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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE PATOLOGIA "A coisa mais difícil do mundo é enxergar com os olhos tudo que diante deles está!" GOETHE. O que é patologia? O que é doença? Como se estuda patologia? O que faz um patologista? Como ele trabalha? Agentes etiológicos. Um breve resumo histórico... 1. O QUE É PATOLOGIA GERAL? Os conceitos variam de acordo com o universo em questão. Para o estudante, a patologia deve ser encarada como uma introdução ao estudo (gr. "") da doença (gr. ""), abordando principalmente o mecanismo de formação das doenças e também as causas, as características macro e microscópicas e as conseqüências destas sobre o organismo. Deve ser encarada como uma matéria interessante (pois representa o primeiro contato com a terminologia médica) e importante (já que a compreensão do mecanismo de formação das doenças é que vai ser a base para a boa prática clínica, potenciando diagnósticos e indicando terapêuticas.). Para o bom clínico, a patologia representa um meio de apoio e de confirmação de diagnósticos. Para o patologista (profissional treinado para reconhecer morfologicamente as lesões), a patologia é o estudo das lesões decorrentes das doenças. Mas para o bom patologista, mais que um objetivo, o grande desafio é entender a doença (i.e., saber como e por que determinadas lesões ocorrem em determinadas circunstâncias, e quais as suas conseqüências.). Isto explica por que muitas vezes um quadro patológico muito ruim (para o paciente) desperta nos patologistas exclamações com entusiasmo. Para os cursos da área médica, a patologia é um importante elo entre as disciplinas básicas (anatomia, histologia, embriologia, fisiologia, microbiologia, bioquímica e parasitologia) e as profissionalizantes (clínicas, cirurgias, reprodução e inspeção de produtos de origem animal). 2. O QUE É DOENÇA? É uma alteração orgânica geralmente constatada a partir de alterações na função [sintomas] de determinado órgão ou tecido, decorrentes de alterações bioquímicas e morfológicas causadas por alguma agressão, de tal maneira que se ultrapasse os limites de adaptação do organismo. O paralelo com "defeito na TV ou no carro" é aceitável, apenas diferindo em aqui se tratar de alteração em um ser vivo, i.e. envolver muito mais variáveis, algumas das quais imensuráveis. Assim, o estudo das doenças não é uma ciência exata, precisa-se, portanto saber interpretar os achados, não somente memorizar esquemas, circuitos e decisões. 3. COMO SE ESTUDA PATOLOGIA? A primeira abordagem dos mecanismos de formação das lesões pode parecer complexa. As vezes alguns eventos biológicos parecem ser até mesmo conflitantes. Exemplos: Exemplos da aparente complexidade do tema Patologia: 1. Os mesmos mecanismos que defendem o organismo de infecções podem, em determinadas ocasiões, causar graves lesões como a glomérulonefrite pós estreptocóccica; 2. Os mesmos fatores que determinarão a hemostasia [coagulação] poderão também determinar trombose; 3. Uma célula endotelial lesada libera, ao mesmo tempo, tromboplastina [coaguladora] e ativadores do plasminogênio [anticoagulante]; 4. Enzimas líticas [lizozimas] de macrófagos e de polimorfonucleares usadas na digestão de partículas agressoras fagocitadas, podem também ser liberadas e agredir os tecidos... Tudo dependerá da situação em que estiver envolvido o organismo... Mais uma vez, o estudo das doenças não deve ser encarado como o de uma ciência exata, precisa-se, como já dissemos, saber interpretar os fatos. Didaticamente, e para efeito de currículos escolares, a patologia é dividida em 2 disciplinas: 1. Patologia Geral - que estuda os fundamentos das doenças e objetiva a compreensão e a classificação das lesões básicas que determinam e que são determinadas pelas mesmas. 2. Patologia Especial - que estuda as características de cada doença, de acordo com o órgão e sistema acometido. De acordo com a ênfase dada a determinado aspecto, a patologia pode ser subclassificada em: 1. Etiologia - Parte da patologia que se atém às causas das lesões; 2. Patogenia - Parte da patologia que se atém ao mecanismo de formação das lesões; 3. Morfopatologia - que por sua vez se subdivide em : Anatomia Patológica - Parte da patologia que estuda as características macroscópicas das lesões; Histopatologia - Parte da patologia que estuda as características microscópicas das lesões. 4. Fisiopatologia - Parte da patologia que se dedica ao estudo das alterações da função de órgãos lesados. 5. Outras denominações comuns e afins: Outras denominações: Patologia médica; Patologia veterinária ou patologia animal; Patologia comparada (médica e veterinária); Patologia experimental; Patologia diagnóstica (morfopatologia); Patologia cirúrgica (estudo de biópsias); Patologia clínica (laboratório clínico); Patologia especializadas (com a virtual explosão das informações científicas - neuropatologia, dermatopatologia, imunopatologia, etc...) 4. O QUE FAZ UM PATOLOGISTA? O patologista definitivamente não é: "Aquele cirurgião que não deu certo!" "O cirurgião do além!" "Aquele que descobre tudo, mas só depois que o paciente já morreu!" "Aquele cujos pacientes nunca reclamam!" Na verdade o patologista é apenas um profissional que procura reconhecer, interpretar e entender as lesões e as doenças, de modo a estabelecer racionalmente [sem empirismo!] o diagnóstico morfológico (às vezes também o diagnóstico etiológico provável) e o prognóstico. 5. COMO ELE TRABALHA? Da mesma maneira que um clínico geral usa termômetro, estetoscópio, plexímetro, ou que um cirurgião usa o bisturi, pinças e porta-agulhas, o patologista também utiliza um instrumental. Basicamente este se compõe de: Mala (e técnica) de necropsia + olhos treinados e atentos. O importante não é olhar simplesmente, mas sim enxergar! Microscópio óptico + lâminas de tecidos lesados + olhos treinados e atentos. É importante lembrar que o microscópio não é uma "Bola de Cristal" e que o patologista não é nenhum "mago". Existem sempre várias limitações, que vão desde problemas na colheita e processamento do material até a presença de lesões ainda pouco expressivas ou subcelulares. Exatamente estas limitações é que explicam a existência de virologistas, sorologistas, toxicologistas, como também o desenvolvimento de técnicas cada vez mais sofisticadas para atender a necessidade de diagnósticos. Observe que a nossa capacidade de entender a doença depende do nível de resolução no qual as informações importantes são captadas. Comprometimento causado pela agressão: Molecular Celular e subcelular Tissular e celular Orgânico e tissular Sistêmico e orgânico Nível de resolução Bioquímico Ultraestrutural Histopatológico Anátomo- patológico Clínico Constatação por: Técnicas moleculares Microscopia eletrônica Microscopia óptica Olho nu Sintomas Newton já dizia: "A cada ação corresponde uma reação!" O organismo também obedece a essa lei natural. Assim, a cada agressão, o organismo reage. Estas reações, no entanto, vão depender da intensidade e da persistência da agressão e da resistência do local agredido. Reações às Agressões Adaptação Alt. progressivasNecrose Alt. Regressivas (atrofia/degeneração) Alt. Inflamatórias Alt. Neoplásicas 6. AGENTES AGRESSIVOS OU ETIOLÓGICOS: Qualquer agente que determine reações anormais na célula, podendo levar à perda da capacidade de compensação e gerar alterações bioquímicas, fisiológicas e morfológicas. A lesão bioquímica precede a lesão fisiológica que precede a lesão morfológica. Classificação: Intrínsecos: Modificações no genoma, na hereditariedade e na embriogênese; Erros metabólicos inatos; Disfunções imunológicas (autoimunidade; hipersensibilidades; imunossupressão); Distúrbios circulatórios; Disendocrinias; Distúrbios nervosos e psíquicos; Envelhecimento; Extrínsecos: Físicos: Temperatura; eletricidade; radiações; sons e ultrasons; magnetismo, gravidade e pressão. Químicos: Exógenos Inorgânicos Ácidos, bases, metais pesados Orgânicos Toxinas, venenos, organo-sintéticos Endógenos Hormônios, catabólitos, enzimas, anticorpos, etc... Infecciosos: Agentes Infecciosos: Agentes Acelulares Prions (<5 nm); viroides (<5 nm); virus (20-200 nm) Agentes Unicelulares Células procarióticas (200-2000 nm): clamídias, micoplasmas, rickettsias, bactérias. Células eucarióticas (>2000 nm): fungos, protozoários Agentes Multicelulares Helmintos Artrópodes do Niquel Náusea 7. UM BREVE RESUMO DA ISTÓRIA... Se existe vida, então existe também doença! O conflito saúde x enfermidade sempre existiu, para toda espécie de ser vivo. Na pré-história, o homem parecia agir instintivamente, como os animais, no tratamento de suas enfermidades. Assim, é comum achar pinturas rupestres de homens das cavernas lambendo suas feridas, ou bebendo muita água e ficando nas proximidades de fogueiras quando se tinha febre... Com o desenvolvimento da inteligência, alguns