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DIRETRIZ DO TRATAMENTO DO CÂNCER UROLÓGICO Reservados todos os direitos. É proibida a reprodução ou duplicação deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa do organizador. Direitos reservados ao organizador. São Paulo Rua Épiro 11 - Vila Alexandria - São Paulo - SP - (11) 3628 8883 Rio de Janeiro Estrada do Bananal 56 - Jacarepaguá - Rio de Janeiro - RJ - (21) 2425 8878 www.editoradoc.com.br contato@editoradoc.com.br Coordenação editorial Bruno Garcia Redação Luciana Rosário Revisão Bruno Aires e Flávia Custódio Capa e Diagramação Danielle V. Cardoso AUTORES Carlos Eduardo Corradi • Chefe do Serviço de Urologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Mi- nas Gerais. • Chefe do Depto de Uro-Oncologia da SBU. Franz Campos • Chefe do Depto. de Uro-Oncologia da Salus – Centro de Oncologia do Rio de Janeiro. • Médico do Serviço de Urologia do Institu- to Nacional de Câncer – INCa. Gustavo Carvalhal • Doutor em Urologia pela Universidade de São Paulo. • Professor Adjunto do PG em Medicina e Ciências da Saúde, Faculdade de Medicina da PUCRS. Lucas Nogueira • Urologic Oncology Fellow – Memorial Sloan Kettering Cancer Center, EUA. • Coordenador de Uro-Oncologia e da Re- sidência Médica em Urologia – Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Marcelo Bendhack • Mestre e Doutor em Clínica Cirúrgica pela UFPR. • Doutor em Uro-Oncologia pela Universidade Heinrich-Heine de Düsseldorf, Alemanha. Marcos Dall’Oglio • Chefe do Setor de Oncologia Urogenital HC-ICESP, Divisão de Clínica Urológica – FMUSP. • Professor Doutor do Departamento de Ci- rurgia, Disciplina de Urologia FMUSP. Marcos Tobias-Machado • Chefe do Setor de Uro-Oncologia da Disci- plina de Urologia da Faculdade de Medicina do ABC – FMABC e do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer – IBCC. Doutor em Ciências Médicas pela USP. Misael Wanderley dos Santos Jr. • Research Fellow em Uro-Oncologia, M.D. Anderson Cancer Center. • Assistente do Serviço de Urologia do Hos- pital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco. Renato Scaletscky • Médico do Serviço de Urologia do Hospi- tal das Clínicas de Porto Alegre – UFRGS. • Senior Lecturer da Universidade de Londres. Wagner Eduardo Matheus • Assistente da Disciplina de Urologia UNI- CAMP. • Membro da Urologia Oncológica da UNI- CAMP Apresentação Prefácio Câncer de rim Características clínicas e patológicas dos tumores renais Tratamento dos tumores renais Diretrizes do tratamento dos tumores renais Referências Câncer de bexiga Patologia Apresentação clínica Diagnóstico do CaB Estadiamento do CaB Prognóstico do CaB Câncer de bexiga superficial Seguimento dos tumores superficiais câncer de bexiga invasivo câncer de bexiga metastático Diretrizes Referências SUMÁRIO 8 9 11 11 13 24 25 29 29 30 30 31 33 33 36 36 40 40 42 Câncer de próstata Tratamento do câncer de próstata localizado Bloqueio hormonal exclusivo (BH) Tratamento do câncer de próstata metaestático Drogas e esquemas mais eficazes do bloqueio hormonal Referências Câncer de testículo Exploração inicial Classificação histológica, estadiamento e fatores prognósticos Tratamento Recomendações Referências Câncer de pênis Lesão primária Abordagem dos linfonodos Tratamento sistêmico Diretrizes para o tratamento do câncer de pênis Referências 45 45 57 58 59 64 69 69 69 71 79 81 85 86 88 92 93 94 8 Prezados colegas As sociedades médicas têm o dever de trazer atualizações científicas para seus associados, pois a evolução e as transforma- ções na Medicina são constantes e ocorrem com muita rapidez. Com a colaboração de alguns grandes nomes da Onco- logia Urológica nacional e com a dedicação dos funcionários da SBU, fizemos a revisão do tratamento do câncer urológico baseada em evidências, nas últimas publicações e outras dire- trizes de sociedades internacionais. Esta diretriz será sem dúvida um instrumento de grande valor para o urologista como fonte de pesquisa, estudo e segu- rança no tratamento de seus pacientes. Agradeço a todos os colaboradores que, com sacrifício, mas com entusiasmo contagiante, fizeram um grande traba- lho para revisão e atualização destas Diretrizes para todos os urologistas brasileiros. Carlos Corradi Fonseca Chefe do Depto. Uro-Onco SBU 2008-2009 APRESENTAÇÃO 9 A prática médica atual exige lastros que possam balizar nossa atividade fundamentada em evidências e norteada pela literatura médica. Hoje não existe lugar para atitudes e expe- riências individuais sem embasamento científico. As institui- ções médicas e os tomadores de serviço estão envolvidos nes- tes projetos que valorizam a Medicina baseada em evidências, racionalizam custos e oferecem resultados mais seguros. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em sintonia com todos estes avanços e rápidas mudanças na abordagem terapêutica ao paciente uro-oncológico, produziu este impor- tante documento. Este trabalho complementa e atualiza a di- retriz efetuada pela SBU em 2005. Aborda especificamente o tratamento das mais importantes neoplasias malignas do tra- to genito-urinário, um assunto cada vez mais valorizado pelos pacientes e que certamente será uma valiosa fonte de consulta dos urologistas. Fundamental registrar que este trabalho foi fruto da dedi- cação e do esforço do Departamento de Uro-Oncologia. Por- tanto, a diretoria atual da SBU – gestão 2008/2009 reconhece e agradece a todos os colaboradores desta diretriz que, com isto, demonstram grande empenho e compromisso com a comuni- dade urológica. Esperamos oferecer aos leitores um claro suporte na prá- tica clínica. Um benefício também direcionado aos pacientes, nosso maior alvo, para os quais dedicamos e aprimoramos nossos conhecimentos. Dr. José Carlos de Almeida Presidente da SBU Gestão 2008/2009 PREFÁCIO 11 CÂNCER DE RIM As neoplasias malignas do rim são importantes do ponto de vista epi-demiológico, e têm apresentado uma incidência crescente ao longo das últi- mas décadas1. O aumento dos diagnósticos de tumores assintomáticos verificados pelos métodos de imagem não tem se acompanha- do de uma redução concomitante das taxas de mortalidade1. A cirurgia segue sendo a base da terapia das lesões primárias, e tam- bém tem papel fundamental no tratamento das metástases e na cito-redução tumoral2. Cerca de 20% dos cânceres renais apresentam doença metastática ao diagnóstico, respon- dendo mal à imunoterapia e quimioterapia2. Descobertas recentes sobre as bases genéticas e moleculares destas neoplasias levaram ao surgimento de terapias moleculares que hoje são a primeira linha no tratamento sistêmico. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E PATOLÓGICAS DOS TUMORES RENAIS Apesar de mais de 60% das neopla- sias renais serem incidentalmente des- cobertas durante a realização de exames de imagem, os tumores de rim podem se manifestar de diversas formas clínicas. A tríade clássica de dor lombar, hematúria e massa palpável no flanco costuma ocorrer em menos de 10% dos casos1. No entanto, são muitas as manifestações possíveis de- correntes de metástases (em cerca de 20% dos casos presentes ao diagnóstico) ou de síndromes paraneoplásicas (presentes em 40% dos casos)3. Cerca de 75% a 80% dos tumores do pa- rênquima renal são carcinomas de células claras. Os tumores papilares ocorrem em cerca de 10% dos casos, tumores cromófo- bos em cercade 8%, enquanto que os restan- tes são tipos mais raros de neoplasia, como oncocitomas ou tumores de ducto coletor (de Bellini)4. Trabalhos do Instituto Na- cional do Câncer Norte-Americano (NCI) demonstraram a relação entre o carcinoma de células claras e mutações do gene de Von Hippel-Lindau (VHL)5 A função inade- quada do gene VHL resulta na expressão 12 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU elevada de um fator induzido pela hipóxia (HIF), o qual por sua vez leva à síntese au- mentada de fatores pró-angiogênicos como o fator de crescimento associado ao endo- télio vascular (VEGF), importante para o crescimento e progressão tumorais5. Os tumores renais tendem a apresentar crescimento e invasão tecidual locais, po- dendo disseminar-se por via linfática para linfonodos regionais e à distância, e por via hematogênica para fígado, ossos, pulmões, e virtualmente qualquer sitio metastático pos- sível6. Logo, é fundamental no estadiamen- to avaliarmos a extensão local do tumor, a cavidade abdominal e pélvica, e a cavidade torácica, geralmente através da tomografia computadorizada e da radiografia simples de tórax. Sintomas específicos podem ser in- vestigados de acordo com as peculiaridades do caso. O estadiamento mais utilizado é o do sistema tumor, nodos, metástases (TNM), da American