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Renato Brasileiro de Lima
Manual de
PROCESSO
PENAL
CON F O RM E
CPC
' VOLUME ÚNICO
5* Gdicão l r^vMd, atualizada e.irnpliada
2017
EDITORA
>PODIVM
No que tange à fixação da competência por prevenção nos órgãos colegiados dos Tribun *
Superiores, tem prevalecido na Suprema Corte a orientação de que a decisão monocrática H
Relator cm recurso não enseja a prevenção da Tunna que integra, se a este colcgiado o recurnn
não tiver sido submetido. Há de ser observada, assim, a norma contida no art. 69 do RJSTR
segundo a qual o conhecimento do mandado de segurança, do habeas corpits e do recurso civi
ou criminal torna prevenia a competência do Relator, para todos os recursos posteriores tant
na ação quanto na execução, referentes ao mesmo processo. Somente na impossibilidade á
aplicação dessa norma regimental (v.g.. nos casos de declaração de suspeiçào ou irnpedimentn
do relator, aposentadoria, saída do Tribunal), passa-se à incidência do art. 10 do RISTF (pre.
venção da Turma).
Portanlo, se um ministro do Supremo Tribunal Federal estiver prevento, eventual mudança
de Turma por parte desse ministro não terá o condão de afastar dele o julgamento de fatos deli-
tuosos para os quais esteja prevento. Essa prevenção do Relator no âmbito do Supremo somente
é possível devido à inexistência de turmas temáticas no âmbito do STF. o que, se existisse
alteraria a ordem de sucessão das regras de distribuição por prevenção/'5'1
O Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça tcrn norma semelhante á do art. 69
do RISTF. De acordo com o art. 71 do RISTJ, a distribuição do mandado de segurança, do
habeas cor/ius e do recurso torna prevenia a competência do relator para Iodos os recursos
posteriores, tanto na ação quanto na execução referentes ao mesmo processo: e a distribuição
do inquérito e da sindicância, bem como a realizada para efeito da concessão de fiança ou
de decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa,
prevenirá a da ação penai.
Logo. caso um Ministro do STJ mude da 5a para a 6J Turma (ambas integrantes da 3a Seção.
que tem competência penal), mantém-se prevento para os demais processos. No entanto, se a
mudança ocorrer para uma Seção que não seja dotada de competência criminal, a exemplo da
l1' Seção, que tem competência tributária, aplicar-se-á, subsidiariamente, a prevenção da Turma
à qual pertencia o referido Ministro, devendo seus processos ser redistribuídos ao Minis t ro que
v ier a ocupar sua cadeira.
CAPITULO VI
MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA
I. CONEXÃO E CONTINÊNCIA
1.1 . Introdução
Em determinadas circunstâncias, em vir tude da íntima ligação entre dois ou mais fatos deli-
tuosos, ou entre duas ou mais pessoas que praticaram um mesmo crime, apresenta-se conveniente
a reunião de todos eles cm um só processo, com julgamento único (simulltmeusprocessas). Além
de possibilitar a existência de um processo único, contribuindo para a celeridade e economia
uai a conexão e a continência permitem que o órgão jurisdicional tenha uma perfeita
-a do quadro probatório, e\, ademais, a existência de decisões contraditórias.1""1
exemplificando, suponha-se que um crime de receptação de veiculo automotor tenha sido
t'cado na cidade de Niterói/RJ. Atento ao disposto no art. 70 do CPP, temos que a competência
•« do juízo da Comarca da referida cidade. No entanto, se acaso restar demonstrado que 0
... já receptação tenha sido roubado na cidade do Rio de Janeiro, forçoso será reconhecer a
•ciência de conexão probatória entre os dois processos, na medida em que a prova do crime
, mubo influi decisivamente na prova do delito de receptação (CPP, art. 76. inciso III). Messe
o Juízo da cidade do Rio de Janeiro exercerá força atrativa, pois ao del i to de roubo é
comida pena mais grave (CPP, art. 78, inciso II , "a").
Não obstante dispor o art. 69, inciso V, do CPP, que a competência jur isdic ional será
Hpterminada pela conexão ou continência, tem-se que, em regra, tanto a conexão quanto a
continência não são critérios que fixam a competência. Funcionam, sim, como critérios que
alteram a competência. Eventualmente, no entanto, podem ser utili /adas para fixação inicial
da competência, desde que já se saiba antecipadamente que um processo está ligado a outro
previamente distribuído.'141
Vejamos o seguinte exemplo: cm uma comarea com duas varas criminais ("A" e "B"), o
Ministério Público oferece denúncia perante a Vara "A" em face de um indivíduo por ter praticado
um saque contra um estabelecimento comercial. Posteriormente, em razão de inquérito policial
diverso, distribuído à vara ''B", o Promotor de Justiça delibera pelo oferecimento de denúncia
em face de outro acusado, também pela prática de um crime patrimonial cometido no mesmo
lugar e na mesma hora que o delito anterior. Ora, nessa hipótese, ao oferecer a segunda peça
acusatória, deve o Parauel requerer a remessa do feito à vara "A", haja \ista a existência de
conexão inlersubjeliva por simultaneidade (CPP, art. 76, inciso 1. 1a parte). Nesse caso concreto,
terá funcionado a conexão como critério de iixação da competência.
Na medida em que a conexão e a continência funcionam como critérios de alteração da
competência, só poderão incidir sobre hipóteses de competência relativa. A propósito, consoante
disposto no art, 54 do novo CPC, subsidiariamente aplicável ao processo penal (CPP, art. 3"). l'o
competência relativa poderá modificar-se pela conexão ou pela continência, observado o dis-
posto nesta Seção". Relembre-se que a competência absoluta nào pode ser modificada, ou seja.
é inderrogávd. Exemplificando, como a competência da Justiça Mil i tar e da Justiça Fleitoral
prevista na Constituição Federal é estabelecida em ra/ão da matéria, espécie de competência
absoluta, ainda que haja conexão entre crimes mili tares e eleitorais, não será possível a reunião
dos feitos em um simultaneus pmcessus, impondo-se a separação dos feitos.
Não se admite, pois, que a conexão e a continência, regras de alteração da competência
previstas na legislação ordinária, possam produzir a alteração de regras de competência absoluta.
64Q Como adverte Pimenta Bueno, citado por Eduardo Espínola Filho, embora os crimes sejam diversos, desde que
sejam eles conexos entre si, haverá uma espécie de unidade estreita que não deve ser rompida Em suas palavras,
"todos os meios de acusação, defesa e convicção estão em completa dependência. Separar será dificultar os
esclarecimentos, enfraquecer as prcvas, e correr o risco de ter afinal senlenças dissonante1, ou contraditórias.
Sem o exame conjunto, e pelo contrário com investigações separadas, sem filiar todas as relações dos fatos,
como reconhecer a verdade em sua integridade, ou corno reproduzir tudo isso cm cada processo'1' (m Código
de Procedo Penal Brasileiro anctudo, v. 2. 3? ed. Rio ds Janeiro: Borso,, 1955 P. 135).
641 No sentirio do texto, Vicente Greto F'lho afirma que "é costume dizer que a conexão e a continência rncdificam a
competência. Essa aíirrnação, porém, somente é válida no que concerne à competência em abstrato, oj seja, PO
que têm origem em norma constitucional, com a finalidade precípua de proteção do interess
público na correia e adequada distribuição de Justiça. Como é o interesse público que determin
a criação dessa regra de competência, essa espécie de competência é indisponível às partes e S
impõe com lorça cogente ao juiz. Logo, não admite modificações, cuidando-se de urna cornne
tência improrrogável, imodificávcl.6j:
Em síntese: as regras de conexão são aplicáveis a causas que, em princípio, seriam exa-
minadas em separado e que, verificada a conexão entre os feitos, deve-se recorrer aos critérios
de modificação ou prorrogação das competéncías. Se incabíveis as regras niodificativas da
competência, as atribuições jurisdicionais originárias devem ser mantidas, porquanto a com-
petência absoluta nãose modifica ou prorroga. Logo. só se admite que a conexão possa alterar
competèncias de natureza relativa, tornando competente para o caso concreto juiz que não o
seria sem ela.64'
De acordo com a jurisprudência, eventual violação às regras que determinam a reunião dos
processos por conexão ou continência dará ensejo tão somente a uma nulidade relativa, cujo
reconhecimento fica condicionado à arguição ern momento oportuno, sob pena de preclusão
além da necessária comprovação de prejuí/o. Assim, a t í iu lo de ilustração, caso haja conexão
entre crimes de competência da Justiça Federal e Estadual, preceitua a súmula n° 122 do STJ
que deve prevalecer a competência da Just iça Federal. Não obstante, caso o crime estadual seja
processado e julgado perante a Justiça Hstadual, e o crime federal perante a Justiça Federal,
ambos os processos serão considerados válidos, efetuando-sc a soma das penas quando da
execução da pena.*44
Da leitura dos arts. 76 e 77 do CPP, depreende-se que a lei processual penal trata das
hipóteses de unidade de processos, deixando de fazer qualquer menção ao inquérito policial .
Logo. ainda que haja conexão e continência entre infraçòes penais, nada impede que inquéritos
pol ic ia i s instaurados por autoridades policiais distintas possam prosseguir normalmente, sem
necessidade de reunião das investigações. Obviamente, caso a reunião dos procedimentos in-
\estigatorios em um só seja útil ao esclareci mento dos fatos, pensamos ser possível a unificação
dos procedimentos investigatórios mediante autori/ação judicial , ouvido previamente o órgão
do Ministério Público.M;
1.2. Conexão
A conexão pode ser compreendida como o nexo, a dependência reciproca que dois ou
mais talos delituosos guardam entre si, recomendando a reunião de todos eles em um mesma
processo penal, perante o mesmo órgão jur i sd ie iona l , a fim de que este tenha uma perfeita visão
do quadro probatório.
6-12 Nessa linha, como destaca Mana .úcia Karam, "quando em confronto com regra constitucional iobre compe-
tência, a conexidade de causas deixa de ser fator determinante da competcncia, não podendo levar à reunião
das ações. Aqui, a atuação de órgãos jurisdicionais diversos, em diferentes processos, irá decorrer de imposição
do próprio texto constitucional, a necessariamente resultar r-a consideração isolada das causas", (op cit. p- 97).
