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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO DIREITO PENAL II VOLTA REDONDA 2018 ISABELA MARIA DOS SANTOS KURTEMBACK 2 SUMÁRIO 1 TEORIA DO ERRO.........................................4 2 CONCURSO DE PESSOAS..................................17 3 CONCURSO DE CRIMES...................................33 4 HISTÓRIA DA PENA...................................... 42 5 TEORIAS DA PENA....................................... 42 6 PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA.......................68 7 PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.........................79 8 PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO......................... 90 9 LIVRAMENTO CONDICIONAL............................102 10 PENA DE MULTA....................................... 110 11 DOSIMETRIA DA PENA..................................119 12 EFEITOS DA CONDENAÇÃO..............................142 13 SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA.................... 151 14 REABILITAÇÃO........................................ 163 15 CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE................ 168 3 4 DIREITO PENAL II AULA 1: TEORIA DO ERRO Erro – falsa noção de um fato ou regra jurídica. É um estado positivo. Quem erra vê mal, pensa que existe. Ignorância – ausência completa de conhecimento ou de representação. É um estado negativo da consciência. Dúvida – pluralidade de idéias sobre algo, sendo uma a verdadeira. Segundo Cézar Roberto Bittencourt1, ` `Erro relevante em Direito Penal é aquele que vicia a vontade, causando uma falsa percepção da realidade, e também aquele que vicia o conhecimento da ilicitude. Assim, o erro tanto pode cair sobre os elementos estruturais do delito – erro de tipo – quanto sobre a ilicitude da ação – erro de proibição. Bittencourt escreve, ainda, em sua obra que o erro pode recair sobre a tipicidade ou sobre a injuridicidade. ERRO NA LEI PENAL BRASILEIRA Código Penal Brasileiro prevê: a) Erro de tipo (art. 20 CP) b) Erro de proibição (Art. 21 CP) Assim também se classifica o Direito português, alemão, suíço, austríaco, etc. Código Penal Italiano – mantém o entendimento de que a ignorância da lei não escusa. TEORIAS DO ERRO Para uma melhor compreensão da teoria do erro, faz-se necessário uma revisão das teorias do dolo e da culpabilidade. Teorias do dolo (esquema causal) Conhecimento da ilicitude é elemento do dolo, situado na culpabilidade (forma de culpabilidade – dolo normativo). Tanto erro de tipo quanto erro de proibição excluem o dolo – solução unitária. 1BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.. p. 501. 5 Teoria estrita ou extremada do dolo: Considera que a falta de consciência do injusto exclui o dolo. Faz equiparação entre erro de tipo e erro de proibição, sendo ambos excludentes do dolo. Teoria limitada do dolo: A consciência da ilicitude constitui um elemento do dolo. Na ausência dessa consciência, não há dolo, mas culpa. A principal diferença em relação à teoria estrita, é que na primeira exige-se um comportamento atual e concreto do injusto, já na limitada apenas seu conhecimento potencial. Teoria modificante do dolo: A consciência da ilicitude faz parte do dolo, assim, o erro de proibição inevitável exclui a consciência da ilicitude, e deste modo, o dolo. Esta pertence à culpabilidade. Exclui-se também a culpabilidade e a responsabilidade penal. Se evitável o erro de proibição, o agente responde por crime doloso, podendo ser atenuado. Já na teoria limitada, o erro evitável configura crime culposo. TEORIAS DA CULPABILIDADE ESQUEMA FINALISTA Ao contrário das teorias do dolo, aqui (com base na teoria normativa pura) o dolo é concebido como dolo do fato, ou dolo natural, despojado da consciência do injusto (que é inserida na culpabilidade). Aqui o dolo é mera consciência e vontade de realização do tipo objetivo. O dolo não exige conhecimento normativo, assim, a consciência da ilicitude integra a culpabilidade, e não o dolo. Divide-se em: teoria estrita da culpabilidade e teoria limitada da culpabilidade. Teoria estrita da culpabilidade: Considera que o erro sobre a ilicitude do fato é sempre erro de proibição. Desse modo, o erro sobre as causas de justificação (exclusão de ilicitude) é erro de proibição e exclui a culpabilidade se for justificável. Há uma distinção nas situações de erro de tipo em que não há dolo do agente. Diante da ignorância do autor sobre o injusto, se não há censura a tal conduta, não há culpabilidade nem pena. Teoria limitada da culpabilidade: Também decorre da teoria normativa pura da culpabilidade. Distingue erro de proibição direto e indireto (este último ocorre sobre as causas de justificação). Oferece 6 solução diferenciada no tratamento do erro que versa sobre uma causa de justificação (discriminante putativa). Teoria limitada da culpabilidade Erro sobre pressupostos fáticos - de uma causa de justificação (exclusão de ilicitude) equipara-se ao erro de tipo permissivo. Exclui o dolo, resta apenas a culpa. Ex.: agressão na legítima defesa. Erro sobre a existência, o âmbito ou os limites legais de uma causa de justificação constitui erro de proibição indireto, que se inevitável exclui a culpabilidade, e, se evitável, atenua a pena. Ex.: erro sobre injusta agressão na legítima defesa. Diferença: está no tratamento dado ao erro sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação. Para a teoria estrita é erro de proibição; para a teoria limitada é erro de tipo permissivo. ESPECIES DE ERRO Direito brasileiro, após a reforma de 1984 do Código Penal, vincula-se à teoria limitada da culpabilidade. O tratamento do erro compreende 7 hipóteses: 1. Erro de tipo 2. Descriminantes putativas 3. Erro de proibição 4. Erro determinado por terceiro 5. Erro sobre a pessoa 6. Erro na execução (aberratio ictus) 7. Aberratio delicti Erro de tipo Dispõe o art. 20 do CP “o erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei”. Ocorre quando o agente erra (por desconhecimento ou falso conhecimento) sobre os elementos objetivos do tipo, ou seja, o agente não conhece todos os elementos a que, de acordo com o respectivo tipo legal de crime, deveria se estender o dolo. Recai sobre os elementos essenciais do tipo (fáticos ou normativos), sem os quais deixa de existir. Ex.: levar coisa alheia crendo ser sua (art. 155 CP – furto). 7 Ainda nas palavras de Bittencourt2, erro de tipo é o que recai sobre circunstância que constitui elemento essencial do tipo. É a falsa percepção da realidade sobre um elemento do crime. É a ignorância ou a falsa representação de qualquer dos elementos constitutivos do tipo penal. É indiferente que o objeto do erro se localize no mundo dos fatos, dos conceitos ou das normas jurídicas. Importa, isto sim, que faça parte da estrutura do tipo penal. Essa modalidade de erro está regulada no caput do art. 20 do nosso Código Penal, onde o legislador refere-se expressamente ao “erro sobre elemento constitutivo do tipo legal”. ERRO DE TIPO E ERRO DE DIREITO Erro de tipo não é mero erro de direito. Incide sobre situaçõesconcretas e não apenas sobre o entendimento da lei. ERRO DE TIPO E ERRO DE FATO Erro de fato é aquele que recai sobre situação puramente fática. O erro de tipo não recai somente sobre os elementos fáticos do tipo, mas também sobre os requisitos jurídico-normativos. ERRO DE TIPO ESSENCIAL: Incide sobre elementos e circunstâncias essenciais ao tipo. Impede o agente de conhecer o caráter criminoso do fato ou de conhecer a circunstância. Se não fosse pelo erro não haveria crime. a) Inevitável, invencível e escusável – exclui a tipicidade (dolo ou culpa). Está previsto no art. 20, “caput”, 1.º parte. Verifica-se quando o resultado ocorre, mesmo que o agente tenha praticado toda diligencia necessária, em suma, naquela situação todos agiriam da mesma forma. Ex.: Um homem tenta pregar uma peça em seu amigo fingindo ser um animal selvagem em uma floresta. O amigo então atira no suposto animal e o mata. As circunstâncias da situação induziram o primeiro a atirar, qualquer um em seu lugar teria feito o mesmo, de modo que ele seja isento de dolo e culpa. b) Evitável, vencível ou inescusável – podia ser evitado pelo agente. Exclui-se o dolo, mas admite a responsabilidade por culpa. previsto no art. 20, 1º parte, CP. Se dá quando o agente, no caso concreto, em não agindo com a cautela necessária e esperada, acaba atuando abruptamente cometendo o crime que poderia ter sido evitado. 2BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.. p. 511. 