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NCPC - Ações Possessórias - OAB

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DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS OAB (arts. 554 a 568) - NCPC
Conceito - Trata-se de remédios processuais que se atribuem a quem deseja proteger a posse que exerce sobre as coisas. As ações possessórias têm a finalidade de permitir o exercício dos direitos materiais do possuidor de ser mantido na posse em caso de turbação, restituído em caso de esbulho e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado, por meio do interdito proibitório.
 	Importante: As ações possessórias se destinam à proteção da posse que se exerce sobre coisas, não sobre direitos. Nesse sentido, afirma a Súmula 228 do STJ: “É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral”.
 	A ação possessória é expressão que se apresenta no gênero, do qual são espécies: a) ação de reintegração de posse; b) ação de manutenção de posse; e c) ação de interdito proibitório.
 	Das regras gerais nas ações possessórias
a) Fungibilidade das ações possessórias: é certo que o legislador determina que, em casos de esbulho, a ação adequada é a de reintegração de posse, nos casos de turbação, a de manutenção de posse, e, para as hipóteses de ameaça de esbulho ou turbação, a ação de interdito proibitório. No entanto, em caso concreto, pode-se mostrar tênue a diferença entre, por exemplo, esbulho ou turbação. Nessas situações, por força do disposto no art. 554 do NCPC, permite o legislador que, mesmo que seja proposta uma ação possessória em vez de outra, o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente. Assim, se o autor se diz ameaçado de esbulho, deve pedir a proteção por meio do interdito proibitório, porque o esbulho ainda não se efetivou. Mas, se promover ação de reintegração de posse, o juiz poderá conceder o mandado proibitório, desde que presentes os requisitos deste.
b) Cumulação de pedidos (art. 327, NCPC): é lícito ao autor, no rito especial da possessória, formular, em sua petição inicial, além do pedido possessório, o pedido de condenação em perdas e danos, cominação de pena para o caso de nova turbação ou esbulho e desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento de sua posse (art. 555, I, II e III do NCPC).
c) Natureza dúplice das ações possessórias: pode o réu, na contestação, alegar que foi ofendido em sua posse e demandar proteção possessória e indenização pelos prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor. Assim, quando a contestação constituir-se ao mesmo tempo, em instrumento de defesa e de contra-ataque, estamos diante de uma ação de caráter dúplice. No entanto, o CPC determina que pode ser requerido, pelo réu, na contestação: proteção possessória e indenização por perdas e danos. Desse modo, se o réu pretende obter prestação jurisdicional diferente dos dois pedidos permitidos, deverá fazê-lo por meio de reconvenção. Suponhamos que o réu, além do pedido possessório, pretenda a condenação do autor às perdas e danos e, por exemplo, à construção da piscina que foi destruída pelo autor. A proteção possessória e a condenação em perdas e danos podem ser pleiteadas na própria contestação; já o pedido de condenação à obrigação de fazer (construção da piscina) terá de ser elaborada por intermédio de reconvenção.
Importante: A reconvenção, em regra, não é admitida na ação possessória. Se o pedido do réu (contra-ataque) for de proteção possessória e de condenação em perdas e danos, ele deverá ser feito na própria contestação (art. 556 do NCPC). Fora essas duas pretensões, cabe a apresentação da reconvenção.
d) Proibição de simultâneos processos possessório e petitório: na pendência de processo possessório, é defeso, tanto ao autor quanto ao réu, intentar ação de reconhecimento do domínio (art. 557 do NCPC). A posse da coisa independe do domínio, sendo um poder que se exercita contra tudo e contra todos. 
 	Assim, por exemplo, o locatário é possuidor do imóvel locado e poderá impor a sua posse até contra o locador. Na ação possessória, discute-se posse; na ação reivindicatória e em outras ações de índole petitória, discute-se domínio. O legislador impede que, na pendência de processo possessório, uma das partes promova ação de reconhecimento de domínio. “Essa regra visa impedir que a decisão possessória seja retardada ou perturbada por ação positiva ou negativa de reconhecimento do domínio” (Greco Filho, 2006, p. 234). 