643 Com esse raciocínio: STF, 2* Turma, HC 9S.291/RJ, Rei Min. Cezar Peluso, Dje 232 04/12/2008
644 No sentido de ser relativa a nulidade decorrente da incompetência de juízo, por conexão ou continência1 STF, 2-
Turma, HC 74.470/RJ, Rei. Mm. Maurício Corrêa, D) 28/02/1997. No meimo prisma: STF, 2S Turma, HC 9645Í/
MS, Rei. Mm. Ellen Gtacie, Dje 216 13/11/2008.
645 Com esse entendimento TRF4, CC 2002.04.01 054445-5, fiel. Vladimir Freitas, 4^ Secão, DJU 07/05/03
r que os fatos sejam julgados por um só magistrado, com base no mesmo substrato
robatório. evitando o surgimento de decisões contraditórias. Portanto, a conexão provoca a
njg0 de acoes penais num mesmo processo, funcionando como causa de modificação da
mnetência relativa mediante a prorrogação de competência.
São espécies de conexão, segundo o rol taxativo do art. 76 do CPP:
a) conexão intersubjetiva: envolve vários crimes e várias pessoas obrigatoriamente. Lago.
várias pessoas praticarem um único delito, não haverá conexão, mas sim continência por
cumulação subjetiva (CPP, art. 77, inciso 1). Em se tratando de conexão intersubjetiva, pouco
importa se as várias pessoas estão reunidas em coautoria ou se os deli tos são praticados por
reciprocidade. São subespécies de conexão intersubjetiva:
a.i) conexão intersubjetiva por simultaneidade (conexão subjetho-objetiva ou conexão
intersubjetiva ocasional: duas ou mais infracões são praticadas ao mesmo tempo, por div ersas
pessoas ocasionalmente reunidas (sem intenção de reunião), aproveitando-se das mesmas cir-
cunstâncias de tempo e de local (CPP, art. 76, !. 1J parte). O melhor exemplo talvez seja o de
diversos torcedores depredando urn estádio, ou o de um saque simultâneo a um supermercado,
cometido por várias pessoas que nem se conhecem;
a.2) conexão intersubjetiva por concurso (ou concursal): ocorre quando duas ou mais
infracões tiverem sido cometidas por várias pessoas em concurso, ainda que em tempo e local
diversos (CPP. art. 76,1, 2a parte). Nessa hipótese de conexão, c indiferente se as inírações fo-
ram praticadas em tempos diferentes. A título exemplificalivo. suponha-se a existência de três
indivíduos que tenham praticado quatro crimes de roubo no intervalo de dois meses. Haverá
conexão intersubjetiva por concurso entre os 04 (quatro) crimes de roubo praticados pelos
agentes, devendo todos eles responder pelos crimes cm um único processo, salvo existência de
causa impeditiva (v.g., um dos roubos ser crime militar);
a.3) conexão intersubjetiva por reciprocidade: ocorre quando duas ou mais infracões
tiverem sido cometidas por diversas pessoas umas contra as outras (CPP, art. 76,1. parte finai).
Por exemplo, dois grupos rivais combinam entre si uma briga em determinado ponto da cidade,
hipótese em que os diversos crimes cie lesões corporais estarão vinculados em razão da conexão
inlersubjetiva por reciprocidade. Como a conexão intersubjetiva demanda a presença de duas
ou mais infracões vinculadas, não se pode citar o delito de rixa como um de seus exemplos.
pois ai haverá crime único.
b) conexão objetiva, lógica ou material ou Ideológica: quando um crime ocorre paia
faci l i tar a execução do outro (conexão ob j e t i va ideológica) - ex: mala o segurança para faci-
litar o sequestro da vítima -, ou um para ocul tar o outro, ou um para garantir a impunidade ou
\antagem do outro (conexão objet i \ eonsequencial) -- e\ estupra a v i t ima e. um mês depois.
mata a única testemunha do fato, de modo a e l im ina r as provas do crime (CPP, art. 76. inciso
II ) . Como o inciso II menciona expressamente ''se. no mesmo ov.vfi, houverem sido praticadas",
há dotttrinadorcs que entendem que. também nesta hipótese de conexão, exige-se a presença de
várias pessoas. Mesmo caso significaria a existência de várias pessoas, lal qual o exige o inciso
I do art. 76 do CPP. Preferimos fazer uma Interpretação extensiva desse dispositivo, no sentido
de que no mesmo aiso significa ocorrendo duas ou mais infracões penais, e não necessariamente
várias pessoas.
c) conexão instrumental, probatória ou processual: quando a prova de um crime int luen-
cia na existência do outro (CPP. art 76. 111). Nole-se que. para a existência de conexão proba-
l°ria, não há qualquer exigência de relação de tempo e espaço entre os dois delitos. Basta que
566 MANUAL DE PROCESSO PENAL - Renato Brasileiro de Lima
a prova de um crime tenha capacidade para influir na prova de outro delito. O exemplo semnrp
citado pela doutrina é a prova do crime de furto auxiliando na prova do delito de receptaçãry
ou do delito de destruição de cadáver em que o de cajus foi vitima de homicídio, afigurando-íe
necessário a prova da ocorrência da morte da vítima, ou seja, de que foi destruído um cadáver
Outro exemplo bern atual é o da prova da infração antecedente auxiliando na prova do delito
de lavagem de capitais.
1.3. Continência
Configura-se a continência quando uma demanda, em face de seus elementos (partes, pedido
e causa de pedir), estiver contida em outra.*46 Cuida-se, pois, de "um vinculo jurídico entre duas
ou mais pessoas, ou entre dois ou mais fatos delitivos, de forma análoga a continente e conteúdo
de tal modo que um fato delitivo contém as duas ou rnais pessoas, ou uma conduta humana
contém dois ou mais fatos delitivos, tendo como consequência jurídica, salvo causa impeditiva
a reunião das duas ou mais pessoas, ou dos dois ou mais fatos delitivos, em um único processo
penal, perante o mesmo órgão jurisdicional".'9'7
Vejamos as espécies de continência:
a) Continênciapor cumulação subjctíva ou continência subjetiva: prevista no art. 11
inciso l, do CPP, ocorre quando duas ou mais pessoas são acusadas peia mesma infração penal
- ó o que ocorre no concurso eventual de pessoas (art. 29 do Cl'} e no concurso necessário de
pessoas (crimes plurissubjetivos). Atente-se para a diferença entre a conexão intersuhjetiva e a
continência subjetiva: na conexão, são vários crimes e várias pessoas; na continência, são várias
pessoas e um único crime. Como exemplo de continência por cumulação subjetiva, imagine-se
um crime de homicídio praticado por dois agentes;6"8
b) Continência por cumulação objetiva: prevista no art. 11, inciso II, do CPP. ocorre
nas hipóteses de concurso formal de crimes (CP, art. 70), aberrado icins ou erro na execução
(CP, art. 73, segunda parte), c abeirado de/icti ou resultado diverso do pretendido (CP, art. 74,
segunda parte). O concurso formal consiste na prática de uma única ação ou omissão pelo agente,
provocando a reali/ação de dois ou mais crimes. O art. 73. segunda parte, do CP determina a
aplicação da regra do concurso formal quando o agente, por acidente ou erro no uso dos meios
de execução, além de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa. De sua parte,
o art. 74, segunda parte, do CP, também prevê a aplicação do concurso formal, quando o agente.
por erro na execução, atinge não somente o resultado desejado, mas ainda outro, além de sua
cxpcctatha iniciai (ex: visando atingir uma \ i t r i n e de uma loja com uma pedra, o agente acaba
também acertando um vendedor do estabelecimento comercial).
646 CPC, art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais acões sempre que há identidade quanto às partes e à
causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras. Dispositivo semelhante a esta
consta do art. 56 do novo CPC. Segundo Pacelli, "não há na continência processual penal, com efeito, nenhuma
relação de continente para conteúdo e tampouco identidade de partes, rernanescendo apenas, do paradigma
do processo civil (art. 104, CPC], a identidade de causa de pedir." (op. cit. p. 255).
647 FEITOZA, Denilson. Op cit. p. 343.
643 Ensina Hélio Tornaghi (apud NLJCCI, op. cit. p. 290) que, havendo vários fatos, mas a prática de um só delito
(como ocorre nos CDSOS de crime continuado, crime progressivo, crime plurissubsistente), temos a hipótese de
crime único; existindo vários fatos, embora detecte-se o cometimento de inúmeros delitos, desde que haja,
enire eles, elementos em comum, temos a conexão; havendo fato único, porém com a prática de vários crimes,
aponta-se para a continência.
TÍTULO 4 . COMPETÊNCIA CRIMINAL 567
Perceba-se que, nas hipóteses de crime continuado, a competência não será determinada
nela conexão, nem tampouco pela continência, mas sim pela prevenção, nos cxatos termos do
art.71doCPP.w
l 4. Efeitos da conexão e da continência
Trabalhados os conceitos e espécies de conexão e de continência, importa analisar seus
efeitos jurídicos:
1) processo e julgamento único (simulíaneut processas): dispõe o art. 79 do CPP que a
conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo no concurso entre a
jurisdição comum e a militar, ou no concurso entre a jurisdição comum c a do juízo de menores.
Essa modificação de competência não viola a garantia do juiz natural; Não viola as garantias do
ntiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a alração por cominem ia ou conexão
do processo do correu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados (Súmula
704 do STF). Caso haja conexão e continência entre crimes de ação penal pública e privada,
estabelecer-se-á litisconsórdo ativo entre o Ministério Público e o t i tu lar áojits querdandi.
2) força atrativa (fórum attractionis ou vis attractiva): o juízo competente vai trazer
para si o processo e julgamento único. Tem-se aí uma hipótese de prorrogação de competência,
tornando-se competente o juízo que, em abstrato, não o seria, caso se levasse cm consideração
o lugar da infração, o domicílio do réu, a natureza da infração e a distribuição. Seu efeito é a
sujeição dos acusados ou dos diversos fatos delituosos a um só juízo, a fim de serem julgados
por uma única sentença, sem que disso resulte qualquer alteração da natureza das infraçõcs
penais cometidas.
Em relação à avocatória, dispõe o art. 82 do CPP: "se, não obstante a conexão ou continên-
cia, forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar
os processos que corram perante outros juizes, salvo se já estiverem com sentença definitiva.
Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de
unificação de penas".
Se um dos processos já foi sentenciado, não mais haverá razão para a reunião dos pro-
cessos, na medida em que o objetivo maior da conexão/continência -- simultaneits processas
como fator de produção probatória mais eficaz e de se evitar julgamentos conflituosos - não
mais será passível de ser atingido. Nessa linha, dispõe a súmula n" 235 do STJ que a conexão
não determina a reunião cios processos, se um deles já foi julgado. Quando a súmula diz "já
foi julgado", de modo algum se refere à decisão com trânsito em julgado. Ma verdade, quando
o art. 82 do CPP diz sentença definitiva, refere-sc á decisão de mérito recorrível que comporta
apelação, e não à sentença com trânsito em julgado/1'1'
Perceba-se que o próprio Código de Processo Penal, em outro passo, ulil iza-sc da expressão
sentença definitiva sem que esta pressuponha o trânsito cm julgado, dando demonstrativo de que
seu uso se refere à sentença que ainda é recorrível. É o que se nota no art. 593. I, do CPP. que
preceitua caber apelação (logo. inexistente ainda o trânsito em julgado) das sentenças definitivas
de condenação ou absolvição.
649 para mais detalhes, vide acima item relativo à competência por prevenção
550 No sentido de que a expressão sentença definitiva contida no art. 82 do CPP não exige que tenha ela transitado
em julgado, mas, simplesmente, que tenha sido lavrada, independentemente de pender julgamento de recurvo
nterposto: STF, 23- Turma, HC 74.470/RJ, Rei Min. Maurício Corrêa, DJ 2S/Q2/1997
566 MANUAL DE PROCESSO PENAL - Henoro Bmvleim ae Limo
Caso já haja sentença definitiva, a unidade dos processos somente se dará posteriormente
para o efeito de soma (concurso material e formal impróprio) ou de unificação de penas (con
curso formal próprio e crime continuado)."í;
Essa soma ou unificação das penas do condenado ficará a cargo do ju i / da execução pena]
assim coino preceitua o art. 66, I I I . "a", da Lei de Execução Penal (Lei n" 7.210/84) . A cornpg'
tenda para soma ou unificação de penas infligidas porjui/os de Estados diversos é do juí /ode
execução criminal do Estado em que está recolhido o condenado.
Sc o juiz prevalente avocar o processo ern curso perante o outro jui / e este se recusar a
entregar os autos do processo, estará caracteri/ado um conflito positivo de competência, na
medida em que ambos os juí/es se consideram competentes (CPP, art. 114, inciso H).
Por fim, como importante efeito da conexão e da continência, não se pode olvidar que. de
acordo com o art. 117. § l", do Código Penal, exceruados os casos dos incisos V e VI do referido
artigo ( i n i c i o ou continuação do cumprimento da pena e reincidência, respecti\. a interrup-
ção da prescrição produz efe i tos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos
que sejam ohjeto de mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a qualquer deles.
Como se vê, em virtude da conexão e da continência, haverá a unidade de processos (íí-
miitidncia processiiv, daí por que é necessário que a lei determine qual será o foro competente
para apreciar os fatos \jomm aitractioni<,i. Vejamos, então, qual juí/o exercerá força atrat i \a .
1.5. Foro prevalente
7.5.7. Competênciaprevalente do Tribunal do Júri
Cuidando-se de conexão e continência entre crime comum c crime da competência do jú r i .
quem exercerá força a t ra t i \ é o júri. de acordo com o art. 78, inciso I. do (.'PP. Ex: estupro e
homicídio cometidos em conexão. Ambos os delitos serão julgados pelo tr ibunal do júri, pouco
importando se ambos os crimes foram cometidos na mesma comarca ou no mesmo Estado da
Federação.
No entanto, se o crime conexo for mi l i t a r , deverá ocorrer a separação de processos, na
medida cm que ambas as competências estão previstas na Constituição Federal a do Tribuna!
do Júr i para o julgamento de crimes dolosos contra a vida, e ;i da Justiça M i l i t a r para o ju lga-
mento dos crimes mi l i t a res iCPP. art. 7lí, inciso 1: CPPM. art 102. "a"). Imagine-se a hipótese
de determinado agente i n v a d i r um quartel das forças Armadas, e de lá subt ra i r uma arma de
fogo. posteriormente u l i l i / ada pura o cometimento do homicídio de um desafclo Nessa hipóloe,
caberá á Jus t i ça Mi l i ta r o julgamento do crime patr imonial (lembre-se: a Justiça Mi l i t a r da l "mão,
ao contrário da Just iça M i l i t a r dos Estados, tem competência para processar e ju lgar c i v i s ) , ao
passo que ao Tribunal do J ú r i caberá o ju lgamento do crime de homicídio
Ao ampl ia r a competência do Tribunal do jú r i para processar e j u l g a r as infracões pen.ns
conexas e or ig inár ias da continência, a lei processual penal não malfere a Cons t i tu ição Fedeuil.
pois esta, na verdade, estabelece uma competência mínima do Júr i para o ju lgamen to dos crimes
dolosos contra u vida (CF. art. 5", XXXV I I I , "d"), o que. todavia, não impede que lei ordinária
possa ampl ia r sua competência.
Se. porventura, essa inflação conexa a um crime doloso contra a v ida for descobena apôs
a prolação (ia p ronúnc ia , pensamos ser possível a aplicação analógica do disposto no art . 421 .
c i" do CPP, segundo o qual, ainda que preclma LI decisão de pronúncia, havendo circunslân-
• eupenenienle que altere a classificação do crime, o jui- ordenará a remessa dos autos ao
ii-mstério Público. Nessas circunslâncias. poderá o Parque/ aditar a denúncia, oportunizando-se
oitiva da defesa, para que. afinal, possa o juiz prolatar nova decisão de pronúncia, desta feita
Ihcndo as infracões conexas ou continentes,
1.5.2. Jurisdições distintas
l í 2.1. Concurso entre a jurisdição comum e a especial
No concurso entre a jurisdição comum e a especial ( ressalvada a Justiça Mi l i t a r - CPP.
art 79. inciso l), prevalece a especial (CPP, art. 78, inciso IV). Logo, easo um crime eleitoral
seia conexo a um crime comum de competência da Justiça Estadual, prevalece a competência
da Justiça Eleitoral para julgar ambos os delitos.
Como visto ao tratarmos da competência da Justiça Eleitoral, essa força atrativa da Justiça
Eleitoral limita-se aos crimes de competência da Justiça Comum Estadual, Apesar de haver
julgado antigo da Suprema Corte afirmando a competência da Justiça Eleitoral para julgar os
crimes eleitorais e também as infracões conexas, ainda que de competência da Justiça Federal,657
somos levados a acreditar que. na medida em que a competência da Justiça Federal vem preesta-
belecida na própria Constituição Federal, não poderia ser colocada em segundo plano por força
da conexão e da continência, normas de alteração de competência prev istas em lei ordinária. Há
precedente do Superior Tribunal de Justiça corroborando nossa posição.""'
Mulaiis mutandis, a Justiça Eleitoral lambem não exercerá força a l ra t iva em relação a
eventuais crimes militares que estejam ligados a um crime eleitoral por força da conexão ou
da continência, na medida em que a competência da Just iça Mi l i t a r lambem foi ressalvada pela
Constituição Federal.
Por sua vê/, se o crime eleitoral estiver conexo a um crime doloso contra a vida. deve
ocorrer a separação de processos, pois ambas as compeicneías deri\m da Constituição Federal.
Destarte, à Justiça Eleitoral caberá o processo e julgamento do crime elei toral: ao Tribunal do
Júr i , o crime doloso contra a \ ida .
1.5.2.2. Concurso entre órgãos de jurisdição \upcrwr e inferior
No concutso de jurisdições de diversas categorias, predomina a de maior graduação (CPP.
an. 78. ÍHC Í - - 0 M l ) . Exemplificando, se um crime de furto for praticado em concurso de agentes
por um prefeito munic ipal , cuja competência or ig inár ia é do" !nbu iKi l de Justiça, e por um cidadão
que não seja t i t u l a r de foro por prerrogativa de função, cu jo j u i / natura l sena um j u i / de direi to.
prevalece a competência do Tribunal de Jus t iça para julgar ambos em virtude da continência
por cumulação sub jc t iva . Nesse sentido, aliás, dispõe a súmula 7(1-1 do S ff que não viola m
garanti j \o nu: ntiutral. Já ciinvlt i defesa c do i lenido /i,"t>:t 'v<j Ic^al ti aimt,'ão [>//r continência
ou conexão tio [miiStso tio i. onvii ao foro j'i>r i>i\-i'i'o<^Litr.\i Jc /im^ào Jc uni d<>\
Conquanto esse siinnltancm processti* perante o I r i buna l de Justiça esteja jus t i f icado pela
continência. \ a le ressaltar que não se trata de regra cogentc, obngalória, na medida em que é
possível que o relator do processo repute conveniente a separação dos processos, lá/endo-o por
intermédio da regra do art. 80 do CPP.
570 MANUAL DE PROCESSO PENAL - fienaio Brasileiro de Lima
1.5.2.3. Concurso entre a Justiça Federal e a Estadual
Havendo conexão entre crimes de competência da Justiça Federal e da Justiça Kstadual
prevalece a competência da Justiça Federal. H exatamente esse o conteúdo da súmula n" pi
do STJ: Campeie à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexo*, de
competência federal c estadual, não st' aplicando a regra do art. 78, II. ti, do Código de /V0.
cesso l\'nal.''14
í,5.3. Jurisdições da mesma categoria
Apesar de o art. 78, inciso II. do C PP. fazer menção ao "concurso de jurisdições da mesma
categoria", dando uma ideia de que existiriam duas ou mais jurisdições, cumpre lembrar que a
jurisdição, como função estatal de aplicação do direito obj clivo ao caso concreto, é una (prin-
cípio da unidade da jurisdição). Por conseguinte, apesar de ser tecnicamente errado falar-se crn
"jurisdições", quando a lei assim o ta/ \a á diferenciação entre as diversas justiças (comum
especial; federal, estadual) ou entre jui/es de primeiro grau e t r ibunais .
