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Manual de Geotecnia Aplicado Capítulo IV Mario Roberto Barraza Larios Página 34 IV - Estados de Consistência dos Solos 4.1 - Introdução Os solos arenosos são perfeitamente identificáveis por meio de suas curvas granulometricas, isto é, areias ou pedregulhos de iguais curvas granulometricas comportam-se, na pratica, de maneira semelhante. Entretanto, isso não acontece nos solos finos. Definem-se solos finos como aqueles cuja maioria dos grãos têm diâmetro inferior a 0.1 mm. O conhecimento da curva granulometrica de tais solos não é suficiente para prever o seu comportamento. Na pratica podem-se encontrar siltes, argilas e solos argilosos de mesma curva granulometrica cujos comportamentos não sejam semelhantes. Este fato é devido a que, nos solos finos, intervêm, além do tamanho, a própria forma dos seus grãos. A forma dos grãos argilosos depende do sistema em que se cristalizam seus microcristais e, portanto, da espécie de argilo-minerais à que pertencem. Existem solos que quando remoldados, mudando-se o seu teor de umidade se necessário, adotam uma consistência característica que desde a antigüidade tem se chamado de plástica. Investigações posteriores provaram que a plasticidade dos solos se deve ao conteúdo de partículas finas de forma lamelar. Esta forma exerce uma influência muito importante na compressibilidade dos solos, enquanto que o tamanho pequeno das partículas faz com que a permeabilidade do conjunto seja muito baixa. Atterberg verificou que a plasticidade não era uma propriedade permanente das argilas, porem circunstancial e dependente do seu teor de umidade. Uma argila muito seca pode ter a consistência de um tijolo, com plasticidade nula, e esta mesma argila com um teor de umidade elevado pode ter as propriedades de uma lama semilíquida ou inclusive as de uma suspensão liquida. Entre ambos os extremos existe um intervalo do teor de umidade no qual a argila se comporta plasticamente. Segundo seu teor de umidade em ordem decrescente, um solo susceptível de ser plástico pode estar em qualquer dos seguintes estados de consistência definidos por Atterberg. 1- Estado Líquido, com propriedades e aparência de uma suspensão. Manual de Geotecnia Aplicado Capítulo IV Mario Roberto Barraza Larios Página 35 2- Estado Semilíquido, com propriedades de um fluido viscoso. 3- Estado Plástico, no qual o solo se comporta plasticamente. 4- Estado Semi-Sólido, no qual tem a aparência de um solido, porem ainda diminui de tamanho após secagem. 5- Estado Sólido, no qual o volume não varia com a secagem. 4.2 - Limites de Consistência Esses limites permitem avaliar a plasticidade dos solos. Esta propriedade dos solos argilosos consiste na maior ou menor capacidade de serem eles moldados sem variação de volume, sob certas condições de umidade. Entre os ensaios de rotina, objetivando a caracterização de um solo segundo sua plasticidade, estão a determinação do Limite de Liquidez e a do Limite de Plasticidade. Quando a umidade de um solo é muito grande, ele se apresenta como um fluido denso e se diz no estado líquido.A seguir, à medida que se evapora a água, ele se endurece, passando do estado líquido para o estado plástico. A umidade correspondente ao limite entre os estados líquido e plástico é denominada limite de liquidez. Ao continuar a perda de umidade, o estado plástico desaparece, passando o solo para o estado semi-sólido. Neste ponto, a amostra de solo se desagrega ao ser trabalhado. A umidade correspondente ao limite entre os estados plásticos e semi-sólido é denominada limite de plasticidade. Continuando a