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nemD - Sebenta de Psicologia

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NÚCLEO DE ESTUDANTES DE MEDICINA DENTÁRIANÚCLEO DE ESTUDANTES DE MEDICINA DENTÁRIANÚCLEO DE ESTUDANTES DE MEDICINA DENTÁRIANÚCLEO DE ESTUDANTES DE MEDICINA DENTÁRIA 
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Psicologia IPsicologia IPsicologia IPsicologia I 
Sebenta TeóricaSebenta TeóricaSebenta TeóricaSebenta Teórica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Conceito de ParentalidadeConceito de ParentalidadeConceito de ParentalidadeConceito de Parentalidade 
 
 A família tem como função estruturar a base da nossa personalidade. 
 Tradicionalmente o padrão clássico familiar era autoritário e repressor; a figura do pai o 
mandante supremo, encarnava a lei. A ele se devia respeito e obediência. O seu simples olhar 
determinava aos filhos como proceder. Tal era o medo que reinava, confundido com respeito, 
que ninguém ousava questioná-lo. 
 Os papeis do pai e da mãe eram bem definidos e determinados: ao pai cabia trazer o 
sustento para casa e á mãe, cuidar exclusivamente da educação dos filhos e dos afazeres 
domésticos, tendo uma função educativa acima da de reprodutora. 
 Nas últimas décadas, este quadro tem-se vindo a transformar. No entanto a sua função 
de estruturar a psique humana continua a mesma. É relacionando-nos com outros, neste caso 
a família, que actualizamos o potencial com que nascemos. É através do outro que temos a 
real dimensão do que e como somos. Os papéis do casal modificaram-se, tanto na função de 
provedor, como na de educador. Esta mudança deve-se essencialmente ao baby boom, 
causado pela procriação assistida e pela entrada da mulher no mercado de trabalho. O papel 
do pai torna-se assim mais próximo do da mãe, apesar desta não abdicar do seu papel de 
mãe. No entanto existe o “fantasma” da criança perfeita, daí a realização de ecografias, 
aminiocenteses e correcção de anomalias genéticas de forma a que possam ter aquela criança 
tão desejada. A educação também se torna mais permissiva, aceitando que o filho tenha 
vontade própria. Em muitos casos, os pais que foram reprimidos passam da repressão extrema 
para a liberdade excessiva. Assim, os limites tão necessários ao desenvolvimento do senso de 
realidade e respeito ao outro passam a ser prejudiciais ao crescimento. 
 Encontramos assim um novo conceito: o de parentalidade que se caracteriza pela 
relação entre o casal e a criança, estabelecendo-se laços sociais. È bem distinta do conceito 
de conjugalidade que apenas se refere á relação entre o casal. 
 Começam-se a formar o que se chama uma “geração sandwich”. Geração de activos 
que cuida dos filhos que já deviam ser independentes mas não o são e que cuida igualmente 
dos pais que antes morriam e agora já estão vivos e em más condições, com pouca ou 
nenhuma qualidade de vida e alto grau de dependência. 
 Todas as famílias têm início no casamento, talvez a relação mais profunda que temos 
na vida, uma vez que é fruto de uma escolha nossa. É essa escolha, seja ela menos ou mais 
consciente, que torna o casamento uma relação especial, porque é feito de acordo com as 
expectativas conscientes e inconscientes que cada um tem do outro. Em vez de resolverem os 
próprios conflitos, as pessoas levam-nos para a relação conjugal e usam o parceiro como 
amparo. Ao aceitar esse papel, o conjugue alivia a tensão interna, mas também impede o 
desenvolvimento como pessoas. O casamento pode, portanto, tanto ser uma relação altamente 
criativa quanto profundamente doentia. Na última década têm-se observado um número 
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crescente de divórcios, levando muitas vezes à separação de todos os membros da família, 
criando assim uma “família em migalhas”. Mas, como a parentalidade é um conceito bem 
diferente do da conjugalidade, apesar dos pais já não partilharem um casamento, continuam a 
assumir a sua condição de pais. 
 
Cristina GodinhoCristina GodinhoCristina GodinhoCristina Godinho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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5 
Relação precoce Relação precoce Relação precoce Relação precoce –––– vinculação pré vinculação pré vinculação pré vinculação pré----natalnatalnatalnatal 
 
Segundo Biscans “ gravidez emocional inicia-se antes da mãe estar de facto grávida”. 
A gravidez surge como desejo de ter um filho. Este desejo pode surgir devido a diversos 
motivos, como por exemplo a tentativa de recriar vínculos do passado, através de um novo 
relacionamento com o filho, iniciando-se assim uma vinculação mão/bebé imaginária. 
 A relação de vinculação inicia-se bem antes do nascimento, na fantasia dos pais. Um 
bebé não nasce após 9 meses, mas sim quando nasce na imaginação dos pais 
(Brazelton,1989). Assim, um período de vinculação pré-natal importante é a revelação da 
gravidez. 
 Com a confirmação da gravidez, vários factores podem perturbar inicialmente a mãe, 
como dificuldades domésticas e financeiras e até problemas emocionais, gerando sentimentos 
de arrependimento e raiva (Klaus & Kennell, 1982). Não se pode considerar a gravidez como 
um acontecimento isolado na vida de uma mulher. O contexto social, económico, cultural e 
emocional influencia directamente a forma como a mulher irá viver esse momento na sua vida. 
A gravidez leva a uma readaptação de mecanismos corporais como também uma readaptação 
psicológica. O sonho de ser mãe e a disposição para assumir esse novo papel absorverão 
grande parte do tempo da gravidez (Brazelton,1988). Os 9 meses de gestação são um período 
útil e suficiente para que ocorra uma transformação de um tipo de egoísmo para outro. A 
preocupação por si mesma, estende-se para um outro ser, que dentro de alguns meses estará 
sob a sua responsabilidade (Winnicott, 1996) Para além da confirmação da gravidez, há outros 
períodos sensíveis na vinculação entre os seres humanos. Cada um deles representa 
circunstâncias de vulnerabilidade emocional da mãe, do bebé e da família, nos quais a 
vinculação entre ambos pode dar saltos qualitativos que a consolidem, como a audição dos 
ruídos cardíacos fetais, a primeira ecografia e os movimentos fetais. Quando a mãe sente o 
feto a mexer, na sua fantasia, o feto está a começar a comunicar através da variedade dos 
seus movimentos. O estilo de vínculo que a mãe formará com o filho, sofre influencia dessas 
representações mentais que a mulher tem de si mesma e do seu bebé. 
 Ser mãe e ser pai é marcado por uma relação simbólica, por um jogo de fantasia: será 
menina ou será menino? Como vai ser? Com quem se parecerá? Como será a nossa relação? 
Muitas mães testemunham como falam com o bebé que têm na barriga: como lhe apresentama família, a casa, como lhe falam das expectativas neles depositadas, como se sentem na 
gravidez… 
 A natureza do relacionamento dos pais com o bebé é marcada pelo mundo mental das 
representações, pelo imaginário e subjectivo. Antes da existência do bebé real, nos braços da 
mãe, existe um bebé imaginário. Este é formado a partir das fantasias, dos sonhos, das 
brincadeiras com bonecos e modelos de ser mãe. (Stern, 1997) 
 Existe assim um filho imaginário que tem de ser perfeito e realizar todas as 
potencialidades adormecidas ou não aproveitadas pelos pais. Aquando destes imensos 
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desejos e aspirações dos pais, já existe uma vinculação entre eles e o bebé imaginário, a qual 
vai progredindo ao longo dos 6 meses. 
 Uma mulher grávida pode ter alguns aspectos psicológicos que a tornem sobretudo 
mãe funcional (que alimenta e cuida, mas não adivinha e intui o seu bebé). Nesses casos, uma 
mulher grávida pode ser psicologicamente estéril” (Sá, 1993). Vários aspectos que adivinham 
uma grávida psicologicamente estéril é o facto de n 1º trimestre haverem queixas relacionadas 
com o parto, no 2º trimestre há ausência de representações simbólicas do bebé e há queixas 
centradas no narcisimos materno e no ultimo trimestre há ausência de preparação para o 
nascimento e há actos que negam a presença do bebé no corpo da mãe. 
 Têm sido realizados estudos em grávidas, em que lhes é pedido para fazer desenhos 
representativos da gravidez, ajudando assim a determinar relações de risco emocional. Devem 
então ser tidos em conta o local da folha onde se elabora o desenho, o tamanho da figura e o 
personagem da família que o representa (mãe, bebé ou ambos). Também são frequentes a 
expressões faciais, demonstrando a expressividade da figura. È frequente haverem desenhos 
representativos das alterações corporais em grávidas em que o bebé não existe na sua cabeça 
e em mulheres vítimas de eventos traumáticos, como violações é frequente o bebé ser 
representado fora do útero materno. 
 No inicio da gravidez, a mãe tem dificuldade em representar o bebé dentro de si, mas á 
medida que vai progredindo, a gravidez começa a existir na sua cabeça e um bebe imaginário 
vai-se gerando. 
 Durante a gestação, a mãe torna-se muito sensível, apoderam-se dela as emoções 
mais contraditórias: alegria e esperança, medo e recusa, duvidas e incertezas. Mas a grávida 
sabe que a chegada do bebé a deveria encher de alegria, então as angustias vão expressar-se 
de forma camuflada, através de sonhos que as ajudam a reflectir sobre sentimentos ocultos. 
No primeiro trimestre há uma fase de incorporação à sensação de gravidez, fazendo a grávida 
voltar-se para si mesma de modo a fazer uma introversão, há uma alegria da chegada do bebé 
misturada com o medo de não agir correctamente. No 2º trimestre, a grávida passa por um 
período de diferenciação. Nesta fase, o desenvolvimento mãe-filha entra numa nova etapa, 
pois a filha produzirá inconscientemente sentimentos de rivalidade com a mãe, em que se 
interroga se será tão boa mãe ou se cometerá os mesmos erros. Nos últimos 3 meses, inicia-se 
a contagem decrescente para a separação, os sonhos manifestam-se pelo medo de perder a 
criança e pelo medo do parto. Nesta fase há a elaboração de uma relação objectar com a 
criança. 
 O nascimento da criança é o momento mais ansiado pela mãe. Muitos hospitais, 
oferecem ás futuras mães a oportunidade de frequentarem aulas pré-natais, ensinando-lhe o 
que é o nascimento natural a fim de ajudá-la a reduzir o medo. 
Os primeiros sinais do parto são a perda de sono, calafrios e dores nas costas ao nível 
da cintura. À medida que o tempo passa, as dores sucedem-se com mais frequência e é 
expulso um coágulo de sangue ou de muco e há a ruptura da bolsa que contém o líquido 
amniótico. Segue-se a fase de dilatação, a fase de expulsão da criança e da placenta e 
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membranas. Segundo Bazelton, quando nasce uma criança, nasce uma família. 
Este período é de choque para o bebé, pois sente o peso do seu corpo pela primeira 
vez, sente o ar que o rodeia, o frio e o calor. 
 O parto é também um momento revelante para a formação do vínculo mãe-bebé. “A 
ligação materno-infantil bem sucedida tem sido descrita como a capacidade da criança para 
despertar e ser reactiva ao comportamento de tomar conta por parte da sua mãe. Segue-se 
então, que o produto mais bem sucedido de um parto é um recém-nascido desperto, alerta e 
reactivo e uma mãe na mesma condição” (Sameroff, 1978). 
 Ao nascer, o bebé é a cria mais desprotegida do meio animal. Sem os cuidados da 
mãe ou de quem a substitua, não sobreviveria. Henri Wallon ( 1962) considera que o ser 
humano é “um ser total e primitivamente orientado para a sociedade”, é um ser biologicamente 
social. Da sua inata prematuridade ao nascer decorre a absoluta necessidade do “outro” e de 
um meio propício para sobreviver. É precisamente a prematuridade da cria humana que 
explica, no essencial, a importância da figura materna nos primeiros anos de vida. Contudo, 
não se podem encarar os cuidados maternais apenas no seu aspecto meramente funcional. 
Assim, alimentar, agasalhar, dar banho, velar pelo sono, ultrapassam a satisfação das 
necessidades básicas. O modo como a mãe desempenha o seu papel vai influenciar o 
desenvolvimento psicológico da criança. 
 Durante os primeiros dias de vida ocorre a aprendizagem “descriminativa” segundo 
Porpousek (1969). Percebe-se a capacidade do recém-nascido de resposta emocional, 
marcada por uma excitação geral, usualmente acompanhada de choro e sinais de desprazer. O 
relaxamento significa falta de estímulos emocionais e excitantes. A criança enfrenta o ambiente 
por meio dos sentidos e reacções motoras. É sensível aos estímulos tácteis e ás mudanças de 
posição. Abrir e fechar a boca é parte dos movimentos de “busca”, o esforço do bebé para 
sugar praticamente qualquer coisa que entre em contacto com a boca. “O estabelecimento de 
uma situação agradável de alimentação é tarefa para mãe e criança. O tom emocional com que 
o bebé aceita o alimento é consequência das atitudes da mãe ao alimentá-lo. Falar em tom 
baixo, segurar o bebé com movimentos lentos e deliberados e tentar obter atenção são meios 
importantes para conquistar o bebé” (Erikson) 
 Depois do nascimento, os pais irão conhecendo o seu bebé à medida que cuidam dele 
e o bebé, por sua vez também responde aos estímulos dos pais. Esse intercâmbio é adquirido 
de diferentes modos e de forma altamente individualizada. O período de tempo para a 
formação do apego íntimo e recompensador varia de pais para filhos. O melhor recurso para 
adquirir o papel de pai ou mãe é a liberdade de se conhecer a si mesmo, seguindo as próprias 
inclinações e o bebé sinaliza se o caminho está certo ou não (Brazelton, 1988). É um longo 
caminho que os pais percorrem para estabelecer uma ligação afectiva sólida com os seus 
filhos. 
 Os recém-nascidos são diferentes em todos os seus aspectos observáveis e á medida 
que crescem, as suas diferenças vão aumentando. Porquê a mãe reconhece o choro do seu 
bebé? O seu bebé chora como nenhum outro. As impressões do choro são pelo menos tão 
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distintivas quanto as digitais para a identificação dos recém-nascidos (Wolf, 1969) 
 