começaram a se destacar entre as tribos, utilizando empiricamente ervas, raízes, tecidos animais, ruídos e mesmo procedimentos "cirúrgicos" (a 4.000 a.C. já existia trepanação craniana, com cicatrização), para "afastar os maus espíritos" das doenças [daí a designação comum de "sacerdotes" ou "feiticeiros"]. A doença era tida então como um reflexo da ira dos deuses... Na Índia antiga, por volta de 2.350 a.C. apareceram os "Salihotrias" - precursores dos veterinários. Posteriormente, em 250 a.C. no reinado do imperador Asoka, apareceram os primeiros hospitais veterinários (450 anos antes dos de Roma). Na antiga Babilônia, em 2.200 a.C. foi escrito a primeira regulamentação da prática, remuneração e responsabilidade do veterinário. No chamado "Código de Hamurabi", no artigo 224 se dizia que a cura de um animal enfermo deveria valer 1/6 de siclo de prata como remuneração. Já no artigo 225, se dizia que se o animal tratado viesse a óbito, o responsável deveria indenizar o proprietário com 1/4 do valor do animal. Na Bíblia existem referências interessantes a respeito das doenças na antiga Judéia. No Egito dos Faraós, a mais de 5.000 anos, desenvolveu-se a técnica de embalsamento, permitindo os primeiros estudos anatômicos das doenças. Assim, em 1900 a.C. no chamado "Papiro de Kahum" já havia referências a pequenas cirurgias e outras terapêuticas... Na Grécia, entre 460 a 355 a.C. Hipócrates de Cós, considerado ainda hoje como o "Pai da Medicina", criou a célebre "Teoria Humoral da Enfermidade", com base na aparência externa do indivíduo e correlacionando causas e efeitos, ainda que empiricamente. Posteriormente Galeno contribuiu e difundiu tal doutrina, que persistiu até o início do Renascimento. Na Roma antiga ocorreu o batismo da profissão de veterinário, advindo de "veterina" = animal de carga e "veterinarius" = os encarregados dos veterinas. Além disto apareceram também os primeiros hospitais veterinários do ocidente. Com as guerras e a expansão do império romano, os feridos se multiplicavam criando condições para o desenvolvimento de terapêuticas. Em Florença na Itália, em 1502, Antonio Benivieni realizou 20 necropsias procurando determinar a "causa mortis" e explicar sintomas. Nessa mesma Roma antiga, entre 42 a.C. e 37 d.C. viveu Cornelius Celsus, que descreveu os 4 sinais cardeais da inflamação ["Signa inflammationis quatror sunt: Rubor et Tumor, cum Calor et Dolor"], redescobertos em 1443 pelo Papa Nicolas V. Na idade média, a Inquisição tratou de atrasar o desenvolvimento científico. Houve total desinteresse na arte, literatura e medicina. Apenas a química evoluiu, com os "alquimistas" procurando a "pedra filosofal". Nessa época era comum ver epilépticos serem "tratados a porretadas", para espantar os maus espíritos... Poucos conseguiram estudar a vida e sair ilesos dos tribunais da inquisição"... Muitos foram queimados em praça pública, acusados de bruxaria ou de violar a alma de cadáveres... Em Verona, em 1546, o monge e médico Girolamo Fracastorio (1483- 1553) descreveu a aftosa bovina e lançou a teoria da contagiosidade (em "De contagione"). Entre 1514 e 1564, Andreas Vesalius revolucionou a anatomia, procurando associar função com estrutura anatômica. Publicou "Tabulae anatomica sex" em 1538 e "De humani corporis fabrica" em 1543. Aos 30 anos foi forçado a abandonar a cátedra de anatomia em Pádua e, mais tarde, foi condenado pela inquisição à uma peregrinação a Jerusalém, morrendo no caminho. O Renascimento marcou a perda das superstições e dos medos! Acabou a Inquisição e fazer necropsia largou de ser violação da alma do cadáver! Com isto a patologia evoluiu bastante. Houve intenso desenvolvimento científico e o aparecimento de inúmeros livros e periódicos... Robert Hooke, estudando a cebola, criou o microscópio e batizou a unidade fundamental dos tecidos com o nome de "célula" [pequena cela onde ficavam presos estruturas como o núcleo e o citoplasma...]. Em 1628, William Harvey (1578-1657), descrevia o sistema circulatório ("Exercitatio anatomica de motu cordis et sanguinea in animalibus"). Em torno de 1673, Antony Van Leeuwenhoek (1632-1723) começou a utilizar o microscópio (criado por Hooke e aperfeiçoado por Hans e Zacharias Jansen e Cornelius Drebbec) em medicina (foi o primeiro homem a ver o seu próprio espermatozóide...). No início do século XVIII, Giovanni Baptista Morgagni (1682-1771) começou a correlacionar alterações orgânicas constatadas a necropsia com sintomas das doenças. Suas anotações lhe valeram a publicação de duas importantes obras: "Adversária anatômica" e "De sedibus et causis morborum per anatomen indagatis", esta última publicada em 1750, descrevendo, discutindo e comentando cerca de 700 necropsias, além do título de "Pai da Anatomia Patológica". Em 1776, Edward Jenner verificou que os tiradores de leite em Gloucestershire, na Inglaterra, não adoeciam de varíola depois de terem se infectado com a varíola bovina, mais benigna. Em 1798 criava a primeira "vacina" - usando o vírus bovino para imunizar contra a doença humana. Claude Bourgelat (1712-1779) escreveu em 1761 "Elementos de hipiatria", fundouem 1762 a 1a Escola de Veterinária do mundo em Lyon e depois a de Alfort em 1764. John Hunter (1728-1793) introduziu a reprodução experimental das doenças, daí o título de "Pai da Patologia Experimental" [obs.: morreu de sífilis, adquirida segundo consta, em seu laboratório...]. Charles Vial de Saint Bell (1753-1793), graduado em Lyon, depois professor e diretor de Alfort, com a Revolução Francesa fugiu para a Inglaterra, fundando o Veterinary College of London. René Théophille Jyacinthe Laënnec (1781-1826) estudou as alterações proliferativas de diversos órgãos e foi o autor do termo "Cirrose". Johannes Mueller (1801-1858) foi o ultimo dos grandes filósofos da antigüidade que ainda procuravam abarcar todas as ciências. Utilizou o microscópio em medicina, sendo o preceptor de Schwann, Henle e Virchow. Aparecimento da chamada "Teoria Celular", com Lamarx (1809), Butrochet (1824), Schleiden (1838), Schwann (1839) e Mirbel (1902). François Marie Xavier Bichat (1771-1802) estudou a constituição tecidual dos órgãos através de métodos físico-químicos, concluindo existir cerca de 21 tecidos diferentes no ser humano. É, por isto, considerado o "Pai da Histologia" e também o responsável pela clássica divisão entre patologia geral e patologia especial. Carl Rokitansky (1804-1878) estabeleceu as bases estruturais das doenças e a técnica de necropsia com estudo sistemático de cada órgão. Foi um excelente patologista descritivo. Em 1866 já tinha feito mais de 30 mil necropsias. Ancião, desesperou-se pela queda de suas teorias (dramáticas e cheias de imaginação) pelos novos conceitos de seus sucessores e ex-pupilos. Louis Pasteur (1822-1895), considerado o "Pai da Bacteriologia e da Imunologia", derrubou a teoria da geração espontânea provando que um meio de cultura esterilizado por fervura permanece isento de germes se mantido fechado num frasco. Com isso criou as bases da classificação dos germes das técnicas de esterilização e assepsia. Robert Koch (1834-1910) derrubou a teoria dos Miasmas infectantes, provando a existência de micróbios como causadores de doenças. Em 1847, o obstetra Ignaz Phillipp Semmelweiss (1818-1865) na Hungria, estabeleceu as bases da sanidade hospitalar ("lavar o veneno das mãos antes de tocar nos pacientes"), ainda sem conhecimento de microbiologia. O russo Elie Metchinikoff, trabalhando no Instituto Pasteur em Paris, descreve e batiza a "Fagocitose", acreditando que a resposta celular é que era protetora contra as infecções. Contra ele um alemão chamado Paul Erlich afirmava que a resposta humoral é que era o fator de proteção. Ambos repartem o Prêmio Nobel em 1908. Rudolph Virchow (1821- 1902), considerado como o "Pai da Histopatologia", pelo batismo da maioria dos termos ainda hoje utilizados na prática médica. Em 1858 escreveu "Die Cellularpathologie" (Patologia Celular) e criou um periódico [em 1847] - "Arquivos de Virchow", que permanece até hoje como um grande periódico em patologia. Aplicou a teoria celular em patologia, estabelecendo pela 1a vez a seqüência: lesão microscópica [célula lesada] lesão microscópica [tecido lesado] lesão macroscópica [órgão lesado] lesão na função/sintoma [organismo lesado]. Julius Conheim (1839-1884) explicou as bases histológicas da inflamação, analisando, sob o ponto de vista microscópico os 4 sinais cardeais de Celsus. Sugestões para leitura Sugestões para leitura: Gordon, R. A assustadora história da medicina. 8ed. Rio Janeiro, Ediouro, 1996. Long, E.R. A history of Pathology. Baltimore, Williams & Wilkins, 1928. Cartwright, F.F. Disease and History. New York, Dorset Press, 1972. Lyons, A.S. & Pertrucelli, R.J. Medicine: An illustrated History. New York, Harry N. Abrams Inc. 1987. Savassi Rocha, L.O. Vida e obra de Luigi Bogliolo. Belo Horizonte, Editora Gráfica da Fundação Cultural de Belo Horizonte. 