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UNIVERSIDADE PARANAENSE - UNIPAR CURSO DE DIREITO 3º ANO - MATUTINO TRABALHO DE DIREITO PENAL II ART. 132, CP - PERIGO PARA A VIDA OU SAÚDE DE OUTREM Acadêmicos: Bryan Rafael Tolomeotti Furtado 00178803 Camila Schlistinchg da Silva 00193316 Daniele Lima de Andrade Guilherme 00197383 Guilherme Calefi de Souza Lima 00192399 Matheus da Silva Alves 00196492 Marina de Oliveira Modesto 00193916 Natalia de Jesus Andrade 00194568 Priscila Sampaio Resende 00170590 Paulo Roberto Jussiani Caetano 00196026 UMUARAMA - PR 2019 SUMÁRIO CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ........................................................ 3 DA SUBSIDIARIEDADE .......................................................................... 4 ESTRUTURA DO CRIME ........................................................................ 5 CAUSA DE AUMENTO DE PENA ........................................................... 7 ESTATUTO DO DESARMAMENTO ........................................................ 8 ESTATUTO DO IDOSO .......................................................................... 9 PONDERAÇÕES .................................................................................. 10 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 12 1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES “Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998)”. Neste artigo, o legislador tem por objetivo a proteção integral da vida humana. A proteção não é apenas efetiva, mas também preventiva. Consuma-se o delito supramencionado quando se expõe a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente. Deste modo, os bens jurídicos tutelados é a vida ou a saúde de outrem, nada mais, refere-se, então, ao perigo limitado a alguém individual. Além disso, é imperioso ressaltar que, há uma divergência doutrinária acerca do consentimento do ofendido. Para Guilherme de Souza Nucci, o consentimento da vítima não exclui o delito, uma vez que a vida e a saúde se tratam de bens jurídicos indisponíveis cuja exposição a perigo caracteriza crime, dada sua importância. Entretanto, para Rogério Greco o consentimento da vítima terá o condão de afastar a ilicitude da conduta perpetrada pelo agente. Nada Página 3 de 12 obstante, o mesmo complementa que se o comportamento do agente trouxer a probabilidade de ocorrência de perigo para a vida da vítima ou a de lesões corporais de natureza grave ou gravíssima, nesses casos, entende-se que o consentimento do ofendido não terá força suficiente para afastar o delito. 1.1. DA SUBSIDIARIEDADE O crime em estudo possui um caráter subsidiário e esta subsidiariedade é expressa, onde a pena do próprio tipo já prevê “se o fato não constitui crime mais grave”. Diz-se que o delito tem caráter subsidiário devido ao fato de o artigo só ser aplicado nas situações onde o caso concreto não envolve outro tipo penal que possa absorvê-lo. Logo, se olharmos para os fatos que foram atribuídos ao denunciado e conseguirmos enxergar outro tipo sendo cometido além do descrito no art. 132 aplicar-se-á o de maior pena. Como o artigo 132 possui pena relativamente pequena, em geral somente se aplicará o referido crime de forma secundária. Trazendo o exemplo para um caso real, imaginemos que certo engenheiro esteja responsável por uma construção de um prédio de muitos andares. Entende-se que é obrigação do engenheiro fornecer equipamentos de segurança aos trabalhadores e ensiná-los a usá-los. Se a um dos trabalhadores há a omissão desse equipamento, e esse trabalhador venha a subir no décimo andar sem a devida segurança, vê-se o artigo 132 consumado. Porém, se esse trabalhador vem a cair e por um infortúnio falecer, observa-se que houve homicídio culposo na situação de fato, não se aplicaria o art. 132 e sim o artigo que versa sobre homicídio culposo, devido à maior gravidade deste. A única exceção que merece devida atenção é quando se tratar de lesão corporal leve, nos casos em que esta ocorrer de forma concomitante com o artigo versado neste trabalho, o agente responderá pela pena do art. Página 4 de 12 132, uma vez que essa punição é maior do que a do delito de lesão corporal leve. Somente nesse caso, seguindo a lógica de se aplicar a maior penalidade, praticar a conduta contida no delito em estudo ocorrerá a absorvição do crime de lesão. Portanto, se da conduta do agente resultar em lesão corporal leve ao ofendido, esse deverá responder pelo delito descrito no artigo 132, do Código Penal. 