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RestauraçãodeMatasCiliares- '~Iguns AspectosEcológicosImportantesquedevemser consideradosna RestauraçãodeMatasCiliares" (capítulo3) Cursos Restauraçõo dematas ciliares Senanaturezaespécieseecossiste- masfluemno tempo,é precisoman- teressefluxopermitindoa existência dehabitatseespécies,edasinterações resultantesda presençadeambos.Se considerarmosimportanterecriarha- bitats,comunidadese ecossistemas, comoestratégiasimportantesparaa preservaçãodasespéciesnativas,então éprecisousaro conhecimentocientí- ficojá disponível,astécnicasagronô- micase silviculturaisjá elaboradas,a disposiçãoda sociedadeem realizar essestrabalhoseosrecursoseconômi- cosnecessários,a fim dequesepossa tersucessonessaempreitada. Os conhecimentosecológicosela- boradosnocursodemaisdeumsécu- lo são,umaherançaquenospermite organizarnossopensamentoe partir paraessetrabalhode construçãoou reconstruçãoecológicade maneira maisorganizadae eventualmenteob- terresultadosmaiseficazes. A restauraçãode umamataciliar seiniciacomumenteatravésdaintro- duçãodeárvores,oudofavorecimento do desenvolvimentodeárvoresquejá estejampresentesnaáreadegradada,e levamà gradualformaçãodeumafi- sionomiaflorestal,um dosprimeiros passosparaa criaçãoou re-criaçãode umaflorestapermanentenesselocal, SergiusGondoln1 Ricardo Ribeiro Rodrigues2 riaà perpetuaçãodaflorestalocal.Na realidade,muitosprocessosecológicos fundamentaisparaaexistênciadeuma comunidadeflorestalpermanentede- pendemdeinteraçõesentreindivíduos damesmaespécie(reproduçãosexual) ou dediferentesespécies(p.ex.,poli- nização,dispersão,competição,etc.), resultandodaí quea restauraçãonão consisteapenasnarecriaçãodehabi- tats favoráveisàs espéciesarbóreas. Faz-senecessáriotambémquedurante o processoderestauraçãoocorratanto a desconstrução,quantoa construção de populaçõesde espéciesvegetais, animaisedemicrorganismos,eades- construçãoeaconstruçãodeinterações intraeinterespecíficas. Essesentidodeumagradualtrans- formação,essencialmentecomplexae histórica,emqueasespéciessãoofoco centraldosprocessosemcurso,deve estarsempreem menteno planeja- mentodeprojetosderestauração. Cadaespécievegetalpresentenuma florestafornecealimentosparaosani- mais, potencialmentecompetecom outrasespéciespelosrecursosdispo- níveis,e,alémdisso,sofreedetermina alteraçõesnoambiente. As árvorescomooutrosorganis- mos vivos, pelasuapresençae de- senvolvimento,agemsobreo meio como "engenheirasfísicasdo ecos- sistema"causandomudançasfísicas noscomponentesabióticoebiótico da floresta(Lawton & Jones 1995, JonesetaI. 1997) Numafloresta,sobretudoemfun- çãodeseugrandeporteepersistência temporal,asárvoresdo dosselcriam, modificamou mantémas condições ambientaissobresi e conseqüente- mentecontrolamadisponibilidadede recursosparaoutrosorganismos,ou seja,criam,mantémoualterammicro- habitatsfavorecendooudesfavorecen- algoquesepoderiadenominarde"ca- poerização".Esseprocessoviaderegra nãoserealizanumvazio,ondeoutras espéciesvegetaisnãoexistem,aocon- trárioécomumquesedesenvolvaem áreasocupadaspor plantasherbáce- as,emgeralgramíneasquedominam a áreaaserrestaurada.Portanto,esse primeiropasso,aparentementesimples encobrea ocorrênciade fenômenos maiscomplexos,quepodemsersin- tetizadosda seguinteforma.Durante essa"capoerização"da áreadegrada- da,eaolongodoprocessodesucessão florestalque deveaí se desenvolver, haverásimultaneamenteprocessosde desconstruçãodehabitats,detalforma quedeterminadasespéciesnãodispo- nhammaisdecondiçõesparasobrevi- ver(p.ex.,gramíneas),edeconstrução de habitats,permitindoque outras espéciespossamagorase estabelecer (p.ex.,árvores). Todavia,umaflorestanão é uma simplescoleçãode árvoresde dife- rentesespéciesvivendocadaqualiso- ladamentenumlocalemquetoleram ascondiçõesabióticasexistentes(seu habitat).E também,cadaindivíduo arbóreodeumadadaespécieperten- centea florestastropicaise subtropi- cais,emgeral,nãopodesozinhodeixar novosdescendentes,condiçãonecessá- M M__.._..