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0 TEORIAS PEDAGÓGICAS 1 LUDIMILIA MARIA CALADO ALEXANDRINO ÁGUA BRANCA-PI 2017 Fonte: https://southshorerealtors.com/library-of-documents/ 2 Diretor Geral Eloan Coimbra Lima Diretora Acadêmica Eloane Coimbra Lima Secretária Acadêmica Ginoã das Graças Coimbra Lima Coordenação do Curso Cleidinalva Maria Barbosa Oliveira Coordenação do Nead Tiago Soares da Silva ALEXANDRINO, Ludimilia Maria Calado. Teorias Pedagógicas. 1ª ed. Água Branca; ISEPRO – Cursos de Graduação. 88p. Bibliografia 1. Pedagogia 2. Educação 3. Título. Ficha Catalográfica Todos os direitos em relação ao design deste material são reservados à ISEPRO. Todos os direitos quanto ao conteúdo deste material são reservados ao autor. Todos os direitos de Copyright deste material didático são à ISEPRO. 3 09 10 12 13 13 16 18 19 19 26 28 29 35 37 38 39 42 44 46 48 50 52 54 61 Apresentação do curso ..................................................................... 06 Apresentação da disciplina................................................. 05 06 08 UNIDADE 03 TEÓRICOS DA EDUCAÇÃO 3. Pensadores............................................................................................... 3.1 Principais Paradigmas Sócio-Educativos............................................... ATIVIDADE................................................................................................... FÓRUM........................................................................................................ 21 36 UNIDADE 01 CONSIDERAÇÕES EM TORNO DO ATO DE ESTUDAR 1 Introdução................................................................................................. 1.2 Teorias Educacionais Brasileiras........................................................... ATIVIDADE............................................................................................................ FÓRUM................................................................................................................. 09 12 20 20 UNIDADE 02 FILOSOFIA E FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO 2. Introdução................................................................................................... 2. 1 Educação e Trabalho: a contribuição de Marx, Engels e Gramsci à Filosofia da Educação..................................................................................... ATIVIDADE...................................................................................................... FÓRUM........................................................................................................... 22 26 35 35 37 40 42 42 08 4 UNIDADE 06 CRÍTICAS À ESCOLA 6. Introdução............................................................................................. ATIVIDADE.................................................................................................. FÓRUM....................................................................................................... REFERENCIAS........................................................................................... 43 56 74 UNIDADE 04 AS TEORIAS EDUCACIONAIS NA MODERNIDADE E NO MUNDO CONTEMPORÂNEO: HUMANISMO E SOCIEDADE DO TRABALHO 4. Introdução.................................................................................................. 4.1 Antropologia Filosófica......................................................................... ATIVIDADE................................................................................................ FÓRUM..................................................................................................... 44 51 55 55 UNIDADE 05 PEDAGOGIAS HISTÓRICO-SOCIAIS E OUTRAS TENDÊNCIAS 5. Introdução............................................................................................ 5.1 A Pedagogia nos Séculos XVIII e XIX............................................... ATIVIDADE.............................................................................................. FÓRUM.................................................................................................... 57 65 73 73 75 85 85 88 5 A concretização de um curso superior em Pedagogia na modalidade à distância tem como meta o atendimento às necessidades de toda comunidade quanto ao acesso e atendimento ao um ensino superior de qualidade. Desse modo, propõe-se a importância para o curso de Pedagogia numa perspectiva histórico- cultural, tendo como eixo articulador a interdisciplinaridade e a busca da construção de um currículo integrador. As disciplinas pedagógicas que formulam o currículo foram moldadas para uma sociedade cujo princípio da qualidade torna-se prioridade a partir da relação teoria-prática de um trabalho docente de qualidade que procure satisfazer as necessidades de aprendizagem, enriquecendo as experiências do educando no processo educativo. É dentro desta ideia que o curso de Pedagogia do ISEPRO na modalidade à distância constitui-se de uma base comum formada pelos conhecimentos de ciências humanas aliadas a tecnologia, de uma parte diversificada com uma ampliação dos fundamentos na leitura do fazer pedagógico dentro da escola e da sociedade e uma parte complementar com o objetivo de trabalhar os problemas educativos da realidade educacional em vista a qualificação do professor com novas formas de intervenções como aplicações de ferramentas metodológicas. O ISEPRO tem como recurso didático-educacional o uso de materiais como apostilas/livros, plataformas virtuais, internet, vídeos e principalmente um excelente sistema de acompanhamento à distância através de tutores e monitores. É válido salutar que este curso otimiza sempre seus resultados pelas experiências existentes e atendem a ampla procura de profissionais da área educacional. Os profissionais da área da educação serão orientados a sempre desenvolver a capacidade de intervenção científica e técnica assegurando a reflexão critica permanente sobre sua prática e realidade educacional historicamente contextualizada. O que espera deste docente é sua capacidade de (re) construir seu projeto pessoal e profissional a partir da compreensão da realidade histórica e profissional diante das políticas que direcionam as práticas educativas na sociedade. 6 Atualmente vivemos atrelados às tecnologias para que assim possamos acompanhar a rapidez das informações. E a educação à distância tem trazido expectativas bastante convincentes aos alunos que precisam trabalhar e o tempo é limitado. Essa modalidade de ensino tem facilitado muito a vida das pessoas que não tiveram oportunidade de continuar os estudos. Então, muitos teóricos tem trazido abordagem sobre o estudo acadêmico, principalmente para os estudantes de Pedagogia. Paulo Freire tem alertado que numa visão crítica, as coisas se passam diferentemente. O que estuda se sente desafiado e seu objetivo é a apropriar-se de sua significação profunda. Explica que estudar seriamente um textoé estudar o estudo de quem, estudando o escreveu. Continua ele, é perceber o condicionamento histórico sociológico do conhecimento diz que é buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento. A autora Aranha afirma que o sucesso da ciência e da tecnologia, não justifica a supervalorização da ciência e a exclusão de outros tipos de conhecimento. Que embora rigoroso e eficaz, o conhecimento científico é apenas uma das maneiras de compreensão da realidade. Karl Marx e Friedrich Engels dedicaram-se pouco à questão educacional em seus escritos filosóficos, sociais e econômicos. Sua denúncia ao caráter classista da educação, todavia, representou um marco, um ponto de partida para a reformulação de teorias educacionais baseadas no princípio democrático de igualdade. Apesar de a democratização do ensino básico haver sido transformada em bandeira dos liberais na Revolução Francesa, esse princípio só encontrará respaldo oficial após a Revolução Industrial, como consequência da necessidade de formação de mão-de-obra especializada para as indústrias nascentes. Pensadores de diversas tendências defenderão o princípio, diferindo em seus objetivos. Uma de suas primeiras e principais críticas dirige-se ao embrutecimento e à deformação na manufatura, onde a divisão do trabalho reprime um mundo de 7 instintos e capacidades produtivas. O indivíduo é mutilado e transformado no aparelho automático de um trabalho parcial. Gramsci propõe, no decorrer de sua obra, um princípio educativo baseado nas exigências do industrialismo e das modificações por ele introduzidas na vida social. Os novos rumos apontam para uma formação total do homem, nem presa ao humanismo estéril da escola burguesa nem ao profissionalismo estreito das escolas profissionalizantes, ou seja, coerente com as inovações técnico-científicas do mundo moderno. Outra abordagem conceitual é a de que a educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda não estão maduras para a vida social tendo por objetivo suscitar e desenvolver na criança determinado número de estados físicos, intelectuais e morais que reclamam dele tanto a sociedade política como um todo quanto o meio em que está inserido. No entanto, recusando os determinismos, as tendências contemporâneas descartam as teorias que ora reforçam o individualismo, ora o coletivo, para buscarem, na abordagem dialética da educação, o devido equacionamento dos polos opostos indivíduo- sociedade. 