secagem, ocorre a passagem para o estado sólido. O limite entre esses dois últimos estados é denominado limite de contração. Resumidamente podemos afirmar: A fronteira convencional entre os estados semilíquido e plástico foi chamada por Atterberg de Limite de Liquidez (LL). A fronteira convencional entre os estados plásticos e semi-sólidos foi chamada de Limite Plástico (LP).. A diferença numérica entre o limite de liquidez (LL) e o limite de plasticidade (LP) fornece o índice de plasticidade (IP) IP = LL - LP Este índice define a zona em que o terreno se acha no estado plástico e, por ser máximo para as argilas e mínimo para as areias, fornece um valioso critério para se avaliar o caráter argiloso de um solo. Quanto maior o IP, tanto mais plástico será o solo. O índice de plasticidade é função da quantidade de argila presente no solo, enquanto o limite de liquidez e o limite de plasticidade são funções da quantidade e do tipo de Manual de Geotecnia Aplicado Capítulo IV Mario Roberto Barraza Larios Página 36 argila. Quando um material não tem plasticidade (areia, por exemplo), escreve-se IP = NP (não plástico). 4.3 - Ensaios de Determinação dos Límites de Consistência 4.3.1 - Limite de Liquidez 4.3.1.1 Aparelhagem - Aparelho e cinzel de Casagrande - Balança - Estufa - Capsulas de porcelana e alumínio - Espátulas e água destilada - Placa de vidro esmerilhada 4.3.1.2 Procedimento 1 - O ensaio devera ser realizado com material que passa na peneira #40. Este material não devera ter sido secado em estufa ou a luz solar direta, de preferência trabalhar com o solo com o teor de umidade de campo. 2 - Obtida a amostra esta devera se destorroada, homogeneizada e quarteada. 3 - O solos deve ser preparado anteriormente no mínimo 12 horas para isto coloca-se aproximadamente 100 g de solo em uma capsula de porcelana e adiciona- se água destilada suficiente de forma que o solo fique saturado, logo é levado à camera úmida e deixa-se repousar ate o momento da realização do ensaio. 4 - Transfere-se parte desta mistura para uma placa de vidro homogeneizando-a e a seguir levasse à concha de Casagrande, alisando-se a superfície com a espátula. Deve-se obter uma camada de 12 mm de espessura e esta pasta deve cobrir 2/3 da concha de Casagrande. 5 - Com o cinzel adequado (função do tipo de solo), abre-se uma ranhura ao longo do plano de simetria do aparelho. 6 - Coloca-se a concha no aparelho de Casagrande e gira-se a manivela a aproximadamente 2 revoluções por segundo e contam-se o numero de golpes da concha na base necessários para que a ranhura se una em uma extensão de 10 mm ao longo do eixo de simetria. Manual de Geotecnia Aplicado Capítulo IV Mario Roberto Barraza LariosPágina 37 7 - Retira-se cerca de 15 g, de solo junto às bordas que se uniram e determina- se então o teor de umidade obtendo-se assim o par de dados teor de umidade e golpes. 8 - O solo restante na concha é juntado ao outro na placa de vidro e a partir dai repete-se os passos 4 a 8 ate obter-se 5 pares de dados tendo 2 com golpes acima de 25 outros 2 com golpes abaixo de 25 e um próximo de 25 golpes. 9 - Estes pares de dados são plotados num papel semilog e então é determinado o valor do Limite de Liquidez que é o teor de umidade correspondente a 25 golpes do aparelho de Casagrande. 4.3.2 - Limite de Plasticidade 4.3.2.1 Aparelhagem - Placa de vidro esmerilhada - Cilindro comparador com = 3 mm. - Balança - Estufa - Capsulas de porcelana e alumínio - Espátulas 4.3.2.2 Procedimento 1 - O ensaio devera ser realizado com material que passa na peneira #40. Este material não devera ter sido secado em estufa ou a luz solar direta, de preferência trabalhar com o solo com o teor de umidade de campo. 