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Joseph Amorim Choque Circulatório Conceito Choque é uma síndrome caracterizada pela incapacidade do sistema circulatório de oferecer oxigênio e nutrientes aos tecidos e de remover os resíduos e gás carbônico, resultando em uma redução da perfusão tecidual efetiva, decorrente principalmente de uma falha da microcirculação que vai repercutir na circulação central e periférica. O choque começa a nível celular e é reversível, depois se não tratado a tempo repercute sistemicamente, levando a síndrome da disfunção de múltiplos órgãos e sistemas, tornando-se irreversível. Existem quatro tipos de choque circulatório: Distributivo, Hipovolêmico, Cardiogênico e Obstrutivo. O hipovolêmico será o mais abordado nesse material. Hipotensão arterial não é sinônimo de choque e vice-versa. Quando o indivíduo perde de 10 a 15% do seu volume sanguíneo o indivíduo já se encontrará em estado de choque, mas não estará inicialmente hipotenso por conta dos mecanismos compensatórios (melhor abordado em REMIT) como liberação de catecolaminas, adrenalina, noradrenalina, aumento da resistência vascular periférica e aumento da frequência cardíaca, num quadro de perda de 10 a 15% da volemia a frequência cardíaca está entre 120 a 130bpm, uma frequência maior ou igual a 150bpm indica uma perda de 40% da sua volemia. O ácido lático, advindo de um metabolismo anaeróbio, é o marcador mais sensível do choque circulatório, o lactato acima de 2 já indica estado de choque. Fisiopatologia Sistema cardiovascular Temos o sistema arterial de resistência que representa 30% do volume circulante efetivo, o sistema venoso de capacitância representa 70% do volume e consegue albergar sangue em grande quantidade por possuir as paredes distensíveis. A perfusão tecidual de oxigênio depende da pressão arterial, uma vez que a pressão arterial é representada pelo débito cardíaco (DC) e pela resistência vascular sistêmica (RVS), podemos dizer por analogia que a perfusão tecidual também depende disso. Logo qualquer fator que vá reduzir o DC ou RVS irá desencadear, se não controlado, em estado de choque. No caso do choque hipovolêmico irá ocorrer uma redução do DC e no choque distributivo irá reduzir a RVS. O DC depende da pré-carga, pós-carga e contratilidade. O tratamento do choque hipovolêmico é feito com o aumento da pré-carga (aumento da volemia), redução da pós carga (noradrenalina e dopamina), aumento da contratilidade (dobutamina). A RVS é inversa a quarta potência do raio vascular, logo devemos promover vasoconstrição para aumentar a RVS, isso será feito principalmente com noradrenalina. “90% dos choques são resolvidos apenas aumentando a pré-carga. Apenas nos Joseph Amorim choques irresponsivos ao aumento da pré-carga é que se atua com drogas vasos constritoras”. Entretanto o aumento da pré-carga segue uma curva, curva de Frank Starling, a um momento da curva (ponto de inflexão) no qual o aumento da volemia não aumenta a pré-carga e o líquido transudará para o terceiro espaço (espaço intersticial), levando a formação de edemas, como edemas de esclera, de membro inferior, de bolsa escrotal, pulmonar, cerebral. Logo não se faz necessário, a partir desse momento, aumentar a volemia, pois não aumentará a pré-carga. Microcirculação No ponto de vista da microciculação existem as anastomoses arteriovenosas, porém em condições normais estão inativas. Quando temos vasoconstrição decorrente da liberação de catecolaminas, que vai aumentar a resistência vascular e aumenta, por conseguinte, a pressão arterial e perfusão tecidual. Entretanto quando o aumento da vasoconstrição é