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1 ATIVIDADE INDIVIDUAL Matriz de análise Disciplina: Negociação e Administração de conflitos Módulo: EAD Aluno: Márcio Valevein Rodrigues Turma: AERONACEAD_T0003_0619 Tarefa: Análise da Dinâmica de Negociação do filme “Coach Carter: treino para a vida (2005)”. Introdução “Perguntar quem está ganhando uma negociação é mais ou menos como perguntar quem está ganhando um casamento. Não faz sentido. O que está em jogo é tentar encontrar uma solução para um problema que agrade a todas as partes”. (William Ury) O ser humano sempre viveu em grupo, seja em tribos ou em grandes comunidades, e os conflitos têm feito parte desde então. Contudo, se a humanidade não fosse capaz de encontrar uma forma de viver em harmonia, mesmo que por pouco tempo, nós já seríamos uma raça em extinção e não a dominante. Para que o homem conseguisse sobreviver até os dias atuais, tivemos que desenvolver a arte da negociação, pois com essa capacidade foi possível apaziguar diferenças, evitar guerras ou encerrá- las. Foi por meio da negociação que construímos um mundo, mesmo que ainda não totalmente unido, mas seguindo o caminho de uma globalização. O objetivo deste trabalho consiste em dar um olhar sobre o processo de negociação a partir do filme “Coach Carter: treino para a vida” – Baseado em fatos reais, o filme retrata a história de Ken Carter, dono de uma loja de artigos esportivos que, em 1999, foi convidado a retornar a sua antiga escola em Richmond, Califórnia, para trabalhar como treinador do time de basquete. Com muita disciplina, regras duras e uma boa “dose” de negociação, ele tenta mostrar aos garotos do subúrbio que a vida é mais que uma partida de basquete. Desenvolvimento – análise do processo de negociação representado no filme eleito 1. BREVE RESUMO DA CENA ANALISADA O filme revela várias situações em que a temática da negociação fica evidente. Assim, ao longo do trabalho, essas cenas serão pontuadas para que seja feito um paralelo com o conteúdo da disciplina. 2. CLASSIFICAÇÃO DAS PARTES ENVOLVIDAS (ATORES DA NEGOCIAÇÃO) As partes envolvidas em uma negociação encontram-se espalhadas ao longo do processo, participando direta ou indiretamente e podem ser classificadas de acordo com suas ideias e a confiança que exercem no processo. Aliados – Têm ideias convergentes e existe confiança. Oponentes – Têm ideias divergentes, mas existe confiança. 2 Interlocutores – As ideias não influenciam e existe confiança. Adversários – Têm ideias divergentes e não existe confiança. a) Na cena em que o Sr. Carter é apresentado ao time de basquete como novo treinador, inicialmente há uma tentativa por parte dos alunos em ignorar a sua presença. Então, com um tom mais alto de voz, ele consegue obter a atenção e os diálogos se desenrolam até o momento em que ele ordena o início do treinamento. Ao longo dos diálogos, podemos identificar que a maioria dos alunos aceita as condições impostas no contrato, bem como a obrigatoriedade de todos se tratarem por “senhor”, aqueles que não aceitam, saem do ginásio. Os que permaneceram são os oponentes, pois têm ideias divergentes às do treinador, mas são de confiança. b) Damien Carter ao saber que seu pai Ken Carter não poderá mais ir aos jogos, bem como ajudá-lo no treinamento, ele negocia a sua transferência para o Colégio Richmond para ser treinado pelo pai e faz alterações no contrato aumentando o mínimo de nota e a quantidade de horas de serviço comunitário. Damien pode ser considerado um aliado, pois concorda com as ideias do treinador e é de confiança. c) Na cena da Audiência Pública sobre o fechamento do ginásio em que estão reunidos a diretora e o “Conselho de Pais e Mestres” para ouvir os motivos que levaram o treinador a fechar o ginásio, vemos que a sessão composta basicamente pelos pais está indignada com as ações de K. Carter e pedem uma votação para reabrir o ginásio. Essas pessoas são os adversários, pois têm ideias divergentes e não existe confiança. 