8 Ex.: Um homem sai para caçar com seu amigo e, para mostrar que é um bom caçador, atira na primeira coisa que se move na mata, matando um homem. Cá, o primeiro poderia ter evitado a situação, logo, é isento de dolo, porém responde por homicídio culposo, visto que não tomou todas as cautelas necessárias. ERRO DE TIPO ACIDENTAL: Atinge os aspectos secundários do delito. É irrelevante para os efeitos do tipo penal. Ex.: A para vingar-se de B mata C por engano. Espécies: b) Erro “ in persona”: o agente com sua conduta criminosa visa certa pessoa, mas por erro de representação, acredita ser aquela em que efetivamente deseja atingir. Ex.: Júnior, atirador de elite, resolve dar cabo na vida de José, seu pai. Para tanto usa de seus conhecimentos de atirador, esperando que seu pai passe, como de costume, pelo local onde o aguarda. Então vem um indivíduo com os mesmos caracteres físicos de seu pai. João prepara sua melhor mira e atira, mas acaba matando Pedro, irmão gêmeo de José, seu pai. Observe que não houve falha na execução do delito, apenas ocorreu uma falsa representação da realidade, dado a semelhança física entre os irmãos. Obs: Ocorrendo o erro de pessoa, o agente responde como se tivesse atingindo a pessoa que pretendia e não as que efetivamente atingiu. No exemplo supra citado o agente responde como se tivesse atingido o pai, e não o tio (art. 61, II, e, CP). Se houver agravante no dolo do crime, o agente responde pelo resultado almejado. c) Erro na execução ou “aberratio ictus”: ocorre quando o agente por execução imperfeita acaba atingindo um terceiro que, em regra, não fazia parte do seu “animus”. Ex.: Júnior, um desastrado, resolve matar seu irmão. Quando este passa pelo local esperado Júnior atira, mas por erro de pontaria, acaba não por atingir seu irmão, mas a namorada deste, que estava ao seu lado. Obs: Havendo resultado único o agente responde por um só crime, mas levando-se em conta as condições pessoa que queria atingir, nesse sentido art. 73 CP. Porém, pode ocorrer resultado duplo, vale dizer, atingiu dolosamente a pessoa que queria e culposamente um terceiro, neste caso há concurso formal perfeito (ou normal ou próprio), uma vez que não existe desígnios autônomos, devendo ser considerada uma só pena aumentando-se de 1/6 a ½. É o Sistema da Exasperação. (VIDE AULA 2) Pode ocorrer também, como afirmamos retro, que esteja no “animus” do agente atingir as duas pessoas, portanto um resultado duplo doloso. Neste caso afirma-se haver desígnios autônomos, devendo então as penas serem somadas, é o Sistema do Cúmulo Material. Tem-se na hipótese manejada o concurso formal impróprio (ou anormal ou imperfeito). Erro na execução ≠ “erro in persona” Neste, o agente atinge a vítima pensando que a desejada. Ou seja, há uma falsa representação da realidade. No erro na execução, o agente quer atingir a vítima desejada e sabe que é ela, só que erra na execução, e atinge outra pessoa (vítima alvejada). 9 d) “aberratio causae”: neste caso o erro recai sobre o nexo causal, é a hipótese do dolo geral. Ex.: A dá várias facadas em B e, presumindo que esteja morto, atira-o de um precipício, mas B vem a morrer com a queda e não em razão das facadas – nesses casos, não haverá exclusão do dolo, punindo-se o autor por crime doloso. (Caso Nardoni) e) Resultado diverso do Pretendido ou “aberratio delicti” – nesta espécie de erro do tipo, o agente quer atingir determinado bem jurídico, mas atinge outro. Ex.: Júnior quer atingir a vidraça, mas por erro de pontaria acaba por acertar a cabeça de José. Neste caso o agente só responde por lesões culposas, que absorve a tentativa de dano. Porém se ocorrer duplo resultado, ou seja, atinge a vidraça e pessoa, o agente responde por crime de dano consumado em concurso formal com crime de lesões corporais culposas, aplicando-se o Sistema da Exasperação, já explicado anteriormente, e para onde remetemos o leitor. ERRO DE TIPO ACIDENTAL Formas: a) Com unidade simples ou resultado único: Somente é atingida a pessoa diversa da pretendida, não sofrendo a vítima virtual qualquer lesão. Conforme o art. 73 CP, o agente responde do mesmo modo que no erro sobre pessoa (pelo crime cometido por engano). Faz-se a presunção de que atingiu a pessoa pretendida. b) Com unidade complexa ou resultado duplo: Agente além de atingir a vítima visada, acerta 3ª pessoa. Aplica-se a regra do concurso formal, impondo-se a pena do crime mais grave aumentada de 1/6 até a metade. ERRO DE TIPO ACIDENTAL NÃO AFASTA O DOLO Engana-se quanto a um elemento não essencial do fato. Há crime apesar do erro. ERRO DE TIPO ESSENCIAL AFASTA O DOLO Recai sobre elementos essenciais do crime, não haveria crime sem o erro ERRO DE TIPO VENCÍVEL AFASTA SOMENTE O DOLO Ocorre quando o agente poderia evitar o resultado, se tivesse atuado com a diligência exigida. O agente pode responder pelo crime culposo. ERRO DE TIPO INVENCÍVEL AFASTA O DOLO E A CULPA EXCLUDENTE DE TIPICIDADE Ocorre quando o agente não pode evitar o resultado, apesar da cautela. Qualquer pessoa erraria nas mesmas circunstâncias Sempre exclui o dolo, mas pode haver culpa Ocorre quando alguém não conhece, ao cometer o fato, uma circunstância que pertence ao tipo legal. ERRO DE TIPO Erro sobre o objeto, erro sobre a pessoa (art 20 p3), erro na execução (art 73), resultado diverso do pretendido (art 740), erro sobre o curso causal 10 DESCRIMINANTES PUTATIVAS De início, cabe relembrar que descriminantes são dispositivos assegurados no direito penal capazes de excluir a ilicitude de um ato. No direito brasileiro, estas são o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular do direito. Cá, quando recebem o adjetivo “putativo”, as descriminantes passam a ser a causa excludente da ilicitude erroneamente imaginada peloagente. Ou seja, não existem na realidade, mas o agente crê que sim, porque está em erro. Putativo, vem do latim putare – errado. Imaginado, porém inexistente. “É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.” Artigo 20, inciso § 1 º do Código Penal Compreende: I. ESTADO DE NECESSIDADE PUTATIVO Com relação ao estado de necessidade putativo, ocorre, como dito, um erro justificável com a suposição de que existe um perigo atual. A exemplo, o náufrago que, ao agredir alguém para ficar com o colete salva-vidas, não percebe que está no raso e não em alta profundidade, como não havia na realidade uma situação de perigo. Trata-se do estado de necessidade putativo. II. LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA A legítima defesa putativa ocorre quando, por erro justificável, há a suposição de uma agressão humana atual e iminente. A exemplo, o agente sendo inimigo e jurado de morte de terceiro, ao avistá-lo e percebendo que o mesmo retira objeto do bolso, deduzindo que iria retirar arma de fogo, efetua de imediato disparos contra o terceiro, que na realidade estava retirando o celular. III. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL PUTATIVO O estrito cumprimento do dever legal putativo, ocorre quando por erro justificável, existe a suposição de situação de dever legal. A exemplo, o policial munido de mandado de prisão ao realizar a prisão, vem a saber, que na realidade teria que prender o irmão gêmeo do detido. IV. EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO PUTATIVO E por fim, no exercício regular do direito putativo, ocorrendo erro justificável, existe a suposição de poder de exercício de direito. A exemplo, o lutador profissional de boxe, que, ao agredir terceiro, vem a saber que o referido na verdade não era seu adversário. No que tange ao erro que deriva de culpa, o agente pode ser responsabilizado desde que seja na modalidade de crime culposo, conforme dispõe a parte final do artigo 20, inciso § 1 º do Código Penal, que diz: […] Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. 11 Tratando-se dessa forma da culpa imprópria, onde o agente deseja atingir o resultado, embora o faça por ser acobertado pelas descriminantes putativas, a falsa percepção da realidade, e, em razão disso, provoca intencionalmente o resultado ilícito e inescusável, já que não há justificativa para a conduta, pois, poderia ter evitado. Neste caso apesar da ação ser dolosa, a ação somente ocorreu devido à falsa percepção da realidade, portanto, o agente responderá por culpa por razões de política criminal. Cumpre ressaltar que as descriminantes putativas isentam o agente de pena. Entretanto, se provada a culpa, na modalidade culposa o agente poderá ser responsabilizado. 1. Espécies: a) Descriminante putativa por erro de proibição b) Descriminante putativa por erro de tipo DESCRIMINANTE PUTATIVA POR ERRO DE PROIBIÇÃO O agente tem plena noção de tudo que está ocorrendo. Não erra sobre a situação de fato. Ele supõe que está diante de uma causa que exclui a ilicitude, porque avalia equivocadamente a norma, supõe que o injusto é justo. É o chamado erro de proibição indireto e tem as mesmas consequências do erro de proibição. Aplica-se o art. 21 CP. O dolo não pode ser excluído porque o engano incide sobre a culpabilidade e não sobre a conduta. DESCRIMINANTE PUTATIVA POR ERRO DE PROIBIÇÃO Inevitável: agente terá cometido crime doloso, mas não responde por ele. Evitável: agente responde por crime doloso, com diminuição da pena de 1/6 a 1/3. Ex.: legítima defesa da honra. DESCRIMINANTE PUTATIVA POR ERRO DE TIPO Ocorre quando o agente imagina situação de fato totalmente divorciada da realidade na qual está configurada a hipótese em que ele pode agir acobertado por uma causa de exclusão de ilicitude. Os efeitos são os mesmos do erro de tipo. Se for evitável, responderá por crime culposo, se for inevitável, não há dolo ou culpa, não responde por crime. É um erro de tipo essencial incidente sobre elementos (requisitos) de um tipo permissivo. 