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Relação entre Processo e Direito Material

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JUS LABs
PREPARATÓRIO
CONCURSO: 
 
ASSUNTO: Direito Processual Civil 
 
1- Processo e Direito Material: em qualquer 
processo há pelo menos a afirmação de um direito em juízo. 
O processo existe para tutelar um direito. O processo deve 
conformar-se ao direito material. A razão de ser do 
processo é concretizar o direito material. O processo não 
tem um fim em si mesmo. 
A partir dessa perspectiva, fala-se em 
instrumentalidade do processo, visto que se prega a 
aproximação entre o processo e o direito material. 
O processo não é inferior ou subordinado ao direito 
material. Não há uma relação hierárquica entre processo e 
direito material. Um complementa o outro. A relação é de 
complementaridade; de simbiose, de mutualismo. 
(Pergunta de concurso: explique a relação circular 
entre processo e direito material. Resposta: o processo 
serve ao direito material, ao mesmo tempo em que este é 
servido pelo processo). 
 
Direito Processual 
 
Direito Material 
 
O mundo do direito material é o mundo da certeza. 
Quando se leva o direito material a juízo, o direito material 
muda e passa a ser um direito afirmado, alegado, 
processualizado. Assim, o autor não tem direito, ele diz que 
tem direito, já que o processo é incerteza quanto ao 
resultado. 
 2- Processo e Teoria do Direito: após a 2ª Guerra, a 
ciência jurídica começou a passar por um processo de 
transformação. A ciência jurídica foi criada pelos alemães 
do século XIX. Até a 2ª Guerra a ciência jurídica não 
conseguia resolver os problemas trazidos pela própria 
Grande Guerra, uma vez que as ações de Hitler estavam 
acobertadas legalmente. 
Desta forma, iniciou-se uma nova fase da ciência 
jurídica, chamado de neoconstitucionalismo, 
neopositivismo, pós-positivismo, ou positivismo 
reconstruído. Este é o estágio atual da fase metodológica do 
pensamento jurídico. 
O processo, por sua vez, não poderia ficar alheio a 
estas transformações da ciência jurídica do 
neoconstitucionalismo, as quais têm cinco características: 
1ª reconhecimento da força normativa da CF: não há 
mais dúvidas de que a CF é uma norma que pode ser 
realizada concretamente, independentemente do 
legislador, não sendo mera carta de intenções, mas sim 
uma norma com eficácia normativa (ex: a jurisprudência 
manda que o Estado entregue um remédio a um 
necessitado que ingressa em juízo. Se a CF diz que a saúde é 
um dever do Estado, então deverá cumprir, não sendo mero 
programa); 
2ª a teoria dos princípios: hoje, princípio é norma, 
espécie de norma. Norma é gênero, princípio é espécie de 
norma; 
3ª transformações da hermenêutica jurídica: 
3.1ª a percepção de que a atividade jurisdicional é 
criativa. O juiz é um partícipe importantíssimo na criação do 
direito. O juiz não mais declara as normas, e sim participa 
da construção delas. Não é possível negar o papel criativo 
da jurisprudência. A jurisdição de nosso tempo tem papel 
complementar ao do legislador. 
 3.2ª o princípio da proporcionalidade: foi 
construído para dar um conteúdo ético às decisões. 
Repercute em qualquer ramo do direito. 
4ª consolidou-se a teoria dos direito fundamentais: 
um verdadeiro pilar do direito constitucional 
contemporâneo, foi desenvolvida nesse período histórico e 
é um elemento indispensável do neoconstitucionalismo. 
5ª controle de constitucionalidade: a expansão, 
aprimoramento e desenvolvimento da jurisdição 
constitucional. Hoje, tem-se o controle concentrado e 
difuso de constitucionalidade, totalmente consagrados, 
podendo um juiz deixar de aplicar uma lei por entender ser 
ela inconstitucional. 
Essas características são consenso, não há discussão 
sobre a existência delas. Contudo, elas dão margem a 
abusos (ex.: juiz ultrapassar a força criativa do Judiciário). 
Por isso, cabe à ciência jurídica dar a elas um conteúdo mais 
concreto. 
Já se começa a falar que vivemos uma nova fase da 
ciência processual (4ª fase). 
A ciência processual começou no século XIV e a 
primeira fase é denominada de sincretismo ou praxismo. 
Nessa fase não havia distinção entre processo e direito 
material, ambos eram realidades indistinguíveis. Processo e 
direito material eram uma coisa só. À época, a 
preocupação eram os aspectos práticos do processo, a 
praxe forense. 
A 2ª fase é a do processualismo ou da fase cientifica. 
Nessa fase houve a separação absoluta entre processo e 
direito material. A partir dessa fase, ambos passam a ter 
realidades diversas e institutos próprios. Fase de afirmação 
da autonomia do direito processual. 
CURSO TJ - CE
PROF. CAIO PORTELA CURSO TJ CE 2019
CAIO PORTELA
Imagem Posicionada
JUS LABs
PREPARATÓRIO
A 3ª fase é a do instrumentalismo em que há 
aproximação entre processo e direito material. Entende-se 
que os dois são coisas distintas, mas devem conviver. Os 
livros brasileiros costumam parar nesse momento histórico, 
só que essa fase não aborda as características do 
neoconstitucionalismo. O livro que é a marca do 
instrumentalismo é “instituições do direito processual civil”, 
de Cândido Rangel Dinamarco, escrito em 2001. 
A 4ª e atual fase ainda não tem um nome definido, 
mas há algumas propostas: neoprocessualismo (remete ao 
neoconstitucionalismo). Essa fase pretende a redefinição 
das categorias processuais a partir de outro método. Hoje, o 
estudo do processo tem de ser feito a partir dessas novas 
premissas metodológicas, ou seja, o estudo do processo 
tem que partir da força normativa da CF, da consolidação 
dos direito fundamentais etc. O neoprocessualismo é o 
estudo (compreensão) do processo a partir desta nova 
metodologia do neoconstitucionalismo. 
O livro síntese dessa concepção, sem, porém, adotar 
essa terminologia é o livro de Marinoni. Na Universidade 
Federal do RS, este movimento foi denominado de 
formalismo-valorativo1. A metodologia é a mesma, 
alterando apenas a denominação. Com essa definição, eles 
querem deixar claro o papel ético que o processo deve ter, 
principalmente com a propagação da boa-fé no processo. 
Atualmente, o art. 5o do NCPC aduz de forma 
expressa que: “aquele que de qualquer forma participa do 
processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.” 
3- Processo e Constituição: uma das características 
de nosso tempo é a constitucionalização dos direitos. A 
constituição incorporou inúmeras regras processuais e, 
muitas delas, normas processuais relativas a direitos 
fundamentais. 
Qual é a relação entre o processo e os direitos 
fundamentais? A primeira relação está na pauta dos direitos 
fundamentais, onde há diversos direitos fundamentais de 
conteúdo processual (ex: contraditório, ampla defesa, 
proibição de prova ilícita etc.). Na segunda relação, os 
direitos fundamentais têm duas dimensões: a) dimensão 
subjetiva (os direitos fundamentais são direitos titularizados 
pelo indivíduo, como o direito a vida, a liberdade etc.); b) 
dimensão objetiva (é que os direitos fundamentais, além de 
direitos, são normas que orientam a produção de toda a 
legislação infraconstitucional, ou seja, toda legislação 
infraconstitucional deve respeitar os direitos fundamentais. 
Impõem uma pauta de valores mínimos que devem ser 
seguidos pelo legislador infraconstitucional. O legislador 
não pode criar uma lei que fere o contraditório, pois os 
direitos fundamentais são normas que orientam a produção 
de normas). 
Qual a relação entre processo e a acepção subjetiva 
dos direitos fundamentais? O processo tem de ser 
1 Este tese tem como precursor o professor Carlos Alberto Álvaro 
de Oliveira. 
adequado à tutela, à proteção dos direitos fundamentais; o 
processo tem que estar preparado para proteção dos 
direitos fundamentais. O processo tem que ser construído 
para bem tutelar os direitos fundamentais. 
Qual a relação entre processo e a acepção objetiva? 
O processo tem deser estruturado de acordo com as 
normas de direitos fundamentais (ex: um processo não 
pode impedir o contraditório, pois não estaria em 
consonância com os direitos fundamentais). O processo 
deve ser um bom instrumento para os direitos 
fundamentais (acepção subjetiva) e deve estar de acordo 
com os direitos fundamentais (acepção objetiva). 
 
 PRINCÍOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO 
1. Princípio do devido processo legal: 
Devido processo legal é a tradução brasileira da 
expressão due process of Law, expressão inglesa do século 
XIV. A idéia de devido processo legal, de limitação ao 
exercício do poder é do século XI, mas a expressão surgiu 
no século XIV e não na Magna Carta. 
Law significa direito e não lei. Lei em inglês é statute 
Law. O devido processo legal é um processo em 
conformidade com o direito como um todo, com a lei em 
sentido amplo, abrangendo a CF. 
Alguns autores não falam mais em devido processo 
legal e sim em devido processo constitucional. Esta 
expressão due process of law existe no direito inglês há 800 
anos. Esta expressão é genérica. 
O que significa ser um processo devido e 
determinado com a lei? Esta expressão é genérica de 
propósito, pois para o direito norte-americano e inglês, o 
direito é aquilo que os tribunais dizem (precedentes 
judiciais). Sendo assim, ao invés de estabelecerem o que é 
não devido, cabe a jurisprudência definir o que é devido. 
Em 800 anos de história, foi a jurisprudência dos tribunais 
que definiu o que é devido, surgindo o contraditório, o juiz 
natural, a ampla defesa etc. Não há, nos EUA, uma previsão 
constitucional do devido processo legal. 
Qual a diferença entre texto e norma? Este texto é o 
mesmo há 800 anos. A norma que se extrai do texto não é a 
mesma, tendo em vista que o processo em 1.215 não é o 
mesmo que em 2.010. O cão guia para um cego tem 
natureza jurídica de um olho. Desta forma, não se pode 
proibir a entrada deste cão em locais proibidos para 
animais. O texto diz uma coisa, porém, a norma é a 
interpretação que se tira deste texto. 
 Devido processo legal é um texto que os reis em 
1.215 interpretavam de uma forma completamente 
diferente dos juízes em 2.010. O devido processo legal é 
uma cláusula geral, um enunciado normativo aberto, cujo 
conteúdo é definido pelo juiz de acordo com as 
circunstâncias histórico-culturais do momento da decisão. É 
PROF. CAIO PORTELA CURSO TJ CE 2019
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PREPARATÓRIO
aquilo que no momento histórico se entende o que é 
devido. 
 Não há como saber o que é exatamente o devido 
processo legal, variando conforme a interpretação dada ao 
texto. Há como saber o conteúdo mínimo deste texto, ou 
seja, aquilo que já está consolidado como garantias que 
decorrem do devido processo legal. Ao passar do tempo, se 
surgirem novas necessidades, estas novas garantias serão 
construídas. O juiz natural é do século XVII, após 400 anos 
do surgimento do texto. 
Devido processo legal é também uma cláusula que 
permite que se extraia outras garantias. É uma potência de 
outras garantias. Atualmente, esta se usando o processo 
eletrônico ou virtual (sem papel). O que é o devido processo 
eletrônico? O que ele deve obter para cumprir com o texto? 
Suas garantias são metas a serem buscadas. 
O conteúdo mínimo do devido processo legal serão 
estudadas logo abaixo. O que significa a palavra “processo” 
do texto do devido processo legal? Significa método ou 
meio de criação de normas jurídicas. Toda norma jurídica é 
resultado de um processo. Ou seja, o processo é um meio 
para criação das normas. As leis são frutos de um processo 
legislativo. As sentenças são frutos de um processo 
jurisdicional. As normas administrativas são frutos de um 
processo administrativo. Portanto, o processo legislativo, 
administrativo e jurisdicional, deve ser devido. 
Existe outro tipo de norma (não são legislativas, 
jurisdicionais etc.), que são as normas privadas, sendo 
normas produzidas pela autonomia privada (ex: 
regulamentos de clubes, regimentos de condomínio, 
contratos etc.). Estas normas também devem obedecer ao 
devido processo legal aplicado ao âmbito privado. No 
condomínio onde você eventualmente reside se um 
condômino for acusado de alguma ilicitude, terá um prazo 
para se defender, devendo o síndico resolver de plano. 
Contra sua decisão cabe recurso para a assembléia de 
condôminos. 
Segundo art. 57 do CC, a exclusão do associado só é 
admissível havendo justa causa, assim reconhecida em 
procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, 
nos termos previstos no estatuto (Redação dada pela Lei n. 
11.127/05). Ou seja, o associado somente pode ser excluído 
se for oferecido o direito de contraditório. Antes da referida 
lei, o STF, no julgamento do RE 201.819, consolidou esta 
regra. Esta é a relação dos direitos fundamentais aplicada 
ao âmbito privado. Esta relação é denominada de eficácia 
horizontal (entre indivíduos) dos direitos fundamentais. 
Contrapõe-se à chamada eficácia vertical dos direitos 
fundamentais, que ocorre nas relações entre Estado e 
cidadão. 
O termo “devido” nessa expressão significou na 
idade média uma limitação dos direitos do rei em respeito 
aos direitos dos vassalos, isto é, uma limitação contra a 
tirania. Nesses 800 anos houve um acúmulo histórico que 
compõe a noção de processo devido. Hoje, o devido 
processo tem que ter contraditório, tem que ter decisões 
motivadas, não pode ter prova ilícitas, deve ter juiz 
imparcial, entre outros requisitos. 
Assim, o processo devido é um processo que se 
constrói historicamente, através de um acúmulo que não 
pode mais ser apagado, não se pode mais retroceder com o 
que foi conquistado. É uma cláusula aberta às necessidades 
de uma sociedade em determinado momento histórico, por 
isso sua longevidade. 
O devido processo legal tem duas dimensões: 
a) Dimensão formal ou processual: é o conjunto de 
garantias processuais, como o contraditório, proibição de prova 
ilícita etc. 
b) Dimensão substancial ou material ou substantiva: para o 
duo process of law norte-americano, tudo se extrai desta 
dimensão. Para que um ato de poder seja devido (lei, sentença 
etc.), basta que ele preencha o devido processo legal formal? Os 
norte-americanos entendem que não, pois não basta a 
observância das regras processuais, mas também que seja devida 
em si mesma. Ou seja, não é porque o legislador respeitou o 
processo legislativo que a lei é devida. É preciso que seja 
substancialmente devido, devendo controlar o abuso do poder, 
pois às vezes o poder é exercido de maneira correta, mas com 
conteúdo incorreto. Desse modo, o devido processo legal garante 
também que as decisões devem ser ponderadas e razoáveis. 
Processo que gera desgraça não é um processo devido, ainda que 
respeitados o devido processo formal. Processo devido é aquele 
que gera decisões devidas, não bastando a observância da 
dimensão formal. 
Tem de observar as exigências formais, bem como 
deve garantir decisões substancialmente devidas. Frisa-se 
que foram os norte-americanos que criaram a última 
dimensão, isto é, não basta seguir formalidades, mas sim 
controlar as opções do Estado. Não só controlar a forma, 
mas também a substância das decisões. Não é qualquer 
decisão que é devida. A decisão precisa ser justa, razoável e, 
por fim, equilibrada. Não basta que a decisão seja 
formalmente devida; é necessário que seja justa. 
O STF encampou tal ideia. Deu a tal criação 
americana outro sentido, a saber: passou a entender que o 
devido processo legal é em sua dimensão substancial o 
fundamento da máxima da proporcionalidade e da 
razoabilidade. Devido processo legal, proporcionalidade e 
razoabilidade se confundem. Esse entendimento é 
brasileiro, trata-se da construção do pensamento jurídico 
brasileiro (doutrina e jurisprudência). 
Deu um sentido diferentedos norte-americanos, um 
sentido peculiar, contudo isso não quer dizer que a posição 
brasileira esteja errada. Trata-se de uma construção 
brasileira bem fundamentada e muito bem compreendida. 
Produto da nossa cultura. 
Ressalta-se que há vozes contrárias a tal construção 
do STF, porque entendem que este tribunal entendeu mal o 
que os americanos quiseram estabelecer. Todavia, este 
argumento é pífio para negar o entendimento nacional 
dado ao devido processo legal substancial. 
PROF. CAIO PORTELA CURSO TJ CE 2019
JUS LABs
PREPARATÓRIO
É certo que os americanos deram ao DP substancial o 
seguinte sentido  serve para proteger todos direitos 
fundamentais; trata-se cláusula de proteção pra todos os 
dir. fundamentais não previstos expressamente. Contudo, 
o Brasil não seguiu este entendimento, tendo em vista que 
os direitos fundamentais estão num rol não taxativo. 
Ademais, há outro argumento para embasar o 
entendimento nacional: razoabilidade e proporcionalidade 
são extraídos de outros instituídos (a igualdade e o Estado 
de Direito – “verdadeiras fontes da razoabilidade e 
proporcionalidade“). E, ainda, afirma que na Alemanha, 
onde a ideia de proporcionalidade surgiu, não se trabalha 
com o DPL. Não é algo com o que se opera. A 
proporcionalidade veio da igualdade, bem como do Estado 
de Direito. Enfim meus caros alunos, percebam que a 
jurisprudência brasileira reconstruiu o significado do devido 
processo legal e é certo que isso não pode ser tido como 
“errado”. Trata-se de um produto cultural. 
 
OBSERVAÇÃO FINAL: 
A doutrina da Teoria do Direito fica brigando quanto 
à natureza da proporcionalidade e da razoabilidade. Por 
quê? Porque uns afirmam que se trata de princípios (é a 
maioria). Outra parte entende que se trata de regras e não 
princípios (entendimento de Virgilio Afonso da Silva – filho 
de José Afonso da Silva). Por fim, destaca-se que o jurista 
Humberto Ávila entende que é um Postulado, ou seja, não é 
princípio nem regra, mas sim uma norma que determinada 
como outras normas devem ser aplicadas. Concurso: citar 
os três (princípio, regra, postulado, conforme 
entendimento doutrinário). Apenas opinar / se posicionar / 
se pedir (se perguntarem). 
 
