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AULA 1 GESTÃO DE SISTEMAS Profª Roberta Ravaglio Gagno 02 CONVERSA INICIAL Nossa disciplina versa sobre gestão de sistemas, mas, para podermos compreender como a gestão de sistemas funciona, é necessário entendermos uma série de questões que a envolvem. Nesta aula conversaremos a respeito da organização da educação brasileira como um todo. Você já se perguntou como funciona nosso sistema educacional e sua relação com os marcos legais brasileiros? Já pensou de que forma se constitui e o que é necessário para a manutenção de um sistema municipal? Mas o que é sistema? Será que ele realmente existe ou temos apenas uma concepção teórica desse conceito? Vamos olhar essas questões mais de perto? CONTEXTUALIZANDO Para gerir um sistema, seja ele estadual, municipal ou ainda a nível escolar, precisamos conhecer a fundo a organização e a legalidade que pressupõe a temática. Por exemplo, você, em sua casa, pode tomar decisões à revelia a respeito das relações estabelecidas com os demais que ali convivem? Existem normas e direcionamento combinados com todos que ali habitam? Isso é feito de forma democrática ou não? Mas será que é possível que todas essas decisões e direcionamentos sejam democráticos? Da mesma forma ocorre na educação e no sistema educacional. Que tal me acompanharem nesta aula e descobrirem um pouco mais sobre toda essa organização educacional? TEMA 1 – ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: ESTRUTURA ADMINISTRATIVA Um dos autores que reflete a respeito do sistema escolar é Dias (2012), para quem este é composto por uma rede de escolas destinadas à atividade fim da educação, que podemos considerar como o processo de ensino- aprendizagem. Para que este processo ocorra como atividade fim, é necessária uma estrutura que o sustente, contendo normas, sejam elas leis, decretos, regimentos e portarias. É preciso ainda que contenha conteúdo de ensino e também uma dada metodologia. A manutenção desse sistema pode ocorrer de maneiras distintas, conforme a natureza das instituições, ou seja, as entidades mantidas pelo poder público são subdivididas em municipal, estadual ou federal. Já as entidades 03 particulares, que podem ser leigas ou confessionais, são mantidas com as verbas recolhidas por meio das mensalidades, mas precisam seguir as leis estabelecidas no âmbito público. No contexto legal da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Brasil, 1996), o sistema escolar brasileiro apresenta-se dividido em níveis e modalidades. São consideradas como modalidades de ensino: educação profissional, educação à distância, educação especial, educação de jovens e adultos e do campo. Os níveis, por sua vez, estão organizados conforme a tabela a seguir: Tabela 1 – Níveis e modalidades do sistema escolar brasileiro Níveis Idade Tempo de duração EDUCAÇÃO BÁSICA EDUCAÇÃO INFANTIL 0 a 5 anos Variável de acordo com a opção familiar ENSINO FUNDAMENTAL 6 a 14 anos 9 anos ENSINO MÉDIO 14 a 17 anos 3 anos EDUCAÇÃO SUPERIOR GRADUAÇÃO A partir de 17 anos Variável PÓS-GRADUAÇÃO -- Variável TEMA 2 – ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA ESCOLAR - MODALIDADES Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Brasil, 1996) são apresentadas três modalidades de educação: educação profissional, educação especial e educação de jovens e adultos. Atualmente ainda é concebida mais uma modalidade importante, a educação à distância. 04 2.1 Modalidades da educação 2.1.1 Educação profissional A educação profissional tem como objetivo precípuo o desenvolvimento de conhecimentos e aptidões direcionados à vida produtiva. Essa modalidade de ensino está integrada à tecnologia, ao trabalho e à ciência, podendo ser desenvolvida em diversas formas de educação. Sua aplicação e sua coordenação precisam estar atreladas por uma instituição de formação continuada ou uma instituição de ensino regular. Ao pensarmos na educação profissional, cabe conhecer que sua organização se dá em três níveis: básico, técnico e tecnológico. É importante ressaltar que essa modalidade de educação é destinada aos alunos do ensino regular que frequentam a educação básica. A organização curricular dessa modalidade pode ocorrer por meio de módulos que devem ser estudados pelos alunos e, ao serem finalizados, dão a eles o direito a um certificado. A junção desses certificados de qualificação profissional culmina na emissão de um diploma técnico de nível médio. Isso também é possível no ensino superior nos cursos de tecnólogos que fornecem como certificação um diploma de tecnólogo. Saiba mais Você pode conhecer mais sobre a história e as leis referentes à educação profissional. Para isso, indico os seguintes livros, que podem ajudar com um panorama dessa modalidade de ensino: NAGLE, J. Educação e sociedade na Primeira República. São Paulo: EPU, 2001. ROMANELLI, O. O. História da educação no Brasil. São Paulo: Vozes, 2002. SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas, SP, Autores Associados, 2007. 