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12 Anatomia Funcional A B A B C A B Fig. 1-20 EFEITO DA PORÇÃO EXTERNA OBLÍQUA DO LIGAMENTO TEMPOROMAN- DIBULAR (TM). A, Quando a boca se abre, os dentes podem ser separados por aproximadamente 20 a 25 mm (de A para B) sem que o côndilo se movimente para fora da fossa. B, Os ligamentos TM estão totalmente estendidos. Quando a boca se abre ainda mais, eles forçam o côndilo a se mover para baixo e para frente, fora da fossa. Isto cria um segundo arco de abertura (de B para C). Ligamento Esfenomandibular O ligamento esfenomandibular é um dos dois ligamentos acessórios da ATM (Fig. 1-21). Ele parte da espinha do osso esfenóide e estende-se para baixo, até uma pequena proemi- nência óssea na superfície medial do ramo da mandíbula, que é chamada de língula. Ele não tem nenhum efeito limitador significante no movimento mandibular. Ligamento Estilomandibular O segundo ligamento acessório é o ligamento estilomandi- bular (Fig. 1-21). Ele parte do processo estilóide e estende-se para baixo e para frente, até o ângulo e a borda posterior do ramo mandibular. Ele se torna rígido quando a mandíbula está protruída, mas fica relaxado quando a mandíbula é aberta. O ligamento estilomandibular, portanto, limita o movimento de protrusão excessivo da mandíbula. MÚSCULOS DA MASTIGAÇÃO Os componentes esqueléticos do corpo são mantidos juntos e movidos pelos músculos esqueléticos. Os músculos esque- léticos proporcionam a locomoção necessária para o indiví- duo sobreviver. Os músculos são constituídos de numerosas fibras com diâmetro variando de 10 a 80 μm. Cada uma destas fibras, por sua vez, é constituída por subunidades sucessiva- mente menores. Na maioria dos músculos as fibras possuem o comprimento total do músculo, exceto por aproximada- mente 2% das fibras. Cada fibra é inervada por somente uma terminação nervosa, localizada próxima da metade da fibra. O final da fibra muscular se fusiona com a fibra do tendão, e as fibras do tendão, por sua vez, se agrupam em feixes para formar o tendão do músculo que se insere no osso. Cada fibra muscular contém de centenas a milhares de miofibrilas. Cada miofibrila, por sua vez, tem lado a lado, aproximadamente, 1.500 filamentos de miosina e 3.000 filamentos de actina, que são moléculas grandes de proteínas polimerizadas responsá- veis pela contração muscular. Para uma descrição mais com- pleta da fisiologia da contração muscular, outras publicações deveriam ser pesquisadas.15 As fibras musculares podem ser caracterizadas por tipos de acordo com a quantidade de mioglobina (um pigmento semelhante à hemoglobina). Fibras com concentração alta de mioglobina possuem uma cor vermelha mais escura e são capazes de contração lenta, porém sustentável. Estas fibras são chamadas fibras musculares lentas ou fibras musculares do tipo I. As fibras lentas possuem um metabolismo aeróbico bem desen- volvido e, portanto, são resistentes à fadiga. As fibras com baixa concentração de mioglobina são mais claras e são cha- madas de fibras musculares rápidas ou fibras do tipo II. Estas fibras possuem menos mitocôndrias e contam com mais atividade anaeróbica para função. As fibras musculares rápidas são capazes de contração rápida, porém entram em fadiga mais rapidamente. Todos os músculos esqueléticos contêm uma mistura de fibras lentas e rápidas em proporções variadas que refletem a função daquele músculo. Músculos solicitados a responder rapidamente são compostos, predominantemente, de fibras claras. Músculos que são utilizados principalmente em ativi- dades lentas e contínuas possuem uma concentração maior de fibras lentas. Quatro pares de músculos compõem um grupo chamado músculos da mastigação: o masseter, o temporal, o pterigóideo medial e o pterigóideo lateral. Apesar de não serem consi- derados músculos da mastigação, os músculos digástricos também desempenham um importante papel na função man- dibular e, portanto, são discutidos nesta seção. Cada mús- culo será abordado de acordo com suas inserções, direção das fibras e sua função. Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 13 Masseter O masseter é um músculo retangular que se origina do arco zigomático e se estende para baixo até o aspecto lateral da borda inferior do ramo da mandíbula (Fig. 1-22). Sua inser- ção na mandíbula se estende da região do segundo molar, na borda inferior, posteriormente, até incluir o ângulo. Ele pos- sui duas porções ou cabeças: (1) a porção superficial consiste de fibras que se dirigem para baixo e suavemente para trás, e (2) a porção profunda consiste de fibras que correm numa direção predominantemente vertical. Quando as fibras do masseter se contraem, a mandíbula é elevada e os dentes entram em contato. O masseter é um mús- culo poderoso que proporciona a força necessária para uma mastigação eficiente. Sua porção superficial também auxilia na protrusão da mandíbula. Quando a mandíbula é protruída e a força da mastigação é aplicada, as fibras da porção pro- funda estabilizam o côndilo contra a eminência articular. Temporal O temporal é um músculo grande