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Simulação de Limitador de Corrente de Curto- Circuito Supercondutor do Tipo Resistivo em ATPDraw A. T. Queiroz1,2, T. S. Lessa, G. G. Sotelo, M. Z. Fortes 1 - Universidade Federal Fluminense, UFF Niterói, Brasil A. Polasek 2 - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, CEPEL Rio de Janeiro, Brasil Abstract - Since high-temperature superconductors were discovered, the potential of applications of Superconducting Fault Current Limiters (LCCS) in Power systems has been increasing. However, it´s necessary to understand how these devices will perform and impact the network, in order to specify them correctly. This paper shows a proposal of computational model made using the free software Alternative Transient Program (ATPDraw), which allows the simulation of LCCS in equivalent circuits of real power systems. The model considers the electrical and thermal phenomena that describes its behavior when a fault current occurs. Furthermore, the electrothermal analogy is applied to solve the coupling between these phenomena. The results were compared with real data, obtained by testing a prototype, and the computational simulations carried out by previous papers. The developed algorithm reached similar results to the references. It allows the usage of this model for simulating LCCS in electric power networks. Keywords - Superconducting Fault Current Limiter; Simulation; ATPDraw; Fault Current. I. INTRODUÇÃO Devido ao constante crescimento de demanda de potência, com a inserção de novas fontes de geração de energia, e o aumento de interconexões entre os pontos na rede de transmissão, há um consequente aumento do níveis de curto- circuito no sistema de energia elétrica [1]. Equipamentos localizados em subestações como transformadores de corrente, barramentos e disjuntores podem ficar superados em relação a esse novo cenário, fazendo-se necessária a recapacitação dos mesmos, o que pode ser operacionalmente e economicamente inviável [2]. Uma das alternativas adotadas para mitigar este aumento não previsto dos valores de falta é a aplicação de limitadores de corrente de curto-circuito, em sistemas de proteção elétrica da rede. O emprego destes dispositivos pode se apresentar como uma opção de menor impacto no fornecimento de energia, uma vez que possibilita a operação do sistema sem substituir os elementos superados. Os LCCS vêm se apresentando nos últimos anos como uma alternativa promissora. Dentre algumas vantagens, destacam-se a impedância desprezível durante operação normal, o rápido tempo de sensibilização e limitação das faltas, e a não necessidade de utilização de dispositivos auxiliares [3], [4]. Alguns modelos já foram testados e instalados em redes reais, para os níveis de distribuição (11 e 12 kVrms) e até transmissão (220 kVrms) [5], [6], [7]. De forma a analisar o comportamento destes novos dispositivos inseridos nos sistemas de potência, um estudo técnico se faz necessário a fim de avaliar o impacto e desempenho que estes LCCS podem trazer para a rede elétrica. Estudos preliminares, em geral, levam em consideração a modelagem matemática dos fenômenos físicos que regem seu comportamento, para posteriormente desenvolver modelos computacionais que possibilitem sua simulação. Neste artigo as simulações são comparadas a um componente LCCS similar aos utilizados em limitadores de corrente aplicados em média tensão no projeto ENSYSTROB [8] e [9], baseados em bobinas de fitas de segunda geração (2G) compostas pelo supercondutor YBa2Cu3O7-δ (YBCO). Para solução do acoplamento existente entre os fenômenos elétrico e térmico que regem o princípio de funcionamento deste dispositivo, foi utilizada a analogia eletrotérmica demonstrada nas referências [10] e [11]. O programa escolhido para simulação foi o Electromagnetic Transients Program (EMTP), através da interface gráfica ATPDraw. Este software livre permite a análise de transitórios deste dispositivo, assim como seus efeitos ao ser inserido em um circuito elétrico equivalente que simule uma rede elétrica. Além disso, esta ferramenta computacional disponibiliza a modelagem de elementos não convencionais por meio da linguagem de programação MODELS, que possibilitou a criação de um algoritmo para descrever o comportamento deste protótipo diante a determinados eventos do circuito. Os resultados obtidos neste trabalho foram comparados aos encontrados através de ensaios com um componente LCCS estudado em [11], assim como as simulações computacionais realizadas no mesmo trabalho, via Matrix Laboratory (MATLAB). Isto possibilitou