12 Tipo permissivo: permitem a realização de condutas inicialmente proibidas. São as causas de exclusão de ilicitude. Ex.: segurança que atira quando vítima ia tirar documento do bolso, pensando que era arma. ERRO DE PROIBIÇÃO Trata-se de erro que tem por objeto a proibição jurídica do fato. Junto com o erro de tipo é uma questão que permite aferir se há ou não culpabilidade. O agente perde a compreensão da ilicitude do fato. Constitui o lado oposto da consciência da ilicitude: supõe erroneamente que age de forma lícita. Art. 21 CP: “O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminui-la de 1/6 a 1/3.” a) Erro de proibição direto: agente atua com a convicção de que sua ação não está proibida pela ordem normativa. Ex.: bigamia – erro sobre o casamento anterior, que se supõe inválido. b) Erro de proibição indireto ou erro de permissão: erro sobre uma norma permissiva. São as descriminantes putativas por erro de proibição. Ex.: Caso do Morro da Providência. a) Erro de proibição inevitável: Exclui a culpabilidade, por falta de potencial consciência da ilicitude (elemento da culpabilidade). b) Erro de proibição evitável: Constitui atenuante da pena (art. 21 CP). ERRO DE TIPO ERRO DE PROIBIÇÃO No erro de tipo o agente tem visão distorcida da realidade, não vislumbrando na situação que se apresenta, a existência de fatos descritos no tipo. O equívoco é sobre a realidade, e não sobre a previsão da lei penal. No erro de proibição, há perfeita noção da realidade, mas há equívoco sobre o que dispõe a lei penal, há uma errada apreciação sobre a injustiça que se faz. ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO No erro causado por agente provocador quem deve responder pelo fato punível, a título de dolo ou culpa, é o próprio provocador que determina o erro (art. 20, § 2º CP). No que toca ao provocado, será isento de pena se o erro for inevitável, se evitável, será punido por culpa (art. 20, § 2º CP). 13 Ex.: A recebe um revólver de B, e este afirma estar a arma descarregada. Se A, sem procurar se certificar, dispara e vem a matar alguém, responderá por homicídio culposo, e B por homicídio doloso. ESTUDO JURISPRUDENCIAL STJ – RE 80.249 – Rel. Felix Fischer. Embora de difícil configuração concreta, o erro sobre a idade da ofendida é juridicamente relevante porquanto baseado no art. 20, caput, CP (erro de tipo). EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 1) (OAB - XXII Exame unificado) Tony, a pedido de um colega, está transportando uma caixa com cápsulas que acredita ser de remédios, sem ter conhecimento que estas, na verdade, continham Cloridrato de Cocaína em seu interior. Por outro lado, José transporta em seu veículo 50g de Cannabis Sativa L. (maconha), pois acreditava que poderia ter pequena quantidade do material em sua posse para fins medicinais. Ambos foram abordados por policiais e, diante da apreensão das drogas, denunciados pela prática do crime de tráfico de entorpecentes. Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Tony e José deverá alegar em favor dos clientes, respectivamente, a ocorrência de a) erro de tipo, nos dois casos. b) erro de proibição, nos dois casos. c) erro de tipo e erro de proibição. d) erro de proibição e erro de tipo 2) (FGV – 2016 – OAB – XIX EXAME DE ORDEM)Pedro e Paulo bebiam em um bar da cidade quando teve início uma discussão sobre futebol. Pedro, objetivando atingir Paulo, desfere contra ele um disparo que atingiu o alvo desejado e também terceira pessoa que se encontrava no local, certo que ambas as vítimas faleceram, inclusive aquela cuja morte não era querida pelo agente. Para resolver a questão no campo jurídico, deve ser aplicada a seguinte modalidade de erro: a) erro sobre a pessoa. b) aberratio ictus. 14 c) aberratio criminis. d) erro determinado por terceiro. 3)(IADES - 2014 - TRE-PA - Analista Judiciário - Área Judiciária)O erro sobre os elementos do tipo penal está previsto no art. 20, caput do CBP, conforme transcrição a seguir: “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei”. De acordo com os ensinamentos relacionados ao erro de tipo essencial ou incriminador, é correto afirmar que a) não há distinção entre o erro de tipo escusável e o inescusável b) reconhecendo o juiz que o agente, ao praticar a conduta, incorreu em erro de tipo essencial, seja ele escusável ou inescusável, tal reconhecimento terá o condão de excluir o dolo e a culpa. c) se o erro do agente é invencível, a exclusão da tipicidade é a medida que se impõe. d) o erro é vencível quando qualquer pessoa no lugar do agente incidiria no mesmo erro. Se o erro é vencível, excluem–se o dolo e a culpa. e) se o erro é invencível, admite–se a punição por crime culposo. 4) (CESPE - 2013 - DPE-ES - Defensor Público – Estagiário) No que diz respeito ao erro de tipo e ao erro de proibição, assinale a opção correta. a) É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima, mesmo na hipótese de o erro derivar de culpa do agente. b) O desconhecimento da lei é inescusável, mas o erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta o agente de pena. c) O erro sobre a ilicitude do fato, se evitável, não isenta o agente de pena nem permite a sua redução. d) Considera-se evitável o erro de tipo se o agente atuar ou se omitir sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe seja possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. e) O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui a ilicitude, mas permite a punição por crime culposo, caso previsto em lei. GABARITO: 1)C/ 2)B/ 3)C/ 4)B 15 AULA 2: CONCURSO DE PESSOAS Conceito: Também chamado concurso de agentes ou co-delinquência. Com a Reforma do Código Penal de 1984 a denominação concurso de pessoas substitui a co-autoria. Concurso de pessoas é nomenclatura mais abrangente, pois, pode abarcar também a participação. “Art. 29, CP: Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º - se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de 1/6 a 1/3. § 2º - se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.” O Código Criminal do Império (1830) distinguia entre autores e cúmplices. O Código Penal de 1890 manteve esse tratamento. Código Penal 1940 – divide em co-autor e partícipe. REQUISITOS PARA O CONCURSO DE AGENTES a) Pluralidade de pessoas e de condutas Esse é o requisito básico do concurso eventual de pessoas: a concorrência de mais de uma pessoa na execução de uma infração penal. Embora todos os participantes desejem contribuir com sua ação na realização de uma conduta punível, não o fazem, necessariamente, da mesma forma e nas mesmas condições. Enquanto alguns, segundo Esther Ferraz, praticam o fato material típico, representado pelo verbo núcleo do tipo, outros limitam-se a instigar, induzir, auxiliar moral ou materialmente o executor ou executores praticando atos que, em si mesmos, seriam atípicos. A participação de cada um e de todos contribui para o desdobramento causal do evento e respondem todos pelo fato típico em razão da norma de extensão do concurso.3 b) Relevância causal de cada conduta (nexo causal para o resultado) A conduta típica ou atípica de cada participante deve integrar-se à corrente causal determinante do resultado. Nem todo comportamento constitui “participação”, pois precisa ter “eficácia causal”, provocando, facilitando ou ao menos estimulando a realização da conduta principal. Assim, no exemplo daquele que, querendo participar de um homicídio, empresta uma arma de fogo ao executor, que não a utiliza e tampouco se sente estimulado ou encorajado com tal empréstimo a executar o delito. Aquele não pode ser tido como partícipe pela simples e singela razão de que o seu comportamento foi irrelevante, isto é, sem qualquer eficácia causal. 33BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.. p. 552. 