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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA PROCESSOS PSICOLÓGICOS DA ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE Marcelo Linhares Monsó 1. Enquanto Stanley Hall trabalha com o ideal de "tempestade e tormenta" ao se referir à adolescência, Erik Erikson nos apresenta a ideia de "crise normativa". Fale sobre essas duas visões. Stanley Hall concebia a adolescência como um estágio do desenvolvimento caracterizado pela oscilação de emoções antagônicas. Alegria e depressão, presunção e timidez, egoísmo e altruísmo, reclusão e contato com amigos, etc., são características que coexistem na adolescência. Essas características contraditórias, para Hall, teriam relação com a correspondência da adolescência com um período transitório e turbulento da história humana. Já Erikson entendia que a crise da adolescência não é uma norma, comum a todos os adolescentes, mas que ela é normativa pois há problemas comuns que cada adolescente deve resolver. Portanto, para Erikson, não há um adolescente típico como para Hall, cada adolescente terá uma adolescência única e os conflitos da “tempestade e tormenta” podem ou não aparecer. Além disso, a formação da identidade – questão central na teoria de Erikson, e que está intimamente ligada às crises do desenvolvimento, é um processo que está relacionado não só com a adolescência, mas também com as outras fases do desenvolvimento 2. A antropóloga Margaret Mead desenvolveu reflexões acerca da adolescência a partir de sua pesquisa realizada em Samoa. Quais as possíveis contribuições de seus estudos para a área da Psicologia? Os estudos antropológicos de Margaret Mead colocam em questão o determinismo biológico sobre o desenvolvimento humano ao apresentar as grandes diferenças no desenvolvimento em diversas culturas. Antes das investigações da antropologia sobre as estruturas sociais das sociedades “primitivas” era muito comum a naturalização das características do comportamento humano encontrado na nossa sociedade. Mead, ao analisar a adolescência em Samoa, percebe que muitos traços tidos como universais nessa fase simplesmente não existiam, e que fatores sociais e culturais eram também determinantes no aparecimento de uma diversidade de comportamentos e características do desenvolvimento nessa e em outras culturas. Uma das principais diferenças destacadas foi na forma contínua que se dava o desenvolvimento em Samoa, em contraste com a forma descontinuada - em estágios - da nossa cultura. Crianças e adolescentes não eram privados de certos temas - como a morte e o sexo – e não se diferenciavam de forma tão intensa dos adultos. As experiências de vida se davam de forma contínua e gradual desde cedo, sem maiores interferências ou restrições. Na adolescência, ao contrário de como se dá na nossa sociedade, não havia nenhuma mudança brusca no comportamento esperado, e isso fazia com que parte das características que esperamos dos adolescentes na nossa sociedade - como as “tempestades e tormentas” – não fossem apresentados em Samoa. Estudos antropológicos como o de Mead trazem contribuições importantes para a psicologia pois colocam em xeque o pensamento hegemônico biodeterminista muito comum no surgimento das ciências psicológicas – e presentes ainda nos dias atuais - e elucidam a importância que os fatores culturais exercem no desenvolvimento humano. Portanto, o estudo do ser humano, em particular nesse caso, da adolescência, deve passar pelo estudo das questões sociais, culturais e históricas que essa adolescência se insere. Mais ainda, a adolescência passa a ser vista como uma construção social, que varia entre culturas e é até inexistente em outras, diferenciando-se conceitualmente da puberdade biológica. A mudança no entendimento da adolescência e das causas dos comportamentos nela observados têm impacto também na maneira como a psicologia passa a intervir com o público adolescente. Não é mais possível olhar o adolescente de forma recortada, mas sempre imerso e constituído em seu contexto. 3. Discorra sobre o conceito de moratória desenvolvido por Erik Erikson. O conceito de moratória proposto por Erikson corresponde a um ideal de adolescência como um período intermediário, uma fase de experimentação, possibilitada por uma tolerância parcial da sociedade para que o adolescente adie os compromissos adultos. Isso permitiria ao adolescente ter experiências mais variadas, acarretando em uma ampliação de alternativas, que contribuiriam para uma maior exploração do seu próprio eu, desenvolvendo melhor seu senso de identidade. Caso não fosse possível essa moratória, poderia haver um “truncamento” desse senso. Essa moratória teria diferenças entre culturas e subculturas, assim como em um nível individual. 4. Alberto tem de 14 anos, mora com a mãe, e não conhece seu pai biológico. Ultimamente tem mostrado desinteresse em ir para aula, embora sempre tenha sido dedicado aos estudos. Segundo a mãe junto com esse desinteresse, ele passou a se comportar como um “adolescente”, confrontando-a diariamente. Vive trancado em seu quarto ouvindo músicas de sua banda favorita. O relato da mãe é que “sente falta da criança que aceitava tudo". Explique essa situação tomando como base a teoria de Maurício Knobel. As condutas apresentadas por Alberto estão de acordo com o que Knobel denomina de síndrome normal da adolescência. O desinteresse, os conflitos afetivos e as atitudes antissociais descritas pela mãe fazem parte dos sintomas exemplificados por Knobel para caracterizar essa síndrome, que seria uma semipatologia, mas que sob um olhar mais objetivo se apresenta “como algo coerente, lógico e normal”. A conduta na adolescência não segue uma linha rígida, pelo contrário, para Knobel o comportamento normal adolescente passa por uma transitoriedade identitária, que muitas vezes é rechaçado pelos adultos, como no relato da mãe que “sente falta da criança que aceitava tudo”. Aparentemente também, com base na teoria de Knobel, há a negação do crescimento do filho por parte da mãe. Isso pode ter sido acentuado pela falta de uma internalização de boas imagens parentais, pois por não conhecer seu pai biológico, as figuras parentais podem não ser muito estáveis para Alberto e consequentemente fazê-lo procurar romper a identificação com a mãe e procurar identificações com personalidades mais consistentes.
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