Joint Committee on Cancer, exemplificado na tabela 16. Os grandes determinantes de má evolu- ção são a presença de metástases (nodais ou a distância). Além do estadiamento, outros fatores têm sido implicados no prognóstico do carcinoma renal. Dentre estes, podemos citar invasão do seio renal, necrose tumoral, localização central/peri- férica da lesão, características endofíticas ou exofíticas, grau de atipias nucleares (Fuhrman), índice mitótico, invasão linfo- vascular, entre outros7-10. Tabela 1. Estadiamento do carcinoma de células renais – TNM (AJCC, 2009)6 Estágio Tx T0 T1a T1b T2a T2b T3a T3b T3c T4 Nx N0 N1 N2 Mx M0 M1 Descrição Falta informação quanto ao tumor primário Sem evidência de tumor primário Tumor <4cm, limitado ao rim Tumor >4cm e <7cm, limitado ao rim Tumor >7cm e <10cm, limitado ao rim Tumor >10cm, limitado ao rim Tumor compromete gordura perirrenal, gor- dura do seio renal ou adrenal, sem ultrapassar a fáscia de Gerota Tumor se estende para a veia renal, seus ramos segmentares, ou veia cava inferior abaixo do diafragma Tumor se estende para a veia cava inferior acima do diafragma ou invade a parede da veia cava inferior Tumor se estende para além da fáscia de Gerota Sem informações sobre linfonodos regionais Ausência de metástases em linfonodos regionais Metástase em um único linfonodo regional Metástases em mais de um linfonodo regional Sem informações sobre metástases a distância Ausência de metástases a distância Metástases a distância 13 Tabela 2. Probabilidade de carcinoma de células renais (CCR) na peça cirúrgica, de acordo com o tamanho da lesão sólida renal. (Adaptado de Thompson, R. H., et al. J Urol, 2009)11. Tamanho da lesão <1cm >1 e <2cm >2 e <3cm >3 e <4cm >4 e <5cm >5 e <6cm >6 e <7cm >7cm % de CCR 62.5% 80.8% 83.5% 87% 91.3% 90% 93.4% 92.9% % de CCR de alto grau 0% 16% 17% 27% 33% 42% 38% 59% Câncer de rim TRATAMENTO DOS TUMORES RENAIS Observação de pacientes com tumores renais e lesões císticas Considera-se que toda a lesão renal sólida deve ser uma neoplasia maligna, até que surja prova do contrário. Contudo, a análise das sé- ries cirúrgicas e a evolução dos métodos diag- nósticos permitem ao urologista estimar a pro- babilidade de neoplasia maligna. Cerca de 15% a 20% das lesões renais sólidas com diâmetro <4,0cm mostram-se benignas (angiomiolipo- mas, adenomas e fibrose, entre outros) após a ressecção cirúrgica, existindo uma relação di- retamente proporcional entre o tamanho da lesão e a probabilidade de malignidade (tabela 2)11. Desta forma, passaram a ser aceitos a bi- ópsia pré-operatória e mesmo o acompanha- mento mais conservador de lesões pequenas e incaracterísticas ao exame de imagem em pa- cientes selecionados. Em um estudo retrospectivo, confirmado por séries distintas em seus principais achados, Bosniak descreveu que tumores sólidos de rim <3,5 cm crescem em velocidades lentas (média de 0,36cm/ano), raramente metastatizando enquanto pequenos12,13. Portanto, a observação e o acompanhamento com exames de imagem seriam opção em pacientes selecionados com lesões pequenas e que apresentassem: comor- bidades, idade avançada, função renal margi- nal, e crescimento tumoral lento. A observação é sugerida mais fortemente na doença de Von Hippel-Lindau; nestes pacientes há o desen- volvimento de múltiplos carcinomas de células renais nas lesões císticas, e aguarda-se o cresci- mento do tumor até o tamanho de 3 cm para que se indique a nefrectomia parcial, evitando assim múltiplos procedimentos desnecessários e fornecendo uma melhor qualidade de vida ao paciente14. As lesões císticas renais são muito fre- quentes, estimando-se que cerca de 20% dos adultos apresentem cistos renais à ul- trassonografia. Um percentual pequeno destas lesões, porém, está associado a ne- oplasias malignas, geralmente carcinomas de células claras. A classificação de Bosniak, descrita na tabela 3, é uma forma de definir a conduta frente às lesões císticas de rim, sendo derivada da avaliação da imagem tomográfica (antes e após a infusão de con- traste intravenoso)15-17. 