Buscar

Terapia-Centrada-No-Cliente-Um-Caminho-Sem-Volta-pdf GRIFADO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 93 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 93 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 93 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

I 
© Copyright Tambara, Newton 
Freire, Elizabeth 
Ia edição: 1999 
1500 exemplares 
ATENÇÃO: evite fotocópias, em respeito aos direitos dos autores 
Este livro pode ser encomendado: 
Humanas Livraria 
Av. Cristóvão Colombo, 1634 - Porto Alegre 
Fone: (51) 222.5130 - Fax: 395.3739 
Editoração e diagramação: 
Norberto Coronel Garcia - Fone: (51) 983.9748 
Newton Tambara 
Elizabeth Freire 
Participação Especial: 
Jerold D. Bozarth 
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE 
Teoria e Prática 
UM CAMINHO SEM VOLTA... 
Edições: 
D E L P H O S 
Porto Alegre - 1999 
AGRADECIMENTOS 
A meu irmão Ricardo, por ter sempre acreditado em mim. 
A minha filha Ana Cristina, a Fernando e Júlia, que iluminam minha 
vida com a sua presença. 
Ao mestre e amigo Mauro Amatuzzi pelo incentivo, pelos questiona-
mentos e por me orientar no caminho do pensamento científico. 
Elizabeth Freire 
A minha filha Marina Rolim Tambara e a Suzana Rolim Tambara com 
quem aprendi um caminho sem volta... 
Agradeço aos colegas João Carlos Karling, Lisandra Oliveira, Marlene 
de Ávila, Verena Augustin Hoch, Angela Machado, Cátia Stumpf, Rose 
Bertolin, Anísio Meinertz, Gilberto Kronbauer, Eva Lúcia da Silva, Tânia 
Reis, Jeferson Irazoqui, Sérgio Gobbi, Aldo Meneghetti, Silvia Wudarcki, 
Lúcio Schossler e a todos que compartilharam do sonho de um Instituto 
Humanista que hoje é realidade. 
Newton Tambara 
A Jerold D. Bozarth, pelo apoio e estímulo recebidos. Por sua 
colaboração especial que a muito nos honra. 
A João Carlos Karling, pela cuidadosa e zelosa revisão dos originais. 
A Marcos Vinícius Beccon pela tradução do artigo de Bozarth. 
Os autores 
SUMÁRIO 
Apresentação 13 
Prefácio 15 
1. As origens e o desenvolvimento da terapia centrada-no-cliente 33 
2 .0 nascimento da terapia centrada-no-cliente 35 
3. Uma relação essencialmente não-diretiva 38 
4. A aceitação como a essência do processo terapêutico 39 
5. O cliente não é um paciente 42 
6. O desenvolvimento pioneiro de pesquisas em psicoterapia 44 
7. A confiança na capacidade do cliente 46 
8. A tendência direcional formativa 53 
9. A atitude centrada-no-cliente 56 
10. As objeções ao diagnóstico psicológico 62 
10.1. O psicodiagnóstico é desnecessário para o sucesso da 
psicoterapia 63. 
10.2. O psicodiagnóstico é prejudicial para o indivíduo 64 
11. A Teoria do Auto-conceito 66 
12. A mudança terapêutica 75 
13. As atitudes facilitadoras da mudança terapêutica 80 
13.1. Consideração positiva incondicional 80 
13.2. Compreensão empática 82 
13.3. Congruência 86 
13.4. Condições mais que necessárias: suficientes 87 
13.5. As pesquisas sobre as atitudes facilitadoras 88 
13.6.0 conceito de experienciação 90 
14. A abordagem centrada-na-pessoa 92 
14.1. Grupos de Encontro 93 
14.2. O ensino centrado no aluno 95 
14.3. Workshops de comunidade 96 
14.4. Relação entre a terapia centrada-no-cliente e a abordagem 
centrada-na-pessoa 99 
14.5.Umjeitodeser 102 
14.6.0 desenvolvimento de uma comunidade centrada-na-pessoa... 103 
14.7. Publicações atuais 105 
15. Mitos, incompreensões e distorções 108 
Além da Teoria. 123 
"Você me tirou da lata do lixo" 125 
16. A comunicação entre terapeuta e cliente 127 
16.1. A reiteração 128 
16.2.0 reflexo de sentimentos 131 
16.3. A elucidação 199 
16.4.0 desvelamento 141 
16.5. Diferença entre atitudes e técnicas terapêuticas 145 
16.6. A estruturação da relação terapêutica 146 
17. O desenvolvimento do terapeuta 150 
17.1. As dificuldades para centrar-se no cliente 153 
17.2. As atitudes diretivas 156 
17.3. As atitudes tutelares 162 
17.4. A racionalização 165 
17.5.0 silêncio 166 
17.6. As perguntas do cliente 169 
17.7. Falsificando a experiência do cliente: "o contrabando" 172 
17.8. As etapas no desenvolvimento do terapeuta 173 
APRESENTAÇÃO 
Ao longo de muitos anos de intensa prática clínica desenvolvida 
no Delphos - Instituto de Psicologia na área da terapia centrada no 
cliente, tanto no curso de formação de terapeutas, quanto no ensino de 
pós-graduação e no oferecimento de estágio supervisionado para 
estudantes de graduação de diversas universidades, temos investigado 
e praticado a abordagem proposta por Carl Rogers em toda sua 
originalidade. Desejosos de compartilhar o aprendizado que obtivemos, 
a partir dessa experiência, com as pessoas que se interessam pela 
abordagem humanista em psicologia, decidimos escrever este livro. 
Na busca incessante de nosso aperfeiçoamento profissional, 
em nossas reuniões clínicas de supervisão e estudo, perguntávamo-
nos: "Por que em alguns momentos o processo terapêutico flui muito 
bem e em outros não?" Buscando responder a esta pergunta, sentimos 
a necessidade de escutar a gravação de nossos atendimentos para 
tentarmos acessar um nível mais profundo de compreensão de nossa 
prática. Nossas reuniões clínicas se transformaram, assim, em um 
espaço privilegiado onde, num clima de aceitação e compreensão, e 
a partir da escuta destas gravações, pudemos falar de nossos 
sentimentos e de nossas dificuldades em relação à experiência de 
sermos terapeutas. No clima facilitador destas reuniões, fomos 
percebendo que as dificuldades que surgiam no processo terapêutico 
de nossos clientes, se originavam de nossas dificuldades em vivenciar 
plenamente as atitudes facilitadoras da terapia centrada no cliente. 
Escutando nossos atendimentos e escutando-nos uns aos outros, 
percebemos que se não estamos abertos à experiência, os nossos 
medos e as nossas defesas impedem que o processo terapêutico do 
cliente flua em direção à mudança significativa. Compreendemos, 
assim, que se a nossa prática clínica não puder ajudar a nós, terapeutas, 
então não seremos capazes de ajudar os nossos clientes. 
Dessa forma, concluímos que a nossa impossibilidade em 
ajudar alguns clientes não se deve às limitações da abordagem que 
utilizamos, mas às nossas limitações em vivenciar esta abordagem 
plenamente. Se não conseguimos ser facilitadores com determinado 
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
cliente, não será acrescentando à nossa prática outros referenciais 
(como gestalt-terapia, psicanálise, focusing, terapia sistémica e etc.) 
com suas "técnicas", que conseguiremos. Enquanto não trabalharmos 
as nossas dificuldades pessoais, nenhuma "técnica" nos tornará 
capazes de ajudar este cliente. 
Para sermos terapeutas centrados no cliente precisamos de uma 
certeza interna que não pode ser obtida apenas através de treinamento 
ou de aquisição de informações teóricas. A vivência das atitudes 
facilitadoras exige de nós uma confiança inabalável nas forças de 
crescimento do cliente e na sua capacidade de crescer com autonomia. 
Esta confiança não pode ser apenas uma "hipótese", não pode ser 
apenas um conceito ou uma "teoria", ela precisa ser uma certeza se 
quisermos ser terapeutas centrados no cliente. Mas esta certeza 
interna, como todo verdadeiro conhecimento, é intransferível: só 
poderemos obtê-la através de uma expansão de nossa consciência. 
Na Antiga Grécia, o oráculo de Delphos trazia nas paredes 
do vestíbulo que dava acesso ao templo as famosas palavras: 
"Conhece-te a ti mesmo". Para entrar no templo, era necessário 
conhecer a si mesmo. Assim também o nosso "Ser" é um templo 
sagrado. Diz Rollo May' : 
"As indicações do oráculo, como as dos sonhos, não deviam 
ser recebidas passivamente; os beneficiários tinham de viver 
a mensagem... o efeito da ambiguidade das profecias de 
Delphos forçava os suplicantes a rever a situação, reconsiderar 
os planos feitos e estruturar novas possibilidades" 
Todos nós, sejamos terapeutas ou clientes, estamos, de certa 
forma, diante deste oráculo. Entretanto, a chave para abri-lo está 
dentro de cada um, ninguém poderá abri-lo por nós...Quando entramos 
no templo, iniciamos uma jornada da qual só sabemos o início. Para 
onde vamos, aonde vai dar esse processo, ninguém sabe... No entanto, 
este é um caminho sem volta. Diz uma canção nativista do Rio Grande 
do Sul que "quando a gente abre as asas, nunca mais, nunca mais...". 
Podemos nunca mais abrir as asas novamente, mas jamais poderemos 
negar que abrimos uma vez... 
1
 May, 1992. 
PREFÁCIO 
Paradigma revolucionário em psicologia 
Henrique Justo* 
Meus primeiros contatos com a teoria rogeriana remontam aos 
idos de 1950. Discretamente, gradativamente, fui substituindo partes 
do meu edifício psicanalítico com 'material' humanista... De ambos, 
confesso, desconhecia então o embasamento epistemológico, a 
filosofia que lhes nutria as entranhas. Meu prediozinho modesto, 
daquela, época misturava dois estilos inteiramente diferentes. Pouco 
a pouco, foi recebendo uniformidade de traços e estrutura. 
Certo dia, estudante de psicologia (pós-graduação, pois 
graduação nesta área não havia ainda), senhora de seus quarenta anos, 
me disse: "O senhor é o único professor com linguagem diferente." 
Pensei comigo: "Só linguagem? E toda a visão diversa de pessoa por 
detrás dessa fachada!?" 
Não tinha eu segurança nem coragem suficiente para me 
declarar abertamente humanista-rogeriano. Imagine, leitor, em Porto 
Alegre, Vaticano da psicanálise no Brasil, psicanálise chegada a nós 
via Buenos Aires. 