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Relação precoceRelação precoceRelação precoceRelação precoce---- vinculação pré vinculação pré vinculaçãopré vinculação pré----natalnatalnatalnatal 
 
Emocionalmente a gravidez tem início muito antes da mãe estar realmente grávida, 
considerando-se o início da gravidez quando surge o desejo de ter um filho- “a gravidez 
emocional inicia-se antes de a mãe estar de facto grávida” (Biscans, s/d). Este desejo pode 
surgir devido a diversos motivos e fontes podendo ser descritas algumas hipóteses tais como a 
identificação, satisfação de várias necessidades narcísicas e tentativas de recriar vínculos 
passados através de um novo relacionamento com o filho, iniciando-se assim uma vinculação 
mãe/bebé imaginária. Devido a estudos efectuados é impossível estabelecer um “timming” para 
a vinculação, podendo assim considerar-se períodos sensíveis na vinculação entre os seres 
humanos, representado cada um deles períodos de reversibilidade emocional da mãe, do bebé 
e da família. 
Durante a gestação, a futura mãe tem um sono mais leve que lhe leva a memorizar 
mais facilmente os sonhos ou pesadelos tidos durante o sono. A mulher torna-se assim mais 
sensível, tornando-se um ser mais inseguro e frágil. Muitos sonhos, da futura mãe, expressarão 
os seus medos e angústias perante a chegada de um novo membro à família, podendo estes 
sonhos referir-se a acontecimentos do passado ou expressar fantasias para o futuro, os quais 
são uma purificação da alma, filtro de pensamento, e que influenciam grandemente o 
desenvolvimento do feto. A vinculação pré-natal tem um papel bastante importante no 
desenvolvimento do feto, são vários os períodos sensíveis na vinculação mãe/bebé neste 
período, tais como a revelação da gravidez, avaliação dos ruídos cardíacos fetais, primeira 
ecografia, movimentos fetais... etc... O recurso a desenhos é também um meio de análise às 
angústias da futura mãe, nomeadamente visíveis em pormenores: local da folha, tamanho da 
figura, expressividade e personagem familiar que representa. 
Para todos os futuros pais, na altura do nascimento, através da vínculação existem três 
bebés, o filho imaginário (dos sonhos fantasias), o bebé invisível mas real e o verdadeiro bebé 
nascido. O filho imaginário tem de ser perfeito e de realizar todas as potencialidades 
adormecidas ou não aproveitadas pelos pais. Podemos dizer que aquando destes imensos 
desejos e aspirações dos pais, já existe uma vinculação entre os pais e o bebé imaginário, a 
qual vai progredindo ao longo dos 9 meses de gravidez tanto na mãe como no pai. “A 
capacidade de discriminação que os bebés manifestam das relações que- fora do útero- 
retomam, é espantosa, o que nos leva a supor que os bebés pensam antes- mesmo- de serem 
capazes de pensar os seus próprios pensamentos. Sendo assim, os bebés “nascem na cabeça 
dos pais” antes de nascerem, ao fim de 9 meses de gestação”, Biscaia, J. R. Sá (1997). 
Nos finais do séc.XX início do séc.XXI, começou-se a dar importância ao papel do pai, 
até que ponto ele intervinha naquela relação e começou-se também a estudar a personalidade 
do bebé. Antigamente a única forma de se estudar o feto era através do aborto, no entanto hoje 
em dia a ecografia permitiu-nos estudar o comportamento do feto. Relativamente ao 
desenvolvimento motor, no final da fase embrionária, o sistema muscular já está constituído 
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enquanto que o sistema nervoso permanece imaturo. É na fase pré-motora que são detectados 
os primeiros movimentos do corpo do embrião, em que os músculos são capazes de 
contracção, apesar de esta ainda não ser controlada, permitindo à mãe sentir o seu bebé 
(aproximação). No fim do 3º mês, observa-se a resposta de evitamento, (o bebé vira o rosto) ou 
de protecção (ao nível da zona bucal da face). Na fase de neurogénio o “input” neural directo 
aos músculos assume o controlo da mobilidade. Na fase fetal, o 3º mês (o nº 3 tem um grande 
significado em termos leigos do povo- mãe, pai e bebé) adquire a designação de mês de 
actividade inicial, pela 15ªsemana é possível encontrar os movimentos fetais através do 
estetoscópio em que se dá a maturação do sistema. O bebé tem períodos característicos de 
actividade intercalados com períodos de sono, em que há limitação na visualização. Lynn e 
Coll (1991) fizeram experiências com fetos, em que estabeleceram uma relação do padrão do 
batimento cardíaco com o movimento do olho e com o movimento grosseiro do corpo. Birahlz e 
Benacerraf (1983) colocaram microfones adjacentes à cabeça do feto de 4 meses, verificando 
que o ruído intra-uterino era intenso (aproximadamente 75 Db) o que correspondia à passagem 
de ar no estômago e aos batimentos cardíacos da mãe, assim os fetos conseguem responder a 
sons normalmente presentes no meio intra-uterino. Estudos de Quenleu e Col (1988) 
acrescentaram que os fetos também ouvem sons que vêm do exterior. Hepper (1992) defendeu 
que aos 6-7 meses de idade respondiam de forma diferente a sons distintos, apesar de antes 
desta idade os fetos já serem capazes de responder aos sons, respondiam também à luz 
causando mudanças no seu batimento cardíaco, o que o levava a movimentar-se (focos muito 
intensos aumentava a frequência dos batimentos cardíacos). Casper e Spencer (1985) 
interessaram-se pelo estudo da relação entre a precepção auditiva pré-natal e a vinculação do 
recém-nascido à mãe. Foi no meio intra-uterino que o bebé aprendeu a reconhecer a voz da 
mãe. No final da gravidez, Aidan Macfarlane (1977) defenderam que o feto poderia ser capaz 
de ver a luz que atravessa o estômago da mãe, mas pouco se sabe sobre isto. A percepção 
gustativa do feto é um assunto muito estudado, sabe-se que as papilas gustativas são mais 
distribuídas no feto do que no adulto. Os recém-nascidos e os prematuros reagem de forma 
diferente a diversos factores olfativos; Hepper (1992) “a percepção vestibular encontra-se no 
ouvido médio, controlando o sentido de equilíbrio”, esta percepção começa a funcionar no feto 
humano por volta dos 5 meses após a concepção, tornando-se completamente funcional no 
nascimento”. Um exemplo extremo desta relação precoce é a capacidade do bebé conseguir 
manter o equilíbrio através do movimento da mãe, permitindo sentir as sua mudanças de 
postura. A resposta táctil apenas se encontra presente após os 40 dias da fertilização. Autores, 
através de experiências, concluíram que havia uma aprendizagem fetal (histórias contadas por 
mães grávidas durante a gestação, aumentavam o ritmo de sucção quando havia 
familiariedade do bebé com estas histórias, passando-se a situação inversa quando esta não 
era lida). Existem determinados factores que põem em risco uma relação futura entre os pais e 
o bebé, sendo o mais importante o desejo da gravidez; no entanto factores como a origem da 
relação pré-natal pais/filho, o apoio paterno na gravidez, a influência da ansiedade no decorrer 
da mesmo e o que sente a futura mãe, são também importantes- todos os síndromas de morte 
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11 
súbita são de crianças não desejadas em que as mães pensavam abortar. De acordo com 
Sontage (1966) “as emoções maternas, como medo, pesar ou ansiedade, ocasionam um 
aumento imediato e profundo ao nível da actividade do feto, especialmente durante o último 
trimestre da gravidez”. 
É no momento da expulsão que toda a dimensão vinculativa é magnânima, neste 
momento são criados laços muito fortes que determinarão, entre outros factores, a qualidade 
da relação, “O choro ao nascer marca o começo da comunicação vocal do bebé, quanto às 
suas necessidades e estados emocionais, o grande desamparo e alta vulnerabilidade da 
criança recém-nascida iniciam prontamente assistência e envolvimento do ego nas pessoas do 
ambiente”, Pikunas, J. (1979) Desenvolvimento Humano. 
 
