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13/08/2018
UNIDADE I – INTRODUÇÃO CONCEITUAL
Contrato é a expressão jurídica do fluxo econômico, a veste jurídica de operações econômicas. O direito regula os contratos para que possamos ter segurança jurídica. Esta é a razão de ser nos códigos civis, vias que proporcionam previsibilidade através dos contratos. Os regramentos relativos aos contratos existem para lançar uma base mínima de valores que devem permear as relações e marcos contratuais, como o momento que marca a formação de um contrato. Assim, as regras dos contratos traduzem uma visão da sociedade sobre suas relações, primordialmente relações privadas. 
Na disciplina de direito das obrigações é ensinado que o contrato é uma fonte de obrigações, o que é inquestionável. Isso significa que a manifestação das obrigações se dá nos contratos, surge um vínculo jurídico entre as pessoas pelo direito das obrigações por meio dos contratos, esse vínculo jurídico é o obrigacional, que nos constrange a cumprir um fazer, um não fazer ou pagar quantia. Assim fica o devedor obrigado (atado, unido, vinculado) com o credor através da prestação, que são as setas da imagem. Este vínculo somente se dissolve a partir do adimplemento, dando-se a desvinculação. Sendo o direito das obrigações marcado pela transitoriedade, de forma que o “adimplemento atrai e polariza a obrigação” (Clóvis do Couto e Silva). 
O contrato também é um negócio jurídico. (Apesar de existir hoje uma tendência de abandonar categorias dogmáticas, é importante retomar esta e outras classificações do direito civil, especialmente aquelas tratadas na disciplina de parte geral do direito civil, como a classificação do fato jurídico lato sensu, o que nos remete a um dos mais importantes princípios da disciplina: a autonomia privada). Isso implica em dizer que todo regramento do código civil aplicado aos negócios jurídicos se aplica aos contratos, a partir dos requisitos de validade do negócio jurídico, art. 104. A autonomia privada dos negócios jurídicos, embora permeie os contratos, é sitiada, possui várias restrições, tanto no âmbito do código civil, quanto em leis esparsas, inclusive de fora do direito dos contratos. 
O que conceitua um contrato é a ideia de um acordo de vontades. Não se pode confundir o instrumento com o instituto dos contratos. Desta forma, quando a proposta e a aceitação se encontram há a formação de um contrato, e esta formação se dá das mais diferentes formas, não sendo exigido um contrato físico como comumente se imagina. Algumas vezes não há sequer a expressão da vontade, sendo ela tácita, possível de ser presumida. 
Contrato como processo. Se vê hoje o contrato como um processo para que não se mantenha a visão estanque do contrato, porque cada vez mais os vínculos permanecem por muito tempo e também por conta da totalidade do vínculo obrigacional, ou seja, dos deveres anexos. No direito do consumidor, por exemplo, não basta entregar um produto adquirido, deve-se também prestar a obrigação anexa da informação. 
Contratos civis, contratos de consumo e contratos empresariais. O direito civil constitucional é uma linha do direito civil que traz a importância do primado da constituição do direito civil, engloba uma interpretação sempre com a lente dos filtros da constituição antes mesmo de se analisar as normas do direito civil. 
	20/08/2018
					Operabilidade
Diretrizes do 			Eticidade
Código civil de 2002		Socialidade
Estas diretrizes, que partiram de Reale, mexem no espírito do CC anterior. A operabilidade significa que se tem presente uma tentativa de maior simplificação da aplicação do CC. Pode-se ilustrar isto com o exemplo da matéria da prescrição e decadência, com conceito de prescrição mais evidente, tornando a matéria mais técnica e mais simples de ser aplicada em comparação com o código de 1916. A distinção entre prescrição e decadência, inclusive no que concerne aos prazos, está hoje muito mais clara e consolidada que anteriormente. A disciplina dos contratos dentro do código segue a mesma lógica. Eticidade e Socialidade podem ser analisadas juntas. Existe hoje uma relativização do formalismo dentro do código, sendo a eticidade uma atenção maior ao que seria uma justiça, e segundo Reale, não é que o direito tenha aberto mão da técnica, mas passou-se a ter preocupação com uma justiça que não seja meramente formal, tentando verificar a justiça da própria relação – ou seja, se passou por um processo de materialização da justiça do direito privado, inclusive com maior intervenção do Estado. A eticidade é, portanto, a fuga de uma lógica mais formal para uma justiça contratual mais presente. A Socialidade é explicada por Reale como “entre a socialização e o individualismo há um meio termo, a Socialidade”.
As cláusulas gerais do CC (como por exemplo a boa-fé objetiva e a função social do contrato) são uma porta de entrada para valores que muitas vezes se situam fora do sistema legislativo, necessitando que o intérprete preencha seu significado. Isto, no entanto, foi feito de forma propositada pelo legislador. A inserção de cláusulas gerais faz com que haja tentativa de enrijecimento do seu significado, o que na verdade não deveria ocorrer. Os excessos do legislador deveriam ser controlados através da doutrina e dos julgados, principalmente. 
				Civis
Contratos 		de consumo
Empresariais 
O âmbito de estudo da nossa teoria geral dos contratos é do direito privado, ficando excluídos das nossas considerações o direito do trabalho (que em outros países está inserido dentro do direito civil) e os contratos administrativos. 
O direito privado possui uma teoria geral que se aplica aos contratos civis, de consumo e empresariais. Incontestavelmente podemos falar em contratos específicos de consumo, pois o CDC parte do pressuposto da existência de uma parte vulnerável na relação que disciplina, o que não ocorre com o CC. A distinção de contratos de consumo e outros se dá pela verificação da existência de uma relação de consumo, o que pode ser realizado através da leitura dos artigos 2º e 3º do CDC, ou seja, estabelecendo a existência de um consumidor e de um fornecedor (B2C). No caso concreto é necessário ainda aferir se o consumidor é efetivamente vulnerável. 
A obtenção de lucro é um critério para se estabelecer um contrato empresarial (B2B), ou seja, quando ambas as partes da relação buscam a obtenção de lucro. 
De certa forma, resta para os contratos civis (C2C) aquelas relações que não foram abrangidas pelos outros dois contratos. 
A pergunta que cabe é se há realmente diferença entre contratos civis e empresariais. De acordo com Lenine, mestranda do professor, a diferenciação entre estas formas de contrato não existe numa tentativa de estabelecer uma nova teoria geral dos contratos aplicável especificamente aos contratos empresariais, mas para estabelecer que os efeitos de um contrato consumerista e os efeitos de um contrato empresarial diferem. 
PRINCÍPIOS CONTRATUAIS 
Vista a distinção entre as diferentes formas de contrato, passamos a outra dimensão da disciplina, os princípios contratuais. Dos princípios estudados nesta disciplina três são expressos no CC. Estes princípios se distinguem das cláusulas gerais, com exceção da boa-fé, que é ao mesmo tempo princípio e cláusula geral, pois é uma diretriz positivada que rege os contratos. 
A doutrina dividiu os princípios em dois grupos, clássicos e contemporâneos. Ambos devem ter sua aplicação conjugada, pois ao contrário do que se pensava, os princípios contemporâneos não surgiram para anular os clássicos. 
Princípios clássicos
1. Liberdade contratual. Prevista no art. 421 do CC. Também denominada por alguns autores de autonomia da vontade, o que já foi praticamente superado, porque remete um individualismo/subjetivismo muito grande e até mesmo à possibilidade de abuso da vontade, o que não coaduna com o objetivo do direito civil. É uma expressão da autonomia privada dentro do contrato. A autonomia no direito privado é o princípio mais polarizador. O contrato como espécie de negóciojurídico é onde há a maior ênfase do poder dos particulares de regularem seus interesses e seus negócios. A liberdade de contratar se divide em quatro conceitos: 
a) liberdade de contratar propriamente dita: a expressão da vontade de que realmente se quer contratar; 
b) liberdade de estipular o contrato: além de se poder decidir se se quer contratar ou não, a princípio, é possível escolher a maneira pela qual será efetivado o vínculo entre credor-devedor; 
c) liberdade de escolher a outra parte: pode-se contratar com quem se aprouver, com algumas exceções, como no caso do fornecedor, que não pode negar a prestação do serviço que oferta; 
d) liberdade de determinar o conteúdo do contrato: liberdade de determinar as cláusulas contratuais, as regras que pautarão a relação jurídica, salientando-se que o contrato nem sempre é reduzido à forma escrita. 
Todas estas liberdades, obviamente, são limitadas pelo ordenamento jurídico, pelos costumes, e por outros princípios. O próprio dispositivo que positiva a liberdade contratual a impõe limites. 
2. Força vinculativa. Existe uma expressão latina que simboliza este princípio, pacta sunt servanda. Os pactos existem para serem cumpridos, o que significa que no momento em que se estabelece este laço obrigacional somente através do adimplemento as partes estarão desvinculadas. O princípio da conservação do negócio jurídico, art. 184, indica que o ordenamento jurídico tem a preocupação de que não haja rompimento da relação. A ausência de força vinculativa nos contratos causa verdadeiro caos, ausência de segurança jurídica. De acordo com as regras do código civil é possível que os efeitos da força vinculativa dos contratos atinjam não apenas os contratantes, mas também seus herdeiros. 