Após um ano de curso em Paris (1966-67), com ex-estagiários 
franceses junto a Rogers e equipe, de volta, iniciei a expor a teoria 
desse grande psicólogo. A apostila de 1968, transformou-se em livro 
em 1973, o primeiro a ser publicado entre nós sobre essa teoria. A 6a 
edição encontra-se no prelo, melhorada.' 
O contraste entre a psicanálise aprendida - pessimista, 
patoligizante, determinista, 'regressiva'2 — e a visão rogeriana -
otimista, aberta, 'progressiva', apostando na liberdade da pessoa - é 
de imediata evidência. 
* Dr. em psicologia e educação 
1. "Carl Rogers: Teoria da Personalidade - Centrada no Aluno". A 5a edição levou o título: "Cresça e Faça 
Crescer: Lições de um dos maiores psicólogos; C. Rogers". - A 6a pretende dar maior destaque ao nome 
CARL ROGERS. 
2. Cf.. Assoun, 1983; Fromm, 1980; Allers, 1979 
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Livros de um revolucionário tranquilo 
Rogers apresentou mais sistematicamente sua teoria, apoiada 
em cuidadosa observação e comprovação experimental, em duas 
publicações: no ano de 1959, na obra de Koch (Psychology: a study 
of science, 3o vol.) e, nos inícios dos anos sessenta, retomou-lhe o 
conteúdo na conhecida obra de Rogers/Kinget, "Psicoterapia e 
Relações Humanas ".3 
No decénio de quarenta, incubou Rogers um de seus livros 
fundamentais (havia publicado outros anteriormente): "Terapia 
Centrada no Cliente " (editado em 1951). Exatamente dez anos após, 
lançou o best-seller "Tornar-se Pessoa" (1961), título significativo 
anunciando a matéria do volume. 
Com sua equipe pesquisou os meandros penumbrosos da mente 
de pessoas diagnosticadas como esquizofrênicas. Resultado: volume 
de 600 páginas relatando os resultados do imenso trabalho. Tema: 
"A Relação Terapêutica e seu Impacto: estudo psicoterapêutico de 
esquizofrênicos" (1967). 
Dois anos após, com Dymond, publica as 400 páginas de 
"Psicoterapia e Mudança de Personalidade"(1969a), contendo uma 
série de investigações da equipe coordenada por ele. Embora cônscio 
das limitações, declara-se "ufano por se tratar do primeiro cuidadoso 
estudo objetivo dos resultados psicoterápicos com adequado controle" 
e de "ser das mui poucas tentativas para testar, em grande escala, conjunto 
coerente de hipóteses de consistente teoria da personalidade (P. 6). 
Professor universitário que foi durante muito tempo, transpôs 
as atitudes básicas da terapia à aprendizagem centrada no estudante. 
"Liberdade de Aprender" (1969b) é o fruto dessa experiência. 
Saindo das quatro paredes protegidas do gabinete de 
atendimento individual, aventurou-se a atuação em campo aberto, ao 
atendimento de grupos. Inicialmente pequenos, chegaram, após, a 
mais de 200 pessoas, como em Arcozelo, RJ (1977). Condensou sua 
experiência no livro "Grupos de Encontro" (1970). 
3. Ainda na década de sessenta, já de posse da 3* ed. desta obra, "revista e corrigida", cedi a 1* a um amigo. 
"Trata-se de trabalho novo, lemos no Prefácio, e não de tradução de obra inicialmente escrita para o leitor 
americano" (Nuttin). 
- Do apanhado sistemático de 1959, cito a edição em castelhano (Ver Bibliografia). 
Quanto à família, expôs seu pensamento em outro best-seller: 
"Tornar-se Cônjuges: o Matrimonio e suas Alternativas".4 
Atento ao mundo atual e suas necessidades, enveredou briosa-
mente por outras áreas no livro "Sobre o Poder Pessoal: dinamismo 
interno e seu impacto revolucionário" (1977), cujos originais tive a 
honra de manusear no curso intensivo de verão do ano anterior em 
La Jolla e, quando, três psicólogos brasileiros (Eduardo Bandeira à 
frente) conseguimos articular a primeira e fecunda vinda de Rogers e 
membros da equipe ao Brasil. Nessa obra — talvez a melhor para um 
primeiro contato com o pensamento 'incendiário' de Rogers,— refere-
se ele às potencialidades da pessoa, em grande porcentagem 
inaproveitadas. Despertadas e medrando provocarão 'revoluções', 
isto é, mudanças na vida pessoa, familiar e social mais ampla. 
O incansável 'revolucionário tranquilo, discreto' (como foi 
chamado), 'militar de paz armada, diria Agrippino Grieco' já entrado 
em anos e com invejável fecunda experiência, enfrentou outro desafio: 
a reconciliação, com êxito, de grupos antagónicos, conflitivos: negros 
e brancos nos Estados Unidos e na África do Sul; católicos e brancos 
na Irlanda; comunistas e não-comunistas em Varsóvia; políticos da 
América Central em memorável workshop na Áustria. Sua 'escola' 
(termo aborrecido por esse líder) e ele mesmo ousou entrar na União 
Soviética, percorrendo várias cidades, pronunciando palestras, fazendo 
demonstração de terapia individual e de 'grupos de encontro'. Peretti 
(1977) refere-se a essa 'cruzada' de um democrática em nação ditatorial 
com o subtítulo 'Recepção entusiasta na União Soviética'. Que não 
constituiu passeio folclórico e fogo fátuo testemunha-o recente artigo 
de Bondarenko (1999), então jovem psicólogo russo, testigo ocular e 
auditivo da revoada triunfal do grupo de La Jolla em seu país.5 
Em 1980 , aos 78 anos, surpreendeu o mundo da ciência com o 
livro "Um Jeito de Ser". Advoga um jeito, um jeito desabrochado, 
humanizante de ser. Neste livro e em outros mostrou ser isso possível. 
Um certo jeito ou modo de ser de alguém desperta a possibilidade de 
novas formas de ser em outros. 
4. No Brasil, foi o livro editado com o título um tanto ambíguo, mas chamativo, "Novas Formas de Amor". 
5. "My encounter with Carl Rogers: a retrospective view from the Ukraine", in Journal of Hjumanistic 
Psychology.n. 1, 1999. 
I 
Na Introdução confessa: "Às vezes fico espantado com as 
mudanças ocorridas em minha vida e trabalho" (P. VII). 
Após se referir ao livro escrito em 1941 (publicado em 42): 
"Psicoterapia e Consulta Psicológica"), 'deu-se conta de estar 
pensando e trabalhando com pessoas de modo diverso de outros 
profissionais'); em 1951 e 1961, confessa, o impacto causado por 
Tornar-se Pessoa "obrigou-me a abandonar a estreita perspectiva, 
pensando interessar o que escrevia somente a terapeutas. Essa reação 
alargou os horizontes da minha vida e pensamento. Creio o que havia 
escrito até então era válido igualmente ao casal, à família, à escola, à 
administração ou relações entre cultura e países" (P. VIII). 
O leitor perceberá, agora, a razão da abertura do leque de 
interesses de Rogers a partir dos anos sessenta, abertura retratada em 
artigos e livros, como as publicaçõescitadas acima de 1969 e 1970. 
A expansão dos horizontes afetou, inclusive, a terminologia, espe-
lhando os pontos de vista atuais: 
Assim, "o velho conceito anterior de 'terapia centrada no 
cliente' cedeu lugar à 'abordagem centrada na pessoa'. Em outras 
palavras, já não falo mais simplesmente em psicoterapia, mas em 
ponto de vista, numa filosofia, enfoque de vida, um jeito de ser, com 
aplicação a qualquer situação na qual crescimento — quer de uma 
pessoa, de um grupo ou comunidade - faz parte do objetivo" (P IX). 
Depositava Rogers inquebrantável confiança nas possibilidades 
e na bondade 'fundamental' da pessoa. Até o fim. O jeito de ser do 
interlocutor pode despertar tais potencialidades, avivar a bondade 
adormecida. 
Após sair para atuar em arena maior, tão solicitado era que 
somente podia aceitar uma de cada vinte convites para conferências, 
entrevistas, debates ou grupos de crescimento. 
Queda, com fratura óssea e complicações ulteriores, não 
somente o impediu de atender a segunda viagem agendada à União 
Sul-Africana, mas no-lo arrebatou do convívio em 1987, aos 85 
frutuosíssimos anos de vida.6 
6. A tradução brasileiro de "Um Jeito de Ser" contém 8 dos 15 capítulos do original. Os demais já haviam sido 
publicados em "A Pessoa como Centro" (Rogers/Rosemberg, 1977). - A tradução espanhola tampouco 
reproduz integralmente o livro. 
18 
Qual é esse "jeito de ser" rogeriano? 
Fundamentalmente consiste em certas atitudes que, por sua 
vez, emanam da adoção de certos valores, de certa visão da pessoa -
isto é, da visão de si e dos outros. Do eu-tu.7 
Em 1957, expôs Rogers as condições necessárias e suficientes 
para a psicoterapia.8 São três as indispensáveis (e bastantes) quanto 
ao terapeuta: 
Ia Consideração positiva incondicional do cliente, atitude que 
resulta em aceitação (não significa necessariamente aprovação) 
incondicional do outro. Embora não 'aprove' a fratura do paciente, o 
médico o recebe, 'aceita' o acidentado como este lhe aparece, pondo 
organismo em condições de reagir favoravelmente à situação. O 
psicoterapeuta não põe condições. Por ex., se for gentil, agradecido, 
bem educado, se puder pagar integralmente os honorários... eu lhe 
terei consideração positiva. O fato de o indivíduo ser a maravilha de 
uma pessoa é que, naturalmente, o leva a essa valorização. O outro 
possui, como eu, as mesmas necessidades fundamentais (entre elas, 
a de ser valorizado), sentimentos idênticos, desejo de bem-estar e 
felicidade, de crescer como pessoa, etc. Afinal, colegas de viagem 
no trem (ou aeronave) da vida, sonhando ambos com bela e longa 
jornada. Minha presença pode tornar o trajeto mais agradável para o 
outro desfrutar toda a riqueza possível de experiências satisfatórias 
desses 'dias', quer dizer, anos de existência. 
Peretti, um dos grandes seguidores de Rogers e um dos meus 
significativos professores em Paris (1966-67), diz belamente: "O 
terapeuta (o facilitador), apoiado em si mesmo e 'centrado no cliente', 
é preciso que se distancie suficientemente de si mesmo a fim de cuidar 
do outro".9 
Rogers, por sua vez, confessa: 
"Eu escuto tão cuidadosa e atentamente, com toda a 
sensibilidade de que sou capaz, cada pessoa que diz algo de 
si. Quer a mensagem seja superficial ou significativa, eu escuto. 