validar o modelo proposto neste trabalho para simulações posteriores em circuitos que representem um sistema de energia elétrica, e analisar sua atuação diante as condições de curtos-circuitos. II. MODELAGEM DE LCCS A. Protótipo de LCCS A tecnologia utilizada para a construção do módulo LCCS testado em [11] é similar utilizada no projeto ENSYSTROB, pois ambos foram fabricados pela Nexans Superconductors. Os módulos limitadores utilizam fitas 2G YBCO do modelo SF12100 da SuperPower, ilustrada na Figura 1, que tem como características comprimento de 430 cm, largura de 1,2 cm, corrente crítica de 275 A para 77 K, temperatura crítica de 92 K, uma tensão máxima de 430 Vrms. Esta fita é composta basicamente de 5 camadas: Prata superior e inferior (responsáveis pela estabilização térmica e proteção da camada supercondutora); o supercondutor YBCO; camadas de Buffer (melhoram a aderência do material supercondutor ao substrato, entre outras funções); e o substrato de Hastelloy (minimiza os esforços mecânicos devido à contração térmica). Figura 1: Espessuras de cada camada da fita 2G YBCO modelo SF12100 da SuperPower. Adaptada de [11]. O protótipo consiste em 8 fitas 2G YBCO, sendo 4 fitas em paralelo na entrada conectadas com mais 4 fitas em paralelo na saída, por meio de uma resistência de contato, em um arranjo antiparalelo para compensar as perdas AC e diminuir o campo induzido pelas mesmas, conforme apresentado na Figura 2. A resistência shunt é conectada em paralelo com o arranjo de fitas e tem a finalidade de conduzir/limitar a corrente de falta após o supercondutor transitar para o estado normal, evitando a degradação da fita supercondutora por Efeito Joule. Figura 2: Arranjo da bobina de LCCS ensaiada em [11]. B. Equivalente Elétrico Para caracterizar o comportamento elétrico do limitador, primeiramente considera-se a fita 2G YBCO como um conjunto de 4 resistências variáveis em paralelo, que correspondem a cada camada, com exceção das camadas Buffer que tem seu efeito desprezado devido a sua pequena espessura. Cada resistência é enumerada de acordo com a camada (n), conforme a representação elétrica da Figura 3. Figura 3: Seção transversal da fita 2G YBCO e sua representação elétrica, composta por suas camadas. A resistência total do LCCS (Rtotal) é determinada através do arranjo de fitas utilizadas para limitação, em paralelo à resistência shunt (R5), conforme indicada na Figura 2, desprezando-se o valor da resistência de contato. Seu circuito equivalente é exibido na Figura 4. Figura 4: Circuito equivalendo do protótipo de LCCS. C. Equivalente Térmico Os trabalhos [10] e [11] aplicaram a analogia eletrotérmica para caracterizar as trocas térmicas, assim como a geração interna de calor que ocorre em cada camada da LCCS, durante uma condição de falta. O objetivo principal desta analogia é determinar a variação da resistividade elétrica, em relação à temperatura, para o supercondutor e os demais elementos que compõem o limitador. Considera-se que exista uma variação das temperaturas (Tn) unidirecionalmente (1D) aolongo das espessuras (en) de cada camada do LCCS, mostrada na Figura 5. Isto possibilita a determinação das temperaturas através da analogia entre a equação de condução de calor transiente 1D e a equação de linha de transmissão com parâmetros distribuídos, conforme demonstrado em [10]. Nesta figura, (TN) é a temperatura do nitrogênio líquido (77 K). Figura 5: Variação de temperatura no interior de uma seção transversal das camadas do LCCS. Esta configuração pode ser representada por meio de um circuito eletrotérmico equivalente, apresentado na Figura 6, no qual a fonte de tensão em corrente contínua, com o valor de 77 V, representa a temperatura do ambiente externo ao LCCS refrigerado por nitrogênio líquido a 77 K (VN). Figura 6: Circuito eletrotérmico da fita 2G YBCO e da resistência shunt. Esta representação por meio de circuitos elétricos possibilita as seguintes analogias entre: tensão (Vn) e temperatura; resistência de condução (Rcond n) e o inverso da condutância térmica; resistência de convecção (Rconv) e o inverso da transferência convectiva; capacitância (Can) e capacidade de armazenamento de calor; e fonte de corrente e taxa de fluxo de calor, relacionada à geração interna de calor e expressa em potência (Pn). III. SIMULAÇÃO A. Parâmetros para Simulação do LCCS Para determinar o comportamento do módulo limitador especificado em [11], ensaios foram realizados com o mesmo no Laboratório de Alta Corrente do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), no qual o LCCS foi submetido a determinados