1992. 521 p. MORTE GERAL, APOPTOSE, NECROSE & GANGRENA: "A morte celular tem papel importante em biologia, tanto fisiológica quanto patologicamente. A morte celular fisiológica é parte importante no desenvolvimento embrionário e fetal, na renovação das células e em vários aspectos da maturação dos mecanismos imunológicos de defesa. Já a morte celular patológica é um elemento central de algumas das mais importantes pragas que afetam a sociedade moderna". W. Thomas SCHIER. Why study mechanisms of cell death? Meth.Achiev.Exp.Pathol. 13:1-17, 1988 Introdução Conceito Morte Geral ou Somática Necrose Autólise Alterações cadavéricas Abióticas Imediatas Consecutivas Transformativas Apoptose Definição Apoptose Fisiológica Características microscópicas Diferencial entre necrose e apoptose Eventos Apoptose Patológica Necrose Conceito Diferencial entre necrose e autólise Características Macroscópicas Características Microscópicas Características Ultraestruturais Causas Conseqüências Evolução das necroses Gangrenas Conceito Gangrena Seca Gangrena Úmida Gangrena Gasosa Morte Geral, Morte Local, Gangrena. Conceitos: Morte: Parada definitiva e irreversível dos processos metabólicos, das funções orgânicas e das atividades vitais. A morte pode afetar parcial ou totalmente o organismo: Morte Geral ou Somática ou Clínica Afetando "in toto" o organismo Morte Programada ou Apoptose Afetando células individualizadamente Morte Celular Acidental ou Morte Tissular ou Necrose Afetando células ou grupo de células Na Necrose (do gr. "" = morte + "" = estado de) um tecido estaria morto enquanto o indivíduo como um todo estaria ainda vivo. Na Morte Somática o indivíduo como um todo estaria morto enquanto alguns tecidos ainda poderiam estar vivos, pelo menos por algum tempo (base para que se ocorram os transplantes de órgãos) até que a Autólise ocorra. A Autólise é a autodestruição celular por ativação das lisosimas em decorrência da falta de nutrientes e O2. É a desorganização progressiva até a desintegração completa. Diferencial Necrose x Autólise. Características: Necrose Autólise Hemólise intravascular - + Reação inflamatória adjacente* + - Lembrar que quando a necrose não é causada por fenômenos inflamatórios, ainda assim o tecido necrótico suscita uma reação inflamatória, na medida que passa a agir como corpo estranho - pela liberação de mediadores da inflamação e de antígenos até então internos. ALTERAÇÕES CADAVÉRICAS: Classificação e significado prático: Alterações cadavéricas abióticas (que não modificam o cadáver no seu aspecto geral): Imediatas (significado: Morte Somática): Mediatas ou Consecutivas (significado: Autólise): Mais outra boa charge do Níquel Náusea (Gonzalez) Alterações cadavéricas transformativas Que modificam significativamente o cadáver no seu estado geral, inclusive dificultando o trabalho de Insensibilidade; Imobilidade; Parada das funções cardíaca e respiratória; Inconsciência; Arreflexia. "Livor Mortis" ou hipostase cadavérica; “Algor Mortis" ou frialdade cadavérica; “Rigor Mortis" ou rigidezcadavérica; Coagulação do sangue; Embebição pela Hemoglobina; Embebição pela Bile; Timpanismo ou Meteorismo post mortem; Deslocamento, torção e ruptura de vísceras post mortem; Pseudo prolapso retal. Análise e interpretação dos achados. Significado: Decomposição, putrefação ou heterólise. Sob o ponto de vista prático não se justifica mais a necropsia, a não ser que exista envolvimento judicial. Mais uma outra boa charge do Níquel Náusea (Gonzalez) Para o estudo mais detalhado das alterações cadavéricas recomenda-se as seguintes publicações: VASCONCELOS, Anilton Cesar Necropsia e remessa de material para laboratório em medicina veterinária., Brasília, MEC/ABEAS, 1988. 74 p. (Programa Agricultura nos Trópicos, V.4.). VASCONCELOS, Anilton Cesar Necropsia e conservação de espécimes para laboratório. Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG, 16: 5-30, 1996. Pseudo- Melanose; Enfisema tecidual; Maceração; Coliquação; Redução esquelética. 3. APOPTOSE Por definição, Apoptose ou Morte Celular Programada é um tipo de "autodestruição celular" que requer energia e síntese protéica para a sua execução. Está relacionado com a homeostase na regulação fisiológica do tamanho dos tecidos, exercendo um papel oposto ao da mitose. O termo é derivado do grego "", que referia-se à queda das folhas das árvores no outono - um exemplo de morte programada fisiológica e apropriada que também implica em renovação. Fisiologicamente, esse suicídio celular ocorre no desenvolvimento embrionário, na organogênese, na renovação de células epiteliais e hematopoiéticas, na involução cíclica dos órgãos reprodutivos da mulher, na atrofia induzida pela remoção de fatores de crescimento ou hormônios, na involução de alguns órgãos e ainda na regressão de tumores (Tab. 1). Portanto consiste em um tipo de morte programada, desejável e necessária que participa na formação dos órgãos e que persiste em alguns sistemas adultos como a pele e o sistema imunológico. Apoptose Fisiológica Membranas interdigitais Desenvolvimento da mucosa intestinal Fusão do palato Involução normal de tecido hormônio- dependentes Atresia folicular ovariana Leucócitos Maturação linfóide e prevenção de autoimunidade Citotoxidade Tab. 1. Ocorrência de apoptose fisiológica A apoptose é um processo rápido, que se completa em aproximadamente 3 horas e não é sincronizado por todo o órgão, portanto diferentes estágios de apoptose coexistem em diversas secções dos tecidos. Devido à taxa rápida de destruição celular é necessário que apenas 2 a 3% das células estejam em apoptose em determinado momento para que se obtenha uma regressão substancial de tecido, atingindo mesmo a proporção de 25% por dia. Microscopicamente ocorre fragmentação nuclear e celular em vesículas apoptóticas. Diferente da necrose, não existe liberação do conteúdo celular para o interstício e, portanto não se observa inflamação ao redor da célula morta. Outro fato importante é a fragmentação internucleossômica do DNA, sem nenhuma especificidade de seqüência, porém mais intensamente na cromatina em configuração aberta; conseqüência da atividade de uma endonuclease. Essa fragmentação característica do genoma pode ser identificada in situ pela técnica de TUNEL (Terminal deoxinucleotidil transferase Uracil Nick End Labeling). Pode ser também facilmente visualizada laboratorialmente pela eletroforese do DNA em gel de agarose, produzindo o clássico "padrão em escada", com a formação de bandas contendo múltiplos de 180- 200 pb (Figura 1). A necrose difere da apoptose por representar um fenômeno degenerativo irreversível, causado por um agressão intensa. Trata-se pois da degradação progressiva das estruturas celulares sempre que existam agressões ambientais severas (Tab. 2). É interessante salientar que o mesmo agente etiológico pode provocar tanto necrose quanto apoptose; sendo que a severidade da agressão parece ser o fator determinante do tipo de morte celular. Vários agentes etiológicos já foram confirmados como indutores de apoptose, entre eles diversas viroses, isquemia, hipertermia e várias toxinas (Tab. 3). Evidências recentes suportam o conceito de que o crescimento tumoral "in vivo" depende da evasão dos mecanismos homeostáticos de controle que operam via indução de morte celular por apoptose. A indução de apoptose seja através de mecanismos imunológicos, seja por outros mecanismos homeostáticos específicos, parece ser extremamente importante no processo de eliminação de células sofrendo transformação maligna. Danos não reparáveis no DNA (por mutações ou infecções virais) aparentemente iniciam o processo de apoptose. É importante salientar que muitos dos genes que condicionam a proliferação celular (chamados oncogenes e genes supressores de tumores) estão também envolvidos na iniciação do processo de apoptose e que a inibição por si só do processo fisiológico da apoptose leva à sobrevivência prolongada das células, favorecendo o acúmulo de mutações e a transformação maligna. Assim, a apoptose representa um mecanismo de eliminação seletiva de células cuja sobrevivência poderia prejudicar o bem estar do organismo. 