 	Ressalta-se, todavia, que a propositura posterior de ação possessória não prejudica a ação de reconhecimento de domínio que tenha sido anteriormente promovida.
e) Proteção liminar: o rito especial das ações possessórias permite ao juiz conceder liminarmente a proteção possessória pleiteada. No entanto, as regras do rito especial somente são aplicadas às ações possessórias de força nova, ou seja, às ações que foram propostas antes de ano e dia contados da violação ou ameaça. Passado esse prazo, o procedimento será o ordinário, não perdendo, porém, a natureza e o conteúdo possessório (art. 558 do NCPC). Com a introdução da Tutela Provisória (art. 294 do NCPC – tutela de Urgência e Tutela de Evidência), hoje também é possível a proteção liminar possessória para as ações de força velha, mas, nesse caso, o autor deve demonstrar o preenchimento dos requisitos próprios. “(...) hoje é possível a concessão de liminar initio litis, mesmo em se tratando de possessória de força velha. Só que os requisitos a serem obedecidos para a obtenção da liminar antecipatória são os do NCPC 294, e não os do sistema da ação possessória sob o procedimento especial do NCPC 554 e ss.” (Nery Junior; Nery, 2006, p. 994).
 Ação	Rito	Proteção liminar
Possessória de força nova	Especial	Liminar – art. 562 – 300, § 2º (audiência de justificação) do NCPC
Possessória de força velha	Comum ordinário	Tutela antecipada – art. 294 do NCPC
f) Prestação de caução para garantia das perdas e danos: se o réu provar, em qualquer tempo, que o autor reintegrado ou mantido provisoriamente na posse carece de idoneidade financeira para, no caso de perder a ação, responder pelos prejuízos causados, poderá requerer a prestação de caução. Sendo o requerimento deferido pelo juiz, deve exigir do autor que o faça em cinco dias, sob pena de ver depositada a coisa litigiosa (art. 559, NCPC).
Das ações de manutenção e reintegração de posse (arts. 560 a 566, NCPC)
 	O possuidor tem direito a: a) ser mantido na posse em caso de turbação, e b) ser reintegrado no caso de esbulho (art. 560 do NCPC).
a) Ação de reintegração de posse: o possuidor tem o direito de ser reintegrado na posse do bem, em caso de esbulho. Esbulho é o ato de usurpação pelo qual uma pessoa é privada de coisa de que tem a posse. Ocorre esbulho quando há a perda da posse. Note-se que o esbulho pode ser total ou parcial, ou seja, sobre todo o bem ou parte dele. Assim, se Fulano foi privado da posse sobre parte de seu bem, terá ocorrido esbulho e a ação competente será a de reintegração de posse. Dessa maneira, suponhamos que Fábio, residente e domiciliado na capital do Estado de São Paulo, é proprietário de um sítio situado no Estado de Minas Gerais. Como Fábio vai poucas vezes ao sítio, Nelson, proprietário do sítio vizinho, resolve deslocar sua cerca de arame dez metros para dentro do terreno de Fábio, para passagem de seu gado, mantendo a cerca nessa posição. Nesse caso, Nelson, sem invadir totalmente a propriedade, alterou a cerca e passou a exercer posse exclusiva sobre a área parcial do imóvel, cometendo, portanto, esbulho; nessa parte, excluiu totalmente a posse de Fábio. Desse modo, deve Fábio promover ação de reintegração de posse.
b) Ação de manutenção de posse: o possuidor tem o direito de ser mantido na posse do bem, em caso de turbação. Turbação é a limitação ao regular exercício da posse. O possuidor mantém consigo a posse, mas está sofrendo uma restrição. Como não houve perda da posse, o possuidor deve promover ação de manutenção de posse. No exemplo anteriormente citado, imaginemos que, cada vez que compra gado, Nelson desloca a cerca de arame paradentro do terreno de Fábio, mas, ao final do dia, desloca a cerca para sua posição originária. Nesse caso, estará ocorrendo turbação, e Fábio deverá promover ação de manutenção de posse.