DesconhecidoDesconhecidoDesconhecidoDesconhecidoNEMD ISCSEMNEMD ISCSEMNEMD ISCSEMNEMD ISCSEM Psicologia IPsicologia IPsicologia IPsicologia I 
 
 
 
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Vinculação da mãe à cria (relação precoce)Vinculação da mãe à cria (relação precoce)Vinculação da mãe à cria (relação precoce)Vinculação da mãe à cria (relação precoce) 
 
Na quase totalidade das espécies de aves e nos mamíferos existe uma qualquer forma 
de vinculação parental. Contrastando com os peixes e répteis que, na maior parte das 
espécies, põem ovos às centenas e os abandonam depois, as aves e os mamíferos investem 
na qualidade e não na quantidade. Têm menor número de descendentes mas fazem por que a 
maior parte alcance a maturidade. Alimentam-nos, limpam-nos, abrigam-nos e protegem-nos 
durante os períodos iniciais de dependência. Sob esta capa protectora parental, a cria pode 
crescer, preparar-se para o mundo onde em breve irá entrar, e adquirir algumas das aptidões 
que lhe permitirão sobreviver nesse mundo. Já foi referido que este período inicial de 
dependência é mais longo nas espécies mais encefalizadas, como os macacos e os grandes 
antropóides, verificando-se a sua máxima duração na nossa espécie. Na maior parte das aves 
e dos mamíferos, as crias ficam fortemente ligadas à mãe. Os patinhos seguem a mãe pata e 
as crias dos macacos agarram-se ao ventre da mãe. Em qualquer destes casos, a separação 
provoca uma grande perturbação: as crias emitem chamamentos aflitos e grasnam até que a 
mãe volte. 
A função biológica desta vinculação é apenas a sobrevivência pessoal, e isto é 
verdadeiro tanto para as nossa espécie como para as outras. De facto, não resta dúvida de que 
na nossa história evolutiva precoce uma cria órfã teria elevada probabilidade de morrer cedo, 
devido à falta de protecção, à fome e à predação. Contrariando certos teorizadores, segundo 
os quais o principal factor determinante deste tipo de vinculação é a descoberta pela cria de 
que a presença da mãe leva à satisfação da fome e da sede e alívio da dor, há fortes 
argumentos para que a vinculação dependa de factores mais profundos, dado que a aflição 
mostrada pela cria separada da mãe, ocorre mesmo quando se encontra perfeitamente 
alimentada e bem preotegida dos perigos e das intempéries. 
Conclui-se, pois, que a vinculação da cria à mãe não se baseia apenas na satisfação 
das principais necessidades corporais. Parece não haver dúvida de que a criança vem 
predisposta a procurar estimulação social, que é gratificante em si mesma. 
“O desenvolvimento social inicia-se com o primeiro vínculo humano” (cit. Frederick 
Gibbons), que é considerado, por vezes, como base de todas as relações posteriores com os 
outros: a vinculação do bebé à pessoa que cuida dele (cuidador). Esta vinculação é distinta dos 
seres humanos para os animais, já que os animais seguem o primeiro estímulo (objecto, animal 
ou pessoa), enquanto que o ser humano só estabelece o vínculo ao cuidador, e segundo 
autores a partir dos 6 meses de idade. Por outro lado também se estabelece uma vinculação 
pré-natal, muito importante no desenvolvimento do feto, em que todos os comportamentos da 
mãe se transmitem ao feto. 
Também os pais desenvolvem gradualmente uma forma de vinculação com os seus 
filhos; a maioria das mães leva cerca de 3 semanas a conseguir expressar os seus 
sentimentos de amor em relação aos seus bebés, daí que o infanticídio ocorra geralmente 
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antes destas semanas. Konred Lorens (s/d) presenciou o momento em que uma ninhada de 
gansos cinzentos eclodiu e estes passaram a segui-lo como se ele fosse a sua mãe, mesmo 
depois de se tornarem adultos, preferindo-o aos membros da sua espécie. Assim, o conceito 
“imprinting” é designado como um comportamento inato, específico da espécie e que constitui 
um padrão específico. Foi através do trabalho de Lorens que se evidenciou a existência de 
períodos críticos na vida, em que um determinado tipo de estímulo é necessário para o 
desenvolvimento normal- período sensível. 
O bebé quer estar perto da mãe, quando não está bem, fica confortado com a sua 
imagem, o seu som e os seu contacto. As crias dos macacos resos agarram-se ao corpo das 
mães, mas quando mais crescidos aventuram-se para longe da mãe, ganhando coragem para 
explorações cada vez mais distantes. Mas, durante algum tempo, a mãe continua a oferecer 
uma base de segurança, um lugar para onde correr de volta se encontrarem perigos 
incontroláveis. Até à bem pouco tempo, a maior parte dos teóricos pensava que o amor à mãe 
era uma consequência secundária à associação desta com as satisfações básicas do bebé, 
como o alívio da fome, da sede e da dor. A versão mais influente desta perspectiva foi, 
provavelmente, a de Sigmund Freud que sustentava que a aflição do bebé, com a ausência da 
mãe, se baseia no enorme medo de que as suas necessidades fisiológicas fiquem insatisfeitas. 
O psiquiatra britânico John Bowlby (1969, 1973) chamou a esta teoria do amor-mãe a “teoria 
do armário”; ela reduz-se à ideia de que o primeiro objecto de amor é o seio ou biberão. Este 
autor também defendeu que só a partir dos 6 meses o bebé desenvolve vínculos específicos 
que permitem uma relação mais próxima com os seus cuidadores. Uma demonstração de que 
o amor à mãe está para além das necessidades fisiológicas provém do trabalho de Harry 
Harlow (1905-1981), que criou os macacos resos recém-nascidos sem as mães. Cada cria vivia 
sozinha numa jaula que continha duas figuras estáticas. Um destes modelos era em arame, o 
outro em tecido felpudo. O modelo de arame estava equipado com um orifício que fornecia 
leite, mas o modelo em tecido felpudo não tinha tal dispositivo. Mesmo assim, os bebés 
macaco passavam mais tempo com a “mãe” felpuda do que a de arame. O modelo de tecido 
podia ser agarrado e proporcionar o que Harlow chamou de “conforto de contacto”. Isto 
tornava-se especialmente evidente quando as crias eram assustadas. Ao serem colocadas 
numa sala desconhecida ou diante de um brinquedo mecânico que se aproximava com ruídos 
estridentes, invariavelmente corriam para a mãe de tecido e agarravam-se a ela com força. 
Segundo Bowlby a vinculação não é herdada, mas sim o potencial que se herda para a 
desenvolver. 
Papel do pai:Papel do pai:Papel do pai:Papel do pai: A abordagem geral de Ainsworth proporcionou um modo de estudar 
outros aspectos do início do desenvolvimento social. Um exemplo é a relação do bebé com o 
pai. Será o pai votado ao desprezo? Para o saber, um investigador utilizou a “situação 
estranha” com pais e com mães, e encontrou sinais de angústia quando o pai as deixava , bem 
como algum agarrar e procurar o seu contacto quando voltava. Parece que a vida emocional da 
criança não é exclusivamente dedicada à mãe. Mas a mãe parece ser mais importante, pelo 
menos em idades precoces. Havia mais angústia com a partida da mãe do que com a do pai e 
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mais entusiasmo com o seu regresso (Kotelchuk, 1976). Estes resultados sugerem que a 
vinculação ao pai é menos poderosa do que à mãe. O mais provável é que esta disparidade 
reflicta o facto de, na grande maioria das crianças da nossa sociedade, a mãe ter a seu cargo a 
maior parte dos cuidados, no entanto, não se pode pensar em função paterna sem a relacionar 
com a função materna, uma vez que são complementares. 
Existem vários factores que acentuam a vinculação bebé/figuras parentais tais como, o 
contacto físico permanente , a sensibilidade das figuras parentais aos sinais e ritmos da criança 
quando come, chora, vocaliza ou sorri, contacto imediato pós-parto, entre outros. 
Desde o começo da vida os bebés são seres sociais, isto é distinguimos o ser humano 
da escala animal pela nossadependência. A estimulação social aumenta o contacto visual e o 
sorriso do bebé. A linguagem interactiva sedimenta a relação mãe/filho nos primeiros tempos 
de vida, sendo que aos 6 dias o bebés distingue e prefere o cheiro da mãe, aos 20 dias 
reconhece a sua voz. A partir dos primeiros dias após o nascimento os bebés reagem às outras 
pessoas; com um mês reagem a vozes e estão muito atentos aos rostos, entre os dois e os 
três meses desenvolvem o sorriso social (1º organizador social). Até aos 6 meses os bebés são 
“responsivos” às pessoas em geral, não reagem de forma diferente para pessoas conhecidas 
ou desconhecidas; dos 7 aos 12 meses começam a determinar apego a algumas pessoas 
(angústia do estranho- 2ª organizador social). O “brincar” (3ª organizador social) é a único 
comportamento do bebé que não tem como fim uma satisfação orgânica, mas que se origina 
no organismo intensamente aplicado em encontrar um entendimento eficaz com o mundo- “o 
brincar escapa aos adultos que frequentemente o vêem como algo separado do aprender... 
ninguém como as mães dos bebés da primeira idade têm o senso da importância do brincar e é 
esse o aspecto prático de temos vindo a chamar relação” (João dos Santos, s/d), a importância 
do sim e do não aparece mais tarde (4º organizador social). 
Em suma uma boa vinculação tem como consequência uma melhor auto-estima, 
competência social, independência, confiança... etc 
 