3. Efeitos relativos. É um princípio que enuncia que os efeitos dos contratos são relativos às partes que os celebraram, sem prejudicar ou beneficiar terceiros. De acordo com isto, o contrato é lei entre as partes que celebraram de acordo com suas partes, tendo seus efeitos permanecendo na relação credor-devedor. Primordialmente este princípio foi pensado com o intuito de evitar intervenções externas, especialmente aquelas que pudessem vir a regrar o que as partes livremente estabeleceram, sendo este um princípio de estabilidade. 
	27/08/2018
Princípios contemporâneos 
1. Boa-fé objetiva
1.1. Princípio e cláusula geral
É uma ferramenta muito utilizada na dinâmica brasileira, e comumente com excessos e de forma errada. É, no entanto, um princípio muito importante e fruto da faculdade de direito da UFRGS, tendo sido chamada a atenção para ele pelos trabalhos de Clóvis do Couto e Silva, que trouxe o instituto da Alemanha por via da doutrina. Ela é um princípio porque os autores dizem que a boa-fé estaria entrando no direito brasileiro não de forma positivada, mas como uma ideia, que carregava a linha de uma maior materialização do conteúdo do direito obrigacional e dos contratos, ou seja, uma preocupação maior quanto aos aspectos de equilíbrio e de justiça na relação contratual, especialmente com a diretriz da eticidade. Ela é clausula geral porque é texto de lei expresso (o princípio nem sempre é expresso), primeiramente no CDC e após no CC, e principalmente no §242 do BGB. A boa-fé é uma regra de textura aberta, não estando de pronto definida e pronta para ser aplicada, devendo ser interpretada. O intérprete deve dizer quando a boa-fé for violada, quais os contornos conceituais da boa-fé. 
1.2. Contornos conceituais
Seus contornos conceituais sempre envolvem lealdade, proteção das expectativas, consideração da outra parte. 
1.3. Boa-fé objetiva v. boa-fé subjetiva
A boa-fé tratada é a objetiva porque se está tratando de um padrão de conduta objetiva, que não se remete ao padrão de nenhuma pessoa específica, mas que é exigido nos contratos, nos negócios, razão de se falar em standard de conduta, que é uma conduta aceita e exigida daqueles que de maneira ou outra atuam na sociedade no âmbito do direito privado. A boa-fé objetiva pode ser qualificada negativamente, quem a viola atua contrariamente aos seus ditames, por outro lado, a boa-fé subjetiva também pode ser qualificada negativamente, quem a viola atua de má-fé. Esta última tem maior aplicação nos direitos reais e nos direitos de crédito quando se fala sobre ter conhecimento ou não de algo. A objetiva visa o que se exige na relação contratual, os mandamentos contratuais.
1.4. Arts. 113, 128, 187, 422
O primeiro e o último são os dispositivos mais abstratos e utilizados como referência à boa-fé, os demais estão relacionados mais fortemente a outros institutos do direito. 
1.5. Funções
1.5.1. Criação de deveres anexos 
A função criadora de deveres anexos impõe aos contratantes um comportamento mais cheio de amarras, o contraente deve estar atento a vários aspectos, o que Clóvis do Couto e Silva chama na Obrigação de Processo como Totalidade, ou seja, que não enxerga apenas a obrigação principal, mas toda a gama de deveres ao redor dele. Nessa linha surgem novos direitos, como o concorrencial, o ambiental e a disciplina da proteção de dados. 
Neste sentido deve-se dar maior atenção às fases contratuais, que são a pré-contratual (negociações preliminares e tratativas), conclusão, cumprimento (execução) e pós-contratual. O art. 422 fala em conclusão e execução. Este esquema nos remete ao que se chama de Processo como totalidade. As duas primeiras fases são maiores ou menores de acordo com a natureza do negócio e das características das partes, contratos de consumo, por exemplo, praticamente não possuem fase pré-contratual. Outros contratos, como os empresariais, possuem fase pré que dura anos, com elaboração de memorandos e protocolos de entendimento (M.O.U. ou N.D.A – memorandum of understanding e non-disclousure agreement). A boa-fé está sempre presente, como na exigência de transparência, de não concorrência, de confidencialidade de termos. 
1.5.1.1. Informação
Os deveres anexos estão presentes em todas as fases contratuais e ainda que não presentes na relação contratual expressamente podem ser retirados do dever de boa-fé. O dever de informação, não apenas nas relações consumidor-fornecedor exige informações acerca do objeto de contratação, sobre riscos.
1.5.1.2. Cuidado
É o dever de realizar a prestação contratual atentando à esfera jurídica patrimonial ou extra do parceiro contratual. Por exemplo, um pintor contratado para pintar uma parede deve tomar o cuidado para não pintar os móveis da residência. Este cuidado é um cuidado amplo de fazer as coisas, que se reflete no dever de segurança ao prestar coisa, na relação contratual consumerista, por exemplo, é o dever de o fornecedor não fornecer produtos ou serviços com vício ou fato. Na relação contratual normal o dever de cuidado é expresso por exemplo na lei de proteção de dados, um caso específico que atualmente sequer é preciso que seja derivada da boa-fé, pois possui regulamentação própria. 
1.5.1.3. Cooperação
Há autores que colocam a cooperação como um princípio de direito das obrigações na fonte contratual, como o próprio Clóvis do Couto e Silva. Nesta linha de pensamento enquadra-se a ideia de facilitação de adimplemento da outra parte, através da facilitação do pagamento, da entrega. 
1.5.2. Interpretativa 
Presente no art. 113 do CC. Este artigo está na parte geral do código, ou seja, não está voltado exclusivamente aos contratos, mas é aplicável aos negócios jurídicos lato sensu. Interpretar os contratos conforme a boa-fé significa fazer um controle de conteúdo das cláusulas contratuais, salientando-se sempre que elas podem ser escritas ou verbais, pois os contratos em geral não possuem regra de forma. 
Cláusula contratual em desacordo com a boa-fé seria por exemplo cláusula surpresa, especialmente nos contratos de adesão, que já tem seu conteúdo pré-elaborado (regulados pelos arts. 423 e 424 do CC), e que podem trazer vantagens manifestamente desproporcionais às partes. 
1.5.3. Limitadora do exercício de direitos subjetivos
Ocaso mais emblemático de boa-fé objetiva no RS é dos tomates, em que se questionou o direito dos produtores à indenização ante a negativa empresa de adquirir a produção daquela safra. Este caso é interessante como elemento histórico porque é o segundo caso de aplicação da boa-fé do tribunal de justiça, de relatoria do min. Ruy Rosado. Este acórdão reflete a linha doutrinária judicial, que com o tempo acabou sendo incorporada à legislação. Este julgado expõe a boa-fé atuando como baliza na atuação privada limitando os possíveis desajustes de comportamentos disfuncionais, que não atingem a função razoável esperada em uma saudável convivência entre particulares.
Nas três últimas formas de limitação é possível se perceber facilmente a existência de comportamentos contraditórios, que são colidentes com o comportamento primeiro que gerou determinada expectativa.
1.5.3.1. Venire contra factum proprium
O art. 187 está fortemente relacionado com este instituto, pois se refere ao abuso de direito. 
Há aqui também um acórdão emblemático que exemplifica este instituto. O caso ocorreu no RS de uma aquisição de uma pequena sociedade limitada que era voltada ao setor de vestuário. O adquirente comprou as cotas da sociedade, mas como há um lapso temporal entre a aquisição o momento em que realmente se assume o negócio o vendedor do estabelecimento, que ficaria à frente dos negócios durante este período, cancelou pedidos, de forma que quando o adquirente chegou para assumir a loja ela estava sem estoque, ficando por longo período sem atividade. Diante destas circunstâncias se reconheceu que havia razão fundante de indenização para o adquirente do estabelecimento comercial, pois houve venire contra factum proprium, no sentido que teria ocorrido um comportamento indicando a manutenção normal da empresa, o que não ocorreu. 
1.5.3.2. Supressio
É outra hipótese se limitação em que há também um comportamento colidente, mas ocorrendo a supressão de algum direito que em geral está contratualmente previsto. 
Há também um caso emblemático que retrata isto, que é o caso de um consumidor que contratou um consórcio e após terminar de pagar as prestações intentou a obtenção de liberação de gravame do veículo, o que não foi concedido pela financeira sob a alegação de que não havia sido incluída determinada taxa no cômputo das parcelas, de forma que o consumidor seria ainda devedor de quantia para o banco. O autor apelou alegando a supressio, o que foi acatado pelo Tribunal de Justiça do estado. 
Neste ponto é necessário realizar um paralelo com a prescrição, que é um instituto tradicional do direito e que fulmina a pretensão conforme prazos previamente definidos no CC. A supressio não possui prazo determinado, pois está na esfera dos princípios e deve ser vista no caso concreto pelo intérprete concomitantemente com a razoabilidade. 
A supressio limita o exercício do direito subjetivo de crédito, de exigir a prestação da outra parte. A prescrição também faz isso, mas ela não é oriunda de um princípio, e sim de lei. A supressio é paralela à prescrição e à decadência, pois possui um forte senso de justiça. 
1.5.3.3. Surrectio
Quando há o surgimento de um direito pela prática de um comportamento e consequente geração de expectativa. Ou seja, no caso dos tomates, por exemplo, não existia um direito de os produtores exigirem que a Cica adquirisse a produção, pois isto não estava sequer previsto contratualmente, mas diante de várias compras realizadas os produtores esperavam que o comportamento continuasse. 
Caso semelhante de um gerente de banco que para evitar que o correntista ficasse no vermelho baixava o saldo da poupança. Quando o gerente ficou de férias o substituto não seguiu o comportamento, que era esperado pelo correntista, o que gerou o dever de indenizar. 