2.1.2 Educação à distância A modalidade educação à distância, devido à sua natureza, amplia espaços educacionais no contexto da educação. Para isso, utiliza-se da tecnologia, que aumenta o seu potencial pedagógico e didático, levando uma educação especializada a diferentes localidades que por vezes não possuem 05 uma educação sistemática e especializada que atenda a toda a população. Com base nesse atendimento realizado nessa modalidade, ampliam as oportunidades de estudos, além de ter a possibilidade de oferta para a atualização profissional continuada e permanente. Saiba mais 1. Você pode conhecer mais sobre essa modalidade e programas do governo que versam a respeito da qualidade da educação a distância acessando o link a seguir: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1.pdf> 2. Outra forma de saber mais sobre o assunto é lendo bons periódicos na área. Uma possibilidade é o seguinte artigo que versa sobre essa modalidade de ensino. Para lê-lo, acesse o link a seguir: <http://portalrevistas.ucb.br/index.php/raead> 2.1.3 Educação especial Ao longo da história da educação especial, observa-se que a concepção de atendimento destinado às crianças e adultos deficientes sofreu importantes mudanças, com muitos avanços, mas também com alguns retrocessos. Ao observarmos de perto as possibilidades de inserção e inclusão, bem como as metodologias voltadas para essa modalidade, compreende-se que há muito o que se fazer ainda para que esse atendimento esteja adequado às necessidades individuais dos estudantes. Alguns documentos do Ministério da Educação apontam que no Brasil 10% da população possui algum tipo de deficiência, seja ela física ou mental. Com relação às questões de deficiência, o artigo 205 da Constituição Federal (Brasil, 1988) afirma que a oferta da Educação Especial é dever do Estado, concepção que também aparece no artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996). Nesse contexto, o Estado tem a obrigação de atendimento educacional com qualidade para essa população. Existe a previsão do atendimento dessa modalidade de ensino, preferencialmente na rede regular, situação denominada de inclusão, mas a viabilização dessa situação fica comprometida quando a capacitação de professores do ensino regular para essa finalidade deixa a desejar, ou ainda quando estruturas e falta de professores ocorrem.Quantos professores da rede 06 pública de ensino receberam uma formação especializada para trabalhar de forma adequada com essas crianças, jovens e adultos? Quantas crianças, jovens e adultos têm a possibilidade de um professor tutor que os auxilie em suas atividades escolares? As estruturas físicas das escolas são adaptadas para atender às deficiências individuais? Consegue-se a implementação de turmas reduzidas quando existem crianças com deficiências? Para que a inclusão ocorra de fato, é imprescindível que o Estado forneça condições necessárias aos professores e às escolas. A educação não pode ser omissa. Para isso, a inclusão deve ser garantida a todos e não somente àqueles que já são incluídos. Saiba mais 1. Uma possibilidade de conhecer mais a respeito da política sobre a educação especial é por meio do site do MEC. Para conhecê-lo, acesse o link a seguir: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12716 &Itemid=863> 2. Ou ainda por meio de sites de Ongs, universidades ou governos de estados e municípios refletindo sobre essa modalidade. Acesse os links a seguir: <http://www.vezdavoz.com.br/site/index.php> <http://www.sac.org.br/> <http://intervox.nce.ufrj.br/> <http://www.ibc.gov.br/> <http://www.labtate.ufsc.br/cartografia_tatil.html> <http://www.fsdown.org.br/> <http://www.acessobrasil.org.br/libras/> <http://conbrasd.org/wp/> <http://www.deficientesvisuais.org.br/> <http://www.apaebrasil.org.br/> 2.1.4 Educação de jovens e adultos A educação de jovens e adultos (EJA) é a única modalidade que trabalha para sua extinção. Hoje estamos inseridos em uma sociedade mercantil e as questões de ordem para a inserção nesta é a capacitação e a atualização. Quem conhece mais pode mais. Por outro lado, essa mesma sociedade, por questões políticas, econômicas, culturais e sociais, direciona crianças e jovens para a 07 mundo do trabalho de forma precoce, o que leva muitas vezes, ao abandono dos estudos. Consequentemente, retornar a estudar, mesmo que de forma tardia, acaba sendo a única opção para milhares de brasileiros. Com base nisso, a EJA se torna uma possibilidade real de reconstrução de vida ativa e de ressignificação do conhecimento escolar sistematizado que