DesconhecidoDesconhecidoDesconhecidoDesconhecido 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Os primeiros anos de vidaOs primeiros anos de vidaOs primeiros anos de vidaOs primeiros anos de vida 
 
 
 ---- Vinculação Vinculação Vinculação Vinculação 
 
 O nascimento da vida psíquica de um bebé começa na relação que é estabelecida com 
a mãe. 
 Segundo, o pediatra inglês Winnicott, os cuidados maternos adequados são 
indissociáveis do bebé e garantia de uma boa saúde mental. Segundo ele, um lactante isolado, 
não existe: quando encontramos uma criança, encontramos cuidados maternos. Acrescenta, 
por outro lado, que o rosto da mãe é o primeiro e verdadeiro espelho da criança. 
 A relação mãe-bebé, no primeiro ano de vida, vai ter grande importância no 
desenvolvimento futuro da criança: personalidade, auto-estima, confiança em si próprio, 
relacionamento interpessoal e capacidade de adaptação a situações novas. As primeiras 
experiências intersubjectivas desenvolvem-se num banho de afectos (S. Lebovici, 1983). 
Contudo, a relação começa bem antes do nascimento, na fantasia dos pais. Ser mãe e ser pai 
é marcado por uma relação simbólica, por um jogo de fantasia: será menino ou menina? Como 
vai ser? Com quem se parecerá? Como será a nossa relação? Muitas mães testemunham 
como falam com o bebé que têm na barriga: como lhe apresentam a família e a casa, como lhe 
falam dos aborrecimentos, nas expectativas neles depositadas, como se sentem na gravidez, 
como vivem os tempos em que o sentem a crescer dentro delas… Podemos quase dizer que o 
bebé, antes de nascer, se relaciona com a mãe e com as pessoas significativas do seu meio. 
Ele influencia e é influenciado pelo mundo envolvente. A forma como decorre o próprio 
nascimento tem sido considerada como muito importante. Não só o próprio acto de nascer, 
mas também o seu acolhimento externo e interno: é a forma terna como lhe é dado o nome, 
como se descobre com quem se parece, como se arranjou espaço para si na casa, que faz 
inscrever o bebé no casal e na história das anteriores famílias. Para John Bowlby, a 
necessidade de vinculação, isto é, a necessidade de estabelecimento de contacto e de laços 
emocionais entre o bebé e a mãe e outras pessoas próximas, é um fenómeno biologicamente 
determinado. A necessidade de vinculação não é fruto da aprendizagem, mas uma 
necessidade básica do mesmo tipo que a alimentação e a sexualidade. Bolwlby considera que 
esta necessidade não é herdada, o que se herda é o potencial para a desenvolver. 
A relação da mãe e das outras pessoas com o bebe é, normalmente diferente das 
relações que se desenvolvem com as crianças mais velhas: no tom de voz, nos olhares, no que 
é dito e na forma como é dito. “As caras que ela faz para o bebé, a maneira como utiliza a fala, 
não só naquilo que diz, mas nos tons que emite, os movimentos da cabeça e do corpo, as 
coisas que faz com as mãos e dedos, a posição que toma em relação ao bebé, o tempo e ritmo 
das suas reacções, tudo isto se torna diferente. (Stern, 1980). Segundo um estudo de 
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Ferguson sobre o que as mães de vários continentes dizem aos seus bebés, todas as mães 
falam a versão de “linguagem de bebé”. Em cada caso havia uma linguagem muito 
simplificada, alocuções curtas e muitos sons despropositados. 
A mãe comunica os seus afectos interpretando as necessidades e desejos do bebé. 
Para isto, ela utiliza as suas capacidades de empatia, que lhe permitem perceber os estados 
afectivos do bebé. Segundo B. Brazelton, o que caracteriza a interacção típica entre uma mãe 
e o seu bebe é a sua natureza cíclica, com a alternância de períodos durante os quais a 
criança fixa intensamente o rosto da mãe e períodos em que o evita, fechando os olhos ou 
desviando-os ligeiramente. 
A mãe partilha com a criança pequena um pedaço do mundo á parte, mantendo-o 
suficientemente limitado para que a criança não fique confusa e aumentando-o muito 
progressivamente de forma a satisfazer a capacidade crescente da criança fruir do mundo 
(Winnicott, 1957). Assim, a criança aprende a conhecer o ambiente e o seu conteúdo através 
da interacção dinâmica com a mãe. No início assiste-se a uma diade relacional e 
posteriormente com a introdução do pai, uma tríade relacional de afectos, cada um com a sua 
função na construção psico-emocional da criança. Diria que a relação objectal com a mãe será 
a plataforma psíquica na qual a criança constrói a sua identidade social. Se existirem bons 
alicerces, esta construção será harmoniosa e estável, se não for bem conseguida, a criança 
pode porventura apresentar alguns problemas psicológicos e muitas vezes problemas 
psicossomáticos. 
A criança começa a percepcionar a Vida através da primeira relação social que é com a 
mãe. Assim, Btazelton observou que o lactante é capaz de antecipar uma inter-relação social e 
que, quando as suas tentativas não são satisfatórias, ele utiliza uma diversidade de técnicas 
para tentar implicar a sua mãe. 
Até ao desenvolvimento das recentes investigações, dominava uma representação do 
bebé como um ser passivo e inerte. A linha destes estudos desenvolve uma perspectiva do 
recém-nascido como um agente activo no seu desenvolvimento dotado de energia e com 
capacidade de estimular a interacção com a mãe. De facto, o bebé nasce com capacidades, 
ate agora descuradas, que lhe permitem ser activo no relacionamento humano. O recém 
nascido possui uma actividade reflexa e instintiva e um equipamento sensorial e motor que lhe 
possibilita uma adaptação ao mundo envolvente. O seu repertório é muito variado: reage á dor, 
ao calor, ao frio, aos sabores salgados, ácidos e açucarados, distingue a claridade da 
escuridão, pode discriminar sons e emitir vocalizações variadas. Está provado que o bebé 
distingue a voz da mãe da das outras pessoas, reconhece o seu odor e que, ao fim do primeiro 
mês, reage ao seu próprio nome quando pronunciado por ela. 
Segundo Stern, durante as ultimas décadas, tem-se acumulado, de modos muito 
diferentes, provas de que o bebé procura estímulos desde o nascimento e até se esforça para 
consegui-los. De facto, a procura de estímulos, atingiu agora o estatuto de instinto, ou 
tendência motivacional, não muito diferente do dafome, uma analogia que não é muito 
exagerada. Tal como as alimentos são necessários para o corpo crescer, o estimulo é 
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necessário para fornecer ao cérebro as “matérias-primas” essenciais para a maturação dos 
processos motores, perceptivos, cognitivos e sensoriais. O bebé está equipado com as 
tendências para procurar e receber este “alimento cerebral essencial” 
Na década de 50, o etólogo Harry Harlow desenvolveu experiências com crias de 
macacos. Colocou na mesma jaula duas mães substitutas: uma era construída em arame, a 
outra em tecido felpudo. Esta experiência decorreu em varias jaulas: em metade delas, o 
modelo de arame fornecia alimento á cria; na outra metade, esta função era assegurada pela 
mãe de tecido felpudo. A variável analisada foi o tempo que as crias passavam junto das mães 
artificiais. As observações levaram o investigador a concluir que as crias preferiam a mãe de 
tecido, independentemente da qual lhes fornecia alimento, recorrendo a estas no caso de 
perigo. Estas experiências, levaram Harlow a afirmar que a necessidade e a procura de 
contacto corporal e de proximidade física, são mais importantes que a necessidade de 
alimentação. Esta necessidade de agarrar, de estar junto da mãe, vai ser designada como 
contacto de conforto. Harlow fala da necessidade de amor e de emoção que observou nos 
primatas. Evidencia a interacção existente entre a mãe e o filho, que esta na base da 
vinculação. 
O psicanalista Spitz perspectiva o sorriso como a primeira manifestação corporal activa 
e intencional da criança, desenvolvida na comunicação mãe-filho. O sorriso é um 
comportamento que une o fisiológico e o emocional. Para este autor, o primeiro sorriso é 
indiferenciado; a criança quando sorri, não sorri á mãe, sorri á humanidade pois reage á 
configuração de rosto com olhos, nariz e boca. O rosto será um sinal que desencadeia 
reacções positivas. O bebe sorri a qualquer rosto de frente e mesmo a uma mascara em 
movimento; contudo, não sorri a um rosto de perfil. Aos seis meses, o bebe já tem um sorriso 
para pessoas preferenciais: é um sorriso social, que o leva a não sorrir a estranhos. 
Existe unanimidade entre todos os autores que estudam o desenvolvimento da criança, 
que a interacção mãe-bebé é crucial pois determina o aparecimento e o início da vida psíquica 
e permite à criança uma construção da estrutura mental e emocional. No entanto, acontece que 
na actualidade assiste-se a uma “despersonalização maternal” do vinculo afectivo entre mãe-
bebé, dado que é pratica comum e social, as mães terem de colocar os seus bebés, 
geralmente por volta dos 4 meses quando acaba a licença de parto, em jardins de infância e 
infantários, para que possa trabalhar. Será que os serviços materno-infantis existentes 
cumprem a sua função nas necessidades das crianças se relacionarem com pessoas 
privilegiadas e afectivamente disponíveis? 
 
