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Positivismo e serviço social resposta

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
Curso de serviço social
Larissa Rosa de Lima
POSITIVISMO E SERVIÇO SOCIAL
Belo Horizonte
2019
Questão 1) Segundo a autora, parece 
uma pretensão acentuada a crença na possibilidade de sistematização de todos os pensamentos humanos. Além disto, caso tal pensamento fosse realizado, enorme seria a dimensão da manipulação. Mais uma vez fica evidente a padronização e o caráter autoritário que perpassam o positivismo. Desejar “princípios fixos de julgamento de conduta” é, no nosso entender, interpretar a realidade como imóvel e não questionável.” (CARVALHO,1990,p.12)
Principalmente porque
Há a percepção de uma sociedade ideal em que a paz e a harmonia são colocadas como existentes. Esta percepção nos parece totalmente utópica. Esquece-se também que nesta sociedade projetada, são utilizados mecanismos repressores para obtenção/manutenção desta paz. Não haveria aqui um certo grau de incoerência? O discurso que se constrói apresenta um tom quase (ou diríamos, mesmo) profético. [...] Enfim, valoriza-se o altruísmo e a harmonia retirando-se e/ou descaracterizando-se o conteúdo histórico e determinado que estas noções possuem. (CARVALHO,1990,p.13)
Ou seja, Comte almejava uma forma de transformação social com bases totalmente idealistas, considerando possível uma sistematização completa de todos os pensamentos individuais, de forma autoritária, por meio da absorção dos ideais positivistas pelo conjunto da sociedade, que em seu altruísmo e harmonia (sem entender que mesmo essa sua noção de altruísmo e harmonia são essencialmente históricas, acepções determinadas materialmente pelo contexto das relações sociais capitalistas, e portanto, aparato ideológico de legitimação burguesa) elevar-se-ia à coesão social, e portanto, à ordem, e por fim, ao progresso (concepções também correspondentes à ideologia da superestrutura capitalista). 
Questão 2) Duas das principais características do positivismo são o cientificismo e a cruzada antidialética. O cientificismo consiste basicamente na ultra valorização da ciência e na crença de sua neutralidade “acima das classes sociais e indivíduos.” (AYRES,2019) A cruzada antidialética, por seu turno, consiste na negação do princípio dialético, segundo o qual coexistem, no mesmo ser, elementos contraditórios que geram nele o movimento de transformação. Tal noção ontológica (dialética) tem por origem histórica a filosofia de Heráclito e desenvolve seu ápice na modernidade nas filosofias de Hegel (na perspectiva idealista) e de Karl Marx (na perspectiva materialista). (ARANHA,2009)
Com isso, postulando uma pseudo neutralidade, o positivismo de Comte esboça uma tradição filosófica que, paradoxalmente, pressupõe uma determinada ideologia, conservadora, expressa principalmente em sua defesa da ordem e do progresso, e consequentemente, em sua apologética direta do capital (AYRES,2019). Como aponta Carvalho, a noção comteana de progresso “ associa-se à noção de melhoria constante, de aperfeiçoamento contínuo, chegando a se constituir em um dogma[...] Este progresso, entretanto, há necessariamente que estar vinculado à ordem, à estabilidade.” (CARVALHO,1990,p.3) A partir dessa idéia dogmática de progresso contínuo, o conservadorismo de Comte fica evidente, como aponta Carvalho (1990), na idéia de que “nada se deve propor alterar se não houver algum substituto (e dentro da noção de melhoramento, que se substitua “para melhor)”(CARVALHO,1990,p.4), considerando que, se existe a escolha de um substituto que não é considerado melhor pelo pensamento positivo, tal atitude será considerada anárquica e portanto inviável. Com efeito, afirma-se a manutenção do status quo. (CARVALHO,2019,p.4)
Carvalho(1990) apresenta então duas citações do próprio Comte, para demonstrar tal característica conservadora de seu pensamento:
... A principal ação exercida pela humanidade deve, sob todos os aspectos, consistir no aprimoramento contínuo de sua própria natureza, individual ou coletiva, dentre os limites que indicam, do mesmo modo que em todos os outros casos, o conjunto das leis reais. (COMTE, 1978 a: 56 apud CARVALHO,1990,p.4)