16 c) Vínculo psicológico entre os agentes (contribuem para a mesma finalidade) Deve existir também, repetindo, um liame psicológico entre os vários participantes, ou seja, consciência de que participam de uma obra comum. A ausência desse elemento psicológico desnatura o concurso eventual de pessoas, transformando-o em condutas isoladas e autônomas. “Somente a adesão voluntária, objetiva (nexo causal) e subjetiva (nexo psicológico), à atividade criminosa de outrem, visando à realização do fim comum, cria o vínculo do concurso de pessoas e sujeita os agentes à responsabilidade pelas consequências da ação”. O simples conhecimento da realização de uma infração penal ou mesmo a concordância psicológica caracterizam, no máximo, “conivência”, que não é punível, a título de participação, se não constituir, pelo menos, alguma forma de contribuição causal, ou, então, constituir, por si mesma, uma infração típica. Tampouco será responsabilizado como partícipe quem, tendo ciência da realização de um delito, não o denuncia às autoridades, salvo se tiver o dever jurídico de fazê-lo, como é o caso, por exemplo, da autoridade pública. d) Identidade do ilícito penal (o delito deve ser idêntico para as pessoas) Para que o resultado da ação de vários participantes possa ser atribuído a todos, “tem que consistir em algo juridicamente unitário4”. Como afirma Damásio, não é propriamente um requisito, mas consequência jurídica diante das outras condições24. Alguém planeja a realização da conduta típica, ao executá-la, enquanto um desvia a atenção da vítima, outro lhe subtrai os pertences e ainda um terceiro encarrega-se de evadir-se do local com um produto do furto. É uma exemplar divisão de trabalho constituída de atividades díspares, convergentes, contudo, a um mesmo objetivo típico: subtração de coisa alheia móvel. Respondem todos por um único tipo penal ou não se reconhece a participação ou o próprio concurso na empresa criminosa ESPÉCIES DE CRIMES QUANTO AO CONCURSO DE PESSOAS a) Monossubjetivos ou de concurso eventual: podem ser cometidos por um ou mais agentes. Constituem a maioria dos crimes previstos na lei penal (Ex.: homicídio, furto, etc). b) Plurissubjetivos ou de concurso necessário: só podem ser praticados por 2 ou mais agentes em concurso (Ex.: quadrilha, bando, rixa,etc). ESPÉCIES DE CRIMES PLURISUBJETIVOS: a) De condutas paralelas: as condutas auxiliam-se mutuamente visando a produção de um resultado comum. Centram esforços para a realização do crime. (Ex.: assalto a ônibus).4BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.. p. 553. 17 b) De condutas convergentes: as condutas tendem a encontrar-se e desse encontro surge o resultado. Não se voltam para o resultado, mas uma se dirige à outra (Ex.: o revogado crime de adultério). c) De condutas contrapostas: as condutas são praticadas umas contra as outras. Agentes são, ao mesmo tempo, autores e vítimas (Ex.: crime de rixa). ESPÉCIES DE CONCURSO DE PESSOAS a) Concurso necessário: Refere-se aos crimes plurissubjetivos (2 ou mais pessoas). A co-autoria é obrigatória, e a participação de terceiros pode ou não ocorrer. a) Concurso eventual: Refere-se a crimes monossubjetivos (praticados por um ou mais agentes). A co-autoria ou participação não é obrigatória, mas sim eventual. CONCEITO DE AUTOR a) Conceito unitário ou monista: autor é todo aquele que contribui de modo causal para a realização do fato punível (não há distinção entre autor e partícipe). b) Conceito restritivo ou objetivo-formal: autor é aquele que realiza ação típica (ou alguns de seus elementos) prevista na lei penal. É quem pratica a conduta principal. Partícipe é quem não pratica a conduta principal e contribui para o resultado. c) Conceito extensivo: autor é aquele que concorre de qualquer modo para o resultado. Não distingue co-autoria e participação. É mais moderado que o conceito unitário, pois admite causas de diminuição da pena, para estabelecer os diferentes graus de autoria. Admite as figuras do autor e do cúmplice (autor menos relevante). d) Conceito subjetivo de autor: autor é aquele que age com animus auctoris (quer o fato como próprio) e partícipe é aquele que o faz com animus socii (quer o fato como algo alheio). Falha em não dar relevância à conduta típica. e) Conceito finalista de autor: Autor é aquele que tem o domínio finalista do fato (delito doloso). No caso de delito culposo, autor é todo aquele que contribui para a produção do resultado que não corresponde ao cuidado devido. Co-autor é aquele que participa da finalidade (delito doloso) e toma parte na divisão do trabalho. PRADO – defende um conceito misto entre o objetivo-formal (sendo autor aquele que realiza a conduta típica – decorre da legalidade penal) e o conceito finalista de autor (critério material – domínio do fato, e não o animus de agir para si próprio). 18 TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO5 Trata-se de uma elaboração superior às teorias até então conhecidas, que distingue com clareza autor e partícipe, admitindo com facilidade a figura do autor mediato, além de possibilitar melhor compreensão da coautoria. Essa teoria surgiu em 1939 com o finalismo de Welzel40 e sua tese de que nos crimes dolosos é autor quem tem o controle final do fato. Mas foi através da obra de Roxin Täterschaftund, inicialmente publicada em 1963, que a teoria do domínio do fato foi desenvolvida, adquirindo uma importante projeção internacional, tanto na Europa como na América Latina. Nem uma teoria puramente objetiva nem outra puramente subjetiva são adequadas para fundamentar a essência da autoria e fazer, ao mesmo tempo, a delimitação correta entre autoria e participação. A teoria do domínio do fato, partindo do conceito restritivo de autor, tem a pretensão de sintetizar os aspectos objetivos e subjetivos, impondo-se como uma teoria objetivo-subjetiva. Embora o domínio do fato suponha um controle final, “aspecto subjetivo”, não requer somente a finalidade, mas também uma posição objetiva que determine o efetivo domínio do fato. Autor, segundo essa teoria, é quem tem o poder de decisão sobre a realização do fato. É não só o que executa a ação típica, como também aquele que se utiliza de outrem, como instrumento, para a execução da infração penal (autoria mediata). Como ensina Welzel, “a conformação do fato mediante a vontade de realização que dirige de forma planificada é o que transforma o autor em senhor do fato”. Porém, como afirma Jescheck, não só a vontade de realização resulta decisiva para a autoria, mas também a importância material da parte que cada interveniente assume no fato. A teoria do domínio do fato tem as seguintes consequências:1ª) a realização pessoal e plenamente responsável de todos os elementos do tipo fundamentam sempre a autoria; 2ª) é autor quem executa o fato utilizando a outrem como instrumento (autoria mediata); 3ª) é autor o coautor que realiza uma parte necessária do plano global (“domínio funcional do fato”), embora não seja um ato típico, desde que integre a resolução delitiva comum. O âmbito de aplicação da teoria do domínio do fato, com seu conceito restritivo de autor, limita-se aos delitos dolosos. Somente nestes se pode falar em domínio final do fato típico, pois os delitos culposos caracterizam-se exatamente pela perda desse domínio. A doutrina alemã trabalha com dois conceitos distintos de autor: nos delitos dolosos utiliza o conceito restritivo de autor fundamentado na teoria do domínio do fato, e nos delitos culposos utiliza um conceito unitário de autor, que não distingue autoria e participação. Segundo Welzel, “autor de um delito culposo é todo aquele que mediante uma ação que lesiona o grau de cuidado requerido no âmbito de relação, produz de modo não doloso um resultado típico”. A doutrina espanhola, que admite a participação em crimes culposos, em suas formas de cumplicidade e instigação, critica severamente a posição alemã, nesse particular. 5BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.. p. 557. 19 FORMAS DE CONCURSO DE PESSOAS a) Co-autoria: Todos os agentes, em colaboração recíproca e visando ao mesmo fim, realizam a conduta principal. Quando 2 ou mais agentes realizam o verbo do tipo. Pode haver divisão dos atos executivos. b) Participação: o partícipe é quem concorre para que o autor ou co-autores realizem a conduta principal. Não pratica o verbo do tipo, mas concorre para o resultado. É a contribuição dolosa sem domínio do fato. As condutas do partícipe podem ser: induzir, fazer nascer a vontade de executar o crime em outrem; instigar, que é reforçar ou motivar a ideia do crime; e auxiliar, que é a contribuição material, o empréstimo de instrumentos para o crime ou qualquer forma de ajuda que não caracterize de forma essencial a execução do delito. Ex.: O agente que, na pretensão de matar seu irmão, empresta arma de seu vizinho, que consente com a finalidade do empréstimo, vindo o agente a cometer homicídio contra seu irmão. A aplicação da pena, salvo exceções, se dará em conformidade com a teoria monista ou unitária. No artigo 29, caput, do Código Penal, prescreve: Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Portanto, a pena sempre será à medida da culpabilidade do agente. DIFERENÇA ENTRE AUTOR E PARTÍCIPE Autor: realiza a conduta principal descrita no tipo penal. Partícipe: aquele que, sem realizar a conduta descrita no tipo, concorre para sua realização. a) Autor direto ou imediato: pratica o fato punível pessoalmente. Pode ser: autor executor (realiza materialmente a ação típica) e autor intelectual (sem realizar a conduta de modo direto, domina-a completamente). b) Autor mediato ou indireto: aquele que, possuindo o domínio do fato, serve-se de terceiro que atua como intermediário, mero instrumento (geralmente inculpável – menor/doente mental; coação moral irresistível/obediência hierárquica). A doutrina 6consagrou a figura da autoriamediata, e algumas legislações, como a alemã (§ 25, I) e a espanhola (Código Penal de 1995, art. 28), admitem expressamente a sua existência. “É autor mediato quem realiza o tipo penal servindo-se, para execução 6BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.. p. 559. 