Cristina GodinhoCristina GodinhoCristina GodinhoCristina Godinho 
 
 
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---- Infância, latência e entrada na escola Infância, latência e entrada na escola Infância, latência e entrada na escola Infância, latência e entrada na escola 
 
O indivíduo ao longo da sua vida, sofre várias transformações. Este processo decorre 
ao longo do seu ciclo de vida. Esta mudança tem várias características: é contínua, 
acumulativa, direccional, holistica, organizada e diferenciada. 
Quando se fala em ciclo de vida, dividimo-lo nas seguintes etapas: pré-natal, que 
começa na concepção e termina no nascimento; primeira infância, que vai desde o nascimento 
até aos 2 anos. No final do 2º ano a maior parte das crianças, adquire o pensamento simbólico 
e a linguagem; 2ª infância desde os 2 aos 12 anos; adolescência que é o período menos 
definido pois o seu final não está demarcado como nas outras fases do desenvolvimento; 
adulticia; meia-idade e velhice. 
O primeiro período de vida, caracteriza-se por um período em que o bebé forma fortes 
ligações com os pais, procurando nestes todo o conforto e confiança. É nesta primeira fase que 
o bebé desenvolve os três organizadores sociais: o sorriso social, em que o bebe reage ás 
pessoas e esta particularmente atentos aos rostos das pessoas. A angústia a estranhos, pois 
ate por volta dos 4 meses os bebes são socialmente responsivos ás pessoas em geral, não 
reagindo de forma diferente para as pessoas conhecidas e desconhecidas. Dos 7 aos 12 
meses, começam a mostrar evidencia clara de apego a certas pessoas, chorando ou 
mostrando sinais evidentes quando na presença de alguém que não conhece. E por fim, o 
ultimo organizador é o brincar, pois o brincar é uma actividade primitiva do bebé. É a primeira 
actividade orientada directamente para a satisfação de carências orgânicas. O brincar tem 
extrema importância visto ser a oficina dos nossos pensamentos, é uma actividade que 
dirigimos à compreensão do mundo e é um modo da criança desenvolver a sua capacidade 
criativa. 
A 2^infância coincide com a entrada na escola e com o período de latência. Após a 
vivência do complexo de Édipo e com um superego já formado, a criança entra numa fase de 
latência. Ela vai como que esquecer alguns acontecimentos e sensações vividas nos primeiros 
anos de sexualidade, nomeadamente no período edipiano, através de um processo que se 
designa amnésia infantil. O estádio de latência caracteriza-se por uma diminuição da actividade 
sexual, que pode ser total ou parcial. A criança pode, nesta fase, de uma forma mais calma e 
com mais disponibilidade interior, desenvolver competências e fazer aprendizagens diversas: 
escolares, sociais e culturais. Uma das grandes aprendizagens é a compreensão dos papéis 
de género, isto é, do que é ser mulher e ser homem, na sociedade em que vive. a vergonha, o 
pudor, o nojo, a repugnância são sentimentos que contribuem para controlar e reter a libido. A 
existência de um superego vai manifestar-se e, preocupações morais. O ego tem mecanismos, 
privilegiadamente inconscientes, que permitem estruturar-se com uma nova organização face 
ás pulsões do id. A introjecção, o recalcamento, a projecção e a sublimação são, entre outros, 
mecanismos de defesa do ego. 
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No plano intelectual, há uma progressão da actividade perceptiva, da capacidade de 
abstracção e do raciocínio lógico, permitindo assim uma melhor capacidade de fazer juízos 
críticos de situações e das representações de si próprio e os outros. 
A entrada da criança na escola pressupõe maturidade na capacidade de afastamento 
da família, não havendo sinais de dependência e aumento da curiosidade e prazer, pois é a 
descoberta de um novo mundo. O início da escolaridade obrigatória também atribui á criança a 
noção de outro estatuto social. Há uma procura de novos modelos de identificação, ao 
contrário do que acontecia na primeira latência onde se manifesta a procura da razão. É nesta 
altura que a criança se reconhece no seu grupo etário, pelo sentimento de ser igual ás outras 
crianças, com características próprias e com valores diferentes do grupo familiar. 
A escola facilita a coesão e a maturidade. Tem uma importância fundamental na 
transição progressiva do meio familiar para o novo espaço social, funciona como facilitador do 
crescimento, orientada para uma melhor qualidade humana e não uma exigência perfeccionista 
ou mecanizada. Como meio terapêutico, a escola deve possibilitar um desenvolvimento 
psicológico sadio. 
Meltzer (1986), considera que há várias formas de aprender, como aprender com a 
experiência, com sentimentos de inveja, colectandoconhecimentos, procurando valores ou por 
identificação adesiva. Estas diversas formas de aprender influenciam a formação do carácter e 
relacionam-se como os tipos de estímulo do grupo familiar e social. 
Já Branco (2000), considera que a emoção é a base de toda a aprendizagem, que o 
conhecimento humano resulta da aprendizagem livre e espontânea: “A criança só aprende se 
primeiro sentir” (Branco, 200). E com sentir refere-se a tudo o que é actividade emocional, jogo, 
pintura ou canto. 
 No entanto, a escola pode fracassar, desencadeando ou reforçando as vivências de 
frustração como a consequente recusa de aprender. Caso a motivação para aprender seja 
bloqueada, a regressão expressa-se em comportamentos de desadaptação. Para contrariar 
estas situações, a escola deve reparar e reconstruir todo o processo através da aplicação de 
novos métodos de ensino ou através da utilização de formas diferentes de motivação. 
 