Foi entre os puros conservadores que surgiu a mais profunda sentença política do século XIX: só se destrói o que se substitui... Ele (o pensamento acima) só se recomenda verdadeiramente por uma rara combinação das três qualidades práticas: a energia, a prudência e a perseverança. (COMTE, 1978 c: 120 apud CARVALHO,1990,p.4)
Com efeito, ao entender as noções de ordem, progresso e dever, torna-se evidente que o positivismo, no contexto do capitalismo monopolista e entendido como ideologia burguesa da superestrutura, e portanto, resultante de uma infraestrutura capitalista, contribui para alimentar “ideologicamente” as práticas capitalistas e legitimá-las frente ao conjunto da sociedade. Outrossim, não poderia deixar de influenciar também o serviço social, na medida em que a internalização de tais noções e pressupostos 
[...] tende a orientar o profissional, no sentido de propor mudanças exclusivamente que não afetem, ameacem ou rompam o equilíbrio social vigente. Nesta perspectiva, o profissional tenderá a conceber os problemas emergentes da dinâmica social e que se concretizam ou se exprimam através das pessoas ou grupos como desvios, inadaptações, patologias, que devem ser corrigidos para que as pessoas ou grupos enfrentem de modo mais eficaz as exigências sociais, isto é, elas se adaptem e aceitem.(CARVALHO,1990,p.4)
Assim, no lugar de uma análise ontológica que capta o ser social dialeticamente em suas contradições internas (entre forças produtivas e relações de produção) expressas na luta de classes, como o faz Karl Marx - entendendo os conflitos sociais como resultantes e expressões dessa questão social¹ – Comte segue caminhos distintos, pautando-se em uma filosofia que, apesar de sua pretensão de objetividade, possui uma herança de pseudo-objetividade enraizada em categorias como o nominalismo e o fetiche da analítica, que combinadas, revelam o idealismo subjetivo “da linhagem do empirismo extremo (Berkeley e Hume) “ (AYRES,2019) e reduzem o papel da filosofia (economia de pensamento), levando a uma outra característica fundamental do positivismo que é o agnosticismo, ou seja, a recusa à ontologia, considerando como metafísica toda tentativa ontológica (AYRES,2019) e realizando, assim, uma análise superficial dos fenômenos sociais. 
Paradoxalmente, o positivismo, em sua ânsia de negar a metafísica, termina por ser metafísico ao não fazer uma análise materialista e dialética do ser social, e portanto, não chegar à essência do ser, postulando transformações baseadas não em critérios materialistas, reais e concretos, mas em devaneios idealistas e morais, como é o caso da “filosofia do progresso” de Comte, que, ironicamente, torna-se por fim uma religião (o que só afirma o caráter idealista e anti-ontológico do positivismo). 
Tal caráter idealista do positivismo de Comte fica claro ao observamos que, para o autor, a reorganização final da sociedade “dependerá da modificação de idéias” (CARVALHO,1990,p.6) e da aceitação da filosofia positivista por todos os indivíduos, visto que, segundo ele, tal uniformidade ideológica garantiria, enfim, a ordem e o progresso. Além disso, tais transformações defendidas por Comte apresentam-se como rupturas coesas e totais, visto que cada um dos estados sociais definidos pelo filósofo (teológico, metafísico e positivo) como fases de organização social/mental das sociedades humanas apresentam-se de forma pura e se excluem entre si. (CARVALHO,1990) Ou seja, ao não enxergar a dialética do ser social, Comte não compreende que em cada estágio histórico, em cada modo de produção - nos termos de Marx - existem ainda resquícios do modo de produção anterior e germens do modo de produção seguinte, porquanto é justamente a contradiçãointerna do ser social que engendra sua transformação, não por rupturas totais e excludentes, mas por meio de um processo dialético. (cf. MARX,2003)
Assim, Comte enxerga os problemas sociais não como resultado e expressão das contradições internas do sistema capitalista (análise marxista), mas os enxerga como anomalias, como patologias que afetam a ordem social, devendo esta ser coesa e dotada de uma filosofia “universal”, “completa” e aceitada por todos para que se chegue ao progresso.(CARVALHO,1990) Tal filosofia messiânica só pode ser o positivismo. Como afirma o próprio Comte, citado por Carvalho:
...Só a filosofia positiva pode ser considerada a única base sólida da reorganização social,, que deve terminar o estado de crise no qual se encontram, há tanto tempo, as nações mais civilizadas. 