I Cl Buber. Eu-Tu, s.d., e Tu individual ou comunitário, 1987. 
8. O leitor encontra o artigo no livro de Wood, 1995, p. 157-179. 
'i Peetti, 1997, p. 210. 
19 
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
-
Para mim, a pessoa que fala é plena de valor (worthwhile), 
digna de ser compreendida [...] Colegas dizem que, neste 
sentido, 'valido' a pessoa." w 
2a Empatia - É decorrência da atitude anterior, de valorização 
incondicional, aliás, já anunciada na citação de Rogers. As duas 
atitudes se imbricam. 
O mundo interior de cada pessoa é único, como é única sua 
fisionomia. Aliás, muito mais, pois as vivências são milhões. 
"Somente o indivíduo vive suas experiências. O centro desse mundo 
é ela mesma. Esse mundo vivencial é 'realidade' para ela. A estímulos 
idênticos, as pessoas reagem de modo distinto. Percebem significados 
diferentes, e sentem e agem, consequentemente, de forma diversa." 
(Tausch)." 
O terapeuta se coloca na perspectiva da pessoa que escuta. 
Põe-se na sua pele, segundo a expressão de Cogswell (1993). Procura 
entrar em seu horizonte de compreensão. Tenta apreender o signifi-
cado, a importância do conteúdo da comunicação para o interlocutor. 
Diligencia por ser um pouco o outro, pois é impossível sê-lo 
inteiramente. 
Pesquisas revelam que o indivíduo percebe essa atitude de 
escuta: empática: "Ele (terapeuta) aprecia minhas experiências como 
eu as sinto." Capta igualmente a não-escuta: "Ele entende minhas 
palavras, mas não o modo como eu sinto." 
Ao sentir-se valorizado e empaticamente compreendida, a 
pessoa terá acréscimo de confiança no terapeuta. Caem defesas. 
10. Rogers, 1970, p. 47. - Wood, (1995, p. 274), colega de pesquisa de Rogers e colaborador seu em Grupos, 
(inclusive no de Arcozelo em 1976), durante mais de vinte anos, nos transmite o parecer do próprio Carl 
sobre questão importante: "Falar de uma 'Abordagem Centrada-no-Cliente' ou uma 'Abordagem Centrada-
na-Pessoa' como se fossem entidades opostas entre si é, na minha opinião, caminho certo para disputas 
fúteis e para o caos.[...] Espero que me permitam ser uma pessoa inteira, quer seja chamado para ajudar 
num relacionamento destinado a ser centrado-no-cliente ou num que seja rotulado centrado-na-pessoa. Eu 
trabalho do mesmo modo nos dois." - Comenta Wood (p. 275): "Ele (Rogers) se aproximava de cada 
situação com o mesmo desejo de ouvir e compreender, as mesmas atitudes, o mesmo bom humor, a mesma 
humildade, a mesma genuinidade e aceitação não-julgadora do indivíduo ou do grupo, a mesma curiosidade 
e abertura à descoberta, a mesma crença de que ele poderia ajudar e que isso era a coisa mais importante 
do mundo a fazer naquele momento." 
11. Tausch, 1981, p. 187. 
20 
Aumentará também a confiança em si mesma, pois descobrirá, 
paulatinamente, o potencial de recursos armazenados e não 
reconhecidos, até então, ou só parcialmente percebidos e utilizados.. 
O processo terapêutico fluirá mais fácil, rápido e frutuosamente. 
Tornar-se-á o cliente, dia a dia, mais pessoa. Pessoa mais desabro-
chada, mais autónoma. 
Atitude empática supõe alto grau de flexibilidade, de resiliên-
cia. Rogers "deplora a inautêntica, mecânica, rígida, dogmática terapia 
centrada no cliente".12 São atitudes opostas às que ele pleiteia. Com 
elas, haverá centração na pessoa do terapeuta, mas não do cliente. 
3. Congruência ou genuinidade. "O terapeuta é profundamente 
ele mesmo, com sua experiência, precisamente representada em sua 
conscientização de si mesmo." I3 
Isto não implica - é pensamento de Rogers - que ele seja um 
modelo de perfeição. O consulente deve sentir (e sente) se está em 
face de pessoa 'real', autêntica, ou de alguém cumprindo um 'papel', 
com atitudes e gestos estudados. O terapeuta deve poder ser 
espontaneamente aquilo que é e não um 'artista' ensaiado. 
"O que diz, seu modo de se haver, harmoniza com seu mundo 
interior, os sentimentos e ideias, seu self. Não se disfarça. Não 
nega parte de si. Disposto a ser e a agir como realmente é, 
sem máscaras, sem camuflagens, sem couraça, sem comporta-
mentos profissionais ensaiados." '4 
O leitor perceberá que esta atitude requer transparência, coerência 
entre pensar, sentir e agir; sintonia entre o processo interno e a palavra. 
Terapeuta centrado na pessoa será autêntico. Esta forma de ser atuará 
direta ou subliminarmente no psiquismo do cliente. O mesmo se dará, 
infelizmente, também no caso de incongruência. 
A congruência não supõe, comunique o terapeuta ao cliente, o 
que se passa nele.Não. Quer dizer que deve ser, primeiramente, 
transparente (tanto quanto possível) para si mesmo. Atento aos 
12. Rogers, 1987, p. 38. 
13. Rogers, 1957, in Wood, p. 163. 
14. Tausch, 1990, p. 86). 
21 
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
próprios processos psicológicos, mas, sobretudo, mais atento às 
comunicações do interlocutor. À medida em que avançar na 
experiência profissional também ele "se tornará mais pessoa". 
Chegará o dia em que, habitualmente, pequena réstia sobre si mesmo 
será suficiente, sendo progressivamente mais disponível ao cliente.15 
4. É postulada uma quarta condição: da parte do cliente, 
percepção das condições acima no terapeuta, ao menos no grau 
mínimo (que pode ser elevado!) exigido pela situação do interlocutor 
à procura de solução de problema ou problemas: melhor - de 
crescimento como pessoa. Caso as condições não fossem percebidas 
é como se não existissem e, de fato, não existem para o consulente. 
De um lado, as condições devem ser de nível suficiente para serem 
captadas pelo outro; e este não deve ser tão perturbado que não consiga 
apreendê-las. Remédio não ingerido não pode curar. Surdo não ouve 
vozes e ruídos. 
"Desde que as atitudes não podem ser diretamente percebidas, 
seria mais correto estabelecer que os comportamentos do 
terapeuta e suas palavras são percebidas pelo cliente como 
significando que, em algum grau, o terapeuta o aceita e 
compreende." '6 
Daí a hipótese: se essas condições estiverem presentes na relação 
terapêutica, ocorrerá alguma mudança na personalidade do cliente. 
Se uma delas faltar, não acontecerá o efeito esperado, pois se trata de 
condições necessárias e suficientes. Quanto maior o grau de sua 
presença, tanto mais será a possibilidade de mudança da persona-
lidade, já que, neste clima, ela goza de liberdade experiencial, isto é, 
sente que tudo o que exterioriza é levado em consideração, sem 
julgamentos, sem avaliação. Não precisa, por isso, recorrer a defesas. 
Deixa cair eventuais máscaras. Pode reconhecer e reelaborar suas 
vivências sem negação ou deformação. O clima terapêutico 
'permissivo' favorece essa elaboração. 
15. Cf. Kirschenbaum, 1979, p. 197. - Rogers narra (1969a, p. 349 e ss) um caso com êxito limitado. A 
causa? "A pessoa era incapaz de aceitar meus sentimentos para com ela por não poder acreditar neles." 
16. Rogers, in Wood, 1995, p. 169. 
22 
5. O terapeuta tem confiança nas possibilidades, nos recursos 
do cliente. Essa confiança ele a transmite através de atitudes, palavras 
e mímica. 
Um cliente com problema sério, melhorara com inesperada 
rapidez, a ponto de ele mesmo se espantar, pois estivera consultando 
outros profissionais durante anos, e só piorando seu estado. Certo 
dia, após meio ano de atendimento, perguntou ele: 
- Doutor, a que se deve esta melhora rápida? 
- Você que acha? 
- Sabe, quando, na primeira entrevista, após haver exposto 
minha situação, perguntei: Meu estado tem cura? O senhor 
respondeu com muita espontaneidade e convicção: Meu Deus, 
por que não? - Esta sua reação reacendeu minha esperança. 
Ademais, disse-me: Você não está doente. Portanto, não precisa 
de cura. O que tem é um problema, e todo problema tem 
solução. Juntos procuraremos essa solução. 
A confiança do terapeuta no cliente, este a percebe consciente ou 
subrepticiamente, crescendo a confiança em si mesmo, alavanca para 
a superação do problema. "Ousai, em primeiro lugar, ter fé em vós 
próprios." n 
Até prova em contrário, o terapeuta centrado no cliente aposta 
na solução dos conflitos através da mobilização dos recursos da 
pessoa, talvez menos preocupado na resolução de problemática 
pontual do que no crescimento global do 'organismo'. Ele (terapeuta) 
é o catalisador, o facilitador do processo. Quem o dirige é o cliente. 
6. A essência da terapia centrada na pessoa, escreve Bozarth, 
é o empenho do terapeuta em caminhar 
° com a direção do cliente, 
0
 no ritmo do cliente 
• e n a modalidade única de ser do cliente. I8 
17. Nistzsche, 1988, p. 137. 
18. Bozarth, 1998, p. 8. 
23 
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Ouçamos o próprio Rogers: 
"A hipótese central do enfoque pode ser apresentado 
resumidamente (em 1959 encontra-se explanação mais 
completa): os indivíduos possuem dentro de si vastos recursos 
para auto-compreensão e para mudar, modificar o auto-
conceito, atitudes básicas e formas de agir pessoais: esses 
recursos podem ser ativados se determinado clima de atitudes 
psicológicas facilitadoras lhes for propiciado. I9 
No processo terapêutico centrado na pessoa, não há diagnóstico 
prévio realizado pelo terapeuta ou auxiliares, pois seria ferir o 
princípio central desse enfoque: centrar-se no cliente. O diagnóstico 
é efetivado, paulatinamente, ao longo de todo o processo. Por quem? 