Agora veremos outros princípios constitucionais do 
processo. Frisa-se que o rol que se estuda não é exaustivo. 
Vamos ver outros princípios ao longo do curso. 
Estudaremos os princípios expressos, os quais estão 
consagrados na CF (contraditório, ampla defesa, duração 
razoável do processo e publicidade), bem como os 
princípios constitucionais implícitos, ou seja, sem texto 
expresso, mas estão previstos na constituição como 
conteúdo do devido processo legal (são eles, o da 
efetividade, adequação e boa-fé processual). 
Observe-se, porém, que o CPC/2015, em seu capítulo 
1, tratando das normas fundamentais do processo civil, 
estabelece que: 
 a) O processo civil será ordenado, disciplinado e 
interpretado conforme os valores e as normas 
fundamentais estabelecidos na Constituição da República 
Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste 
Código. 
 b) Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz 
atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, 
resguardando e promovendo a dignidade da pessoa 
humana e observando a proporcionalidade, a 
razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. 
(Grifos nossos) 
Vejamos: 
1) Contraditório: processo é procedimento 
organizado em contraditório, ou seja, processo é um 
conjunto de atos tendentes a uma decisão final em que os 
sujeitos desses atos participam e podem influenciar nesta 
decisão. O contraditório tem uma dupla dimensão (formal e 
substancial): em 1º lugar  é garantia de participação, de 
ser ouvido. A formal. Dimensão formal do princípio do 
contraditório é a que garante as partes o direito de 
participar do processo; é o direito de ser ouvido (de 
participar). Esta garantia é puramente formal, isto é, basta 
participar para preencher o requisito. 
 Em suma: P. do Contraditório é = participação + 
poder de influência *. Já em 2º lugar  * o poder de 
influência é a dimensão substancial, a qual garante às 
partes o tal “poder de influência”. A parte tem o direito 
intervir no conteúdo da decisão, não basta mera 
participação. É preciso que esta participação permita o 
convencimento do juiz, como por exemplo, o direito à 
produção de provas, de constituir um advogado etc. 
Algumas questões no processo são questões que 
podem ser conhecidas ex officio (o juiz age sem ser 
provocado a falar sobre o tema; significa agir em seu ofício), 
como por exemplo, a decadência, a inconstitucionalidade 
da lei (pelo controle difuso)** etc. **mesmo que ninguém 
suscite estas matérias o juiz pode, ao analisar o processo, 
reconhecê-las para proceder julgamento. 
Pode o juiz decidir ex officio, mas cadê a 
manifestação das partes? O juiz surpreenderá uma das 
partes que perdeu a demanda, pois a sentença irá se 
sustentar em matéria que não foi analisada pela parte, 
ficando a parte inibida de influenciar nesta decisão. Se, 
surpreendeu a parte com a decisão, o juiz incorrerá na 
violação a ampla defesa. Neste caso, deveria ouvir as 
partes para se manifestarem sobre o assunto e assim 
decidir acerca do assunto. Logo, o juiz pode atuar de ofício, 
mas deve intimar as partes para se manifestarem sobre a 
matéria. 
2) Ampla defesa: aspecto substancial do princípio do 
contraditório, a qual traz meios para influenciar na decisão. 
Antes se separava a ampla defesa do contraditório, mas 
hoje com a mudança do entendimento, não se fala mais em 
contraditório e em ampla defesa. O contraditório tem dupla 
dimensão. 
3) Duração razoável do processo: não significa dizer 
que é o princípio da rapidez. Processo rápido é processo 
tirano (autoritário). Processo demora por opção própria, 
pois isso garante uma melhor decisão. Existe um direito 
fundamental a uma demora mínima; um processo com o 
mínimo de atos para que a decisão seja justa. Porém, a 
demora deve ser razoável. Inexiste prazo certo e 
determinado para o processo. É o caso concreto que 
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definirá. O que é uma duração razoável? Não há como 
definir a priori um processo sem analisar o caso concreto. 
Há quatro critérios de aferição para saber sobre a razoável 
duração: 
 1º) Complexidade da causa; 
 2º) Estrutura do Judiciário: tem que analisar a 
estrutura do Judiciário para saber se há possibilidade de dar 
vazão aos processos; 
 3º) Comportamento do juiz: precisa saber qual 
foi o papel do juiz no processo; e 
 4º) Comportamento das partes: é preciso saber 
se houve atos procrastinatórios das partes (ex: será que a 
oitiva da testemunha arrolada pela parte é essencial?) 
 
OBS.: tais critérios são definidos pelo tribunal 
europeu de direitos humanos. Eles têm uma jurisprudência 
definida há muitos anos sobre o tema. 
4) Publicidade: a fim de controlar o exercício do 
poder. No Brasil, os julgamentos são públicos. Os 
constitucionalistas questionam se os julgamentos 
televisionados são positivos. A impressão do cidadão é 
positiva. Destaca-se que nos EUA os julgamentos são 
fechados. Aqui, até os procedimentos administrativos são 
públicos. Talvez isso seja resquício da ditadura militar e 
talvez esse excesso de “publicidade” tenha sido reflexo de 
tal período. Contudo, há restrições pontuais a tal princípio, 
as quais são garantidas na CF (fundamento: interesse 
público ou em razão da preservação da intimidade*). 
*proteger a intimidade é um interesse público (e não 
privado), pois equilibra as relações as sociais. 
Agora vejamos os princípios implícitos – são 
extraídos do DPL: 
5) Efetividade: um processo para ser devido tem de 
ser efetivo, ou seja, tem de realizar,efetivar os direitos. Não 
basta um processo que reconheça os direitos, mas os 
realize, os efetive. Todos têm o direito fundamental de ver 
os seus direitos efetivados e não somente reconhecidos. 
Este princípio não está consagrado de forma expressa; é 
corolário (extraído) do devido processo legal. Nem toda 
doutrina aborda tal tema. 
Historicamente, os direitos do réu foram sendo 
construídos para evitar abusos por parte do autor e do 
Estado. Porém, não se falava em direito do credor. O direito 
privado brasileiro, por exemplo, é fundamentado na 
proteção do devedor. O discurso pró-efetividade é discurso 
pró-credor. Não comove as pessoas. Não é simpático. 
Vemos o devedor como alguém que merece proteção. 
Nosso direito privado sofreu influencia do dir. 
romano  este último sofreu influencias do Cristianismo 
(perdão, misericórdia, piedade, clemência)  daí se falar 
em credor com “n” deveres “morais”. Tudo isso humanizou 
o direito privado, mas gerou uma proteção excessiva ao 
devedor. No nosso direito temos o princípio do favor 
debitoris (em que devedor precisa ser favorecido – e é 
favorecido por meio do ordenamento jurídico). Fica 
clarividente que não se falava em direito fundamental do 
credor. Hoje já se fala, porém ainda não é bem aceito. 
Reunidos sobre a rubrica da dignidade de pessoa humana a 
solução de tal problema deixa de ser uma solução somente 
a favor do executado, mas sim uma solução mais justa. 
Ex1: impossibilidade de penhorar um cão-guia 
(natureza jurídica de olho). Não há uma regra expressa em 
tal sentido, mas parte do princípio da dignidade da pessoa 
humana. Frisa que tal cão é um bem valoroso (cerca de oito 
mil reais). 
Ex2: salário VS impenhorabilidade x penhorar parcela 
de um salário de um grande jogador de futebol. Ok  justo. 
Só se pode chegar a tal conclusão se partir da premissa que 
existe o princípio da efetividade. Daí surgem os argumentos 
para penhorar tal parcela salarial. 
Ex3: a regra é que o bem de família é impenhorável, 
para a proteção da dignidade do executado. Ao tornar o 
bem impenhorável, o direito do credor fica mitigado. No 
conflito entre efetividade e dignidade (dois direitos 
fundamentais), é preciso ponderá-los no caso concreto. A 
solução cabível seria a arrematação do bem, para o 
pagamento do credor, e a devolução do restante para que o 
devedor compre um novo bem. Há 10 anos, o que 
importava era o adimplemento dos direitos do autor, sendo 
a efetividade o direito por excelência. Deve-se escolher a 
solução mais ponderada ao caso concreto. 
6) Adequação: processo devido é processo 
adequado também. As regras-normas processuais têm de 
ser adequadas. Frisa que há três fatores de adequação: 
 1º critério - objetivo: o processo tem de ser 
adequado ao direito que por ele será tutelado, isto é, ao 
objeto do processo. Um processo de alimentos pode ser 
igual a um processo de anulação de um contrato? 
Peculiaridades do direito material discutido impõem regras 
processuais adequadas. A exigência de adequação objetiva 
é uma imposição da instrumentalidade do processo. 
2º fator - subjetivo: o processo deve ser adequado 
em relação aos sujeitos que vão participar do processo. A 
adequação subjetiva do processo é uma imposição do 
princípio da igualdade. As normas processuais precisam 
observar as diferenças. Não se pode dar o mesmo 
tratamento ao incapaz e ao capaz. Deve-se dar prioridade 
aos processos onde litigam os idosos, por exemplo. 
3º fator - teleológico: é preciso que as normas 
processuais sejam adequadas aos fins do processo. O 
processo deve ser adequado em relação aos seus fins, aos 
seus propósitos. Isso quer dizer, se a parte quer um 
processo para executar, não se pode criar um processo que 
tumultue a execução; não se pode permitir ampla discussão 
neste processo – tendo em vista que não é esta a finalidade 
de uma execução. 
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Tradicionalmente, o princípio da adequação era 
estudado como se ele fosse dirigido ao legislador, ou seja, é 
tarefa do legislador criar normas processuais adequadas. 
Ocorre que, atualmente, tal princípio também é dirigido ao 
juiz, não é somente aquele previsto em lei, é necessário que 
o juiz também prossiga na adequação das regras 
processuais. Mas aqui com uma diferença: legislador cria 
regras processuais adequadas gerais, o juiz teria de criar 
uma regra processual adequada ao caso concreto. 
O direito a um processo adequado é aquele que 
esteja em sintonia com o caso concreto. A adequação, além 
de ser legislativa, também deveria ser também jurisdicional. 
Fala-se, então, num sub - princípio da adequação, a saber: 
princípio da adaptabilidade do procedimento (também 
chamado de princípio da elasticidade ou ainda princípio da 
flexibilidade do procedimento). 
É certo que nenhum dos três critérios prevalece, pois 
deve ser adequado a todos os critérios. O critério subjetivo 
nada mais é do que uma exigência do princípio da igualdade 
no processo. Ou seja, deve-se perceber a diferença entre os 
litigantes e aplicar regras diferentes aos mesmos, para que 
se tornem iguais. A adequação também é um corolário 
(consequência) do devido processo legal. A visão tradicional 
da adequação diz que este princípio é dirigido ao legislador, 
ou seja, cabe ao legislador criar regras processuais 
adequadas abstratamente. 
 Ex1: O CPC diz que o prazo para contestação é de 
15 dias. Porém, se for defensor público o prazo é de 30 dias. 
Suponha que o autor junte 10 mil documentos, o réu terá 
prazo de 15 dias. Porém, se tivesse juntado apenas 1 
documento, teria o mesmo prazo. Isso quer dizer que, no 
primeiro caso concreto, o prazo não é adequado. Seria 
necessário ampliar o caso para tornar viável a defesa. Pode 
o juiz, diante do caso concreto, adequar a regra para tornar 
o processo adequado ao caso concreto? 
 Ex2: petição de danos morais com 800 páginas. Aí 
o juiz manda emendar para três páginas, pois não havia 
necessidade. Fez uma adequação ao caso concreto, haja 
vista que não há lei que diga o número de folhas. 
Enfim, atualmente, fala-se na adequação 
jurisdicional do processo. Ou seja, cabe ao juiz, no caso 
concreto, se se deparar com uma regra inadequada a este 
caso, deve afastar esta regra, criando uma nova regra 
processual ao caso concreto. Para tanto, o juiz deverá 
fundamentar na inadequação da norma abstrata ao caso 
concreto. 
Marinoni entende que é direito fundamental da 
parte um processo legal adequado para o caso concreto. 
Esta adequação jurisdicional do processo é chamada por 
alguns autores de princípio da adaptabilidade do processo. 
O processo deve ser adaptável às peculiaridades do caso 
concreto. 
7) Boa- fé objetiva no processo: boa-fé objetiva é 
uma expressão criada pela doutrina como norma de 
conduta (é uma cláusula geral ou princípio). Não tem nada a 
ver com a acepção de boa-fé subjetiva, que significa boa 
intenção (elemento psicológico que nada tem a ver com a 
norma), se contrapondo a má-fé. A boa-fé como fato é 
levada em algumas situações de direito (ex: posse de boa-
fé). 
A segunda acepção é da boa-fé objetiva  o 
princípio em tela  como norma de conduta que impõe a 
parte o dever de respeitar ao outro, agindo com lealdade, 
ética, de modo a proteger a confiança que o outro tem em 
suas atitudes. Deve estar presente em todos os casos, o 
comportamento estar em conformidade com os padrões. 
Pouco importa a intenção do sujeito (boa ou má). É 
irrelevante o que o sujeito pensa. 
Esta boa-fé objetiva surgiu no direito civil, onde os 
contratantes deveriam respeitá-la. Segundo o art. 242 do 
CC Alemão, os contratantes devem agir de boa-fé. Com 
base nela, a jurisprudência entendeu que esta se aplica a 
qualquer relação jurídica, mesmo nas relações jurídicas de 
direito público, inclusivenos processos. Vincula a todos 
(juiz, advogados, auxiliares da justiça etc). 
Houve, portanto, a expansão da boa-fé objetiva. Até 
mesmo a Administração Pública deve respeitar a boa-fé 
objetiva. Embora os livros doutrinários indiquem apenas a 
boa-fé subjetiva (dolo ou culpa), é necessário se atentar a 
boa-fé objetiva. De onde se extrai a boa-fé objetiva? Da 
cláusula geral do devido processo legal. Segundo Menezes 
Cordeiro, o dever de comportar-se conforme a boa-fé 
decorre do princípio da igualdade. Para os civilistas 
brasileiros, em regra, o fundamento constitucional do 
princípio da boa-fé objetiva é a dignidade da pessoa 
humana. 
 