4. NECROSE: Conceito e nomenclatura: Necrose é o "ponto final" das alterações celulares, sendo uma conseqüência comum de inflamações, de processos degenerativos e infiltrativos e de muitas alterações circulatórias. É o resultado de uma injuria celular irreversível, quando o então "nível zero de habilidade homeostática" (ou "ponto de não retorno" ou ainda "ponto de morte celular") é ultrapassado, caracterizando a incapacidade de restauração do equilíbrio homeostático. Outros termos relacionados: o Necrobiose, Esfacelo, Cárie, Seqüestro, Malácia, Infarto, Erosão, Úlcera, Úlcera fagedênica, Escara Características macroscópicas: Variam conforme o tipo morfológico da necrose. Como características comuns, podemos ter: Diminuição da consistência e elasticidade (devido à lise dos constituintes celulares), verificados facilmente em órgãos parenquimatosos (ex.: fígado e pulmões) quando uma simples compressão digital determina a perfuração da cápsula ["friabilidade"] ou mesmo nas alças intestinais, que quando suspendidas se rompem não suportando seu próprio peso. Alterações na coloração e aspecto geral: da palidez e opacidade, determinando uma coloração mais brancacenta ou acinzentada, típica da necrose de Coagulação, vista nos infartos brancos ou isquêmicos; Escurecimento do órgão, quando este por ocasião da necrose estiver repleto de sangue - típica da necrose edematosa e hemorrágica, vista nos infartos vermelhos ou hemorrágicos; Liquefação do tecido necrótico - típica da necrose Coliquativa ou Liquefativa, vista nas malácias do SNC e nas necroses supurativas na região central de abscessos, determinando a cavidade neoformada onde se alojará o pus; Formação de massa brancacenta ou amarelada, pastosa, friável, lembrando à caseína do queijo - típica da necrose Caseosa ou de caseificação, vista no centro dos granulomas causados pelo Mycobacterium tuberculosis e suas variedades [exceção: M. avium] na tuberculose; Formação de massa gomosa, compacta, "emborrachada" ou fluida, lembrando à "goma arábica" - típica da necrose Gomosa, vista no centrodos granulomas vascularizados causados pelo Treponema palidum, na sífilis ou Lues tardia; Formação de pequenas massas esbranquiçadas, lembrando à "parafina derretida" em tecidos ricos em lípides - típica da necrose Enzimática das Gorduras, vista no omento e tecido pancreático, nas pancreatites agudas e no tecido adiposo das glândulas mamarias. Características microscópicas: Variam conforme o tipo morfológico da necrose. Só constatáveis quando o organismo como um todo sobrevive, e após 3 a 8 horas da cessação dos processos metabólicos e atividades vitais. ("Necrofanerose"). Alterações nucleares: Cariopicnose (gr. "" = espessamento): Redução de volume e aumento da basofilia, com homogeneização do núcleo ( Contração nuclear + condensação da cromatina); Cariorrexe (gr. "" = Ruptura): Ruptura em vários fragmentos, com distribuição irregular da cromatina, acúmulo de grumos em torno da carioteca e posterior desintegração em grupos amorfos com perda dos limites nucleares. Cariólise ou cromatólise (gr. "" = dissolução): Dissolução da cromatina por hidrólise dos ácidos nucléicos gerando hipoacidez e redução da basofilia nuclear. Ausência de núcleos: Conseqüência da cariólise total. Alterações citoplasmáticas: Aumento da acidofilia citoplasmática: devido ao desacoplamento ribossômico (Diminuição de RNA no citosol), ao aumento de acido láctico no citosol, e à desnaturação de cadeias peptídicas com incremento de cargas negativas. Granulação citoplasmática: devido à tumefação e posterior ruptura de organelas (principalmente mitocôndrias e REL). Homogeneização citoplasmática: com a lise das organelas e coagulação das proteínas forma-se uma massa opaca e acidófila, vista principalmente nas necroses coagulativas. Ruptura da membrana celular: com liberação do material intracelular, formando uma massa indistinta eosinofílica homogênea, vista principalmente nas necroses de caseificação. Alterações da célula como um todo: Desaparecimento dos limites celulares, dificultando a individualização da célula, devido às alterações da membrana celular. Perda de coloração diferencial (devido à diminuição da basofilia nuclear); Desaparecimento das células como estruturas; podendo, no entanto ocorrer: Destruição completa das células e arcabouço tissular, produzindo espaços vazios (em algumas formas de necrose coliquativa), ou uma massa homogênea eosinofílica indistinta (nas necroses de caseificação). Preservação do arcabouço tissular, permitindo ainda o reconhecimento histológico do órgão, apesar da necrose (nas necroses de coagulação). Características ultraestruturais: Alterações citoplasmáticas: Degranulação, tumefação e posterior precipitação de fosfato de Cálcio na membrana interna das mitocôndrias, marcando o "ponto de não retorno". Desacoplamento ribossômico no RER e dissociação dos polissomos, marcando a parada na síntese protéica e liberação/ativação de enzimas líticas. Alterações nucleares: Ruptura e coalescência dos cromossomos (condensação da cromatina) marcando a parada na replicação e síntese de RNA’s. Etiologia das necroses: Qualquer agente agressivo, desde que a agressão seja letal, i.e.: grave, intensa, contínua ou não, mas que ultrapasse o "nível zero de habilidade homeostática" o Exemplos: Anóxia; fatores mecânicos, frio, calor, eletricidade, irradiações, substancias cáusticas (ácidos e bases fortes), tóxicos, microorganismos, toxinas, etc. Conseqüências: Dependem de: Órgão afetado: quanto mais essencial à vida, mais graves as conseqüências; Extensão da lesão: quanto maiores mais graves as conseqüências. Causas da necrose: o Infarto extenso no baço - Não compromete seriamente a vida do paciente... o Qualquer necrose, de qualquer extensão, no encéfalo - hemiplegias, alterações neurológicas, e mesmo a morte; Evolução: O tecido necrótico comporta-se como um corpo estranho (devido à liberação de Antígenos escondidos), suscitando uma reação inflamatória na tentativa de eliminar a área necrosada. o Absorção: Se a área afetada for mínima. Fagocitose por Macrófagos. o Drenagem: Se área for próxima às vias excretoras ou se ocorrer fistulação (Ruptura e drenagem de abscessos/necrose coliquativa). o Cicatrização: Proliferação fibroblástica e substituição do parênquima necrótico por tecido conjuntivo fibroso. o Calcificação: Comum na necrose caseosa. o Encistamento ou Seqüestro: Formação de pseudocistos, quando a área de necrose é ampla limitando a absorção. Comum nas malácias do SNC (onde as células responsáveis pela cicatrização - os astrócitos - ao contrário dos fibroblastos não são capazes de preencher extensas áreas perdidas). Nesse caso os astrócitos circunscrevem a área necrosada formando uma cápsula e ocorre então a formação de um cisto. 5. GANGRENA ("Gangraina" = úlcera devoradora) Conceitos: Tipo especial ou evolução de um processo necrotizante, cujas características variarão dependendo da velocidade de instalação do processo, das causas e do aspecto morfológico final do quadro (grau de hidratação dos tecidos necróticos). "Sensu strictu”: Necrose complicada com putrefação, ocorrendo tanto em extremidades quanto em vísceras internas. Compreende as gangrenas úmida e gasosa. O processo tende a se instalar rapidamente, diferentemente do que ocorre com a gangrena seca. "Sensu latu”: Necroses maciças, amplas, mesmo sem invasão de bactérias saprófitas (ainda que geralmente ocorre, embora em menor escala do que nas gangrenas úmida e gasosa). Compreende a gangrena seca. O processo tendo a ter um desenvolvimento lento, possibilitando a drenagem e evaporação de líquidos teciduais, ao tempo em que a isquemia vai se agravando, limitando o fluxo de sangue e líquidos nutrientes aos tecidos. Gangrena Seca: É também chamada de "Mumificação" e está usualmente associada à necrose isquêmica de extremidades, quando esta se desenvolve lenta e gradualmente, possibilitando a perda de líquido através da insuficiência do fluxo de líquidos nutrientes, da drenagem e da evaporação dos mesmos no local afetado pela isquemia. Etiologia: Fisiológica no cordão umbilical; Intoxicações com alcalóides do Ergot (produzidos pelo fungo Claviceps purpureum e Cl. paspali, parasitos do esporão de centeio e de outros cereais); Intoxicações com Festuca arundinacea (gramínea comum no sul da América do Sul, com propriedades vasoconstrictoras); Doença de Raynaud (espasmos vasculares); Frio / Congelamento; Gesso e bandagens muito apertadas; Características macroscópicas: Ressecamento, endurecimento, esfriamento e "apergaminhamento" do órgão, com escurecimento (cor pode variar de amarelo esverdeado a pardo enegrecido, em decorrência da decomposição local da Hemoglobina). A reação inflamatória do tecido vivo adjacente é intensa e delimita uma linha de separação nítida entre o tecido sadio e a gangrena. Pode ocorrer também separação do tecido sadio do tecido necrótico por solução de continuidade e queda do segmento gangrenado... Gangrena Úmida: É também chamada de "Gangrena pútrida" e quando afeta a cavidade oral recebe a denominação especial de "Noma" (denotando a contaminação com Fusobacterium spp). Pode ocorrer tanto em extremidades (pele, membros apendiculares, glândula mamaria) quanto em vísceras internas (útero, pulmões, intestinos, etc...) O importante é que haja fácil acesso de bactérias ao tecido necrótico. Etiologia: Nas extremidades ocorre em conseqüência de isquemias graves, intensas e de rápidainstalação, de maneira que o processo de necrose seja desencadeado sem que haja tempo para se desidratar o tecido em