Pelo cliente. O terapeuta procura facilitar-lhe a tarefa. Esse auto-
diagnóstico culmina em mudança de percepção. Da mudança de 
percepção decorre mudança de comportamento, de atitude. Por isso 
escreve Brazier que o trabalho de Rogers centrou-se, principalmente, 
em ajudar-nos a entender o quadro de referência do outro.20 Estamos 
longe do modelo médico: 'profissional-paciente'. Encontramo-nos 
em presença de 'profissional-cliente/pessoa', sendo a atividade 
deste(a) o foco da nova orientação psicoterápica. 
O leitor terá notado ser a orientação rogeriana otimista com 
relação à pessoa. Por isso confia nela, embora com muitos problemas. 
Alerta importante de Mearns: "Trabalhar com o cliente 'todo', 
quer dizer oferecer-lhe as condições básicas a todas as suas facetas, 
mesmo conflituadas entre elas e mutuamente excludentes." 2I 
Imagem de pessoa 
As condições e convicções mencionadas se baseiam sobre 
específica visão da personalidade, diferente de outras correntes em 
psicologia. Quais suas principais características? 
19. Rogers, 1980, p. 115. 
20. Brazier, 1997, p. 22. 
21. Mearns, 1994, p. 16. 
24 
Tendência à atualização ou auto-realização 
Lemos em Rogers dos últimos tempos de vida: 
"Quero destacar duas tendências correlatas que têm adquirido, 
gradativamente, maior importância em meu pensamento no 
decorrer dos anos. 
° uma delas é a tendência à atualização, característica da 
vida orgânica. 
o outra é a tendência formativa no universo como um todo. 
° Juntas constituem os blocos basilares do enfoque centrado 
na pessoa." 22 
Várias vezes cita ele em livros e palestras (inclusive na União 
Soviética) o caso de batatas inglesas guardadas no chão curo do porão, 
na fazenda paterna, brotando em direção à luz: a vida procurando 
expandir-se, tanto quanto possível, apesar das condições adversas. A 
observação de animais e plantas levou Carl Rogers à convicção de 
que todo ser vivo tende a crescer, em direção a tornar-se indivíduo 
adulto realizado da espécie, caso as condições lhe forem 
suficientemente favoráveis. Demos a palavra ao mestre: 
"Todo organismo é animado por tendência inerente a 
desenvolver todas as potencialidades, e a desenvolvê-las de 
maneira afavorecer-lhe a conservação e enriquecimento. " 23 
Em outra obra assegura: Este potencial será liberado quando o 
terapeuta puder criar clima psicológico caracterizado pela genuini-
dade, valorização incondicional e empatia. Então, "o cliente vai 
reorganizar-se tanto em nível consciente como em níveis mais 
profundos da personalidade".24 
Auto-imagem (self) 
Com a facilitação do terapeuta, o cliente procura desobstruir 
22. Rogers, 1080, p. 114. 
23. Rogers, 1966, p. 172. 
24. Rogers,1969 a p. 04. 
2 5 
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
Psicologo
Realce
ou ampliar o fluxo da tendência à atualização. Repetimos: o papel do 
terapeuta não consiste em guiar o cliente pelo caminho 'certo' (na 
perspectiva do profissional), mas criar condições favoráveis ao 
processo de auto-exploração e desenvolvimento.25 Objetivo: fazer 
desabrochar a pessoa no ser, como diz Levinas.26 
Essa exploração, possibilitada graças ao clima formado pelas 
atitudes do psicoterapeuta, provocarão mudanças na auto-imagem, 
no 'self. E, por sua vez, essa mudança no self fará com que o cliente 
perceba a si e a situação de modo diferente. Encontrará 'saídas'. 
Rogers: 
"Sucesso na terapia é a percepção, da parte do cliente, de que 
o self tem a capacidade de reorganização. [...] Quando a 
pessoa consegue se ver como agente perceptivo, organizador, 
então se dá a reorganização da percepção bem como a 
consequente mudança nos padrões da reação. "21 
A partir de certo patamar da terapia, o cliente terá enveredado num 
"caminho sem volta". O self é outro; a percepção é outra; outra, 
melhor e desabrolhadora é a vida. Unamuno diria que a pessoa "sente-
se viver em estado de criação contínua: cada momento oferece uma 
visão nova . 
A tendência à auto-realização e à auto-imagem (self) explicam 
todo procedimento do indivíduo (atitudes, ações e reações). A tendên-
cia ao crescimento é o elemento dinâmico do psiquismo; o self o 
orienta na direção de valores, objetivos que lhe interessam ou que, 
erroneamente ou não, lhe parecem vantajosos e alcançáveis. A auto-
imagem joga papel decisivo na vida. Conforme se julgar apta ou não, 
a pessoa orientará a tendência para este ou aquele rumo, podendo 
subestimar ou superestimar suas possibilidades. Mas decidirá 
conforme se perceber. Por isso, a percepção que o indivíduo tiver de 
si, dos outros, do estudo, emprego, etc, é que lhe pilotará a vida. Eis 
a razão por que o self constitui o centro do processo terapêutico. 
Escreve Goldstein, a quem devemos o termo auto-realização: 
25. Guioordani, 1997, p. 104. 
26. Levinas, 1988, p. 115. 
27. Rogers, in Wood, 1995, p. 49-50. 
28. 1952, p. 52. 
26 
"Existe estreita relação entre os modos preferidos do indivíduo 
e os motivos psicológicos de sua conduta, seu relacionamento 
com os demais, seus gostos e repulsas e suas atitudes ante a 
vida. "29 
Resumindo as principais conclusões sobre mudanças de personalidade 
na psicoterapia, Rogers enfatiza a correlação auto-imagem e vida 
mais congruente, mais realista do cliente para consigo mesmo e os 
demais.30 
Outra observação importantíssima: o ambiente deve ser 
suficientemente propício a fim de possibilitar a auto-realização da 
pessoa, à semelhança de todo ser vivo: sem o mínimo de condições, 
em vez de crescer, estiola e morre. Na terapia, as atitudes do 
profissional, muito mais que sua cultura, fazem surgir esse ambiente 
favorável. Quanto mais elevado o grau de existência dessas atitudes 
no ambiente familiar e social - é bom repetir - tanto mais 'terapêutico' 
será esse ambiente. Todo bom relacionamento é terapêutico, isto é, 
favorece o crescimento, segundo Maslow. Há, contudo, pessoas que, 
embora vivam em ambiente assim, necessitam temporariamente da 
'estufa' do gabinete psicoterapêutico para retomar o impulso do 
crescimento, quiçá dar-lhe outro rumo. 
Rumo à plenificação da pessoa 
Certa noite de fevereiro de 1977, durante as maravilhosas três 
semanas passadas com Rogers e equipe de La Jolla (San Diego, USA) 
em Arcozelo, RJ, John Wood entre eles, estávamos alguns sentados 
no alpendre da antiga fazenda transformada em local, rústico e singelo, 
de teatro, encontro de estudantes. Pois bem: o grande autor de "Tornar-
se Pessoa" estava discorrendo sobre a plenificação gradativa da 
pessoa, quando surge, por entre o arvoredo, a lua cheia. Minutos 
depois, brilhava ela, dourada e silenciosa, por cima da floresta, 
prateando o panorama bucólico da suavemente ondulada serra carioca 
de Pati do Alferes. 
29. 1961, p. 164. 
30. 1969a, p.413ess. 
27 
Vinculei o crescer da lua à auto-realização da pessoa. Quanto 
mais esta crescer, mais 'cheia', mais plena se tornará, dispondo de 
mais luz para si e irradiando-a mais abundantemente aos outros. 
E convicção de Fromm de que "a existência identifica-se com 
o desenvolvimento das potencialidades específicas de um organismo. 
Todo organismo possui uma tendência inerente para a atualização 
das suas potencialidades próprias." 31 
Essa noção da tendência à auto-realização tomaram-na Rogers, 
Fromm, Maslow e muitos outros, dos minuciosos experimentos e 
cuidadosas observações de Kurt Goldstein. 
A pessoa em via de crescimento notabilizar-se-á por algumas 
características:32 
Primeiramente é necessário observar não se tratar de 'estado', 
mas de um 'processo'. Vida em fluxo de plenificação é processo, não 
um estado de ser. Para Rogers, "vida em crescimento (good life) é o 
processo do movimento numa direção selecionada pelo indivíduo 
quando interiormente livre de se mover para qualquer rumo". 
Na opinião do autor, as características da seleção da direção 
tomada por tais pessoas têm certo grau de universalidade. Quais seriam 
os traços distintivos de tais indivíduos? 
° Crescente abertura à experiência. 
° Vida gradativamente mais existencial, isto é, de fluxo reno-
vador. 
° Organismo digno de confiança, graças à abertura à expe-
riência. 
° Vontade de ser processo. 
° A pessoa é seu centro de avaliação. 
O crescimento não termina, por mais rápido e organizado que seja. 
Nunca atingirá o brilho de lua cheia.. Não deixa de ser constante lua 
'crescente'. Escreve Paulo Freire: "Totalizando-se além de si mesma 
(a consciência humana) nunca chega a totalizar-se inteiramente, pois 
sempre se transcende a si mesma."33 Pessoa em processo de auto-
31. Fromm, s.d., p. 38. 
32. Rogers, 1961, cap. 9. [Cap. 7 da edição brasileira.] 
33. Freire, 1987, p. 16. 
28 
realização não estaciona: encontra-se 
° a caminho de sempre mais plena auto-direção; 
° a caminho de ser um processo mais rico e dinâmico; 
° a caminho da complexidade; 
° a caminho de maior abertura à experiência; 
° de maior aceitação dos outros; 
° de relacionamento mais profundo com os demais; 
° de crescente confiança em si mesma; 
° de progresso em congruência, em autenticidade. 
Como fecho dessas considerações, dois pensamentos que mostram a 
penetração de princípios da psicologia humanista na alta cúpula da 
Igreja Católica: 
"O homem não é verdadeiramente homem a não ser na medida 
em que, senhor de suas ações e juízos de valor, é autor do seu 
progresso, de acordo com a natureza que lhe deu o Criador, 
de que assume livremente as possibilidades e exigências." 34 
O Papa atual não é menos enfático: 
"Somos, de certo modo, os nossos próprios pais ao criarmo-
nos como queremos e, pela nossa escolha, dotarmo-nos da 
forma que queremos. "35 
Se as orientações da psicologia rogeriana atingissem as altas esferas 
dos poderes políticos, em poucos anos, a terra adquiriria fisionomia 
bem mais humana... 
34. Paulo VI, 1967,. n. 16. 
35. João Paulo II, 1993, p. 92. 
29 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 
ALLERS, R. Freud: O Problema da Psicanálise. Porto: Brasília Editora, 1975. 
ASSOUN, P. L. Introdução à Epistemologia Freudiana. Rio de Janeiro: Imago, 
1983. 