Conforme decisão do STF, é possível se extrair este 
princípio do fundamento constitucional do devido processo 
legal, que previu o fair trail (processo leal), no sentido de 
garantir uma participação justa e leal. Segundo este julgado, 
o fair trail (boa-fé objetiva) não recai somente sobre o autor 
ou réu, mas sobre todos os sujeitos do processo como o 
juiz, serventuários, peritos etc. (RE 464.963). Processo 
devido é processo LEAL (dentre outros adjetivos que fazem 
um processo devido). Trata-se de mais um adjetivo que 
torna o processo DEVIDO. 
 Há uma regra expressa no CPC que trata deste 
assunto. Segundo o art. 5º do NCPC, aquele que de 
qualquer forma participa do processo deve comportar-se de 
acordo com a boa-fé. 
Quais são as consequências do princípio da boa-fé 
processual? Ou seja, impõe o quê? Lista-se quatro regras 
não exaustivas. São exemplos de concretização do princípio 
da boa-fé: 
1ª consequência do p. da boa-fé processual: é o 
de proibir comportamentos dolosos; 
2ª consequência do p. da boa-fé processual: veda 
o abuso dos direitos processuais (abuso do direito é 
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exercitar um direito contrário a boa-fé). Ex: sujeito que se 
defende contra texto expresso de lei  abusa do direito de 
defesa. E é certo que o abuso de direito é ato ILÍCITO, 
porque é uma conduta contrária ao direito. 
3ª consequência do p. da boa-fé processual: a 
proibição “do venire contra factum proprium”. Para explicar 
tal princípio basta entender os exemplos abaixo: 
EX1: Ou seja, comportar-se contra as próprias 
atitudes. 
Ex2: Indicar bem para penhorar e depois falar que é 
bem de família. 
Do venire contra factum proprium  é espécie de 
abuso. 
 4ª consequência do p. da boa-fé processual: dos 
deveres de cooperação. 
 
 PRECLUSÃO 
Conceito: perda de um poder jurídico processual. 
Fala-se em preclusão das partes (ex: do direito de recorrer) 
e do juiz (ex: decidir novamente o que já foi decidido). Pra 
que serve a preclusão? A preclusão tem duas grandes 
funções no processo: 
1º - a preclusão é uma técnica jurídica que visa dar 
segurança às partes; serve para estabilizar certas situações 
jurídicas. 
2ª – também serve como uma técnica de aceleração 
do processo. Segue, impulsiona o processo para a frente. 
Não volta atrás. Razão pela qual não há processo sem 
preclusão. 
Frisa-se que Chiovenda identificou três espécies de 
preclusão, a saber: 
1ª) Temporal: é a perda de um poder processual, 
tendo em vista a perda de um prazo processual. Ex: tenho o 
prazo para contestar, não contestei, perdi o prazo. 
2ª) Consumativa: é a preclusão pelo seu exercício; 
pelo uso, pelo exercício do poder, tendo em vista que não 
se pode usá-lo mais de uma vez; isto é, usado o poder 
processual, não se tem mais este poder. Ex: o juiz pode 
sentenciar uma única vez. Ex2: as partes podem recorrer 
uma única vez. 
3a) Lógica: é a perda de um poder processual em 
razão de um comportamento contraditório a outro 
comportamento anterior realizado pela mesma parte (ex1: 
aceitar sentença e recorrer; ex2: a parte recorre da 
sentença que teve pedido de acordo homologado; ex3: 
quem oferece um bem a penhora perde o direito de 
questionar a validade desta penhora). É a aplicação do 
processo da proibição do venire contra factum proprium. A 
preclusão lógica é manifestação da boa-fé, a qual proíbe o 
comportamento contraditório. 
Nota-se que tal classificação é decorrente de atos 
LÍCITOS. 
Por fim, vejamos: a preclusão e as questões que 
podem ser conhecidas de ofício pelo juiz. 
Existe a preclusão ao exame das questões de podem 
ser conhecidas de ofício pelo juiz? O juiz perde o poder de 
analisá-las? R.: é necessário ver o tema por meio de dois 
ângulos: 
1º) Enquanto o processo estiver pendente, é possível 
analisar as questões de ordem pública a qualquer tempo, 
não havendo preclusão para examiná-las. 
Aplica-se o art. 485, p. 3º, do NCPC: 
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: § 
3o O juiz conhecerá de ofício da matéria constante dos 
incisos IV, V, VI e IX, em qualquer tempo e grau de 
jurisdição, enquanto não ocorrer o trânsito em julgado. 
Em qualquer tempo  ler “enquanto o processo 
estiver pendente”. Até o término do processo não há 
preclusão. 
2º) Primeiro precisamos saber se há preclusão para o 
reexame das questões. Questão que já foi decidida 
anteriormente pode ser decidida novamente? 
Exemplificando, após a decisão que entender não ser 
o juiz impedido pode a parte alegar o impedimento em 
momento posterior? 
Para corrente majoritária e para a jurisprudência, 
não há preclusão, podendo ser reexaminada. 
Para corrente minoritária, uma vez decidida a 
questão, ocorre a preclusão, não havendo nenhum 
dispositivo no CPC, que habilite o entendimento 
supracitada (Barbosa Moreira e Fredie Didier). 
OBS.: é possível alegar tais questões pela primeira 
vez em recursos extraordinários? R.: este assunto será 
visto nos recursos. 
 