20 da ação típica, de outra pessoa como instrumento”. A teoria do domínio do fato molda com perfeição a possibilidade da figura do autor mediato. Todo o processo de realização da figura típica, segundo essa teoria, deve apresentar-se como obra da vontade reitora do “homem de trás”, o qual deve ter absoluto controle sobre o executor do fato. Originariamente, a autoria mediata surgiu com a finalidade de preencher as lacunas que ocorriam com o emprego da teoria da acessoriedade extrema da participação. A consagração da acessoriedade limitada não eliminou, contudo, a importância da autoria mediata. Modernamente defende-se a prioridade da autoria mediata diante da participação em sentido estrito. Em muitos casos se impõe a autoria mediata, mesmo quando fosse possível, sob o ponto de vista da acessoriedade limitada, admitir a participação (caso do executor inculpável), desde que o homem de trás detenha o domínio do fato50. Nessas circunstâncias, o decisivo para distinguir a natureza da responsabilidade do homem de trás reside no domínio do fato. O executor, na condição de instrumento, deve encontrar-se absolutamente subordinado em relação ao mandante. O autor mediato realiza a ação típica através de outrem, como instrumento humano, que atua: a) em virtude da situação de erro em que se encontra, devido à falsa representação da realidade (erro de tipo), ou do significado jurídico da conduta que realiza (erro de proibição) que é provocada pelo homem de trás, b) coagido, devido à ameaça ou violência utilizada pelo homem de trás, ou c) num contexto de inimputabilidade (com a utilização de inimputáveis). As hipóteses mais comuns de autoria mediata decorrem, portanto, do erro, da coação irresistível e do uso de inimputáveis para a prática de crimes, o que não impede a possibilidade de sua ocorrência em ações justificadas do executor, quando, por exemplo, o agente provoca deliberadamente uma situação de exclusão de criminalidade para aquele, como já referimos neste trabalho. Todos os pressupostos necessários de punibilidade devem encontrar-se na pessoa do “homem de trás”, no autor mediato, e não no executor, autor imediato. Com base nesse argumento, Soler e Mir Puig, seguindo a orientação de Welzel, admitem, em princípio, a possibilidade de autoria mediata nos crimes especiais ou próprios, desde que o autor mediato reúna as qualidades ou condições exigidas pelo tipo. Já nos “crimes de mão própria” será impossível a figura do autor mediato. Além desses casos especiais, a autoria mediata encontra seus limites quando o executor realiza um comportamento conscientemente doloso. Aí o “homem de trás” deixa de ter o domínio do fato, compartindo-o, no máximo, com quem age imediatamente, na condição de coautor, ou então fica na condição de partícipe, quando referido domínio pertence ao consorte. Não cabe autoria mediata em casos em que: - O intermediário é inteiramente responsável; - Nos delitos especiais e de mão própria (agente reúne características específicas) só pode haver participação (Ex.: falso testemunho ou falsa perícia – art. 342 CP; infantícídio). 21 • Autoria colateral ou acessória: não integra o concurso de agentes. Ocorre quando 2 ou mais pessoas produzem um fato típico de modo independente umas das outras. Não há vínculo psicológico entre os agentes. Ex.: A e B atiram contra C, para matá-lo, ignorando a ação do outro. Linchamento. • Participação necessária imprópria: ocorre nos delitos que só podem ser praticados com a participação de várias pessoas (delitos de encontro ou convergência). Ex.: art. 235- bigamia; adultério. • Delito bilateral: para Prado não é concurso de pessoas, pois é elemento essencial do tipo (Ex.: rixa). Não se admite co-autoria para crimes culposos (resultado não desejado). A co-autoria exige o dolo na ação (vínculo psicológico entre autores). A participação também não se estende aos crimes culposos, exceto na modalidade de instigação ou cumplicidade psíquica. Ex.: A incita B a dirigir em alta velocidade, sem obedecer ao cuidado devido. CONCURSO DE PESSOAS EM DELITOS OMISSIVOS Delitos omissivos também não dão ensejo ao concurso de pessoas (nem co-autoria, nem participação). Só pode ser sujeito ativo de crime omissivo aquele que tiver a capacidade de agir e se encontre em uma situação típica. Não se concebe que alguém omita uma parte enquanto outros omitam as demais. Em caso de instigação ao crime omissivo, dissuasão, configura-se uma ação delitiva (delito comissivo) (divergência na doutrina). PARTICIPAÇÃO (STRICTO SENSU) Conceito: colaboração dolosa em um fato punível alheio, sem domínio do fato. Participação é sempre acessória ou dependente de um fato principal (teoria da acessoriedade mínima). Basta que a ação ou omissão do autor sejam típicas (não precisa ser ilícita) para que se possa responsabilizar também o partícipe. A existência de uma causa de justificação (excludente de ilicitude) que beneficia o autor só se estende ao partícipe se sua conduta também for justificada. ELEMENTOS DA PARTICIPAÇÃO A responsabilidade do partícipe está adstrita à responsabilidade do autor. São necessários: ➢ Elemento Subjetivo: Vontade de cooperar com a conduta principal. É o acordo de vontades. O partícipe deve agir com consciência e vontade de contribuir para 22 o delito (dolo). A vontade deve ser livre (portanto, não se estende à coação moral irresistível e à obediência hierárquica); ➢ Elemento Objetivo: Cooperação efetiva, por conduta acessória à principal. O comportamento que visa auxiliar ou contribuir com o fato punível. Basta a cooperação na atividade coletiva. ESPÉCIES DE PARTICIPAÇÃO a) Instigação ou induzimento: induzir intencionalmente outro a cometer o delito (persuasão), mediante influência moral, ou estimular alguém a levar adiante a ideia já tomada de praticar um delito. b) Cumplicidade: prestar auxílio, contribuir de forma material (cumplicidade física, material ou real - meios executórios) ou moral (cumplicidade intelectual, psíquica ou psicológica – conselhos e instruções sobre a execução do crime). Parte da doutrina admite a participação em cadeia, ou seja, a colaboração na conduta de um partícipe. Ex.: A instiga B a auxiliar C a cometer um crime. TEORIAS DA PUNIBILIDADE DA PARTICIPAÇÃO a) Teoria da culpabilidade da participação: decorre da influência exercida pelo partícipe sobre o autor (corrupção do autor). A culpabilidade do partícipe é dependente da culpabilidade do autor. b) Teoria da causação ou do favorecimento: Baseia-se na contribuição causal do partícipe para a produção do resultado. A conduta típica do autor não a condiciona, pois a participação tem caráter autônomo. É predominante no Brasil. c) Teoria da participação no ilícito: o fundamento da punibilidade do partícipe advém da transgressão da proibição de contribuir para fato ilícito (constitui crime, ou favorece o crime). PUNIBILIDADE NO CONCURSO DE PESSOAS a) Participação de menor importância: decorre do art. 29 CP. Constitui causa de redução da pena, de caráter obrigatório, se a contribuição do partícipe for de pouca relevância (art. 29, § 1º, CP). Pode ser aplicada sanção abaixo do mínimo legal. b) Cooperação dolosamentedistinta: Em caso de desvio subjetivo da conduta - quando um dos agentes queria (dolo) participar do delito menos grave e não do mais grave realizado por outro concorrente – a culpabilidade será mensurada individualmente, com aplicação proporcional da pena. O partícipe responderá pelo crime menos grave, com pena aumentada até a metade, se o resultado for previsível (art. 29, § 2º, CP). Ex.: A instiga B a surrar C, que se excede e causa a morte de C. 23 CIRCUNSTANCIAS INCOMUNICÁVEIS O art. 30 CP prevê regras próprias para a incomunicabilidade ou não das circunstâncias: a) Atuantes sobre a magnitude do injusto (circunstâncias objetivas): são os dados materiais referentes ao delito (meios de execução, vítima, parentesco, lugar, tempo). Comunicam-se a todos que participam do crime. b) Atuantes sobre a medida da culpabilidade (circunstâncias subjetivas): são as condições ou qualidades que se referem à pessoa do agente (reincidência, menoridade, relacionamento agente-vítima). Gera incomunicabilidade, exceto quando for um elemento essencial da natureza do delito. É indispensável que a qualidade ou condição do sujeito ativo seja conhecida pelo partícipe. Ex.: funcionário público (art. 312 CP – peculato); testemunha (art. 342 CP – falso testemunho ou falsa perícia). ATUAÇÃO EM NOME DE OUTREM Em atuações empresariais ocorrem situações em que alguém que não tem o domínio do fato comete a conduta típica em nome de outrem, como seu representante, embora