Especificamente no tocante à expressão jurisdição da mesma categoria constante do art
78. inciso I I , do CPP. refere-se a lei processual aos magistrados com competência para ju lga r
o mesmo tipo de infraeõe-s penais (ex.: entre Juizes de Direito, entre Juizes Federais). Kntre
esses jui/es, pode ha\er um conflito quanto ao juízo prcvalente, aplicando-se, então, as rcuras
enumeradas no referido inciso. Util i /ando o clássico exemplo da conexão probatória entre um
crime de furto c outro de receptação. delitos estes que foram in\s em delegacias diversas,
e dis t r ibuídos a juízos diversos, ainda que numa mesma comarca, devemo-nos perquir ir acerca
do juí/o que exercerá força atrativa. Vejamos, pois, as regras a serem aplicadas:
a) força atrativa do juízo da comarca em que t h cr sido praticado o delito mais gra-
ve: face o disposto no art. ""S. II. "a", do t'PP, havendo conexão probatória entre um crime de
roubo, praticado na Comarca "A", c um delito de receplaeão, cometido na comarca "li". deve
preponderar o juí/o da comarca "A". Perceba-se que, mesmo que quatro delitos de rcccptação
tenham sido cometidos na comarca ''B", a inda assim prevalece a competência do Jui?o da Co-
marca "Y1, pois o del i to de roubo a l i praticado possui pena mais grave."'"
CorNÍdcra-sc a pena mais gra\ a p r i v a t i v a de liberdade, depois as pmalivas e r e s t r i t i vas
de direitos e. por fim, a-, penas pecuniárias. Hntre as penas privativas de liberdade, a mais gra\
é a reclusão,seguida da detenção e da prisão simples. Km cada uma delas, a maior gravidade
será determinada pela duração ou quantidade. Considera m-se sempre as penas como cominadas
uhstralamente para os c r imes que são objelo de conexão e cont inência . Adernai'., h avendo um
crime com pena de reclusão Je l a 6 anos c outro de reclusão de 2 a 4 anos. a i n f r açào com pena
mais grave é aquela em que a pena máx ima cominada é a mais alta. e não a que possui maior
pena mín ima . O legislador permitiu cominar sanção mais a l i a a determinado delito porque p re \ i t i
hipóteses em que a conduta ocorre sob part icular idades de maior reprovabil idade. ra/ão pela
qual essa de \e . cm abstraio, ser entendida como a rn;u> giave. Se as penas máximas cominadas
forem iguais. de\ prevalecer, para atrair a competência, a mfração de maior pena mínima;" '
654 PJIJ m.jis detalhes acerca do assunto, vide tópií o pertinente à competência da Just iça federal.
65í> Como já dei idiu o STl, "A pena cominada para o cnrne de falsificado de documenta público é rrais grave do que a
freviitíi p.íra oeite ' ior-atoc ps'.ia faliificacão df documento partci.lj' Logo. deve preponòfrjr o local ds cO'i^r'"-í
clj do ir me de fals f.cdçít; de Jocj-nen:o pub iço. por apl icação d.i regra do artigo 7S, l!, a do Cód'go d;l ?;&("•'-
PL'-,al"(STt-CCS(.4l<)/GO 3íSecão-Hí>; Min Maria Thereza ;b Assis Moura - L)J 27/0')/?007 p ??"<)
656 C-messccntendimíT.tí í STJ, B^Turma, HC l'JO V56/R5, Rei. Min I ju r i taVaz , j 2'í/\íí/'M\'J [m mentido contra-
rio, entendendo quf> mfrjçúo mais grave í? aquela com a pena mininu mais elevad.s MIPAÍifTE, Júlio Fiil;b;mi
Prnrf,™ penal :S? di S,1o Piu'cr Atlas, 2006, p 171. F ainda IOPFS JÚNIOR An fy Op ci!. p 451.
TITULO 4 • COMPETÊNCIA CRIMINAL 571
M força atrativa do juízo do local do maior número de infrações, se as penas forem
, igual gravidade: suponha que quatro crimes de furto simples tenham sido cometidos na
marca "A", enquanto o processo relativo à receptação dos ubjeíos furtados esteja tramitando
iunio à Comarca "B". Nesse caso. como a pena do furto simples é idêntica à da receptação
simples, o juízo competente será determinado com base no local onde foi praticado o maior
número de infrações (leia-se: na comarca "A"), haja vista que aí foi produzida maior per-
turbação à comunidade;
c) se a gravidade do delilo for igual e o número igual, a competência firma-se
nela prevenção: caso nenhum dos dois cr i té r ios anteriores gra\e do de l i to e rnaior
número de infrações -- seja suficiente para se estabelecer o ju i /o prevalente. firmar-se-á a
competência com base na prevenção, a qual geralmente funciona como cr i tér io subsidiário
de fixação de competência. Não se pode confundir a fixação da competência pela prevenção
do art. 75 do CPP, que trata de varas com idênt ica competência (\ .g. , varas c r im ina i s comuns
de determinada comarca), com a situação do art . "S. II. "c", do CPP. que trata de definição
do critério de atração em havendo conexão de infrações penais o r ig ina r iamente t ramitando
perante varas distintas.
Para fac i l i ta r a compreensão, pedimos vénia para transcrever didático case siudy tra-
zido por Aury Lopes Jr.: "João. Mane e Bráu l i o . previamente ajustados, subtraem em Porto
Alegre três veículos com os quais, na cidade gaúcha de Guaiba. cometem um roubo a banco,
atingindo na fuga um po l i c i a l mil i tar que reagiu, causando-lhe a morte. No outro dia. na
cidade de São Lourcnço, abordam um rapa/ e, para subtrair o ve ícu lo que ele conduzia, o
matam. Finalmente, semanas após, em Camaquã, são preso* em cumprimento de mandado
de prisão preventiva decretada pelo ju iz estadual de São Lourenco (todas a* cidades estão
no mesmo Hstado). No momento da prisão, também é lavrado o flagrante pelo porte de
800g de maconha, comprada com o d inhei ro do roubo e dest inada a venda. O flagrante é
homologado e. de/ dias depois, o juiz de d i re i to da comarca de Camaquã recebe- a denúncia
por tráfico de substância entorpecente. ( . . . ) Vejamos a solução do easo: a) existe conexão
in t e r sub j e t i va concursal. a r t . ^6, !. devendo todos os crimes e pessoas ser reunidos para i u l -
garnento simultâneo: h) João. Mane e Bráulio serão julgados, por iodos os delitos, na Justiça
Comum Hstadual . Atenção não e de competência da Jus t iça Mi l i t a r Estadual , a i nda que um
dos crimes tenha sido cometido contra m i l i t a r , pois a Jus t i ça M i l i t a r Estadual nunca j u lga
c i v i l , só mi l i t a res (art . 125. f; 4". da Cons t i t u i ç ão ) ; c) os crimes praticados são: fur to (ar t .
155). dois latrocínios (art. l 5"', ^ l1' e 3") e t raf ico de subs tânc ia - entorpecentes ( a r t . 33 d,i
Lei n'' 11.343). Não lia crime de homicitijn, mas sim de taliocinio (roubo impróprio, pois
a V i o l ê n c i a é empregada após a suhtração paru as>egurar a pns-e ou impun i d a d e ) , por Kso
serão julgados pelo Jui/ de Direi to e não pelo l r i h u n a l do J ú r i . Sc. ao i n \s de l a t r o c í n i o ,
fosse homic íd io , a si tuação se alteraria eomplclanienle, sendo todos os fatos c réus julgados
no t r i buna l do j ú r i ; d) quanto ;:o toro. será competente o j u i / da Comarca de São Lourenvo.
local da infracào mais g rave ( l a t r o c í n i o ) , a i t . "S. I I . "a", o prcwr.to ( a r t . ~S. II , V), tx i s te
um 'empate' no c r i té r io loca l da infração mais gni \<? eni:x- São l ourenço e ( iuai lu . O de-
sempate se da pela ulib/ação da a l ínea "c", ou s ^ j a , a p revenção , pois na p r ime i r a cidade
existe um mandado de prisão expedido pelo ] i n / ; e) caso o processo tenha sido ins taurado
em diversas comarcas, o ju i / de São Lourcnço (competênc ia p r e v a l e n t e ) d cxc r á avocar os
demais processo*, nos lermos do art. 82"."
572 MANUAL DE PROCESSO PENAL - Renato Srasi/e/ro de Lima
1.6. Separação de processos
A conexão e a continência têm como finalidade garantir a união dos processos de forma a
propiciar ao julgador uma melhor visão do quadro probatório, permitindo-lhe entregar a melhor
prestação jurisdicional e evitando-se, com isso, a existência de decisões conflituosas. Não n0r
outro motivo, um dos efeitos da conexão e da continência é exatamente a unidade de processo e
julgamento perante o jui/o prevalentc (CPP, art. 79, capuí). Ocorre que essa junção nem sempre
será cogente, prevendo a própria iei hipóteses em que deverá se dar a separação dos processos
ora de maneira obrigatória, ora de maneira facultativa.
Nada diz a lei acerca do momento-limile para a separação dos processos. Diante do silêncio
da lei, impoe-se o emprego da analogia (CPP, art. 3°). Assim, se a reunião dos processos por
força da conexão e da continência é possível até a prolação de sentença recorrível (CPP. an. 82
c/c a súmula n" 235 do STJ), mutatis muiandi.s, a separação de processos também pode ocorrer
enquanto o magistrado com força atraliva não proferir decisão recorrível.
Vejamos, então, as hipóteses de separação obrigatória e facultativa de processos.
1.6.1. Separação obrigatória dos processos
Como já foi dito, tanto a conexão quanto a continência têm como finalidade precípua evi-
tar-se decisões contraditórias, colaborando para a formação de um quadro probatório mais coeso.
Ocorre que, em algumas situações, não haverá conveniência para a existência de um processo
c julgamento único. Vejamos, então, cada uma dessas hipóteses.
1.6.1.1. Concurso entre a jurisdição comum e a militar
Como já foi visto anteriormente, havendo conexão e/ou continência entre um crime militar
de competência da Justiça Mili tar e um crime comum de competência da Justiça Comum, im-
pòe-se a separação dos processos, nos exatos termos do art. 79, inciso l, do CPP, e do art. 102.