 JURISDIÇÃO 
1ª parte do conceito: é um Poder/função  a 
jurisdição é um poder, uma função atribuída a alguém. 
Deve-se destacar que, o exercício da jurisdição é o exercício 
de um poder. O Juiz decide com força imperial, tendo em 
vista que exerce um poder. Atribuída a terceiro imparcial. O 
que significa ser terceiro? Terceiro é um estranho ao 
problema a ser resolvido. Não basta ser um estranho, é 
preciso que seja um terceiro imparcial. A impartialidade (a 
condição de não ser parte) e a imparcialidade (dado 
subjetivo, equidistante) são marcas da jurisdição. 
Impartialidade 
≠ 
Imparcialidade 
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Não confundir imparcialidade com neutralidade. A 
neutralidade não existe, pois ninguém é neutro diante de 
outra pessoa (ninguém é despido de valor em relação a 
outros). 
A jurisdição é um exemplo de heterocomposição. 
(hétero  distinto; composição  solução). Exatamente 
por tal motivo o mestre Chiovenda dizia que atividade 
jurisdicional era substitutiva*. *o juiz substitui a vontade 
dos litigantes pela dele. A solução não é de acordo com a 
vontade dos litigantes, mas sim do juiz. 
A substitutividade é uma característica fundamental 
para Chiovenda, era isso que marcava a jurisdição. Mas isso 
é discutível. Isso não é marca exclusiva da jurisdição, pois há 
outras atividades substitutivas que não são jurisdicionais. 
Ex: O CADE - por exemplo, é autarquia federal que decide, 
como terceiro, as questões relacionadas à concorrência. 
Tem substituição, mas não há jurisdição. 
Para alguns, este terceiro, órgão julgador, é sempre 
o Estado-juiz. Porém, esta afirmação não é correta. A 
jurisdição é monopólio do Estado, porém, isto não quer 
dizer que somente ele pode exercer a jurisdição. O Estado 
pode reconhecer a outros entes o poder de julgar. Ex: 
arbitragem - é jurisdição privada – autorizada pelo Estado. 
2ª parte do conceito: mediante um processo  a 
jurisdição é um poder exercido mediante um processo. Para 
que o juiz decida é preciso observar um processo devido. 
Não há jurisdição instantânea; deve ser sempreresultado 
de um processo devido que lhe preceda. O processo é o 
método de exercício da jurisdição. 
 3ª parte do conceito: a jurisdição visa 
Reconhecer/efetivar/proteger situações jurídicas 
concretamente deduzidas (expressão mais abrangente que 
direitos, pois tal expressão engloba direitos e deveres, 
afinal, o Judiciário também serve para proteger deveres). 
Uma marca da jurisdição é de que a jurisdição 
sempre atua sobre um problema concreto (juiz não é 
legislador que resolve problemas em abstrato). “A jurisdição 
atua sobre encomenda” (CARNELUTTI), em que se pede 
algo a ser resolvido pelo juiz (situação concreta). 
A atividade jurisdicional pressupõe um caso a ser 
resolvido. SEMPRE, não há exceção. A jurisdição atua 
diante de um problema concretamente deduzido para 
reconhecer, efetivar ou proteger direitos. Até mesmo numa 
ADI. Trata-se de uma atividade tópica (para resolver 
situações específicas). 
A jurisdição atua sempre sobre um problema. Este 
problema, SEMPRE seria uma lide (conflito entre dois 
sujeitos), segundo CARNELLUTI. Contudo, não é uma 
verdade absoluta. Normalmente o Judiciário é chamado 
para resolução de uma lide, mas, há processos que se 
instauram não para resolver uma lide, como por exemplo, 
para que a parte altere seu nome (não há lide). Trata-se de 
um problema que não é lide. Portanto, é possível haver 
jurisdição sem lide. O que não é possível é haver jurisdição 
sem um caso concreto. 
 4ª parte do conceito: ademais, não se pode 
ignorar que as decisões são atos de poder, de império e não 
mero conselho. Ato IMPERATIVO, mas não é só isso. A 
jurisdição é uma atividade CRIATIVA, o órgão jurisdicional, 
ao julgar, decide inovando, ou seja, cria norma jurídica nova 
que irá regular aquele problema concreto a qual foi 
submetido. Faz interpretações. 
Quando a norma geral não se encaixa ao caso 
concreto, forma-se uma nova norma concreta, não sendo 
igual a geral (ex: o contrato do Zeca Pagodinho com a 
Brahma, gerou uma quebra de boa-fé objetiva pós-
contratual com a Nova Schin). 
Nesse problema não há previsão normativa abstrata 
específica. O juiz foi obrigado a criar nova norma para 
resolução do caso concreto. As decisões do juiz sempre 
devem se pautar na legislação em sentido amplo. Quando a 
legislação é aberta, como a boa-fé, por exemplo, terá ele 
um poder criativo maior. A criação jurisdicional é uma 
marca do neoprocessualismo. 
Cita-se a título de exemplo o STF VS caso das terras 
indígenas. É certo que a criatividade deve ser analisada 
sob duas maneiras, através das quais se revelam a 
criatividade judicial: 
a. Norma específica individual (dispositivo) – norma 
jurídica individualizada: o juiz ao julgar cria norma jurídica 
específica (que é a sentença) ao caso concreto, sendo ela 
uma norma individualizada (entre as partes); e 
b. Norma geral do caso concreto (fundamentação): – 
norma jurídica jurídica geral que servirá como precedente 
para casos futuros o juiz, ao decidir o caso concreto, deverá 
examinar o ordenamento jurídico como um todo, para 
identificar qual a norma jurídica que fundamenta, que 
sustenta a norma que ele acabou de criar, pois não poderá 
criar uma norma do vazio. Ele cria norma para o caso 
concreto a partir do ordenamento. Toda solução concreta 
tem que se basear numa norma geral; sua base é uma 
norma geral criada pelo juiz por meio da interpretação. 
A norma geral que fundamenta a norma individual é 
uma norma que o juiz cria a partir da interpretação que ele 
faz do ordenamento jurídico. O que é a norma geral do caso 
concreto? É a norma geral criada pelo juiz na sentença, a 
partir da interpretação do ordenamento jurídico (para 
fundamentar a sua decisão). Mas, quem cria norma geral 
não é o legislador? O legislador cria normas gerais que 
ignoram particularidades, não abrangendo todas as 
situações que eventualmente possam ocorrer. 
O Juiz examina a lei, e com base nela interpreta de 
acordo com o caso concreto. A norma geral, muitas vezes, é 
quase que a mesma aplicável ao caso concreto; bastando ao 
juiz somente transcrever a norma. 
Há uma norma do CC que diz: “todos os contratantes 
tem que se comportar conforme a boa-fé”. No comercial da 
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Brahma, o cantor Zeca Pagodinho violou a boa-fé no 
contrato que tinha com a Nova Schin. 
O juiz, com base na interpretação feita ao 
ordenamento jurídico, deverá construir uma norma geral 
analisando a boa-fé (ex: “quem faz propaganda para uma 
empresa não pode 3 meses após representar a empresa 
concorrente”). 
Decidindo pela violação da boa-fé contratual, o juiz 
elabora uma norma individual (Zeca Pagodinho deve 
indenização no valor X); e uma norma geral (“Todo aquele 
que viola a boa-fé do contrato deverá indenizar”). 
A norma individual encontra-se no dispositivo da 
decisão. A norma geral encontra-se na fundamentação da 
decisão. Segundo ensina Pontes de Miranda, a lei é o ponto 
de partida. 
 A decisão cria uma norma jurídica individualizada 
(ex: empresa BLABALBAL não paga tal tributo) e cria 
também uma norma jurídica geral construída a partir de um 
caso concreto que pode servir como precedente para 
resolver caso futuros (ex: empresa de ramo “X” não precisa 
pagar y tributo). 
 
Atenção!!!  decisão jurisdicional é insuscetível de 
controle externo  a jurisdição é insuscetível de controle 
externo. O poder jurisdicional é o único poder que não pode 
ser controlado pelos demais. Ex: um ato administrativo não 
pode rever tal decisão; uma lei não pode rever tal decisão. 
Um ato administrativo ou uma lei não podem controlar um 
ato jurisdicional. 
É certo dizer que a jurisdição controla outros 
poderes, porém, é insuscetível de ser controlada. Ex: dizer 
que um ato administrativo é ilegal; uma normal é 
inconstitucional etc. 
Por isso que as decisões do CADE não são 
jurisdicionais, tendo em vista que o Judiciário poderá alterar 
esta decisão. O CADE possui todas as características da 
jurisdição, exceto esta. 
Também frisa-se que a decisão tem aptidão para a 
coisa julgada: a jurisdição é o único ato do Poder que pode 
se tornar definitivo, indiscutível, até mesmo para a própria 
jurisdição. Nem mesmo a jurisdição pode decidir de novo. 
A jurisdição controla os próprios atos (controle 
interno da jurisdição), entretanto, quando há coisa julgada, 
nem mesmo a jurisdição poderá controlá-las. Somente a 
aptidão jurisdicional faz coisa julgada. 
Síntese: a jurisdição é função atribuída a terceiro imparcial 
para mediante um processo reconhecer, efetivar ou proteger 
situações jurídicas concretamente deduzidas de modo imperativo 
e criativo, em decisão insuscetível de controle externo e com 
aptidão para torna-se indiscutível. 
 
 
Equivalentes jurisdicionais: 
São os modos de solução de conflito não 
jurisdicionais. Traz a solução de conflito, mas não são 
jurisdição. Vejamos: 
 
Autotutela: a autotutela é a solução egoísta do 
conflito, pois um dos conflitantes impõe ao outro a solução 
do conflito pela força. Em princípio, a autotutela é vedada, 
podendo até configurar crime de exercício arbitrário das 
próprias razões. Porém, ainda sobrevivem hipóteses 
excepcionais em que a autotutela é permitida. É o que 
acontece com: 
 legítima defesa; 
 estado de necessidade; 
 Greve; 
 desforço incontinenti= Desforço incontinenti é a reação 
daquele que tem esbulhado a sua posse, podendo 
reagir imediatamente (art. 1.210, p. 1º do CC); 
 Guerra; 
 autoexecutoriedade da Administração Pública; 
 nunciação de obra nova= Na nunciação de obra nova o 
proprietário pode evitar a construção vizinha irregular 
quanto as normas municipais (art. 934 do CC) etc. 
 
É certo que na autotutela sempre é permitido um 
controle jurisdicional do seuexcesso. 
Autocomposição: é a solução negociada do conflito. 
O conflito é resolvido pelos próprios litigantes. A 
autocomposição é incentivada, estimulada, pois se entende 
que é a forma mais eficaz de solução dos conflitos (ex: 
divórcio, separação, testamento no cartório sem 
intervenção judicial, acordo extrajudicial homologado pelo 
juiz etc.). Tal instituto pode ser judicial ou extrajudicial. 
Ademais, é certo que qualquer acordo que a parte 
fizer extrajudicialmente poderá (faculdade) ser levado para 
homologação judicial a fim de transformar o acordo em 
título executivo judicial (estimulo à autocomposição). Art. 
515, inc. III, NCPC: 
Art. 515. São títulos executivos judiciais: 
... III - a decisão homologatória de autocomposição 
extrajudicial de qualquer natureza; 
 
Espécies: a) transação: forma de extinção de 
obrigações, quando há concessões mútuas e recíprocas; e 
b) submissão da vontade do outro. 
No processo dá-se o nome de renúncia, se for o 
autor que abre mão do direito em que se funda a ação - 
não confundir desistência da ação com renúncia do direito, 
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pois naquela o autor pode ingressar com nova ação, tendo 
em vista que não atinge o direito. 
Caso seja o réu fala em reconhecimento da 
procedência do pedido - o réu reconhece os fatos e as 
consequências jurídicas; 
 Alternative disput resolution – ADR  são meios 
alternativos de solução de conflitos. O meio alternativo 
mais difundido é a autocomposição (por excelência). 
 