8 UNIDADE 01 Considerações em Torno do Ato de Estudar Fonte: http://webgleu.blogspot.com.br/2012/04/o-educador-paulo-freire.html 9 Teorias Pedagógicas 1. Introdução O autor ressalta que estudar é realmente, um trabalho difícil. Que exige de quem o faz uma postura crítica, sistemática. Também exige uma disciplina intelectual que não se ganha a não ser praticando-a. Comenta, que, precisamente, o que a “educação bancária” não estimula. Diz ele, pelo contrário, sua tônica reside fundamentalmente em matar nos educandos a curiosidade, o espírito investigador, a criatividade. Coloca ainda, que sua “disciplina” é a disciplina para a ingenuidade em face do texto, não para a indispensável criticidade. Ele ressalta que esse procedimento ingênuo ao qual o educando é submetido, ao lado de outros fatores, pode explicar a fuga ao texto, que fazem os estudantes, cuja leitura se torna puramente mecânica, enquanto, pela imaginação, se deslocam para outras situações. Relata que oque lhes pede, afinal, não é a compreensão do conteúdo, mas sua memorização. Também ressalta que em lugar de ser o texto e sua compreensão, o desafio passa a ser memorização do mesmo. Diz que se o estudante consegue fazê-lo terá respondido o desafio. Coloca o autor que numa visão crítica, as coisas se passam diferentemente. O que estuda se sente desafiado pelo texto em sua totalidade e seu objetivo é a apropriar-se de sua significação profunda. Diz que essa postura crítica é fundamental e indispensável ao ato de estudar, requer de quem a ele se dedica: a) Que assuma o papel de sujeito deste ato. Ele explica que isso significa que é impossível um estudo sério se o que estuda se põe em foco do texto como se estivesse magnetizado pela palavra do autor, à qual emprestasse uma força mágica. Coloca que se comporta passivamente, “domesticamente”, procurando apenas memorizar as afirmações do autor. Diz também que se transforma numa “vasilha” que deve ser cheia pelos conteúdos que ele retira do texto para pôr dentro de si mesmo. Explica que estudar seriamente um texto é estudar o estudo de quem, estudando o escreveu. Continua ele, é perceber o condicionamento histórico sociológico do conhecimento diz que é buscar as relações entre o conteúdo em estudo e outras dimensões afins do conhecimento. Ele ressalta que estudar é uma forma de reinventar, de recriar, de reescrever – tarefa de sujeito e não de objeto. Depois afirma que é dessa maneira, não é possível a quem estuda, numa tal perspectiva, alienar-se ao texto, 10 Teorias Pedagógicas renunciando assim à sua atitude crítica em face dele. O autor aborda que a atitude crítica no estudo é a mesma que deve ser tomada diante do mundo, da realidade, da existência. Continua ele, afirmando que uma atitude de adentramento com a qual se vá alcançando a razão de ser dos fatos cada vez mais lucidamente. Ele explica que, um texto estará tão melhor estudado quanto, na medida em que dele se tenha uma visão global, a ele se volte, delimitando suas dimensões parciais. O retorno ao livro para esta delimitação aclara a significação de sua globalidade. Paulo Freire ressalta que ao exercitar o ato de delimitar os núcleos centrais do texto que, em interação, constituem sua unidade, o leitor crítico irá surpreendendo todo um conjunto temático, nem sempre explicitado no índice da obra. A demarcação destes temas, segundo ele, deve atender também ao quadro referencial de interesse do sujeito leitor. Ele chama atenção para que o leitor fique atento ao estar diante de um livro, pois pode ser despertado por um trecho que lhe provoque uma série de reflexões em torno de uma temática que o preocupa e que não é necessariamente a de que trata o livro em apreço. Suspeitada a possível relação entre o trecho lido e sua preocupação, é o caso, então, de fixar-se na análise do texto, buscando o nexo entre seu conteúdo e o objeto de estudo sobre que se encontra trabalhando. Impõe-se lhe uma exigência: analisar o conteúdo do trecho em questão, em sua relação com os precedentes e com os que a ele seguem, evitando assim, trair o pensamento do autor em sua totalidade. Ele afirma que constatada a relação entre o trecho em estudo e sua preocupação, deve separá-lo de seu conjunto, transcrevendo-o em uma ficha com um título que o identifique com o objeto específico de seu estudo. Desse modo expõe ele, que nessas circunstâncias, ora pode deter-se, imediatamente, em reflexões a propósito das possibilidades que o trecho lhe oferece, ora pode seguir a leitura geral do texto, fixando outros trechos que lhe possam aportar novas meditações. Por último o autor aborda que, em última análise, o estudo sério de um livro como de um artigo de revista implica não somente numa penetração crítica em seu conteúdo básico, mas também numa sensibilidade aguda, numa permanente inquietação intelectual, num estado de predisposição à busca. b) Que o ato de estudar, no fundo, é uma atitude em frente ao mundo. Segundo o autor, esta é a razão pela qual o ato de estudar não se reduz à relação leitor-livro,ou leitor-texto. Os livros em verdade refletem o enfrentamento de seus autores fujam da realidade concreta estarão expressando a sua maneira 11 Teorias Pedagógicas deformada de enfrenta-la. Estudar é também e, sobretudo pensar a prática e pensar a prática é a melhor maneira de pensar certo. Desta forma, quem estuda não deve perder nenhuma oportunidade, em suas relações com os outros, com a realidade, para assumir uma postura curiosa: A de quem pergunta, a de quem indaga, a de quem busca. Ele explica que quase sempre, ao se transformarem na incidência da reflexão dos que anotam, estas ideias os remetem a leituras de textos com que podem instrumentar-se para seguir em sua reflexão. c) Que o estudo de um tema específico exige do estudante que se ponha, tanto quanto possível, a par da bibliografia que se refere ao tema ou ao objeto de sua inquietude. d) Que o ato de estudar é assumir uma relação de diálogo com o autor do texto, cuja mediação se encontra nos temas de que ele trata. Esta relação dialógica implica na percepção do condicionamento histórico sociológico e ideológico do autor, nem sempre o mesmo do leitor. e) Que o ato de estudar demanda humildade. Alerta que, se o que estuda assume realmente uma posição humilde, coerente com a atitude crítica, não se sente diminuído se encontra dificuldades, às vezes grandes, para penetrar na significação mais profunda do texto. Humildade e crítico, sabe que o texto, na razão mesma em que é um desafio, pode estar mais além de sua capacidade de resposta. Nem sempre o texto se dá facilmente ao leitor. Afirma também que, nesse caso, o que deve fazer é reconhecer a necessidade de melhor instrumentar-se para voltar ao texto em condições de entendê-lo. Não adianta passar a página de um livro se sua compreensão não foi alcançada. Impõe-se, pelo contrário, a insistência na busca de seu desvelamento. A compreensão de um texto não é algo que se recebe de presente exige trabalho paciente de quem por ele se sente problematizado. Explica que, não se mede o estudo pelo número de páginas lidas numa noite ou pela quantidade de livros lidos num semestre. Diz que, estudar não é um ato de consumir ideias, mas cria-las e recriá-las. Portanto, fazer um estudo detalhado das teorias pedagógicas exigirá estudá- las nas entrelinhas, pois como relata Paulo Freire, toda bibliografia deve refletir uma intenção fundamental de quem a elabora: a de entender ou a de despertar o desejo de aprofundar conhecimentos naqueles ou naquelas a quem é proposta. 12 Teorias Pedagógicas 1.2 Teorias Educacionais Brasileiras Seus Representantes José Carlos Libâneo Demerval Saviani PROBLEMAS HIPÓTESES CRENÇAS PISTAS DE AÇÃO 1. Será que as universidades não nos ajudam como mestres investigadores e por isso a nossa ação é tenebrosa? 1. O nosso pensar e o nosso fazer coincidem com o que as instituições de ensino sabem e fazem. 1. Cremos que além de sermos capazes de transformações também estamos investidos do poder de realiza-las 1. As Universidades devem formar mestres que reflitam e sistematizem o pensar e o fazer como possibilidade real. 2. Será que há os que nada sabem de teoria e realizam ações inconsequentes e que há os conhecedores, mas não se remetem à aula? 2. Neste caso, os mestres e demais não tem consciência do seu poder e não pensam suas ações 2. Cremos que a saída é discutirmos a função social da Universidade com pais, alunos, diretores e pró- reitores e reitor. 2. Formação, criatividade, compromisso a cada passo nos trará ações producentes e transformadoras 3. Será que repetir sempre os mesmos conteúdos, da mesma forma, reproduzindo a 3. Os mestres, a Pedagogia e a Didática não pensam sobre os fins e se perdem na 3. Cremos que uma reformulação no PDE é importante para uma prática criadora. 