necrose. Trombo-angeíte obliterante e trombose (também chamados de "Gangrena senil", determinando infartos de extremidades - conseqüências de ateromas e varizes, nos membros inferiores - Pode também evoluir para gangrena seca, dependendo da velocidade de instalação do processo) Feridas traumáticas graves, infectadas (acidentes de transito, feridas de guerra, etc...). Evolução de apendicites e colecistites graves; Torções de alças intestinais e / ou trombose de artérias mesentéricas, produzindo necrose isquêmica de alças intestinais, liberando a proliferação descontrolada da flora bacteriana saprófita. Evolução de Pneumonias por aspiração de corpos estranhos; Evolução da metrite puerperal, se não tratada adequadamente. Características macroscópicas: Aumento de volume (edema) e amolecimento progressivo (coliquação tecidual) com hemorragias e escurecimento (decomposição local da hemoglobina) do local. A ação das bactérias saprófitas determina também um odor extremamente fétido e a produção de grande quantidade de toxinas, o que determinara uma toxemia grave, geralmente fatal, chamada de "Sapremia", que se não tratada rapidamente (amputação ou exérese da área gangrenada) acabará por ocasionar a morte do paciente. Gangrena Gasosa: É também conhecida como "Gangrena enfizematosa", "gangrena crepitante" ou "gangrena bolhosa". Trata-se de um grupo de entidades nosológicas específicas ("Edema maligno" e "Carbúnculo sintomático"). São causadas por bactérias anaeróbicas produtoras de gás (H2, CO2, CH4, NH3, SH2), de ácido butírico (de onde o odor característico de manteiga rançosa) e de ácido acético. Enzimas proteolíticas produzidas degradam os tecidos tornando-os escuros, tumefeitos e crepitantes. Etiologia: Bactérias do gênero Clostridium (Cl. perfringens; Cl. novyi; Cl. norsi; Cl. septicum; Cl. hystoliticum; Cl. feseri/chauvoei; Cl. bifermentans). PROCESSOS DEGENERATIVOS E INFILTRATIVOS CELULARES "Nós devemos lutar para entender o que está ocorrendo durante um processo mórbido e não simplesmente estar satisfeitos com o reconhecimento do mesmo!" VIRCHOW, 1898 Injúria celular reversível Sinonímia Conceito Nomenclatura Classificação Diferencial "degeneração & infiltração" Tumefação celular Sinonímia Conceito Classificação Características Macroscópicas Características Microscópicas Características Ultraestruturais Causas Mecanismos Infiltração glicogênica Conceito Características Macroscópicas Características Microscópicas Características Ultraestruturais Causas Mecanismos Esteatose Sinonímia Conceito Metabolismo lipídico Características Macroscópicas Características Microscópicas Características Ultraestruturais Etiopatogenia Outros acúmulos intracelulares de lípides não esteatóticos Hialinoses intracelulares Sinonímia Conceito Mecanismos Classificação 1.INJÚRIA CELULAR REVERSÍVEL Fatores envolvidos na relação agente agressivo x célula e tipos de reações celulares às agressões. Agente agressivo + Célula = Reação Celular Patogenicidade Diferenciação Adaptação Infectividade Atividade metabólica Injúria celular reversível Virulência Estado anterior de saúde e nutrição Injúria celular irreversível Inflamação (Reação mesenquimal) Sinonímia: Injúria celular reversível (Robbins et alii, 1986; Slauson & Cooper, 1984); Degeneração e infiltração (Denominações clássicas); Distrofias (Dahme & Schröder, in Kitt & Schulz, 1985). Conceito: Alterações do metabolismo celular ou tissular, usualmente reversíveis (ainda que o ponto de não retorno seja indefinido e o grau de reversibilidade varie conforme o tipo e a intensidade do processo) ocorrendo perda da habilidade de manter o estado de homeostase normal ou adaptado. Sistemas celulares mais vulneráveis a agressões: Membrana celular Alt. na permeabilidade de membrana e na pressão osmótica. Respiração aeróbica ATP e pH, Ca+2, ativação de enzimas líticas Síntese de enzimas e proteínas hipobiose e metabolismo, potencial de adaptação Integridade genética Síntese de RNA, enzimas e proteínas Nomenclatura: Acrescentar o sufixo "OSE" ao termo designativo do órgão ou tecido afetado. Diferencial entre degeneração e infiltração: Degeneração: Célula lesada, em hipobiose, não metaboliza os metabólitos que normalmente recebe, com conseqüente acúmulo dos mesmos patologicamente no citoplasma. Infiltração: Célula normal, que submetida a um excessivo aporte de metabólitos (que ultrapasse sua capacidade de metabolização), apresenta no seu citoplasma um acúmulo patológico destes metabólitos. Esquema diferencial entre degeneração e infiltração D E G E N E R A Ç Ã O Célula sadia + Agressão = Lesão Alterações bioquímicas Alterações fisiológicas capacidade de metabolização Acúmulo de metabólitos I N F I L T R A Ç Ã O Aporte excessivo metabólitos Acúmulo de metabólitos Lesão Classificação Os processos degenerativos e infiltrativos podem ser agrupados e classificados de acordo com a natureza química da substância que se acumula na célula e/ou interstício lesados (Critério de LETTERER). Distúrbio do metabolismo Acúmulo intracelular de Designações Hídrico celular Água Tumefação celular Glicílico celular Glícides Infiltração glicogênica Lipídico celular Lípides Esteatose e Lipoidoses Protílico celular Prótides Transformação Hialina Distúrbio do metabolismo Acúmulo intersticial de Designações Hidroeletrolítico tissular Água Edema (Alteração circulatória) Glicoprotílico tissular Glicoproteínas Amiloidose, Degeneração mucóide, Degeneração fibrinóide, "Gota úrica"(?) Lipídico tissular Lípides Obesidade, Fendas de colesterol, Arteriosclerose. Minerais tissular Minerais Calcificações patológicas, Concreções e calculoses (?). 2.TUMEFAÇÃO CELULAR: Sinonímia: "Hidropsia celular", Edema intracelular. Conceito: Acúmulo intracelular de água (hiperhidratação celular), conseqüência de desequilíbrios no controle do gradiente osmótico à nível de membrana citoplasmática e nos mecanismos de absorção e eliminação de água e eletrólitos intracelulares. Classificação: De acordo com o tipo da distribuição da água acumulada, a tumefação celular pode ser classificada em: Tumefação turva ou Degeneração granular ou Degeneração albuminosa ou ainda grânulo-albuminosa: Quando a distribuição do excesso de água é homogênea. Trata-se de uma fase mais precoce, mais aguda, mais comum, mais reversível, menos grave e por vezes confundida com autólise. Degeneração hidrópica ou vacuolar ou balonosa ou ainda globulosa:Quando a água acumulada é disposta em compartimentos no citoplasma da célula. Trata-se de um estágio mais avançado da mesma tumefação turva. Características macroscópicas: Aumento de volume e peso da víscera (tumefação, cápsula tensa, consistência pastosa, superfície decorte proeminente), com palidez (compressão vascular pelas células tumefeitas) e/ou coloração acinzentada clara (lembrando o aspecto de "cozido"). Características microscópicas: No exame à fresco: Citoplasma opaco, granuloso, turvo, refringente ("efeito tyndal"), com transparência diminuída mascarando o núcleo (Razão para o batismo com o termo "Tumefação turva", por VIRCHOW). No exame de rotina: Aumento do volume celular, com alteração da proporção citoplasma/núcleo e vacuolização citoplasmática que aumenta de volume, freqüência e intensidade de acordo com o estágio da lesão. Na tumefação turva os vacúolos (organelas distendidas ou rompidas) são pequenos. Já na degeneração hidrópica vacuolar a água se encontra compartimentalizada e, de acordo com a distensão que determina pode ocasionar ruptura celular (necrose coliquativa, base para a formação de vesículas nas viroses epiteliotrópicas vesiculares). Características ultraestruturais: Tumefação mitocondrial e cristólise (com diminuição da fosforilação oxidativa e da síntese de ATP), dilatação das cisternas e fragmentação do Retículo Endoplasmático e do Complexo de Golgi, lise do protoplasma ( citosol), perda das especializações superficiais da membrana celular (cílios, microvilosidades, desmossomos) e alteração nos contornos celulares, desagregação ribossomica do RER (com diminuição da síntese protéica), ruptura da membranas formando as "Figuras de Mielina" no citosol. Tumefação e ruptura lisossômica e / ou formação de autofagossomas. Causas: Hipóxia, infecções bacterianas e virais, hipertermia, intoxicações endógenas e exógenas, etc. Mecanismo: O2 Respiração mitocondrial ATP: Atividade da Bomba de Na/K, com Na+ e H2O e K + (Tumefação celular) Síntese e reciclagem de fosfolípides Perda de fosfolípides e da integridade da membrana com Ca+2 e ativação de enzimas líticas - Fosfolipases, proteases, ATPases e Endonucleases. Respiração anaeróbica, com de lactatos e pH (acidofilia citoplasmática com perda dos grânulos da matriz, condensação da cromatina nuclear). 