exacerbado, levará a ativação das anastomoses arteriovenosas, o que leva a uma redução da perfusão tecidual, aumentando somente o retorno venoso. As arteríolas possuem receptores Alfa e Beta adrenérgicos, enquanto as vênulas possuem receptores Alfa adrenérgicos. Os beta-adrenérgicos são vasodilatadores e os alfa são vasoconstrictores e isso explica o porquê da ativação dos shunts arteriovenosos, que tem por objetivo fazer o sangue voltar ao coração. Mecanismos compensatórios O mecanismo inicial é fisiológico com a descarga simpática, adrenérgica. Essa ativação simpática vem dos barorreceptores que estão localizados no arco aórtico e seio carotídeo, esses estímulos nervosos são levados ao sistema nervoso central, mais especificamente ao centro vasomotor localizado na ponte e no bulbo, através do nervo vago e glossofaríngeo. Levando a um aumento da contração das arteríolas, constrição das veias, efeito cronotrópico e inotrópico positivo. Esses mecanismos servem para manutenção dos órgãos nobres (cérebro e coração). Os três primeiros órgãos afetados para manutenção desses órgãos nobres são: pele, rins e baço. Isso porque esses órgãos possuem maior quantidade de receptores. Quando o indivíduo perde 10% da volemia todos os órgãos estão ainda bem profundidos, mas já começa a constrição cutânea. Quando 15% já teremos vasoconstrição cutânea, renal e esplênica. Quando 40% já teremos comprometimento do cérebro e coração, chegando a denominada fase irreversível do choque. Outro mecanismo compensatório além da descarga simpática adrenérgica é a ativação do eixo renina-angiotensina-aldosterona. O indivíduo com choque hipovolêmico grave tem hipotensão e taquicardia e o distributivo tem hipotensão e bradicardia. No choque distributivo haverá aumento do DC, vasodilatação, diminuição da RVS, redução do retorno venoso. Portanto, um paciente com hipotensão e bradicardia em estado de choque só poderá se apresentar com choque hipovolêmico em estado final ou choque distributivo. O indivíduo grande queimado perde de 5 a 6L de água por dia. Com um aumento do metabolismo em 200%. Esse indivíduo necessita de grande reposição volêmica, cerca de 8L de cristaloides em 24h isso para repor as perdas insensíveis e o que ele precisaria naturalmente. Joseph Amorim Sequência temporal de alterações Primeiro muda a pressão arterial de CO2, segundamente a frequência cardíaca depois a pressão venosa central e por último o lactato. Lactato acima de 2,5 já está numa fase crítica. O lactato é o último a se alterar tanto na fase de choque quanto depois da terapia para ressuscitação. Classes do choque hipovolêmico Classe I Classe II Classe III Classe IV Perda sanguínea (ml) Até 750 750-1500 1500-2000 > 2000 Perda sanguínea (% VS) Até 15% 15-30% 30-40% > 40% Frequência cardíaca (bpm) < 100 > 100 > 120 > 140 PA Normal Normal Diminuída Diminuída Pressão de pulso (mmHg) Normal ou aumentada Diminuída Diminuída Diminuída FR 14-20 20-30 30-40 > 35 Diurese (ml/h) > 30 20-30 5-15 Desprezível Estado mental/ SNC Levemente ansioso Moderadamente ansioso Ansioso, confuso Confuso, letárgico Déficit base (HCO3- mEq/L) 0-2 -2 a -6 -6 a -10 < -10 Reposição volêmica Cristaloide Cristaloide Cristaloide/ Sangue Cristaloide/ Sangue Valores para um homem de 70kg Se um indivíduo levou um tiro ou facada no tórax quando se coloca um dreno dá para ter uma noção e quantificar quanto de sangue o indivíduo perdeu, logo saber em qual estado de choque ele deve se encontrar. Porém se o indivíduo perdeu sangue no local do acidente, perde sangue externa e internamente, não é possível quantificar a perda de sangue, portanto deve-se seguir os parâmetros