1.5.3.4. Tu quoque
É o famoso instituto dos dois pesos e duas medidas. 
Caso de empreiteiras que possuíam estabelecida uma forma específica de comunicação de reclamações, o que não era seguido. Uma empresa sempre realizava suas reclamações de forma verbal. Em determinado momento outra empresa realizou a reclamação verbalmente e foi impugnada por aquela. Ou seja, foi um comportamento que a parte já teve, mas quando a outra parte agiu da mesma forma aquela não aceitou.
	03/09/2018
2. Função social do contrato 
Este princípio possui aplicabilidade muito restrita. 
2.1. Art. 421, CC
Neste artigo está contida a função social dos contratos, que é no nosso código ao mesmo tempo um princípio e uma cláusula geral. 
Doutrinariamente existe divergência sobre o que é e qual o alcance do princípio da função social dos contratos. 
Os contratantes têm total liberdade para contratarem, no entanto, o art. 421 impõe limites a esta liberdade, tanto ao conteúdo quanto ao objeto do contrato. Isso acontece porque a função social dos contratos está baseada na ideia da prevalência dos interesses coletivos frente aos individuais. A função social dos contratos determina que os contratos possuam finalidade, por isso, se diz que os contratos têm a finalidade de fazer circular riqueza, de alcançar fins comuns, se isso não ocorre não há o respeito à sua função social. 
A ideia fundamental que está por trás da função social do contrato é a limitação da vontade, porque é preciso respeitar os interesses sociais. Assim, é necessário analisar os contratos sob dois pontos de vista: 1) relação entre as partes, analisando as cláusulas para aferir se não há nulidades; 2) relação dos contratantes com terceiros, analisando o contrato para aferir se ele busca e atinge sua finalidade. 
2.2. Art. 3º, I, CF – solidariedade
2.3. Diretriz da Socialidade do CC
Prevalência dos valores coletivos sobre os individuais. 
2.4. Ideia da causa objetiva
A causa dos contratos é algo que hoje é aplicada na dimensão objetiva do contrato, que se contrapõe à causa subjetiva do contrato. Esta causa traduz os motivos pessoais que levam as partes a contratar, conforme o art. 140, a razão interna que leva alguém a contratar. Este instituto, no entanto, é irrelevante para as relações jurídicas, somente tendo algum impacto sobre elas quando a causa subjetiva for expressamente exposta no contrato, podendo ensejar inclusive invalidade do contrato. A causa objetiva dos contratos, por outro lado, é a finalidade a que se presta, qual o fim que ele busca, o objetivo. Um contrato de compra e venda, por exemplo, possui como causa objetiva a troca de mercadoria por moeda. Relativamente à causa objetiva os contratos podem ser resolvidos por simulação e por invalidade do objeto, art. 104, II, entre outros. A causa objetiva serve como um controle de finalidade do instrumento legal do contrato. 
3. Equilíbrio econômico 
3.1. Implícito
Este princípio não é expresso em cláusula geral, como o anterior. O princípio do equilíbrio econômico se preocupa com o equilíbrio financeiro, de haver justiça quanto às prestações dos contratos, que devem estar efetivamente em uma zona correspectividade. Este princípio atua para que se mantenha uma justiça contratual e para que as prestações sejam estabelecidas em uma relação de razoabilidade, sem ganhos e perdas excessivas em ambos os lados. 
3.2. Institutos da lesão (art. 157) e da onerosidade excessiva (art. 478)
O superendividamento é uma figura jurídica que é um exemplo claro deste instituto dentro da seara do direito do consumidor. Dentro do direito civil geral a lesão e a onerosidade excessiva são exemplos de controle do equilíbrio econômico. A lesão visa evitar desproporção das prestações e pode operar quando uma das partes for inexperiente ou estiver sobre premente necessidade. A onerosidade excessiva cuida de eventos extraordinários ou imprevisíveis que possam gerar ganho ou prejuízo excessivo para uma das partes. 
UNIDADE II
Formação dos contratos 
1. Fases contratuais 
A área de estudo da disciplina de Teoria Geral dos Contratos situa-se nas duas primeiras fases contratuais. 
1.1. Fase pré-contratual
Fase de tratativas, pré-negocial. São diversos atos praticadosque formam um vínculo entre as pessoas. Nem todos os contratos possuem fase pré-contratual. Em geral esta fase se encontra em contratos paritários, que tem maior possibilidade de negociação das suas cláusulas, o que Canaris denomina de liberdade contratual fática, que é inexistente em contratos de adesão. 
Um exemplo de atitude tomada na fase pré-negocial é a due diligences, sendo analisados alguns aspectos do contrato para verificar se é viável a contratação e se o preço a ser pago “vale a pena”. 
Nos contratos de franquia a fase pré-contratual também é bastante desenvolvida.
Na fase pré-contratual se colocam os deveres de trato negocial conforme os ditames da boa-fé objetiva, art. 422. 
Em contratos complexos, como de compra e venda de empresa, são elaborados documentos preliminares, como o MOU (protocolo de entendimento). 
1.1.1. Culpa in contraendo (Ihering) – art. 187
Criação do jurista Ihering, que diz respeito à possível atribuição de um dever de indenizar na fase de negociações preliminares aos contratantes que estão se aproximando para chegar a um contrato. A atuação in contraendo que possa representar um dever de indenizar é, por exemplo, a retirada das negociações.
1.1.2. Retirada das negociações
Todos possuem o direito subjetivo de se retirar de uma relação contratual, mas deve-se aferir se este direito está sendo exercido de forma razoável, de acordo com os ditames da boa-fé, sob pena de responsabilização civil.
1.1.3. Contrato como processo
1.1.4. Proposta obriga – art. 427
Este artigo coloca a ideia justamente de que as partes se obrigam à proposta feita, com exceção das hipóteses do art. 428. 
O art. 428 traz a lógica de em que momento estão liberadas as partes. O inciso I diz que quando a proposta é feita a uma pessoa presente, se ela não disser imediatamente se aceita a proposta o proponente está liberado, ressaltando que a presença a que se refere o código não é a física, o que se tenta enfocar é a possibilidade de dar resposta à proposta. 
1.1.5. Proposta
1.1.5.1. Declaração unilateral (negócio jurídico)
A proposta possui natureza jurídica unilateral, portanto, deve obedecer aos requisitos dos contratos (art. 104).
1.1.5.2. Receptícia
A proposta somente surte efeitos se chegar ao conhecimento da outra parte. 
1.1.5.3. Dever ser
1.1.5.3.1. Firme
A proposta deve ser firme, o que alguns autores chamam de seriedade. Para que seja considerada uma proposta deve haver uma circunstância de realização da proposta.
1.1.5.3.2. Completude
A proposta deve ser abrangente de maneira a constar elementos essenciais, conforme o caso concreto. Uma oferta de compra e venda deve possuir preço, por exemplo, pois este será um elemento constante do contrato. 
1.1.5.3.3. Adequação formal 
O código não exige uma forma específica de contrato, podendo ser verbal ou escrita. A manifestação da vontade, no entanto, não é tácita. 
Se espera da proposta uma adequação formal conforme o caso em concreto, pois cada área possui diferentes necessidades. Uma proposta de compra de uma empresa, por exemplo, pode exigir uma proposta escrita e assinada. 
1.1.5.4. Partes
Proponente/policitante faz a proposta.
Aceitante/policitado/oblato recebe a proposta. 
Policitação é a proposta. 
1.2. Fase de Conclusão
Fase de formação do contrato.
O contrato se faz quando há a colagem da aceitação na proposta, quando há a implementação do vínculo contratual entre as partes, surgindo um dever de prestar, para ambas ou apenas uma das partes.
1.3. Execução (cumprimento)
1.4. Fase pós-contratual
	10/09/2018
Formação contratual 
1. Análise dinâmica do CC
2. Teoria da expedição
Disposta no art. 434.
Para a maior parte da doutrina brasileira o critério que se adota para determinar a formação dos contratos entre ausentes é quando o aceitante envia a aceitação para o proponente.
Relativamente ao art. 431, que diz que “a aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta”, significa que se o aceitante demorar demais o proponente estará liberado da proposta. Com isto os papeis de aceitante e proponente ficam invertidos, pois estando o proponente liberado se o aceitante ainda quiser aquele contrato será de livre escolha do primeiro proponente aceitar ou não a proposta feita. 
Ainda assim se pode sempre desistir da proposta feita, desde que enviada uma retratação antes que a proposta chegue ao aceitante, art. 433. 
Entre presentes os critérios de formação do contrato são distintos, não havendo se falar em teoria da expedição. 
3. Silêncio na formação dos contratos – art. 111
A regra do art. 111 diz que “o silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa”. 
A questão que se coloca é se o silêncio vincula. A resposta é negativa, pois o artigo estipula requisitos para que isso ocorra, devendo a ausência de comportamento (silêncio) ser interpretada de forma restrita. 
A possibilidade de pôr no contrato a vinculação por meio do silêncio é plausível de acordo com a doutrina, mas na seara do direito civil, não sendo o tema tão pacífico no direito consumerista. 
O Brasil adotou, portanto, o silêncio circunstanciado, não cabendo qualquer tipo de silêncio para vincular as partes. 
4. Comportamentos concludentes
Em muitos casos há comportamentos que criam na outra parte a ideia de vinculação, atos que geram expectativa na outra parte de que efetivamente há um contrato, como no caso Cica. Da mesma forma os comportamentos podem dar a entender que o contrato está encerrado.