por vezes foi deixado para trás. Ao realizar esse retorno aos bancos escolares, jovens e adultos enfrentam inúmeros problemas e dificuldades, conforme mencionado por eles mesmos: A grande diferença da escola, do comportamento e saberes da época em que estudou e a atual. A vergonha de não conhecer o que é necessário na escola. Apresentam um cansaço muito grande devido à dupla jornada de trabalho. A dificuldade de compreender conceitos que para eles são considerados abstratos e distantes da sua realidade. A dificuldade de conciliar questões importantes da vida adulta que se tornam todas urgentes com o passar do tempo, como estudos, emprego e família. Saiba mais Caso você ainda não tenha trabalhado ou conhecido essas angústias dessa modalidade de ensino de perto, indico conhecer melhor quem é esse aluno da EJA. Para isso, acesse o link a seguir e assista ao seguinte vídeo com depoimentos: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/objetos_de_ aprendizagem/2011/sociologia/analfabetismo.swf> O esclarecimento teórico do profissional que trabalha com a educação deve se dar em todos os espaços educacionais. Com relação à EJA, cabe a ele compreender a trajetória de vida e as diferentes necessidades apresentadas por esses alunos, bem como é necessário o respeito a diferentes culturas e histórias. Refletir sobre os tempos escolares que se apresentam diferentes dos tempos infantis; compreender as peculiaridades da idade, os limites, as possibilidades e motivações; envolver conhecimentos teóricos com saberes 08 práticos são questões essenciais para um profissional envolvido com a educação de jovens e adultos. TEMA 3 – O QUE É SISTEMA DE ENSINO A educação brasileira é composta de sistemas de ensino e sistemas escolares. Conhecer esses sistemas e as leis que regem a organização destes é fundamental para a compreensão do funcionamento da gestão dos sistemas, bem como os impactos no interior da escola. Você conhece o significado do termo sistema escolar? De acordo com Saviani (2009), para que um sistema escolar possa constituir-se, é indispensável a regulamentação por meio de normas próprias. Nesse caminho, pode-se conceituar sistema como sendo um conjunto da educação coerente e operante com diferentes elementos que reúne as escolas, mas não se esgota nelas. Para Saviani (2009), o sistema é instituído para atender às necessidades da educação, articular diferentes aspectos de modo a desenvolver uma ação sistematizada, voltada a objetivos, movimentando meios direcionados para esse fim. Dias (2002) reflete a respeito dos sistemas e os subdivide, para melhor compreensão, nas seguintes expressões: sistema escolar, que abrange uma rede de escolas e sua estrutura de sustentação; sistema de ensino, que são as escolas e as instituições que regulam a educação sistemática. Cita como exemplos: escolas de inglês, professores particulares, etc. Por fim, o sistema de educação, que é considerada a expressão mais ampla, pois envolve todas as instâncias que de alguma forma são envolvidas com a educação, sejam formais ou informais, como famílias, clubes, empresas, igrejas e escolas, por exemplo. Diante desses dois conceitos, pode-se perceber uma divergência no sentido descrito por Saviani (2009), para quem os sistemas de educação podem ser apenas organizados pelas instituições públicas, pois há possibilidade de regulamentação, desde que dispostas para esse fim, no sentido de que são unidades políticas apropriadas para legislar na educação. Por outro lado, as instituições particulares não têm essa autonomia, pois cabe a elas se organizarem por meio de redes, já que integram o sistema público e são subordinadas às normas públicas. Embora algumas questões referentes à educação privada possam aparecer, neste material iremos direcionar os estudos para a organização e a gestão dos sistemas no ensino público. 09 3.1 Sistema de ensino – diversas abordagens Pode-se conceituar o termo sistema educacional de maneiras diferenciadas. Uma delas é pela etimologia. Para Saviani (2008, p. 27), o significado seria o de “um conjunto de partes organicamente relacionadas entre si”. Outra forma, para o referido autor, seria o conceito elaborado partindo do fato em si, como o de “uma instituição ou conjunto de instituições em que se realiza a educação” (Saviani, 2008, p. 28). Uma terceira possibilidade ventilada pelo autor é conceituar partindo do fenômeno, nesse sentido o sistema sempre está “referido à realidade humana” (Saviani, 2008, p. 29), pois o homem o organiza, sendo, portanto, uma atividade sistematizadora. Por fim, em uma outra definição, conceitua-se como um conjunto dinâmico, com elementos que interagem, que incorporam contradições que são condicionantes e condicionados pelo contexto. 