Mediação: consiste na intervenção de um terceiro 
no conflito para estimular o acordo; encaminhar os 
conflitantes a firmar um acordo. Na mediação, o terceiro 
não decide nem soluciona o conflito. Os litigantes 
solucionam o conflito e são estimulados pelo mediador. 
O desgaste da relação muitas vezes impede que as 
partes entrem em comum acordo. Há necessidade, 
portanto, de um facilitador do diálogo, ocasião em que o 
mediador escuta as partes. 
 Ex1: muito aplicado em casos de família; 
 Ex2: em conflitos internacionais, chama-se o chefe de 
Estado de um terceiro país para mediar as partes; 
 Ex3: litígios societários; e 
 
Há necessidade de um mediador que possui técnicas 
de mediação. Ex: os caras da polícia que têm treinamento 
para desarmar bandidos. O mediador não deve sugerir a 
solução, pois isto pode gerar um comprometimento, uma 
desconfiança pelas partes. Também não deve usar palavras 
estranhas e sim um vocábulo, uma linguagem afim da parte. 
O ambiente deve ser claro (cores claras) para evitar a 
rejeição da partes. A mesa deve ser circular, porque não há 
lados. Todos esses fatores são observados como técnicas 
estudadas. Por fim, a mediação pode ser judicial ou 
extrajudicial. 
Solução de conflito por tribunais administrativos: 
atualmente existem vários tribunais que decidem conflitos 
no âmbito administrativo. 
Esta solução é equivalente jurisdicional; tribunais 
administrativos julgam conflitos por heterocomposição; é 
muito similar a jurisdição, porém, não há poder 
jurisdicional. Exemplos: as decisões do tribunal marítimo 
solucionam os conflitos ocorridos em navegação; as 
decisões dos Tribunais de Contas; AP Fiscal; e Autarquias – 
como o CADE. 
Estes julgam o conflito com a forma de jurisdição. 
São decisões administrativas, tendo em vista que faltam 
atributos de jurisdição, a saber: a imutabilidade de suas 
decisões e a insuscetibilidade de controle externo. 
Arbitragem: na arbitragem, um terceiro escolhido 
pelas partes é chamado para resolver o conflito. 
Diferentemente da mediação, na arbitragem o terceiro 
soluciona o conflito. A arbitragem é uma solução por 
heterocomposição (terceiro que soluciona o conflito). 
A fonte da arbitragem é um negócio jurídico 
denominado convenção de arbitragem. A fonte é a 
autonomia privada, pois as partes optam pela arbitragem. 
Daí o porquê da cláusula de arbitragem em contrato de 
adesão ser nula. 
Somente pessoas capazes podem optar pela 
arbitragem e desde que envolvam direitos disponíveis. O 
árbitro pode ser qualquer pessoa capaz, não sendo 
necessário ser bacharelado em direito. Pode também ser 
composto por uma comissão de árbitros (formam uma junta 
arbitral – composta por três árbitros). 
OBS.: há arbitragem no direito administrativo. É um 
modo de resolver conflitos no âmbito administrativo. A 
arbitragem VS a Administração Pública é um tema novo e 
que está sendo desenvolvido. Porém, somente pode 
sujeitar a arbitragem naquilo que a Administração Pública 
atua negocialmente (bens disponíveis). Fala-se na aplicação 
de arbitragem aos contratos de concessões, por exemplo. 
(nas PPP’s) 
Também é bom frisar que a arbitragem dos litígios 
trabalhistas coletivos possui previsão constitucional (art. 
114, CF). Diante de sentença arbitral, o Judiciário: 
a) pode executar a decisão arbitral, visto que esta 
decisão é título executivo judicial e o árbitro não tem este 
poder; 
b) pode anular (invalidar) a sentença arbitral, em 
caso de vício formal; e 
c) não pode alterá-la ou revisá-la, não podendo 
decidir o conflito. 
 Tema do momento: arbitragem VS conflitos COLETIVOS 
tema em aberto; há propostas legislativas para se admitir 
isso. 
 
Segundo a Lei 9.307/96, o árbitro é juiz de fato e de 
direito. O Estado reconhece ao árbitro o poder de decidir 
de forma definitiva para o caso certo e determinado ( 
não é juiz do PJ). Se ele receber propina, responderá por 
corrupção passiva, que é crime contra a Administração 
Pública. 
 Na arbitragem, as partes podem escolher o direito que deve 
ser aplicado (direito estrangeiro) ou optar pela equidade. 
Existe uma ação própria para exigir a constituição do 
árbitro, caso uma das partes se negue a se sujeitar a 
arbitragem. Se a parte demanda diretamente em juízo, e na 
contestação, a outra parte não alega a cláusula 
compromissória, haverá revogação tácita da cláusula 
arbitral. 
O CPC/2015 ratifica isso em seu art. 337, § 6º: 
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§ 6o A ausência de alegação da existência de convenção de 
arbitragem, na forma prevista neste Capítulo, implica aceitação da 
jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral. 
O Judiciário que executa a decisão. A competência 
do árbitro é tão-somente para julgar. A sentença arbitral é 
título judicial. O Poder Judiciário não pode revisar a 
sentença arbitral – o mérito da decisão arbitral é 
insuscetível de controle pelo Poder Judiciário. 
Após a Lei 9.307/96, a sentença arbitral não precisa 
mais ser homologada judicialmente para ter validade. A 
arbitragem é voluntária, onde a parte “abre mão” do Poder 
Judiciário. Todas as garantias do devido processo legal 
devem estar presentes na arbitragem. A sentença arbitral 
pode ser anulada pelo Poder Judiciário se ela tiver algum 
vício formal (ex: não teve contraditório; o árbitro era 
corrupto). 
O Judiciário anulará esta decisão por meio da ação 
anulatória da sentença arbitral, que tem prazo de 90 dias 
para ser interposta, contados da data da prolação da 
sentença arbitral. Passados os 90 dias, a sua validade não 
poderá mais ser discutida, se tornando estável. 
OBS.: depois de anulada volta ao árbitro para ser 
proferido novo julgamento. 
Há coisa julgada arbitral? Há, pois se torna 
indiscutível e indestrutível em certo momento. E nesta 
esteira indaga-se: cabe ação rescisória? Cabe, em 90 dias 
por meio da ação anulatória supramencionada. É uma ação 
rescisória que cabe num prazo menor e num rol menor. 
 
Arbitragem é ou não jurisdição? 
Sim, é jurisdição, mas privada (entendimento 
majoritário). No Brasil é jurisdição. Contudo há outros 
entendimentos, com o de Luiz Guilherme Marinone, a 
decisão arbitral não é jurisdicional, tendo em vistaque o 
árbitro não pode executá-la. Esta falta de executoriedade 
de suas decisões lhe retira o poder jurisdicional. Segundo 
Fred Didier, esta não é a melhor posição. Para tanto, cita a 
falta do poder de execução das decisões do juiz de direito 
criminal, que depende do juiz da vara de execuções penais. 
Frisa-se que não é inconstitucional (direito à 
liberdade). O nome do negócio jurídico que gera a 
arbitragem é chamado de convenção de arbitragem. 
Temos duas espécies de convenção de arbitragem, 
convenção de arbitragem é gênero e tem duas espécies, a 
saber: 
1ª) Cláusula compromissória e 
2ª) Compromisso arbitral. 
Convenção de arbitragem é o nome que se dá ao 
Negócio Jurídico que gera a arbitragem. 
 
 
 ESPÉCIES DE CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM 
1ª) Cláusula compromissória: é uma convenção de 
arbitragem para o futuro, prevista no contrato, se refere a 
conflitos futuros que possam vir a existir. 
É PACTUADA ANTES DA EXISTÊNCIA DO CONFLITO. 
Se um conflito sobrevier será resolvido por um árbitro. É 
abstrata, logo, não se refere a nenhum conflito específico. 
Tal cláusula aparece muito em grandes contratos 
empresariais. 
2ª) Compromisso arbitral: é uma convenção de 
arbitragem que se refere a um conflito concreto já 
existente. É celebrado quando um conflito já existe. 
O compromisso arbitral PODE ser um instrumento de 
complementação de uma cláusula compromissória aberta. 
As partes podem celebrar o compromisso arbitral sem que 
tenha havido entre elas qualquer compromisso anterior. 
 Não se permite ao juiz conhecer de ofício a convenção 
de arbitragem. Vejamos o NCPC: 
 Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, 
alegar: 
 X - convenção de arbitragem; 
§ 5o Excetuadas a convenção de arbitragem e a 
incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias 
enumeradas neste artigo. Refere-se as matérias preliminares. 
 
 PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO 
1. Princípio da investidura 
Somente pode exercer jurisdição quem tiver sido 
investido (empossado) na função jurisdicional ou também 
aqueles nomeados (ex: quinto constitucional). A investidura 
não se dá só por meio de concurso público. A investidura do 
juízo é requisito de existência do processo. A competência e 
a imparcialidade são requisitos de validade do processo. 
 
2. Princípio da indelegabilidade 
O órgão jurisdicional não pode delegar o exercício de 
sua jurisdição a ninguém ou a outro órgão. Ao falar de 
indelegabilidade é necessário falar dos poderes do juiz 
dentre eles o poder ordinatório, ou seja, poder de praticar 
atos para que o processo avance. Tal poder pode ser 
delegado aos servidores. Vejamos: 
CF Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo 
Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, 
observados os seguintes princípios: ... XIV os servidores receberão 
delegação para a prática de atos de administração e atos de mero 
expediente sem caráter decisório; 
NCPC Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em 
sentenças, decisões interlocutórias e despachos... § 4o Os atos 
meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, 
independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo 
servidor e revistos pelo juiz quando necessários. 
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Quando se fala em indelegabilidade, se fala em 
indelegabilidade do poder decisório. A CF permite, nos 
termos do art. 102, inc. I, alínea “m”, que o STF delegue a 
prática de atos executivos a juízes, tendo em vista que não 
são decisórios. 
CF Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, 
precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - 
processar e julgar, originariamente: ... m) a execução de sentença 
nas causas de sua competência originária, facultada a delegação 
de atribuições para a prática de atos processuais; 
Esta previsão é destinada somente ao STF, porém, é 
unânime que todos os tribunais podem delegar a prática de 
atos executivos (poder executório). 
Outro exemplo de delegação é a de poderes 
instrutórios, em que os tribunais costumam delegar aos 
juízes singulares o poder de produção de provas (ex: ouvir 
testemunhas). 
Quando o juiz expede uma carta precatória delega a 
jurisdição? Não, pois carta precatória nada mais é do que 
um pedido de ajuda. Não se pode delegar o que o juiz não 
tem, pois ele não tem jurisdição em outra comarca. 
 