BRAZIER, D. Más allá de Carl Rogers. Bilbao: Brouwer, 1997. 
BUBER, M. Eu-Tu. São Paulo: Editora Morais, s.d. 
BUBER, M. Sobre Comunidade. São Paulo: Perspectiva, 1987. 
COGSWELL, J. F. Walking in Your Shoes, in Journal of Humanistic 
Psychology, vol. 33, n. 3. 1993. 
FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 
FROMM, E. Ética e Psicanálise. Lisboa: Minotauro, s.d. 
GIORDANI, B. La Relación deAyuda: de Rogers a Carkhuff. Bilbao: Brouwer, 
1997. 
GOLDSTEIN, K. LaNaturaleza Humana a la Luz de la Psicopatologia. Buenos 
Aires: Paidos, 1961. (O original inglês é de 1940.) 
HART, J. T. e Tomlinson, T. M. New Directions in Client-Centered Therapy. 
Boston: Mifflin, 1970. 
João Paulo II. O Esplendor da Verdade. Petrópolis. Vozes, 1993. 
KRISCHENBAUM, H. On Becoming Carl Rogers. Nova Iorque: Delacorte, 
1979 
LEVINAS, E. Ética e Infinito. Lisboa: Edições 70,1988. 
Mearns, D. Developing Person-Centered Counseling. Londres: Sage, 1994. 
Monedero, C. Antropologia y Psicologia. Madri: Pirâmide, 1995. 
Nietzsche, F. Assim Falava Zaratustra. Guimarães: Guimarães Editores, 1988. 
Paulo VI. Populorum Progressio. Paris: Centurion, 1967. 
Peretti, A. Présence de Carl Rogers. Paris: Érès, 1997. 
Rogers, C. R. Client Centered-Therapy. Boston; Mifflin, 1951. 
—- Terapia, Personalidady Relaciones Interpersonales. Buenos Aires: Nueva 
Vision, 1978 (Ed. original em Koch, 1959). 
— On Becoming a Person: A Therapists View of Psychotherapy: Boston: 
Mifflin, 1961. 
— e Kinget, M. Psychothérapie et Relations Humaines. Paris: Nauwelaerts, 
1966. 
30 
— et ai. The Therapeutic Relationship and Ws lmpact: a study of psychotherapy 
with schizophrenics. Wisconsin: University Press, 1967 
—eDymond, R. F. Psychotherapy and Personality Change. Chicago: University 
Press, 1969a 
— Freedom to Learn. Columbus (Ohio), 1969b 
— Encounter Groups. Nova Iorque: Harper, 1970. 
— Becoming Partners: Marriage and itsAlternatives. Nova Iorque, Delacorte, 
1972. 
— e Rosenberg, R. A Pessoa como Centro. São Paulo: EPU, 1977. 
— A wayofBeing. Boston: Mifflin, 1980. 
— Comments on the issue of equality in psychotherapy, in Journal of 
Humanistic Psychology, 1, 1987. 
TAUSCH, R. e Tausch, A M. Psicologia de la Educación: encuentro de 
Persona a Persona. Barcelon: Herder, 1981. 
TAUSCH, R. e Tausch, A. M. Gesprãchs-Psychotherapie. Gõttingen: Hogrefe, 
1990. 
UNAMUNO, M. de. Almas de Jóvenes. Buenos Aires: Espasa-Calpe, 1952. 
WOOD, J. Abordagem Centrada na Pessoa. Vitória: Univ. do Espírito Santo, 
1995. [Ia Parte: Seis Textos Seminais de Carl Rogers. 2a Parte:. Wood, J.: 
Da Abordagem Centrada na Pessoa à Psicoterapia Centrada no Cliente]. 
31 
* 
As ORIGENS E O DESENVOLVIMENTO 
DA TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE 
2. O Nascimento da terapia centrada no cliente 
No dia 11 de dezembro de 1940, a Universidade de Minnesota 
promoveu uma palestra sobre os "Os mais recentes conceitos em 
psicoterapia". O palestrante convidado era um psicólogo e pesquisa-
dor da Universidade de Ohio chamado Cari Ransom Rogers. O 
palestrante, seguindo a temática proposta, procurou apresentar uma 
síntese do que havia de mais moderno, na época, no campo da 
psicoterapia. A partir da sua experiência de doze anos de trabalho 
clínico no "Rochester Society for the Prevention of Cruelty to 
Children" e de acordo com os resultados das pesquisas que realizara 
ao longo de todo o ano de 1940 na Universidade de Ohio (analisando 
laboriosamente centenas de gravações de sessões de psicoterapia), 
Rogers apresentou as quatro características de uma recente tendên-
cia em psicoterapia que ele supunha que vinha sendo praticada pela 
grande maioria dos psicoterapeutas mais jovens: 
° esta nova abordagem confiava intensamente na tendência 
do indivíduo para o crescimento, para a saúde e maturidade. 
A terapia era concebida como uma maneira de libertar o cli-
ente para o crescimento e desenvolvimento normal. 
° esta terapia dava maior ênfase aos sentimentos do que à com-
preensão intelectual. 
° esta nova terapia dava maior ênfase à situação imediata do 
que ao passado do indivíduo. 
° esta abordagem enfatizava a relação terapêutica em si mes-
ma como uma experiência de crescimento. 
Por acreditar que estava simplesmente sumariando e apontando ten-
dências comuns aos psicoterapeutas de sua época, Rogers ficou ex-
tremamente surpreendido com a reação da plateia à sua apresenta-
ção. Ele foi duramente criticado, contestado e atacado, foi olhado 
com espanto e perplexidade como foi também elogiado e aclamado. 
Foi somente a partir deste dia que Cari Rogers percebeu que esta 
nova tendência em psicoterapia não era uma tendência comum aos 
profissionais clínicos de sua geração, mas era, pelo contrário, uma 
abordagem criada por ele e que não apenas única e inovadora como 
também era uma abordagem completamente revolucionária. Vinte e 
quatro anos depois, Rogers1 escreveu: "Pareceria um tanto absurdo 
supor que se pudesse nomear um dia no qual a terapia centrada no 
cliente tivesse nascido. No entanto, eu sinto que é possível nomear 
este dia efoi o dia 11 de dezembro de 1940". 
Cari Rogers, sem dúvida, foi uma das personalidades mais 
geniais e marcantes de nosso século. Desde o início dos anos 30, 
quando começou a trabalhar como psicoterapeuta até o ano de sua 
morte, em 1987 - quando foi indicado para receber o prémio Nobel 
da Paz - Rogers se dedicou intensamente ao desenvolvimento e apri-
moramento de uma abordagem das relações humanas promotora do 
crescimento e da realização das potencialidades criativas do indiví-
duo, não somente no campo da psicoterapia, como também no cam-
po da educação, da sociologia e da política. 
Em 1928, logo após ter obtido seu Ph.D em psicologia clínica, 
Cari Rogers começou a trabalhar como psicólogo no "Rochester 
Society for the Prevention ofCruelty to Children". Rogers trabalhou 
doze anos nessa clínica, fazendo psicoterapia, psicodiagnósticos e 
encaminhamentos e sendo, por fim, nomeado diretor. Devido ao seu 
espírito pragmático e crítico, durante este período em Rochester, 
Rogers acabou desenvolvendo a sua própria forma de abordar a 
psicoterapia. Perguntando-se constantemente se o que ele fazia era, 
de fato, eficaz, questionando-se sobre o quê, em tudo o que ele fazia, 
ajudava, de fato, os seus pacientes e em como ele poderia realmente 
ajudá-los, Rogers acabou modificando radicalmente a forma de tra-
balhar como psicoterapeuta que aprendera em sua formação, que fora 
basicamente psicanalítica. Assim, a partir dos seus constantes 
questionamentos, durante estes doze anos de intensa experiência clí-
nica em Rochester, Rogers começou a desenvolver a sua própria 
abordagem em psicoterapia, que quarenta anos mais tarde seria cha-
mada de Abordagem Centrada na Pessoa. 
Em 1939, Rogers publicou o seu primeiro livro - O Tratamen-
to Clínico da Criança Problema -, fruto do trabalho desenvolvido 
em Rochester. Devido ao interesse despertado por esta publicação, a 
Universidade de Ohio contratou-o, em 1940, para ser professor-resi-
dente e supervisor de psicólogos em formação clínica. 
1. Rogers, 1974, p. 7. 
36 
Durante cinco anos, Rogers trabalhou em Ohio lecionando para 
alunos da graduação e supervisionando os psicólogos que faziam 
formação em "counseling". Naquela época, a legislação americana 
não permitia aos psicólogos atuarem como psicoterapeutas - era uma 
atividade restrita a psiquiatras. Desta forma, para contornar as limi-
tações impostas pela legislação da época, Rogers denominava o seu 
trabalho de "counseling" ao invés de "psicoterapia". O counseling, 
que costuma ser traduzido para o português como '"aconselhamento" 
é uma profissão regulamentada nos Estados Unidos e em muitos pa-
íses da Europa, mas que não possui correspondente no Brasil. 
Nos seus grupos de supervisão, Rogers introduziu uma 
metodologia inovadora: a gravação das sessões terapêuticas. Atra-
vés da utilização deste recurso, Rogers e seus alunos puderam anali-
sar, avaliar, investigar e questionar o trabalho que realizavam como 
psicoterapeutas com uma profundidade que não teria sido possível 
se tivessem utilizado somente os relatos obtidos pela "memória" do 
terapeuta: 
"E impossível exagerar a excitação com que aprendíamos, à 
medida em que nos apinhávamos em torno do aparelho que 
nos possibilitava ouvir a nós mesmos,repetindo inúmeras ve-
zes algum ponto intrigante no qual a entrevista fora clara-
mente mal conduzida ou as passagens em que o cliente pro-
gredia significativamente. (Ainda considero que esta técnica 
é a melhor maneira de nos aperfeiçoarmos como terapeutas). 
