Prévia do material em texto
COMPREENSÃO TEXTUAL: Informações Implícitas III Aula 13 SUMÁRIO Aula 13 - COMPREENSÃO TEXTUAL: Informações Implícitas III Considerações iniciais .................................................................................................................................................................. 3 1 Viés textual .................................................................................................................................................................................... 3 1.1 Goteira como metáfora ................................................................................................................................................... 3 1.2 Palavras, palavras ............................................................................................................................................................... 4 Considerações finais ..................................................................................................................................................................... 5 Referências ....................................................................................................................................................................................... 6 3 Li ng ua ge m e C om un ic aç ão Objetivos Ler e interpretar textos de naturezas diversas; Detectar informações implícitas: pressupostas e subentendidas; Aplicar as noções de pressupostos e subentendidos na produção e leitura de textos; Julgar pontos de vistas alheios com base na organização textual e nas informações implícitas; Identificar e avaliar o viés textual para emitir opinião e julgamento sobre o que se lê e se ouve. Considerações iniciais Num texto de opinião, a crítica a determinados fatos, geralmen- te, está implícita. Você já é capaz de detectar a crítica e de apre- sentar sua própria opinião? Reflexão Nesta aula, você irá analisar dois textos de opinião. Para sua análise, você irá retomar alguns conceitos já estudados, como o de polifonia. Também, espera-se que você julgue as opiniões dos autores dos textos a partir do momento em que você detecte informações implícitas. 1 Viés textual Para Platão e Fiorin (2007), mesmo relatando fatos, o produtor do texto pode ser tendencioso. Para esses autores, o produtor do texto, mesmo sem estar mentindo, insinua seu julgamento pessoal pela seleção dos fatos que está descrevendo ou pelo destaque maior que confere a certos pormenores. A essa escolha dos fatos e à ênfase atribuída a certos tipos de pormenores dá-se o nome de viés. Você lerá a seguir os textos Goteira como metáfora e Palavras, palavras. Na sua análise, você perceberá claramente o posicionamento de seus autores e a “imagem” que esses autores desejam que nós, leitores, tenhamos da política, no primeiro texto, e da mídia jornalística, no segundo texto. 1.1 Goteira como metáfora Um cano estourado provocou vazamento de lama no subsolo do Palácio do Planalto. Não é piada. Aconteceu anteontem. Três meses depois de uma reforma que consumiu R$ 111 milhões (muito além do previsto inicialmente) e mais de um ano, o palácio exibe vários sinais de desmazelo: alagamentos em banheiros e na garagem, infiltrações, paredes descascadas, deformações no teto de gesso, fechaduras novas estragadas... Um dos objetivos da reforma era eliminar os “puxadinhos” que descaracterizaram a arquitetura original. Mas parece que o Brasil voltou pela porta dos fundos. O representante de Oscar Niemeyer em Brasília foi até gentil: “Faltou refinamento aos órgãos responsáveis para fazer um restauro de qualidade”. 4 Li ng ua ge m e C om un ic aç ão De goteiras e infiltrações o senador Gim Argello (PTB-DF) entende. O relator do Orçamento da União destinou R$ 3 milhões em emendas de sua cota individual para entidades fantasmas do DF, conforme revelou “O Estado de S. Paulo”. Em geral, funciona assim: o parlamentar faz uma emenda reservando recursos públicos para shows ou eventos culturais; o dinheiro é destinado a um instituto fantasma; este, por sua vez, repassa a verba para empresas fictícias em nome de laranjas. Tudo, como se dizia antigamente, “numa nice”. O governo não fiscaliza nada. A “Folha” noticiou ontem que Argello incluiu entre suas emendas para 2011 um repasse de R$ 250 mil para a ONG de uma amiga. E que amiga: condenada por evasão de divisas no escândalo dos Anões do Orçamento, nos anos 90, ela ficou presa por seis meses em 2007. Este ano, foi impedida graças à Lei da Ficha Limpa de disputar uma vaga à Câmara Legislativa do DF. Ontem, Argello renunciou à Comissão de Orçamento. É muito pouco. Virão outros “gins” no lugar. Até quando vamos tolerar as goteiras das emendas e o “puxadinho” de descalabros que é a Comissão do Orçamento? É preciso uma reforma. Mas não como a do Planalto. (SILVA, Fernando de Barros e. Goteira como metáfora. Folha de S. Paulo, 8 dez. 2010, p. A2 – com adaptações) 1. O autor faz uso da denotação e da conotação. Qual o propósito desses usos de linguagem no texto? 