3. Princípio da inevitabilidade 
A decisão jurisdicional é inevitável. Se a parte 
pudesse escapar da jurisdição, ela nada mais seria que um 
conselho. 
 
4. Princípio da territorialidade 
A jurisdição é exercida sempre sobre um dado 
território (foro). Há sempre uma limitação territorial. 
Jurisdição é poder. E assim deve ter um lugar para poder 
exercê-lo. O nome sobre o qual a jurisdição se exerce é o 
foro, isto é, é a delimitação territorial para o exercício da 
jurisdição. Ex: o foro do STF é no país todo; Ex2: o foro de 
um TJ de um estado é aquele estado. 
Ressalta-se que na Justiça Estadual costuma-se falar 
em comarca e distrito. Os foros são chamados de comarcas. 
A comarca se refere a uma cidade ou a um grupo de 
cidades. E a comarca por sua vez pode ser subdivida e aí 
surge o distrito, o qual pode ter nome de uma cidade ou 
ainda de um bairro. 
Quanto à Justiça Federal o foro recebe outra 
denominação, a saber, seção judiciária. Cada seção 
judiciária corresponde a um Estado. A seção judiciária pode 
ser dividida em subseções. A seção judiciária sempre tem 
nome de Estado. A subseção sempre tem nome de cidade. 
A subseção judiciária abrange uma ou mais cidades. 
Ponderações sobre a territorialidade: 
 Quando duas comarcas fazem fronteira entre si, 
fala-se em comarcas contíguas. Existem comarcas que 
pertencem a uma mesma região metropolitana, não 
necessariamente sendo contíguas. Comarcas contíguas? São 
comarcas que fazem fronteira. Ex: São Paulo VS Guarulhos. 
 Imagine o julgamento relacionado a um imóvel  
que se encontre em entre duas comarcas. O poder de 
jurisdição deste juiz abrangerá todo o imóvel; trata-se de 
um caso de extraterritorialidade (art. 60 do NCPC), que é o 
exercício da jurisdição para além do seu território. 
 CPC Art. 60. Art. 60. Se o imóvel se achar situado em 
mais de um Estado, comarca, seção ou subseção judiciária, a 
competência territorial do juízo prevento estender-se-á sobre a 
totalidade do imóvel. 
 O local em que será proferida a sentença é uma 
coisa. O local em que surtirá os efeitos da decisão é outra. 
A separação de um casal no Estado de São Paulo, por 
exemplo, surtirá seus efeitos em todo território nacional. 
 
5. Princípio da inafastabilidade 
A lei não excluirá do Judiciário, lesão ou ameaça de 
direito (art. 5º, inc. XXXV, da CF: a lei não excluirá da 
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito); 
Este é o princípio que garante o acesso aos tribunais. É a 
garantia da tutela preventiva; a parte poderá levar ao 
Judiciário qualquer ameaça de direito. 
- Princípio da inafastabilidade  lei não pode excluir o 
Poder Judiciário 
- Princípio da inevitabilidade  parte não pode escapar da 
jurisdição 
 
A jurisdição é universal (pois qualquer pessoa pode a 
ela ter acesso e também porque pode afirmar o que quiser 
em juízo). Do ponto de vista jurídico, nenhuma lesão ou 
ameaça de lesão pode deixar de ser levada ao Judiciário. 
Os atos administrativos discricionários também 
podem ser levados ao Judiciário pela parte. Este ato é 
controlado por meio da proporcionalidade e da 
razoabilidade, pois o administrador não pode ultrapassar os 
limites de liberdade estipulados em lei, consoante farta 
jurisprudência. 
Contudo, há questões que a própria CF leva para 
outro órgão o julgamento, como por exemplo, crime de 
responsabilidadeVS SF. O SF exerce jurisdição (função 
atípica). 
Caso digno de observação é o das questões 
desportivas. Um problema desportivo somente pode ser 
levado ao Judiciário após o exaurimento das instâncias 
desportivas. Esse condicionamento tem previsão 
constitucional: 
CF Art. 217, § 1º. O Poder Judiciário só admitirá ações 
relativas à disciplina e às competições desportivas após 
esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. 
É o único caso que a CF determinada um 
condicionamento para ir ao Judiciário. 
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Há inúmeras leis infraconstitucionais que 
condicionam o acesso ao Poder Judiciário por meio do 
esgotamento das instâncias administrativas, como por 
exemplo, a Lei do habeas data, Lei da Súmula Vinculante 
etc. 
São constitucionais tais leis? Deve-se responder que 
estas leis devem ser interpretadas de acordo com a CF; 
significa que, somente pode-se exigir o exaurimento da 
instância administrativa se não houver urgência (a parte 
puder esperar). Caso haja urgência não há que se falar em 
esgotamento da instancia administrativa. 
Ex: ADINS n. 2139 e n. 2160 x exigência de CCP na JT. 
O STF deu liminar para dar a interpretação conforme a CF. 
 
6. Princípio do juiz natural 
Este princípio é extraído do devido processo legal e 
de dos incisos XXXVII e LIII, do art. 5º, da CF. 
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção 
(imparcialidade); 
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão 
pela autoridade competente; 
 
Há dois aspectos principais do juiz natural: a) não 
haverá juízo ou tribunal de exceção (imparcialidade – daí 
falar em distribuição de processos – não posso escolher o 
juiz); e b) julgamento pelo juiz competente (competência – 
lei prévia). 
A competência e a imparcialidade são pressupostos 
processuais subjetivos de validade do processo. 
O juiz natural sob o prisma da imparcialidade veda a 
criação de um tribunal de exceção, ou seja, aquele criado 
extraordinariamente para julgar determinada causa (ex: 
tribunal de Nuremberg). O juízo da causa é aquele que já 
existe antes do fato a ser discutido em juízo. Foi necessário, 
mas os juristas já tinham noção que isso não poderia 
ocorrer, daí veio o Tribunal Penal Internacional para os 
crimes de guerra. 
Até hoje ocorre de presidente de tribunal designar 
um juiz tal para julgar determinada causa – por meio de 
portaria. Isso é uma violação, afinal, é garantia das partes a 
designação de um juízo já existente ou posto. Também não 
pode falar em avocação de processos. 
O juízo ad hoc ou designado ex post facto é aquele 
criado para julgar determinada matéria (na época do 
absolutismo, o rei escolhia o juiz da causa livremente). A 
garantia de imparcialidade decorre do juiz natural. Para 
garantir a imparcialidade do juiz é que se veda o tribunal de 
exceção. 
O juiz natural sob o prisma da competência: o 
princípio do juiz natural garante o juiz competente para 
julgar a causa, não bastando que ele seja o juiz natural. Juiz 
natural é o juiz competente com regras gerais de 
distribuição de competência previamente estabelecidas. A 
distribuição da ação no Fórum por sorteio, é uma forma de 
garantir o juiz natural. 
Aspecto formal do juiz natural é a competência; e 
Aspecto material do juiz natural é a imparcialidade 
(*Reclamação 417 do STF – LER). *cuida do caso abaixo: 
O Estado de Roraima foi criado pela CF de 1988. As 
ações judiciais, antes da promulgação da CF, eram 
remetidas ao tribunal dos territórios. Após a formação do 
Estado de Roraima, foi criado o Tribunal de Justiça, sendo 
este composto por poucos juízes. Após a transferência dos 
processos do Tribunal dos Territórios para o TJ de Roraima, 
houve a interposição de uma ação civil pública, contra o ato 
do Judiciário deste novo ente da Federação, em que todos 
os juízes deste tribunal figuraram como réus. O STF disse 
que não havia juiz natural naquele Estado, por falta de 
independência, a qual é necessária para a imparcialidade. 
 
 JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA (JV) 
É uma atividade de integração da vontade; o juiz na 
JV integra a vontade dos sujeitos tornando-a esta vontade 
apta à produção dos efeitos jurídicos desejados. 
A simples vontade do sujeito não é o bastante para 
os efeitos jurídicos que ele quer. O sujeito vai ao Poder 
Judiciário para tornar a vontade dele íntegra. Serve para 
completar / integrar a vontade dos sujeitos. 
É também uma atividade de fiscalização, isto é, na 
Justiça Voluntária o juiz irá fiscalizar se o ato praticado pela 
parte é um ato realizado de forma regular e, caso seja, o juiz 
integrará a vontade. 
 
 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA JUSTIÇA VOLUNTÁRIA 
 Necessária ou opcional 
Costuma-se dizer que a JV é necessária, ou seja, a 
parte não tem opção, se ela quer que aquele efeito jurídico 
se produza ela tem de ir ao Poder Judiciário. Ex: interditar 
um pródigo. 
Isso é uma regra, mas há casos excepcionais em que 
se admite uma JV opcional / facultativa. São casos que saem 
do parâmetro. Ex: divórcio consensual sem filhos. Afinal, 
pode se divorciar no cartório. É um caso raro, mas existe. 
No entanto, a regra é que a intermediação do Judiciário é 
necessária. 
É, em regra, portanto, necessária a jurisdição 
voluntária, pois alguns atos jurídicos somente podem 
produzir efeitos por meio da jurisdição voluntária (ex: 
alteração de nome, interdição etc.). Há exceções nos casos 
em que a jurisdição voluntária é opcional (permitida), como 
por exemplo, o divórcio, o arrolamento de bens consensuais 
em caso de ausência de incapazes, acordo extrajudicial (que 
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tem validade independentemente da homologação do juiz) 
etc. 
 Natureza constitutiva 
A jurisdição voluntária, em regra, tem natureza 
constitutiva. Ou seja, pela jurisdição voluntária criam-se, 
extinguem-se ou modificam-se situações jurídicas. 
 