clínicos. Recentemente, o colégio americano incluiu o déficit de base, quanto o indivíduo precisaria de bicarbonato para poder tamponar o ácido láctico. Diagnóstico Nenhum teste laboratorial isoladamente faz o diagnóstico de choque. Os exames para auxiliar nesse diagnósticosão: Hemograma, Hemostasia, Eletrólitos, GA, Função renal, Lactato, ECG e exames de imagem. Joseph Amorim Monitorização Invasiva Pressão venosa central, Cateter de artéria pulmonar (CAP ou Swan-Ganz). Ambos vem perdendo espaço, principalmente por causar complicações. Minimamente Invasiva LIDCO, PICCO, VIGILEO Muito caros, porém são os que dão mais informações, o VIGILEO inclusive permite ter uma ideia do ponto de inflexão da curva de Frank Starling. Consequentemente permite dosar melhor a infusão de cristaloides, de forma a não causar extravasamento para o terceiro espaço. Indireta da microcirculação Serve para dosagem de lactato e SvcO2 (CAP ou VIGILEO) A SvcO2 (saturação venosa central de oxigênio) indica a quantidade de oxigênio nas veias. Em condições normais uma pessoa extrai de 20 a 25% do oxigênio que chega as células. Logo a SvcO2 deve ser entre 70 a 75% se for maior que 80% significa que os órgãos estão com uma perfusão reduzida. Tratamento Objetivos Os objetivos do tratamento do choque hipovolêmico são: Reverter a causa básica, interromper o sangramento e repor as perdas de volume, aumentar a perfusão tecidual. Para alcançar esses objetivos e reverter o choque é necessário: Aumentar DC: Aumentando pré-carga através de soluções cristaloides e sangue Aumentar RVS: Drogas vasoativas como catecolaminas, noradrenalina e adrenalina Aumentar FC: Administração de Dobutamina Aumentar Hb: Hemotransfusão Aumentar Sat O2, Pa O2: Fornecimento de oxigênio Reduzir VO2: O VO2 aumenta em condições de estresse, dor, hipertermia e dispneia. Logo para o reduzir, deve-se contrabalancear esses fatores. O tratamento de choque é “VIP” (Ventilation, Infusion, Pumping). Como saber se o manejo foi adequado A pressão volta ao normal, diminuição da FC, aumento da diurese (valor normal é 0,5ml/kg/h), melhora da acidose, normalização do lactato. Joseph Amorim O indivíduo precisa ter cateterismo urinário para medir a diurese, acredita-se que a diurese é um dos parâmetros mais importantes para taxa de perfusão tecidual, pois mede a taxa de depuração renal. Passos para o tratamento do choque 1° Pegar dois acessos venosos (ATL-2018 diz que se o choque não for muito grave, basta apenas um acesso). Mas se precisar infundir sangue e cristaloides (Classe III e IV) precisa pegar dois acessos 2° Interromper sangramentos 3° Cateterismo urinário 4° Fornecimento de oxigênio 7 a 8L por minuto se for por cateter nasal e 5L se for em máscara 5° Monitorização do débito urinário 6° Oximetria 7° Exames laboratoriais: hemograma, bioquímica e lactato (precisa puncionar a artéria radial ou femoral) 8° Colocar o doente numa ala de terapia intensiva 9° Cateterismo venoso central 10° Monitorização da pressão venosa central Expansão volêmica Precisa de infusão rápida, 1000ml ou 20ml/kg. Regra “3 para 1”: 3ml de cristaloide para 1ml de sangue perdido. Escolha do cateter GELCO VOLUME Laranja 315ml/min Cinza 210ml/min Verde 110ml/min Rosa 65ml/min Azul 38ml/min Amarelo 24ml/min Em 1,5’ consegue se tirar o indivíduo do estado de choque com 2 acessos venosos, com gelco laranja, pois já infundiria cerca de 1000ml. Não adianta tratar choque hipovolêmico com gelco verde para baixo. Se não consegue pegar veia periférica, deve-se fazer dissecção venosa. O fluxo de cateter de dissecção é laminar, chega a 350ml/min.
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