"a", do CPPM. Exemplificando, se um policial civil e um policial militar, ambos em serviço.
praticarem, em concurso de pessoas, lesão corporal de natureza gravecontra um civ i l , impõe-se
a separação dos processos. O policial civil será julgado pelo crime comum (CP. art. 129, § l";
perante a ju s t i ça comum, ao passo que o policial mil i tar será julgado peio crime mi l i ta r de lesão
grave (CPM, art. 209. § l", c/c arl. 9°, II , ''c") perante a Justiça Mil i tar Estadual. Relembre-se
que, como c i \ i l que é. o Policial Civil não pode ser julgado pela Justiça Mil i tar , ex vi do art.
125. § 4°. da Constituição Federal,
Nesse sentido, dispõe a súmula n" 90 do STJ: Compele à Justiça Estadual Wiliiar processar
c\jidgar <y policial militarpda prática do crime militar, c à Comum pela prática do crime comum
simultâneo àquele. Seu conteúdo assemelha-se ao da súmula n" 30 do ext into Tribunal Federa!
de Recursos: Conexos os crimes praticados por policial militar c por civil, ou acusados estes
como coautorci, pela mesma infração, compele à.Justiça Militar Estadual processar c julgar ti
policia! militar pelo crime militar (CPM, art. 9") c à Justiça Comum, o civil.
1.6.1.2. Concurso entre a jurisdição comum c a tio juízo de menores
No concurso entre a jurisdição comum c a do jui/o de menores, impõe-se a separação dos
processos (CPP, art. 79, inciso I I ) . Assim, caso um fato criminoso seja praticado por um maior
e um menor de 18 (dezoito) anos em coautoria, ao juízo da infância e da Juven tude caberá o
julgamento do menor, enquanto que o maior deverá ser processado perante a Justiça comum.
Perceba-se que não ê a in imputabi l idade a causa exclusiva para a separação dos processos, visto
que. no caso do doente mental , também considerado inimputá\e l nos lermos do art. 26. capuí.
do CP, o julgamento é afeio ao ju iz criminal comum. Assim, como ad\erie Nucci. embora ao
• 'mmitável seja aplicada pena e ao inimputável, medida de segurança, há um só foro compe-
para ambos."8
> 1. 1 3. Doença mental superveniente à prática delituosa
SE sobrevier doença mental a um dos acusados, em qualquer caso cessará a unidade de
rocesso (CPP, art. 79, § 1°), ficando suspenso o processo quanto ao enfermo.
Quando um dos acusados passa a sofrer de doença mental após a prática do delito, deve se
, a separação dos processos. Nesse caso, e verificando o juiz que a doença mental sobreveio
à infração. o processo penal ficará suspenso em relação ao enfermo, salvo quanto às diligências
e possam ser prejudicadas pelo adiamento, cabendo ao magistrado pro\r a nomeação de
curador (CPP, art. 152). Essa suspensão atende aos princípios da ampla defesa e do contraditório
(CF art. 5°, LV), e deve perdurar até que o acusado se recupere c possa acompanhar o processo.
Vale ressaltar que, como a lei silencia acerca do assunto, sendo im iável a aplicação da analogia
em prejuízo do réu diante do silêncio legal, tem-se que a prescrição não fica suspensa durante
o período de suspensão do processo.
Não se pode confundir essa hipótese - doença mental após a prática do crime - com a
situação em que o agente pratica a infração penal já acometido de doença mental que o prive,
de maneira absoluta, da capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de
acordo com esse entendimento (CP, art. 26, caput). Nessas circunstâncias, o processo não ficará
suspenso, cabendo a instauração do incidente de insanidade mental ao correu portador da doença
mental, prosscguindo-se o processo em seus ulteriores termos para que. ao final, reconhecida
sua inimputabilidade, seja-lhe aplicada medida de segurança.
1.6. 1.4. Citação por edital de um dos corréus, seguida de seu não-comparecimento e não-
'constituição de defensor
Por força do art. 366 do CPP. se acaso um processo criminal for instaurado contra vários
acusados, sendo um deles citado por edital, daí resultando seu não comparccimento e não cons-
tituição de defensor, deverá o processo ficar suspenso tão somente em relação a sua pessoa. Para
aqueles acusados que foram citados pessoalmente, deixando de apresentar resposta à acusação.
o processo seguirá normalmente, devendo o jui? nomear-lhe defensor dativo (CPP. art. 396-A,
§ 2", com redação dada pela Lei n" 1 1.7 19/08). Por outro lado, àquele que foi citado por hora
certa que não comparecer, também de\erà o juiz pro\idenciar-lhe a nomeação de da t ivo {CPP.
art. 362. parágrafo único), dando-se prosseguimento ao processo.
1.6.1.5. Amiga hipótese de ausência de intimação da pronúncia ou de não-comparecimento
do acusado à sessão de julgamento do júri, em se tratando de crime inafiançável
Antes da reforma processual de 2008, dizia o Código de Processo Penal que, no processo do
júri , quando um dos acusados não fosse intimado da pronúncia (revogados arts. 413 c 'c 414 do
CPP} ou deixasse de comparecer à sessão de julgamento, em se tratando de crime inafianv-ável
(revogado art. 451, § T, do CPP). seu julgamento não poderia ser realizado. Dai dispor o art.
79. § 2°. do CPP, que a unidade do processo não importará a do julgamento, w houver correu
foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrera hipótese do art. 461 , Tinha-se, então,
que o processo ficaria paralisado em relação ao correu ale que fosse encontrado e preso, t- m
MANUAL DE PROCESSO PENAL - Renato Brasileiro de Uma
regra, sua prisão era decretada com fundamento na garantia de aplicação da lei penal. Tal hipótesn
dava ensejo à separação de processos, na medida em que somente poderiam ser julgados aqueU
que tivessem sido intimados ou que estivessem presentes à sessão designada.
Com a Lei n" 11.689/08, que alterou o procedimento do júri, essa hipótese de separação
obrigatória de processos deixou de existir. E isso porque, segundo o disposto na nova redação
do art. 420, parágrafo único, do CPP, será intimado por edital o acusado solto que não for en-
contrado, pouco importando se o crime pelo qual eie é acusado seja afíançável ou inafiançável
Por sua vez, dispõe o caput do art. 457 que o julgamento não será adiado pelo não compareci-
mento do acusado solto que tiver sido regularmente intimado. Percebe-se, portanto, que a lei
processual penal deixou de prever a suspensão do processo caso o acusado pela prática de crime
inafiançável não seja encontrado para ser intimado pessoalmente da decisão de pronúncia, ou
caso não compareça à sessão de julgamento.
1.6.1.6. Recusas peremptórias no júri
No âmbito do Tribunal do Júri, o exercício das recusas peremptórias (sem motivação) no
procedimento de seleção dos jurados que irão compor o Conselho de Sentença pode acarretar
a separação dos processos.659
1.6.1.7. Suspensão do processo em relação ao colaborador
Consoante disposto no art. 4°, § 3°, da nova Lei das Organizações Criminosas, o prazo
para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso
por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de
colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescrícional. Supondo, assim, a existência de
um processo penal instaurado em desfavor de mais de um acusado, rã hipótese de um deles
resolver colaborar com os órgãos responsáveis pela persecução penal, fornecendo informações
úteis para a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa, revela-
ção da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa, a prevenção de
infrações penais, a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais,
ou a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada, o prazo para o
oferecimento da denúncia ou o próprio processo criminal poderão ser suspensos por até 6 (seis)
meses, exclusivamente em relação ao colaborador. Por consequência, de modo a se evitar o
prolongamento indevido do processo em relação aos demais acusados, notadamente quando um
deles estiver preso, o que viria de encontro à garantia da razoável duração do processo, surge
aí mais uma hipótese de separação obrigatória dos processos.1.6.2. Separação facultativa de processos
De acordo com o art. 80 do CPP, será facultativa a separação dos processos quando as in-
frações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando
pelo excessivo número de acusados e para não ihes prolongar a prisão provisória, ou por outor
motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
Por força do art. 80 do CPP, ainda que os processos já estejam reunidos em virtude da cone-
xão e/ou da continência, é possível que o juiz determine a separação dos feitos. Este dispositivo
diferencia-se, portanto, dos incisos I e II do art. 79 do CPP, que trata de hipóteses que, desde o
início, devem tramitar separadamente, em que pese haver entre eles conexão e/ou continência.
TtTULO 4 • COMPETÊNCIA CRIMINAL
Assim
crime
659 Optamos por tratar das recusas peremptórias no Título referente ao Processo e Procedimento, no capítulo atinente
ao Procedimento Especial do Tribuno/ do Júri, para onde remetemos o leitor.
ocorrendo uma das hipóteses do art. 79 do CPP (v.g., conexão entre crime militar e
comum), por mais que haja conexão e/ou continência entre os crimes, não será possível
'formação de um simultaneits processas e, consequentemente, não haverá a modificação da
* moetência segundo os critérios originariamente previstos. Por outro lado, na hipótese do art.
!d do CPP, uma vez formado o processo único em virtude da conexão e/ou continência, o juiz
oderá, facultativamente, separar os processos.
Outra controvérsia produzida pelo art. 80 do CPP é definir se este dispositivo legal prevê
ma simples hipótese de separação de processo e de julgamento, mantendo o mesmo juiz a
Apetência já prorrogada em virtude da conexão ou continência, ou se, em sentido diverso, a
comnetência prorrogada será alterada mais uma vez, com a consequente devolução de um dos
feitos ao juízo originariamente competente.
Parte da doutrina entende que, na hipótese de separação facultativa dos processos (CPP,
art 80), não há necessidade de se determinar o retorno de um dos processos ao juiz que teve
sua esfera de competência originária reduzida em virtude do reconhecimento da conexão ou
continência. Logo, o juiz que exerceu a força atratíva manterá sua competência para os feitos em
relação aos quais houve o reconhecimento da conexão ou continência, apesar de tais processos
passarem a ser julgados separadamente, já que o art. 80 do CPP refere-se apenas à separação
do julgamento, sem que haja necessidade de nova mudança da competência. Isso significa di-
zer que, haja ou não a separação facultativa dos processos com fundamento no art. 80 do CPP,
subsiste a competência do juiz que anteriormente teve sua competência prorrogada para julgar
os dois feitos.660
A nosso juízo, uma vez desfeita a conexão em razão da separação facultativa, não há motivo
algum para ser mantida a prorrogação da competência. Logo, aquele feito que inicialmente não era
da competência do juízo prevalente deverá retornar ao juiz que era originariamente competente
para julgá-lo, caso não tivesse havido o reconhecimento da conexão. Consequentemente, com a
disjunção processual, haverá nova alteração da competência que fora anteriormente prorrogada,
perdendo o juiz até então competente exatamente aquela parcela de competência que adquiriu
em virtude da conexão ou continência.