3.2 Noção de sistema para Saviani O ato de sistematizar é intencional, já que pressupõe uma consciência refletida, um objetivo que dá sentido, um projeto que seja prévio. Com base nesse pressuposto, sistematizar é “dar, intencionalmente, unidade à multiplicidade” (Saviani, 2008, p. 77). São elementos que, ao serem reunidos, não perdem a especificidade que lhes é própria. Com isso, para o referido autor, a noção de sistema implica intencionalidade, unidade, variedade, coerência interna e coerência externa.Finalizando sua ideia, Saviani (2008, p. 80) conceitualiza sistema como uma “unidade de vários elementos intencionalmente reunidos, de modo a formar um conjunto coerente e operante”. 3.3. Sistema educacional O sistema educacional é proveniente de uma atividade igualmente sistematizadora, sendo “um resultado intencional de uma práxis intencional” (Saviani, 2008, p. 85) comum. Com isso, a construção de um sistema de educação, para o autor acima citado, precisa das seguintes condições para a sua construção: “consciência dos problemas da situação, conhecimento da realidade, formulação de uma pedagogia” (Saviani, 2008, p. 87). Diante dessas questões, você deve estar se perguntando: Como se dá a organização um sistema de educação? 010 Em que níveis pode funcionar? Existem órgãos atrelados a ele para a organização do funcionamento? Há uma legislação própria que verse a esse respeito? A população pode participar dessa organização? Caso afirmativo, como? Essas são algumas reflexões que abordaremos nos próximos temas. TEMA 4 – SISTEMA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO Sistema compreende um conjunto de elementos, ideais e ou concretos, que mantêm a relação entre si formando uma estrutura. Elementos, partes e estruturadas em relação interdependente, formando um todo dotado de certo grau de harmonia e autonomia e voltado para uma finalidade. (Bordignon, 2009, p. 25) A constituição de um sistema de ensino organiza, formaliza e dá coesão a um projeto de educação vinculado a um município. Essa organização precisa se articular ao Sistema Nacional de Educação. Assim sendo, a construção de um sistema municipal deve acontecer através de um processo de institucionalização e com normas previamente formalizadas. A criação de um sistema municipal de educação determina a organização das ações educacionais de um dado município, no que se refere a aspectos legais e formais. Esse tipo de organização garante autonomia e responsabilidade do município, o que pode inseri-lo em um processo de gestão democrática de educação. Para que isso ocorra, é importante a elaboração de um plano municipal de ensino, com metas e objetivos direcionados aos principais problemas e intencionalidades da localidade. 4.1 A legislação e a constituição de um sistema de ensino A possibilidade de constituição de um sistema municipal de educação já era prevista desde a Lei n. 5.692/71, bem como a implantação de conselhos municipais como órgãos consultivos e deliberativos, mas sua prática se efetivou apenas com a Lei n. 9.394/96 (Brasil, 1996), que regulamentou a previsão da Constituição Federal (Brasil, 1988), delegando aos municípios as atribuições para isso. Sendo constituídos como sistemas de ensino autônomos, em conformidade com as atribuições legais, os municípios que até então seguiam as prerrogativas dos sistemas estaduais de ensino lenta e progressivamente foram 011 se estruturando. Essa foi uma forma de romper com a centralização de normas e estruturas de ensino que direcionavam a educação brasileira. Na Constituição de 1988, artigo 211, designa-se a organização de sistemas do ensino: Art. 211 A União, os Estado, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração seus sistemas de ensino. (...) § 4° Na organização de seus sistemas de ensino, os estados e os municípios definirão formas de colaboração, de modo a assegurar a universalização do ensino obrigatório. (Brasil, 1988) Com a prerrogativa da lei, os entes federados têm autonomia para, em regime de colaboração, desempenhar responsabilidades incumbidas pela Constituição Federal e definirem a organização de seus sistemas. Já a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996) orienta que “Os sistemas de ensino terão liberdade de organização nos termos desta lei (...)” e complementa, no artigo 11, que os municípios que não constituírem seus sistemas de ensino poderão se integrar ao sistema estadual ou compor em conjunto um sistema único de educação. Para a constituição de um sistema municipal de ensino, devem ser levados em conta, além de referenciais teóricos sobre a temática, leis nacionais e municipais e a realidade local. Nessa organização, é preciso que haja uma formalização por meio de um ato decreto do Poder Executivo, juntamente de uma portaria da Secretaria da Educação, ou ainda por uma resolução do conselho de