 Contraditório 
Na jurisdição voluntária há contraditório; os 
interessados (que podem sofrer prejuízo com a decisão) 
tem o direito de participar; tem de ser ouvidos aqueles que 
podem ter interesses, no prazo de 15 dias. Existe citação em 
JV. Ex: Ex2: retificação de registro mobiliário  tem de citar 
os proprietários daquele imóvel. 
Art. 721, NCPC. Serão citados todos os interessados, bem 
como intimado o Ministério Público, nos casos do art. 178, para 
que se manifestem, querendo, no prazo de 15 (quinze) dias. 
 
 Duplo grau de jurisdição 
A jurisdição voluntária se encerra por sentença que é 
apelável. 
 
 O juiz possui todos os seus atributos 
São iguais aos da jurisdição. 
 
 Intervenção obrigatória do MP em determinados 
procedimentos 
Numa interpretação literal do art. 721 do NCPC, se 
entende que em todo procedimento de jurisdição 
voluntária, o MP deverá intervir. Ocorre que, para a 
intervenção do MP em jurisdição voluntária, é preciso que 
seja necessária a sua manifestação (ex: no acordo 
extrajudicial homologado, não há interesse do Estado, mas 
sim interesse privado).  O MP só se envolve quando 
houver interesse indisponível. Enfim, pode haver caso de 
Justiça voluntária sem intervenção do MP. 
 
 Costuma-se dizer na doutrina que é um processo 
inquisitivo 
O juiz é o protagonista. Ele tem muitos poderes. O 
contraponto do processo inquisitivo é o dispositivo (ou 
processo adversarial/acusatório). E isso se dá porque 
muitos processos de JV podem ser instaurados ex officio. 
Existem várias exceções de procedimentos de 
jurisdição voluntária que podem ser instaurados ex officio, 
visto que o normal é que o processo seja provocado pelas 
partes. 
 
 Possibilidade da utilização da equidade 
Este dispositivo nasceu para dar uma margem de 
discricionariedademaior ao juiz na jurisdição voluntária, 
tanto na sua condução quanto na decisão da sentença. O 
ideal é que o magistrado não se apegue tanto a literalidade 
da lei, adequando a lei ao caso concreto. 
O parágrafo único do art. 723 do NCPC permite um 
juízo de equidade por parte do magistrado nos casos de 
jurisdição voluntária. Porém, para os demais processos, 
prevê julgamento na estrita legalidade. 
Art. 723. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias. 
Parágrafo único. O juiz não é obrigado a observar critério 
de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que 
considerar mais conveniente ou oportuna. 
É certo que temos os procedimentos comum e 
especial, contudo há uma polêmica acerca da NATUREZA 
JURÍDICA DA JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. Tem-se duas 
correntes. 
1ª) a jurisdição voluntária não é jurisdição, sendo 
uma atividade administrativa, natureza administrativa; 
atuando o juiz como administrador de interesses privados. 
Esta concepção é majoritária e tradicional; é a corrente 
mais difundida. Fundamentam tal corrente com os 
seguintes argumentos: 
 não há lide (não há conflito), logo, não há jurisdição; 
 não há ação, mas sim requerimento; 
 não há processo, mas tão–somente procedimento; 
 não há partes, mas somente interessados; 
 não há coisa julgada, pois esta somente nasce da 
jurisdição, fala-se no máximo em preclusão. 
 
2ª) a jurisdição voluntária tem natureza jurisdicional, 
mas jurisdição com outro propósito, conforme os seguintes 
argumentos: 
 pode não haver lide, porém, isto não significa dizer que 
sempre não haverá lide; 
 se o CPC/2015 manda citar os interessados, é porque há 
possibilidade de gerar uma lide; 
 não é correto afirmar que só há jurisdição se houver lide 
(trata-se de uma arbitrariedade teórica); e 
 a jurisdição atua sobre um caso concreto, mas não 
necessariamente sobre uma lide. 
Mesmo adotando a concepção de que a jurisdição 
voluntária tem natureza administrativa, não há como negar 
a existência de processo e contraditório, tendo em vista que 
o processo administrativo atual se exterioriza por meio de 
processo. Dizer que não há ação é concebível, porém, dizer 
que não há processo é inaceitável. 
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Processo administrativo tem amparo constitucional 
(o qual deve observar o contraditório e a ampla defesa). 
Primeira corrente Segunda corrente 
- Não há lide - Há lide 
- Não há ação - Há ação 
- Não há processo - Há processo 
- Não há partes - Há partes 
- Não há coisa julgada - Há coisa julgada 
 
 Atenção para o tema da coisa julgada na JV: 
Segundo art. 1.111 do CPC, a sentença poderá ser 
modificada, sem prejuízo dos efeitos já produzidos, se 
ocorrerem circunstâncias supervenientes. A corrente 
tradicional entende não existir coisa julgada, visto que pelo 
dispositivo citado permite-se que a decisão seja modificada. 
Já a segunda corrente, com base no mesmo artigo 
supramencionado, entende que, em regra, a sentença é 
imodificável, havendo coisa julgada. Se o fato é posterior a 
coisa julgada, este fato não tem nenhuma relação com a 
sentença, sendo exigível nova decisão. Uma nova decisão 
não nega a coisa julgada, visto que o fato é posterior a esta. 
Exemplos: 
 o casal divorciado que se casa novamente não altera a 
sentença de divórcio, porém, pode-se casar novamente; 
 o filho que pede revisão da sentença alimentícia; 
 a pessoa que pede para mudar o nome e o juiz nega 
porque não havia motivo no entender do juiz para tanto, 
mas noutra época em razão de x propaganda o nome 
tornou-se ridículo. 
Nestes casos, não se está rescindindo a coisa julgada, 
mas sim se exigindo novo julgamento para a nova situação. 
Portanto, dizer que não há coisa julgada no art. 1.111 do 
CPC é erro elementar. 
CPC Art. 1.111. A sentença poderá ser modificada, sem 
prejuízo dos efeitos já produzidos, se ocorrerem circunstâncias 
supervenientes. 
 
 COMPETÊNCIA 
É a quantidade de poder atribuída a um determinado 
ente (órgão). É a medida do poder que cabe a algum ente. 
Logo, é uma limitação do poder. Nesse contexto, fala-se em 
competência legislativa, administrativa e jurisdicional. 
Cuidaremos da competência jurisdicional (civil). A 
competência, assim, é a distribuição de funções entre os 
diversos órgãos estatais. Assim, o órgão estatal somente 
pode exercê-lo nos limites de sua competência. 
A competência jurisdicional civil é a quantidade de 
poder jurisdicional atribuída a um determinado órgão. E 
observa os seguintes princípios: 
a) Princípio da tipicidade: a competência está 
prevista na legislação. É o legislador (sentido amplo) que 
determinará a competência. O fato dela ser típica não 
significa que ela tenha de ser expressa. Admite-se a 
chamada competência implícita. Ex: a Constituição Federal 
não diz que cabe ao STF julgar os embargos de declaração 
de seus julgados. Mas se ele não os julgar quem julgaria. O 
silêncio constitucional impõe que se descubra de quem é a 
competência. Não pode haver vácuo de competência. 
Algum órgão deve ser competente. Esta é a denominada 
competência implícita (IMPLIED POWER); 
b) Princípio da indisponibilidade: o órgão 
jurisdicional não pode se abster de proferir julgamento em 
ações de sua competência. O órgão jurisdicional não pode 
negar ou exigir a competência de outrem (ex: não pode 
escolher qual processo irá julgar). O legislador pode dar 
uma maior flexibilidade, permitindo que elas sejam 
modificadas sobre determinadas circunstâncias. Porém, 
quem determina esta modificação é o legislador, e não o 
titular do poder. 
 
REGRA DA COMPETÊNCIA DA COMPETÊNCIA (em 
alemão Kompetenzkompetenz): todo órgão jurisdicional 
tem a competência de examinar a sua própria competência. 
Também chamada de competência mínima (atômica). É o 
mínimo de competência que o órgão jurisdicional tem. 
TODOS JUÍZES TÊM. 
FORUM SHOPPING: fato da vida; que consiste na 
escolha do foro competente pelo autor; o autor escolhe o 
foro competente quando há vários foros igualmente 
competentes. Tem-se várias opções. Ex: lesão x honra x site 
x aconteceu em qualquer lugar do mundo. 
Logo, permite-se propor ação em qualquer lugar do 
mundo em que o site pode ser acessado. Pode-se demandar 
em qualquer lugar. As pessoas em regra buscam o país em 
que a jurisprudência é mais favorável aos pedidos de 
indenização por dano moral. 
O que não pode haver é o abuso deste direito de 
escolha. Ex: escolhe um foro que em nada lhe aproveita, 
mas em tudo prejudica o réu. Há um abuso, porque não traz 
nada de especial ao demandante e só prejudica o réu. 
A doutrina desenvolveu uma teoria para combater 
esta forma de abuso, a saber, FORUM NON CONVENIENS, a 
qual serve para afastar o abuso do FORUM SHOPPING, se a 
escolha não for conveniente é abusiva e o juiz pode recusar. 
Trata-se de teoria doutrinária do Direito da Escócia (civil 
Law). 
O STJ já tratou do assunto e não acatou este 
princípio, mas com certeza sua posição será modificada, 
pois a fundamentação deste argumento do STJ foi fraca, 
pois não levou em conta o princípio da boa-fé. 
 
 DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA 
A distribuição de competência é tarefa do legislador. 
A primeira distribuição é constitucional, que criou 5 justiças: 
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Justiça Federal, Justiça Estadual, Justiça Eleitoral, Justiça 
Militar e Justiça do Trabalho. 
J. FEDERAL, J. TRABALHISTA, J. MILITAR , J. 
ELEITORAL e J. ESTADUAL – competência residual – será de 
competência desta tudo aquilo que não for das 
supramencionadas justiças. 
Existe uma questão teórica sobre tal divisão. 
Vejamos: Imagine um juiz federal julgando uma causa 
militar. Perceba que é um juiz que não tem competência

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