3. Tomar a classe como ponto de investigação e questionar Fonte:http://letrasunifacsead.blogspot.com/p/jos e-carlos-libaneo-concepcoes-de.html Fonte: http://jornal.puc-campinas.edu.br/wp- content/uploads/2017/01/Foto-2-Entrevista.jpg 13 Teorias Pedagógicas cultura e a estrutura social nos traz segurança? compilação dos meios. relacionamentos, problemas, objetivos, conteúdos métodos e avaliação para aperfeiçoar o processo educativo. 4. Podemos no cotidiano escolar vivenciar a liberdade, a participação e a democracia? 4. Os mestres concebem as ideias de participação, democracia, justiça, mas têm receio de liberdade quando começam a correr risco. 4. Cremos que a transformação das estruturas das instituições vai gerar conflitos, mas será profundamente benefício em termos de prática educativa. 4.Democratização do ensino: Difusão e acesso de saberes (o conhecer) Qualificação dos mestres (e fazer) Aprender a viver junto O ser e o estar no mundo como cidadãos. PEDAGOGIA TRADICIONAL Visão de homem: o homem é constituído por uma essência imutável, cabendo à educação conformar-se a essência humana; Eixo principal: o intelecto, a racionalidade; Importante: o aspecto lógico, os conteúdos o professor, o esforço, a disciplina, o diretivismo, (a intervenção do professor), a quantidade de ensino; Preocupação política: adequar o indivíduo a sociedade; Papel da escola: difundir a instrução, transmitir conhecimentos sistematizados logicamente; Papel do professor: transmitir conteúdos (acervo cultural da sociedade); Papel do aluno: aprender (assimilar os conhecimentos transmitidos); Inspiração: lógica; Método: exposição verbal da matéria, demonstração. Ênfase nos exercícios, repetição e memorização visando disciplinar a mente e formar hábitos. PEDAGOGIA NOVA Professor←Conteúdos/métodos→aluno Professor direciona o ensino-aprendizagem. Professor←Conteúdos/métodos←aluno O aluno direciona o ensino-aprendizagem. 14 Teorias Pedagógicas Visão de homem: centrada na existência, na vida, na atividade. Descoberta das diferenças individuais; Eixo principal: o sentimento; Importante: o aspecto psicológico (processo mentais e habilidades cognitivas), os métodos, o aluno, o interesse, a espontaneidade, o não diretivismo (a não intervenção do professor), qualidade de ensino, a relação professor e aluno (democrática). Experiências vividas; Preocupação política: ajustar ou adaptar os indivíduos à sociedade; Papel da escola: procurar através de experiências, desenvolver as habilidades individuais, adaptando o indivíduo ao meio; Papel do professor: estimulador e orientador da aprendizagem; Papel do aluno: aprender a aprender (assimilar os conhecimentos de forma espontânea, livre); Inspiração: biologia e psicologia; Método: experimentação, pesquisa, solução de problemas e descobertas. Trabalhos de grupo; Método: Dewey, Montessori, Decroty, etc. PEDAGOGIA TECNICISTA Visão de Homem: não expõe explicitamente uma visão de homem; Eixo principal: eficiência técnica, produtividade; Importante: a objetivação e operalização do trabalho pedagógico (procura-se eliminar a subjetividade; o professor e aluno são executores do processo educativo); técnicas e métodos; diretivismo; quantidade e qualidade técnica; conhecimento positivo e técnico (especialização e profissionalização); Preocupação política: inclusão do indivíduo na máquina produtiva do sistemasocial global; Papel da escola: aperfeiçoar a ordem social vigente, articulando-se com o sistema produtivo (produzir indivíduos competentes para o mercado de trabalho, modelando o comportamento humano através de técnicas específicas); Professor ←Conteúdos/métodos→aluno Os métodos direcionam o ensino-aprendizagem. 15 Teorias Pedagógicas Papel do professor: treinar eficientemente o indivíduo para o trabalho produtivo. Pela técnica garantir a eficácia da transmissão do conhecimento, modelar respostas apropriadas aos objetivos instrucionais; Papel do aluno: pela técnica aprender a fazer (recebe e fixa informações para executar. É expectador frente a verdade objetiva); Inspiração: positivismo (objetividade, eficiência, produtividade, neutralidade científica); Psicologia Behaviorista, Informática, Funcionalismo; Método: instrução programada tele ensino, microensino, módulos (emprego da tecnologia educacional). PEDAGOGIA CRÍTICA-SOCIAL DOS CONTEÚDOS Visão de homem: totalidade (síntese de múltiplas determinações), processo (faz-se a si próprio ao fazer a sua história); Eixo principal: a lógica dialética; Importante: o conteúdo (concreto englobando o sócio-político-histórico- cultural); o professor, a escola, o saber (vinculado ao social), diretivismo (intervenção do professor); o engajamento político; a competência técnica, interesse pelas as classes populares; Preocupação política: democratização ou socialização do ensino e a transformação da sociedade; Papel da escola: preparar o aluno para o mundo adulto e suas contradições, através da aquisição de conteúdos e da socialização, visando a uma participação ativa na democratização da sociedade; Papel do professor: transmitir conteúdos interligados à experiência concreta do aluno; Papel do aluno: aprender os conteúdos para ultrapassar o pré-saber e adquirir o conhecimento sistematizado; Inspiração: Gramsci, materialismo dialético; Método: processo que parte da prática social (experiência confusa e fragmentada) para uma visão “sintética” de mundo (organizada, unificada), Professor →Conteúdo/métodos→alunos 16 Teorias Pedagógicas em que se adquire pensamento crítico e sistemático (síntese da teoria e prática), cujos elementos culturais possibilitam a transformação social. PEDAGOGIA LIBERTADORA Visão de homem: ser busca; inconcluso, ser de relações (consequente transcendente e temporal); corpo consciente; sujeito concreto; Eixo principal: a práxis (reflexão-ação); Importante: relação professor e aluno (diálogo, comunicação); não autoritarismo; pré-saber, e saber; amor, humildade, esperança; o sócio- político-histórico-cultural (compromisso, político); a conscientização (superação da consciência ingênua); a pergunta; o debate em grupo; Preocupação política: integrar o indivíduo à sociedade, visando a uma transformação social. Interesse pela classe oprimida; “Integrar: capacidade do homem de ajustar-se à realidade, acrescida à capacidade de transformá-la e de optar (criticidade)”. Papel da escola: ao criar a pedagogia tradicional, denominada “Bancária”, Paulo Freire desenvolve uma experiência de alfabetização de adultos nos “Círculos de Cultura” e “Centro de Cultura”, propondo a superação de alguns conceitos tradicionais: Escola – círculo de cultura Professor – coordenador de debates e educador – educando Aluno – participante do grupo e educando – educador Aula discursiva – diálogo Pontos ou programas – programação compacta O papel do “círculo da cultura” seria o de contribuir para a transformação da sociedade através da produção do conhecimento, da cultura e do processo de conscientização política; Papel do professor: deve caminhar junto ao aluno (educador e educandos, sujeitos do conhecimento). Dialogar sobre situações concretas para que Professor ↔ mundo ↔ aluno Processos de interação entre o professor e o aluno com o mundo. 17 Teorias Pedagógicas ocorra a superação da consciência ingênua para atingir a consciência crítica e a práxis (reflexão e ação); Papel do aluno: participar do processo ensino-aprendizagem e do conhecimento; compreender criticamente a realidade e assumir um compromisso político; Inspiração: existencialismo, personalismo, materialismo dialético; Método: diálogo (intercomunicação entre os indivíduos mediatizados pelo mundo) As Pedagogias libertadoras e Crítico-Social dos Conteúdos apresentam diferenças de abordagem teórica e metodológica. A Pedagogia libertadora valoriza, no processo educativo, o educador e o educando, enquanto a Pedagogia Crítica- Social dos Conteúdos privilegia o conteúdo e o professor. Estas teorias, entretanto, demonstram uma visão sócio-política da educação e um comprometimento com classes populares cujo objetivo é transformar a sociedade, consequentemente, estabelece uma relação dialética entre o indivíduo e a sociedade, a ação educativa e a ação social. ↔ Interação entre a ação educativa e a ação social, a ação educativa interfere na ação social e vice versa. TENDÊNCIAS REPRODUTIVISTA TRANSFORMADORA ALIENANTE DESALIENANTE PED. LIBERTADORA PED. CRÍTICO SOCIAL DOS CONTEÚDOS. PED. TRADICIONAL PED. NOVA PED. TECNICISTA ESC. AIE-APARELHO IDEOLÓGICO DO ESTADO. Ação educativa ↔ Ação social (professor/conteúdo método/aluno) (fatores sociais, políticos, econômicos) 18 Teorias Pedagógicas Tendência Reprodutivista O educador atuaria na escola como “reprodutor” do conhecimento e esta reprodução dar-seia de forma alienante (não crítica) desalienante (crítica). FORMA ALIENANTE – centrada na Pedagogia Tradicional, Pedagogia Nova e Pedagogia Tecnicista. A Pedagogia Tradicional abrange as correntes filosóficas Essencialistas e Perenalista, privilegiando o professor, por considerar o adulto acabado, completo em oposição à criança, imatura e incompleta. CLASSIFICAÇÃO DAS TEORIAS EDUCACIONAIS SEGUNDO DEMERVAL SAVIANI TEORIAS NÃO CRÍTICAS CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS CRÍTICAS 1889 1930 1980 1970 