5. Relações contratuais de fato 
Determinadas vinculações obrigacionais existem ainda que não haja proposta e aceitação, nos casos de contratos em massa. Esta discussão surgiu na década de 40 na Alemanha quando um sujeito estacionou o veículo na rua e se negou a pagar o valor do parquímetro, dizendo que não poderia ser obrigado a pagar aquele valor. 
Muito embora não exista a formação tradicional de um contrato em alguns casos ainda assim se dá o vínculo obrigacional. Por exemplo, na década de 90 se defendeu que os Shopping Centers não seriam responsáveis pelos veículos deixados em seus estacionamentos pois o contrato de depósito é formalizado com a entrega da coisa, o que importaria que deveriam ser entregues as chaves dos veículos nos estacionamentos para que houvesse o vínculo obrigacional. A doutrina rechaçou a alegação, justamente porque alguns contratos não exigem formação tradicional. 
6. Local da formação – art. 435
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.
Local de formação do contrato é disciplinada pelo art. 435, ou seja, no local em que foi proposto. Tem-se que considerar, no entanto, que o foro de eleição dos contratos é o local onde eventualmente serão ajuizadas demandas.
6.1. DIP (Direito Internacional Privado): LINDB, art. 9º, caput e §2º
Art. 9º. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. 
§2º. A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente.
Este artigo é um elemento de estraneidade. As regras de direito internacional não resolvem os casos concretos, mas determinam quais as regras devem ser utilizadas para tal. 
Qualificar significa para saber onde se enquadra, ou seja, o fato sobre o qual se está diante se qualifica como responsabilidade, como contratos, etc. ou seja, deve-se analisar onde se constituiu o vínculo obrigacional e naquele local aplicar a lei que se enquadra ao caso. 
As partes podem ainda determinar no contrato locais distintos para cumprirem as obrigações. 
A autonomia da vontade da lei aplicável é entendida pela doutrina brasileira no sentido de que não é possível escolher a lei aplicável, à exceção da arbitragem, que possui uma cláusula compromissória que estipula que se houver litígio ele será dirimido por um conjunto de árbitros privados. 
A regra do §2º é aplicável aos contratos constituídos entre ausentes. 
6.2. Art. 113
Art. 113. Os negóciosjurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
O CC é voltado para a ética da situação, ou seja, tenta manter os sujeitos nos seus respectivos ambientes, locais, sendo o local de contratação de extrema importância. 
Contratos eletrônicos 
1. Conceito de contrato eletrônico 
Quando se fala em contrato eletrônico se refere à contratação realizada mediante o emprego de tecnologias de informação e comunicação. Não necessariamente se refere ao emprego da internet, apesar de ser a forma mais comum atualmente. 
Além disso existe divisão entre contratos informáticos, que dizem respeito a bens digitais, e contratos eletrônicos/telemáticos, que utilizam o meio eletrônico para conclusão. 
Fato é que existe vinculação das partes. 
2. Equivalência funcional
Se estiver presente o consentimento das partes já há contrato, porque em um primeiro momento não é exigida forma específica para o contrato, porque vigora no Brasil a liberdade de formas no que diz respeito à contratação, art. 107. 
Outra questão que se coloca é se podem existir todas as formas de contrato em forma eletrônica. 
Grupos de trabalho da ONU desenvolveram diretrizes do contrato eletrônico, sendo um deles a Equivalência funcional, que diz que aos contratos eletrônicos devem ser reconhecidos os mesmos efeitos jurídicos que possuem contratos tradicionais. 
A migração aos contratos eletrônicos, no entanto, não é total, pois alguns contratos exigem forma específica, por exemplo, art. 108 do CC. 
A doutrina entende, ainda, que quando a lei utiliza a expressão “escrito/de forma escrita”, isso não significa que deva ser em meio físico. 
3. MP 2.200-2/2001
 Art. 10. Consideram-se documentos públicos ou particulares, para todos os fins legais, os documentos eletrônicos de que trata esta Medida Provisória.
 § 1º As declarações constantes dos documentos em forma eletrônica produzidos com a utilização de processo de certificação disponibilizado pela ICP-Brasil presumem-se verdadeiros em relação aos signatários, na forma do art. 131 da Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916 - Código Civil.
 § 2º O disposto nesta Medida Provisória não obsta a utilização de outro meio de comprovação da autoria e integridade de documentos em forma eletrônica, inclusive os que utilizem certificados não emitidos pela ICP-Brasil, desde que admitido pelas partes como válido ou aceito pela pessoa a quem for oposto o documento.
O art. 10, §§1º e 2º regrou a assinatura eletrônica. E esta regra traz o dispositivo do art. 219 do CC para a medida, que implica em dizer quando se assina um documento eletronicamente é presumida sua autenticidade, havendo eficácia jurídica no ato. No CPC ainda existem regras que alocam o ônus da prova da contestação da assinatura para aquele que produz o documento (produzir neste caso não significa quem elabora, mas quem produz a prova). 
Neste sentido as assinaturas eletrônicas (assinatura digital, login e senha, assinatura digitalizada, biometria) foram desenvolvidas para trazer mais segurança e seriedade às contratações. 
4. Forma do contrato eletrônico 
A princípio o contrato eletrônico pode ser realizado mediante qualquer forma, mas aquelas com assinatura digital dão maior robustez ao contrato, incidindo o §1º. 
Nos contratos que aceitam maior abertura incide o §2º.
5. Decreto 7.962/2013
	 Aula com mestranda Lenine Rocha – 17/09/2018
UNIDADE III – CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS 
Introdução à classificação dos contratos
É uma parte propedêutica importante para o entendimento da cadeira. 
Se classifica os contratos para juntar grupos de características comuns a toda uma espécie, assim, por exemplo, quando se remete aos contratos atípicos se está referindo a todos os contratos que possuem as características utilizadas para classificar os contratos atípicos. 
Além disso, a classificação é uma tentativa de organização. E com a classificação se forma uma ideia de oposição entre as categorias, o que se encaixa em um contrato não se encaixa em outro. 
A classificação dos contratos surgiu no direito romano, onde se dividia os contratos em quatro classes (consensus, re, verbis, literis) conforme sua solenidade (forma). Se não houvesse um nome para aquele contrato no direito romano aquele contrato era nulo, inexistente, pois não havia sido cumprida a solenidade, de forma que quem se atrelasse a esses contratos não podia recorrer à justiça. 
1. Quanto à predeterminação do conteúdo – art. 425 
De acordo com o conteúdo do contrato, ele pode ser típico ou atípico. Esta forma de classificação também é chamada como “quanto à previsão legal”. De acordo com o conteúdo o contrato pode ser típico ou atípico. 
A nomenclatura “típicos” e “atípicos” surgiu com o professor Álvaro Zelado de Azevedo, em 1972, na obra Teoria Geral dos Contratos Típicos e Atípicos. Na obra o autor critica os termos “nominados” e “inominados”, que são uma herança do direito romano onde havia contratos que possuíam nomes e outros não, no entanto, existem contratos que têm nome, mas não possuem regramento na Lei. A exemplo disto, na Lei de Locações está dito no art. 1º que “contratos de aluguel de garagem” são regidos pelo CC, no entanto, este regramento inexiste. Assim, denominar contratos nominados ou inominados limita a classificação, pois sua tipicidade não depende da existência de um nome. 
Além disso, ainda existem os contratos socialmente típicos e legalmente atípicos, que são contratos que todos sabem que existem e conhecem suas “regras”, mas que não são legalmente nominados, como contrato de distribuição. Isso não significa, no entanto, que esta forma de contrato é destituída de regulação, pois eles são regidos pelo CC. 
A tipificação dos contratos acontece por conta da recorrência, existem contratos que diariamente são praticados, como o de compra e venda, o que exige que tenha regramento, de forma a garantir segurança jurídica. Por exemplo, antigamente existiam os mascates, que eram pessoas que vendiam produtos produzidos por terceiros, mas sem adquiri-los antes. Estas pessoas começaram a reclamar por direitos trabalhistas e assim surgiu a necessidade de regrar esta forma de contrato, surgindo o contrato de representação comercial. Por outro lado, deve haver a previsão de contratos atípicos porque sempre surgem novas formas de contratos, que não podem ficar sem nenhuma forma de regulamentação. 
Alguns autores ainda defendem que há atipicidade apenas em algumas cláusulas contratuais, não necessariamente no contrato como um todo. 
1.1. Típicos (nominados) – 481 a 853 CC
São os contratos que encontram previsão legal específica em relação à sua estrutura e aos seus efeitos inter partes, ou seja, está escrito o que deve existir para estruturar o contrato e de que forma as partes se responsabilizam/obrigam no contrato. 
No nosso código eles estão disciplinados pelos arts. 481 a 853. 
Exemplos de contrato típico: compra e venda, locação, cessão, doação, mandato, etc. O casamento tem interpretação dúbia, alguns autores entendem que é contrato, outros não, que é apenas uma mudança no estado civil das partes, sendo contrato apenas aquele que determina o regime de bens. 
Nos contratos típicos não se pode pactuar de modo diverso do que a lei define, e se isso ocorrer prevalece a letra da lei. E ainda que não esteja expresso nas cláusulas contratuais, tudo aquilo que a lei sobre ele estipula é aplicável. 
1.2. Atípicos (inominados)
Não tem previsão legal, as cláusulas são determinadas pelas partes. Ao se celebrar um contrato atípico, entretanto, não se pode dispor cláusulas em contrariedade à Lei, como em relação à distribuição dos riscos, a quem compete pagar a escritura pública, etc. As partes apenas podem dispor sobre aquilo que a Lei permite que disponham. 