14 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU Tabela 3. Classificação de Lesões Císticas do Rim segundo Bosniak15, 16 Bosniak I II IIF III IV Características Cistos simples Conteúdo homogêneo, regulares, sem septações, calcificações ou impregnação pelo contraste Cistos minimamente complicados Finas septações (<1mm), calcificações lineares, cistos hiperdensos (>20HU) menores de 3cm Cistos minimamente complicados requerendo seguimento Várias septações finas, septos ou paredes minimamente espessados, calcificações espessas ou nodulares, cistos hiperdensos intra-renais > 3cm Cistos indeterminados Espessamento parietal ou septações espessas, com realce pelo contraste, com ou sem calcificações Neoplasias císticas Espessamento parietal ou septal grosseiro e nodular, tumor sólido na parede ou septos Percentual de malignidade 0% 0% 5% 45% a 60% 90% a 100% Nefrectomia radical aberta e laparoscópica A cirurgia é a base do tratamento das lesões primárias do rim18,19. A nefrectomia radical está principalmente indicada no tratamento de pacientes com rim contra- lateral normal, na impossibilidade da reali- zação de nefrectomia parcial com margem livre. Costuma ser priorizada também em lesões extensas (>4,0cm) devido à maior associação destas com tumores multicên- tricos no mesmo rim18. A nefrectomia ra- dical também pode ser utilizada para o tratamento de pacientes selecionados com comprometimento metastático passíveis da realização de tratamentos sistêmicos ou ainda na necessidade de paliação (por exemplo, tratamento de hematúria signifi- cativa ou de dor severa)20. Os princípios da nefrectomia radical clás- sica estabelecidos por Robson et al.21 (liga- dura precoce da artéria e veia renais, remo- ção completa do rim envolto pela gordura perirrenal, remoção da adrenal ipsilateral, linfadenectomia retroperitoneal extensa) têm sido questionados. Por exemplo,ne- nhum ensaio clínico randomizado compro- va a superioridade da nefrectomia radical sobre a nefrectomia simples. Recomenda-se, no entanto, que sempre se remova a gor- 15 dura adjacente ao tumor, uma vez que cer- ca de 25% dos tumores renais apresentam comprometimento desta estrutura18. A via de acesso (transperitoneal, extraperitoneal, lombotomia, laparotomia, tóraco-frenola- parotomia) para a nefrectomia radical aber- ta depende da preferência do cirurgião, das características do tumor e das condições clí- nicas do paciente19. Desde os trabalhos de Clayman, no início da década de 1990, a laparoscopia passou a ser utilizada comumente na nefrectomia ra- dical22. A nefrectomia radical laparoscópica (NRL) está geralmente indicada em tumores cT1b (4,0cm – 7,0cm), sendo que há indica- ções relativas para tumores cT223. A presença de linfonodos aumenta- dos, infiltração de planos musculares, de órgãos adjacentes, cirurgias abdominais ou retroperitoneais prévias e condições cardiopulmonares que possam limitar o pneumoperitônio são contra-indicações relativas ao método vídeolaparoscópico que devem ser levadas em consideração individualmente23. Os resultados oncológicos de longo pra- zo da NRL são semelhantes aos da cirurgia aberta. A sobrevida livre de doença em cin- co anos é de 91% para a NRL e 87% para a cirurgia aberta24. As vantagens da NRL são: menor necessidade de analgesia pós-opera- tória e menor tempo de internação hospita- lar, com retorno mais rápido às atividades, além de efeito cosmético superior25. A maioria dos grupos que realizam a NRL preconiza o ensacamento do órgão em bolsas de extração apropriadas, o que minimiza as chances de implantes secun- dários durante a retirada da peça cirúr- gica através de incisão em abdômen in- ferior (Pfannenstiel ou Gibson). As taxas de complicações da NRL chegam a 16%, com 5% de conversão26. O morcelamento dos tumores renais somente deve ser rea- lizado em condições ideais (saco extrator apropriado e morcelador adequado). Até a presente data, os raros casos relatados de implante tumoral estiveram associados ao morcelamento de tumores de alto grau e à presença de ascite 27. A NRL também tem sido utilizada para controle da le- são primária em doença metastática, por apresentar menor morbidade e tempo de internação, propiciando o início precoce de imunoterapia sistêmica28. Nefrectomia parcial aberta e laparoscópica Várias têm sido as motivações para a realização de nefrectomia parcial. Dentre elas, o incremento no diagnóstico de le- sões sólidas pequenas e de cistos comple- xos (Bosniak III e IV), as melhores con- dições de planejamento pré-operatório possibilitadas pelos métodos de imagem, o conhecimento sobre a anatomia vascu- lar do rim e sobre