... creio poder resumir... todas as observações relativas à situação atual da sociedade dizendo simplesmente que a desordem atual das inteligências vincula-se, em última análise, ao emprego simultâneo de três filosofias radicalmente incompatíveis: a filosofia teológica, a filosofia metafísica e a filosofia positiva. É claro que se qualquer dessas três filosofias obtivesse, na realidade, preponderância universal e completa, haveria uma ordem social determinada, pois o mal consiste sobretudo na ausência de toda verdadeira organização. [...]
Nosso mais grave mal consiste nesta profunda divergência entre todos os espíritos quanto a todas as máximas fundamentais, cuja fixidez é a primeira condição duma verdadeira ordem social. Enquanto as inteligências individuais não aderirem, graças a um assentimento unânime, a certo número de idéias gerais capazes de formar uma doutrina social comum, não se pode dissimular que o estado das nações permanecerá, de modo necessário, essencialmente revolucionário...(COMTE, 1978 d: 17-8 apud CARVALHO,1990,p.6)
Disso resulta que 
A preocupação com a regeneração social é um traço característico do pensamento estudado. Por sua vez, como já vimos, a filosofia positiva preconiza a conciliação entre ordem e progresso e só através disto identifica a saída para os problemas existentes. A crise é percebida como maléfica; deve-se eliminá-la. Privilegia-se a ordem natural e, a partir de uma analogia com a natureza e equilíbrio desta, propõe-se e justifica-se uma ordem artificial, que entendemos como a ordem obtida através da adoção de medidas políticas, por exemplo. (CARVALHO,1990,p.5)
Faz-se importante ressaltar que tal regeneração social possui um caráter idealista, visto que 
A importância da uniformidade, da não divergência de idéias, é muito frequentemente sublinhada por Comte, o que indica ser fundamental em sua concepção teórica; a conciliação entre ordem e progresso é essencial para a solução do grande problema social. A reorganização final, (como se a história deixasse de sê-lo e se enquadrasse em um padrão ideal – no sentido de idealizado – planejado), dependerá da modificação das idéias, o que equivale a reconhecer abertamente o caráter ideológico aí contido. (CARVALHO,1990.p.6)
Além disso, percebe-se no positivismo uma outra noção filosófica ainda não citada acima, o naturalismo, que se expressa, em Comte, na tomada dos modelos da biologia e explicação da sociedade como um organismo vivo. Assim, infere-se que “o indivíduo, submetido à consciência coletiva, tem pouca possibilidade de intervenção nos fatos sociais” e que a ordem social “é permanente, à imagem da invariável ordem natural” (ARANHA,2009). Ademais, Comte defende - inspirado na teoria frenológica de Gall- 
que apenas uma elite teria capacidade de desenvolver a parte frontal do cérebro, sede da faculdade superior, ou seja, da inteligência e dos sentimentos morais.Concluiu pela necessidade de a maioria dos seres humanos – dominados pela afetividade e, portanto, causadores de instabilidade social – ser moldada e dirigida em nome da harmonia e da ordem social, a fim de garantir o “progresso dentro da ordem. (ARANHA, 2009,p.188) 
Por conseguinte, Comte considera que existem seres inferiores que não conseguirão absorver de fato os ideais positivistas, e com isso, “nunca se pode esperar sem dúvida tornar suficientemente acessíveis a todas as Inteligências essas provas positivas de várias regras morais destinadas à vida comum” (COMTE,1978 a: 75 apud CARVALHO,1990,p.10). Assim, ele conclui que a “autoridade é vista como imprescindível e definitiva” (CARVALHO,1990,p.11) “para impor, mesmo nos casos mínimos, regras verdadeiramente eficazes, fundadas, então, sobre uma apreciação social que jamais comporta indecisões (COMTE,1978 c:141 apud CARVALHO,1990,p10).