São exemplos de contratos atípicos: cartão de crédito, conta corrente e a grande maioria dos contratos bancários. 
1.3. Normas gerais – 421 e 422
Os contratos atípicos se submetem às normas gerais dos artigos 421 e 422, função social e boa-fé.Além disso, devem ser respeitados os direitos difusos, como o direito ao meio ambiente. 
1.4. Confeccionado (liberdade contratual)
Por conta da ampla liberdade contratual esta forma de contrato fornece grande autonomia privada às partes, o que não ocorre com os contratos típicos. 
1.5. Mistos (típico/atípico) 
Customizado ≠ atípico
Paritário ≠ equivalência de prestação 
Conforme pontuado anteriormente, parte da doutrina entende que a análise de tipicidade/atipicidade deve ser estendida às cláusulas contratuais, podendo surgir contratos mistos. Podem existir contratos que envolvem a tipicidade de mais de uma espécie de contrato e podem existir contratos típicos com cláusulas atípicas. 
2. Quanto à formação dos contratos
Alguns autores referem esta categoria como “quanto ao momento do aperfeiçoamento”. 
2.1. Consensual – art. 482
Basta o acordo de vontade das partes, como o preço e a coisa, para que exista um contrato e ele seja válido, ainda que as prestações sejam prestadas posteriormente. A lei define se o contrato é consensual ou real. Nos contratos consensuais a tradição ocorre na fase executória (cumprimento), atuando no plano da eficácia. 
O risco da coisa até o momento da tradição é do vendedor, após passa a ser do comprador.
Exemplo de contrato consensual: compra e venda.
2.2. Real – emprega no plano da validade 
Além do acordo de vontade é preciso da tradição da coisa para que haja o aperfeiçoamento do contrato, ou seja, é preciso a entrega da coisa para que exista o contrato. Nos contratos reais a entrega da coisa atua no plano da validade. 
Inversamente ao contrato consensual, o risco da coisa até o momento da entre da coisa é do depositário. 
Exemplo de contrato real: depósito.
Quanto à negociação do conteúdo 
As duas classificações seguintes, conforme a Mestranda Lenine, configuram outra classificação dos contratos, quanto à negociação do conteúdo, enquanto o professor Menke entende que são duas classes que se enquadram na classificação quanto à formação. A mestranda defende que existe uma diferença nos planos entre os critérios, ou seja, quanto à formação, os contratos consensuais e reais atuariam no plano da validade, o que não ocorre nos contratos quanto à negociação.
2.3. Paritários 
Contratos em que as partes discutem as cláusulas livremente
2.4. De adesão
Oblato (quem aceita) e proponente (quem faz) - É contrato? – Sem liberdade de convenção
No CDC está previsto no art. 54. 
Contratos de adesão são Standard (padrão). É um contrato pré-pronto, que não abre possibilidade para negociação das cláusulas. Possuem cláusulas gerais e abstratas para constituir o conteúdo normativo e obrigacional de futuras relações concretas. O que ocorre, portanto, é que o proponente possui uma proposta que serve para qualquer oblato e está em permanente disposição. 
Nem todos os contratos de adesão são consumeristas. Mas em geral é evidente a hipossuficiência de uma das partes, ou seja, uma das partes sempre possui menor poder de negociação. O poder de negociação também é diminuído porque muitas vezes o aderente não pode deixar de contratar por necessidade de satisfazer um interesse que de outro modo não será atendido – por exemplo, eu sou obrigada a assinar um contrato de adesão porque preciso de internet e esta é a única forma de tê-la. 
Conforme a Mestranda o “povo” do RJ adota a teoria maximalista, que se opõe à teoria Finalista. A teoria finalista defende ser o consumidor o destinatário final dos produtos e serviços que consome, de forma que são contratos de adesão aqueles que versam sobre produtos e serviços que não são empregados na atividade fim da empresa. A teoria maximalista diz que todo contrato de adesão é também de consumo. 
No entanto, não é assim tão simples. Se um taxista, por exemplo, adquirir um veículo que será empregado em seu trabalho as duas teorias encaram este contrato de maneiras diferentes, um diz que é de consumo, o outro, não. 
Os contratos de adesão e de consumo são sempre interpretados de maneira mais favorável ao aderente, art. 47 do CDC e arts. 423 e 424 do CC. 
Exemplos de contratos de adesão: fornecimento, distribuição, contratos de locação de livraria, serviços. 
3. Quanto à forma – art. 107 CC – regra geral – plano da validade – art. 166, IV CC
Quando se fala em contratos quanto à forma se refere à forma de exteriorizar a declaração de vontade, ou seja, como foi declarada a vontade, se por mímica, escrita, verbal, escritura, etc. observadas certas circunstâncias, também pode consistir no silêncio ou em condutas passíveis de serem interpretadas como declaração de vontade. Se há a obrigação de rejeitar e a rejeição inexiste está declarada a vontade de contratar. Clóvis Bevilaqua disse que a forma é o revestimento jurídico a exteriorizar a declaração de vontade. 
Regra geral consta no art. 107 do CC, que diz que a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. Lei aqui está sendo utilizado em sentido amplo, pois as partes podem igualmente estabelecer forma específica de declaração de vontade para que se perfectibilize o contrato. Isso é possível porque o contrato faz Lei entre as partes.
3.1. Contratos solenes (ou formais) – art. 108
Quando existe uma forma específica de declaração de vontade exigida em Lei ou no contrato se terá um contrato solene/formal. 
Não sendo seguidas as solenidades o contrato será nulo ou inválido. 
Exemplos de contratos solenes: compra e venda de imóveis (art. 108).
3.2. Não solenes (não formais)
Quando não há uma forma exigida em Lei para a declaração de vontade se terá um contrato não solene/não formal. 
Exemplos de contratos não solenes: mandato (art. 656), locação verbal. 
3.3. Prova testemunhal – arts. 227 CC e 401 e 444 CPC – revogados pelo NCPC – Arts. 442, 443, 445 e 446 CPC
As vezes ocorre de existir um contrato não solene (sem uma forma exigida em Lei) sobre coisa de menos de 10 vezes o salário mínimo de valor e a única forma de produzir prova sobre ele é testemunhal. Isso era impedido pelo art. 227 do CC e pelos arts. 401 e 404 do CPC, tendo todos sido revogados com o CPC de 2015, que além disso adaptou o art. 444 à realidade dos contratos não solenes. Sobre o tema são ainda pertinentes os arts. 442, 443, 445 e 446. 
3.4. Doação – art. 541, §ú – como se classifica quanto à forma?
Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular.
A doação é, conforme o artigo, um contrato solene, com a intenção de proteção do doador. Porque a doação em geral não é onerosa, sendo um contrato unilateral e gerando obrigações apenas para uma parte. Assim, para proteger a vontade do doador, que a princípio está sobrecarregado, o contrato de doação deve ser revestido de forma específica para que fique muito claro o conteúdo da doação. 
No entanto, o parágrafo único faz uma exceção, de que a doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição. Esta é uma característica de contrato real, pois exige a tradição, mas o contrato é consensual, pois ainda que a coisa seja dada posteriormente os efeitos da doação foram consolidados na expressão verbal da vontade de dar. 
Este dispositivo veio pelo princípio da insignificância, mas gera muitas controvérsias porque não há especificação de valor. Assim, surgiu uma corrente que tenta aplicar o valor constante no art. 108.	3.5. Forma estabelecida pela vontade das partes – art. 109 (art. 215, regras escritura pública)
As partes podem trazer a forma para a substância do ato contratual. Mas por que as partes fariam isso, se traz mais custos? Segurança da publicidade. 
4. Quanto aos efeitos 
Este critério diz respeito à reciprocidade e interdependência das prestações. Quem tem que prestar é uma parte, são as duas partes ou são múltiplas partes. 
Não confundir com a classificação dos negócios jurídicos, pois aqui não se refere ao número de partes, mas sobre quantas partes são afetadas pelo contrato. Um contrato de doação,por exemplo, é um contrato bilateral com efeito unilateral, porque apenas uma pessoa tem o ônus de prestação, pois uma pessoa doa e uma pessoa recebe. 
4.1. Unilaterais 
Exemplos: mútuo, comodato, doação, depósito.
Estes contratos podem se transformar em unilaterais imperfeitos, se após a celebração do contrato incidir efeitos sobre a parte que originariamente não tinha nenhum ônus. Por exemplo, eu realizo um contrato de mútuo e empresto dinheiro a alguém, mas esse alguém vai ter que me devolver com juros. O fato de ter que pagar juros pode ser considerado uma contraprestação, no entanto, a classificação permanece como unilateral, porque os juros são uma criação acessória sobressalente ao contrato original que era tipicamente unilateral.
4.2. Bilaterais (sinalagmáticos) 
Aqui e nos plurilaterais entra a equivalência das prestações, pois apenas quando houver a equivalência valerão os arts. 476 e 477, de exceção do contrato não cumprido e exceção de inseguridade.
4.2.1. Comutativos
4.2.2. Aleatórios 
4.3. Plurilaterais
Exemplos: seguro de vida em grupo, consórcio.
4.4. Exceção do contrato não cumprido – art. 476 CC
Não se pode exigir a prestação da outra parte enquanto não cumprir a minha. 
A exceção do contrato não cumprido é utilizada, portanto, para justificar o não cumprimento da minha prestação baseado no inadimplemento da contraparte.