2. ESTRUTURA DO CRIME O delito em análise tem como objeto material a pessoa humana viva, contra a qual irá recair a conduta praticada pelo sujeito ativo. O bem jurídico tutelado pelo código penal é a vida, a integridade corporal ou a saúde de outrem. Trata-se de um crime comum, ou seja, qualquer pessoa humana poderá praticá-lo, sendo também unissubjetivo, pois, basta apenas uma pessoa para configurar o crime, não necessitando de concurso de agentes (sujeito ativo). O sujeito passivo deverá ser uma pessoa certa e determinada, pois, é um crime de perigo individual. Entretanto, se for contra indivíduo indeterminado não se tratará do delito em apreciação. Cuida-se, ainda, de um delito transeunte, isto é, o delito em estudo não deixa vestígios, ou, em algumas situações em que seja possível a prova pericial, não transeunte. Vale salientar, que o crime deixará de existir no caso dos policiais e bombeiros, uma vez que os mesmos possuem o dever legal de afrontar ou suportar o perigo. Aliás, quando o perigo for inerente à profissão, inexiste a ocorrência do crime, como no caso de enfermeiros, toureiros, amansadores de animais, dentre outros. O núcleo do tipo é o verbo “expor”, a vida ou a saúde de outrem a um perigo real e iminente, não podendo ser abstrato e o meio para executá-lo é livre, podendo ser de qualquer maneira, através da conduta Página 5 de 12 comissiva – que é o delito que consiste em uma ação, cita-se como exemplo: um indivíduo vê seu inimigo atravessando a rua e acelera o carro para assustá-lo – ou, ainda, o delito poderá ser cometido na forma omissiva imprópria, desde que o agente se encontre na posição de garantidor. O tipo subjetivo do delito é mediante dolo de perigo, que pode ser direto (o sujeito quer expor a vida ou a saúde outrem a perigo) ou eventual (o sujeito assume o risco de expor a vida ou a saúde de outrem a perigo) a uma situação de perigo concreto. Assim, não será o dolo de dano, pois a intenção do indivíduo é somente expor a vida de outrem a perigo e não de provocar um mal. Caso o agente queira praticar um dano, o crime será outro, como a lesão corporal ou homicídio. No entanto, não existe a modalidade culposa, visto que não há previsão legal expressa. Além disso, em relação ao perigo iminente, Guilherme de Souza Nucci esclarece que “respeitadas as doutas opiniões em contrário, que o legislador teria sido mais feliz ao usar o termo ‘atual’, em lugar de ‘iminente’. Ora, o que se busca coibir, exigindo o perigo concreto, é a exposição da vida ou da saúde de alguém a um risco de dano determinado, palpável e iminente, ou seja, que está para acontecer. O dano é iminente, mas o perigo é atual, de modo que melhor teria sido dizer ‘perigo direto e atual’. O perigo iminente é uma situação quase impalpável e imperceptível (poderíamos dizer, penalmente irrelevante), pois falar em perigo já é cuidar de uma situação de risco, que é imaterial, fluida, sem estar claramente definida”. Em relação à consumação, essa ocorrerá no momento que a vítima é exposta a perigo concreto, sendo um crime instantâneo, formal e plurissubsistente. A tentativa é possível somente na forma comissiva (ação). A ação penal cabível é a ação pública incondicionada, que independe de representação do ofendido ou de seu representante legal. Página 6 de 12 Trata-se de um crime de menor potencial ofensivo, onde se tem a pena de três meses a um ano, portanto, de procedimento sumaríssimo cuja competência, pelo menos inicialmente, é do Juizado Especial Criminal, podendo ocorrer a suspensão condicional do processo, nos termos do artigo 89, da Lei nº. 9.099/95. 3. CAUSA DE AUMENTO DE PENA “[...] Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais”. Esse parágrafo foi criado em decorrência do grande número de transportes de trabalhadores rurais (boia fria) da cidade até lavouras, onde percorrem grande parte em rodovias e estradas em más condições, como caçamba de caminhões e camionetes sem qualquer medida de segurança, expondo assim a vida e saúde desses trabalhadores em risco. Esse delito contém regra inerente à segurança viária, que foi feito para punir mais severamente os proprietários dos veículos que não garante a segurança necessária para os trabalhadores. Contudo, somente se aplicará esse delito quando ocorrer o transporte de trabalhadores para a prestação de serviços, em estabelecimento público ou privado, comercial, industrial, agrícola, ou seja, de qualquer natureza. Descabe, portanto, qualquer outra atividade que não seja prestações de serviços, como lazer ou política. A menção “(...) em desacordo com as normas legais”, vale destacar que, essas normas legais estão previstas no Código de Trânsito Brasileiro – Lei nº 9.503/97. Assim, também responderá o motorista do veículo automotor como coautor do crime, o responsável pelo transporte como Página 7 de 12 autor principal e caso haja um fiscal, esse responderá como partícipe desse delito. 