Também o cientificismo, abordado acima, como ultra valorização da ciência, pressupõe autoritarismo, visto que 
Este tipo de concepção chegará a repercutir – ainda que sua influência se dê de modo já diluído – no Serviço Social, especialmente como reação a uma atividade predominante assistencialista. As técnicas de intervenção, principalmente, passarão a ser utilizadas, preconizadas e multiplicadas, absorvendo do profissional maior preocupação do que com os fins e/ou objetivos da ação desenvolvida. Haverá neste momento uma preocupação com as estatísticas, com as situações que constantemente se repetem; com isto se ocupa o profissional. Na relação aí estabelecida, a tendência é a de considerar o profissional como alguém que conhece, e o cliente como alguém que precisa de conhecimentos. Desenvolve-se, por isto mesmo, uma relação de autoridade/submissão. (CARVALHO,1990.p.14)
Ademais,
A ciência (sentido estrito) é percebida como suficiente para a resolução dos problemas existentes. Através de uma atitude científica, pensa-se ser o homem capaz de controlar o que está à sua volta, inclusive a relação com os outros homens. Supomos residir aqui um dos sérios riscos de manipulação em favor de interesses específicos. Considerando-se que este pensamente reforça e pretende demonstrar que o conhecimento científico é restrito a uma minoria – embora a todos seja preconizada a importância de uma instrução enciclopédica – e que a ciência tem autoridade e superioridade sobre as outras formas de conhecimento, fica mais fácil compreender o risco que assinalamos, e que é sublinhado por toda uma apologia da submissão.(CARVALHO,1990,p.15)
Acerca da relação homem-sociedade, Carvalho aponta uma contradição interessante no pensamento positivista, visto que, “Se por um lado a sociedade é colocada como superior, por outro, é ao indivíduo que são feitos os apelos afetivos. A maioria dos mecanismos utilizados para a garantia da sociedade recaem sobre o indivíduo (exemplo: sanções individuais)”. (CARVALHO,1990,p.12) Tal concepção mecanicista da racionalidade formal-abstrata, atrelada às acepções subjetivistas do irracionalismo moderno, que apesar de extremos opostos filosóficos, complementam-se, principalmente em seu agnosticismo (GUERRA,2014), termina por gerar a individualização e o estranhamento de problemas que são, na verdade, essencialmente sociais e nada estranhos, mas característicos e resultantes dessa determinada organização social. 
Destarte, sobre uma análise incorreta e conservadora da realidade social, repousa uma estratégia de transformação também incorreta e conservadora, visto que, como aponta Santana (2016), uma prática transformadora, pressupõe antes uma teoria comprometida com a verdade, uma compreensão correta, objetiva da realidade, porém jamais neutra. (NETTO,2011 apud SANTANA, 2016).