Para que possa ser alegada e oponível a exceção do contrato não cumprido é preciso que exista simultaneidade na prestação das obrigações ou uma não determinação de prazos de cumprimento diversos entre as partes. Quando está claro que as obrigações não serão cumpridas simultaneamente não há como alegar exceção do contrato não cumprido. 
Quanto a este instituto há uma decisão no Moodle, sobre os administradores de Shopping centers, que tem o dever de preservar a harmonia entre os estabelecimentos que lá estão. 
4.5. Exceção de inseguridade – art. 477 CC
Quando há indícios de que a outra parte não conseguirá cumprir sua obrigação, como por exemplo mudança nas condições econômicas da contraparte, eu posso me abster de cumprir a minha até que ela comprove que cumprirá sua parte ou garanta o negócio. 
	24/09/2018
CONTRATO PRELIMINAR OU PRÉ-CONTRATO 
Os contratos preliminares são uma categoria nova, que surgiu com o Código Civil de 2002. O intuito dos organizadores do código ao colocar esta forma de contrato no código foi o de tratar de algo que tinha importância prática para o Brasil, referindo-se à promessa de compra e venda. O Brasil possui a figura do contrato de gaveta e a razão de ser do contrato preliminar está relacionada à sua segurança jurídica. 
Isso significa que muitos negócios, especialmente os imobiliários, são feitos a partir de instrumentos que não são os definitivos que farão com que se obtenha o resultado prático que se busca com a alteração econômica global, que é a alteração da propriedade. As partes celebram o “contrato de gaveta”, como se denomina a promessa de compra e venda, que é celebrada porque as partes ainda não estão prontas para formalizar o contrato que deveria estar sendo celebrado naquele momento. Em geral as partes não estão prontas, maduras para celebrar o contrato definitivo, porque falta algo, especialmente pelo lado do comprador (não tem o dinheiro), pois se as partes já estivessem prontas, o contrato já seria celebrado. 
No contrato de compra e venda do imóvel, quando é realizado o contrato definitivo, desde logo é celebrada a Escritura Pública de Compra e Venda de Imóvel, ou seja, a escritura é a forma do contrato – mas a escritura em si mesma não é um contrato. Este documento por si só não transmite a propriedade, para que ela seja transmitida é preciso levar a escritura pública ao registro de imóveis. 
Isso se combina com outro tema que foi posto no código, que é da promessa de compra e venda registrada gerar direito real. Isso é pertinente no sentido de que quem tem posse não tem direito real, apenas quem tem a propriedade (quem levou a escritura de compra e venda a registro).
Exemplos de contratos preliminares: compra e venda, esporte (jogadores e times).
Arts. 462 a 466 do CC
Apesar de o intuito originário ter sido este, a disciplina destes artigos não é aplicada apenas ao contrato de promessa de compra e venda. Foram colocados conceitos abstratos que podem servir para todas hipóteses em que as partes não estão maduras para celebrar o contrato definitivo.
Questiona o colega, relativamente aos contratos preliminares celebrados entre jogadores de futebol e clubes, que muitas vezes são rescindidos, se a rescisão é possível pelas próprias características do contrato preliminar ou se para isso deve haver cláusula de arrependimento. 
O art. 463 define que quando houver cláusula de arrependimento o contrato deverá observá-la, de forma que não poderá ser exigida a celebração do contrato definitivo. A cláusula de arrependimento não é comum nos contratos preliminares, mas em geral quando ela está presente é colocada também uma multa. Isso remete à natureza da obrigação, que é uma obrigação de fazer e não comporta que seja exigido o cumprimento da prestação da parte que se recusa a cumprir, podendo somente ser requerida indenização pelo não cumprimento, por conta do art. 247.
Conceito 
Um contrato autônomo que cria a obrigação de ser celebrado um contrato definitivo. 
Este contrato, no entanto, não se confunde com fase pré-contratual, minuta contratual, instrumentos ou documentos preliminares. 
O regramento dos arts. 462 a 466 somente se aplicam àqueles documentos que expressam o comprometimento das partes à celebração de um contrato definitivo no futuro.
Distinção fase pré-contratual
O momento da fase pré-contratual envolve as negociações preliminares, a proposta e a aceitação (ato que encerra esta fase), que indicam que as partes têm a vontade de contratar. 
O contrato preliminar assume forma de contrato propriamente e funciona como uma pré-execução do contrato final (execução do acordo de vontades), de forma que se coloca na fase contratual. 
Em suma, a fase pré-contratual é algo mais amplo, é apenas um momento, onde as partes estão ainda se aproximando, se conhecendo, e não existe contrato. Neste sentido, a cláusula de confidencialidade não enseja um contrato. Ao contrário, o contrato preliminar já é um contrato. 
Forma e registro
A escritura no exemplo de compra e venda é a forma do contrato definitivo. 
A forma é o meio pelo qual é expressa a vontade, pode ser oral, escrita ou mímica e ainda o silêncio. Mas todo negócio jurídico reclama determinada forma, mais ou menos solene, e por isso ela atua no plano da validade quando o contrato exige uma forma específica (como no art. 108) e ela também atua na eficácia porque a forma serve para a prova do ato ou do negócio (força probante constante no CPC explicada pela Lenine). 
Em suma, quando se refere a contrato preliminar a forma da sua estrutura é aquela prescrita ou não defesa em lei, art. 104, III, e de acordo com o art. 462 do CC o contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais (objeto, partes, etc.) ao contrato a ser celebrado.
Assim, um contrato preliminar de promessa de compra e venda não precisa ser feito por meio de escritura (é uma alternativa das partes, caso queiram maior segurança), mas o contrato definitivo deve ser realizado por meio de escritura pública e ainda ser levado a registro para que seja averbada a transferência de propriedade.
A forma do contrato preliminar não precisa ser a mesma do definitivo. 
O parágrafo único do artigo 463 determina que o contrato preliminar deve ser levado ao registro competente. A jurisprudência e a doutrina entendem este dispositivo de forma relativa, pois o contrato pode ser levado ao registro, mas nem sempre deve. O fato de não levar a registro o contrato preliminar apenas faz com que a parte perca o direito real sobre a coisa, mas isso não significa que foram afetados a existência e a validade do contrato, ainda que as partes entrem em desacordo(de cunho pessoal) antes de ser celebrado o contrato definitivo, por exemplo. Isso ocorre porque o direito real torna o direito oponível erga omnes, enquanto o contrato preliminar sem registro é oponível apenas à contraparte.
Assim, levar o contrato preliminar ao registro não é obrigatório, mas é recomendável. 
Exigência, celebração, contrato definitivo e natureza da obrigação
Arts. 501 e 821 do CPC
O CPC tem uma pequena parcela de disciplina sobre a exigência e a exigibilidade nas obrigações de fazer. 
O art. 501 determina que, em consonância com o art. 464 do CC, o juiz supra com a sentença a vontade da pessoa que não a declarou (se recusou). 
O próprio art. 821 abre a possibilidade para a recusa de cumprimento de obrigação de fazer.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS (continuação)
Existem efeitos jurídicos muito próprios de cada categoria contratual.
4. Quanto aos efeitos
4.1. Contratos unilaterais 
4.2. Contratos bilaterais 
4.2.1. Comutativos
Nesta forma de contrato há a predeterminação do conteúdo das prestações, ou seja, uma previsibilidade maior do que nos contratos aleatórios, pois as obrigações são de antemão conhecidas na íntegra.
Exemplo de contrato comutativo: compra e venda. 
Nos contratos comutativos onerosos (sacrifício patrimonial, que se contrapõe aos contratos gratuitos) cabe alegar evicção, o que implica dizer que nos contratos aleatórios não se pode alegar evicção. 
Evicção é a perda da coisa pelo adquirente que obteve a coisa do alienante, a perda se dá para um terceiro, evictor. A rigor, aqui se trata da perda da propriedade. 
Quem compra o faz imaginando que está comprando do proprietário, mas no caso da evicção há uma venda a non domino (venda por alguém que não é o proprietário), o que leva ao desapossamento do comprador por um terceiro, que é o verdadeiro dono. Ao evicto restam os direitos da evicção, que é buscar uma indenização perante o alienante. A cadeia de alienantes não é limitada, de forma que caso o alienante também tenha adquirido a coisa de boa-fé pode buscar aquele que lhe alienou e assim sucessivamente. 
A evicção pode se dar de forma judicial, quando o dono ajuíza uma ação contra o evicto. E pode ocorrer de forma administrativa, muito comum em veículos, quando em uma Blitz policial é verificado que o veículo era roubado e então é apreendido e devolvido para o dono. 
A evicção pode ser total e pode ser parcial. Neste segundo caso, conforme art. 455, há a possibilidade de aquele que perdeu desfazer o contrato. Por exemplo, “A” adquiriu uma fazenda de “B”, e esta fazenda era dividida em 10 matrículas, tendo uma delas sofrido evicção. “A” poderá resolver o contrato de compra e venda celebrado com “B” e este deverá restituir o valor correspondente ao prejuízo. Se, no entanto, a parcela da coisa que sofreu evicção não for considerável, apenas terá direito o evicto a indenização. 
A responsabilidade do alienante é objetiva, ou seja, não depende de sua intenção. O único requisito que se coloca na evicção é a anterioridade do direito de terceiro. 