Cristina GodinhoCristina GodinhoCristina GodinhoCristina Godinho 
 
 
 
 
 
 
 
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---- Freud: desenvolvimento infantil Freud: desenvolvimento infantil Freud: desenvolvimento infantil Freud: desenvolvimento infantil 
 
Para Freud o desenvolvimento humano e a constituição do aparelho psíquico são 
explicados pela evolução da psicossexualidade. A sexualidade está integrada no nosso 
desenvolvimento desde o nascimento, evoluindo através de estádios, com predomínio de uma 
zona erógena, isto é, de uma região do corpo que, quando estimulada, dá prazer. Cada estádio 
é marcado pelo confronto entre as pulsões sexuais (libido) e as forças que se lhe opõem (ódio, 
raiva, desespero, ausência de desejo). 
A psicanálise foi a primeira corrente da psicologia a atribuir aos primeiros anos de vida 
uma importância fulcral na estruturação da personalidade. Segundo Freud, “a criança é o pai 
do Homem”, ilustrando assim a importância da infância. Um dos conceitos mais importantes na 
teoria psicanalítica é a existência da sexualidade infantil. Esta sexualidade envolve todo o 
corpo, é pré-genital e não centrada no aparelho genital e é, nos primeiros anos, auto-erótica, 
isto é, a criança satisfaz-se com o seu próprio corpo. “O eu é primeiro e acima de tudo um ego 
corporal” (Freud) 
Freud define e caracteriza 5 estádios de desenvolvimento psicossexual: 
Estádio Oral: o ser humano nasce com id, isto é, um conjunto de pulsões inatas. O ego 
forma-se, no primeiro ano de vida, de uma parte do id, que começa a ter características 
próprias. Elas formam-se pela consciência das percepções internas e externas que o bebe vai 
experimentando. São particularmente importantes as percepções visuais, auditivas e 
quinestésicas. A zona erógena do bebe nos primeiros meses, é constituída pelos lábios e pela 
cavidade bucal. A alimentação é uma grande fonte de satisfação. Quando o bebe tem fome, 
esta inquieto e chora; quando é alimentado, fica saciado e feliz. O mamar dá grande prazer ao 
bebe. O chupar o seio é, para Freud, representado como a primeira actividade sexual. A 
criança nasce num estado indiferenciado, sem ter consciência que o seu corpo se diferencia do 
da mãe. A qualidade das relações entre a mãe, que o alimenta a cuida, e o bebe vai reflectir-se 
na vida futura. O estádio oral é constituído por um período em que a criança é muito passiva e 
dependente e outro, na época do desmame, em que a criança é mais activa e pode mesmo 
morder o seio ou o biberão. O desmame corresponde a uma frustração que vai situar a criança 
em relação à realidade do mundo. A mãe é então muito investida enquanto pessoa que pela 
sua presença/ausência dá prazer e frustra. A partir deste acontecimento, sensivelmente cerca 
dos 6 meses a 1 ano, dá-se o primeiro passo no processo de separação/individualização. 
 Estádio anal: a maturação e o desenvolvimento psicomotor vão permitir à 
criança reter ou expulsar as fezes e a urina. No estádio anal a zona erógena é o ânus, região 
anal e a mucosa intestinal. A estimulação desta parte do corpo dá prazer á criança. Todavia, as 
contracções musculares podem provocar também dor, criando assim uma possível 
ambivalência entre estas duas sensações. Este período etário corresponde a uma fase em que 
a criança é mais autónoma, procurando afirmar-se e realizar as suas vontades. A ambivalência 
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está também presente na forma como a criança hesita entre ceder ou opor-se ás regras de 
higiene – regulação da defecção e da micção – que a mãe exige. As relações interpessoais, 
com a mãe e outras pessoas, vão estabelecer-se neste contexto; dai a importância dada à 
forma como se educa a criança a ser asseada. 
Estádio fálico: neste estádio a zona erógena é a região genital. É o órgão sexual a 
fonte de prazer, sendo comum a sua manipulação. As crianças estão interessadas em 
questões do tipo: como nascem os bebes?; estão atentas ás diferenças anatómicas entre os 
sexos, ás relações entre os pais e ás interacções entre homens e mulheres, têm brincadeiras 
onde exploram estes interesses, como brincar “aos médicos” e “aos pais e ás mães”. Daí 
alguns comportamentos exibicionistas e “voyeuristas” poderem surgir nesta idade. Freud deu 
particular importância a este estádio por ser durante este período que as crianças vão começar 
a vivenciar o complexo de Édipo, e por ser no final desta etapa que a estrutura da 
personalidade está formada com a existência de um superego. 
O complexo de Édipo é a atracção que o rapaz sente pela mãe, a quem esteve sempre 
ligado desde que nasceu, e que agora é diferentemente sentida. A sexualidade, que para 
Freud era até esta idade predominantemente auto-erótica, vai agora ser investida nos pais. O 
rapaz pode assim falar do desejo de casar com a mãe, mas ao descobrir o tipo de relação que 
liga os seus progenitores, sente rivalidade, por vezes com expressões de agressividade, com o 
pai que considera um intruso. O complexo de Édipo na rapariga, é uma triangulação relacional 
idêntica. Uma importante diferença é que a rapariga esteve deste sempre muito ligada á mãe e, 
nesta idade, vai investir e seduzir o pai. Mas é mais difícil rivalizar com a mãe porque receia 
perder o seu amor. O período edipiano da rapariga e do rapaz é atravessado por vivências tais 
como: receios, angustias, medo fantasiado da castração, agressividades e culpabilidades. 
Algumas destas relações edipianas passam-se predominantemente de forma invertida, isto é, a 
criança investe sensualmente no progenitor do mesmo sexo. 
O complexo de Édipo é ultrapassado pela renúncia aos desejos sexuais pelos pais e 
por um processo de identificação com o progenitor do mesmo sexo. Freud considera que a 
forma como se resolve o complexo edipiano influencia a vida efectiva futura. A terceiras 
instancia do aparelho psíquico, o superego, Vai agora ser constituída. O superego é uma 
instância com funções morais que é constituída pelos pais introjectados. Estes não são os pais 
reais, mas os imaginários, isto é, os idealizados na infância. 
Estádio de latência: após a vivência do complexo de Édipo e com um superego já 
formado, a criança entra numa fase de latência. Ela vai como que esquecer alguns 
acontecimentos e sensações vividas nos primeiros anos de sexualidade, nomeadamente no 
período edipiano, através de um processo que se designa amnésia infantil. O estádio de 
latência caracteriza-se por uma diminuição da actividade sexual, que pode ser total ou parcial. 
A criança pode, nesta fase, de uma forma mais calma e com mais disponibilidade interior, 
desenvolver competências e fazer aprendizagens diversas: escolares, sociais e culturais. Uma 
das grandes aprendizagens é a compreensão dos papéis de género, isto é, do que é sermulher e ser homem, na sociedade em que vive. a vergonha, o pudor, o nojo, a repugnância 
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são sentimentos que contribuem para controlar e reter a libido. A existência de um superego 
vai manifestar-se e, preocupações morais. O ego tem mecanismos, privilegiadamente 
inconscientes, que permitem estruturar-se com uma nova organização face ás pulsões do id. A 
introjecção, o recalcamento, a projecção e a sublimação são, entre outros, mecanismos de 
defesa do ego. 
 
Estádio genital: para a psicanálise, a adolescência vai reactivar uma sexualidade que 
esteve como que adormecida durante o período de latência. Assim, no estádio genital 
retomam-se algumas problemáticas do estádio fálico, como o complexo de Édipo. A puberdade 
traz novas pulsões sexuais genitais. Também o mundo relacional do adolescente é alagado a 
pessoas exteriores á família. O adolescente vai reactivar o complexo de Édipo e a sua 
liquidação está ligada a um processo de autonomização dos adolescentes em relação aos pais 
idealizados, como eram sentidos na infância. O adolescente poderá, assim, fazer escolhas 
sexuais fora do mundo familiar, bem como adaptar-se a um conjunto de exigências 
socioculturais. 
Alguns adolescentes, face ás dificuldades deste período, regridem a fases 
desenvolvimentais anteriores, fundamentalmente resultantes do conflito entre o id e o ego, 
recorrendo também a mecanismos de defesa do ego, como o ascetismo e a intelectualização. 
Através do ascetismo, o adolescente nega o prazer, procura ter um controlo das pulsões 
através de uma rigorosa disciplina e de isolamento. Pela intelectualização ou racionalização, o 
jovem procura esconder os aspectos emocionais do processo adolescente, interessa-se por 
actividades do pensamento, colocando aí toda a sua energia. 
 