3. IDENTIFICAÇÃO DAS FONTES DE PODER, FERRAMENTAS E TÁTICAS Para identificarmos as fontes de poder, deve-se ter em mente que o sucesso de uma negociação parte de uma tríade composta por tempo, informação e poder. Segundo Carvalhal (2017) a relação dos três elementos trata-se de uma multiplicação, ou seja, S = T × I × P e, caso algum elemento seja zero, o resultado também será zero. Tempo é saber o momento certo de negociar ou agir, de lançar mão de uma tática e até mesmo de recuar. Informação é conhecer o assunto, saber das capacidades de sua equipe e da contraparte; é ter uma base forte para poder agir rapidamente em momentos críticos. O poder pode ser originário de uma organização, de um indivíduo ou mesmo de origem mista e estar nas mãos de quem escolhe e decide, de quem projeta credibilidade, no de maior experiência ou no mais especializado. O importante é identificar, para cada negociação, quem tem o poder necessário para estar frente a frente com a contraparte, visando promover a simetria de poder ou, se possível, uma assimetria favorável. As fontes de poder surgem ao assumir riscos, do carisma, com a informação técnica e na concorrência. a) Na cena do ginásio, vemos que o poder está totalmente nas mãos do treinador; ele é quem decide; aceita tranquilamente a desistências de dois, bem como expulsa um deles (Tino Cruz). A base do seu poder está em sua experiência e especialização – é o detentor de recordes em cestas, passes e roubadas de bola, além de ter ganhado bolsa para jogar basquete em uma universidade. Detém muitas informações sobre o time, conhece as deficiências, qualidades e as estatísticas. Ken Carter demonstra seu controle do “Tempo (timing)”, quando reage automaticamente ao comentário do aluno Worm, perguntando se ele teria piada para aquele arremesso péssimo. Podemos reparar que a todo o momento o treinador não passa o poder para os alunos. Vemos uma assimetria e não há nada que os alunos possam fazer a não ser assinar o contrato para continuarem no time. b) Na cena da Audiência Pública sobre o fechamento do ginásio, podemos identificar que a fonte de poder está nas mãos do “Conselho de Pais e Mestres” e nem a diretora tem como impedir o resultado da votação para reabertura do Ginásio. Nessa cena, vemos que apesar do treinador ter muitos argumentos e o timing para colocá-los, há uma assimetria em favor do Conselho, pois há um nível hierárquico muito distinto. Ken Carter é apenas um funcionário e o Conselho está acima do nível de direção. MODELO DE POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO Algumas cenas marcam a adaptação de Ken Carter nas negociações que ocorrem ao longo do filme, demonstrando sua flexibilidade e controle emocional. a) Na cena do ginásio quando é apresentado com novo treinador, Ken Carter aplica o Uso do Poder, sendo altamente assertivo, uma vez que sabe que a colaboração dos alunos será baixa. Assim, não lhes dá uma segunda opção, bem como demonstra que não haverá uma segunda oportunidade para quem quebrar alguma regra do contrato. b) Tino Cruz, após ver que os amigos estão ganhando os jogos, decide voltar para o time e confronta o treinador. Ken Carter, inicialmente o ignora, mas como o garoto permanece na quadra, o treinador recua de seu posicionamento e aceita barganhar com o jogador. Para que ele fosse readmitido ao time deveria pagar um “taxa”: fazer 2500 flexões e 1000 suicídios até à sexta-feira daquela semana. O rapaz aceita os termos e inicia os exercícios. c) Na sexta-feira, após a longa jornada de exercícios durante os treinos, Tino Cruz não consegue completar a meta estipulada e o treinador o informa que ele falhou e pede para que se retire do ginásio. Em seguida,Jason Lyle se voluntaria a fazer algumas flexões no lugar do amigo, o restante do time segue o exemplo e também se oferecem para completar a tarefa. Ken Carter vê um de seus objetivos serem atingidos (ter um grupo unido) e aceita que o time termine a tarefa juntos. d) Após a decisão do colegiado sobre a reabertura do ginásio, Ken Carter vai ao ginásio recolher seus pertences, pois havia se demitido, conforme prometera na Audiência Pública. Ao chegar, encontra todos os alunos sentados em suas carteiras, estudando. Nesse ponto, pode-se perceber que as negociações atingiram a integração, pois os garotos aceitaram que a proposta do treinador os levaria a uma vida melhor, tanto que Tino Cruz faz uma declaração e por fim agradece ao senhor Carter por ter salvado a sua vida. Vemos a colaboração, a solução das diferenças e a busca por relações de longo prazo, ou seja, atingiu-se o “ganha-ganha”. Apesar de o filme mostrar basicamente a atuação de Ken Carter como um grande negociador, não só com os alunos, mas com a diretora, professores e pais, utilizando-se de diversas táticas para alcançar os objetivos, uma cena do filme rouba a atenção: a) A mãe de Junior Battle vai à loja do senhor Carter para confrontá-lo sobre a expulsão