O art. 80 do CPP não estabelece até quando é possível a separação dos processos. Porém, se
a reunião dos feitos por conta da conexão ou da continência pode ocorrer enquanto não houver
decisão recorrível (CPP, art. 82), mutatis mutandis, conclui-se que é possível que o magistrado
determine o desmembramento dos feitos até o momento da sentença, ressalvando-se, obviamente,
a renovação da instrução processual perante o novo juízo em relação ao feito de sua competência,
em virtude da adoção do princípio da identidade física do juiz (CPP, art. 399, § 2°).
Há quem entenda que esse caráter facultativo de separação dos processos previsto no art.
80 do CPP é flagrantemente inconstitucional. Nessa linha, como observa Badaró, "a previsão
de que o juiz possa dissolver a unidade processual quando ;por outro motivo relevante, o juiz
reputar conveniente a separação' é totalmente aberta, sem qualquer referência segura dos casos
em que haverá separação. Também por tal motivo, é de se concluir pela violação da garantia
do juiz natural, enquanto norma formal, a exigir que as hipóteses de fixação ou modificação de
competência sejam definidas com base em precisos e rigorosos critérios objetivos fixados em
660 No sentido de que, na hipótese de desmembramento dos feitos, a competência para o julgamento do feito
desmembrado, conexo com o anterior, continua sendo do Juízo que apreciou o processo principal: STJ, 3^ Seção,
CC 107.116/RJ, Rei. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 10/03/2010, DJe 19/03/2010. Na mesma linha: ST1,
V Turma, HC 103.741/SP, Rei. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 23/09/2008, DJe 03/11/2008.
576 MANUAL DE PROCESSO PENAL - Renoro Braíileira de Lima
lei , não deixando margem a atuações discricionárias"."'1 Prevalece, todavia, o entendimento
que o art. 80 do CPI* nào é incompatível com o principio do juiz natural.*"
Como o art. 80 do CPP está inserido no Código de Processo Penal no Capítulo que versa
sobre a competência por conexão ou continência, prevalece o entendimento de que essa separação
facul ta t iva dos processos pode ser aplicada tanto nos casos em que os feitos a serem separados
já seriam da competência do mesmo juízo em que tramitavam em conjunto, seguindo as regras
originárias de definição da competência, quanto nos casos cm que determinado ju ízo teve sua
competência prorrogada por força do reconhecimento da conexão e. ou continência para julgar
outro feito que. originariamente, não seria de sua competência.**3
Vejamos, então, quais são as hipóteses queautori/.am a separação facul ta t iva dos processos
1,6.2.1. Infrações praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes
Sissa primeira hipótese de separação facultat iva dos processos deve ser analisada à luz das
espécies de conexào'continência.
Ora. se essa hipótese de separação demanda que as infracões tenham sido praticadas
em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, forçoso é conc lu i r não ser possível sua
aplicação no caso de conexão intersuhjet iva por s imul t ane idade , na medida em que esta
espécie de conexão prevista na p r ime i ra parle do inc iso I do art. 76 traz como pressuposto
que as duas ou mais infracões tenham sido praticadas ao mesmo tempo, por diversas pessoas
ocasionalmente reunidas (sem intenção de reunião), aproveitando-se das mesmas circunstán-
cius lie lampo L> de local. Situação semelhante ocorrerá no caso de conexão intersubjetiva por
reciprocidade (CPP, art. 76. l, parte f inal ) , na medida em que esta exige a prática de infracões
por pessoas que agem urnas contra as outras, pressupondo-se que estejam no mesmo lugar
e ai) mesmo tempo.
De maneira diversa, em se tratando de conexão intersubjetiva por concurso (CPP, art. 76,
1. 2' parte), conexão objetiva (CPP. art. 76. inciso 111 ou conexão probatória (CPP, ar!. 76. inciso
I I I ) . pendamos ser possível a separação dos processos com base no art 80. l'1 pane. do ("l"P, pois.
em relação a essas três hipóteses de conexão, nào se fa/ necessário que as infracões tenham sido
cometidas em limares e momentos idênticos.
661 BADALO, GL.SÍJVO Henrique. BCTTINI, IVtpaoloCruZ Lascger de dinheiro awclcs peri&s e prozessva.í pêro,s
- co.rpfi fonas o ir. 9 613/1598, ccrr, os a-teraçães da lei J 7 f>S.i/l.?. São Paub t d'tora Revista dos Tnajnas,
2012. p. 243-249.
66? No sentido de que lido e dado ao Tribunal substituir o jm?o de conveniência que e assegurado pplo <irt 80 do
CPP ao magistrado para determinara separação dos processos STF, 2a Turma, HC 88 867/RS, Re!. Min Eros Grau,
l 25/05/2007, DJe 1T'06/2QC7. Na mesma l nhã, segundoo 5TJ, "a tecr ao art 80 do CPP, a junção de acõss
penais Ceve atender .1 um JJÍZQ de conveniência no tocante a otrm.zação do tr^miL' processua'" iSTJ, SJ "íjrrra.
Rr-C 20428/SP, Re. f»'.m G Ison Zbpp. j 19/W/2007, DJ 04/CG/200V) . Rcfer.ndo-se a separação Jos on-.ceisos
com fundamento no ar t . 80 do CPP cano ato discr ctonário tíojji/, que deve ewrr.inar as c i rcuns tânc ias cê-cada
caso. STJ, Corte Especial, AgRg na Ap 540/MT, fiel. Min. Francisco Falcão, j. 01/04/2009.
663 Há precedente isolado da l- Turma do ST F em sentido con t rá r io - "A regra do art 80 do CPP só pode ser a p i -
cada em relação aos processos submetidos á jurisdição de urn mesmo juí:o i"m ojtras palavras, a sepa-açãc
dos processos JLI a su.i não reunião, com fundamento no disn;>s:! ivo legal suscitado, pressupõe r, u e todos eles
estejam afeio; 30 rrvjnio ja?o ca-npetenU1 C-jm efeito, SP ,spt r ias o .uiz co-npri-TiU' para ju'gar oi vários deli tos
conexos pode d^tcrnutior o seu processamento em autos ap.usados, interpreiaçiio em sentido d,verso que se
faz do art. 80 do CPP pressupõe que os cumes em apreciação, nos autos Mirn",pondí>ntes, esteja, igualmente.
sob a competéncM do mesmo jj:zo". (STF, 1J Turma, HC 91 fiUS/Sf, Itel Min Meneios Direito, j. 01/04/2008,
DJe 147 07/08/2008)
TÍTULO 4 . COMPETÊNCIA CRIMINAL 577
hjos casos de continência, por sua vez, conquanto seja possível a separação dos processos,
da doutrina se posiciona contrariamente, haja vista a possibilidade de decisões contradi-
tórias em relação a um mesmo fato."64
j 6.2.2. Excessivo número de acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória
A hipótese de separação facultativa do art. 80, 2J parte, do CPP, aplica-se a todos os casos
de conexão e continência. Tra/ cm si dois requisitos: a) exce>si\ número de acusados: b) não
orolongamcnto da prisão pro\a de um dos acusados.
A t í tulo de exemplo, suponha-se que um dos acusados esteja preso p revcn t iv amente, tendo
o advogado de defesa de um outro réu pleiteado a realização de exame pericial que somente
seria interessante a sua defesa. Nesse caso, e considerada a complexidade do exame pericial,
é fácil perceber que o acusado preso teria o curso do processo prejudicado pela realização de
prova que nào lhe traria qualquer beneficio. Sendo assim, caberia ao magistrado determinar a
separação dos processos, prusseguindo-se em relação ao ju lgamento do correu cuja instrução
processual já estivesse finda.
1.6.2.3. Motivo relevante pelo qual o juiz repute conveniente a separação
Como o legislador não pode prever todas as situações em que a separação dos feitos seja
necessária, a parte final do art. SÓ do Cl*P possibili ta que o jui/ , por qualquer motivo relevante.
determine a separação dos processos. Podemos citar, como exemplos de moti \os relevantes
a ensejar a separação dos processos, o excessivo número de acusados soltos prejudicando o
andamento do processo, ou quando o simitltuneus proccxsiu possa dar causa à extinção da
punibil idade de um dos acusados pela prescrição.1''-
1.7, Perpetuação da competência nas hipóteses de conexão c continência
A existência de um sinutitanetts processua por conta da conexão ou da continência não
impede que o magistrado do juízo prevalente. ao julgar o feito, conclua pela incompetência do
j 11:20 que exerceu a força atrativa, quer porque houve absolvição cm relação à infnícào que atraiu
a competência, quer porque ocorreu a desclassificação para outra, que não era originariamente
de sua competência. Nesse caso. indaga-se: continuará este j u í /o competente em relação aos
demais processos9
A resposta à indagação conotado í\ipitl do art. S I do CPP \; i ficada a reunião dos prt>ces>os
por eonexfiu ou cont inência , anula que no processo da sua competência própria \ en l i a o mi/ ou
t r ibuna l a p ro t e i i r sentença absolutória (acrescentamos, por iniciprelaçào e x t e n s i v a , também a
decisão dcclaralóna c x t i n t i v a da punibi l idade) ou que desclassifique a infração para outra que
não se inc lua na sua competência, continuará competente em relação aos demais processos.