Cristina Godinho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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AdolescênciaAdolescênciaAdolescênciaAdolescência 
 
 
A adolescência é uma época da vida humana marcada por profundas transformações 
fisiológicas, psicológicas, pulsionais, afectivas, intelectuais e sociais vivenciadas num 
determinado contexto cultural. Mais do que uma fase, a adolescência é um processo com 
características próprias, dinâmico, de passagem entre a infância e a idade adulta. “Nós 
rejeitamos a ideia comum de que a adolescência é exclusivamente uma preparação para a vida 
adulta… os adolescentes são pessoas com qualidades e características especificas, que têm 
um papel interventivo e responsável a desempenhar, tarefas a realizar e capacidades a 
desenvolver, num momento particular da vida” (Konopka) 
Conceito recente, suscita, na segunda metade do século XX, grande profusão de 
investigações em áreas diversificadas: psicologia, sociologia, historia, antropologia, medicina… 
O primeiro livro, “Adolescente”, dedicado ao estudo psicológico da adolescência foi escrito por 
Stanley Hall, em 1904. segundo este autor, o adolescente opunha-se à criança pela intensa 
vida interior, pela reflexão sobre os sentimentos vivenciados. Era uma visão conflitual e que 
negligenciava os factores socioculturais, que vieram posteriormente a ser considerados como 
fundamentais. As características da adolescência, eram, segundo o autor, predeterminadas 
biologicamente. 
Uma das dificuldades do conceito de adolescência advém da delimitação etária deste 
período, pois existem diferenças entre os contextos culturais, géneros masculino/feminino, 
meios geográficos e condições socioeconómicas. 
Além disso, no mesmo meio encontramos grandes variabilidades de indivíduo para 
indivíduo: há puberdades muito precoces, outras são muito tardias. Por outro lado, uma mesma 
pessoa tem diferentes ritmos de maturação. Há indivíduos com um pensamento operatório 
formal, mas sem características pubertárias; enquanto que poderemos encontrar 
transformações fisiológicas precoces em crianças emocional e intelectualmente pouco 
amadurecidas: “cada um tem uma maneira própria de evoluir” (Maurice Debesse). 
Se se pode afirmar que a adolescência começa com a puberdade, já não é tão fácil 
dizer quando termina. Dizer que a adolescência acaba quando se passa a ser jovem adulto é, 
na socierdade contemporânea ocidental, difícil de definir. Essa definição passa pelo 
entrecruzamento de factores biológicos, afectivos, socioculturais e geográficos. 
Será importante revelar que a adolescência se define vulgarmente pela negativa: o 
adolescente já não é criança e ainda não é adulto. 
A ambiguidade e as dificuldades na definição do conceito são agravadas pela 
existência de preconceitos, reflectidas nas frases feitas do senso comum e que são impeditivas 
de compreensão dos adolescentes. São comuns expressões so tipo: “idade do armário”, “idade 
da parvoíce”, “estar na fase”. Simultaneamente, encontramos representações sociais que 
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quase associam a jovem a vandalismo, marginalidade, delinquência, droga. 
A puberdade muda o corpo, a mente e os afectos da criança. Os adolescentes entram 
numa nova fase existencial, banhados por novas pulsões, novas sensibilidades, novas 
capacidades cognitivas, novas dificuldades nos seus pontos de referencia. 
A adolescência é um espaço/tempo onde os jovens, através de momentos de 
maturação diversificados, fazem um trabalho de reintegração do seu passado e das suas 
ligações infantis, numa nova unidade. Essa reelaboração devera dar capacidades para optar 
por valores, fazer a sua orientação sexual, escolher o caminho profissional, integrar-se 
socialmente. Este processo de crescimento faz-se também com retrocessos (às vezes dá 
vontade de voltar a ser criança), este crescer faz-se sozinho, com o melhor amigo, com e 
contra os pais, com os outros adolescentes e com os outros adultos. 
Existem muitas adolescências, conforme cada infância, cada fase de maturação, cada 
família, cada época, cada cultura e cada classe social. 
A ambivalência da adolescência relaciona-se com as transformações globais que 
ocorrem no indivíduo e que tornam este nível etário de difícil compreensão: pelos outros e 
pelos próprios. Coabitam, nesta fase, desejos ambivalentes de crescer e de regredir, de se 
sentir ainda criança e já adulto, de autonomia e de dependência, de ligação ao passado e de 
vontade de se projectar no futuro. 
O actual período de escolaridade, na nossa sociedade, prolongou-se no tempo, o que 
torna o adolescente familiar e socialmente dependente; contudo, são-lhe exigidas, ao mesmo 
tempo, autonomia e responsabilidade. Esta situação reflecte-se em expressões que são 
contraditórias e paradoxais. O mesmo adulto pode dizer ao mesmo adolescente: já não és 
criança, tens idade para ser responsável; ainda não tens idade para saber o que queres. E o 
adolescente reconhece e sente bem esta ambivalência. A fragilidade sentida pode estimular 
surtos regressivos, alienações, comportamentos associais, dificuldades várias. Para muitos 
autores, o mal estar sentido pelos jovens, na sociedade actual, tem a ver como a indefinição do 
seu estatuto social. 
No entanto, a adolescência não é obrigatoriamente uma fase perturbada, até porque 
grande parte dos problemas são ultrapassados na passagem para jovem adulto. 
Numa fase de pré-puberdade, ocorrem mudanças corporais que preparam as 
transformações fisiológicas da puberdade. As transformações corporais levam o jovem a voltar-
se para si próprio, procurando perceber o que se está a passar, para se entender mais 
profundamente enquanto pessoa. 
Escrever um diário, isolar-se, ter desvaneios, pintar ou tocar musica, correspondem a 
necessidadesinteriores e podem contribuir para melhor se conhecerem e desenvolverem 
emocionalmente. Alguns adolescentes fecham-se muito sobre si próprios, comunicando pouco 
com os adultos. 
O melhor amigo, do mesmo sexo, tem, para muitos adolescentes, uma função muito 
importante, pois pode encontrar algumas respostas para várias inquietações: Serei normal? 
Sou o único a sentir as coisas desta maneira? 
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Por vezes, é complicado ao adolescente assumir uma imagem corporal sexualizada, 
pois antes das transformações pubertárias, sentiam-se bem no seu corpo de criança. Haverá 
que distinguir as transformações fisiológicas com a sua aceitação psicológica. A forma como 
cada um se autoprecepciona e o modo como gostamos de nos são muito influenciados pelo 
meio em que se vive, a maneira como se é representado e aceite pelos outros. Podemos dizer 
que alguns jovens são hipersensíveis, que existe uma fragilidade e agressividade que se 
manifestam em súbitas mudanças de humor. São, assim, frequentes as crises de choro, os 
estados de euforia, de melancolia. A incompreensão de que se sentem vitimas é, 
frequentemente, uma projecção da sua própria dificuldade em se compreenderem intimamente. 
Na adolescência, os modelos de identificação deixam de ser os pais para passarem a 
ser os jovens da mesma idade, o grupo de pares, num processo de autonomia, de 
individualização. 
A adolescência é também uma fase em que se obtém uma maturidade intelectual. O 
pensamento formal vai abrir novas perspectivas. Dá-se um alargamento das perspectivas 
temporais: vai ser possível pensar o futuro e pensar no futuro. O raciocínio hipotético-dedutivo 
é, no desenvolvimento psicossocial, uma arma poderosa nas opções profissionais, nos 
caminhos que aspiram e na construção de projectos de futuro. O exercício destas novas 
capacidades de abstracção, de reflectir antes de agir, pode permitir uma distancia 
relativamente aos conflitos emocionais. 
O gosto pela fantasia e pela imaginação, pelo debate de valores, leva a uma melhor 
compreensão de si próprio e do mundo. Há uma exigência de coerência nas discussões, no 
questionar dos problemas e nos argumentos expressos na defesa de uma filosofia de vida, que 
são importantes na formação de ideias próprias. Esta mudança intelectual na adolescência, vai 
permitir “construir o seu sistema pessoal” (Freud). Existe como que o aparecimento de um 
egocentrismo intelectual, o adolescente sente-se o centro e as suas teorias sobre o mundo 
aparecem como as únicas correctas. 
A adolescência é uma fase importante no processo de consolidação da identidade 
pessoal, da identidade psicossocial e da identidade sexual. Erikson diz-nos que o sentimento 
de identidade é o sentimento intrínseco de ser o mesmo ao longo da vida, atravessando 
mudanças pessoais e ocorrências diversas. Os adolescentes vão através de uma crise 
potenciadora de energias, confrontar-se com esta problemática identitária. É também com uma 
certa desorientação entre avanços, hesitações e recuos que se fazem importantes 
experimentações de afirmação do ego, na construção da identidade. 
Cada um de nós constrói o seu eu através de “outros significativos”, das interacções 
relacionais, reais e fantasiadas. A identidade constrói-se nas experiências vividas através de 
um subtil jogo de identificação. Se na infância os nossos modelos identificatorios são os pais, 
na adolescência vão ser os jovens da mesma idade. As relações com os pais têm que mudar 
para que os adolescentes possam ascender a ideias e afectos próprios. 
No final da adolescência, o jovem obtém uma “identidade realizada”, ele será capaz, 
como diz Erikson, de sentir uma “continuidade interna” e “uma continuidade do que ele significa 
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para as outras pessoas”. O adolescente entende-se no seu percurso de vida. 
 
Cristina GodinhoCristina GodinhoCristina GodinhoCristina Godinho 
 
 
 
 
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AdolescênciaAdolescênciaAdolescênciaAdolescência 
 