de seu filho do time e solicita que o treinador o aceite de volta, pois o futuro do garoto estava em jogo 4 e ela não queria o mesmo destino que teve o seu outro filho. Ela usa a tática da persuasão trazendo para o lado emotivo a negociação, pois conta da morte do outro filho e da ligação que recebeu de um “olheiro” interessado em Junior. Diz que concorda com os termos do treinador e garante que fará o garoto seguir as regras. Apesar de reticente às promessas da mãe, ele pede para ouvir do próprio aluno o pedido de desculpas. Nesse momento ela diz que ele está no carro e vai buscá-lo. Ken Carter fica sem armas nesse momento e aceita o pedido de desculpas, mas impõe uma multa de 1000 flexões e 1000 suicídios. 4. AVALIAÇÃO DAS ETAPAS DA NEGOCIAÇÃO PLANEJAMENTO - parte mais importante da negociação. É o momento de preparação, de estudar e analisar as informações sobre o objeto, a contraparte, os possíveis acordos, traçar a sua estratégia de negociação, bem como criar um plano B. EXECUÇÃO – Momento em que a negociação se inicia. É dividida em: Preliminar: conhecimento e o relacionamento entre as partes são iniciados. Momento que requer cautela nas ações; Abertura: Ancorar a negociação. Os mecanismos de persuasão, da autoridade e do consenso, baseado em argumentos factuais, são fundamentais para legitimar o posicionamento de abertura. Exploração: Desenvolvimento da negociação, visando à geração de opções para um acordo, bem como o “ganha-ganha” proveniente de um integração. Encerramento: Em caso de várias rodadas é a cristalização dos entendimentos e da possibilidade de retornar à origem e estudar as propostas, tirar dúvidas e planejar a próxima rodada. Se em uma rodada final, é a materialização de um acordo. CONTROLE – Acompanhamento das ações pós-reunião intermediária ou pós-acordo, registrando as obrigações de cada parte e acompanhando a implementação de ações definidas. Também é o momento de se registrar as lições apreendidas, com vistas às futuras negociações. A cena do ginásio, quando Ken Carter é apresentado com novo treinador, proporciona de forma didática as etapas de uma negociação. i. Ken Carter conhecia muito bem a escola (era ex-aluno e ex-jogador do time de basquete), também sabia dos problemas sociais da comunidade, além de ter assistido aos jogos e ter identificado os pontos fracos e fortes do time. Somando-se ainda as estatísticas da temporada anterior. ii. Quando o antigo técnico se retira do ginásio, Ken Carter é intencionalmente ignorado pelos alunos. Ao aumentar o tom de voz para que todos o ouçam, Worm diz que eles o escutam, mas não o veem. Carter então rebate, comentando sobre o péssimo arremesso de Worm. Após conseguir a atenção dos alunos, o novo treinador começa seu discurso identificando as realidades, número de vitórias e derrotas na temporada passada, expõe características do grupo, começa a desenvolver os mecanismos de persuasão, mostrando o que ele e os garotos têm em comum: a vontade de vencer dentro e fora da quadra. iii. Carter passa a impor condições e informa que terão de assinar um contrato. Nesse ponto, ele esclarece que se cumprirem o acordado, eles passarão a ter vitórias e não mais derrotas e que aquele era o caminho para vencer também na vida. Mesmo alguns alunos tentando “quebrar” suas argumentações, seu posicionamento ousado e o seu preparo deixaram os garotos com o impasse de aceitar e jogar ou recusar e ir embora. iv. Há evidente uso do poder, uma vez que o treinador não aventaria um plano B, mas como os garotos não estavam preparados para aquela situação (negociar), a maioria deles aceitou o acordo. Nesse primeiro momento não aflora uma abordagem integrativa, pois apesar de terem que assinar um contrato, aquela seria a primeira de muitas negociações entre o treinador e o time. v. Ao término da negociação os garotos que resolveram permanecer no time assinaram o acordo apresentado pelo novo treinador. vi. Por fim, ao longo do tempo, Ken Carter passou a cobrar relatórios mensais dos seus alunos- jogadores para certificar se o acordo estava sendo cumprido e, mediante esse acompanhamento, algumas providências foram adotadas. 