em forma de leque que se origina da fossa temporal e da superfície lateral do crânio. Suas fibras caminham juntas na medida em que elas se esten- dem para baixo, entre o arco zigomático e a superfície lateral do crânio, para formar um tendão que se insere no processo coronóide e na borda anterior do ramo ascendente. Ele pode ser dividido em três áreas distintas de acordo com a direção das fibras e função primordial (Fig. 1-23). A porção anterior consiste de fibras que se direcionam quase verticalmente. A porção média contém fibras que correm obliquamente através do aspecto lateral do crânio (um pouco para frente, quando se dirigem para baixo). A porção posterior consiste de fibras que estão alinhadas quase horizontalmente, vindo para frente, sobre a orelha, para se juntarem a outras fibras temporais quando passam sob o arco zigomático. Quando o músculo temporal se contrai, ele eleva a mandí- bula e os dentes entram em contato. Se somente uma porção se contrai, a mandíbula se move de acordo com a direção das fibras que são ativadas. Quando a porção anterior se contrai, a mandíbula é elevada verticalmente. A contração da porção média irá elevar e retruir a mandíbula. O funcionamento da porção posterior é um tanto controverso. Apesar de parecer que a contração desta porção irá retruir a mandíbula, DuBrul16 sugere que as fibras abaixo da raiz do processo zigomático são as únicas significantes e, portanto, sua contração causará elevação e somente uma suave retrusão. Como a angulação de suas fibras musculares varia, o temporal é capaz de coor- denar os movimentos de fechamento. Dessa forma, ele é um importante músculo posicionador da mandíbula. Pterigóideo Medial O pterigóideo medial (interno) se origina da fossa pterigóidea e se estende para baixo, para trás e para fora para se inserir ao Fig. 1-21 Mandíbula, articulação temporomandibular e ligamentos acessórios. BA Fig. 1-22 A, Músculo masseter. PP, Porção profunda; PS, porção superficial. B, Função: elevação da mandíbula. Ligamento estilo- mandibular Ligamento esfenomandibular PP PS 14 Anatomia Funcional BA Fig. 1-23 A, Músculo temporal. PA, Porção anterior; PM, porção média; PP, porção posterior. B, Função: ele- vação da mandíbula. O movimento exato é determinado pela localização das fibras ou porção que está sendo ativada. longo da superfície medial do ângulo mandibular (Fig. 1-24). Ele forma, juntamente com o masseter, um suspensório mus- cular que suporta a mandíbula na altura do ângulo mandibu- lar. Quando suas fibras se contraem, a mandíbula é elevada e os dentes entram em contato. Esse músculo também é ativo na protrusão mandibular. A contração unilateral produziráum movimento mediotrusivo da mandíbula. Pterigóideo Lateral Por muitos anos, o pterigóideo lateral (externo) era descrito como tendo duas porções ou ventres distintos: (1) um inferior e (2) um superior. Como, anatomicamente, o músculo apa- rentava ser único em estrutura e função, esta descrição era aceitável até que estudos provaram ser diferente.17,18 Agora compreende-se que os dois ventres do pterigóideo lateral possuem funções bem diferentes. Desta forma, neste livro o pterigóideo lateral é dividido e identificado como dois múscu- los diferentes e distintos, o que é apropriado porque suas fun- ções são quase opostas. Os músculos serão descritos como pterigóideo lateral inferior e pterigóideo lateral superior. Pterigóideo Lateral Inferior. O pterigóideo lateral inferior se origina na superfície externa da lâmina pterigóidea lateral e se estende para trás, para cima e para fora, até sua inserção primariamente no colo do côndilo (Fig. 1-25). Quando os pte- A B Fig. 1-24 A, Músculo pterigóideo medial. B, Função: elevação da mandíbula. PA PM PP Anatomia Funcional e a Biomecânica do Sistema Mastigatório 15 rigóideos laterais inferiores direito e esquerdo se contraem simultaneamente, os côndilos são puxados para baixo, nas eminências articulares, e a mandíbula é protruí da. A con- tração unilateral cria um movimento mediotrusivo daquele côndilo e causa um movimento lateral da mandíbula para o lado oposto. Quando este músculo atua juntamente com os depressores mandibulares, a mandíbula é abaixada e os côndilos deslizam para frente e para baixo nas eminências articulares. Pterigóideo Lateral Superior. O pterigóideo lateral superior é consideravelmente menor do que o inferior e se origina na superfície infratemporal da asa maior do esfenóide, se estendendo quase horizontalmente, para trás e para fora para se inserir na cápsula articular, no disco e no colo do côn- dilo (Figs. 1-14 e 1-25). A inserção exata do pterigóideo late- ral superior ao disco é um tanto discutível. Embora alguns autores19 sugiram não haver inserção, a maioria dos estu- dos revela a presença de uma inserção músculo-disco.14,20-24 A maioria das fibras do pterigóideo lateral superior (60% a 70%) se insere no colo do côndilo, e somente 30% a 40% se inserem no disco. As inserções são mais predominantes no aspecto medial do que no lateral. Aproximando-se das estru- turas articulares por um aspecto lateral revelar-se-ia pouca