níveis de falta monofásica, por meio do circuito equivalente apresentado pela Figura 7. A resistência e reatância de controle do circuito 2, Rc e Xc, respectivamente, formam a impedância total que define o nível de corrente de curto-circuito ou corrente prospectiva (ipro), que se deseja aplicar no dispositivo limitador conectado ao circuito 3. Figura 7: Circuito equivalente utilizado para ensaio do LCCS. Adaptada de [11]. O ensaio, assim como a simulação computacional, foi configurado de acordo com os seguintes parâmetros do teste 3 descrito em [11]: tempo de falta de 60 ms; tensão de 200 Vrms; corrente de curto-circuito de 30 kArms; Rc de 0,52 mΩ; e Xc de 6,6 mΩ. O primeiro pico mensurado de ipro foi de 80,5 kApico e da corrente limitada (ilim) foi de 4,5 kApico, com picos subsequentes de aproximadamente 3 kApico, conforme indicado na Figura 8. Os resultados encontrados em simulações no MATLAB por [11] também são considerados para validação do modelo, ligados a variação da temperatura em cada camada e da resistência equivalente variável do LCCS (RLCCS), indicadas nas Figuras 9 e 10, respectivamente. É extremamente difícil medir essa variação de temperatura em testes, de modo que a sua previsão através de simulações se torna uma ferramenta importante para compreender o comportamento deste dispositivo. Figura 8: Comparação entre as correntes prospectiva e limitada obtidas experimentalmente. Adaptada de [11]. Figura 9: Variação da temperatura das camadas, obtidas via MATLAB. Adaptada de [11]. Figura 10: Variação da resistência equivalente do LCCS, obtida via simulação MATLAB. Adaptada de [11]. B. Algoritmo da Simulação Com base nas fundamentações citadas na seção II, assim como nos resultados mostrados na seção III, é possível descrever o comportamento elétrico e térmico do LCCS e desenvolver um modelo computacional que simule sua dinâmica de atuação, quando submetido a uma corrente de falta. A modelagem foi programada utilizando a ferramenta MODELS, e é descrita de acordo com a lógica apresentada no fluxograma da Figura 11. Este algoritmo controla RLCCS em função da corrente total que o atravessa, mensurada pela chave (Ch), ambos representados no circuito equivalente da Figura 12 que é utilizado para simulação no ATPDraw. Considera-se que o LCCS esteja em equilíbrio com a temperatura do nitrogênio líquido (77 K), sendo a tensão (V) do circuito de 200 Vrms (passo "01"). No instante igual a zero (t=0), uma corrente de curto-circuito com valor definido por Rc e Xc circulará através de RLCCS e Ch (passo "02"), conforme indicados na Figura 12, sendo esta última responsável por mensurar a corrente de falta (passo "03"). A partir dos dados de entrada (módulo das correntes de fase), a rotina programada no MODELS inicia o cálculo das resistividades e das resistências elétricas das camadas ou layers (passo "04"), com base na última temperatura atualizada (no caso inicial, 77 K). Com o valor da resistência equivalente do LCCS, determina-se a corrente que passa pela camada supercondutora, por meio de divisor de corrente. Devido a não linearidade da resistência do supercondutor, o método iterativo para estabilizar numericamente estes valores de corrente e resistividade é iniciado (passo "05"), conforme descrito em [11]. Figura 11: Fluxograma da rotina de simulação do LCCS programada no MODELS. Figura 12: Circuito equivalente utilizado para simulação do LCCS no ATPDraw. A próxima etapa (passo "06") realiza os cálculos dos parâmetros térmicos em função da temperatura atual (calor específico, condutividade térmica e coeficiente de transferência de calor por convecção), assim como os elementos referentes à analogia eletrotérmica (resistências por condução e convecção, e capacitâncias ligadas à capacidade térmica). Para determinação da geração interna de calor devido à passagem de corrente, realiza-se também o divisor de corrente nas demais camadas (passo "07"). Baseado no circuito eletrotérmico da Figura 6, atualiza-se as temperaturas das camadas, devido à passagem dessa corrente de falta (passo "08"). Finalizada a rotina, o valor de RLCCS é atualizado e o programa segue para a próxima etapa (t=t+dt), sendo o valor de passo (dt) definido pelo usuário (passo "09"). Se t for menor que o tempo de falta, estipulado inicialmente pelo usuário no (passo "01"), a rotina se repete a partir do (passo "03") até alcançar o valor do tempo de falta (passo "10"), finalizando a simulação. IV. RESULTADOS De acordo com os resultados expostos na seção III, é possível verificar as aproximações dos módulos e expressões gráficas que existem entre o modelo de [11] e