Exemplif icando. ha\endo conexão probatória entre um crime de roubo praticado na comarca
"A", e um c i i r n e de receptação qualif icada cometido na comarc.i "H", prevalece- a competência
664 É nesse sentido a posição c!c Nucci. op. cit p. 303
565 Em (.aso loncretoat inerte a crmes de peculato, lavjgem de dinheiro e q.'jcn'ha jhc jc si-bsti^da pela apela-
ção cm,.rosa), supostar-erte comerdes por rrcmbrcs da Assembleia UvislEitiva cio Estactc do Mate Grosso, no
desvo dl: fecorsos pjb'.. os para pagamento de bens e serv iços nexistcres prover isntes ti f empresas f ict K ' â j
(rriijis df 100 açõe; forjm a ju i /adas para apurar esses fatos delituosos), cntende^-se qi.c h ,veria motivo n'11 p
vanie ré come n da n d o s separada dos processos: Í1J, Corte Especia l , AR Hg na APn 534/MT, RH. M,n. Luiz fux,
Dje 20AM/7009 Ainda cm rel.ição à possibilidade de separação dos pt<r i'i-.,os com base c-n motivo relev;nie
ST1 - R K 18 522/MG- í? Turma - Rei M.nistra Ljur.td Vaz - DJ 06/OSA'Ú07 p. 533
578 MANUAL DE PROCESSO PENAL - Renato Brasileiro de Uma
do j u í/o da comarca "A", pois ali foi praticado o delito mais grave (CPP, art. 78, II, "a"). Caso
ao final do processo, o ju i / desclassifique o delito de roubo para furto simples, cuja pena é
menor que a do delito de receptação qualificada, ainda assim cominuará competente para o fato
desclassificado e para o outro delito, cx vi do art. 81, cuput, do CPP.
Essa perpetuação da competência atende ao principio da economia processual e da própria
celeridade, na medida em que ioda a prova já fora colhida perante esle juízo. Ademais, não se
pode perder de vista que, dianie da inserção do princípio da identidade física do jui / no pro-
cesso penal (CPP, art. 399. i; 2" - "ojuiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença'')
eventual remessa do processo ao outro juízo traria como consequência inevitável a renovação
da instrução processual, causando indevido retrocesso na marcha procedimental.
No âmbito tio jú r i . há de se ficar atento às seguintes hipóteses:
I ) desclassificação na primeira fase do procedimento bifásico do Júri: de acordo com
o art. 419 do CP!', com redacão dada pela Lei n" 11.689/08, quando o juiz se convencer, em
discordância com a acusação, da existência de crime diverso dos referidos no í l" do an. 74 do
CPP (homicídio, mdu/imento, instigação ou auxíl io a suicídio, infanticídio e aborto, em suas
diversas modalidades) e não for competente para o julgamento, remeterá os autos ao jui / que o
seja. ficando o acusado preso á disposição deste outro juízo. Quanlo à in (ração conexa, preceitua
o parágrafo único do art, 81 do CPP que se o jui / vier a desclassificar a infracãoou impronunciar
ou absolver sumariamente o acusado, de maneira que exclua a competência do júri . remeterá o
processo ao juízo competente. Fm síntese, excepcionando-se a regra Aípcrpeiwiliojumilictionis
constante do an. 81, caput, do CPP. ao jui/ sumarianle não caberá o processo e julgamento do
crime conexo quando impronunciar. absolver sumariamente ou desclassificar a infraçào da sua
competência, devendo remeter as infraçõcs conexas ou continentes ao juí/o competente.
2) desclassificação na segunda fase do procedimento escalonado do júri: caso a des-
classificação seja operada pelo Conselho de Sentença quando do julgamento em plenário, seja
cia própria ou imprópria, ao Juiz-Presidente caberá o julgamento da infração desclassificada
c também das inf rações conexas (CPP, art. 492, §§ 1° e 21'). Exempli f icando, se ao acusado
tiverem sido imputadas as condutas de homicídio doloso e estupro consumado, concluindo os
jurados, todavia, pela desclassificação da imputação de homicídio doloso para lesão corporal
seguida de morte, aojuiz-presidcnte caberá não só o ju lgamento desse delito, como iamhétn dainfníção conexa de estupro.
(_ orno v iinot no tópico relat ivo a competência da Just iça Mi l i t a r , uma importante ressa lva
se faz necessária nesse momento: se os jurados, ao votarem, procederem á desclassificação da
imputação de homicídio doloso, conc lu i ndo , v .g . , pela exigência do crime de lesões corporais
seguidas de morte praticado por mi l i t a r contra ei \, não será possível a aplicação da regra do
art. 492, í lp . r parte, do CPP, pois, na medida em que os jurados concluíram não se ( ra la r de
crime doloso contra a v i d a praticado por mi l i t a r conlra ci\, depreende-se que tal crime deixa
de ser considerado crime comum, retomando à condição de cr ime mi l i ta r , ra/ão pela qual não
pode ser ju lgado pelo Jui/-Presideme do Tribunal do Júr i . Portanto, se esse crime de lesões
corporais seguidas de morte t i \ e r sido praticado por m i l i t a r em sen iço ou amundo em r.i/ão
em razão da função crime m i l i t a r nos exatos termos do art. 209. í 3", infm^, c c art. 9J, inciso
I I , "c", ambos do Í.'1'M -, compete ao J u (/-Presidente do fnbunal do Jú r i determinar a remessa
dos autos á Justiça Mi l i t a r , a quem compele processar e j u l g a r o referido crime mili tar." ''
TÍTULO 4 • COMPETÊNCIA CRIMINAL 579
3) absolvição pelo Conselho de Sentença em relação ao crime doloso contra a vida: se
os jurados deliberaram pela absolvição em relação à infração principal (crime doloso contra a
vida), v.g.n respondendo afirmativamente ao quesito "o jurado absolv e o acusado?", significa que,
implicitamente, reconheceram sua competência para processar e julgar o feito. Logo. também
aos jurados caberá o julgamento das demais infrações penais conexas e continentes, aplicando-se
a regra geral do art. 81, caput, do CPP.
Por fmi, quanto à perpetuação da competência no caso de conexão e continência entre crimes
de competência da Justiça Federal e Estadual, repetimos aqui o quanto foi visto ao tratarmos tia
competência da Justiça Federal.
Valentio-se do exemplo ali citado em que um ju i z federal, ao final do processo, entenda
que a internacionalidadc do tráfico de drogas não esteja comprovada, tralando-se. pois, de cri-
me de tráfico interno de drogas, da competência da Justiça Estadual, foi dito que uma primeira
corrente sustenta ser possível a aplicação da regrado an. 81 do CPP. Assim, mesmo que o ju i /
federal v ies.se a entender ao final do processo que o delito seria de tráfico interno de drogas, esse
magistrado teria sua competência prorrogada, sendo inviável a alegação de nulidade absoluta
do processo por violação ao principio do jui / natural.
Tem prevalecido, todavia, a posição segundo a qual. a partir do momento em que o ju i /
federa) reconhece que não se irata de crime de tráfico internacional, está reconhecendo sua in-
competência absoluta, sendo inviável a perpetuação da competência, porquanto, se se trata de
crime da competência da Justiça Estadual, cessou sua competência para o processo e julgamento
do feito. Não por outro motivo, em caso concreto apreciado pelo STJ, em face da siipen'eniência
da extinção da punibi l idade em face do crime que just if icava a competência da Justiça Federal.
concluiu-se que os crimes conexos deveriam ser julgados pela Justiça Estadual, na medida em
que não subsistiria qualquer interesse da União."1''
Situação diferente ocorrerá na hipótese de conexão entre o tráfico internacional de drogas.
crime de competência da Justiça Federal, pelo qual o acusado seja absolvido, e um crime qualquer
de competência da Justiça Estadual, \.g., roubo. A princípio, e em v inude do teor da súmula 122.
prevalecerá a competência da Justiça Federal, nos termos da súmula 122 do STJ: "Compete à
Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e
estadual, não se aplicando a regra do art. 7 H, 11. a. do Código de Processo Penal", Nessa hipótese.
mesmo que o ju iz federal absolva o agente em relação à imputação de trafico internacional de
drogas, terá sua competência prorrogada para ju lgar o deli to conexo, pois. se nome absolvição.
s i gn i f i c a i l i /er que a Justiça K'deral afirmou >ua competência, a qual será extens iva aos crimes
vule regra do art. S I do CPP.
2. PRORROGAÇÃO DE COMPETÊNCIA
Prorrogar s ignif ica aumentar a extensão da competência de um órgão ju r i sd ic iona l de modo a
alcançar causas que, abstratamente. não seriam de sua competência, mas que. por algum motivo,
passaram a ser concreiamenK' Prorrogação de competência, por conseguinte, "c a modificação
na esfera de competência de um órgãojunsdicional . que seria abstratamente incompetente, mas
se tornou concretitmente competente com referência a determinado processo, em ra/ão de um
fauí processual modificador".""'
STJ . K J 0 3 3 5 0 / R J Rei Min K",!r,a The-r/.! de flss-. W:;ur3, jul^do em 4,'3,'W.' Na rru-Mu.] trilha 51J, 6J
T_r in, i . --C 37.58:, ''P^. Rei V n Hano Qu.^l „ =érbc - j , D. 19/12, 200') p 474, y F. 7 "V™, l1!, li Í79/RS R-?l
M, n Círios VeNoso, DJ ?8/0?/1997.
FEKOM. Denils.n OD Cit P 3J9.
580 MANUAL DE PROCESSO PENAL - fienuío Brasileiro de Lima
Se a competência absoluta é aquela fixada com base no interesse público, tem-se que não
pode ser modificada, ou seja, a competência absoluta é improrrogável, inderrogável. Logo, só
é possível haver prorrogação de competência quando a competência possuir natureza relativa
Didaticamente. a prorrogação da competência pode assim ser classificada:
1) legal ou necessária: sua ocorrência não depende da iniciativa das partes. A líui|() (je
exemplo, é o que se dá nos casos de conexão e continência (CPP. arts. 76 e 77);
2) voluntária: quando depende da in i c i a t i va das partes. F.sta, por sua \e/. subdivide-se errr
2 . 11 expressa: quando há requerimento da parte. É o que se dá quando o desaforamento é requeri-
do pelo réu. pelo Ministério Público ou pelo querelantc (CPP. art. 427. ccifnto, 2.2) tácita: ocorre
diante do silêncio das partes. Exemplificando, quando a incompetência re la t iva não c arguida
no momento oportuno resposta à acusação (CPP. art. 3%-A) -, dá-se a preclusão para a parte.
