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Resumo-Penal Especial-Aula 02-Crimes Contra o Patrimonio-Rafael Strano

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DEFENSORIA PÚBLICA 
CARREIRAS JURÍDICAS 
Damásio Educacional 
Disciplina: Direito Penal – Parte Especial 
 Professor: Rafael Strano 
Aula: 02 | Data: 18/08/2017 
 
 
ANOTAÇÃO DE AULA 
SUMÁRIO 
 
1.) Crimes Contra o Patrimônio 
1.5.1.2.) Sujeitos do Crime 
1.5.1.3.) Tipo Objetivo 
1.5.1.4.) Tipo Subjetivo 
a) Clandestinidade (de forma oculta à vítima)? 
b) Etapas (execução) 
c) O que é coisa alheia Móvel? 
d) E a coisa abandonada (art. 1263, CC/02)? 
e) E a coisa compartilhada (art. 156, CP/40)? 
f) Princípio da Insignificância 
g) Furto de Uso 
1.5.1.4.) Tipo Subjetivo 
1.5.1.5.) Tentativa e Consumação 
 
 
1.5.1.2.) Sujeitos do Crime (Continuação) 
- Possuidor: não comete furto, mas pode cometer apropriação indébita (art. 168, CP/40), caso inverta o título da 
posse que havia recebido de forma lícita. 
 
Art. 168, CP - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse 
ou a detenção: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 
 
 
- Detentor: comete furto, caso subtraia propriedade alheia, e.g. empregado doméstica, caseiro. 
 
 
 
 
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1.5.1.3.) Tipo Objetivo 
Subtrair significa retirar ou surrupiar. 
 
a) Clandestinidade (de forma oculta à vítima)? 
Furto não exige clandestinidade, pois pode ocorrer diante do olhar do possuidor/proprietário. 
 
b) Etapas (execução) 
-aprehensio: significa apreensão da coisa 
-amotio: deslocamento da coisa 
-ablatio: ocorre quando a coisa sai da esfera de disponibilidade da vítima 
 
c) O que é coisa alheia móvel? 
É toda substância corpórea suscetível de apreensão e transporte e que tenha valor relevante 
 
d) E a coisa abandonada (art. 1263, CC/02)? 
 
Art. 1.263, CC - Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo 
lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei. 
 
RESP.: atipicidade da conduta, pois o senhor desta não pode cometer fruto. Tese que não emplacou, pois é difícil 
comprovar que a coisa realmente não tinha dono. 
 
e) E a coisa compartilhada (art. 156, CP/40)? 
 
Art. 156, CP - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou 
para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. 
§ 1º - Somente se procede mediante representação. 
§ 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor 
não excede a quota a que tem direito o agente. 
 
Furto de coisa comum é de ação penal pública condicionada à representação. O crime ocorre quando o 
condômino, co-herdeiro ou sócio subtrai a coisa comum. 
 
 
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OBS.: não é punível a subtração de coisa comum fungível cujo valor não exceda a quota a que tem direito o 
agente. 
 
f) Princípio da Insignificância 
 
Antes de abordar sobre o referido princípio, é valido explicar sobre os 2 (dois) tipos de tipicidade: 
- Formal (subsunção do fato à norma). 
- Material (atingir de forma efetiva o bem jurídico). 
 
O princípio da insignificância nasce da noção que algumas condutas não atingem de forma efetiva o bem jurídico 
tutelado (tipicidade material); muito embora se subsumam a norma (tipicidade formal). Este princípio pertence à 
parte geral, pois se refere a um dos elementos do crime: tipicidade, e.g. no porte de drogas, pois aquela porção 
não ofende a sua saúde e saúde pública; crimes famélicos. 
 