educação, que, por sua vez, deve ser constituído pela rede de escolas e instituições de educação infantil: Secretaria Municipal da Educação e Conselho Municipal de Educação. As funções de todos esses entes devem ser compreendidas, pois o sistema de educação é articulador, o conselho de educação é normatizador e o plano é um instrumento organizador das ações. Saiba mais Você pode saber mais sobre a criação e o funcionamento dos sistemas de educação acessando o link a seguir e lendo o artigo de Demerval Saviani. “Sistemas de ensino e planos de educação: o âmbito dos municípios”: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101- 73301999000400006&script=sci_abstract&tlng=pt> 012 TEMA 5 – CONSELHO E PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO Os estados e municípios brasileiros são responsáveis pela maior parte da organização da rede pública de ensino no que se refere à educação básica. A União, por sua vez, mantém algumas escolas de educação básica, cursos técnicos federais e parte do ensino superior. Normalmente essa organização se dá pela vinculação dos municípios ao atendimento da educação infantil, até o 5° ano do ensino fundamental (de 0 a 10 anos, aproximadamente). Já os estados são responsáveis, na sua maioria, pelos 6° anos até o final do ensino médio (de 11 a 17 anos, aproximadamente). É intenção legal que os sistemas municipais se tornem responsáveis gradativamente pela educação básica na íntegra. A organização de conselhos não ocorre apenas no âmbito educacional. Na educação, o princípio democrático participativo tem orientado a educação em âmbito nacional e reflete a organização de conselhos em diversas instâncias governamentais e com níveis de participação diferenciados. Compreende-se que essa é uma conquista histórica que garante a participação democrática e o controle do cidadão. Um dos exemplos para a compreensão desses níveis e instâncias observa-se na criação dos seguintes conselhos: Conselho Municipal de Educação, Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Conselho de Alimentação Escolar, por exemplo. E você, como cidadão partícipe das decisões de seu município e estado, participa ou já participou de alguns desses conselhos na sua região? Tem conhecimento de que existem e como funcionam? a participação nos conselhos gera convivência, estimula a manifestação do conflito, fruto das diferenças entre os pontos de vista de grupos, camadas e classes sociais diferentes, o que deve ser visto como algo natural e necessário em um contexto de participação democrática... Os conselhos devem ser espaço e mecanismo operativo a favor da democracia e do exercício da cidadania, em todo e em qualquer contexto sociopolítico. Eles podem se transformar em aliados potenciais e estratégicos na democratização da gestão das políticas sociais. (Gohn, 2011, p. 104 e 105) A existência dos conselhos é um grande avanço e ganho para a sociedade em geral de forma que auxilia no controle e acompanhamento das ações públicas e, no caso aqui, no âmbito educacional, refletindo a respeito da realidade, fornecendo conhecimento, reflexão, possibilitando discussão e transformação da educação. Um dos objetivos desses conselhos é agir para013 garantir o prosseguimento das políticas na área da educação, devido à transitoriedade de governos e políticas de governo e não de Estado desenvolvida por esses. Você sabia que as funções dos conselhos são de caráter deliberativo, consultivo, mobilizador e fiscalizador? Pensando de uma forma prática, pode-se dizer que os conselhos municipais de educação são órgãos consultivos, normativos e deliberativos, regulamentados por leis federais e estaduais, criados por uma lei municipal, pela ação do Poder Executivo. A eleição de seus membros representantes da comunidade deve ocorrer pela eleição entre os pares, mas também ocorre, no caso dos representantes da administração pública, pela indicação de representantes. No entanto, cabe ao prefeito nomear todos por decreto municipal. Essa composição ocorre pela representação dos diferentes segmentos da sociedade que compõem a sociedade civil, como entidades, Ongs, Poder Executivo e sociedade civil. Essa composição deve se dar de acordo com o tamanho do sistema municipal de ensino, o que pode variar de dois a trinta e cinco componentes, por exemplo. Essa organização precisa ser equitativa no que tange à representatividade dos segmentos, ou seja, deve haver igualdade entre a representação do executivo e da sociedade civil. Com relação aos mandatos, esses podem variar de dois a quatro anos, conforme estipulado pelo próprio sistema. Essas situações de composição, eleição e mandatos devem ser previstas em estatuto próprio, bem como direitos, deveres e funções. A existência de conselhos auxilia na formação de uma democracia no sentido