De fato, tais princípios conservadores afetaram demasiadamente as práticas profissionais do serviço social, porém, é necessário reconhecermos que 
esta influência não se dá de modo direto, em seu estado puro. Ela se dá apenas como uma das influências possíveis de serem identificadas no exercício profissional. Sendo as situações concretas – isto é, vividas, reais, historicamente definidas etc. – extremamente complexas, torna-se difícil, senão impossível e para o profissional captá-la em sua totalidade. (CARVALHO,1990.p. 15)
É preciso,assim, compreender essa influência não numaperspectiva idealista, o que seria irônico, pois estaríamos criticando a pretensão positivista de transformar a realidade impondo a transformação das idéias e paradoxalmente estaríamos sendo positivistas ao legar a esse sistema filosófico a causa das práticas profissionais conservadoras do Serviço Social. Assim, considerando que “Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência” (MARX,1984,p.37), partimos de bases materiais e dialéticas, dos homens entendidos nas práxis sociais, e dessa forma entendemos que “enquanto profissão, o Serviço Social não é uma possibilidade posta somente pela lógica econômico-social da ordem monopólica: é dinamizada pelo projeto conservador que contempla as reformas dentro desta ordem”(NETTO,2011,p.77) e com isso, “a profissionalização do Serviço social não se relaciona decisivamente à “evolução da ajuda”, à “racionalização da filantropia” nem à “organização da caridade”; vincula-se à dinâmica da ordem monopólica.” (NETTO,2011,p.73) Nessa obra Netto faz uma crítica aos que interpretam o surgimento do serviço social como proveniente de transformações ideológicas e racionalizantes das formas de organização de caridade desenvolvidas pela igreja católica, porém podemos utilizar de seu postulado para igualmente expor que foram as condições materiais/históricas do capitalismo monopolista em países industrializados, que além de engendrarem as bases para o surgimento da profissão, como aponta Netto, geraram a ideologia conservadora presente em seu início. Não foram tais idéias que, como entes metafísicos, “empurraram” os indivíduos (assistentes sociais, no caso) de forma mecanicista e com uma força da qual não podiam escapar e os fez desenvolverem seu trabalho nesses termos. 
Assim, a partir da combinação entre o racionalismo formal-abstrato e o irracionalismo, enquanto aparatos ideológicos da superestrutura burguesa, expande-se, como já foi citado acima, a tendência a individualizar as questões sociais. 
Essa tendência psicologizante é própria do capitalismo monopolista, quando o Estado converte as refrações da questão social em problemas individuais, desfocados das relações sociais mais abrangentes. Trata-se da transferência das possibilidades de resolução dos problemas sociais para o âmbito pessoal, individual. Essa é uma estratégia fortemente incorporada por várias práticas sociais que se propunham a atender à parcela pauperizada da população, dentre elas o próprio Serviço Social
A psicologização funciona, então, como um elemento legitimador da ordem monopólica, não só quando coloca sobre o indivíduo a responsabilidade por seu destino social, mas, principalmente, quando incorpora, nas instituições que se propõem a solucionar as refrações da questão social, práticas com forte conteúdo de indução comportamental. Com isso, não se consegue apenas uma ação sobre as personalidades individuais, mas empreende-se uma forte tentativa de definir os papéis sociais dos indivíduos, de acordo com os conteúdos econômicos, sociais, políticos e ideológicos compatíveis com a ordem monopólica. . (NETTO, 1992.p.32 – 48 apud TRINDADE,2001, p.11)
Então,
Em conseqüência da prevalência dessa perspectiva individualista no trato das manifestações da questão social, o Serviço Social de Casos aparece como a abordagem profissional predominante, nesse início de institucionalização do Serviço Social no Brasil. Nas duas primeiras décadas do século XX, Mary Richmond havia desenvolvido, nos Estados Unidos, os pressupostos e diretrizes do que ela chamara de Serviço Social de Casos Individuais. No entanto ele chega ao país já sob os influxos da Psicologia, especialmente a partir da divulgação das idéias de Gordon Hamilton - seja através dos trabalhos de Nadir Kfouri (fruto de seus estudos nos Estados Unidos), seja com a tradução de seu livro Teoria e Prática do Serviço Social de Casos, em 1958. (TRINDADE,2001,p.11)
Constata-se, destarte, a influência teórica dessa perspectiva psicologizante -- no contexto do capitalismo monopólico e enquanto conseqüência deste – na dimensão técnico-operativa do serviço social, na escolha dos instrumentos, e portanto, na prática profissional, constituindo assim um tipo de intervenção que “tem um cunho eminentemente individualizado, pautado especialmente na manutenção de um relacionamento entre assistente social e cliente, mediado pela realização de entrevistas e visitas domiciliares.” (TRINDADE,2001,p.8)
Sabe-se que não cabe aos assistentes sociais uma tarefa revolucionária,que não se espera desses profissionais a realização de uma revolução socialista e que, tendo a prerrogativa, como consta no código de ética da profissão, de “participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formulação e implementação de programas sociais” (CFESS,2012,p.26), esses profissionais servem tanto aos interesses da classe trabalhadora, quanto aos interesses do capital, dado o caráter contraditório das políticas sociais no sistema capitalista, que atendem a ambos interesses. (PEREIRA,2011). 