Critérios utilizados pelo STF para aplicação do princípio da insignificância: 
- Mínima ofensividade da conduta do paciente 
- Ausência de periculosidade social da ação 
- Reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento 
- Inexpressividade da lesão jurídica provocada 
 
Para o professor Rafael Strano, a ocorrência do princípio da significância deveria estar condicionada apenas na 
não ofensa efetiva ao bem jurídico tutelado; pouco importando, os demais requisitos impostos pelo STF. 
 
Se for reincidente (ver os julgados Habeas Corpus nº 123734, 123533 e 123108)? 
Resp.: não impede o acolhimento do princípio da insignificância; porém isto fica a critério do magistrado. 
 
Habeas Corpus nº 123734, Minas Gerais 
Ementa: PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CRIME DE FURTO. 
RÉU PRIMÁRIO. QUALIFICAÇÃO POR ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO E 
ESCALADA. 1. A ausência de critérios claros quanto ao princípio da 
insignificância gera o risco de casuísmos prejudica a uniformização da 
jurisprudência e agrava a já precária situação do sistema carcerário – 
 
 
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que, de maneira geral, está superlotado e oferece condições 
degradantes. 2. O princípio da insignificância, em caso de furto, exclui 
a tipicidade material nas hipóteses em que não se identifique 
relevante desvalor da ação e/ou do resultado, embora a conduta seja 
formalmente típica. 3. A jurisprudência dominante do Supremo 
Tribunal Federal tem afastado a incidência do princípio da 
insignificância nos casos de reincidência e de furto qualificado (CP, 
art. 155, § 4º). 4. A circunstância de se tratar de réu reincidente ou 
de furto qualificado não deve, por si só, impedir a aplicação do 
princípio da insignificância, cujo afastamento deve ser objeto de 
motivação específica à luz das circunstâncias do caso (e.g., número 
de reincidências, especial reprovabilidade decorrente de 
qualificadoras etc.). 5. De todo modo, a caracterização da 
reincidência múltipla, para fins de afastamento do princípio da 
insignificância, exige a ocorrência de trânsito em julgado de decisões 
condenatórias anteriores, que devem ser referentes a crimes da 
mesma espécie. 6. Mesmo quando se afaste a insignificância por 
força da reincidência ou da qualificação do furto, o encarceramento 
do agente, como regra, constituirá sanção desproporcional, por 
inadequada, excessiva e geradora de malefícios superiores aos 
benefícios. 7. Como consequência, deve ser fixado regime inicial 
aberto domiciliar, substituindo-se, como regra, a pena privativa de 
liberdade por Cópia HC 123734 / MG restritiva de direitos, mesmo 
em se tratando de réu reincidente, admitida a regressão em caso de 
inobservância das condições impostas. Interpretação conforme a 
Constituição do Código Penal (arts. 33, § 2º, c; 44, II, III e § 3º) e da 
Lei de Execução Penal (art. 117). 8. No caso em exame, trata-se de 
tentativa de furto, qualificado por rompimento de obstáculo e 
escalada, de 15 (quinze) bombons caseiros, avaliados em R$ 30,00 
(trinta reais), por réu primário. 9. Ordem concedida de ofício para 
considerar atípica a conduta do paciente. 
 
 
 