3.INFILTRAÇÃO GLICOGÊNICA: Conceito: Acúmulo anormal intracelular de glicogênio, reversível, conseqüência de desequilíbrios na síntese ou catabolismo do mesmo. O glicogênio é normalmente encontrado nos músculos (0,5 a 1%), no fígado (2 a 8 %), no miocárdio, no útero pré-menstrual e no gestante, nas células cartilaginosas, nos tecidos fetais, na parótida, na pele, nos rins, nos macrófagos e neutrófilos próximos a focos inflamatórios e em oncócitos (quanto mais indiferenciados forem, maior a quantidade de glicogênio). Características macroscópicas: Pouco significativas. Sem lesão aparente macroscopicamente ou um discreto aumento de volume e palidez. Características microscópicas: O glicogênio é o único carbohidrato evidenciável histologicamente, requerendo apenas uma fixação imediata com álcool absoluto e colorações especiais para sua identificação como o Carmin de best ou o P.A.S. com prova de amilase. Esta prova (Amilase ou Diastase, feita com a saliva...) é importante no diagnóstico diferencial da Infiltração glicogênica com a Degeneração Mucóide intracelular, visto que tanto o Glicogênio quanto os Mucopolissacarídeos (MPS) dão reação positiva com o PAS. Entretanto, a saliva só consegue degradar o glicogênio e não o MPS. Nos rins: "Nefrose glicogênica" (ou de ARMANNI-EPSTEIN): Em HE: vacúolos citoplasmáticos semelhantes aos das Degenerações hidrópica ou vacuolar e/ou da esteatose; Em colorações especiais: Grânulos intracitoplasmáticos, principalmente nas células epiteliais da porção distal dos túbulos contornados proximais e, às vezes, na porção ascendente da Alça de Henle. No fígado: Infiltração intracitoplasmática e intranuclear ("núcleos perfurados da diabete" ou "Infiltração glicogênica de ASKANAZY"). Características ultraestruturais: O glicogênio aparece na forma de "Rosetas citoplasmáticas" ou no interior de fagossomos. Causas: Hiperglicemias: Alimentares, por lesão no SNC por narcóticos, por adrenalina ou glucagon ou aloxane, por hiperadrenocorticismo ou por diabete melito. Glicogenoses ou tesaurismoses glicogênicas ou ainda doença do armazenamento do glicogênio: 6 síndromes de origem genética (geralmente gen autossômico recessivo ou gen ligado ao cromossoma X) determinando deficiências de enzimas que condicionarão defeitos na síntese e/ou na degradação do glicogênio. Exemplos: Doença de VON GIERKE [I] - Deficiência de Glicose 6 Fosfatase; Doença de POMPE [II] - Deficiência de Amilo 1-4 Glicosidase ou de Glicosidase lisossomica; Doença de McARDLE [V] - Deficiência de Fosforilase muscular. Mecanismos: Diabete melito e demais hiperglicemias: Insulina glicemia glicosúria Reabsorção tubular de glicose Aporte excessivo de glicose à célula Acúmulo de glicogênio. Glicogenoses: Defeito na síntese ou na degradação do glicogênio determinando: -Forma anormal de glicogênio sintetizada não consegue ser metabolizada; -Falta uma ou mais enzimas que metabolizem o glicogênio normal. 4. ESTEATOSE: Sinonímia: Metamorfose gordurosa, deposição ou transformação gordurosa, "degeneração e infiltração gordurosa", adipose degenerativa, lipofanerose e lipose celular. Conceito: Acúmulo anormal reversível de lípides no citoplasma de células parenquimatosas (principalmente de túbulos renais, hepatócitos, e fibras do miocárdio - células que normalmente metabolizam muita gordura) onde normalmente lípides não seriam evidenciados histologicamente, formando vacúolos (pequenos e múltiplos ou único e volumoso) em conseqüência de desequilíbrios na síntese, utilização ou mobilização. Metabolismo lipídico: Lípides na dieta (25 a 160 g/dia) no Intestino delgado (Lipase pancreática + Peristaltismo +Sais biliares /emulsificação em micelas = TG AG + MG) Absorção no jejuno proximal (PINOCITOSE) Micelas pinocitadas entram em contato com REL Ressíntese de TG e ésteres do colesterol Formação de quilomícrons EXOCITOSE para vasos linfáticos (Quilíferos) Ducto torácico Vasos sangüíneos Tecido adiposo: [armazenamento principalmente no tecido subcutâneo, mesentério, epíplon e tecido peri renal]. Fígado: Passagem pelos capilares sinusóides (ação de lipases) Hidrólise em Ac. Graxos e Glicerol Contato com microvilosidades dos hepatócitos ENDOCITOSE dos Ac. Graxos e Glicerol pelos hepatócitos Utilização no metabolismo energético (mitocôndrias) "Estocagem" (lipossomos, quando excessivos = Esteatose) Esterificação / conversão para TG e FL, que levados ao RER subsidiarão a síntese de Lipoproteínas de baixa densidade para exportação. Características macroscópicas: a. As modificações no volume e coloração do órgão afetado dependerão da causa da esteatose e da quantidade de lípide acumulado. b. Geralmente ocorre de volume, consistência (órgão mais pastoso), friabilidade e amarelamento, além da presença de gorduras emulsionadas na faca ao corte. c. No fígado: de volume e peso (as vezes de 1,5 para 3 a 6 Kg, no ser humano) com bordas abauladas e consistência amolecida, coloração amarelada, superfície externa lisa e brilhante, e superfície de corte untuosa, sem marcação lobular. d. No coração: afeta principalmente os músculos papilares, determinando o aparecimento de listas amareladas ("tipo coração tigrado") quando focal. Todo amarelado e flácido quando difusa. e. Nos rins: de volume, palidez e amarelamento. Características microscópicas: a. Ocorre vacuolização citoplasmáticaque deve ser diferenciada da Degeneração hidrópica - vacuolar e da Infiltração glicogênica através de colorações especiais. b. Nos hepatócitos: Vacúolos pequenos e múltiplos (fase mais precoce) que podem se coalescer formando um único e volumoso, deslocando o núcleo para a periferia ("Célula em anel de sinete"), as vezes levando inclusive à ruptura celular formando os "Cistos gordurosos". Quando afetando a região periportal e justasinusoidal, não tem significado ou está associado a tóxicos; quando periacinar ("centrolobular") decorre geralmente de hipóxia e quando panlobular é causada principalmente pela diabete canina e acetonemia bovina. c. No epitélio dos túbulos renais (basalmente) e nas fibras do miocárdio (entre miofibrilas): geralmente pequenos e múltiplos. d. No processamento de rotina (e utilizando-se de HE), o álcool e o xilol dissolvem os lípides tornando o lipossomo um vacúolo vazio (espaço claro = imagem negativa do lípide). Para confirmação do lípide intracelular o melhor é usar microtomia de congelação e corantes lipossolúveis como: Sudam III - laranja avermelhado; Sudam IV - Vermelho escarlate; Ácido ósmico - negro; Sulfato azul do Nilo - Violeta azulado (predomínio de ácidos graxos) ou violeta avermelhado (predomínio de gordura neutra) e. A esteatose é quase sempre precedida de Tumefação celular e as vezes ocorre simultaneamente com essa e com necrose. Características ultraestruturais: "Lipossomos" = pequenos grânulos densos, às vezes em contato com o RE, que podem se coalescer formando "lipossomos gigantes". Etiopatogenia: a. Esteatose miocardíaca: Intoxicações, leucemias, anemia aplástica, difteria, etc. b. Esteatose renal: Hiperlipemias, intoxicações principalmente por tetracloreto de carbono (Cl4C) e plantas tóxicas. c. Esteatose Hepática [a mais estudada]: o Interferência com a dispersão micelar das gorduras intracitoplasmáticas: (discutível JONES & HUNT, 1983). Por Deficiência de fosfolípides e/ou de proteínas: por destruição enzimática (ex: fosfolipase do Clostridium welchii) ou por intoxicação (CL4C). Por deficiência de aminoácidos lipotróficos (metionina, inositol, colina, propriotenina, vitamina B12 e ácido fólico): que determinarão da síntese de fosfolipídeos e da esterificação de ácidos graxos em triglicérides. Por hipóxia, deficiência protéica na dieta, ou por excesso de colesterol e gorduras na dieta. o Aumento quantitativo da gordura intracelular sem aumento correspondente de fosfolípides e proteínas: Por da síntese lipídica a partir de acetatos ou pela esterificação dos ácidos graxos em triglicérides por dos alfa glicerofosfatos. Por do aporte de lípides nas dietas hiperlipemicas ou por mobilização excessiva de lípides do tecido adiposo (na diabete canina, acetonemia bovina, corticoidoterapia. intoxicação alcóolica, inanição, dietas policarenciais ["Kwashiokor"] e doenças consumptivas (Tbc, Ca, etc...). o Bloqueio na utilização de lípides: Por interferência na conversão de ácidos graxos em fosfolipídeos (na deficiência de aminoácidos lipotróficos e/ou síntese de proteína aceptora de lípides ["Apoproteína"] como conseqüência do desacoplamento ribossômico no RE (nas intoxicações por toxinas, Cl4C, P, Puromicina, Etionina, Tetraciclina, etc.) Por bloqueio na utilização e oxidação de lípides por interferência com co-fatores essenciais para a oxidação de ácidos graxos de cadeia longa [Carnitidina favorece a penetração de ácidos graxos nas mitocôndrias, onde ocorre a oxidação][Toxina diftérica e fitotoxinas]. Por bloqueio na união lípide - apoproteína ou na secreção de lipoproteínas do hepatócito [ácido orótico]. OUTROS ACÚMULOS INTRACELULARES NÃO ESTEATÓTICOS DE LÍPIDES: a. Lipidoses [ou Lipoidoses]: Lipofagia macrofagocitária: "Células esponjosas" (em necroses). Lipoidose