2 - Obtida a amostra esta devera se destorroada, homogeneizada e quarteada. 3 - O solo deve ser preparado anteriormente no mínimo 12 horas para isto coloca-se aproximadamente 100 g de solo em uma capsula de porcelana e adiciona- se água destilada suficiente de forma que o solo fique saturado logo e levado à camera úmida e deixa-se repousar ate o momento da realização do ensaio. 4 - Transfere-se parte desta mistura para uma placa de vidro homogeneizando-a e a seguir tenta-se fazer rolinhos com a palma da mão. 5 - Interrompe-se o ensaio quando o bastonete moldado atingir o diâmetro de 3 mm e apresentar fissuras ao mesmo tempo. 6 - Coloca-se o trecho fissurado do bastonete em uma capsula de alumínio e determina-se o seu teor de umidade. Manual de Geotecnia Aplicado Capítulo IV Mario Roberto Barraza Larios Página 38 7 - repete-se os itens 4 a 6 ate se obter no mínimo 5 determinações do teor de umidade. 8 - O valor do limite de plasticidade será a media aritmética dos 5 valores obtidos, observando-se que estes valores não difiram da respectiva média de mais de 5%. 4.3.3 - Limite de Contração A fronteira convencional entre os estados semisólido e o sólido é denominada de Limite de Contração (LC). Segundo Bueno & Villar (1980), a observação de que a maioria dos solos não apresenta redução de volume, quando submetidos a secagem abaixo deste limite, permite que determinemos este mediante medida da massa e do volume de uma amostra de solo completamente seca. Quando tal ocorre, o limite de contração corresponde ao teor de umidade, que satura os vazios do solo. A figura a seguir esquematiza a determinação deste limite. Figura XX - Obtenção do LC à partir de uma amostra completamente seca. Fonte: Bueno & Vilar, 1980 O limite de contração é calculado pela seguinte expressão: LC = sMs Vf w 1 Se o peso específico dos sólidos não é conhecido, o limite de contração pode ser determinado pela expressão: 𝐿𝐶 = 𝑤𝑜 − 𝛾𝑤. (𝑉𝑜 − 𝑉𝑓) 𝑀𝑠 Onde w0 é o teor de umidade de moldagem do corpo de prova. V1 V2 ar Vf Ms V plástico semi-sólido sólido Vo Mo Vw Vs Ms V Mw V Manual de Geotecnia Aplicado Capítulo IV Mario Roberto Barraza Larios Página 39 Indice de Consistencia Classificação proposta para as argilas saturadas conforme segue: Muito moles IC < 0 Moles 0 < IC < 0,50 Médias 0,50 < IC < 0,75 Rijas 0,75 < IC < 1,00 Duras IC > 1,00 O índice de consistência é a relação entre a diferença do limite de liquidez para umidade natural e o índice de plasticidade. Qualitativamente, cada um dos tipos pode ser identificado do seguinte modo: Muito moles: as argilas que escorrem com facilidade entre os dedos, se apertadas nas mãos; Moles: as que são facilmente moldadas pelos dedos; Médias: as que podem ser moldadas pelos dedos; Rijas: as que requerem grande esforço para serem moldadas pelos dedos; Duras: as que não podem ser moldadas pelos dedos e que, ao serem submetidas o grande esforço, desagregam-se ou perdem sua estrutura original. 4.4 Exercícios Propostos 1) Uma amostra de argila cujo é 2,80 t/m3 , apresenta no LL uma massa de 120g e volume de 75 cm3. Tomou-se uma amostra da mesma argila, num teor de umidade correspondente àquele dos 10 golpes do ensaio de limite de liquidez. Este teor pode ser expressão como W = LL + 10 %. Neste estado moldou-se um corpo de prova de mesmo volume, que depois de seco apresentou um volume de 50 cm3 . Qual o valor do limite de contração desta argila? Resposta: LC = 42.4 % 2) Calcular o índice de plasticidade de uma argila que apresenta os seguintes índices físicos: a) no LL: = 1,78 t/m3 ; s = 2,70 