Entre as muitas lições que estas gravações nos proporciona-
ram... descobrimos que era possível detectar a resposta do 
terapeuta que fazia com que um fluxo frutífero de expressão 
significativa se transformasse em algo superficial e inútil. Do 
mesmo modo, podíamos nos deter na intervenção do terapeuta 
que levava a conversa tola e superficial do cliente a transfor-
mar-se numa auto-exploração. "2 
A riqueza do material obtido com estas gravações possibilitou que 
Rogers investigasse com profundidade e rigor a sutil essência do 
processo terapêutico, dando origem à palestra que proferiu na Uni-
versidade de Minnesota em dezembro de 1940. As características 
2. Rogers, 1977, p. 70. 
37 
apontadas por Rogers, naquela ocasião, como constituindo a essên-
cia de uma nova abordagem em psicoterapia, foram posteriormente 
exploradas com maior rigor e profundidade através de um grande 
número de pesquisas realizadas inicialmente em Ohio e, a partir de 
1945, no Counseling Centerda Universidade de Chicago. As quatro 
características citadas por Rogers: a confiança na tendência do indi-
víduo para o crescimento e a maturidade; a ênfase nos sentimentos 
ao invés da compreensão intelectual; a ênfase na situação imediata, 
ao invés do passado e o reconhecimento de que a própria relação 
terapêutica é em si mesma uma experiência de crescimento perma-
neceram, ao longo de todos esses anos, como elementos essenciais 
da terapia centrada no cliente. Entretanto, elas foram consideravel-
mente ampliadas quanto ao seu alcance e profundidade e, como re-
sultado do grande número de pesquisas realizadas, sua formulação 
tornou-se mais precisa e rigorosa. 
Em 1942, Rogers publicou Counseling and Psychotherapy: 
Newer Concepts in Practice, que foi traduzido para o português como 
Psicoterapia e Consulta Psicológica (as traduções para o português 
das obras de Rogers encontram sempre dificuldade com a tradução 
da expressão counseling). Neste livro, Rogers fundou, com admirá-
vel solidez e clareza, os alicerces de sua revolucionária concepção 
teórica e prática no campo da psicoterapia. Estes alicerces que, cin-
quenta anos depois, ainda permanecem sendo a sólida base de sus-
tentação da terapia centrada no cliente são a constatação de que a 
não-diretividade e a aceitação do terapeuta são elementos terapêuticos 
essenciais numa relação de ajuda psicológica. 
3. Uma relação essencialmente não-diretiva 
Rogers constatou, desde o início de suas pesquisas, que quan-
do o terapeuta se abstém de dar uma direção ao processo terapêutico, 
quando ele não interfere no processo espontâneo do cliente, propici-
ando-lhe, ao invés disso, total liberdade para escolher a sua própria 
direção e avançar no seu próprio ritmo, ocorre uma surpreendente 
liberação das forças de crescimento do cliente. Quanto maior é a 
38 
liberdade oferecida ao cliente para se expressar espontaneamente, 
sem que seja guiado, conduzido ou orientado pelo terapeuta, maior é 
a rapidez e a intensidade com que ele traz para o processo terapêutico 
as questões realmente cruciais da sua existência. Quando é oferecida 
ao cliente uma completa liberdade de expressão, ele é capaz de ex-
pressar conflitos e sentimentos que o terapeuta não poderia de forma 
alguma supor ou conceber previamente. Dessa forma, Rogers che-
gou à conclusão de que o melhor guia para o processo terapêutico é 
sempre o próprio cliente Ele é o único capacitado a reconhecer as 
questões verdadeiramente importantes que precisam ser exploradas 
e compreendidas na terapia. Toda orientação do terapeuta, ao contrá-
rio, tende a inibir e bloquear este fluxo de auto-expressão do cliente. 
Por este motivo, o terapeuta deve deixá-lo completamente livre para 
escolher a direção e o ritmo do seu processo terapêutico. Rogers sin-
tetizou admiravelmente a necessidade desta não-diretividade para o 
sucesso da relação terapêutica com a máxima: o melhor guia é o 
cliente. 
"O caminho mais seguro para as questões importantes, para 
os conflitos dolorosos, para as zonas que a terapia pode tra-
tar deforma construtiva é seguir a estrutura dos sentimentos 
do cliente tal como ele os exprime livremente. (...) O cliente é 
o único que pode nos guiar para tais fatos e podemos ter a 
certeza de que os padrões de conduta que são suficientemente 
importantes surgirão repetidamente no diálogo, desde que ele 
esteja isento de restrições e inibições. "3 
4. A aceitação como a essência do processo terapêutico 
Rogers percebeu que para uma relação terapêutica ser eficaz 
ela deve ser radicalmente distinta de todas as outras relações que o 
indivíduo tem na sociedade, pois nela, não somente o cliente deve ter 
a oportunidade de ser e de se expressar livremente, como também 
3. Rogers, ]997a,pp. 131-133. 
39 
tudo o que ele expressa deve ser reconhecido e aceito pelo terapeuta. 
Independentemente dos valores morais do terapeuta, ele deve reco-
nhecer e aceitar plenamente todos os sentimentos e atitudes expres-
sos pelo cliente - sem julgamentos ou críticas, como também sem 
elogios ou aprovação. Seja uma atitude positiva ou negativa, seja um 
sentimento agradável ou desagradável, doloroso ou prazeiroso, tudo 
deve ser recebido da mesma forma pelo terapeuta - com reconheci-
mento e aceitação: 
"Os sentimentos positivos são aceitos tanto quanto os senti-
mentos negativos, como uma parte da personalidade. É esta 
aceitação, tanto dos impulsos de imaturidade como os de ma-
turidade, das atitudes agressivas e de sociabilidade, de senti-
mentos de culpa e de expressões positivas, que dá ao indiví-
duo oportunidade pela primeira vez na vida de se compreen-
der a si próprio tal como é. Não tem necessidade de uma ati-
tude de defesa em face dos sentimentos negativos. Não tem 
oportunidade de supervalorizar os sentimentos positivos. E 
neste tipo de situação, surge o insight espontaneamente. (...) 
Esta compreensão, esta apreensão e aceitação de si constitu-
em o aspecto mais importante de todo o processo. Aqui se 
estabelece a base a partir da qual o íi.divíduo é capaz de as-
cender a novos níveis de integração. "4 
Nesta época, Rogers ainda não havia desenvolvido uma teoria da 
terapia e da personalidade que explicasse suficientemente por que a 
não-diretividade e a aceitação do terapeuta são fatores essenciais 
para o sucesso terapêutico. Um desenvolvimento mais completo da 
teoria só veio a ocorrer em 1951 com a publicação do livro Terapia 
Centrada no Cliente. Contudo, em Counseling and Psychotherapy, 
Rogers já começara a esboçar os princípios e as explicações teóricas 
que seriam mais extensivamente elaboradas em 1951. Assim, já em 
1942, Rogers pode reconhecer que: 
° os clientes possuem um "eu oculto" ou "eu não convencio-
nal" do qual se defendem através de racionalizações e rejei-
ções. Nos seus relacionamentos pessoais, os clientes man-
4. Rogers, 1997a, p. 40. 
40 
tém uma "parede defensiva ", para não precisarem olhar para 
esse seu "eu escondido". 
° Numa relação terapêutica impregnada de liberdade e aceita-
ção, o indivíduo se sente "liberto de qualquer necessidade 
de se por na defensiva" e tem "pela primeira vez, uma oportu-
nidade de olhar francamente para si mesmo", de ir para além 
da "parede " defensiva e fazer uma apreciação autêntica de 
si mesmo. 
Dentro desta perspectiva, Rogers, em Counseling and Psychotherapy, 
esboça a seguinte descrição do processo terapêutico: 
Através de uma atitude amigável, interessada e receptiva o 
terapeuta estimula o cliente a expressar livremente os seus senti-
mentos, levando-o a sentir que aquela hora é verdadeiramente sua e 
que pode usá-lacomo quiser. Devido à atitude de compreensão e de 
aceitação do terapeuta, o cliente se liberta da necessidade de se prote-
ger e pode, muitas vezes, pela primeira vez na vida, ser autentica-
mente ele próprio. Ele percebe que pode expressar todos os seus 
sentimentos e que não necessita das suas defesas psicológicas habi-
tuais, pois não encontra nem censuras nem elogios por parte do 
terapeuta. Dessa forma, a atmosfera de aceitação criada pelo terapeuta 
permite que o cliente consiga expressar, reconhecer e aceitar os seus 
sentimentos negativos como uma parte de si mesmo, em vez de 
projetá-los nos outros ou de ocultá-los através de racionalizações ou 
rejeições, isto é, o cliente torna-se capaz de enfrentar os diferentes 
aspectos do seu eu sem a necessidade dos seus habituais mecanismos 
defensivos. "À medida que descobre que seu eu não convencional, o 
seu eu oculto, é tranquilamente aceito pelo psicólogo, o cliente é 
igualmente capaz de aceitar como seu esse eu até então escondido. 
Em vez de lutar desesperadamente para ser o que não é, descobre 
que há muitas vantagens em ser o que é e em desenvolver as 
possibilidades de crescimento que são autenticamente suas. "5 
A descoberta mais importante de Rogers, portanto, não foi a 
de que o indivíduo, num ambiente livre de críticas, aprovações e 
orientações é capaz de reconhecer e expressar os aspectos mais "ocul-
tos" do seu eu. A descoberta mais surpreendente e que deu origem às 
5. Rogers, 1997a, p. 172. 
41 
implicações mais radicais e revolucionárias desta abordagem foi a 
constatação de que o indivíduo, após reconhecer estas facetas obscu-
ras e "negativas" do seu eu, descobre também dentro de si impulsos 
e características extremamente positivas, saudáveis e maduras: 
Quando os sentimentos negativos do indivíduo se exprimem 
totalmente, segue-se a expressão receosa e hesitante dos im-
pulsos positivos que promovem a maturidade. Essa expressão 
positiva é um dos aspectos mais certos e previsíveis de todo o 
processo. Quanto mais violentas e profundas forem as expres-
sões negativas (desde que sejam aceitas e reconhecidas), tan-
to mais certas serão as expressões positivas de amor, de im-
pulsos sociáveis, de auto-respeito profundo, de desejo de ma-
turidade. (...) Uma relação terapêutica centrada no cliente li-
berta forças dinâmicas de uma forma não conseguida por ne-
nhuma outra relação, (o grifo é nosso)6 
A descoberta de que forças dinâmicas positivas eram liberadas atra-
vés do clima aceitador e permissivo da relação terapêutica tornou-
se, posteriormente, o postulado fundamental da terapia centrada no 
cliente. (Veremos, mais adiante, como esta ideia, a princípio vaga e 
genérica, foi se desenvolvendo até culminar no conceito de tendên-
cia atualizante). 
Assim, com a publicação de Counseling and Psychotherapy, a 
abordagem proposta por Rogers recebeu a denominação de Terapia 
Não-diretiva, justamente por enfatizar a permissividade e a aceita-
ção como os fatores essencialmente terapêuticos da relação. 