arterial: Colesterol nas fibras lisas da íntima de grandes artérias na Aterosclerose. b. Xantomatose: Colesterol e ácidos graxos nos histiócitos formando nódulos ou placas no tecido subcutâneo e tendões. c. Lipoidoses Generalizadas: Desvios metabólicos congênitos, caracterizados pela deposição intracelular de lípides complexos, afetando principalmente as células do SNC coração, rins, retina, etc..., Em conseqüência de ausência de enzimas lisossômicas responsáveis pela correta metabolização (refletem mutações em muitos loci). Exemplos: Esfingoliposes, gangliosidoses, Tay Sachs, Doença de Gaucher, etc... 5. HIALINOSE INTRACELULAR: Sinonímia: Transformação hialina intracelular ou Degeneração hialina intracelular. Conceito: Acúmulo intracelular de material de natureza protéica, conferindo às células e tecidos afetados um aspecto hialino [gr. "hyalos" = vítreo, claro, homogêneo, translúcido, amorfo, denso, eosinofílico e refringente]. Para ROBBINS (1974), a hialinose intracelular é uma alteração tintorial de várias causas, nenhuma das quais representativas de um quadro específico de degeneração verdadeira! Por conseguinte, enquadra as hialinoses como "Não Degeneração". Mecanismos: a. Coagulação focal de proteínas celulares, vista em: Corpúsculos de inclusão tipo 1, Degeneração cérea de Zenker e de Magarinos-Torres. b. Penetração no citoplasma [via absorção ou pinocitose] de proteínas complexas, com precipitação ou coagulação das mesmas, vista em: o Corpúsculos de inclusão tipo 2, o Células dos túbulos contornados proximais, nas proteinúrias, o Células das vilosidades intestinais do intestino delgado no recém nascido aleitado com colostro. Classificação: a. Degeneração Cérea de ZENKER (em músculos esqueléticos, principalmente no gastrocnêmio e diafragma) e de MAGARINOS-TORRES (no miocárdio). Macro: Estrias e máculas amarelo-esbranquiçadas [donde a denominação corrente de "Coração tigrado", quando afetando o miocárdio]. Micro: Perda de estriação (desagregação dos miofilamentos à microscopia eletrônica) e homogeneização vítrea eosinofílica das fibras. Etiologia: Injúria tóxico-infecciosa subletal (febre tifóide, leptospirose, difteria, aftosa, etc...); traumatismos (injeção intramuscular, pancadas, etc...) e deficiência de vitamina E e selênio ("Doença do músculo branco"). b. Corpúsculos de inclusão intracitoplasmáticos: Corpúsculos de RUSSEL em Plasmócitos (tipo 1): Agregação de globulinas (tipo "colar de pérolas"), distendendo as cisternas do RER. É esférico, vítreo, homogêneo, acidófilo e birrefringente, e é visto com freqüência na Salmonelose aguda, na osteomielite crônica, etc. Corpúsculos de CROOKE em Células basófilas da adenohipófise, na Síndrome de CUSHING. Corpúsculos de MALLORY em hepatócitos (tipo 1): Filamentos ou massa eosinofílica perinuclear (complexo insolúvel de fosfolípides e lipoproteínas originando filamentos desordenados devido à alterações no citoesqueleto, a nível de microtúbulos e microfilamentos). É visto no alcoolismo crônico, na hepatite viral tipo A ou B, e na intoxicação com griseofulvina. Infecções virais (tipo 1 e 2): Acúmulo de nucleoproteínas virais e/ou de produtos da reação à infecção viral no citoplasma (vírus RNA) ou no nucleoplasma (vírus DNA ou RNA). Exemplos: NEGRI (Raiva), GUARNIERI (Varíola), COUNCILMAN- ROCHA LIMA (Febre amarela), SINEGAGLIA-LENTZ (Cinomose). "Gotículas de proteína" nos túbulos contornados proximais (nas Glomerulopatias com proteinúria) e nas vilosidades do intestino delgado do recém nascido alimentado com colostro. As proteínas reabsorvidas (pinocitadas) formam vesículas pinocitóticas que se fundem com os lisossomos formandoas "Gotículas de Proteína". PROCESSOS DEGENERATIVOS E INFILTRATIVOS INTERSTICIAIS "A degeneração amiloide, tida como lardácea por Rokitanski, é reconhecida quimicamente pela reação com o lugol que cora o material depositado como se fosse amido (vermelho escuro) sobre o fundo amarelado. Adicionando-se Ácido sulfúrico a 1% ou cloreto de zinco, faz-se variar a cor para azul, passando-se pelo verde escuro". VIRCHOW. Degeneração Mucóide Sinonímia Conceito Histoquímica Degeneração Mucóide intracelular (epitelial) Atrofia Serosa das Gorduras Degeneração Fibrinóide Conceito Composição do Fibrinóide Etiopatogenia Hialinose extracelular Conceito Biossíntese do Colágeno Componentes da Matriz ExtraCelular Características Microscópicas Ocorrência Mecanismos Outros distúrbios da MEC Amiloidose Sinonimia Conceito Histórico Características Macroscópicas Características Microscópicas Composição Origem Classificação Consequências Arteriosclerose Conceito Classificação Aterosclerose o Conceito o Etiopatogenia o Complicações o Características Macroscópicas o Características Microscópicas Mediosclerose de Monckeberg o Conceito o Etiopatogenia o Morfologia Arteriolosclerose o Conceito o Tipos Gota úrica Etimologia Conceito Histórico Etiopatogenia 1. TRANSFORMAÇÃO ou "DEGENERAÇÃO" MUCÓIDE: (Designação corrente, talvez imprópria/ "Não degeneração" - ROBBINS, 1974). Sinonímia: Alteração Mixomatosa, Transformação ou Entumescimento Mucóide (ou da Substância Fundamental), Edema Mucoso, ou ainda Distrofia Mucosa do Tecido Conjuntivo. Conceito: Alteração real ou aparente (embebição em água e íons) da Substância Fundamental Amorfa, que se apresenta entumecida, basófila (devida aos Mucopolissacárides Ácidos - MPS Ac), metacromática, com dissociação das fibras colágenas, e com fibroblastos apresentando núcleos hipercromáticos e estrelados, devido ao aumento da síntese ou à despolimerização incipiente (com liberação de MPS Ácidos sulfatados ou carboxilados) resultando no aparecimento de material de aspecto mucóide (lembrando tecido conjuntivo fetal primitivo - "Gelatina de Wharton"). É um processo agudo e reversível, sendo encontrado mais freqüentemente nos ligamentos, tendões, meniscos, duramater espinhal, na mixomatose dos coelhos (causada por um poxvírus, afetando principalmente o limite pele - mucosas e as orelhas), no hiper e hipotireoidismo (com formação do "Mixedema" na derme) e em algumas imunopatias. Histoquímica: PAS amilase negativa (diferencial com Infiltração Glicogênica), Azul de Metileno Policromo, Azul de Toluidina em pH 3,5 e Azul de Alcian. Observação: Alguns autores consideram também como Degeneração Mucóide: "Degeneração Mucóide Epitelial" (FARIA et alii, in BOGLIOLO, 1978; BARRETO NETO et alii, 1984): Aumento intracelular e/ou intersticial de mucinas e mucopolissacárides neutros (Eosinofilia! do conceito clássico). em conseqüência do aumento da função secretora dos epitélios mucíparos, vistos nas inflamações agudas catarrais dos sistemas respiratório, digestório e genital; ou nas neoplasias mucossecretoras (Carcinoma colóide, cistadenoma e cistadenocarcinoma mamários e gastrointestinais) onde a falta de acesso aos ductos resultam em acúmulo intracelular ("Célula em anel de Sinete!") ou mesmo intersticial de mucina. "Atrofia Serosa ou Mucosa da Gordura" (JONES & HUNT, 1983): A inanição prolongada ou doença crônica caquetizante ocasiona a mobilização das gorduras corporais determinando a "Saponificação nos adipócitos", principalmente nos sulcos coronarianos, nos músculos esqueléticos, no mesentério e no omento. Estes tecidos tendem a assumir um aspecto macroscópico gelatinoso, translúcido, aquoso e mucoso característico. Microscopicamente, ocorre proliferação de tecido conjuntivo de características embrionárias, com matriz basófila (MPS Ac) e fibrilas em arranjos cruzados além de fibroblastos com núcleo hipercromático estrelado. 2. DEGENERAÇÃO (OU NECROSE) FIBRINÓIDE: Conceito: Designação corrente (e talvez imprópria - "Não Degeneração"/ ROBBINS, 1974) para a deposição no tecido conjuntivo e paredes de arteríolas, de um material acelular amorfo, brilhante, eosinófilo, as vezes granular ou reticular, sem limites definidos, morfológica e tinturialmente (PAS positivo) semelhante à Fibrina depositada (donde a denominação "Fibrinóide"). Ocorre também por vezes uma redução no número de núcleos na área afetada com degradação dos componentes tissulares (donde a denominação também comum de "Necrose Fibrinóide"). Composição do Fibrinóide: Variável, geralmente contém: o Gamaglobulinas; o Fragmentos do complemento; o Albuminas; o Colágeno alterada e fibrina parcialmente digerida; o Debris celulares. Com tal composição, o fibrinóide pode ser considerado um produto da deposição de imunocomplexos circulantes (com posterior fixação do complemento) e da degradação de Fibrina exsudada, de fibras colágenas, e de glicoproteínas e células locais. Etiopatogenia: Hipertensão Malígna (nas arterioloscleroses / arteríolas e glomérulos renais); Digestão enzimática dos tecidos (úlceras pépticas); Vilosidades placentárias normais (Fibrinóide de Rohr); Autoimunopatias (ex. "Colagenoses"/ Reação de Arthus, Artrite Reumatóide, Febre Reumática, Periarterite Nodosa, entre outras), que levem a