t/m3 . b) no LP: = 1,85 t/m3 ; Manual de Geotecnia Aplicado Capítulo IV Mario Roberto Barraza Larios Página 40 s = 2,70 t/m3 . Resposta: IP = 6.7 % a) esquema do solo saturado a) esquema do solo saturado no LL No LL tem-se = 3/78,1 70,21 70,270,2 cmg w w Encontre w e você tem o LL LL = 0,4368 = 43,68 % No LP tem-se = 3/85,1 70,21 70,270,2 cmg w w Encontre w e você tem o LP LP = 0,3704 = 37,04 % Finalmente o IP = LL – LP = 43,68 – 37,04 = 6,64 % W . s s 1 W . s 1 + W . s á gua s ólidos s + w . s 2,70w 1 2,70 w 1 + 2,70 w água sólido s + 2,70w Manual de Geotecnia Aplicado Capítulo IV Mario Roberto Barraza Larios Página 41 3) Para o solo abaixo calcule os Índices Físicos e os Límites de Atterberg : Dados : - Diâmetro médio do corpo de prova = 3,56 cm - Altura media do corpo de prova = 10,00 cm - Massa do solo úmido = 184,15 g - teor de umidade: Capsula no. 1 2 3 Tara (g) 12,01 12,03 12,04 Massa úmida (g) 37,58 39,25 41,38 Massa seca (g) 32,46 33,81 35,51 - s: (Massa Específica dos Sólidos) Balão volumétricode 500 ml, ensaio a 20o C. Massa do balão seco = 183,04 g Massa do balão + solo + água = 727,398 g Massa de solo úmido 87,51 g - Limite de Liquidez: no. de golpes teor de umidade 34 30,00 % 30 32,65 % 24 36,70 % 20 39,32 % 18 40,67 % - Limite de Plasticidade: Teor de umidade do bastonete que se rompe com de 3 mm. w1 = 18,00 % w2 = 18,06 % w3 = 17,20 % w4 = 17,94 % w5 = 18,18 % 4) Qual a importância em se determinar os limites de consistência de um solo? Manual de Geotecnia Aplicado Capítulo IV Mario Roberto Barraza Larios Página 42 5) Qual o significado físico do LL, LP, LC e como são determinados em laboratório? 6) Que aspectos do comportamento dos solos podem ser obtidos a partir do conhecimento do IP e do IC. 7) Um solo apresenta LP = 10%, IP = 15% e d = 1,75 t/m3. Determinar a quantidade de água que 1 tonelada deste solo absorve ao passar do estado plástico para o liquido. Resposta: 136 litros 8) Classificar uma argila, quanto à consistência, sabendo-se que no estado natural ela possui um teor de umidade de 48 % e que no LL sua massa especifica, é 1,60 t/m3 e no LP, = 1,80 t/m3 . Resposta: Ic = 0.85 (argila plástica rija) 9) Calcular o Índice de Plasticidade de uma amostra de argila (s = 2,87 g/cm3 ), sabendo-se que no limite de liquidez apresenta = 1,73 g/cm3 e no limite de plasticidade = 1,87 g/cm3 . Resposta: IP = 14 % 10) Montar um gráfico que mostre a variação do índice de vazios com o teor de umidade para s = 2,67 g/cm3 e Sr = 100%. Interpretar o gráfico imaginando que os valores de teor de umidade podem ser limites de liquidez de vários solos. 11) Um ceramista, conhecedor de Mecânica dos Solos, sabe que certa argila, quando esta com o teor de umidade LP + 5% é moldavel e quando no teor LC + 2% pode ser levada ao formo para a queima. Neste teor ela perde 30% da porosidade inicial de moldagem. Como ele pretende fazer tijolos, deseja saber qual o volume da forma a ser utilizada na moldagem para que na umidade de queima o tijolo tenha dimensões de 7 x 10 x 22 cm e massa de 2.464,00 g. Resposta: Vforma = 8270 cm3 . Manual de Geotecnia Aplicado Capítulo IV Mario Roberto Barraza Larios Página 43 12) De que maneira o argilo-mineral presente numa amostra de solo influi na sua plasticidade. 13) A tabela a seguir apresenta varias propriedades índices de três solos de uma dada região. Faca uma analise comparativa dos resultados abordando o provável comportamento desses solos quanto a permeabilidade, compressibilidade e plasticidade. solos LL IP Cu D10 e A - - 2 0,30 1,70 B 40 20 12 0,003 1,50 C 35 25 5 0.004 0,80
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