ou nenhuma inserção muscular. Isto talvez explique os dife- rentes achados nesses estudos. Enquanto o pterigóideo lateral inferior é ativo durante a abertura, o superior permanece inativo, tornando-se ativo somente em conjunto com os músculos elevadores. O pte- rigóideo lateral superior é ativo, especialmente quando há força de resistência e quando os dentes são mantidos juntos. A força de resistência se refere a movimentos que envolvem o fechamento da mandíbula com resistência, como na mastiga- ção ou no apertamento dentário. A significância funcional do pterigóideo lateral superior será discutida com mais detalhes na próxima seção, que envolve a biomecânica da ATM. O clínico deveria notar que a tração do pterigóideo lateral no disco e no côndilo ocorre numa direção predominante- mente anterior; entretanto, ele também tem um componente medial significativo (Fig. 1-26). À medida que o côndilo se move mais para frente, a angulação medial de tração desses músculos torna-se cada vez maior. Na posição de máxima abertura de boca a direção de tração do músculo é mais medial do que anterior. Interessantemente, cerca de 80% das fibras que compõem ambos os músculos pterigóideos laterais são fibras muscula- res lentas (tipo I).25,26 Isto sugere que esses músculos sejam relativamente resistentes à fadiga e possam servir para supor- tar o côndilo por longos períodos de tempo sem dificuldade. Digástrico Embora o digástrico geralmente não seja considerado um músculo da mastigação, ele exerce uma importante influên- cia na função da mandíbula. É dividido em duas porções ou ventres (Fig. 1-27): 1. O ventre posterior se origina na incisura mastóidea, justa- mente medial ao processo mastóide; suas fibras correm para frente, para baixo e para dentro, até o tendão inter- mediário inserido no osso hióide. 2. O ventre anterior se origina em uma fossa na superfície lin- gual da mandíbula, justamente acima da borda inferior e próximo à linha média; suas fibras se estendem para baixo e para trás para se inserirem no mesmo tendão intermediário, como faz o ventre posterior. Quando os digástricos direito e esquerdo se contraem e o osso hióide é fixado pelos músculos supra-hióideos e infra- hióideos, a mandíbula é abaixada e puxada para trás e os den- tes são desocluídos. Quando a mandíbula é estabilizada, os músculos digástricos, juntamente com os músculos supra- hióideos e infra-hióideos, elevam o osso hióide, que é um procedimento necessário para deglutição. Os digástricos são um dos muitos músculos que abaixam a mandíbula e elevam o osso hióide (Fig. 1-28). Geralmente os músculos que se inserem da mandíbula ao osso hióide BA Fig. 1-25 A, Músculos pterigóideo lateral superior e inferior. B, Função do pterigóideo lateral inferior: pro- trusão da mandíbula. Músculo pterigóideo lateral superior Músculo pterigóideo lateral inferior 16 Anatomia Funcional BA Fig. 1-26 A, Quando o côndilo está numa relação normal na fossa, as inserções dos músculos pterigóideo late- ral superior e inferior criam uma tração medial e anterior no côndilo e no disco (setas). B, Assim que o côndilo se move anteriormente a partir da fossa, a tração assume uma direção mais medial (setas). são chamados supra-hióideo, e aqueles que se inserem do osso hióide à clavícula e ao esterno são chamados infra-hióideo. Os músculos supra e infra-hióideos desempenham um impor- tante papel na coordenação da função mandibular, assim como muitos dos outros numerosos músculos da cabeça e do pescoço. Pode-se logo notar que um estudo da função man- dibular não se limita aos músculos da mastigação. Outros músculos importantes, tais como esternocleidomastóideo e músculos cervicais posteriores, desempenham importante papel na estabilização do crânio e permitem que movimen- tos controlados da mandíbula sejam executados. Existe um balanceamento dinâmico finamente coordenado de todos os músculos da cabeça e do pescoço e isto deve ser considerado para um entendimento de como ocorre a fisiologia do movi- mento mandibular. Quando uma pessoa boceja, a cabeça é levada para trás pela contração dos músculos cervicais poste- riores, que elevam os dentes maxilares. Este simples exemplo demonstra que mesmo o funcionamento normal do sistema mastigatório utiliza muito mais músculos do que somente os da mastigação. Com o entendimento deste relacionamento pode-se perceber que qualquer efeito na função dos múscu- los da mastigação também tem efeito em outros músculos da cabeça e do pescoço. Uma revisão mais detalhada da fisiolo- gia do sistema mastigatório como um todo é apresentada no Capítulo 2. BIOMECÂNICA DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR A ATM é um sistema articular extremamente complexo. O fato de que duas ATMs estão conectadas ao mesmo osso (a mandíbula) complica ainda mais o funcionamento de todo o sistema mastigatório. Cada articulação pode agir separada- A B Fig. 1-27 A, Músculo digástrico. B, Função: abaixamento da mandíbula. Músculo digástrico posterior Osso hióide Tendão intermediário Músculo digástrico anterior
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