sem reunir as qualidades para ser autor. (Ex.: descaminho) Qual é a resolução deste caso? Nem o representado (pessoa em cujo nome o agente atua) nem o representante (que age em nome de outrem) poderiam ser responsabilizados? Os elementos do tipo de injusto estariam repartidos entre os sujeitos ativos, porque nenhum deles o realiza totalmente. O elemento de autoria seria encontrado na pessoa jurídica, mas não nas pessoas físicas que atuam em sua representação. É preciso buscar instrumentos para a imputação das pessoas físicas que controlam a empresa. A relação de subordinação que há entre o diretor e o empregado funcionaria como uma via de transmissão da responsabilidade penal. É preciso introduzir nos Códigos Penais dispositivos que possam solucionar esta problemática. Parte da doutrina entende a representação como fundamento da imputação da conduta delitiva ao que age em nome de outrem. Outra parte defende que o tipo deve ser ampliado para abarcar todo aquele que embora não reúna as qualidades necessárias para ser o autor dos delitos especiais, passe a ocupar de fato a posição de autor (superior hierárquico na empresa). ESTUDO JURISPRUDENCIAL O peculato é crime próprio, no tocante ao sujeito ativo; indispensável a qualificação – funcionário público. Admissível contudo, o concurso de pessoas, inclusive quanto ao estranho ao serviço público. Não se comunicam as circunstâncias e condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime (art. 30 CP)” (STJ – HC – Rel. Luiz Vicente Cernicchiaro). 24 EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 1) (IDECAN- 2017 – Agente Penitenciário) Sobre o Concurso de Pessoas estabelece o Código Penal que quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. Sobre o tema, assinale a alternativa INCORRETA. a) Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto à metade. b) Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. c) O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado. d) Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave. 2) (FGV - 2016 - OAB - Exame de Ordem Unificado – XX)Silva e Pereira, amigos de infância, combinam praticar um crime de furto. Silva sugere que o crime seja realizado na residência da família Bragança, pois tinha a informação de que os proprietários estavam viajando e a casa ficava a uma quadra de suas casas. Juntos dirigem-se ao local e, sem que Silva tivesse conhecimento, Pereira traz consigo uma arma de fogo municiada. Silva subtrai uma TV e deixa o imóvel que estava sendo furtado. Pereira, quando se preparava para sair com o dinheiro subtraído do cofre, depara-se com o segurança que, alertado pelo alarme acionado, entrara na casa. Pereira, para garantir o crime, efetua disparos de arma de fogo contra o segurança, vindo este a falecer em razão dos tiros. Considerando a situação narrada, assinale a afirmativa correta. a) Ao Silva será aplicada a pena do furto qualificado e ao Pereira, a do crime de latrocínio. b) Silva e Pereira responderão pelo crime de latrocínio, mas, em razão de sua participação, Silva terá direito à causa de diminuição da pena. c) Ao Silva será aplicada a pena do crime de furto qualificado e Pereira responderá por furto qualificado e latrocínio em concurso. d) Silva e Pereira responderão por latrocínio consumado, sem qualquer redução de pena para qualquer deles. 3) (FGV - 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado – XVI). Maria Joaquina, empregada doméstica de uma residência, profundamente apaixonada pelo vizinho Fernando, sem que este soubesse, escuta sua conversa com uma terceira pessoa acordando o furto da casa em que ela trabalha durante os dias de semana à tarde. Para facilitar o sucesso da operação de seu amado, ela deixa a porta aberta ao sair do trabalho. Durante a empreitada criminosa, sem saber que a porta da frente se encontrava destrancada, 25 Fernando e seu comparsa arrombam a porta dos fundos, ingressam na residência e subtraem diversos objetos. Diante desse quadro fático, assinale a opção que apresenta a correta responsabilidade penal de Maria Joaquina. a) Deverá responder pelo mesmo crime de Fernando, na qualidade de partícipe, eis que contribuiu de alguma forma para o sucesso da empreitada criminosa ao não denunciar o plano. b) Deverá responder pelo crime de furto qualificado pelo concurso de agentes, afastada a qualificadora do rompimento de obstáculo, por esta não se encontrar na linha de seu conhecimento c) Não deverá responder por qualquer infração penal, sendo a sua participação irrelevante para o sucesso da empreitada criminosa. d) Deverá responder pelo crime de omissão de socorro. 4) (FUNIVERSA - 2015 - PC-DF - Delegado de Polícia). Assinale a alternativa correta acerca do concurso de pessoas. a) De acordo com a teoria pluralística, há um crime para os autores, que realizam a conduta típica emoldurada no ordenamento positivo, e outro crime para os partícipes, que desenvolvem uma atividade secundária. b) O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio são puníveis ainda que o crime não tenha sido tentado c) O CP adotou, como regra, a teoria dualística. d) Segundo a teoria monista ou unitária, a cada participante corresponde uma conduta própria, um elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular. e) São requisitos do concurso de pessoas a pluralidade de participantes e de condutas, a relevância causal de cada conduta, o vínculo subjetivo entre os participantes e a identidade de infração penal. GABARITO: 1)A/ 2)A/ 3)C/ 4)E 26 AULA 3: CONCURSO DE CRIMES FIXAÇÃO DAS PENAS NOS CONCURSOS DE CRIMES Concurso de Crimes se dá quando um sujeito, mediante unidade ou pluralidade de ações ou de omissões, pratica doisou mais delitos, que se encontram ligados por algum tipo de nexo. O Concurso de crimes não se confunde com o Concurso Aparente de Normas (Unidade de fato + Pluralidade de lei definindo o mesmo fato como criminoso). Quando existe pluralidade de ações, não se fala em conflito aparente de normas penais, há Concurso de Crimes. SISTEMAS DE APLICAÇÃO DE PENAS NO CASO DE CONCURSO DE CRIMES: Dois são os Sistemas aplicados: 1ª - Sistema do Cúmulo Material (ou Acumulação Material) – de acordo com este sistema, aplica-se ao culpado a soma dos vários crimes cometidos. Ex.: Sujeito estupra e mata uma mulher e quando vai ser preso, ele resiste a prisão. Ele comete crime de Estupro, Homicídio e Resistência. O Juiz na hora da aplicação da pena tem que antes declarar individualmente a quantidade de pena a ser aplicada por cada crime. E no fim, a pena será o somatório de todas. 2º - SISTEMA DA EXASPERAÇÃO DA PENA De acordo com este sistema, aplica-se ao culpado a pena de um só dos crimes cometidos, mas aumentada em um quantum, em virtude da sua responsabilidade pelas demais infrações penais. De Acordo com o CP, três são as formas de Concurso de Crimes: Concurso Real ou Material – Sistema do Cúmulo Material – art. 69 do CP Concurso Formal ou Ideal – Sistema da Exasperação – art. 70 do CP Crime Continuado – Sistema da Exasperação – art. 71 CP Obs: As hipóteses de Concurso podem ocorrer entre crimes dolosos ou culposos, consumados ou tentados, comissivos ou omissivos. CONCURSO MATERIAL Verifica-se quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos (Concurso Material Homogêneo) ou não (Concurso Material Heterogêneo) – art. 69 caput do CP. 27 Ex.: Um indivíduo rouba um veículo, atropela e mata um pedestre na fuga. Há, no caso 2 condutas e 2 crimes (roubo – art. 157, Homicídio Culposo – art. 121 § 3º). Obs: Conceito Jurídico de Ação – é toda atividade dirigida a uma finalidade. Portanto, uma ação pode ser composta por vários atos. Ex.: André dá 5 tiros em Fabio, há aqui uma só ação com vários atos. ESPECIES DE CONCURSO MATERIAL Homogêneo – quando os crimes são idênticos. Os crimes são homogêneos quando previsto na mesma figura típica, como, por exemplo, praticado homicídio contra A, o agente mata B, testemunha do fato. Heterogêneo – quando os crimes não são idênticos. Os crimes são heterogêneos quando previsto em figuras típicas diversas, como por exemplo, Furto e Estupro. Vale lembrar, que nas duas espécies de concurso material há duas ou mais violações jurídicas. CONCURSO MATERIAL Consequência: Aplica-se o Sistema de Cúmulo Material de Pena, ou seja, aplica-se ao culpado a soma dos vários crimes cometidos. As penas Privativas de Liberdade devem ser somadas, mas a soma não pode ultrapassar 30 anos (art. 75 do CP). Antes de somá-las o Juiz precisa individualizar e motivar cada pena, para que se saiba qual foi a sanção de cada crime. Atentar para o disposto no art. 111 da LEP: Quando houver condenação por mais de um crime, no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou unificação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou remição. Parágrafo único - Sobrevindo condenação no curso da execução, somar-se-á pena ao restante da que está sendo cumprida, para determinação do regime. Verifica-se quando o agente, com uma só conduta, pratica dois