1986 Concepção Humanista Tradicional Concepção Humanista Moderna Concepção Analítica Teoria do Ensino enquanto violência Simbólica Teoria da Escola como Aparelho Ideológico do Estado Teoria da Escola Dualista Concepção dialética Pedagogia Tradicional Pedagogia Nova Pedagogia Tecnicista Bourdieu e Passeron Althussar Baudelot e Establet Pedagogia Crítica Critério de classificação: criticidade e a percepção dos condicionantes objetivos TEORIAS NÃO CRÍTICAS TEORIAS CRÍTICO- REPRODUTIVISTAS TEORIAS CRÍTICAS Apresentam a educação como autônoma, independente dos condicionantes objetivos Compreendem a educação como fator de reprodução da sociedade. A educação determinada pelos condicionantes sociais Apresentam a educação relacionada a seus condicionantes objetivos, isto é, aos determinantes socioeconômicos políticos 19 Teorias Pedagógicas TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS DA PRÁTICA ESCOLAR SEG. JOSÉ CARLOS LIBÂNEO A) PEDAGOGIA LIBERAL 1 – Tradicional 2 –Renovada Progressivista 3 – Renovada não – diretiva 4 - Tecnicista B) PEDAGOGIA PROGRESSISTA 1 – Libertadora 2 – libertária 3 – Crítico-Social dos Conteúdos CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃOPrática pedagógica. Posição que os professores adotam em relação aos condicionantes sociopolíticos da escola. PEDAGOGIA LIBERAL PEDAGOGIA PROGRESSISTA Reforça e justifica a sociedade de classes, na medida em que compreende a escola como preparadora de indivíduos para o desempenho de papeis sociais, de acordo com as suas aptidões. Fundamenta-se na análise crítica da realidade social. Compreensão da educação como um processo sócio político. Termo usado por Anísio Teixeira para “indicar a função da educação numa civilização em mudança, decorrente do desenvolvimento científico”. 20 Teorias Pedagógicas 1) Explique o que se entende sobre a teoria de violência simbólica em Pierre Bordieu e suas consequências no campo da educação. 2) Explicar as diferenças básicas entre as concepções de educação de Dukheim, que vê o processo de socialização como promotor da harmonia social, e a concepção marxista, que compreende os processos educacionais como reprodutores das desigualdades sociais de classe. 3) A partir da concepção dialética de Marx, pode-se também pensar a educação como instrumento de uma transformação revolucionária da sociedade? Explique. 4) Diga em que consiste a dialética socrática e qual a sua importância para a Filosofia? 5) Diga como podemos entender o lugar reservado à educação na Filosofia de Rousseau? Estudar é um ato complexo para o educando, porém, é a melhor forma de adquirir conhecimentos. Conforme seus entendimentos como podem definir esta ação em meio a dinâmicas escolares? 21 Teorias Pedagógicas UNIDADE 02 Filosofia e Filosofia da Educação Fonte: http://www.gazetadevotorantim.com.br/noticia/21242/educacao-realiza-evento- beneficente-e-literario.html 22 Teorias Pedagógicas 2. Introdução Maria Lúcia de Arruda Aranha A autora salienta que essas abordagens compreensivas da realidade não se excluem necessariamente, mas coexistem no nosso cotidiano: um cientista, com elaborado conhecimento numa área específica (por exemplo, a física), Não deixa de usar o senso comum na vida cotidiana quando, empiricamente, educa seu filho, ou ainda, ao recorrer à filosofia para analisar os fundamentos de sua ciência; uma pessoa religiosa aproxima-se de Deus pela fé, mas também busca na filosofia a justificação racional da existência de Deus; o mesmo acontece com o artista, cuja percepção sensível do mundo coexiste com as demais maneiras de conhecer. No entanto afirma ela, que conforme a época ou o lugar pode haver variação da ênfase que se dá a alguma dessas abordagens. Ressalta que entre os povos tribais, o mito constitui uma estrutura dominante, porque abarca as demais abordagens, fecundando todo o pensar, o agir e o valorar. Ou seja, por acreditar na atuação constante dos deuses, o mito primitivo ritualiza todas as atividades: os instrumentos úteis e as manifestações artísticas têm características mágicas; o mesmo ocorre com o plantio e a colheita, a caça, a guerra, as relações os indivíduos (nascer, tornar-se adulto, casar, morrer), a explicação da origem do universo, os valores aceitos. À medida que o mito deixa de ser uma compreensão abrangente do real, continua, o conhecimento se seculariza, torna-se predominantemente profano, “do mundo”. Afirma que pode então falar de um saber menos mítico e mais racional, bem como de um agir menos mágico e mais técnico, orientados pela experiência de vida. Ela cita exemplos: lembramos os mitos da “raça pura” que desencadearam as perseguições nazistas e embalaram gerações na crença cega no poder de um fuhrer (aquele que conduz). Explica que o senso comum é fragmentário, difuso, ametódico e assistemático e, como tal, em um primeiro momento o que é herdado não é questionado. Caberá ao bom senso retomar criticamente os saberes e valores recebidos, para adequá-los ou transformá-los a partir da análise da s novas situações vividas. Nesse sentido, o bom senso não depende de erudição ou “estudo”, mas da sabedoria pela qual conseguimos dar um sentido humano à vida e ao nosso destino. Desse modo a autora coloca que nesses casos, aquilo que se entende por senso comum na 23 Teorias Pedagógicas verdade não passa de ideologia, de imposição de ideias e valores que garantem os interesses de classe. Vê que a ciência é uma conquista relativamente recente da humanidade. Surgiu no século XVII, quando Galileu estabeleceu as bases de um revolucionário método científico que transformou a física e a astronomia vigente desde a Antiguidade grega em ciências modernas. Ela afirma que o sucesso da ciência e da tecnologia, não justifica a supervalorização da ciência e a exclusão de outros tipos de conhecimento. Que embora rigoroso e eficaz, o conhecimento científico é apenas uma das maneiras de compreensão da realidade. Enfatiza que, basta lembrar que a religião e a arte são também maneiras válidas e fortes de compreensão de si e do mundo. Relembra que o mito é um tipo de compreensão intuitiva da realidade e, sob esse aspecto, destaca o prevalecimento da crença, da fé sobre a argumentação racional. No entanto vê que a arte constitui um entendimento intuitivo do mundo, no sentido de não recorrer a conceitos logicamente organizados, mas por usar recursos que “falam” ao sentimento e à imaginação. Enfatiza que, a imaginação é a mediadora entre o vivido e o pensado, mas esse pensamento é de natureza analógica. O mundo imaginário assim criado não é irreal. Diz que é, antes, pré-real, antecede o real porque aponta suas possibilidades em vez de fixa-lo numa forma cristalizada. A autora comenta que é comum usarmos a expressão filosofia de vida para designar certa sabedoria que permeia as reflexões de todas as pessoas. Considera que mesmo sem sabermos muito claramente o que é filosofia, reconhecemos que “filosofamos” nas mais diversas circunstâncias, não apenas mais graves, quando um acidente nos faz parar para pensar na fragilidade e finitude da vida, mas também em situações cotidianas, quando indagamos, se vale a pena continuar em um emprego só porque temos um bom salário, embora não estejamos felizes nele; se devemos ou não dar propinas para apresentar um procedimento burocrático; se a corrupção é inerente ou não à atuação dos políticos; se a existência de ricos ou pobres é um fato natural ou se vale a pena lutar pela igualdade de condições da sociedade; se a mentira é detestável ou se há mentiras “piedosas”, se a arte é dispensável ou necessária, e assim por diante. A autora relata que, a filosofia não oferece um corpo acabado de conhecimentos, tampouco o filósofo detém um saber que o coloca acima de todos. Continua afirmando a filosofia se insere na história, e os temas com que se ocupa 24 Teorias Pedagógicas mudam de acordo com os problemas que precisa enfrentar e que exigem esse tipo de reflexão. Explica o que caracteriza a reflexão filosófica: reflectere, em latim, significa “fazer retroceder”, “voltar para trás”, “recurvar”. Refletir é, portanto, retomar o próprio pensamento, pensar o já pensado, voltar para si mesmo e colocar em questão o que já se conhece. Ela relata Saviani, afirmando que a reflexão propriamente filosófica é radical, rigorosa e de conjunto. Ressalva, que a filosofia é radical porque sua reflexão busca as raízes da questão: do latim radix, radicis, “raiz”,e, no sentido derivado, “fundamento”, “base”. Dessa forma, para ela a filosofia é radical por explicitar os fundamentos do pensar e do agir, pois, no momento em que o matemático se pergunta o que é o número ou qual a validade da demonstração geométrica, passa a investigar a raiz do seu saber e, nesse caso, faz filosofia de matemática. A reflexão filosófica segundo a autora se torna rigorosa conforme a orientação metodológica de cada filósofo e as tendências históricas decorrentes da situação vivida na ação humana sobre o mundo. Reforça que essa reflexão é de conjunto por ser globalizante, ao examinar os problemas na perspectiva do todo, relacionando os seus diversos aspectos. Explica que, enquanto os demais saberes se ocupam com ”recortes” da realidade, a filosofia, além de poder examinar tudo (porque nada escapa ao seu interesse), também visa ao todo, à totalidade. Cita o poeta francês Paul Claudel assim se refere ao tempo e ao sentido: ”O tempo é o sentido da vida (sentido: do mesmo modo que se fala do sentido de um rio, do sentido de uma frase, do sentido de um tecido, do sentido do olfato)”. O que podemos entender por essa expressão poética? Primeiramente, ela diz que o conceito de sentido se refere: a) à sensação, como sentido da visão, do olfato, do paladar, da audição, do tato; b) à direção, como o sentido de um rio; dos fios de um tecido, da meta que pretendemos atingir quando caminhamos etc.; c) à significação, ou seja, ao sentido de um frase, de um gesto, de um comportamento. Portanto, ao dar sentido ao mundo, a compreensão humana o intui na sua continuidade, em que o presente dá sentido ao passado e projeta o futuro. A esse respeito, a autora traz a lembrança de uma citação bastante conhecida do filósofo Immanuel Kant: “... não é possível aprender qualquer filosofia; pois onde se encontra, quem a possui e segundo quais características se pode reconhece-la? Só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão, fazendo-a seguir os seus princípios universais em certas tentativas filosóficas 25 Teorias Pedagógicas já existentes, mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, confirmando-os ou rejeitando-os”. A autora frisa que a filosofia acidental surgiu na Grécia, por volta dos séculos VII e VI a. C. antes da filosofia predominava o pensamento mítico, sobretudo representado pelas epopeias de Homero (Ilíada e Odisseia) e a Teogonia de Hesíodo. A grande aventura intelectual não começou propriamente na Grécia continental, mas nas colônias gregas: Jônia (metade sul da costa ocidental da Ásia Menor) e Magna Grécia (sul da Península Itálica e Sicília). Esse novo tipo de reflexão foi chamado de filosofia por Pitágoras, matemático e um dos primeiros pensadores, que não ousou atribuir a si mesmo a denominação de “sábio” (sophosaaaaa0, mas de “amigo da sabedoria” (philo + sophos). Após a revolução científica do século XVII, porém, segundo ela ocorreu a separação entre filosofia e ciência. Lentamente, até o século XIX, foram se constituindo os métodos das chamadas ciências particulares – físicas, astronomia, química, biologia, psicologia, sociologia etc. -, delimitando campos específicos de pesquisa. Deu-se então a especialização do saber, cada ciência ocupando-se com seu objeto específico. Aranha afirma que, assim como as demais ciências nasceram no bojo da reflexão filosófica, também a pedagogia se achava intimamente ligada à filosofia, já que os filósofos também discutiam sobre a educação. Ao se desprender dela, a pedagogia organizou seu próprio espaço de pesquisa, o que começou a ocorrer de maneira mais sistemática na Idade Moderna. Então ela continua afirmando que a partir da análise do contexto vivido, o filósofo indaga a respeito do ser humano que se quer formar, sobre os valores emergentes que se contrapõem a outros, já decadentes, e sobre os pressupostos do conhecimento subjacentes aos métodos e procedimentos utilizados. Também, além das análises antropológicas já referidas, a filosofia tem a função de interdisciplinaridade, pela qual estabelece a ligação entre as diversas ciências e técnicas que auxiliam a pedagogia. Por exemplo, é a análise filosófica que permite refletir a respeito do risco que representam os “ismos”, ou seja, a preponderância de determinada ciência na análise dos fenômenos pedagógicos (o psicologismo, o sociologismo, o economicismo etc). Ao manter sempre presente o questionamento sobre o que é a educação, a filosofia busca evitar que ela se torne dogmática ou se transforme em adestramento. 26 Teorias Pedagógicas 2.1 Educação e Trabalho: a contribuição de Marx, Engels e Gramsci à Filosofia da Educação. Lilian Maria Paes de Carvalho Ramos Karl Marx e Friedrich Engels dedicaram-se pouco à questão educacional em seus escritos filosóficos, sociais e econômicos. Sua denúncia ao caráter classista da educação, todavia, representou um marco, um ponto de partida para a reformulação de teorias educacionais baseadas no princípio democrático de igualdade. Suas ideias foram refutadas ou desenvolvidas por vários pensadores, dentre os quais sobressai Antônio Gramsci e sua análise sobre o papel da escola e dos intelectuais na formação da hegemonia do proletariado, efetivação de fato aquele princípio. Apesar de a democratização do ensino básico haver sido transformada em bandeira dos liberais na Revolução Francesa, esse princípio só encontrará respaldo oficial após a Revolução Industrial, como consequência da necessidade de formação de mão-de-obra especializada para as indústrias nascentes. Pensadores de diversas tendências defenderão o princípio, diferindo em seus objetivos. Enquanto os liberais almejam o aumento da produtividade pura e simples, os socialistas vislumbrarão na educação das massas uma etapa para a construção de uma hegemonia da classe trabalhadora, hegemonia essa que dificilmente será obtida sem a concorrência do ensino formal. Uma de suas primeiras e principais críticas dirige-se ao embrutecimento e à deformação na manufatura, onde a divisão do trabalho reprime um mundo de instintos e capacidades produtivas. O indivíduo é mutilado e transformado no aparelho automático de um trabalho parcial. Aliás, Marx cita denúncia do próprio Adam Smith nesse sentido, no qual este recomenda o ensino popular como solução para o problema do empobrecimento do intelecto do trabalhador manual. E vai além: analisa o papel da ciência e conclui que a indústria moderna transformou-a “em uma força produtiva independente do trabalho, recrutando (o trabalhador) para servir ao capital” (Marx, K., Engels, F., 1985, liv.1, v.4, cap.12) Marx acrescenta uma limitação ao processo de universalização, o qual, aparentemente, gera um impasse: 27 Teorias Pedagógicas ...é evidente que tudo isto exige pleno desenvolvimento das forças produtivas como condição da produção: é preciso que as condições de produção determinadas (se) deixem aparecer como obstáculos ao desenvolvimento das forças produtivas (Marx, 1978b, cap.2). Em outras palavras, enquanto as forças produtivas não atingirem o pleno desenvolvimento, as condições materiais para a realização da mudança não estarão dadas, e ela não poderá ocorrer. Sobre o recrutamento de crianças e adolescentes para o trabalho na indústria. Marx é taxativo: “qualquer que seja a forma em que se realize sob o reino do capital é simplesmente abominável”. Como solução para essa questão da necessidade da cooperação desses segmentos, propõe que a jornada de trabalho de crianças de 9 a 12 anos seja reduzida para duas horasdiárias; dos 13 aos 15 anos, para quatro horas; e dos 16 a 17 anos, para seis, com uma hora para comida e descanso. As escolas elementares deverão iniciar a instrução das crianças antes dos 9 anos. Caberá à sociedade a responsabilidade de defender os interesses das crianças proletárias, pois os pais são impossibilitados de fazê-lo pelo sistema social de acumulação capitalista que os transforma em “mercadores de escravos de seus próprios filhos”. Para livrar estes dos efeitos nocivos do sistema, é necessário transformar a “razão social” em “força social”, por meio de leis gerais. A sociedade não pode permitir que as crianças e adolescentes sejam empregados na produção, a menos que se combine este trabalho produtivo com a educação. Por educação entendemos três coisas: 1. Educação intelectual; 2. Educação corporal, como a que se consegue com os exercícios de ginástica e militares; 3. Educação tecnológica, que recolhe os princípios gerais e de caráter científico de todo o processo de produção e, ao mesmo tempo, inicia as crianças e os adolescentes no manejo de ferramentas elementares dos diversos ramos industriais (Marx, 1978c) Esta concepção revela a preocupação de Marx com o pleno desenvolvimento dos jovens por meios da educação intelectual, física e profissional. Sugere, em seguida, que o ensino seja graduado de acordo com a idade dos alunos, e que parte dos gastos com as escolas politécnicas seja coberta, com a venda dos produtos nelas produzidos. Desta forma, ele entende que a classe operária elevar-se-á acima das demais. Embora reconheça ser a vinculação da instrução primária com o trabalho fabril um avanço, Marx considera não haver “dúvida de que a conquista inevitável do 28 Teorias Pedagógicas poder político pela classe trabalhadora trará a adoção do ensino tecnológico, teórico e prático, nas escolas dos trabalhadores”. Para ele, esta transformação, culminando na “eliminação da velha divisão do trabalho” seria resultante do desenvolvimento das contradições geradas pela forma de produção industrial, cuja base é revolucionária em si mesma. ( Marx, K., Engels, F., 1985, liv.1, v.4, cap.13). A partir desta constatação, é possível entender a pressão dos empresários capitalistas no sentido de repassar à escola o custo de produção da força de trabalho de que necessitam. Essa pressão é clara, quando se analisa sua materialização na forma de leis, evidenciando