4. ESTATUTO DO DESARMAMENTO “Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa”. O Estatuto do Desarmamento – Lei nº. 10.826/03 regula a posse e a venda de armas de fogo e de munição. Essa lei define regras sobre o Sistema Nacional de Armas (SINARM) e está em vigor desde dezembro de 2003. A Lei nº. 10.826/03 proíbe o porte de arma de fogo para os cidadãos brasileiros, sendo que o porte de arma só é permitido para quem trabalha em áreas ligadas à Segurança Pública ou que tenha atividades de risco. Conforme já explicitado, o artigo 132 do Código Penal é subsidiário, estando expressamente determinada a sua aplicação se o caso não constituir crime mais grave. Logo, quando a conduta do agente se enquadrar nas descrições típicas do art. 15, do referido Estatuto, restará configurado o conflito aparente de normas. Tal conflito resolver-se-á pela subsidiariedade expressa do artigo 132, do Codex. Portanto, quando ocorrer disparo de arma de fogo em lugar público expondo a vida e a saúde de outrem a perigo, constituindo crime mais grave do que o delito em estudo (art. 132, do CP), subsistirá apenas o crime de disparo de arma de fogo, ficando excluído o crime menos grave Página 8 de 12 (art. 132, do CP), uma vez que a apenação do art. 15, do Estatuto do Desarmamento é maior do que a do delito em estudo. Entretanto, se ocorrer disparo de arma de fogo em lugar privado ou não habitado recairá no art. 132 do CP, por não haver outro regulamento legal. 5. ESTATUTO DO IDOSO “Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado: Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa. §1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos. §2º Se resulta a morte: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos”. O tipo descrito no art. 132 do Código Penal, é um crime de subsidiariedade expressa, sendo assim, residual. Isso significa que ele só será aplicado quando não houver disposição por outro crime. É o caso do crime de expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa idosa, é um delito com disposição em outra legislação, dessa forma não se aplica o crime do artigo 132 do código penal e sim o art. 99 da lei 10.741/2003, (Estatuto do Página 9 de 12 Idoso), devido à incidência no princípio da especialidade, por conter elemento especializante, que é a própria figura do idoso. 6. PONDERAÇÕES Fizemos a apresentação por meio de slide, além do mais complementamos passando um vídeo de uma apresentação de um atirador de facas, exemplificando o delito previsto no art. 132, do CP. Após acabarmos a apresentação o professor nos salientou da falta da classificação doutrinária do crime, o que deixou a desejar, pois não colocamos no slide nem comentamos de forma oral, no entanto, já foi acrescentado acima no presente trabalho escrito. Posteriormente, abriu-se a palavra ao grupo revisor (art. 136), para que fizessem as perguntas, o qual nos indagou se acaso um policial colocasse a vida de outrem em risco no exercício da função responderia por este crime, o qual foi respondido que não, pois o policial tem o dever de agir nos casos em que lhe é necessário, por exemplo, caso o policial dirigir a viatura em alta velocidade realizando uma perseguição a um ladrão que está fugindo, este não incidirá no tipo do art. 132, pois além de ser o seu dever legal como garante zelar pela segurança pública, sua intenção não é colocar a vida de nenhuma pessoa em risco, sendo o dolo essencial para a caracterização do delito em estudo. Adiante, o grupo revisor nos pediu um exemplo prático onde uma pessoa cometeria o tipo penal, citamos então o caso de uma pessoa transitar com o carro em excesso de velocidade em uma via pública e movimentada, mesmo no caso do dolo direto do agente de causar perigo quanto com dolo eventual assumindo o risco, mediante ambos é possível cometer o crime. Cessadas as perguntas do grupo revisor e passada a palavra a algum aluno que tivesse dúvidas, nos foi indagado a respeito se haveria possibilidade de o agente responder pela tentativa neste crime, respondemos que sim, contudo, sendo possível a tentativa apenas na Página 10 de 12 forma comissiva. O exemplo de tentativa foi dado pelo professor, onde apresentou uma situação onde o agente ainda em via particular não movimentada, começa a dirigir em alta velocidade com o intuito de chegar até a via pública, local em que existem pessoas circulando, no entanto, esta pessoa com o intuito de colocar em risco a vida de outrem é interceptada por policiais antes que conseguisse chegar até a via pública impedindo que concluísse seu objetivo. Página 11 de 12 7. REFERÊNCIAS MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado: parte especial, arts. 121 a 212. 7. ed. São Paulo: Método, 2015. v. 2. BRASIL. Código Penal. In: Vademecum. ed. 27. São Paulo: Saraiva. 2019. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Volume 2. 12a. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 2. _______. Estatuto do Desarmamento. In: VadeMecum. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. _______. Estatuto do Idoso. In: VadeMecum. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte especial. 14. ed. Niterói: Impetus, 2017. v. 2. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Página 12 de 12
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