5. O cliente não é um paciente 
Já em Counseling and Psychotherapy surge também outra ca-
racterística inovadora da terapia centrada no cliente (na época, ainda 
chamada de Terapia Não-Diretiva): os indivíduos auxiliados através 
da psicoterapia eram considerados como clientes e não como pacien-
tes. O que pode parecer uma simples questão semântica, possuí, de 
6. Roges, 1997a, p. 39 e p.242. 
42 
fato, implicações filosóficas e sociais extremamente importantes. 
Entretanto, a explicitação dos motivos pelos quais Rogers e seus co-
laboradores optaram pela expressão cliente só veio a aparecer em 
1951, no livro Terapia Centrada no Cliente. Basicamente, são duas 
as razões pelas quais esta abordagem utiliza o termo cliente ao invés 
de paciente: 
1. A palavra paciente denota um sentido de passividade. Nada 
mais distante do que ocorre na relação terapêutica da terapia centrada 
no cliente. Nela, o indivíduo não recebe nada passivamente do 
terapeuta: não recebe a solução para o seu problema, não recebe uma 
interpretação para o seu conflito, não recebe uma orientação, não 
recebe respostas, não recebe conforto ou encorajamento, nem 
tampouco críticas. Muito pelo contrário, devido à não-diretividade e 
à aceitação experenciadas plenamente na relação terapêutica, o indi-
víduo descobre os seus próprios recursos e desenvolve sua autono-
mia. Ou seja, nesta relação terapêutica o indivíduo se torna, literal-
mente, agente e não paciente. 
2. A expressão paciente está vinculada ao modelo médico de 
doença e cura. Paciente é o indivíduo que tem uma doença e que 
precisa ser curado. No entanto, os conceitos de doença e cura não 
são aplicáveis à psicoterapia7. Uma doença é uma entidade que pode 
ser identificada de forma Objetiva através de procedimentos diagnós-
ticos precisos. Ela possui uma etiologia definida e pode ser "remo-
vida" do organismo através de intervenções médicas também defi-
nidas de forma Objetiva. Isto é, toda doença possui uma "existência" 
Objetiva, mensurável e possui causas, tratamentos e prognósticos que 
podem ser identificados objetivamente. Mas os conflitos existenciais, 
as dificuldades emocionais e o sofrimento psíquico que levam um 
indivíduo a procurar ajuda através da psicoterapia não possuem as 
características "objetivas" de uma doença. Por este motivo, não pode-
mos afirmar que a psicoterapia cura doenças, assim como as ques-
tões existenciais que geram sofrimento psíquico no indivíduo não 
podem ser consideradas como doenças*. Ou seja, o indivíduo que 
procura auxílio na psicoterapia não está doente e, portanto, não pode 
ser chamado de paciente. 
1. No livro Terapia Centrada no Cliente, Rogers dedica grande parte do capítulo cinco à análise da 
incompatibilidade entre o modelo médico e o processo psicoterapêutico. 
8. Szasz afirma que o conceito de "doença mental" é uma falácia: "Doenças cerebrais são doenças cerebrais e 
as doenças mentais não são absolutamente doenças". (Szasz, 1978, p. 116) 
43 
6. O desenvolvimento pioneiro de 
pesquisas em psicoterapia 
Em 1945, Rogers foi convidado a lecionar na Universidade de 
Chicago e a estabelecer, nesta universidade, um centro de aconselha-
mento baseado nos princípios da abordagem não-diretiva. Em Chi-
cago, junto com uma grande equipe de colaboradores, na maior par-
te, seus alunos, Rogers desenvolveu um trabalho pioneiro para a sua 
época: a pesquisa científica em psicoterapia. Rogers já inovara em 
Ohio ao ser o primeiro psicoterapeuta a registrar através de grava-
ções sonoras as sessões de terapia e a torná-las disponíveis para a 
comunidade profissional, contribuindo, desta maneira, para a "desmis-
tificação"9 da psicoterapia. Nat Raskin, um dos seus colaboradores 
mais próximos em Chicago afirmou que Rogers atravessou completa-
mente o labirinto de mistério que rodeava o trabalho dos psicotera-
peutas em geral.w 
Entretanto, a busca deste conhecimento científico e objetivo 
sobre a psicoterapia representava, para Rogers, um grande conflito, 
pois a sua experiência como terapeuta possuía uma qualidade essen-
cialmente subjetiva que ele sabia que não poderia ser adequadamente 
traduzida ou simbolizada através da conceituação fria e rigorosa da 
ciência. Rogers sentia-se dividido entre o mundo da sua experiência 
subjetiva, "quase mística", de terapeuta e o mundo objetivo do seu 
trabalho como cientista." Assim, no prefácio do livro Terapia Centra-
da no Cliente, Rogers tenta esclarecer o significado que tinha, para 
ele e para sua equipe, a busca deste conhecimento científico: 
"Mas é também um livro sobre mim e os meus colegas, que 
empreendemos a análise científica desta experiência viva, 
9. Bozarth (1998) afirma que "Rogers foi a principal figura na desmistificação da psicoterapia, principalmente 
através do uso de gravações sonoras e filmes. Rogers e seus colegas foram o primeirogrupo a usar 
gravações para examinar as sessões de terapia e torná-las disponíveis à comunidade profissional. De 
fato, eles começaram com o uso de gravadores de "rolo" e discos de vidro, que eram incómodos e 
desajeitados para o uso. Na verdade, Rogers foi um dos primeiros indivíduos a tornar suas próprias 
sessões de terapia disponíveis para averiguação pública em gravações sonoras e filmes." p. 14 
10. Raskin, (1948). 
11. Rogers escreveu um artigo "Pessoa ou Ciência:? Uma Questão Filosófica", onde descreve precisamente 
este seu conflito. Este artigo encontra-se publicado no livro de John Wood, Abordagem Centrada na 
Pessoa e também no livro Tornar-se Pessoa. 
44 
emocional. É sobre os nossos conflitos neste aspecto - a per-
cepção vigorosa de que o processo terapêutico é rico em 
nuances, complexidades e sutilezas, e a nossa crença, igual-
mente vigorosa, de que a descoberta científica, a generali-
zação, é fria, sem vida, destituída da plenitude da experiên-
cia. Mas o livro também expressa, confio eu, a nossa crescen-
te convicção de que, embora não possa formar terapeutas, a 
ciência pode auxiliar a terapia; de que, embora seja fria e 
abstraía, a descoberta científica pode nos assistir na libera-
ção de forças que são quentes, pessoais, complexas; e de que 
embora seja lenta e hesitante, a ciência representa o melhor 
caminho conhecido para a verdade, mesmo numa área tão 
delicadamente intricada como a das relações humanas. "n 
A concepção de ciência que Rogers tinha nesta época era estritamen-
te positivista. No meio cultural e académico em que vivia, esta era a 
única concepção de ciência aceita e reconhecida. Assim, as pesqui-
sas que Rogers e sua equipe desenvolveram na Universidade de Chi-
cago consistiam basicamente em "testes" ou "verificações" de hipó-
teses, seguindo um modelo rigorosamente experimental e estatístico. 
Contudo, estas hipóteses, que eram descritas de forma operacional e 
testadas com métodos estritamente quantitativos se originaram, 
primariamente, da sua experiência pessoal e subjetiva como terapeuta. 
Ou seja, Rogers utilizava inteiramente a sua subjetividade, na sua 
experiência pessoal com os clientes, como fonte e origem de suas 
hipóteses sobre a psicoterapia. No entanto, ele considerava que este 
conhecimento, obtido através da sua experiência subjetiva, não teria 
valor se não fosse "comprovado" ou verificado pelos métodos da 
ciência. 
No campo da pesquisa em psicoterapia, Rogers foi tremenda-
mente inovador. Até então, as hipóteses sobre a psicoterapia jamais 
haviam sido "postas à prova" por nenhuma outra abordagem. Rogers 
e sua equipe foram também extremamente criativos ao inventarem 
novos procedimentos para verificação de hipóteses, como a técnica 
<213 de Stephenson e o Relationship Inventory de Barret-Lennard. 
12. Rogers, 1992, p. 4 
13. No livro Terapia Centrada no Cliente, numa nota de rodapé à página 163, (na edição de 1992) Rogers 
descreve sucintamente a aplicação da técnica Q à pesquisa sobre a alteração da percepção do eu na 
psicoterapia. 
45 
Estas pesquisas eram realizadas no Centro de Aconselhamento da 
Universidade de Chicago, dirigido por Rogers, que atendia uma mé-
dia de 800 a mil pessoas por ano. 
Esta brilhante atividade de Rogers como pesquisador lhe pro-
piciou um enorme prestígio junto à comunidade científica e profis-
sional americana, tornando-se editor de duas prestigiadas revistas 
científicas de psicologia - o "Journal of Counsulting Psychology" e 
o "Aplied Psychology Monographs - e sendo eleito presidente da 
Associação Americana de Psicologia (American Psychological 
Association), em 1943. 
7. A confiança na capacidade do cliente 
Desde a conferência proferida em Minnesota, em 1940, Rogers 
já considerava que uma das características essenciais dessa nova 
abordagem em psicoterapia era a confiança na tendência do indiví-
duo para o crescimento e para a maturidade. Com o passar dos anos, 
esta confiança foi se fortalecendo ainda mais. Rogers percebeu que 
quanto mais ele confiava na capacidade do seu cliente para superar 
autonomamente suas dificuldades, mais o cliente correspondia a essa 
confiança, liberando as forças internas de crescimento que até então 
tinham permanecido bloqueadas. 
Assim, num artigo publicado em 1946, chamado "Aspectos 
significativos da terapia centrada no cliente"14, Rogers dedicou uma 
especial atenção ao que ele denominou de " a descoberta da capaci-
dade do cliente": 
"Basicamente, a razão para a previsibilidade do processo 
terapêutico está na descoberta - e uso esta palavra intencional-
mente - de que no interior do cliente residem forças construti-
vas cujo poder e uniformidade não têm sido reconhecidos 
inteiramente, como também têm sido bastante subestimados. 
14. Rogers, C. R. (1946). Significam Aspecls of Client-Centered Therapy. The American Psycholoeist, 10, 
415-422. 
46 
É a nítida e disciplinada confiança do terapeuta nessas forças 
internas do cliente que parece explicar a ordenação do 
processo terapêutico, bem como sua consistência de um cliente 
para outro. "i5 
Neste pequeno trecho aparecem duas ideias muito importantes que 
foram progressivamente sendo desenvolvidas por Rogers e seus co-
laboradores tanto através de pesquisas como através de novas e mais 
completas elaborações teóricas. A primeira ideia é a descoberta de 
que existem, em todos os indivíduos, forças construtivas de cresci-
mento que até então não haviam sido reconhecidas por nenhuma 
abordagem psicoterapêutica. A segunda ideia presente aqui é a de 
que a confiança do terapeuta nestas forças internas do cliente, uma 
confiança nítida e disciplinada, é o que propicia o processo 
terapêutico. 