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Habeas Corpus nº 123533, São Paulo 
Ementa: PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CRIME DE FURTO. 
REINCIDÊNCIA. QUALIFICAÇÃO PELO CONCURSO DE AGENTES. 1. A 
ausência de critérios claros quanto ao princípio da insignificância gera 
o risco de casuísmos, prejudica a uniformização da jurisprudência e 
agrava a já precária situação do sistema carcerário – que, de maneira 
geral, está superlotado e oferece condições degradantes. 2. O 
princípio da insignificância, em caso de furto, exclui a tipicidade 
material nas hipóteses em que não se identifique relevante desvalor 
da ação e/ou do resultado, embora a conduta seja formalmente 
típica. 3. A jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal 
tem afastado a incidência do princípio da insignificância nos casos de 
reincidência e de furto qualificado (CP, art. 155, § 4º). 4. A 
circunstância de se tratar de réu reincidente ou de furto qualificado 
não deve, por si só, impedir a aplicação do princípio da 
insignificância, cujo afastamento deve ser objeto de motivação 
específica à luz das circunstâncias do caso (e.g.,número de 
reincidências, especial reprovabilidade decorrente de qualificadoras 
etc.). 5. De todo modo, a caracterização da reincidência múltipla, 
para fins de afastamento do princípio da insignificância, exige a 
ocorrência de trânsito em julgado de decisões condenatórias 
anteriores, que devem ser referentes a crimes da mesma espécie. 6. 
Mesmo quando se afaste a insignificância por força da reincidência 
ou da qualificação do furto, o encarceramento do agente, como 
regra, constituirá sanção desproporcional, por inadequada, excessiva 
e geradora de malefícios superiores aos benefícios. Cópia HC 123533 
/ SP 7. Como consequência, deve ser fixado regime inicial aberto 
domiciliar, substituindo-se, como regra, a pena privativa de liberdade 
por restritiva de direitos, mesmo em se tratando de réu reincidente, 
admitida a regressão em caso de inobservância das condições 
impostas. Interpretação conforme a Constituição do Código Penal 
(arts. 33, § 2º, c; 44, II, III e § 3º) e da Lei de Execução Penal (art. 117). 
 
 
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8. No caso em exame, trata-se de tentativa de furto, qualificado por 
concurso de agentes, de dois sabonetes líquidos íntimos, avaliados 
em R$ 48,00 (quarenta e oito reais), por réus reincidentes, sem que 
haja informação quanto a se tratar de reincidência múltipla e 
específica. 9. Ordem concedida de ofício para considerar atípica a 
conduta da paciente, com extensão dos efeitos ao corréu. 
 
Habeas Corpus nº 123108, Minas Gerais 
Ementa: PENAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CRIME DE FURTO 
SIMPLES. REINCIDÊNCIA. 1. A ausência de critérios claros quanto ao 
princípio da insignificância gera o risco de casuísmos, prejudica a 
uniformização da jurisprudência e agrava a já precária situação do 
sistema carcerário – que, de maneira geral, está superlotado e 
oferece condições degradantes. 2. O princípio da insignificância, em 
caso de furto, exclui a tipicidade material nas hipóteses em que não 
se identifique relevante desvalor da ação e/ou do resultado, embora 
a conduta seja formalmente típica. 3. A jurisprudência dominante do 
Supremo Tribunal Federal tem afastado a incidência do princípio da 
insignificância nos casos de reincidência e de furto qualificado (CP, 
art. 155, § 4º). 4. A circunstância de se tratar de réu reincidente ou 
de furto qualificado não deve, por si só, impedir a aplicação do 
princípio da insignificância, cujo afastamento deve ser objeto de 
motivação específica à luz das circunstâncias do caso (e.g., número 
de reincidências, especial reprovabilidade decorrente de 
qualificadoras etc.). 5. De todo modo, a caracterização da 
reincidência múltipla, para fins de afastamento do princípio da 
insignificância, exige a ocorrência de trânsito em julgado de decisões 
condenatórias anteriores, que devem ser referentes a crimes da 
mesma espécie. 6. Mesmo quando se afaste a insignificância por 
força da reincidência ou da qualificação do furto, o encarceramento 
do agente, como regra, constituirá sanção desproporcional, por 
inadequada, excessiva e geradora de malefícios superiores aos 
 
 
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benefícios. 7. Como consequência, deve ser fixado regime inicial 
aberto domiciliar, substituindo-se, como regra, a pena privativa de 
liberdade por restritiva de direitos, mesmo em se tratando de réu 
reincidente, admitida Cópia HC 123108 / MG a regressão em caso de 
inobservância das condições impostas. Interpretação conforme a 
Constituição do Código Penal (arts. 33, § 2º, c; 44, II, III e § 3º) e da 
Lei de Execução Penal (art. 117). 8. No caso concreto, trata-se de 
furto simples de um par de sandálias, avaliado em R$ 16,00 
(dezesseis reais), por réu com duas condenações anteriores 
transitadas em julgado por crime de furto, o que não é capaz de 
afastar a aplicação do princípio da insignificância. 9. Ordem 
concedida para considerar atípica a conduta do paciente. 
 