__.___.._.__._...________.._.__.._____._.___.._.__ I DepartamentodeCiênciasBiológicas-EscolaSuperiordeAgricultura"LuizdeQueiroz",UniversidadedeSão Paulo -Caixa Postal: 9 -CEP: 13418-900, Piracicaba, São Paulo. sgandolf@esalq.usp.br , DepartamentodeCiênciasBiológicas-EscolaSuperiordeAgricultura"Luiz deQueiroz", UniversidadedeSão Paulo -Caixa Postal: 9 -CEP: 13418-900, Piracicaba, São Paulo. rrr@esalq.usp.br doa presençadeoutrasespéciesjunto si.(Gandolfietai.2007) Diferentesespéciesarbóreas,por exemplo,absorvem,armazename re- tomamao solonutrientes,ou outros elementosquímicos,em diferentes proporções(Montagnini2001;Car- nevale& Montagnini2002),podendo essepotencialde melhoriade solos degradadosser exploradoe maneja- do,poiso efeitomaiorou menorem certascaracterísticasdo solo poderá serobtidodependendodoconjuntode espéciesempregadoedasabundâncias empregadasdecadaumadelas. Note-seaquiqueumarecuperação parcialdafertilidadedosolotantopo- deriaserobtidadiretamenteatravésde umaadubaçãodosolo,comopoderia resultarda introduçãoplanejadade determinadasespéciesarbóreas.No entanto,nãoapenasessepotencialem relaçãoaosoloea capacidadedases- péciesarbóreasem fornecerdiferem recursosalimentaresdevemserexplo- radosnosprojetosderestauração. O conceitodasespéciescomo"en- genheirasfísicasdosecossistemas"nos permitepensarnaintroduçãodeespé- ciescomoumaferramentaparao au- mentoe/oudiversificaçãodehabitats, quefavoreçamamanutençãoouo in- gressodenovasespéciesnacomunida- de,o quetambémacontecequandoda chegadaespontâneadeespéciesnuma árearestaurada. Assim,a própriabiodiversidadeé uma ferramentade restauraçãoque podesermelhorcompreendidaeusa- da, principalmentese pudermosor- ganizare usarasinformaçõessobrea biologiadasespéciesquecompõema florestaquesequerrecompor,essain- formaçãopodelevaràcriaçãodemo- delosquecombinem,no espaçoe no tempo,espéciescomdiferentesatribu- tosbiológicosdesejáveis. Cursos Restauração dematas ciliares ~ AI - Cursos Restauração demotos ciliares Emboraa formaçãoea manuten- çãodeumacomunidadebiológicarica emespéciesnãosejamfenÔmenosto- talmentecompreendidos,poismuitos processosecológicosse articulame complementam,emescalasespaciaise temporaismuitodiversas,algunsdes- sesprocessosecológicosfundamentais paraa manutençãodasflorestastro- picaise subtropicaispodemservirde ferramentasparaamanipulação,o de- sencadeamento,emanutençãodepro- jetosderestauraçãodematascHiares. No entanto,quandose pensana restauraçãodematascHiaresépreciso lembrarqueelasnãosãoumaunidade fitogeográfica,e sim florestasribeiri- nhasquepodempertenceradiferentes formaçõesflorestais.