a velha rixa entre liberais e socialistas. Aqueles tentando diminuir os seus custos de produção e o tempo de formação de sua mão-de-obra; estes insistindo na importância de uma formação politécnica que não limite o trabalhador a uma única função, mas que o prepare para exercer vários tipos de trabalho. Se, contudo, a educação formal é necessária – “educação e trabalho produtivo andarão lado a lado” (Engels, 1978) – esse trabalho produtivo deverá propiciar jovens experiências em todos os ramos da produção, “segundo as diversas necessidades sociais e suas próprias inclinações”, dando a eles a oportunidade de “desenvolverem tanto os seus sentidos como as suas aptidões (...) desaparecerá toda a diferença de classe” (Marx, 1978ª). Esta formação politécnica deverá compensar os inconvenientes da atual divisão do trabalho, “que impede o alcance do conhecimento profundo de seu ofício aos seus aprendizes”. Finalmente, Marx observa que as mudanças na educação exigem mudanças mais profundas. A teoria materialista da mudança das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias fazem mudar os homens e que o educador necessita, por sua vez, ser educado. Tem, portanto, de distinguir na sociedade as partes desta, uma das quais colocada acima dela. (Teses, 1974). O que leva, aparentemente, ao impasse aludido no início desta exposição. Se as mudanças na educação exigem que haja, primeiramente, mudanças nas circunstâncias, é preciso esperar que estas ocorram, para então realizar as mudanças necessárias na educação. Mas o próprio Marx indica como sair do impasse. Se, Por um lado, é necessário modificar as condições sociais para criar um novo sistema de ensino, por outro, falta um sistema novo para poder 29 Teorias Pedagógicas modificar as condições sociais. Consequentemente, é necessário partir da situação atual (Marx, 1978a). Na conclusão desenvolver-se-á o tema “partir da situação atual” do sistema de ensino, para leva-lo em direção a uma nova sociedade, na qual os interesses da classe trabalhadora, e não apenas da burguesia, sejam contemplados. Seguidor inequívoco da tradição marxista, Gramsci centra sua obra no estudo das superestruturas. Diferindo de Marx e Engels, os quais ocuparam-se do tema educativo apenas de passagem pela discussão de temas sociais mais amplos, Gramsci entrega-se a ele de forma bem mais aprofundada. E mais, distanciando-se dos outros pensadores marxistas e socialistas, realiza a “passagem da crítica negativa da escola burguesa e da política socialista à busca de realizações” na área de organização da cultura (Manacorda, 1990, p. 33). Gramsci propõe, no decorrer de sua obra, um princípio educativo baseado nas exigências do industrialismo e das modificações por ele introduzidas na vida social. Os novos rumos apontam para uma formação total do homem, nem presa ao humanismo estéril da escola burguesa nem ao profissionalismo estreito das escolas profissionalizantes, ou seja, coerente com as inovações técnico-científicas do mundo moderno. Vinculando definitivamente a pedagogia e a política, procura conciliar “o rigor metodológico próprio da fábrica e a abertura mental própria da exigência humanística” (idem, p.67). Ultrapassando a mera crítica do sistema escolar burguês, Gramsci propõe que a escola incorpore um novo princípio educativo, o qual gerará mudanças profundas em sua organização. O princípio educativo, no seu entender, terá forçosamente de ser buscado nos princípios da produção industrial, na cultura do tipo americano; imporá a criação de uma série de “hábitos psicofísicos”, os quais deverão ser desenvolvidos em idade tenra, antes da puberdade, visto que, posteriormente, sua assimilação será bem mais difícil. Essa implantação dar-se-á de maneira coercitiva, por que. A vida na indústria exige um tirocínio geral, um processo de adaptação psicofísica para determinadas condições de trabalho, de nutrição, de habitação, de costumes, etc, que não é inato, “natural”, mas requer uma assimilação (Gramsci, 1978, p.391). 30 Teorias Pedagógicas A adaptação é constante devido às levas de migrantes rurais que são expulsas do campo para o trabalho fabril e à emergência das novas gerações, que precisam ser educadas no novo sistema de trabalho (pela força ou pela persuasão). A “hegemonia da fábrica”, baseada na racionalização, pede a elaboração de “um novo tipo humano”, não apenas no aspecto físico, como também moral. A reprodução sexual passa a ser encarada como “função econômica” e uma nova “ética sexual”, adaptada aos “novos métodos de produção e trabalho”, precisa ser criada. Na América o “puritanismo” reflete essa preocupação, posto que. Não é possível desenvolver o novo tipo de homem solicitado pela racionalização da produção e do trabalho, enquanto o instinto sexual não for absolutamente regulamentado, não for também ele racionalizado (idem, p.392). Além do instinto sexual, os outros elementos de “animalidade” do homem carecem igualmente de sujeição. Esta sujeição é sempre uma imposição externa, tanto no industrialismo como em outros tipos de cultura. Será necessário um novo intelectualismo, desvinculado do humanismo tradicional e ultrapassado, paraa tarefa de adequação do homem ao sistema de vida moderno. A tarefa requer uma ultrapassagem do mundo da produção, puro e simples. O estudo da questão deve ser feito a partir do ponto de vista da escola única do trabalho, ou seja, da educação como “instrumento através do qual a ordem social é introduzida na ordem natural” (idem, p.201 e 244). Nesta passagem é evidente a importância que Gramsci atribui à educação, bem maior do que aquela verificada em Marx, o qual não considerava a educação formal essencial para a universalização do indivíduo. Gramsci possui uma visão ampla da cultura, ilustrada na famosa passagem sobre a natureza intelectual do trabalho no discurso sobre a formação dos intelectuais. Não existe atividade humana da qual se possa excluir toda intervenção intelectual, não se pode separa o homo faber do homo sapiens. Em suma, todo homem fora de sua profissão desenvolve uma atividade intelectual, qualquer que seja; é um filósofo, um artista, um homem de gosto; participa de uma concepção de mundo; possui uma linha consciente de conduta, contribui, assim, para manter ou modificar uma concepção de mundo, isto é, para promover novas maneiras de pensar (Gramsci, 1989, p.8). 31 Teorias Pedagógicas Antevisões dessa concepção de cultura podem ser encontradas em Americanismo e Fordismo e Outros Textos, embora não formuladas tão completamente. Gramsci incorpora, ainda, elementos modernos à sua tentativa de tornar a ciência acessível a todos, deixando de ser um simples instrumento do capital. Além da escola, ele lista como partes integrantes do “material ideológico” da cultura à imprensa e “tudo quanto influi ou pode influenciar, diretamente ou indiretamente, sobre a opinião pública”, como as bibliotecas, os currículos, os clubes, a arquitetura e etc. Estes órgãos de hegemonia da classe dominante, hegemonia esta que o Estado exerce ao seu favor por intermédio dos intelectuais, são colocados lado a lado com organizações políticas e sindicais. O Estado “educa o consenso” (apud Manacorda, 1980, p.125´126 e 187-188). O caráter coercitivo da educação em Gramsci, expresso por vários termos – autoridade, conformismo, voluntarismo – Gramsci (1989, p.138) acredita ser o hábito uma segunda natureza, adquirida historicamente. É graças ao inconformismo que o automatismo se converte em liberdade e a liberdade em responsabilidade, pois, O estudo é também um trabalho muito fatigante (...) é um processo de adaptação, é um hábito adquirido com esforço, aborrecimento e mesmo sofrimento. Esse sofrimento comum a todos os alunos é bem maior para aqueles que não recebem alimentação adequada, nem hábitos alimentares facilitadores da aprendizagem intelectual. Porém é preciso não sucumbir à tendência a afrouxar a disciplina do estudo, a provocar facilidades, se se quiser criar uma nova camada de intelectuais no seio de “um grupo social que tradicionalmente não desenvolveu as aptidões adequadas” (idem, ibidem). A disciplina necessária ao trabalho intelectual “não anula a personalidade e a liberdade” do aluno, sendo um “elemento necessário de ordem democrática, de liberdade”. Além do que, se a coerção social “se desenvolve segundo o desenvolvimento das forças sociais, não é coerção, mas „revelação‟ de verdade cultural obtida por um método acelerado”. (idem, p. 257-259) Para Gramsci (1989, p.122 e 130), a escola elementar caracteriza-se por uma maior presença da disciplina, resultando num “conformismo dinâmico”. A geração mais velha transmite a geração jovem o patrimônio do passado. 