E o valor afetivo? 
Resp.: não se aplica o princípio da insignificância para coisa com valor afetivo conforme o Informativo n. 639, STF. 
 
Princípio da insignificância e furto de prêmio artístico 
 
A 1ª Turma denegou habeas corpus em que requerido o trancamento 
de ação penal, ante a aplicação do princípio da insignificância, em 
favor de acusado pela suposta prática do crime de furto de quadro 
denominado “disco de ouro”. A defesa sustentava atipicidade da 
conduta, porque o bem possuiria valor apenas sentimental e teria 
sido restituído integralmente ao ofendido. De início, salientou-se que 
o acusado praticara o delito com invasão de domicílio e ruptura de 
barreira, o que demonstraria tanto a sua ousadia quanto o alto grau 
de reprovabilidade do seu comportamento. Aduziu-se que aquela 
conduta, por si só, não se enquadraria dentre os vetores que 
legitimariam a aplicabilidade do referido postulado. Asseverou-se, 
ainda, que o objeto subtraído seria dotado de valor inestimável para 
a vítima. Reputou-se não ter havido a restituição, porquanto o 
agente fora encontrado nas imediações do local do delito, logo após 
 
 
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a ocorrência deste. O Min. Luiz Fux acrescentou que a aplicação do 
princípio da bagatela deveria levar em conta o valor da res furtiva 
para o sujeito passivo do crime. Frisou que, no caso, o ofendido 
recebera a premiação do “disco de ouro” após muito esforço para se 
destacar no meio artístico. Logo, explicitou que não se poderia 
cogitar insignificante a conduta do acusado sob qualquer ângulo. 
 
g) Furto de Uso 
No CP/40 não é crime. O furto de uso é uma construção doutrinária, de acordo com a qual aquele que subtrai o 
bem, usa e devolve não comete crime. 
 
1.5.1.4.) Tipo Subjetivo 
É o dolo de subtrair coisa alheia móvel. Portanto, não há furto culposo. 
 
1.5.1.5.) Tentativa e Consumação 
 
OBS.: quanto às circunstâncias 
- Circunstância qualificadora se dá quando legislador estipula uma pena nova, e.g. furto qualificado - art. 155, § 
4º, CP/40. 
Art. 155, § 4º, CP - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, 
se o crime é cometido: 
I - Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; 
II - Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou 
destreza; 
III - com emprego de chave falsa; 
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. 
 
- Circunstância de causa de aumento e de diminuição (e.g. tráfico privilegiado, tentativa – art. 14, II, CP/40) será 
quando se tratar de fração. 
 
 
- Circunstância agravante (e.g. reincidência – arts. 61, I, 63 e 64, todos CP/40) ou atenuante (e.g. confissão – art. 
65, III, “d”, CP/40) não tem quantum. 
 
 
 
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Art. 14, II, CP - Tentado, quando, iniciada a execução, não se 
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa 
com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a 
dois terços. 
 
Art. 61, CP - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando 
não constituem ou qualificam o crime: 
I - A reincidência; 
 
Art. 63, CP - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo 
crime, depois de transitar em julgado a sentença que, no País ou no 
estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior. 
 
Para efeito de reincidência: 
I - Não prevalece a condenação anterior, se entre a data do 
cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver 
decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o 
período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se não 
ocorrer revogação; 
II - Não se consideram os crimes militares próprios e políticos.Art. 65, caput e inciso III, alínea “d”, CP - São circunstâncias que 
sempre atenuam a pena: 
d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do 
crime; 
 
Portanto, a tentativa é uma causa de diminuição de pena.

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