(Rodrigues&Lei- tãoFilho,2004)Issosignificadizerque na margemde um rio podemos,por exemplo,encontrarumbarrancoalto recobertoporumCerradão,enumou- trotrechodo mesmorio umbarranco baixorecobertoporumaMatadeBre- jo,e,portantomuitosprocessosecoló- gicosquesequermanipularpoderão diferir significativamentede acordo com trechodegradadoe a formação florestalquesepretendaalirestaurar. A existênciapermanentede uma florestadependede muitosprocessos tais como a reproduçãovegetativa, a polinização,o bancode sementes, a germinação,etc.,que permitemo surgimentode novosindivíduosdas populaçõesvegetaisflorestaisjá pre- sentes,que terãode se desenvolver parapoderemsubstituircomo tempo osindivíduosadultosqueirãomorrer. Masumacomunidadeflorestalemfor- maçãonãosurgejá comsuacomposi- çãoflorísticacompleta,eemmaiorou menorproporção,elairárecebernovos indivíduoseespéciesvindosdeoutros ecossistemas,esendoassim,tambéma dispersãoentrecomunidadestendea serum fenômenomuito importante. (p.ex.Capítulo2) Mas há aindamuitosoutrospro- cessosecológicosquedevemsercon- sideradosnodesenvolvimentodeuma comunidade,taiscomoaherbivoria,a predação,acompetiçãoeascondições ambientaisestressantesquepodemin- terferiraoreduzira sobrevivênciae o desenvolvimentodeindivíduoseespé-ciespresentesou ingressantes. Umaanálisemaisapressadapode- riaentãosugerirqueamanutençãoe evoluçãodascomunidadesseriaum fenômenosimplesbaseadoapenasno ingresso,saídae ou reposiçãode in- divíduose espécies;o quetornariaa restauraçãoflorestaldeáreasdegrada- dasumaatividadebastanteprevisível. No entanto,o surgimento,o desapa- recimentoou a manutençãode po- pulaçõesdependede muitosfatores, processose interaçõesque não são totalmenteprevisíveisesão,portanto difíceisdereproduzir. Some-sea issoum outrocompo- nentefundamentalqueatuasobrea evoluçãode todae qualquercomu- nidade,a ocorrênciade distúrbios naturais,comoenchentes,secasinco- muns,geadasseveras,etc.,ou distúr- bios antrópicoscomoasqueimadas, a poluiçãoquímicado solo,oscortes seletivosde esp~ciesarbóreas,etc., que,atuandode formaimprevisível, podemalterarprofundamentea fi- sionomia,estrutura,a composiçãoe a dinâmica,tantode umavegetação naturalcomodeumacomunidadeem restauração(Pickett&White 1985). Essauniversalidadedapresençade distúrbiosnaturaisé um dos fatores quefazemcomqueascomunidades naturaissejamoresultadodeumahis- tóricaúnica,cujacomposiçãoeestru- turanãopodeserprevistaapartirdas característicasdacomunidadequeini- cialmenteseinstalounumadadaárea. Essefato,quetambémincidesobreas áreasem restauração,fazcomquea restauraçãoecológicadeumafloresta seja apenasparcialmentecontrolada pelaaçãodo restaurador.Por outro lado, isso sugerequemuitaatenção deveserdadaaospossíveisimpactos oriundosdosecossistemascircundan- tesaáreaemrestauração,umaspecto aserincorporadonoplanejamentoda restauração,poisosdistúrbiosexistem econtinuarãoexistindo,eempartede- terminarãoascaracterísticasdavege- taçãoqueali iráexistir. A sucessãoecológicapode ser descritade formamuitosimplificada como um processoatravésdo qual, comopassardotempo,umavegetação, ou comunidadevegetal,presentenum dadolocal,vaiprogressivamentesendo substituídapor outrascomunidades. Porissoeleéoconceitoorientador dos projetosderestauraçãoecológica,uma vezquepretendemosqueumaáreade- gradadamudeno sentidodeumave- getaçãodesejada. Portantoa visãocientificaquese temdo processosucessionalsempre foi importante,poiseladeterminou, emgrandemedida,asexpectativaseas definiçõesdemétodosempregadosna restauraçãodeáreasdegradadas. Durantemuitotempoacreditou- sequeesseprocessodemudançada vegetaçãotivessesentidounidirecio- nal obrigatório,e convergissepara umacomunidaderelativamenteestá- vel (comunidadeclímax)(Clements 1916),Isso serefletiunos objetivos deumarestauração,poissebuscava fazeruma restauraçãoque atingis- se,no futuro, a estruturae compo- siçãoda