gramsciano, uma democracia que se constrói com participação efetiva de todos os cidadãos no exercício do poder. É com base no funcionamento efetivo de conselhos que se edifica um conceito mais extenso de gestão. Essa organização funciona no sentido inverso de uma prática de democracia e de gestão no âmbito de uma democracia liberal. Nesta, o poder, a política e a gestão se concentram apenas no exercício do governo e por meio dos que foram eleitos pelo voto periódico. Saiba mais Você gostaria de saber um pouco mais sobre a organização e funcionamento dos conselhos? Então consulte o site do MEC: 014 <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=14753 &Itemid=866> Para finalizar esse tópico, é interessante refletir que Uma sociedade civil participativa, autônoma, com seus direitos de cidadania conquistados, respeitados e exercidos em várias dimensões, exige também vontade política dos governantes, principalmente daqueles eleitos representantes do povo, pois trata-se de uma tarefa que não é apenas dos cidadãos isolados. As dificuldades de representatividade nos diversos tipos de conselho da área da educação decorrem também da não-transparência das gestões públicas – dado o fato de não tornarem públicas as informações. Na luta pela igualdade, a sociedade deve se organizar politicamente para acabar com as distorções do mercado (e não apenas corrigir suas iniquidades) e lutar para coibir os desmandos dos políticos e administradores inescrupulosos. A exigência de uma democracia participativa deve combinar lutas sociais com lutas institucionais, e a área da educação é um grande espaço para essas ações, via a participação nos conselhos. (Gohn, 2011, p.105 e 106). 5.1 Plano municipal de educação Para colocar em prática as funções consultiva, deliberativa e fiscalizadora de um conselho, é necessário um plano que oriente essas decisões. O planejamento é uma importante ferramenta que auxilia a refletir a prática, organizando-a, sempre com a intenção de alcançar os objetivos propostos. Dessa forma, pode-se afirmar que um planejamento no sentido aqui exposto tem seus atos baseados em princípios e intenções e pautados por um rumo e uma direção previamente estudada, acordada, sistematizada com a finalidade de ser colocada em prática. Nesse sentido, um plano municipal de educação (PME) apresenta um rumo a ser tomado no que diz respeito à educação de um dado município. É preciso que nele esteja explícita a intenção de fornecer o atendimento e o desenvolvimento das escolas objetivando a busca da qualidade educacional. Ao organizar um PME, três perguntas precisam ser respondidas: Onde está a educação desse município? O que fazer para ela se desenvolver? Para tal, o que é necessário fazer? De acordo com Bordignon (2009), um PME deve ser constituído com base nos seguintes princípios: visão sistêmica, construção participativa, flexibilidade, governabilidade e regime de colaboração. Além dessas questões, o município deve ainda observar os seguintes documentos na construção de seu PME: Constituição, LDB, PNE, PDE, 015 FUNDEB, plano estadual de educação, diretrizes curriculares nacionais, regime de colaboração, lei orgânica e leis municipais. Questões como a missão do município, ou ainda a análise da situação da educação no município e a concepção de educação do município também devem servir de orientação na constituição deste. NA PRÁTICA A constituição de um sistema municipal de ensino exerce grande impacto no cotidiano das escolas. Questões como aprovação de projeto político pedagógico e de calendário escolar são exemplos disso. Garantir a autonomia de acordo com os sonhos e realidade do município são questões importantes que precisam ser levadas em conta nessa constituição. FINALIZANDO Nesta aula, refletimos um pouco a respeito da organização da educação brasileira. Compreendemos que sua constituição se dá a partir de níveis e modalidades. Compreendemos também o quão é importante que os municípios de organizem e constituam seus sistemas municipais de educação como forma de aprimorar o debate e fortalecer a gestão democrática, participativa e a autonomia. 016 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. BORDIGNON, G. Gestão da educação no município: sistema, conselho e plano. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2009. DIAS, J. A. Sistema escolar brasileiro. In: MENESES, J. G. C. (Org). Estrutura e funcionamento da educação básica. São Paulo: Pioneira, 2002. GOHN, M. G. M. Conselhos gestores e participação sociopolítica. São Paulo: Cortez, 2001. SAVIANI, D.. Educação brasileira: estrutura e sistemas. 10. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. _____. Escola e democracia: polêmicas do nosso tempo. 30. ed. Campinas: Autores Associados, 2009.
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