Art. 449. Cláusula de proteção do adquirente contra cláusulas genéricas. Os contratos de compra e venda geralmente possuem cláusula de exclusão da garantia da evicção, o que gera para o comprador o risco de perder a coisa para um terceiro e não receber indenização, no entanto, isso se aplica apenas nos casos em que o adquirente for avisado sobre a possibilidade de perder a coisa por evicção e assumir este risco, ficando sem a proteção que surge da evicção (indenização). Em suma, mesmo que no contrato de compra e venda exista uma cláusula genérica de exclusão da evicção, essa exclusão somente será efetivada se o comprador expressamente conhecer os riscos e os assumir. 
4.2.2. Aleatórios – arts. 458 a 461 do CC 
Nesta forma de contrato há incerteza quanto à prestação de uma das partes.
Há duas hipóteses de risco a que o comprador se submete nos contratos aleatórios. 
Na primeira, hipótese do art. 458, o adquirente paga o preço e se submete ao risco de adquirir algo mesmo que nada venha a existir. Por serem de alto risco, são contratos raros, sendo citado pela doutrina o exemplo do “Contrato de Tarrafada”, em que a parte paga o preço de 100kg de peixe e assume o risco de ficar com a quantidade de peixes que forem pescados na tarrafada, sejam 500kg ou nenhum. 
Na segunda hipótese, do art. 459, o risco é um pouco menor para o comprador, que paga o preço, mas se submete ao risco de receber menos do que pagou, mas ainda assim deve receber algo, caso contrário o contrato é resolvido. 
Quanto aos arts. 460 e 461 o professor refere que não é preciso dar tanta ênfase. 
Exemplos de contrato aleatório: compra e venda de safra futura, jogo e aposta (somente a espécie autorizada por Lei, sobre os quais incide o CDC), contrato de seguro (alguns autores divergem sobre se este contrato é de fato aleatório, defendendo que existem balizas na apólice sobre a importância máxima segurada, mas no entendimento do professor este contrato reflete a aleatoriedade porque muitas vezes se paga anos pelo contrato de seguro sem nunca ter sinistro, havendo prestação sempre de apenas uma parte). 
Questiona o colega se todos os contratos com condição suspensiva serão aleatórios. Explica o professor que a condição suspensiva traz carga de aleatoriedade, mas isso não necessariamente significa que o contrato será aleatório, pois, as partes acordam todas as cláusulas de um contrato, ficando apenas sua eficácia condicionada a um evento futuro incerto. Ou seja, considerando que as prestações são pré-determinadas a indeterminação reside na sua eficácia, enquanto que nos contratos aleatórios a indeterminação reside nas próprias prestações. 
A denunciação da lide diz respeito à necessidade daquele que é desapossado da coisa de chamar ao processo o alienante. O CPC anterior no art. 70 dizia que a denunciação era obrigatória quando se fosse exercer os direitos da evicção. Com a evicção surge para aquele que adquiriu o bem o direito de haver uma indenização. Se o evictor entra com uma ação contra o adquirente para reaver o bem era obrigatório que o adquirente denunciasse a lide ao alienante. A jurisprudência à época já não entendia isso como obrigatório, típico exemplo de interpretação restritiva, pois o legislador disse mais do que deveria, mas o CPC de 2015 deixou isso claro, tornando essa denunciação facultativa. A denunciação da lide é uma medida de economia processual, no entanto, o fato de ter mais uma parte na lide torna o processo mais carregado e até mesmo vagaroso. 
	01/10/2018
Primeira prova.
	08/10/2018
VÍCIOS REDIBITÓRIOS E VÍCIO E FATO DO PRODUTO
Em sentido amplo vício é um defeito, algo que faz com que a coisa tenha seu valor diminuído, não necessariamente que afete sua funcionalidade. Por exemplo, se alguém adquirir um carro com um arranhão, ainda que ele funcione normalmente, seu valor estará diminuído.
1. Vícios redibitórios – arts. 441 a 446 do CC
Art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.
Parágrafo único. É aplicável a disposição deste artigo às doações onerosas.
Art. 442. Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato (art. 441), pode o adquirente reclamar abatimento no preço.
Art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato.
Art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição.
Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
§ 1o Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido maistarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
§ 2o Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.
Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência.
Deve haver uma relação civil. 
Somente cabe em contratos que não possuam o risco que os aleatórios têm. 
Vícios ou defeitos ocultos que tornem a coisa impropria ao uso ou lhe diminuam o valor. Ou seja, o código civil não se aplica a vícios aparentes. Esta característica gera uma certa complicação, pois digamos que alguém compre um carro de uma pessoa que não exerça atividade de vender carros, deverá ser aplicado o CC. 
Pode ser interposta ação redibitória, que retorna a coisa ao vendedor e o valor ao comprador, ou ação quanti minoris, que intenta o abatimento do preço da coisa. 
O polo passivo aqui será sempre composto pelo alienante. 
Prazo decadencial de 30 dias para bens móveis e 1 ano para bens imóveis. Quando o vício não for aparente de imediato há um prazo de 180 dias para que seja descoberto o vício em bens móveis e de 1 ano em bens imóveis, contados da tradição.
Uma alternativa, no entanto, é requerer responsabilização civil, que possui prazo prescricional de 3 anos. 
2. Vício do produto – arts. 18, 19, 23 a 26 do CDC
Deve necessariamente haver uma relação de consumo.
Quando o vício, aparente, afeta a funcionalidade ou diminui o valor da coisa. 
Pode ser requerida devolução da quantia paga (ação redibitória), o abatimento do preço (ação quanti minoris) ou a substituição da coisa. 
O polo passivo é composto pelo fornecedor de modo geral, incluindo o comerciante, solidariamente. 
Prazo decadencial de 30 dias sobre produtos não duráveis e de 90 dias sobre produtos duráveis contados da tradição e quando o vício for oculto o marco inicial é o do conhecimento, art. 26. O que decai é o direito de reclamar, mas ante a negativa do fornecedor de solucionar o produto o prazo é renovado para que o consumidor entre com uma ação judicial. 
Quando o vício não for de imediato perceptível o código não define o prazo para que o vício seja descoberto, de forma que a doutrina e a jurisprudência criaram as fases do produto (inaugural, ..., agônica), devendo ser analisado caso a caso em que fase do produto foi descoberto o vício para aferir o direito de reclamar. Em qualquer caso o prazo decadencial de 30 ou 90 dias é contado da ciência. 
3. Fato do produto – arts. 12, 13 e 27 do CDC
Deve haver uma relação de consumo, mas aqui há os consumidores equiparados, que são todos aqueles que foram afetados pelo fato, ainda que não tenham adquirido a coisa, os chamados by-stander, conforme art. 17 do CDC. 
Quando o defeito se propaga e gera algum dano ao consumidor, na esfera psíquica, física ou patrimonial. 
Nesta seara residem os acidentes de consumo, de forma que além do valor do produto é requerida também uma indenização.
O polo passivo é composto pelo fabricante, produtor, construtor e importador. O comerciante tem responsabilidade subsidiária, quando aqueles não puderem ser identificados ou quando o comerciante não conservar adequadamente os produtos. 
Prazo prescricional de 5 anos, art. 27.
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS (continuação)
5. Quanto ao objeto do contrato
5.1. Contratos Onerosos: ambos respondem por culpa
O sacrifício patrimonial é de ambas as partes, motivo pelo qual respondem por culpa. Com exceção dos contratos de consumo, nos quais sempre cabe a responsabilidade objetiva. 
Exemplos: compra e venda, transporte
5.2. Contratos Gratuitos ou benéficos – art. 114 e art. 132: responde por dolo a quem o contrato não favorece
O desfalque patrimonial se dá apenas de um dos lados. Por conta disso o regime é mais protetivo para a parte que se sacrifica. 
Aquele que se sacrifica somente responde por dolo.
Exemplos: doação, transporte de cortesia, empréstimos gratuitos como comodato e mútuo.
6. Quanto à pessoa do contratante
6.1. Pessoais (in tuitu personae) – art. 247 CC
É uma disciplina abordada de forma reflexa nos contratos preliminares. Os contratos pessoais são ligados à obrigação de fazer em que se contrata com alguém em específico, pois somente aquela pessoa é capaz de realizar aquela prestação. Mas ainda assim não é permitida a tutela coercitiva da obrigação de fazer, art. 247 do CC. 
A morte da parte causa extinção contrato por ser a obrigação personalíssima. 
6.2. Impessoais 
Podem ser realizados não apenas pela pessoa contratada. A consequência jurídica disto é que os contratos impessoais podem ser cedidos. Mas o código também determina que o contratante prejudicado pode contratar outro para prestar a obrigação, mas para isso é preciso de autorização judicial, salvo em casos de urgência. 
7. Quanto ao modo de execução 
7.1. Execução imediata/instantânea 
Quanto ao cumprimento dos contratos, eles podem ser cumpridos de forma imediata, logo após o contrato – toma lá dá cá. 
7.2. Execução diferida
Quando a prestação será cumprida dentro de um lapso temporal relativamente à celebração do contrato. 
7.3. Execução continuada/sucessiva
O cumprimento do contrato se renova. Atualmente muitos contratos são celebrados de forma continuada, pois cada vez mais as pessoas adquirem coisas e serviços a longo prazo, como internet residencial ou financiamento de imóveis. Estes contratos têm necessidade de cooperação das partes. A decorrência jurídica disto é que existem institutos que apenas são aplicáveis a estes contratos ou contratos de execução diferida, como a onerosidade excessiva. 