ou mais crimes idênticos (Concurso Formal Homogêneo) ou não (Concurso Formal Heterogêneo). O que o caracteriza é a prática de uma ação ou omissão. Ex.: Um indivíduo que dirigindo seu veículo de forma imprudente, sobe a calçada e atropela e fere várias pessoas. CONCURSO FORMAL Já de acordo com o artigo 70 do Código Penal, o concurso formal ocorre: Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas 28 aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. ESPECIES DE CONCURSO FORMAL Homogêneo – quando os crimes se encontram descritos pela mesma figura típica, havendo diversidade de sujeitos passivos, como por exemplo, um atropelamento culposo com morte de duas ou mais pessoas. Heterogêneo – quando os crimes se acham definidos em normas penais diversas, como por exemplo, um atropelamento culposo com morte de uma pessoa e ferimentos em outra (homicídio e lesões corporais culposas). O Concurso Formal por sua vez subdivide-se em: Concurso Formal Perfeito ou Próprio – art. 70 1ª parte Concurso Formal Imperfeito ou Impróprio – art. 70 2ª parte A) CONCURSO FORMAL PERFEITO OU PRÓPRIO É aquele em que o agente possui uma só finalidade, motivo pelo qual aplica-se o Sistema da Exasperação da Pena, isto é, aplica-se ao culpado a pena de um só dos crimes cometidos (o de maior pena), mas aumentada e um quantum (1/6 até a ½), em virtude da sua responsabilidade pelas demais infrações penais. Ex.: O Ladrão que no interior de um ônibus subtrai as carteiras dos passageiros. A finalidade é roubar os passageiros deste ônibus, não importando quantos sejam estes. O que caracteriza o concurso formal e justifica o tratamento penal mais brando (Cúmulo Jurídico) não é a unidade de conduta, mas a unidade do elemento subjetivo que impulsiona a ação (agente objetiva apenas 1 fim). Obs: De acordo com a norma prevista no parágrafo único do art. 70 do CP, não poderá a regra do Concurso Formal Perfeito ultrapassar o quantum de pena que seria obtido pela Regra do Concurso Material (o mesmo ocorre no caso de crime continuado). Obs: Embora este concurso seja uma Causa de Aumento de Pena, deve ser observado que se trata de um benefício para o réu. Esta regra nunca poderá ser aplicada para prejudicar o Réu. CONSEQUENCIAS: 1ª - Concurso formal homogêneo (crimes idênticos) - Aplica-se uma só pena, aumentada de um sexto até metade. Ex.: Um indivíduo que dirigindo seu veículo de forma imprudente, sobe a calçada e atropela e fere várias pessoas. Aplica-se a pena da lesão corporal culposa (art.129, § 6°), acrescida de um sexto até metade. 29 2ª - Concurso formal heterogêneo (crimes diversos) - aplica-se a pena mais grave, aumentada de um sexto até metade. No mesmo exemplo supra, o indivíduo mata uma e fere as demais. Aplica-se a pena do homicídio culposo (mais grave), acrescida de um sexto até metade. b- CONCURSO FORMAL IMPERFEITO: É aquele em que o agente age com desígnios autônomos, ou seja, com uma vontade deliberada aos diversos fins, razão pela qual, aplica-se a Regra do Sistema de Cúmulo Material de Penas, isto é, aplica-se ao culpado a soma das penas dos vários crimes cometidos. Ex.: Mané coloca veneno na comida de 5 pessoas, com o intuito de matar todas as vítimas. Obs: Desígnio Autônomo é toda vontade dirigida a uma finalidade. No Concurso Formal Imperfeito, não se pode falar em dolo eventual, pois aquele que age com Desígnios Autônomos, quer todos os resultados obtidos com a ação – age com o dolo direito. O art. 70. caput, 2ª parte, diz que: "as penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnio autônomos”. Suponha-se que o agente, com um só projétil de revólver, mate dolosamente duas pessoas (devem ser somadas as penas). Obs: No Concurso Formal Imperfeito a condutaexternamente é única, mas perante a consciência do agente representam vários eventos. Ex.: Um sujeito pode estuprar uma mulher com dupla finalidade: obter prazer sexual e transmitir doença venérea. Com uma só conduta realiza dois fins. Cúmulo material benéfico: A regra da Exasperação jamais poderá ser utilizada em desfavor do réu. CP. Art. 70, Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código CRIME CONTINUADO: Diz-se que há crime continuado (art. 71 CP) quando o agente, mediante mais de uma conduta, comete mais de um crime da mesma espécie. Necessário também que os crimes guardem liame no que diz respeito ao tempo, ao lugar, à maneira de execução e a outras características que façam presumir a continuidade delitiva. Nos casos da chamada continuidade delitiva, será aplicada a pena de um só dos crimes, se idênticas. Se as penas forem diversas, será aplicada a mais grave. Em qualquer caso, a pena será aumentada de um sexto (1/6) a um terço (1/3). 30 TEORIAS QUE ORIENTAM O CRIME CONTINUADO, SOB O ANGULO DO ELEMENTO SUBJETIVO Tema da maior relevância, no estudo do crime continuado, é o atinente ao elemento subjetivo existente no concurso de crimes que se estuda. Pois bem. Diante da complexidade do tema, várias teorias foram esboçadas para explicar a porção subjetiva dos crimes continuados. Destaques para as teorias: ❑ Subjetiva, ❑ Objetivo-subjetiva e ❑ Objetiva pura (adotada pelo CP) REQUISITOS PARA A CONFIGURAÇÃO DA CONTINUIDADE DELITIVA: Na linha adotada pelo Direito Penal Brasileiro, para que se configure um crime continuado, é imperioso que o agente: 1. Pratique mais de uma ação ou omissão; 2. Que as referidas ações ou omissões sejam previstas como crime; 3. Que os crimes sejam da mesma espécie; 4. Que as feições adverbiais do crime (tempo, lugar, modo de execução e outras similares) indiquem que as ações ou omissões subsequentes efetivamente constituem o prosseguimento da primeira. CRIME CONTINUADO ESPECÍFICO Prevê o nosso Código Penal (art. 71, parágrafo único) o chamado crime continuado específico. Além dos requisitos do crime continuado “comum”, exige mais: 1. Crime doloso; 2. Vítimas diferentes; 3. Violência ou grave ameaça à pessoa. Na aplicação da pena em casos de crime continuado específico, o juiz tomará em consideração: 1. A culpabilidade; 2. Os antecedentes; 3. A conduta social; 31 4. A personalidade; 5. Os motivos e outras circunstâncias do crime. CRIME CONTINUADO Art. 71, § único - Poderá, o juiz “aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código”. Aplica-se também o Cúmulo Material Benéfico. Também nos casos de crime continuado, a pena de multa será aplicada distinta e integralmente, sem obediência ao disposto, em geral, para os concursos de crimes, conforme está disposto no art. 72 do Código Penal. CONSEQUENCIAS Crime Continuado Homogêneo: APLICA-SE UMA SÓ PENA COM O AUMENTO DE UM SEXTO A DOIS TERÇOS. Crime Continuado Heterogêneo: APLICA-SE A MAIS GRAVE DAS PENAS, AUMENTADA DE UM SEXTO A DOIS TERÇOS LIMITE DAS PENAS O art. 75. caput. impõe que o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não ultrapasse o limite de 30 anos O preceito atinge a condenação única, advinda, do concurso material e a soma de várias condenações em processos distintos. Tomando por base a regra Constitucional, (disposta no art. 5º, XLVII, b), segundo a qual não haveria penas de caráter perpétuo, o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a trinta anos. O STF e o STJ em reiteradas decisões têm defendido que a unificação é apenas para atender ao limite máximo do art. 75, não podendo servir de parâmetro para a concessão de benefícios (RTJ 118/935. RT 668/377, RT 700/398). Portanto, a unificação pode ser considerada por um único processo. E pode haver a unificação por várias penas em vários processos. Quando todos estes processos chegarem na Vara de Execuções Penais, haverá a unificação para 30 anos. Esta é a Regra. A exceção está no § 2ª do art. 75 do CP. Se o agente praticar 10 latrocínios, ele poderá responder por 300 anos, devido ao Concurso Material. Aí, entra o art. 75 do CP, que diz que ele não pode cumprir mais de 30 anos. Os benefícios de Progressão, Livramento, etc, são obtidos a partir de 300 anos. Ele terá que cumprir 1/6 de 300 para pleitear a Progressão. Mas cumprido os 30 anos, ele tem que sair da cadeia. 32 ESTUDO JURISPRUDENCIAL STJ - AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL AgRg no REsp 1258206 SP 2011/0135871-3 (STJ) Data de publicação: 16/04/2015 Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME CONTINUADO. TEORIA OBJETIVA-SUBJETIVA. ANÁLISE NECESSÁRIA DA UNIDADE DE DESÍGNIOS. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A decisão recorrida não valorou as circunstâncias dos crimes de roubo para afastar ou manter a unificação das penas, mas apenas se limitou em determinar que o Tribunal de origem proceda à nova análise da incidência do crime continuado, à luz da teoria objetiva-subjetiva, adotada por este Tribunal Superior. 2. Para a caracterização da continuidade delitiva (art. 71 do Código Penal), é necessário que estejam preenchidos, cumulativamente, os requisitos de ordem objetiva (pluralidade de ações, mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução) e o de ordem subjetiva, assim entendido como a unidade de desígnios ou o vínculo subjetivo havido entre os eventos delituosos. 