família, que recebia oferendas de Fedra, filha de Euclião. No decorrer da trama, 
os diversos diálogos que acontecem, envolvendo o protagonista com os outros personagens, 
confirmam o caráter avaro desse personagem de Plauto.
Em O Santo e a Porca, temos a história de Eurico Árabe, mais conhecido como Euricão, um 
velho avarento, devoto de Santo Antônio, que esconde em sua casa uma porca de madeira, 
cheia de dinheiro. A peça gira em torno das preocupações de Euricão em proteger a sua porca e 
da tentativa do fazendeiro Eudoro Vicente em casar-se com Margarida, filha do velho avarento. 
Caroba, empregada do Árabe, para evitar tal enlace, já que lhe fora prometido um pedaço de 
terra caso conseguisse, apronta inúmeras confusões a fim de acabar com o casamento. 
Como você deve ter percebido, as peças, tanto de Plauto quanto de Ariano Suassuna são 
comédias. A comédia, segundo Aristóteles, volta-se para os homens de psique mais fraca, na 
qual seus vícios são expostos ao ridículo, produzindo o riso.
Ao ler O santo e a porca, você perceberá como as personagens, em especial Euricão, é 
ridicularizado por sua avareza. Mas vamos, primeiramente, as características do gênero dramático 
que podemos observar nessa peça:
12
Unidade: A Crônica e o Teatro
O pano abre na casa de EURICO ARÁBE, mais
conhecido como EURICÃO ENGOLE-COBRA.
CAROBA — E foi então que o patrão dele disse: “Pinhão, você sele o cavalo e vá 
na minha frente procurar Euricão...”
EURICÃO — Euricão, não. Meu nome é Eurico.
CAROBA — Sim, é isso mesmo. Seu Eudoro Vicente disse: “Pinhão, você sele o 
cavalo e vá na minha frente procurar Euriques...”
EURICÃO — Eurico!
CAROBA — “Vá procurar Euríquio...”
EURICÃO — Chame Euricão mesmo.
CAROBA — “Vá procurar Euricão Engole-Cobra...”
EURICÃO — Engole-Cobra é a mãe! Não lhe dei licença de me chamar de Engole- 
Cobra, não! Só de Euricão!
CAROBA — “Vá na minha frente procurar Euricão para entregar essa carta a ele.”
EURICÃO — Onde está a carta? Dê cá! Que quererá Eudoro Vicente comigo?
PINHÃO — Eu acho que é dinheiro emprestado.
EURICÃO — (Devolvendo a carta.) Hein?
PINHÃO — Toda vez que ele me manda assim na frente, a cavalo, é para isso.
EURICÃO — E que idéia foi essa de que eu tenho dinheiro? Você andou 
espalhando isso! Foi você, Caroba miserável, você que não tem compaixão de 
um pobre como eu! Foi você, só pode ter sido você!
CAROBA — Eu? Eu não!
EURICÃO — Ai, meu Deus, com essa carestia! Ai a crise, ai a carestia! Tudo que 
se compra é pela hora da morte!
CAROBA — E o que é que o senhor compra? Me diga mesmo, pelo amor de Deus! 
Só falta matar a gente de fome!
EURICÃO — Ai a crise, ai a carestia! E é tudo querendo me roubar! Mas Santo 
Antônio me protege!
PINHÃO — O senhor pelo menos leia a carta!
EURICÃO — Eu? Deus me livre de ler essa maldita! Essa amaldiçoada! Ai a crise, 
ai a carestia! Santo Antônio me proteja, meu Deus! Ai a crise, ai a carestia! 
(SUASSUNA, 2009, p.18-19)
Neste trecho inicial da peça O santo e a porca, você já deve ter notado que não há a presença 
de um narrador. As informações sobre as personagens é obtida por meio da tensão que se 
estabelece nos diálogos. Caroba já estabelece o primeiro conflito, ridicularizando seu patrão 
Eurico ao chamá-lo por vários nomes diferentes daquele que seria o correto. 
13
Observe também que as falas de Eurico revelam a sua avareza: “E que idéia foi essa de que 
eu tenho dinheiro? Você andou espalhando isso! Foi você, Caroba miserável, você que não tem 
compaixão de um pobre como eu! Foi você, só pode ter sido você!” (...) “Ai, meu Deus, com essa 
carestia! Ai a crise, ai a carestia! Tudo que se compra é pela hora da morte!”
A avareza de Euricão se consolida com seu apego demasiado à porca e sua dedicação a 
ela como substituta da esposa que o abandonou; seu medo de perdê-la; sua devoção a Santo 
Antônio como protetor de seu lar e de sua porca até o seu roubo e sua devolução.
Você deve observar ainda as rubricas do texto dramático que servem como indicação para 
os atores, no momento da interpretação, marcarem suas posições, reações no palco, como 
observamos a seguir:
EUDORO se aproxima de EURICÃO e começa a olhá-lo, examinando-o 
com um misto de curiosidade, desgosto e compaixão. Chega mesmo a tocar 
na roupa de EURICÃO para inspecioná-la. EURICÃO, desconfiado, vai 
se afastando dele, aos arrancões, mas sem querer sair para não despertar 
suspeitas. (SUASSUNA, 2009, p.58)
Além de observar essas rubricas, procure pensar na forma como a personagem Caroba é a 
única que em momento algum aparece coisificada, já que todas as outras em um momento ou 
em outro são manipuladas pela criada, tal como se fossem marionetes. Outro ponto importante 
da peça é pensar como, pela comédia, pelo riso provocado a partir da forma como Euricão 
é ridicularizado pela sua excessiva avareza e egoísmo, ao ser satirizado, o dramaturgo Ariano 
Suassuna estabelece uma moral na peça, visto que todo o dinheiro guardado na porca, durante 
muito tempo, tinha perdido seu valor. Euricão finaliza a peça sozinho, ao passo que as demais 
personagens finalizaram casados, conforme o gosto do santo padroeiro do casamento, Santo 
Antônio, e mais um castigo para o seu devoto.
 