2. Faça um apanhado das ocorrências das aspas no texto e procure distinguir as diferenças de uso. 3. Sobre política e políticos, que informações enviesadas podem ser depreendidas da leitura do texto? Agora é com você! 1.2 Palavras, palavras Bárbaro, chocante, terrível. Alguns adjetivos fartamente usados pela imprensa na cobertura do caso Bruno são ambivalentes. Ao menos como gírias, essas palavras também podem ter acepções positivas. Sabemos que o grotesco é ingrediente que não falta nas receitas da comunicação de massa. O tom frenético (outro adjetivo ambivalente) que marcou nos últimos dias o acompanhamento jornalístico do caso indica como é estreita a separação entre o ímpeto necessário e a compulsão alucinada. A menção aqui não é ao sensacionalismo de certos programas e jornais, pois ele é figura antiga e, diga-se, já até produziu grandes textos e imagens. Mas por que uma boa repórter de um canal de TV paga interrompe uma delegada na operação de embarque de Bruno para Minas e faz perguntas sem nexo? Por que tantas coletivas e exclusivas – sem nenhum contraponto crítico – de um delegado mineiro nitidamente destrambelhado, fascinado por estar gastando sua prosódia constrangedora diante de Ana Maria Braga, Datena e outras potências, e que pôs querosene na alucinação coletiva ao chamar seu 5 Li ng ua ge m e C om un ic aç ão Li ng ua ge m e C om un ic aç ão principal investigado de “monstro” (mais um ambivalente)? Por que tanto destaque para gritos de “assassino”, se está claro que são dados por gente que só vai às portas de delegacias por estar magnetizada pelos amontoados cada vez maiores de câmeras, e assim realiza a Inquisição da era digital? A ampliação de modelos de comunicação e a necessidade de tudo se dar agora, ao vivo, com urgência, faz com que já achemos normais esses helicópteros acompanhando comboios de carros de polícia e nós, jornalistas, falando, falando, falando... Ainda há algum controle ou ele está para lá de remoto? As coberturas são intensas, maciças, arrasadoras. Somos bárbaros, chocantes, terríveis. (VIANA, Luiz Fernando. Palavras, palavras. Folha de S. Paulo, 11 julho 2010, p. A2) 4. Para o autor, alguns adjetivos são ambivalentes. Como compre- ender essa colocação? 5. O que seria necessário para que distinguir os sentidos de uma palavra ambivalente? 6. O texto é de caráter metalinguístico. Como compreender essa questão? 7. Sobre os meios de comunicação de massa, sobre os jornalistas e sobre o consumidor das informações veiculadas nesses meios, que informações enviesadas podem ser depreendidas da leitura do texto? Agora é com você! Para aprimorar sua habilidade de ler implícitos, sugeri- mos este link: <http://folhetimdasletras.blogspot.com.br/2010/08/pressupostos-e-subentendidos.html> . Aces- so em: 06/jan/2014. Conectando saberes Considerações finais Nesta aula, você analisou dois textos para aperfeiçoar sua capacidade de detectar informações implícitas e enviesadas. Também se defrontou com o conceito de metalinguagem, que é quando nós nos referimos à própria linguagem como objeto de discussão. Esperamos que você tenha percebido que, quanto mais lemos, mais aprimoramos nossos julgamentos. Fique seguro 1. O autor faz uso da denotação (sentido literal) para a descrição dos fatos, da informação. Quando faz 6 Li ng ua ge m e C om un ic aç ão uso da conotação (sentido figurado), o autor emite sua opinião, seus julgamentos. A linguagem figurada, portanto, no texto analisado, é uma estratégia para o autor se posicionar. O texto, portanto, é de natureza subjetiva. 2. Podemos perceber, no texto, várias ocorrências de aspas. Os usos são: aspas para marcar discurso direto, quando da citação da fala do representante de Oscar Niemeyer; aspas para marcar usos informais da língua, como em “puxadinhos” e “numa nice” (gíria: numa boa); aspas para marcar a origem da informação (“Folha”, “O Estado de S. Paulo”); aspas para marcar sentido conotativo e ironia, como em “gins” (referência ao nome do deputado) e “puxadinho” (referência às maranhas políticas). Espera-se que você tenha percebido que esses vários usos de aspas marcam a presença de várias vozes no texto, recurso ao qual damos o nome de polifonia. Essas vozes colaboram com o produtor do texto na montagem do esquema argumentativo. O autor não é a origem das informações e dos fatos; o autor analisa os fatos com base em outros dizeres. 3. Espera-se que você tenha percebido que o autor do texto procura passar uma imagem negativa da política no Brasil. Fica enviesada essa imagem negativa da política brasileira com base na reforma do Planalto e no comportamento do Deputado Gim Argello. Do particular ao geral, esse foi o procedimento adotado pelo autor para deixar enviesada tal imagem. 4. Adjetivos ambivalentes são aqueles que podem dar margem a dois sentidos. O autor exemplifica com os adjetivos “bárbaro”, “chocante” e “terrível”. Esses adjetivos abrem e fecham o texto. 5. Para definir com clareza o sentido que se quer dar a um determinado adjetivo ambivalente deve-se considerar o contexto ou a situação sociocomunicativa em que se usa tal adjetivo. 6. A metalinguagem é quando a linguagem é usada como objeto de discussão. No texto, podemos perceber a metalinguagem porque o autor, que é jornalista, critica os próprios jornalistas e, de modo geral, os meios de comunicação de massa. 7. Espera-se que você tenha percebido que o autor do texto procurar passar uma imagem negativa sobre o modo como alguns jornalistas trabalham, o modo como se fazem as coberturas jornalísticas e o modo como os espectadores se portam. O autor dá a entender que os meios de comunicação (de um lado, a produção da notícia; de outro, a demanda) funcionam entre o “ímpeto necessário e a compulsão alucinada”, o que poderia descaracterizar o verdadeiro papel do jornalismo, que é o de informar. Referências ANTUNES, Irandé. Lutar com palavras: coesão e coerência. 4. ed. São Paulo: Parábola, 2008. FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 16. ed. São Paulo: Ática, 2006. KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 15. ed. São Paulo: Contexto, 2001. KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2013. Considerações iniciais 1 Viés textual 1.1 Goteira como metáfora 1.2 Palavras, palavras Considerações finais Referências