um aumento dos imunocomplexos circulantes com posterior fixação do complemento. Tais alterações culminam com aumento da permeabilidade vascular (e conseqüente saída de plasma e macromoléculas para o interstício) e com quimiotaxia (com conseqüente liberação de enzimas lisossômicas dos leucócitos nos tecidos, gerando o fibrinóide). Revisão rápida - Componentes do tecido conjuntivo: "Substância Fundamental Amorfa", Colágeno,Elastina, Células Fixas e Livres Componentes do tecido conjuntivo - Revisão: "Substância Fundamental Amorfa": São os Proteoglicanos ou Glicosaminoglicanos ou Mucopolissacarídeos Ácidos/MPS Ac (Reunião de proteínas com Ácido Urônico e N Acetil Hexosaminas). O alto teor de carbohidratos confere uma alta hidrofilia, facilitando a formação de Géis rígidos com carga negativa. Colágeno: Representa 1/3 das proteínas totais, sendo composto de 33% de glicina, 13% de prolina e 9% de hidroxiprolina. É sintetizado pelos fibroblastos, condroblastos e osteoblastos. Diferentes proporções entre carbohidratos e peptídeos e diferentes seqüências de aminoácidos determinam características especiais caracterizando 4 ou 5 tipos diferentes de colágeno. Um tipo particular de colágeno é a reticulina, que apresenta tamanho diminuto e arranjo diferente, ainda que composição química semelhante. Os vários tipos são, em geral, responsáveis pela resistência. Elastina: A reunião de aminoácidos hidrófobos (Valina, glicina, alanina, prolina) com a Lisina (que formará a bainha hidrófila) resulta na Tropoelastina, que oxidada pela lisiloxidase produzirá a Elastina. Ela é sintetizada pelos fibroblastos e por fibras musculares lisas, responsáveis pela elasticidade("tipo borracha"). Células: Fixas: Fibroblastos, Células Mesenquimatosas, Adipócitos, Histiócitos, Plasmócitos Mastócitos. Livres: Monócitos/Macrófagos; Linfócitos; Eosinófilos; Neutrófilos. Conceito: Deposição extracelular ou intersticial de material hialino (vítreo, claro, homogêneo, translúcido, amorfo, denso, eosinofílico e refringente) no tecido conjuntivo e nas membranas basais, de modo a alterar a proporção Núcleo/Colágeno e aumentar a eosinofilia do tecido. Alterações Hialinas do Colágeno após a sua formação normal (Verdadeira Transformação Hialina das fibras colágenas ou Degeneração Hialina do colágeno ou ainda Hialinose Colágena) (FARIA et alii, in BOGLIOLO, 1978) DISTÚRBIOS DO COLÁGENO - Excesso na biossíntese. Sinonímia: DEGENERAÇÃO HIALINA EXTRACELULAR OU TRANSFORMAÇÃO HIALINA DO CONJUNTIVO Considerando-se a etimologia da palavra, poder-se-ia empregar aqui o termo "Colagenoses", acrescentando-se, no entanto que nesse caso não se refere ao sentido clássico de Autoimunopatias. Características Microscópicas: Condensação das fibras colágenas com aumento da sua espessura e rigidez, assumindo um aspecto hialino, vítreo, homogêneo, irregular (por solução de continuidade das fibras e subsequente neossíntese). Ocorrência: É comum nos quelóides, nas cicatrizes extensas, nas esclerodermias e nos folículos ovarianos em atresia. Na vizinhança de hemorragias, pode-se somar a hialinose a deposição de Ferro e Cálcio, formando os "Nódulos de GANDY-GAMMA" ou nódulos sídero-calcáreos do baço esclero - congestivo. Mecanismo: A fibroplasia excessiva se associa à desidratação progressiva e fragmentação das fibras, o que estimula mais fibroplasia, com aumento da densidade dos componentes intersticiais (aproximação das fibras colágenas, espessamento dessas, de modo a dificultar a distinção uma das outras e a comprimir células e vasos adjacentes). o Biossíntese e Maturação do Colágeno (Etapa Intrafibroblástica (no RER) e Etapa Extrafibroblástica e Maturação) Biossíntese e Maturação do Colágeno - Revisão: Etapa Intrafibroblástica (no RER): a. Síntese de cadeias polipeptídicas com prolina e lisina não hidroxiladas. b. União das cadeias por ligações tipo Pontes de Hidrogênio e Van der Walls, produzindo o Pró-colágeno. c. Hidroxilação da prolina e lisina do pró-colágeno (ação da Pró-colágeno prolina ou lisina hidroxilase, com O2, ácido alfacetoglutárico, ferro ferroso e vitamina C) com subsequente Transglicosilação (adição de galactose ou glicose nas extremidades da hidroxiprolina). O número de glícides determinará o tipo do colágeno. Se rico em carbohidratos, formará fibrilas finas (tipo Membrana Basal); se pobre formará feixes compactos (tipo Tendões). d. Exocitose, via microtúbulos. Durante o transporte, o pró-colágeno sofre a ação da pró-colágeno peptidase transformando-se em Tropocolágeno. Etapa Extrafibroblástica e Maturação: a. Alinhamento das moléculas de tropocolágeno (monômeros). b. Ligações transversas cruzadas entre resíduos de lisina e hidroxiprolina, devido à ação da lisina oxidase, gerando lisinaldeído e hidroxilisinaldeído. Estas ligações tendem a aumentar com a idade e são responsáveis pela perda da distensibilidade). c. Formação de 3 cadeias entrelaçadas, com estrutura tubular (1000 Å de comprimento por 10 Å de diâmetro) em hélice tripla (muito resistente às proteases). Outros distúrbios afetando a Matriz extra celular: Alterações Hialinas da Elastina (Síndrome de MARFAN; Síndrome de MENKES; Osteolatirismo; Síndrome de EHLERS DANLOS tipo VI; Pseudoxantoma elástico; Fibroelatose do endocárdio; Elastose da íntima de pequenas artérias, arteríolas e veias na hipertensão;Senilidade). Alterações Hialinas da Substância Fundamental Amorfa ( Degenerações Mucóide e a Fibrinóide). Deficiência na biossíntese do colágeno (de origem genética; de origem adquirida) Outros distúrbios afetando a Matriz extra celular: Alterações da Elastina (FARIA et alii, in BOGLIOLO, 1978): Diminuição da quantidade de Elastina: Formas Congênitas: Síndrome de MARFAN: Deficiência de Lisina Oxidase Inexistência de ligações transversais cruzadas Dilatação aneurismática de grandes vasos. Síndrome de MENKES: Deficiência de Cobre plasmático por alterações no trato gastro intestinal, com diminuição da atividade da Lisina Oxidase e conseqüente alterações vasculares. Formas Adquiridas: Osteolatirismo: Ingestão de sementes da "Ervilha de Cheiro" (Lathyrus odoratus) que contem Beta amino propionitrilo, agente bloqueador da Lisiloxidase, causando o "Latirismo Bovino e Ovino", com aneurismas dissecantes aórticos. Lise inflamatória da Elastina: Ação de Elastases liberadas no foco por neutrófilos e macrófagos. Aumento da quantidade de Elastina: Formas Congênitas: Síndrome de EHLERS DANLOS tipo VI: Responsável pela hiperelasticidade dos contorcionistas; Pseudoxantoma elástico.(?). Formas Adquiridas: Fibroelatose do endocárdio; Elastose da íntima de pequenas artérias, arteríolas e veias na hipertensão. Senilidade. Alterações na qualidade da Elastina: Fragmentação das fibras elásticas da derme por ação da luz solar; "Degeneração Basófila do Colágeno" (Termo errôneo) - Visto nas dermatopatias atróficas, caracterizada por fragmentação e entumescimento das fibras elásticas com basofilia. Calcificação da Lâmina elástica de artérias de médio calibre ["Mediosclerose de MONCKEBERG"], na senilidade. Alterações Hialinas da Substância Fundamental Amorfa: Comentário Inicial: Bem descritas por FARIA et alii, in BOGLIOLO, 1978; porém desconhecidas para KARLSON et alii, 1982. Aqui também se inserem as Degenerações Mucóide e a Fibrinóide já tratadas anteriormente. Deposição no interstício, principalmente na íntima vascular, de proteínas plasmáticas (Globulinas) e de componentes do Complemento, com escassa ou nenhuma fibrina. Tal deposição hialina ocorre na membrana basal de pequenas arteríolas (principalmente nas renais - na Hipertensão Malígna, substrato da Arteriolosclerose hialina; nas esplênicas - em idosos mesmo normotensos, em cães maiores de 5 anos, em suínos afetados com Peste Suína, e na diabete melito.). A parede vascular alterada torna-se homogênea, rósea, como se fosse de plástico. Deficiência na biossíntese (congênita /adquirida) de colágeno: Alterações durante a Biossíntese: De origem genética, por deficiência ou ausência de uma ou mais enzimas (KARLSON et alii, 1982): Defeito bioquímico Patologia Tecidos mais afetados Síntese de colágeno tipo I Osteogênese Imperfeita Ossos, tendões e pele (2 formas: letal e tardia) Síntese do colágeno tipo III Síndrome de EHLERS DANLOS tipo IV Pele, vasos e trato GI (Ruptura de vasos e intestinos.) Deficiência de Lisina Hidroxilase Síndrome de EHLERS DANLOS tipo VI Pele e olhos (Hiperelasticidade) * Deficiência de Pro Síndrome de EHLERS Ossos e articulações Pele fina, Colágeno peptidase DANLOS tipo VII fraturas ósseas Dermatoparaxis espontâneas, etc Bovina/ovina Deficiência de Lisiloxidase Síndrome de EHLERS DANLOS tipo V Pele e articulações Púrpuras, deformidades ósseas; Aneurismas/Ratos, aneurismas aorta Distúrbio desconhecido no entrelaçamento Síndrome de MARFAN Ossos e vasos Obs.: A síndrome de Ehlers Danlos tipo VI é também chamada de "Doença do Contorcionista". De origem adquirida (KARLSON et alii,