No entanto, tal constatação não pode levar esses profissionais ao fatalismo, visto que é possível, munindo-se de uma instrumentalidade rica, adotar um projeto ético-político que busca ampliar os limites institucionais, os critérios de elegibilidade e a participação democrática dos usuários de políticas sociais (GUERRA,2014), buscando assim, no jogo de forças contraditório de que as políticas sociais são palco, uma representação e defesa maior dos interesses da classe trabalhadora do que aqueles das classes dominantes, o que fica evidente, inclusive, no código de ética da profissão, quando se estipula como um dos princípios fundamentais do serviço social a “Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral dos/as trabalhadores/as”(CFESS,2012,p.24). Tal atitude crítica e transformadora fica inviabilizada, contudo, quando se aposta num projeto teórico e político conservador, como o projeto positivista. 
NOTAS
¹ “Questão social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.” (IAMAMOTO,2015)
REFERÊNCIAS 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. “Filosofando: Introdução à Filosofia”/ Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins. – 4. Ed. – São Paulo: Moderna, 2009.
AYRES, Paulo. “Breve descrição do racionalismo formal”. Ultimo tratamento 11/06/2019. Disponível em: <https://miseriadarazao.blogspot.com/2015/01/breve-descricao-do-racionalismo-formal.html>
Acessado em: 19/06/2019.
CARVALHO, R.A.R. “Positivismo e Serviço Social”. RJ: Dissertação de Mestrado, UFRJ, 1990
GUERRA, Yolanda. “A instrumentalidade do serviço social “/ Yolanda Guerra. – 10. Ed. – São Paulo: Cortez, 2014.
IAMAMOTO, “Serviço Social na contemporaneidade”. SP: Cortez,2015.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. “A ideologia alemã”. São Paulo: Hucitec,1984. p.37
MARX, Karl. “Manifesto do partido comunista”/ Karl Marx, Friedrich Engels; tradução de Marcos Aurélio Nogueira, Leandro Konder. – Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco,2003. Coleção Pensamento Humano
NETTO,José Paulo. “Capitalismo monopolista e serviço social” / José Paulo Netto – 8. Ed. – São Paulo: Cortez, 2011.
________________. “Introdução ao estudo do método de Marx.” São Paulo: Expressão popular, 2011. 64 p.
PEREIRA, Potyara A. P. “Política Social: temas e questões” / Potyara A. P. Pereira – 3. Ed. – São Paulo: Cortez, 2011.
SANTANA, Joana valente. “Teoria social e compreensão da realidade social para uma práxis revolucionária.“ Textos & Contextos (Porto Alegre), v. 15, n. 2, p. 275 - 292, ago./dez. 2016
TRINDADE, Rosa Lúcia Prédes. “Desvendando as determinações sócio-históricas do instrumental técnico-operativo do Serviço Social na articulação entredemandas sociais e projetos profissionais”. Texto publicado na Revista Temporalis nº04, Ano II, julho a dezembro de 2001. Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – ABEPSS. Brasília: ABEPSS,Grafline.

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