 	Ao promover a ação possessória de reintegração ou manutenção (art. 561, NCPC), deve autor, na petição inicial, demonstrar: I – a sua posse; II – a turbação ou o esbulho cometido pelo réu; III – a data da turbação ou do esbulho; IV – a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, e a perda da posse, no caso de reintegração.
 	A demonstração da continuação ou perda da posse é imprescindível para a caracterização do pedido possessório, pois se o autor nunca teve a posse sobre o bem, seu pedido deve ser petitório, e não possessório. É preciso atentar, porém, que a posse pode ser transmitida por ato intervivos ou causa mortis. Nessas situações, embora não tenha exercido, de fato, a posse sobre o bem, será adequada a ação possessória.
 	Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nos casos de composse ou de ato por ambos praticados (art. 73, § 1º, II, do NCPC).
 	A demanda possessória deve ser proposta no foro da situação do imóvel (art. 47, § 2º), tratando-se de competência absoluta, e o valor da causa deve corresponder ao valor venal do imóvel.
Do pedido de liminar
 	Estando a petição inicial devidamente instruída e comprovados seus pressupostos legais, o magistrado pode, desde logo, sem ouvir o réu, expedir mandado liminar de manutenção ou de reintegração, garantindo a posse ao autor (art. 562 do NCPC). Se, no entanto, não estiver suficientemente convencido das alegações do autor, determinará o juiz que este justifique previamente o alegado, ordenando a citação do réu para comparecer à audiência de justificação. A finalidade da audiência de justificação é permitir que o autor produza as provas suficientes para a obtenção da liminar. O réu, nessa audiência, não poderá arrolar testemunha. Julgada procedente a justificação, estando convencido do direito do autor, o juiz mandará expedir mandado de manutenção ou de reintegração (art. 563 do NCPC).
 	Note-se que contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou reintegração liminar sem a prévia audiência dos respectivos representantes (art. 562, parágrafo único, do NCPC). Em outros termos, se a ação possessória for proposta em face de pessoa jurídica de direito público, o juiz não poderá expedir mandado liminar possessório inaudita altera parte. Somente após a citação do réu para comparecer à audiência de justificação é que poderá ser expedido o mandado liminar de manutenção ou reintegração em favor do autor. 
Procedimento
 	Concedida ou não a liminar, deverá o autor promover, nos cinco dias subsequentes, a citação do réu para contestar a ação. Se o réu já tiver sido citado para comparecer à audiência de justificação prévia, o prazo para contestar contar-se-á da intimação do despacho que deferir ou não a medida liminar. O prazo para o requerido contestar a ação é de 15 dias (art. 564, NCPC). Quanto ao mais, aplica-se o procedimento comum (art. 566).
Do interdito proibitório – Art. 567, NCPC
 	“O possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio de ser molestado na posse poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório, em que se comine ao réu determinada pena pecuniária, caso transgrida o preceito” (art. 567 do NCPC).
 	Enquanto nas ações de manutenção ou reintegração de posse já houve uma ofensa, aqui há apenas uma ameaça.
 	Desta forma, a ação de interdito proibitório é cabível sempre que estiver ocorrendo hipótese de ameaça, e o possuidor tem o justo receio de vir a ser turbado ou esbulhado. A ameaça deve ser séria (justo receio) e injusta (não amparada pelo direito). Assim, suponhamos que o proprietário ameace o locatário de ingressar, contra sua vontade, no imóvel ou de retirá-lo dele sem motivos legais que o autorizem. Nessa situação, poderá o locatário ajuizar ação de interdito proibitório em face do locador.
 	São requisitos do interdito proibitório: I – a posse atual do autor; II – a ameaça de turbação ou esbulho; III – o justo receio de que venha a ser concretizada a ameaça (art. 567 do NCPC).
 	Presentes os requisitos, o juiz poderá expedir mandado proibitório, proibindo o réu de concretizar a ameaça feita, sob pena de sanção pecuniária. Expedido o mandado, observar-se-á o rito ordinário, citando-se o réu para contestar.

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