A descoberta da existência de poderosas forças internas de 
crescimento e a firme confiança do terapeuta nestas forças, represen-
tam, hoje, o aspecto mais revolucionário da terapia centrada no cli-
ente. Lendo o que Rogers escreveu em 1946 em referência aos mo-
delos psicoterapêuticos vigentes naquela época, podemos constatar 
que Rogers continua sendo tão revolucionário em relação aos pa-
drões atuais do pensamento psicológico quanto fora há cinquenta 
anos atrás. Depois de analisar diversos estudos de caso publicados 
por psiquiatras e psicanalistas, Rogers concluiu que a confiança que 
estes terapeutas tinham em seus clientes era uma confiança muito 
limitada: 
"É uma confiança de que o cliente pode assumir responsa-
bilidade, se for guiado pelo especialista; uma confiança de 
que o cliente pode assimilar insight, se este lhe for propiciado 
primeiro pelo especialista; de que pode fazer escolhas, se nos 
pontos cruciais lhe for dada uma direção. E, em suma, o mes-
mo tipo de atitude que uma mãe tem para com seu filho 
adolescente, que ela acredita ser capaz de tomar decisões pró-
prias e guiar seu próprio caminho, contanto que ele tome a 
direção por ela aprovada. "w 
15. Rogers, 1995a, p. 24 
16. Roges, 1995a, p. 26. 
47 
Esta confiança do terapeuta nas forças internas de crescimento do 
cliente tornou-se posteriormente o postulado fundamental da terapia 
centrada no cliente e a principal característica que a diferenciaria de 
todas as outras abordagens em psicoterapia. Em 1951, no livro "Te-
rapia Centrada no Cliente", Rogers formulou de uma maneira mais 
precisa o significado destas "forças de crescimento"'. A partir dos 
estudos de Snygg, Combs, Angyal, Goldstein e outros, Rogers consta-
tou que existe, em toda vida orgânica, uma. força direcional básica 
que se manifesta como uma tendência do organismo para preservar-
se e para mover-se na direção da maturação e da auto-realização de 
suas potencialidades. Esta força direcional também se expressa como 
uma tendência do organismo para mover-se na direção de uma maior 
independência, autonomia e auto-regulação como também na direção 
de uma maior socialização. Esta tendênciadirecional está presente 
na vida de todo organismo individual "desde a concepção até a 
maturação, em qualquer nível de complexidade orgânica"11. 
Rogers considerou, então, que a tendência para o crescimento, 
para a maturidade e para a autonomia que ele observara em todos os 
seus clientes quando era oferecida, na relação terapêutica, uma atmos-
fera de aceitação e liberdade, era, na realidade, a expressão desta 
força direcional básica originada no próprio funcionamento orgâni-
co (ou organísmico) do indivíduo: 
"Na terapia centrada no cliente, a pessoa é livre para esco-
lher qualquer direção, mas, na realidade, ela seleciona cami-
nhos positivos e construtivos. Eu só posso explicar isto em 
termos de uma tendência direcional inerente ao organismo 
humano - uma tendência para crescer, se desenvolver e reali-
zar plenamente seu potencial"\1S 
E a confiança do terapeuta nesta tendência do indivíduo para a auto-
preservação, crescimento, maturação, independência e socialização 
que caracteriza a relação terapêutica centrada no cliente: 
"O terapeuta torna-se muito consciente de que a tendência de 
17. Rogers, 1992, p. 555 
18. Rogers. 1986, p. 127. 
4 8 
movimento para frente do organismo humano é a base na qual 
ele se apoia de maneira mais firme e fundamental. "I9 
No livro "Terapia Centrada no Cliente", Rogers apresentou a pri-
meira formulação da sua teoria da personalidade e do comportamen-
to, na forma de dezenove proposições. Na IV Proposição ele afirma 
que todo organismo possui uma tendência básica à auto-realização, 
auto-manutenção e aperfeiçoamento. Posteriormente, em 1959, 
Rogers publicou a versão final da sua teoria da terapia e da persona-
lidade entitulada "Uma teoria da terapia, personalidade e relacio-
namentos interpessoais desenvolvida segundo a perspectiva centrada-
no-cliente"20 Nesta formulação de 1959, Rogers denominou esta ten-
dência direcional de "actualizing tendency", que foi traduzida para o 
português como tendência atualizante. 
A tendência atualizante está presente em todas as ações do 
indivíduo pois ela representa o fluxo natural da vida. Ela é o movi-
mento, o processo direcional que caracteriza a própria natureza da 
vida. Isto é, a presença da tendência atualizante é o que nos permite 
distinguir um organismo vivo de um morto. Isto significa que a ten-
dência atualizante pode ser frustrada, impedida ou desvirtuada, mas 
não pode ser destruída sem que se destrua também o organismo21. 
Em 1977, no livro "Sobre o Poder Pessoal"22 Rogers utilizou 
uma imagem originada de suas lembranças da infância, a imagem de 
uma caixa de batatas que brotaram mesmo na escuridão gelada do 
porão de sua casa, como uma metáfora da maneira como a tendência 
atualizante se manifesta mesmo sob as condições mais desfavorá-
veis. Esta metáfora tornou-se bastante conhecida devido à beleza, 
profundidade e sensibilidade como foi apresentada por Rogers: 
"Lembro-me de que, na minha infância, a lata na qual arma-
19. Rogers, 1992, p.556. 
20. A theory of therapy, personality, and interpersonal relationships as developed in the client-centered framework. 
Publicado em S. Koch (ed) Psychology: A study of science: Vol. 3 Formulation of the person and the 
social context: New York: McGraw Hill. (este trabalho foi publicado no Brasil em 1977 no livro 
"Psicoterapia e Relações Humanas" - escrito em conjunto com Marian Kinget) 
21. Rogers, 1983, p. 40. 
22. Título original em inglês: Cari Rogers on Personal Power 
4 9 
zenávamos nosso suprimento de batatas para o inverno ficava 
no porão, quase um metro abaixo de uma pequena janela. As 
condições eram desfavoráveis, mas as batatas começaram a 
brotar - brotos brancos, pálidos, tão diferentes dos brotos 
verdes saudáveis que exibiam quando plantadas no solo na 
primavera. Porém, esses brotos espigados, tristes, poderiam 
crescer de 60 a 90 centímetros de comprimento à medida que 
buscavam a luz distante da janela. Em seu crescimento fútil, 
bizarro, eram uma espécie de expressão desesperada da ten-
dência direcional que estou descrevendo. Nunca se tornariam 
uma planta, nunca amadureceriam, nunca preencheriam suas 
potencialidades reais. Entretanto, sob as mais adversas cir-
cunstâncias, lutavam para tornar-se. Não desistiriam da vida, 
mesmo se não pudessem florescer. Ao tratar de clientes cujas 
vidas têm sido terrivelmente emaranhadas, ao trabalhar com 
homens e mulheres em relegadas enfermarias de hospitais 
públicos, penso frequentemente naqueles brotos de batata. 
Eoram tão desfavoráveis as condições nas quais essas pesso-
as se desenvolveram, que suas vidas muitas vezes parecem 
anormais, distorcidas, dificilmente humanas. Entretanto, deve-
se confiar na tendência direcional que nelas existe. O indício 
para entender seu comportamento : de que estão lutando, do 
único modo que lhes é possível, para alcançar o crescimento, 
para tornar-se alguém. Para nós, os resultados podem pare-
cer bizarros e inócuos, mas são tentativas desesperadas de 
vida para tornarem-se elas próprias. É esta potente tendência 
que constitui a base subjacente à terapia centrada no cliente 
e tudo o que se desenvolveu a partir dela. "23 
Todo ser humano possui uma força interna de crescimento, de 
integração e de socialização que está sempre presente, mesmo quan-
do suas atitudes e o seu comportamento tornam-se destrutivos ou 
anti-sociais. O que ocorre, nestes casos, é que a tendência atualizante 
do indivíduo teve a sua expressão impedida ou distorcida pelas con-
dições desfavoráveis de sua existência. O anseio básico de todo indi-
víduo é sempre o de buscar o crescimento, o desenvolvimento de 
suas potencialidades e a integração com os outros seres humanos. A 
23. Rogers, 1986, p. 17. 
50 
motivação básica de todas as ações humanas é sempre a de buscar 
mais vida. Por trás de gestos destrutivos, anti-sociais e irracionais 
está presente ainda, mesmo que de uma forma distorcida e irreconhe-
cível, este anseio de vida e crescimento. Um exemplo clássico e 
paradigmático deste tipo de distorção na expressão da tendência 
atualizante é o da pessoa que tenta o suicídio. Pode-se olhar para 
esta pessoa como sendo alguém que apresenta um forte impulso auto-
destrutivo ou que age movida por um irresistível impulso de morte. 
No entanto, o que Rogers percebeu, na sua experiência como psico-
terapeuta, foi precisamente o contrário: quando esta pessoa vivenciava 
uma relação terapêutica na qual se sentia incondicionalmente aceita 
e empaticamente compreendida por uma pessoa congruente2*, este 
anseio auto-destrutivo revelava ser, na verdade, um anseio de vida!! 
Na segurança da relação terapêutica, a pessoa conseguia expressar 
que o que ela queria, na verdade, era mais vida, era uma vida com 
afeto, com compreensão, com trocas significativas com outros seres 
humanos, uma vida em que pudesse crescer e desenvolver seus po-
tenciais. Entretanto, o suicídio se tornara, paradoxalmente, a única 
maneira com que ela conseguia expressar este anseio de vida. 
Esta é uma maneira de olhar para o ser humano completamen-
te distinta da maneira tradicional com que a psicologia clínica e a 
psiquiatria olham para os indivíduos que não se comportam de ma-
neira "normal". Ao invés de conceber as atitudes e os comportamen-
tos destrutivos, anti-sociais ou irracionais como sintomas de trans-
tornos25 afetivos ou de personalidade, a terapia centrada no cliente 
os vê como expressões distorcidas de uma tendência positiva e cons-
trutiva que não obteve as condições necessárias para realizar sua fun-
ção de crescimento, auto-realização e socialização. Por este motivo, 
a função da psicoterapia deve ser simplesmente a de oferecer ao indi-
víduo as condições necessárias para a liberação da sua tendência 
atualizante. Consequentemente, o terapeuta não precisa controlar o 
comportamento do cliente, não precisa condicioná-lo, guiá-lo,

Outros materiais