 Informação
É importante que você note, também, a oposição entre o santo, Santo Antônio, que representa o 
mundo sagrado e a porca, representante do mundo profano, material. A oposição entre esses dois 
elementos revela a grande contradição de Euricão que usa o elemento sagrado, o santo, apenas 
para buscar proteção para sua fortuna guardada na porca.
14
Unidade: A Crônica e o Teatro
Material Complementar
Para que você possa entender melhor a crônica e o teatro, leia os artigos que estão disponíveis 
nos links abaixo.
 
 Explore
No primeiro link, você encontrará um artigo da Profa. Dra. Maria LúciaCunha V.O. Andrade que 
explica a relação do gênero crônica com a prática escolar. No segundo link, o artigo apresenta uma 
proposta de sequência didática ou uma sequência de atividades que propõe leitura, escrita e en-
cenação do gênero textual teatro aplicada a uma aula de Língua Portuguesa com alunos da sexta 
série. Confira nesses dois artigos como a crônica e o teatro podem ser trabalhos em sala de aula, no 
momento em que você praticar a docência.
1. http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/maluv017.pdf
2. http://www.epedusp.com.br/Marega.pdf
15
Referências
BRAGA, Rubem. 200 Crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 2002.
CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. In: CANDIDO, Antonio et ali. A crônica, sua fixação 
e suas transformações no Brasil. Campinas: UNICAMP; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui 
Barbosa, 1992. 
COUTINHO, Afrânio. Antologia brasileira de literatura. Rio de Janeiro, Letras e Artes, 
vol.3, 1967.
MELO, José Marques de. A Opinião No Jornalismo Brasileiro. Rio de Janeiro:Vozes, 1985.
MOISÉS, Massaud. A Criação Literária. Prosa II. São Paulo, Cultrix, 2003.
ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. São Paulo: Perspectiva: 2008.
SÁ, Jorge de. A Crônica. São Paulo: Ed. Ática. Col. Princípios, 1985.
SOARES, Angélica. Gêneros Literários. São Paulo: Ática, 2001.
SUASSUNA, Ariano. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.
16
Unidade: A Crônica e o Teatro
Anotações
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil 
Tel: (55 11) 3385-3000

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