O termo adolescência significa “tornar-se adulto”. É um período de transição em que o 
indivíduo muda do estado infantil para o estado adulto, adquirindo a capacidade de “estar só” 
(Winnicott, 1977) e de pensar por si próprio. A cristalização da adultícia numa dimensão de 
saúde psíquica, consiste em que o adulto mantenha dentro de si, o adolescente que já foi, no 
núcleo da sua identidade (Winnicott, s/d). Existem mudanças biológicas: um crescimento físico 
repentino, uma alteração dos proporções corporais e o atingir da maturidade sexual. A 
maturidade biológica determina, por fim, mudanças sociais e económicas: da dependência da 
família para uma independência sempre crescente. E, é claro, há as mudanças psicológicas 
que acompanham o processo de crescimento. Estas abrangem a maturação progressiva das 
atitudes e comportamento sexuais que permitem, por fim, ao adolescente constituir as sua 
própria família e adquirir várias competências que lhe proporcionarão tornar-se um membro 
activo da sociedade adulta. Estas transformações são altamente fluidificantes do “self” a 
caminho da sua identidade e não podem ser tomadas como manifestações exclusivas da 
adolescência. É um período de grande euforia social (discotecas, bares) em simultaneidade 
com sentimentos de isolamento, insegurança, falta de auto-estima, autoanálise e introspecção. 
De facto, a adolescência é um processo bastante abrupto. 
A biologia estabeleceu um limite inferior, aproximadamente os 15 anos para as 
raparigas, e 17 para os rapazes, altura em que o crescimento físico está mais ou menos 
completo. Mas o ponto que marca o início da idade adulta é determinado tanto pelas condições 
sociais como pela biologia. Com o início da educação em massa, em meados do séc.XIX os 
jovens cada vez mais continuam a viver com as famílias e permaneciam na escola até aos 20 
anos. Isto permitia-lhes adquirir as competências necessárias para participarem numa 
sociedade complexa e tecnológica, mas adiava a sua independência social e económica e a 
sua entrada no mundo adulto (Elder, 1980). A cultura tem, evidentemente, algo de importante a 
dizer sobre quando e como se dá o período de transição. Também determina ocasiões 
especiais que marcam o fim desse período ou que realçam certos momentos desse percurso. 
Algumas sociedade humanas têm ccccerimónias de iniciaçãoerimónias de iniciaçãoerimónias de iniciaçãoerimónias de iniciação que representam a entrada na idade 
adulta. Na nossa própria sociedade, a transição para a idade adulta é muito mais gradual, com 
marcos que se referem não só a mudanças biológicas mas também a várias aquisições 
educacionais e vocacionais. Assim, o desenvolvimento não se processa por períodos 
estanques e rígidos. Os factores culturais também determinam a altura em que outros “marcos” 
do desenvolvimento são alcançados. Um exemplo é a idade em que se perde a virgindade, que 
tem vindo a decrescer constantemente na nossa sociedade durante as últimas décadas, 
reflectindo uma mudança nos costumes sexuais, tanto para os homens como para as 
mulheres. Esta mudança é sem dúvida provocada por vários factores, dos quais a existência 
de métodos de controlo da maternidade, que permitem a separação das funções emocionais e 
voluptuosas da sexualidade das funções reprodutoras. 
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Existe uma perspectiva tradicional sobre a adolescência afirmando que ela é, 
inevitavelmente, um período de grande tensão emocional. Para Freud a adolescência era 
necessariamenteum período de conflito, uma vez que é um período em que as pulsões 
sexuais reprimidas, durante a fase final do conflito de Édipo, não podem mais ser negadas e 
opõem-se, com força, às proibições inconscientes anteriormente erguidas. Outros conflitos 
centram-se em lutas com a geração mais velha, em especial com o pai do mesmo sexo, as 
quais foram reprimidas na infância e que agora se tornam proeminentes. A família, segundo 
Dias, 1986, “proporciona na adolescência ansiedades claustrofóbicas”, visto existir um controlo 
excessivo sobre tudo o que o adolescente faz. 
Esta visão tradicional da adolescência tem sido seriamente posta em causa por alguns 
escritores modernos que pretendem que a turbulência deste período não é de forma alguma 
inevitável. Se existe ou não perturbação emocional acentuada, depende da forma como a 
cultura lida com a transição. 
Parece que a adolescência não é necessariamente um período de perturbação. Mas 
mesmo assim coloca problemas sérios na medida em que o adolescente, segundo Blos “ é um 
conjunto de transformações psicológicas de adaptação à puberdade”, ele tem de se preparar 
para se tornar um indivíduo autónomo por direito próprio, pois esta etapa é para além de ter 
denominadores comuns é específica para cada indivíduo. Alguns escritores têm tentado 
compreender alguns padrões característicos do comportamento dos adolescentes, à luz deste 
objectivo final. 
Estabelecimento de um mundo à parte: ao contrário das aves já cobertas de penas, os 
adolescentes, na nossa sociedade, permanecem no ninho bastante tempo depois de 
conseguirem voar ou, talvez mais precisamente, depois de terem a “carta de condução”. Isto 
torna, talvez, ainda mais importante para eles estabelecerem alguns elementos de separação 
entre si e o mundo dos pais. Como meio para distinguir este fim, muitos adolescentes adoptam 
todo o tipo de ornamentos que estão na moda, como gostos singulares por passos de dança, 
roupa e linhagem. Estes mudam frequentemente, com desconcertante rapidez, à medida que o 
capricho adolescente de ontem se difunde no mundo social mais vasto e se torna a moda 
adulta de hoje, como se depreende dos estilos de penteados masculinos. Quando isso 
acontece, surgem novas modas adolescentes para manter a diferença. (Douvan e Adelson, 
1958). 
A crise da identidade da adolescência: Segundo Erikson, a separação da esfera adulta 
é apenas uma das manifestações do que os adolescentes estão realmente a querer atingir. O 
seu principal objectivo, ao longo deste período, é o de descobrir quem e o que realmente são, à 
medida que atravessam o que ele chama de “crise de identidade”; “com adolescência ocorre a 
separação activa em relação ao espaço familiar, através de uma rejeição dos objectos 
parentais” (Blos, 1962)- ex. sentimento de vergonha quando os pais telefonam, ou se mostram 
disponíveis. 
Na nossa complexa cultura existem muitos papéis sociais e a adolescência é uma 
época para os experimentar, para ver qual se adapta melhor: que vocação, que ideologia, que 
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grupo. A principal questão do adolescente é “quem sou eu?” e, para responder, assume uma 
série de atitudes, em parte em benefício dos outros, que servem depois como espelho em que 
ele se pode ver a si próprio. Estes “outros” são o seus grupo de pares onde o adolescente 
procura semelhanças e ao conseguir individualizar-se ganha a sua personalidade, o seu “self”, 
é no grupo que adquire uma pseudoidentidade transitiva. Cada papel, cada relação humana, 
cada visão do mundo é primeiro adoptada temporariamente, em termos de tudo-ou-nada, sem 
lugar para o compromisso. Cada uma é ao princípio um fato, quando o adolescente acha que 
um lhe fica bem, este torna-se a roupa da sua identidade adulta. A maior parte dos 
adolescentes acaba por ser bem sucedida, mas o processo de procura da identidade tem as 
suas dificuldades. 
 
DesconhecidoDesconhecidoDesconhecidoDesconhecido 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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FamíliaFamíliaFamíliaFamília 
 
Cada um de nos tem uma família. A ciência estuda a família na sua multiplicidade de 
conceitos próprios a cada disciplina e no intercruzamento da multidisciplinaridade. 
Todos sabemos o que é a família, como funciona, quais os seus principais defeitos e 
competências. Particularmente no que diz respeito á nossa família. No entanto, o sentimento e 
o conhecimento fazem-nos encarar a família como um emaranhado de noções, questões e até 
mesmo de contradições e paradoxos. 
A família é considerada por muitos autores como um sistema, um todo, uma 
globalidade que só nessa perspectiva holistica pode ser correctamente compreendida. Para 
José Gameiro (1992), “a família é uma rede complexa de relações e emoções que não são 
passiveis de ser pensadas com os instrumentos criados para o estudo dos indivíduos 
estudados isoladamente (...). A simples descrição de uma família não serve para transmitir a 
riqueza e a complexidade relacional deste estrutura”. No contexto reconhecemos uma 
concepção sistémica da família, a sua unicidade e segundo Minuchin, uma complexidade que 
provoca o reconhecimento de pertença e um sentimento de identidade familiar. Já Carl 
Whitaker (1981) considera que uma família saudável é designada como “um conjunto 
integrado, não demasiado em fusão, que não permita a individualização, nem demasiado 
disperso , que leve á sensação de isolamento”. 
As etapas para a formação do casal baseiam-se na diferenciação de cada um dos 
elementos em relação á família de origem, transmitindo regras, atitudes e comportamentos da 
família de origem para a família nuclear. A este processo de influências designamos de 
reconstrução ou criação. É de extrema importância a relação entre a identidade conjugal e a 
capacidade de adaptação a novas situações, acontecimentos da vida normativa e não 
normativa. 
Duvall (1950) apresentou a primeira classificação do estádio de ciclo vital, onde foi 
introduzida a noção de tarefas do desenvolvimento no todo familiar, considerando a presença 
de crianças e a idade de evolução do filho mais velho como critério adequado para a sua 
delimitação. 
Hill e Rodgers, assinalam três critérios de “marcação” dos estádios do ciclo de vida da 
família: alteração do numero de elementos que a compõem; alterações etárias; alterações no 
estatuto ocupacional dos elementos encarregados do sustento/suporte familiar. Estes mesmos 
autores, apresentaram outro esquema, mais abrangente, do ciclo vital da família: jovem casal 
sem filhos; estádio expansivo, em que surge o primeiro filho para constituir a família; estádio 
estável, que corresponde ao período de educação dos filhos, até que o primeiro saia de casa; 
estádio de contracção, que corresponde á altura em que os filhos saem um a um de casa e por 
fim, o estádio pós-parental, em que temos de novo o casal sem filhos. 
Numa perspectiva diferente em termos de concepção global, duração e tipos de 
tarefas, Elizabeth Carter e Mónica McGoldrick descrevem o ciclo de vida da família, a partir do 
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ponto de vista sistémico multigeracional, incluindo os pais dos recém casados como uma 
“ponte genealógica” entre as gerações mais velhas e mais novas. 
Para que a família seja considerada funcional e saudável, tem que se tratar de um 
conjunto integrado, não demasiado em fusão pois não permite a individualização, nem 
demasiado disperso que leve á sensação de isolamento de cada elemento. Tem de haver 
grande liberdade e flexibilidade na escolha de papéis familiares; flexibilidade

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