Segundo o art. S I do CPP. verif icada a reunião dos processos por conexão ou continência
ainda que no processo da sua competência própria venha o j m/ ou t r ibunal íi proferir sentença
absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se ine lua na sita competência,
continuará compete-nle em relação aos demais processos. Logo, verificada a reunião de proces-
sos por conexão ou continência, o jui/ ou tribunal continuará competente em relação às demais
infracões penais atraídas, ainda que no processo da sua competência própria venha a: 1) absoker
o acusado daquela que promoveu a atração: 2) desclassificar a infração que promoveu a atração
para outra que não se inc lua na sua competência; 3) por interpretação extensiva, declarar a ex-
tinção da punibil idade em relação â infração que promoveu a atração (por exemplo, em ra/àu
da morte do correu)/'"''
l:\emplificando. caso haja conexão probatória entre um roubo simples praticado na comarca
"A" e um crime de receptação qualificada cometido na comarca "B", prevalece a competência
do juí/o da comarca "A", na medida cm que a pena cominada para o delito de roubo simples
é mais grave (CPP. ar t . 78, I I , "a'1). Caso, ao final do processo, conclua o magistrado pela
desclassificação de roubo para furto simples, a inda assim continuará competente para o falo
desclassificado e para a receptação, nos chatos termos do art. 81, cuput, do CPP.
Por sua vê?, segundo o art. "M, -f 2". do CPP. se. iniciado o processo perante um juiz . houve r
desclassificação para infração da competência de outro, a este será remetido o processo, sa lvo
se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorro-
gada. Segundo Pacelli. a ressalva constante da partefinal desse dispositivo não encontra mais
aplicação, pois a tua lmente a diferença de graduação, para fins de competência, é unicamenie de
insi:'mci:r "isso porque a competência dt^ i r ibuna iv que seriam mais graduados que os j u i / c s de
primeira instância, e or ig inár ia , em ra/ào de prerrogativa de função. Por isso, quando determinado
t r i buna l recusa a sua competência e remele os autos ao j u i / de primeiro grau. ele, na realidade,
não está desclassificando a infração. mas simplesmente declinando de sua competência por nàn
reconhecer, por exemplo, a apontada p renoga t iva de tunçào" ." '
3. WiPKITAÇÀO I)K COMPETÊNCIA
l 'ma vez iniciado o processo pena! peiante determinado juí/o. deve nele prosseguir até o seu
término. No entanto, ao longo do curso do processo, vár ias alterações podem ocorrer, hipótese
que se questiona se a competência será mantida ou não. Conquanto não haja dispositivo legal
expresso no Código de Processo Penal acerca do assunto, tem prevalecido na jurisprudência
possibilidade de aplicação subsidiária do disposto no art. 41 do novo CPC: "Determina-se a
competência no momento do registro ou distr ibuição da petição inicial , sendo irrelevantes as
0(jjficações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimi-
rem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta". Vê-se, pois, que são irrelevantes as
modificações do estado de fato ou de direito, sa lvo em três hipóteses:
a) quando ocorrer a extinção do órgão judiciário, tal como ocorreu com os Tribunais de
Alçada (Emenda Constitucional n" 45 04. art. 4"):
b) quando a competência for alterada em razão da matéria: \ ideexemploda Lei n" 9.299'96.
que transformou em crime comum o crime doloso contra a v ida praticado por mi l i t a r contra
c i v i l , ainda que cometido em serviço (CPM. art. lí", parágrafo único}/1 '1
c) quando a competência for alterada em razão da h ierarquia imaginando-se que deter-
minado acusado seja diplomado deputado federal durante o curso de processo criminal, cessa
automaticamente a competência do Jui? de l'1 instância, cabendo-lhe de t e rmina r a remessa
imediata dos autos ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo da validade dos atos processuais
praticados anteriormente (luntfníx regit aciiirn/.
Mas e no easo de alteração da competência territorial por regra de organização judiciária
posterior? Exemplificando, imagine-se que o acusado esteja sendo processado na comarca "A",
na qual está inserido o município "H", por crime praticado neste município. Futuramente, no
entanto, o município "B" é transformado em comarca autónoma. Deverá se dar a perpetuação
da competência perante a comarca "A"? Ou o processo deve ser remetido à novel comarca?
Diante do silêncio da lei processual penal, em regra, tais casos têm sido resolvidos pelas
próprias leis de organização judiciária: logo. criada a comarca, ou novo juízo, a própria lei irá
definir se serão (ou não) a ela remetidos os processos relativos aos crimes ali cometidos. Nas
hipóteses em que a lei de organização jud ic i á r i a silenciar acerca do procedimento a ser ado-
tado. tem prevalecido a aplicação subsidiária tia regra constante art. 43 do novo CPC. com a
consequente manutenção do processo na comarca de origem, " l a l se dá porque a competência
territorial é prorrogável e re l a t iva , o que não ocorre com a competência em razão da matéria.'1"
A aplicação subsidiária do principio da ivrfífiiiíitioJHnsdifiionix no processo penal pode
incidir inclusive cm relação aos crimes dolosos contra a vida. porém somente na fase anterior
ao ju lgamento pelo j ú r i . De faio. na medida cm que a própria cvstêneia do J ú r i está l igada ao
ob je t i vo de se preservar o ju lgamento do réu pelos ^eiis pare-, ea-o ha ja a crtaç.lo de foro no
lugar em que lo i perpetrado o cr ime doloso coiilra a v ida . e nesse foro que d eve r á se dar o j u l -
De accido i.om PãceTi, ' 'nàn h,i qualquer in:crvu'r,i(-nltd u p^on • ou m.iií JTIC!:, qualq.ie; 1'egj'idace. - r,j
a teraçãc excepcional da regra d d perceíúct.'o juori ;' on-s, sob-etud? :|uanco í e tra:a- de cnaçC-3 de varai,
eipecialuadcis err determinada matéras, no àmb'tc fír mesmo ji-i: n.Varal. desde que respi"tacío, agcra, o
pnncíp o dii identidade física co juiz (art. 399. Ç 2", CPP}. ;.om modificação, então, da o'dem li^ dl aiíenor.' (op.
cit. p 247) . Nessd linha, qu.inío <i especialização Jr varai federai;, par,! u pioietio e julgamento dos crimes Qe
lavagem Je capitais, o Supremo concluiu que "o provimento apontado como in.constitucion,]! especializou vara
federal j,í c.riada, nos exatos Imutei da jtribuição q'.j<> a Carta Magna confere dos Tribunais A remessa para vara
esppri tVi;ji jafuncací::eir corv'<iona'oviolao snncipi;) do juiz natica ' (ST-, ls Turma, HÇ g l 2S3/MS, fiel M n
Rcardc lewandcwski, Díe Ul 13/11/2007)
MQ sentido cia possibil idade de .splicaião subsidiar.;) da regra da pcrpctixitio jwíídicticriií da ar t . 87 d_"> fal
(art 43 cio ru-vo CPC) ao processo penal, íurn fundamento no art. 3S do CPP STF, 2d- Turm.i, RHC. 83 003/Rj,
Rol. Min Maurício Corre,), DJ ?'//06/2Q03 E também STF, Pleno. RHC 8 i IS l/RJ. Rei. Min. Jo.iquim Garbos. tJJ
22.'lQ/7ro<;
582 MANUAL DE PROCESSO PENAL - Renato Brasileiro de Lima
gamento cm plenário. Portanto, no âmbito do Tribunal do Júri, podemos afirmar que o princípio
da perpeiuaiiti juristiictionis somente é aplicável à 1a fase do procedimento bifasico (iudicium
accusationis).'
Quanto às hipóteses de delegação de competência federal ao juízo estadual nas comarcas que
não forem dotadas de vara federal (CF, art. 109, íf§ 3" e 4"). a superveniente instalação de vara
federal afasta a aplicação da regra da perpcíuatio iurisdU-tionis, ía/endo com que os processos
que ali tramita\am sejam imediatamente encaminhado à vara federal instalada. Com a re\oeaçâo
do art. 27 da Lei n11 6,368,76, que previa que o processo c julgamento do tráfico internacional
de drogas caberia à Justiça Estadual se o município em que tivesse sido praticado o deli to não
fosse dotado de Vara da Justiça Kederal. com recurso para o respectivo I'RF, e diante da nova
redação do art. 70. parágrafo único, da Lei n" 11.343 ;06. não subsiste no ordenamento processual
penal qualquer outra hipótese de delegação da competência c r im ina l da Justiça Federal para a
Justiça Estadual."1
f j /3 STF, l J~urr ra ,HCfWhl9 /MG, Re!. Mm Scpirveda Pertence, DJ lí,/Q2/20C7.
674 Como adver te Roberto Luís Lutlii Demo, "no tocante n delegação de jurisdição federal ,10 ju
109, § 3°, da Cr), a posterior criação de vara federal repercute- cê duas rij.ieKas t TI re lação
município em que ocorreu a míração não for sede da nova var.i da jus t i ça reder.il, não cessa
que í m D o-, n s juzo", federa' e comum t ê TI competência le'ritor a! sobre es crirrí", cometidos
ocorrendo .> persH.Jut o |ur sriicticn",. Já em relação aos cr'me*, CI.JQ TIU-I dpío í-r*- que ocorre
sede da nov.i vara d.i Just iça f-ecíersl, cessa a delegação de comprtcnaa, por isso que já n,1o v
s't u ata o fát; ,- 3 h.prtf- r-e CD'isl!lucií)n.il cie delegação, i e T de c J só de competência de Justiça, c.
de aplicai- ' ,* ' imed d t u r ti ente- nos p'OLessoi ern tjrso, sem prejL.i/u da v.iLo ide dos ,i'os p r j t i c c
(op rit. p ;SK 2591
TITULO 5
PROVAS
C AP IT l i I .O I
TEORIA GERAL DAS PROVAS
1. TKRMINOLOG1A DA PROVA.1
Hm sentido amplo, provar significa demonstrar a veracidade de um enunciado sobre um
fato tido por ocorrido no mundo real. Em sentido estrito, a palavra prova tem \arios significados.
Por isso. inicialmente, é importante firmarmos algumas premissas termmológicas.
1,1. Acepções da palavra prova
A palavraprovíj tem a mesma origem etimológica dçproho (do \a,\\m*pr<>batio eprobus), e
tradti/ as ideias de verificação, inspcção, exame, aprovação ou confirmação. Dela deri\ o verbo
provar, que significa verificar, examinar, reconhecer

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