32 Teorias Pedagógicas O conceito e o fato do trabalho (da atividade teórica prática) é o princípio educativo imanente à escola elementar, já que a ordem social e estatal (direitos e deveres) é introduzida e identificada na ordem natural pelo trabalho. O aluno deverá atingir a compreensão da atualidade como síntese do passado, de todas as gerações passadas, que se projetam no futuro. É este o fundamento da escola elementar. Fundamento este que deverá ser desenvolvido ao lado do ensino das primeiras noções “instrumentais” da instrução (ler, escrever, fazer contas, geografia e história). A partir do momento em que a escola se separou da vida entrou em crise. Para superá-la, será preciso que a escola volte a se ligar a vida. Só assim haverá “uma participação realmente ativa do aluno na escola”. O professor precisa, ademais, conscientizar-se “dos contrastes entre os tipos de sociedade e de cultura que ele representa e o tipo de sociedade e de cultura representado pelos alunos” (apud Manacorda, 1990, p. 246-247). A relação aluno-professor é analisada pelo autor como sendo ativa, de relações recíprocas e, portanto, todo professor é sempre aluno e todo aluno, professor. Além do fato de que “o aluno não é um disco de vitrola, não é um recipiente passivamente mecânico”. Mas o autor toma o cuidado de não limitar a relação pedagógica ao contexto professor-aluno, enxergando-a em “todo indivíduo com referência aos outros indivíduos, entre camadas intelectuais e não intelectuais, entre governantes e governados, entre elites e seguidores, entre dirigentes e dirigidos, entre vanguarda e corpos de exército” (apud Manacorda, 1990, p. 252-254) Os trechos seguintes revelam a importância atribuída pelo autor ao corpo docente, considerado “uma expressão da consciência civil de toda a nação”, ainda que “amesquinhada, e não certamente uma vanguarda” (apud Manacorda, 1990, p.244). Enfatizando a recomendação marxista de que “é preciso educar os educadores”, reconhece que. Mesmo os métodos mais fascinantes tornam-se ineficientes se faltam as pessoas capazes de vivificá-los em todos os momentos da vida escolar e extra escolar, fracassam devido à deficiência dos professores (idem, p.97) Complementando seus discursos, conclui que, com a queda verificada no nível do corpo docente, os exames deveriam ser abolidos, porque a correção de julgamento, a análise estética ou filosófica fica prejudicada devido à falta de “bagagem” intelectual dos professores. 33 Teorias Pedagógicas Gramsci defende uma escola ativa, onde a aprendizagem ocorre “por meio de esforço espontâneo e autônomo do aluno”, restando ao professor uma função de controle e de orientação amigável. Chega mesmo a preconizar substituição dos exames pelas atividades em seminários, bibliotecas e laboratórios no liceu (2º grau), de forma a “complementar e a vivificar o ensino oral” (Mancorda, 1990, p. 190). É na fase do liceu que o aluno completará a sua formação humanística, antes da especialização intelectual (na universidade) ou profissional (na fábrica) desenvolvendo a autodisciplina intelectual e autonomia moral. Este ensino humanístico, baseado no estudo da história, da literatura e da filosofia, fornecerá melhor base aos estudantes, mesmo no ensino politécnico. Nesta fase o aluno já deverá ter concluído oito anos de ensino elementar e ginasial, restando-lhe dois anos de liceu (idem, p. 140 e 160-161). Gramsci (1989, p.184) procura desenvolver uma concepção de escola cujo pressuposto é a recomposição da unidade entre trabalho e ciência “através da mediação da tecnologia”. Essa escola deverá conciliar o novo princípio educativo, que é o princípio da produção industrial, com a transmissão da cultura clássica e moderna, atendendo aos interesses da classe trabalhadora. Partindo da situação da educação italiana propõe a criação de uma escola única, de caráter utilitarista e humanista ao mesmo tempo, em substituição ao liceu e à profusão de escolas profissionais existentes, as quais cindem o conhecimento e desperdiçam talentos. Em primeiro lugar,porque o campo educativo é o campo da atuação, por excelência, dos intelectuais, particularmente na universidade. É por meio dela que a classe dirigente “seleciona elementos individuais de outras classes, a serem incorporados a seu pessoal governativo, administrativo e dirigente”. Se ela é burocrática e sua influência na vida cultura do país é pequena, isto deve-se ao distanciamento existente entre os intelectuais e o povo. Como a fração “mais homogênea e mais numerosa” dos intelectuais é a dos professores, é necessário organizar um programa escolar que lhes interesse e lhes dê “uma atividade própria dentro do campo técnico” (apud Manacorda, 1990, p. 119, 124 e 170). Gramsci acredita que o desenvolvimento global e integral da personalidade só poderá ser atingido mediante a exposição do jovem a múltiplas experiências. Recusa fortemente o espontaneísmo da pedagogia rousseauniana e atitude ingênua dos escolanovistas a sua tentativa de reduzir a relação pedagógica ao âmbito das técnicas didáticas, como no Plano Dalton. Para ele, a educação é uma luta contra a 34 Teorias Pedagógicas natureza, travada no âmbito da escola unitária, com o intuito de preparar o jovem “tanto para os estudos posteriores como para a profissão”, já que nenhuma profissão “está privada de conteúdos e exigências intelectuais e culturais” (Manacorda, 1990, p.106, 108, 137 e 163). Para ele é dever do Estado assumir certos encargos familiares de forma a permitir aos jovens de todas as classes sociais frequentar essa escola desinteressado de cultura geral. O objetivo pretendido é coibir o seu ingresso prematuro no mercado de trabalho, o qual se dá sempre em condições desvantajosas, além de impedir o prosseguimento de seus estudos até os patamares mais elevados (Gramsci, 1989, p. 121). A tendência democrática, intrinsicamente, não pode consistir apenas em que cada operário manual se torne qualificado, mas em que cada “cidadão” possa se tornar “governante” e que a sociedade o coloque, ainda que “abstratamente” nas condições gerais de poder fazê-lo; a democracia política tende a fazer coincidir governantes e governados assegurando-a a cada governado a aprendizagem gratuita da capacidade e da preparação técnica necessária ao fim de governar (idem, p.137). Como se vê, embora fiel a tradição marxista, Gramsci extrapola a herança inicial daquela tradição, vendo na educação o veículo ideal para democratização de fato da sociedade. Não essa educação que aí está, dualista, viciosa, discriminatória. Partindo da constatação do caráter classista injusto da educação e da necessidade advindas da esfera produtiva e científica propõe um modelo de escola no qual as diferenças de classe são diluídas por um currículo baseado nos valores humanistas, nas qualidades essenciais requeridas pelo mundo na produção industrial. Dessa escola deverá emergir o cidadão completo, participante, governante ou governado, mas consciente de sua função e importância no âmbito da sociedade, nos direitos e deveres da cidadania, menos competitivo, mais produtivo, tendo seus talentos valorizados e compreendidos, pois a vida social supõe a multiplicidade de talentos e aptidões. Se não, como preencher as diferentes funções exigidas pela vida moderna? Negar esta ou àquela classe o reconhecimento de que ela é parte integrante da sociedade em todos os seus níveis é negar o princípio democrático básico da igualdade. Pior ainda é desperdiçar o talento e a habilidade de pessoas que talvez pudessem contribuir significativamente para a solução dos problemas oriundos da organização da produção e da própria vida em sociedade. 35 Teorias Pedagógicas 1) O conceito de Dialética tomou parte nas preocupações filosóficas de pensadores, como Hegel, Engels e Marx. Sobre o conceito de dialética em Hegel, o que é correto afirmar? Justifique sua resposta. 2) A obra de René Descartes (1596-1650) foi uma das bases da filosofia moderna, constituindo- se como referência indiscutível na formação do pensamento pós-medieval. Sobre a obra cartesiana, o que podemos afirmar? Explique. 3) Explique o que seriam os “imperativos categóricos” para Kant. 4) Redija um texto dissertativo, a partir das considerações de Vasconcelos (2011), abordando questões relacionadas ao objeto de estudo da filosofia da educação. 5) Para Vasconcelos (2011), o positivismo dá muito valor à disciplina, pois é a partir da ordem que a sociedade pode avançar rumo ao progresso. De acordo com a citação anterior, discorra sobre as influências positivistas na educação. Como a filosofia pode favorecer a aprendizagem dentro da atmosfera educacional? 