5. DESCRIÇÃO DA COMUNICAÇÃO VERBAL E NÃO VERBAL A comunicação é o elemento mais importante em uma negociação. Além de sabermos nos expressar de forma clara, devemos desenvolver a capacidade de ouvir. Na comunicação verbal as palavras e sensações produzem ancoras positivas e negativas, mas essa transferência corresponde a 7% apenas do que o interlocutor realmente deseja transmitir. Essa comunicação passa pela emissão, recepção e validação. A comunicação não verbal completa os 93% da comunicação restante e está baseada na linguagem corporal. O rapport é a capacidade do negociador de estimular o outro a sentir que há uma sintonia entre ambos (Carvalhal, 2017). Para tanto, o negociador deve espelhar suas comunicações verbais e não verbais, fazendo coincidir com a contraparte o tom de voz, o contato visual, gestos, postura, etc. Colocando-se no lugar do outro e ajustando a sintonia emocional, cria-se uma maior facilidade no diálogo. a) Ken Carter, ao ensinar as jogadas de defesa e ataque, nomeia as táticas com o nome de uma garota e correlaciona as características dela com as das jogadas, ou seja, a irmã que pegava no pé dele quando criança virou referência para uma marcação individual. Dessa forma, ele usa a empatia para trazer os garotos para um processo cooperativo. b) Durante uma festa na escola, Kenyon e Kyra estavam brigados e kenyon começa a dançar de forma sensual com outra garota. Ao ver a situação, Kyra resolve fazer o mesmo e tira um rapaz para dançar. Há na cena uma forte comunicação não verbal entre os dois que termina quando Kyra se retira do ambiente. 6. AVALIAÇÃO DOS ASPECTOS POSITIVOS DA NEGOCIAÇÃO OBSERVADA E SUGESTÃO DE MELHORIAS ASPECTOS POSITIVOS O ponto positivo das negociações de Ken Carter foi seu objetivo de proporcionar àqueles estudantes uma oportunidade de mudar suas vidas. Esse objetivo é constantemente apresentado: 6 quando expôs as regras do contrato, a taxa de reintegração de Tino Cruz, o castigo de Junior Battle, quando solicitou à Diretora os relatórios de desempenho dos jogadores e quando esteve perante a Audiência Publica. Na cena do vestiário, após a derrota para Saint Francis no torneio estadual, ele diz aos jogadores: “Há quatro meses quandoaceitei o emprego, eu tinha um plano e esse plano falhou”. Eu vim para treinar jogadores e vocês se tornaram alunos. Eu vim para ensinar meninos e vocês se tornaram homens. E por isso eu agradeço.” Sugestão de Melhoria: Ken Carter age corretamente em todas as negociações, mas falhou no controle. Ele esperou que os professores fizessem um trabalho extra para auxiliá-lo, também não verificou se os alunos frequentavam as aulas, bem como se estavam prestando os serviços comunitários acordados. Quando ele recebeu o primeiro relatório foi quando descobriu que alguns dos garotos estavam descumprindo o contratato. Ele deveria ter dedicado um tempo maior, logo no início, para ter certeza que os jogadores estavam cumprindo o contrato. Dessa forma, não seria surpreendido. 7. ESTABELECIMENTO DE UM PARALELO COM SUA REALIDADE PROFISSIONAL O paralelo que faço está relacionado com a integridade de Ken Carter e seu compromisso em fazer o melhor para jovens que estão perdidos quando o tema é vida após a escola, sem o basquete e com a probabilidade de se envolverem com ilícitos. Na minha carreira de militar tenho incentivado meus subordinados a estudar para se tornarem pessoas melhores, com mais conhecimento. Em tons de brincadeira (diferente da rigidez do treinador Carter) eu procuro mostrar aos soldados a importância de cursarem uma faculdade, de entrarem em um curso de inglês, a melhorarem sua capacidade intelectual. Considerações finais O nome do filme em português mostra que, muito mais que uma negociação bem sucedida, o importante é o que foi alcançado: “Treino para vida”. Como dito anteriormente, se não fossemos seres negociadores, nossa raça estaria extinta. Porém, devemos refletir não só em como negociamos, mas também o quê negociamos. Seria errado usar a manipulação para evitar uma guerra? E dizer que fomos honestos na negociação e os armamentos foram vendidos para os dois lados oponentes? Coach Carter nos faz pensar em como uma simples ação pode transformar a vida das pessoas. Faz-nos refletir que mesmo que tenhamos muitos contra nós, se estamos agindo de forma integra e honesta, devemos manter firme nossas decisões. Referências bibliográficas DO CARVALHAL, Eugenio. Negociação e administração de conflitos. Editora FGV, 2015. URY, William. Quer ser PhD em negociação?. WilliamUry, 2012. Disponível em: https://www.williamury.com/quer-ser-ph-d-em-negociacao/. Acesso em: 07 de julho de 2019. Coach Carter: Treino para a vida. Direção de Thomas Carter. EUA: Paramount Pictures, 2005.
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