comunidadeclímaxquese acreditavaexistiana regiãoem que a restauraçãoestavasendofeita(Ro- drigues& Gandolfi2001). Cursos Entre as práticasrelacionadasa essaperspectiva,eutilizadaspormui- tosanos,estavamousode parâmetros quantitativos,provenientesde levan- tamentosfitossociológicos,como re- ferênciasdasdensidadesqueespécies arbóreasclímaxdeveriamapresentar naárearestaurada,eaadoçãodeplan- tiosdemudascomoformadeseobter essasdensidadesdesejadasnocampo. Todavia,visõesmaisrealistasdo processosucessionalganharamespaço nosúltimosanos,eaexistênciadeum processosucessionalprevisível,unidi- recional,econvergenteparaumúnico clímaxcedeuespaçoparaumavisãode queesseprocessopodesedesenvolver atravésde ~últiplastrajetórias,não previsíveis,e não convergentespara umaúnicacomunidadefinal(Pickett & Cadenasso2005). Essanovavisão,emqueo processo sucessionaldependedemuitoseventos quesãoestocásticos,comoosdistúr- biose a chegadade novasespécies,e queesseseventospodemseencadear no tempodemaneiranão pré-deter- minada,nãolevandoaumclímaxcom estruturae composiçãoprevisíveis. permitiupensararestauraçãodeáreas degradadasemnovasbases,ondeplall tiosnãoprecisassemmaisseradolados comoprincipalaçãoderestauração. Deespecialinteresse,paraa resl.1I1 raçãodeáreasdegradadas,foi() S\IIW mentodenumavisãohierárquicasohl' ascausasdasucessão,quesllgcrl''111< trêscausasdeveriamsergaralllida~1'.11,. permitira existênciae contillua,.ICI.t. umasucessãonumdadolocal:adl\l''' nibilidadediferencialdesitios.1111'1"" . disponibilidadediferenciald,'l"I~tI. e queessasapresentemdesclIIllI'ul.. ecológicosdistintoslia COlllllllhl"l. (Pickett&Cadenasso2UOS) Dispondohoje de 11111I1>1.'", distintasquepodemdCSClIl,ulf.'...i Restauração dematos ciliares f<estouroçõo de motos ciliores tauraçãodeáreasdegradadas,pode-se agoradefiniraadoçãodeumou mais açõescombaseno diagnósticodo es- tadodedegradaçãodaáreadegradada, no potencialde regeneraçãoque ela aindapoderter,eno potencialdedis- persãodoseuentorno. Hoje a adoçãode umacomposi- ção florísticae umaestruturafitos- sociológicapadronizadascomo um modelo único para a restauração de diferentesáreasvai diretamente contrao queseobservana sucessão e nadinâmicadascomunidadesflo- ,restaistropicaisesubtropicais. Podemos acrescentarao final dessebreve resumo,que no está- gio atual da restauraçãoflorestal no Brasil, algunsdos fundamentos empregadosão:o usodeespéciesda flora regionalda formaçãoflorestal desejada,oreconhecimentodopapel dasdiferentesespéciesarbustivo-ar- bóreas na criação microhabitatas, no fornecimentode alimentose no estabelecimentode interações de competiçãoe/ou facilitação,o reco- nhecimentoda importânciaem se garantiro funcionamentode todos osprocessosecológicosbásicos,tais como polinização,dispersão,etc., que garantama perpetuaçãodas populaçõese da comunidade,e o reconhecimentode que a sucessão ecológicaéo grandeconceitoorien- tadordarestauração. 644 Referências bibliográficas Carnevale,N.T.&Montagnini,F. 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"T', I I I Editoração PercepçãoDesign Revisão VeraSevero CTP,ImpressãoeAcabamento ImprensaOficialdoEstadodeSãoPaulo FichaCatalográficaelaboradapela SeçãodeBibliotecado InstitutodeBotânica Barbosa,L.M.; SantosJunior, N.A. dos,orgs.B238a A botânicano Brasil:pesquisa,ensinoepolíticaspúblicas ambientais/ Luiz MauroBarbosa;NelsonAugustodosSantos Junior -- SãoPaulo,SociedadeBotânicado Brasil,2007. 680p. rSBN978-85-60428-01-4 I . Botânica.2.MeioAmbiente.I. Título CDU 58