	22/10/2018
8. Quanto à dependência do contrato a outro
Inclusive no direito das obrigações há obrigações principais e acessórias. Nos contratos também há a classificação entre principais e acessórios. Atualmente possuímos relações econômicas mais complexas, que exigem contratos com influência e assessoriedade recíproca entre eles. É comum que existam contratos com relação de dependência, que enseja o questionamento sobre os efeitos que daí decorrem. 
Comumente, sabe-se que os contratos acessórios seguem a sorte do principal. Conforme o caso, a invalidade do principal afeta o acessório, mas o inverso não é necessariamente verdade. O art. 184 do CC estampa, neste sentido, o princípio da conservação do negócio jurídico, que determina justamente que havendo a invalidade de uma cláusula (ou, neste caso, do acessório) deve ser mantido o negócio jurídico naquilo que permanecer válido. 
O mandato pode ser um contrato acessório quando destinado à prestação de serviços. O contrato principal é o de prestação de serviços, o acessório é o mandato. Este é um caso típico em que o contrato acessório invalido pode afetar o principal. Suponha-se que uma pessoa contrate os serviços de um advogado e este por algum motivo tenha sua OAB suspensa: o mandato será prejudicado e por consequência os serviços não mais poderão ser prestados. 
8.1. Principal
Contratos principais são autônomos, sua existência não depende de outros contratos. 
8.2. Acessório 
Contratos acessórios dependem lógica e juridicamente de outros contratos. 
Leitura: Francisco Marino, Contratos Coligados.
UNIDADE IV – INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS 
1. Introdução 
Leitura: Emílio Betti. 
Este é um tema muito desafiador ao direito dos contratos. 
Na interpretação contratual se busca extrair os sentidos dos contratos para saber o programa contratual efetivamente desempenhado pelas partes. Ao fim e ao cabo, a interpretação busca a intenção comum das partes, para que se possa, na existência de litígio, qual a regra cabível. 
A forma não é pertinente para que haja necessidade de interpretação, ou seja, mesmoque verbal o contrato será passível de interpretação. 
A tendência ainda é de tentar exaurir todas as circunstâncias futuras que podem vir a ocorrer dentro do contrato, o que, no entanto, é impossível. 
Na prática é extremamente difícil rever contratos. Existe, por conta disso, o instituto das HardShip Clause, que são cláusulas que permitem a revisão contratual caso haja a modificação de circunstâncias. Como sempre, no entanto, é praticamente impossível prever todas as circunstâncias futuras. 
2. Regras do negócio jurídico: arts. {110, 112, 140}, 113 e 114 CC
O código civil possui poucas normas de interpretação contratual. Os artigos referidos acima se colocam como regras gerais. 
A regra do art. 112 conjuga as teorias da vontade e da declaração, sendo a primeira mais subjetiva e a segunda, objetiva. Há, portanto, quem defenda que o CC ficou em um meio termo, no que seria uma chamada Teoria da Confiança: é preciso saber a confiança que foi despertada no declaratário. Este artigo é uma base interpretativa importante porque contrapõe o que constou no contrato e o que se entendeu ou quis expressar, o que dá maior impacto à intenção do que à literalidade. Esta norma, que constava no art. 85 do CC de 1916, possui como novidade a expressão “nelas consubstanciada”, que não existia no código anterior e que significa que a intenção deve estar consubstanciada na declaração, pois nas declarações de vontade se dará mais peso à intenção do que no sentido de linguagem. Deve haver, no entanto, um rastro no contrato daquilo que as partes queriam contratar, ou seja, indícios dos desejos das partes. 
Ainda, quanto ao art. 110, o contrato que incorrer naquela situação pode ser resolvido por meio de simulação. 
O motivo é irrelevante para a grande maioria dos contratos, salvo quando ele seja a razão determinante da pactuação, conforme o art. 140. Ou seja, se for externada a razão interna de contratar no contrato e por algum motivo não for possível alcançar este motivo, o contrato pode ser resolvido. 
Os usos e os costumes e a boa-fé devem ser constantes na interpretação dos contratos, art. 113. Estes são importantes critérios hermenêuticos. 
O art. 114 dirá que os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. Esta é uma regra de interpretação que visa a proteção do contratante que sacrifica seu patrimônio, para não piorar ainda mais sua situação, conforme explicitado nas aulas anteriores. 
3. Outras regras: arts. 423, 819 e 843 CC
O art. 423, pertinente aos contratos de adesão, determina interpretacio contra proferentem, ou seja, privilegia aquele que não redigiu o contrato. Salientando que no CDC o art. 47 se equipara a este.
O art. 819 é relacionado à fiança, determina sua forma. Não cabe fiança verbal, que não passaria no plano da existência, pois o requisito de forma está expresso como elemento do contrato de fiança no próprio dispositivo. Além disso, a interpretação da fiança é restrita, porque o fiador já é sobrecarregado, havendo inclusive possibilidade de fiança gratuita, apesar de a regra determinar sua onerosidade.
O art. 843 diz respeito à transação, que deve ser interpretada restritivamente. Quem transaciona reconhece direitos seus e da outra parte, de forma que este art. impede que sejam incluídos termos não expressos. 
4. Regras revogadas do Código Comercial: arts. 130 e 131
Art. 130 - As palavras dos contratos e convenções mercantis devem inteiramente entender-se segundo o costume e uso recebido no comércio, e pelo mesmo modo e sentido por que os negociantes se costumam explicar, posto que entendidas de outra sorte possam significar coisa diversa.
Apesar de atinente ao direito empresarial, é aplicável ao direito civil em geral esta regra, principalmente dos contratos B2B.
Art. 131 - Sendo necessário interpretar as cláusulas do contrato, a interpretação, além das regras sobreditas, será regulada sobre as seguintes bases: 1 - a inteligência simples e adequada, que for mais conforme à boa fé, e ao verdadeiro espírito e natureza do contrato, deverá sempre prevalecer à rigorosa e restrita significação das palavras; 2 - as cláusulas duvidosas serão entendidas pelas que o não forem, e que as partes tiverem admitido; e as antecedentes e subsequentes, que estiverem em harmonia, explicarão as ambíguas; 3 - o fato dos contraentes posterior ao contrato, que tiver relação com o objeto principal, será a melhor explicação da vontade que as partes tiverem no ato da celebração do mesmo contrato; 4 - o uso e prática geralmente observada no comércio nos casos da mesma natureza, e especialmente o costume do lugar onde o contrato deva ter execução, prevalecerá a qualquer inteligência em contrário que se pretenda dar às palavras; 5 - nos casos duvidosos, que não possam resolver-se segundo as bases estabelecidas, decidir-se-á em favor do devedor.
Já em 1950 o Código referia a boa-fé. Da leitura do artigo se pode inferir que se referia à boa-fé objetiva.
Em determinadas áreas os contratos são redigidos conforme sua natureza e função, sua causa fim, o que deve ser respeitado pela interpretação. 
Quanto à restrita significação das palavras, há entendimento diverso atualmente. 
Muitas vezes há uma clausula ambígua, mas que pode ter seu significado aferido a partir de cláusulas anteriores ou posteriores.
Quando os atos posteriores ao contrato (fato do contraente) são diversos daquilo que foi pactuado a interpretação contratual entenderá como vontade o ato do contraente, não a literalidade da cláusula. No entanto, o elemento de tempo é importante para a determinação desta interpretação, pois são situações distintas descumprir um contrato por anos e descumprir um contrato algumas semanas após celebrado. 
Favor debitoris. Atualmente não há dispositivos que determinam interpretação em benefício do devedor, como havia no Código Comercial.
5. Considerandos 
Contratos extensos cada vez mais dão maior atenção aos considerandos contratuais, que seria o preambulo do contrato, mas são frases – não exatamente cláusulas – feitas para contextualizar os contratos, como as partes chegaram ao contrato. 
Por exemplo, “considerando que a contratante atua na área da tecnologia da informação...”. Enfim, é contata uma história sobre como as partes chegaram à pactuação de um contrato. 
E dentro dos considerandos é possível expor que houve discussão das cláusulas contratuais e por quanto tempo. Esta pode ser uma medida de proteção, que intenta dizer que não é possível modificar as cláusulas, pois já houve a oportunidade de discuti-las. 
	29/10/2018
INTERPRETAÇÃO CONTRATUAL (continuação) 
6. Regras de Pothier
Existem doze regras de interpretação dos contratos propostas por Pothier. 
As regras de Pothier vêm do Código Napoleônico e inspiraram a redação do Código Comercial de 1950. 
1ª – Nos contratos, o que mais interessa é a intenção comum das partes e não o sentido literal das palavras. 
Esta norma foi positivada no art. 85 do CC de 1916. 
Quando houver dúvida ou ambiguidade todos os comportamentos posteriores ao contrato serão fundamentais para a interpretação de cláusulas que tenham ficado com redação dúbia ou de difícil interpretação.
3ª – As expressões que possuem um duplo sentido interpretam-se de acordo com a natureza do contrato.
Os contratos possuem efeitos/consequências que são desde sempre esperados de acordo com sua natureza (compra e venda: transmitir propriedade, locação: uso mediante pagamento), de forma que havendo duplo sentido na interpretação das cláusulas contratuais a solução está na natureza do contrato, na sua finalidade objetiva.
4ª – As expressões ambíguas interpretam-se de acordo com os costumes do país.
Atualmente se distingue uso de costume, mas os usos são fonte autônoma de criação de deveres muito mais voltada para os contratos empresariais, em que se estabelecem determinadas práticas características que são levadas em consideração na interpretação. Usos é algo que está em consonância com o atual CC, estando presente em vários dispositivos, pois é uma diretriz,

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