36 Teorias Pedagógicas UNIDADE 03 Teóricos da Educação Fonte: http://www.crystalinks.com/romeducation.html 37 Teorias Pedagógicas 3. Pensadores: Emile Durkheim (1858-1917) – pedagogo, filósofo, sociólogo e pai da sociologia francesa. A contribuição de Durkheim é considerada como representativa do paradigma – do funcionalismo clássico que, de maneira particular, efetivou a ciência social como um novo campo de estudo – a Educação. Para ele, a educação é um processo único e múltiplo que tem por finalidade a formação do ser social de cada povo, casta ou classe social, variando de sociedade para sociedade, conforme cada período da história. Outra abordagem conceitual é a de que a educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as que ainda não estão maduras para a vida social tendo por objetivo suscitar e desenvolver na criança determinado número de estados físicos, intelectuais e morais que reclamam dele tanto a sociedade política como um todo quanto o meio em que está inserido. A noção de Estado ético educador contem os critérios básicos como: a direção e a supervisão do cumprimento dos princípios e dos direitos individuais e a expansão dos mesmos para ele, não é necessário somente oferecer as condições e meios adequados para seu efeito e desenvolvimento, mas permitir a abertura necessária aos intercâmbios que a sociedade exige. Assim, sob a afirmação de que a educação é uma função social, o Estado não pode desinteressar-se dela. O Estado, para o teórico da educação não é criador de ideias, de valores e sentimentos, etc; sem os quais não há sociedade, mas crê que sua tarefa é preservar tais cargos. O Estado é o controlador total, possibilitando a abertura a contribuições dos indivíduos ou grupos que geram inovações; percebendo a perspectiva de democratização do Estado, no sentido do aperfeiçoamento como órgão imprescindível de regulação social. O esforço principal de Durkheim centra-se na construção de uma explicação teórico-metodológica-técnica, encaminhada para análise da educação sob o rigor que exige a investigação nas ciências sociais, desvalorizando a subjetividade de caráter ideológico. 38 Teorias Pedagógicas Antônio Gramsci (1891-1937) – filósofo e escritor Para Gramsci a Educação e o processo de formação intelectual, moral e cultural encaminhado a constituição do homem. A Educação é pratica social, portanto, a natureza humana em seu desenvolvimento. O filósofo afirma categoricamente, que na realidade cada geração educa a nova geração e que o fim da educação é a criação de um novo indivíduo e uma civilização, segundo os apelos da época em que vive. Na perspectiva de Gramsci, a educação, a cultura e a política são inseparáveis. A educação transcende o espaçoescolar, atrelada ao conceito de hegemonia como parte do fenômeno educativo. Hegemonia, para Gramsci, é um processo de constituição do popular- nacional, a partir de uma direção ético-cultural para constituir uma “vontade coletiva”, demonstrada por uma classe fundamental. Processo esses que implica uma relação pedagógica capaz de integrar aos indivíduos um novo “conformismo” social. O Estado nesse sentido deve conceber-se como educador precisamente, enquanto pronome a criação de um novo tipo de nível de civilização. Além do que, considera que a função da escola é a de organizar a parte principal da tarefa formativa do Estado e, portanto, de elaborar a grande massa da população para o nível cultural e moral que satisfaça as necessidades do desenvolvimento das forças produtivas e, por conseguinte, aos interesses das classes dominantes. Esta tarefa formativa é possível só na dinâmica entre consenso e coerção. Gramsci defende a extinção do Estado conforme sua ideia materialista – dialética e suas contribuições se encaminharam para a construção de um corpo teórico que permita explicar o fenômeno educativo em suas múltiplas determinações, reconhecendo as relações de poder em distintos níveis com o fim de dar conta do comportamento ideológico e politico que determina as relações entre práticas hegemônicas e práticas educativas. John Dewey (1859-1952) filósofo e educador americano escreveu sobre filosofia, educação, artes e política. O filósofo considera inseparável a relação vida e educação, pois esta deve preparar para a vida e promover o seu constante desenvolvimento, incluindo a experiência e a democracia como base da reflexão e do desenvolvimento de potencialidades criadoras. 39 Teorias Pedagógicas Sua filosofia aponta para uma prática docente baseada na liberdade do aluno para elaborar suas certezas, seus conceitos, conhecimentos e regras morais, cabendo ao professor apresentar, mediar os conteúdos em forma de questões ou problemas e não como respostas prontas. As teorias mais modernas da didática, como o construtivismo e as bases teóricas dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs tem inspiração das ideias deweyana. No Brasil, sua contribuição foi decisiva para motivação de Escola Nova, movimentando liderado por Anísio Teixeira, que apresenta o pragmatismo e a democracia como pilares da educação. Para Dewey, portanto, “educação significa uma constante reconstrução da experiência, de forma a dar-lhe cada vez mais sentido e habilitar as novas gerações para responder aos desafios da sociedade” e estimular o desejo do desenvolvimento contínuo dos educandos. Paulo Freire – nasceu em 1921 e formou-se em direito aos 26 anos. A partir da experiência do ensinar português em diferentes colégios secundários, passou a estudar o processo de transmissão da língua, criando um método próprio de alfabetização. Em 63, assumiu a direção do plano Nacional de educação, que previa alfabetizar 16 milhões de adultos num prazo de 4 anos. Com o golpe militar de 64 deixou o país. Trabalhou para o governo chileno, e, depois, na Guiné-Bissau. De volta ao Brasil, viu seu método adotado em vários pontos do país. É autor de vários livros. Entre eles: pedagogia do oprimido, educação e realidade brasileira, educação como prática da liberdade e pedagogia da esperança. Nos anos 50 propôs uma pedagogia específica para este público, associando o estudo, experiência vivida, trabalho, pedagogia e política. Sua teoria do conhecimento baseava-se na conscientização e no diálogo. Dizia: “ninguém educa sozinho. Nós nos educamos mutuamente, mediatizados pelo mundo”. Conforme escreveu a deputada federal gaúcha, conhecida educadora, Esther Grossi, em um artigo publicado no jornal Zero Hora, em 3 de maio passado, intitulado “ O DESBRAVADOR DA APRENDIZAGEM”. “Paulo Freire acreditava que a alfabetização não se esgota na interpretação, mas vai além até a transformação do mundo pelo saber. Desbravador das possibilidades de todos, desde sua pedagogia do oprimido”. 40 Teorias Pedagógicas 3.1 Principais Paradigmas Sócio-Educativos No campo científico internacional, a produção de teorias sócio-educativas, foi construída, a partir dos anos 50, fundamentalmente por três países ao centro: Estados Unidos da América, Inglaterra e França. Funcionalismo (integração social/EUA) – T. Parsons; Capital Humano (produtividade/EUA) – t Schultz; Empirismo Metodológico (desigualdade/Suécia). Nova Sociologia da Educação (Curriculum/Inglaterra); Teorias Críticas (Reprodução/ P. Bourdieu e Passeron/França, Marxista/França); Teoria do Conflito (Marxista/EUA Weberiano/EUA) Considerações: Em geral, e comum às novas teorias, o enfoque do princípio da correspondência entre os sistemas educativo e produtivo e o conceito da capital cultural; As características gerais da investigação sócio educativa na América Latina evidencia que a mesma, durante os anos 40, esteve limitada a projetos estritamente pedagógicos. Nos anos 50 e 60 predominaram as incorporações das teorias tradicionais e, após o fracasso do desenvolvimento, abriram-se as vias para outras opções como os programas de conscientização de Paulo Freire; PENSAR, REFLETIR E PRODUIR A UTOPIA eram o que o caracterizava. Ele acreditava que o homem não pode viver sem utopia. De acordo com Lea Fagundes e Margarete Axt, professoras da UFRGS, “a utopia de Paulo Freire se configura numa proposta educacional suportada por princípios revolucionários, que projetam a educação como possibilidade no bojo das grandes transformações contemporâneas”. 1. Teorias tradicionais dos anos 50 e 60 2. Novas Teorias – a partir dos anos 60 (influência das ideias marxistas) 3. 41 Teorias Pedagógicas Desapareceu a figura do crítico e pensador, mas permanecem suas ideias e seu otimismo. Permanece a esperança de encontrarmos um caminho próprio para a formação de nossas crianças e jovens. Sua imagem não sairá jamais de nossa retina e suas palavras sempre brotarão de nossas bocas a qualquer momento. Temos o compromisso de continuar seu trabalho de construir uma escola pública de qualidade para todos e uma educação democrática e libertadora. De lutarmos por uma sociedade justa e fraterna, sem marginalizados e excluídos, onde todos possam exercer sua plena cidadania. Sigamos o legado da indignação que nos deixou. “... Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda... Desrespeitando os fracos, oferecendo a vida, explorando os outros , discriminando o índio, o negro, a mulher não estarei ajudando meus filhos a ser sérios, justo e amorosos”. BIBLIOGRAFIA CARNOY, M. Enfoques marxistas de la educacion. Centro de Estudios Educativos, A. C. México, 1989. GARCIA, C. Produccion y Transferencia de Paradigmas Teóricos em la Investigacion Socio-Educativa. Fondo Editorial Tropykos. Caracas. 1987. Cap. II, pp. 51-76. ROJO, A. La relacion Estado-Educacion desde la vision critica de Emile Durkheim y Antonio Gramsci. Perspectivas Docentes. Universidad Juárez Autónoma de Tabasco. Núm. 17, 1995, pp. 3-11. México. 42 Teorias Pedagógicas 1. Considerando o pragmatismo de Dewey, para você, como futuro docente, qual seria a proposta para a escola superar o modelo de repetição e memorização? 2. Nas meditações, Descartes afirma ter sido criado por um Deus perfeito, benevolente e não enganador. Todavia, Descartes reconhece que está sujeito a uma infinidade de erros. a) Como ele concilia essas duas afirmações
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