o deste trabalho. As formas de onda das correntes ipro e ilim obtidas através da simulação no software ATPDraw são mostradas na Figura 13. A Figura 14 ilustra apenas a forma de onda de ilim, em uma escala menor para melhor visualização. Figura 13: Correntes prospectiva e limitada, obtida via simulação ATPDraw. Figura 14: Corrente limitada em escala menor, obtida via simulação ATPDraw. O primeiro pico de ipro foi de 76,2 kApico e de ilim igual a 4,9 kApico, com picos subsequentes próximos de 3,3 kApico, exibindo uma diferença de 5,34%, 8,9% e 10% em relação aos valores mensurado em teste real, respectivamente. A Figura 15 exibe a variação de RLCCS na ocorrência desta falta, simulada por este trabalho. Em [11], o valor total de RLCCS alcançado em 60 ms foi de 87,5 mΩ, e através do ATPDraw foi de 86,4 Ω, resultando em uma diferença de 1,26% entre os dois casos observados. Figura 15 - Variação da resistência equivalente do LCCS, obtida via simulação ATPDraw. A Figura 16 apresenta a variação de temperatura em cada camada, devida à passagem da corrente de curto-circuito pelos mesmos. Os dois casos comparados apresentaram valores próximos a 148 K para a resistência shunt (aço inox) e na faixa de 155 a 160 K para as demais camadas, em um tempo igual a 60 ms. Figura 16: Variação da temperatura das camadas, obtidas via ATPDraw. V. CONCLUSÃO Neste trabalho foi apresentado um modelo computacional de LCCS para simulações via ATPDraw, com oobjetivo de validar seus resultados em relação aos dados mesurados em ensaios. Além disso, considerou-se também as simulações realizadas em MATLAB, a fim de verificar as discrepâncias existentes entre os dois modelos propostos. De acordo com os resultados apresentados na seção IV, é possível afirmar que a modelagem proposta apresenta comportamentos semelhantes aos exibidos em ensaios e simulações encontradas na literatura, em relação aos módulos de corrente, temperatura e resistência do LCCS. A comparação entre os resultados obtidos mostram que o modelo pode ser aplicado para análise de transitórios, inserindo-o em circuitos elétricos que simulem casos de curtos-circuitos em sistemas de energia elétrica. AGRADECIMENTOS A. T. Queiroz gostaria de agradecer ao Rogério Azevedo pelo apoio nas simulações com o software ATPDraw. Também agradece ao Cepel pela bolsa de mestrado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] C. H. Kim, et al., “A numerical study on temperature increase in the resistive SFCL element due to the quench condition,” IEEE Transactions on Applied Superconductivity, vol. 16, no. 2, pp. 636-641, Junho 2006. [2] W. T. B. de Sousa, “Simulações e ensaios com limitadores de corrente de curto-circuito supercondutores do tipo resistivo,” dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Março 2011. [3] X. Yuan, et al, “Proof-of-concept prototype test results os superconducting fault current limiter for transmission-level applications,” IEEE Transactions on Applied Superconductivity, vol. 15, no. 2, pp. 1982-1985, Junho 2005. [4] A. Morandi, “State of the art of superconducting fault current limiters and their application to the electric power,” Elsevier Physica C, vol. 484, pp. 242-247, Março 2012. [5] D. Klaus, et al., “Superconducting fault current limiters - UK network trials live and limiting,” CIRED 22nd International Conference on Electricity Distribution, Estocolmo, no. 0285, pp. 1-4, Junho 2013. [6] A. Hobl, et al., “Superconducting fault current limiters - A new tool for the 'grid of the future',” CIRED 21st International Conference on Electricity Distribution, Lisboa, no. 0296, pp. 1-4, Maio 2012. [7] Y. Xin, et al., “Development of a 220 kV/300 MVA superconductive fault current limiter,” IOP - Superconductor Science and Tecnology, vol. 25, pp. 1-7, Agosto 2012. [8] S. Elschner, et al, “ENSYSTROB - Resistive fault current limiter based on coated conductors for medium voltage application,” IEEE Transactions on Applied Superconductivity, vol. 21, no. 3, pp. 1209- 1212, Junho 2011. [9] S. Elschner, et al., “ENSYSTROB - Design, manufacturing and test of a 3-phase resistive fault current limiter based on coated conductors for medium voltage application,” Elsevier Physica C, vol. 482, pp. 98-104, Maio 2012. [10] W.T.B. de Sousa, et al, “Thermal–electrical analogy for simulations of superconducting fault,” Elsevier - Cryogenics, vol. 62, pp. 97-109, Abril 2014. [11] W.T.B. de Sousa, “Transient simulations of superconducting fault current limiters,” tese de doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Março 2015.
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