2. Agravo regimental não provido. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 1) (VUNESP- 2017 - TJ-SP - Juiz Substituto) Quanto ao concurso de crimes, é correto afirmar: a) há concurso formal impróprio ou imperfeito quando a ação ou omissão, dolosa ou culposa, resultar de desígnios autônomos, hipótese em que a pena será aplicada pela regra do concurso material. b) no crime continuado comum, aplica-se a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços, considerado o número de infrações cometidas, incidindo a extinção da punibilidade sobre a pena de cada uma, isoladamente. c) há concurso formal próprio quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicando-se a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços, considerado o número de infrações cometidas. d) nos crimes dolosos, cometidos com violência ou grave ameaça contra a mesma vítima, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo 33 2) (VUNESP - 2016 - TJ-RJ - Juiz Substituto) José adentra a um bar e pratica roubo contra dez pessoas que ali estavam presentes em dois grupos distintos de amigos, subtraindo para si objetos de valor a elas pertencentes. Nesta hipótese, segundo a jurisprudência dominante mais recente do Superior Tribunal de Justiça, José praticou a) os crimes (dez crimes de roubo) em concurso material. b) um único crime de roubo. c) os crimes (dez crimes de roubo) em concurso formal d) os crimes (dez crimes de roubo) em continuidade delitiva. e) dois crimes de roubo em concurso material. 3) (FGV - 2014 - OAB - Exame de OrdemUnificado – XV). Roberto estava dirigindo seu automóvel quando perdeu o controle da direção e subiu a calçada, atropelando dois pedestres que estavam parados num ponto de ônibus. Nesse contexto, levando-se em consideração o concurso de crimes, assinale a opção correta, que contempla a espécie em análise: a) concurso material. b) concurso formal próprio ou perfeito. c) concurso formal impróprio ou imperfeito. d) crime continuado. 4) (UFMT - 2014 - MPE-MT - Promotor de Justiça) Em relação ao concurso de crimes, assinale a afirmativa correta. a) Há concurso formal quando o agente, com mais de uma ação, pratica dois ou mais crimes; já o concurso material ocorre quando há unidade de ação e pluralidade de infrações penais. b) Na hipótese da aberratio ictus com unidade complexa, aplica-se a regra do concurso material, pois é este sempre mais benéfico. c) O Código Penal adota para o crime continuado a teoria da unidade real, pela qual os vários delitos constituem um único crime. d)Não poderá a pena fixada em concurso formal exceder a que seria cabível em caso de concurso material. e) No crime continuado, são irrelevantes as condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes. GABARITO: 1)B/ 2)C/ 3)B/ 4)D 34 AULA 4: HISTORIA DA PENA VIDE DIREITO PENAL I Aula 5: TEORIAS DA PENA PRISÃO Características: 1. Novo sistema de poder; 2. Principal efeito a legitimação do poder punitivo da sociedade disciplinar; 3. Vigia, classifica, distribui e registra; 4. É símbolo punitivo capitalista; 5. Não é punir menos, mas punir melhor. CRÍTICA DE FOCAULT Fracasso da prisão (inutilidade); Sucesso do mecanismo de poder disciplinar; Efeito da prisão = legitimação da punição ORIGEM DA PRISÃO Prisão não tinha natureza de pena (medida cautelar) Pena canônica Pena de prisão Pena de Prisão surge como discurso de salvação (Culturas “RE” – ressocialização, reeducação, reinserção social) SISTEMA PUNITIVO: Constitui o mais rigoroso instrumento de controle social. Destina-se à defesa social. Opera através da mais grave sanção jurídica, que é a pena, juntamente com a medida de segurança, em casos especiais. PENALOGIA: Pretende estudar as penas, as medidas de segurança e as instituições destinadas à readaptação dos egressos; Viés transdiscisplinar. Aprofundamento acerca das punições, seus discursos de legitimação e seus reais efeitos. 35 Conceito de pena O termo “pena” vem do latim poena, porém com derivação do grego poine, significando dor, castigo, punição, expiação, penitência, sofrimento, trabalho, fadiga, submissão, vingança e recompensa. Os doutrinadores tecem inúmeras definições acerca do conceito ideal para o termo pena. No entanto, quase todos acordam no sentido de que a pena é uma espécie de retribuição estatal ao ato cometido pelo indivíduo delinquente, que impinge uma parcela de dor, sofrimento ao seu destinatário. São Tomas de Aquino: “Pena eslaprivación de um bien, impuesta por alguna autoridad de acuerdo com laley y contra lavoluntad de una persona, em razón y proporcionada consu culpa anterior y com elfin de procurar la paz social” Heleno Fragoso: “Perda de bens jurídicos imposta pelo órgão da justiça em virtude da prática de fato que a lei define como crime” Magalhães Noronha: “A pena é retribuição, é privação de bens jurídicos, imposta ao criminoso em face do ato praticado. É expiação” Rogério Greco: “A pena é a conseqüência natural imposta pelo Estado quando alguém pratica uma infração penal” Sebastian Soler: que preceitua: “a pena é uma sanção imposta pelo Estado, através da Ação Penal, ao autor de uma infração, como retribuição de seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico e cujo fim é evitar novos delitos” Guilherme de Souza Nucci: “É a sanção imposta pelo Estado, através da Ação Penal, ao criminoso, cuja finalidade é a retribuição ao delito perpetrado e a prevenção a novos crimes” René Ariel Dotti: “pena é uma instituição social que reflete a medida do estágio cultural de um povo e, ainda, o regime político a que se está submetido” CONCEITO AGNÓSTICO DE PENA Não admite nenhuma função positiva da pena. Zaffaroni e Nilo Batista: Conceito ampliado de pena. Percebe manifestações legais latentes e eventuais do poder punitivo. Poder punitivo vai além da criminalização primária e secundária (p.e. qualquer função manifesta não- punitiva, como assistencial, tutelar, pedagógica, sanitária) Não concede função positiva; Conceito “agnóstico” quanto a sua função. Confessa não conhecê-la. 36 “Efectivamente, todas las teorias de la pena que se han enunciado son falsas, y todo lo que nos dicelaciencia social acerca de la pena nos muestrasumultifuncionalidad, las funciones tácitas que no tienen nada que ver conlas funciones manifiestas que se lequisieronasignar. De modo que la pena esta ahí, ni modo, como unhecho político, como unhecho de poder, como unhecho que esta presente y que no se puede borrar”. (E. R. Zaffaroni) Em suma, pode-se dizer que a concepção agnóstica da pena caracteriza-a por: (i) ser uma coerção; (ii) impor uma privação de direito ou dor; (iii) não ter função reparadora ou restitutiva; e, por fim, (iv) não deter as lesões em curso ou neutralizar os perigos iminentes. FINALIDADE DA PENA O fundamento da pena, que não resulta de um conceito jurídico, foi conduzido para a abstração filosófica e tendo-se formado diversas teorias, cada qual com suas características e sutilezas, são, todavia, classificáveis apenas “para fins didáticos”. TEORIAS SOBRE A FINALIDADE DA PENA TEORIAS SOBRE A PENA: I. Absolutas II. Relativas III. Mistas. TEORIAS ABSOLUTAS Também são chamadas de RETRIBUTIVAS. A pena seria a necessária e indispensável consequência jurídica da existência do crime. Defluídas primitivamente do Princípio de Talião Utilizadas na Idade Antiga e na Idade Média - ligações com as concepções religiosas. Na Idade Moderna a fundamentação se tornou filosófica (idealismo alemão) Transição do Estado Absoluto para o Estado Capitalista Bittencourt, ao explicar7 as teorias absolutas aponta a característica essencial das teorias absolutas consiste em conceber a pena como um mal, um castigo, como retribuição ao mal causado através do delito, de modo que sua imposição estaria justificada, não como meio para o alcance de fins futuros, mas pelo valor axiológico intrínseco de punir o fato passado: quiapeccatum. Por isso também são conhecidas como teorias retributivas. 7BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.. p. 133. 37 Entende-se melhor uma ideia de pena em sentido absoluto quando se analisa conjuntamente com o tipo de Estado que lhe dá vida. As características mais significativas do Estado absolutista eram a identidade entre o soberano e o Estado, a unidade entre a moral e o Direito, entre o Estado e a religião, além da metafísica afirmação de que o poder do soberano lhe era concedido diretamente por Deus. A teoria do Direito divino pertence a um período em que não somente a religião, mas também a teologia e a política confundiam-se entre si, em que “até para fins utilitários era obrigatório encontrar-se um fundamento religioso se se pretendesse ter aceitação”. Na pessoa do rei concentrava-se não só o Estado, mas também todo o poder legal e de justiça. A ideia que então se tinha da pena era a de ser um castigo com o qual se expiava o mal (pecado)
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