as técnicas de prevenção de isquemia transoperatória, e as excelen- Câncer de rim 16 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU tes taxas de sobrevida observadas em sé- ries recentes. Além disso, entre 15% a 20% das lesões <4 cm têm se mostrado benig- nas nas séries contemporâneas11. Atualmente, a nefrectomia parcial é a técnica preferencial nos casos de lesões pequenas (<4 cm) e periféricas, nas quais a chance de multifocalidade é reduzida, e nos cistos complexos (Bosniak III e IV), devendo ser indicada mesmo quando o rim contralateral for normal, sempre que se obtiver uma margem cirúrgica mínima de segurança29. Existe uma tendência em se considerar a realização de NP em lesões de até 7cm em casos selecionados30. Lesões pequenas geralmente permitem a nefrecto- mia parcial sem o clampeamento do pedí- culo renal. Quando necessário o clampea- mento, preconiza-se a adoção de medidas para a preservação da função renal, como o uso de manitol, sendo que o tempo de isquemia quente não deverá ultrapassar os 30 minutos. Cirurgia de banco pode ser necessária em casos mais complexos. A se- gurança oncológica da NP é similar à da cirurgia radical29. O desenvolvimento de materiais lapa- roscópicos mais apropriados para o con- trole do pedículo vascular possibilitou a replicação dos passos da nefrectomia parcial aberta pela via laparoscópica. No entanto, cabe lembrar que as séries lapa- roscópicas contemplam lesões geralmen- te menores do que as das séries abertas e com predominância do componente tu- moral exofítico31. As vantagens potenciais da técnica laparoscópica quanto à analge- sia, recuperação e retorno a vida produ- tiva devem ser, portanto, avaliadas consi- derando-se prioritariamente a segurança oncológica no caso30, 31. A realização da análise anátomo-patoló- gica transoperatória da margem cirúrgica é tema controverso, uma vez que a maior par- te das margens positivas na peça definitiva são microscópicas e não apresentam poten- cial evolutivo clínico significativo31, 32. Linfadenectomia retroperitoneal A linfadenectomia no câncer renal tem como objetivo principal o estadiamento, sendo raramente curativa. O acometi- mento linfonodal em tais pacientes re- presenta um fator de mau prognóstico, uma vez que na maioria absoluta dos casos já há a presença de metástases sis- têmicas concomitantes. Desta forma, a necessidade da realização de linfadenec- tomia retroperitoneal e os seus limites permanecem incertos. No entanto, há um estudo randomizado de nefrectomia radical com ou sem linfadenectomia re- troperitoneal com resultados ainda não definitivos, sugerindo que poderia haver benefício na sobrevida para um pequeno subgrupo de pacientes linfadenectomi- zados cujo comprometimento linfonodal é mínimo33, 34. 17 Os limites da linfadenectomia retrope- ritoneal para os pacientes com carcinoma de células renais podem ser distintos. A linfadenectomia hilar se restringe à remo- ção dos linfonodos do hilo renal, os quais geralmente saem juntos com o espécime de nefrectomia radical; a linfadenectomia regional incluiria os linfonodos do hilo e também os relacionados ao grande vaso ip- silateral (aorta ou cava) pelo menos desde a altura de L1 a L3; a linfadenectomia am- pliada é feita desde a crura diafragmática até a bifurcação dos grandes vasos, bilate- ralmente. A maioria dos autores preconiza que a linfadenectomia ampliada deveria ser restrita a pacientes com comprometimento linfonodal macroscópico. Nos restantes, a linfadenectomia hilar seria suficiente34. Na nefrectomia parcial de lesões cujo estadia- mento não revela linfadenomegalias não há evidências da necessidade de linfade- nectomia. Técnicas ablativas e tratamentos minimamente invasivos As técnicas de ablação dos tumores re- nais visam à destruição do mesmo tecido renal que seria excisado durante uma ne- frectomia parcial convencional ou laparos- cópica. Os tumores do parênquima renal se prestam a estes tratamentos por apre- sentarem possibilidade de identificação e acompanhamento por métodos de imagem e por localizarem-se freqüentemente em si- tuações periféricas no parênquima renal, sendo de fácil abordagem percutânea ou la- paroscópica. A crioablação e a ablação por rádio-freqüência, por ultrassom (high in- tensity focused ultrasound - HIFU) e por rádio-cirurgia são as principais alternativas minimamente invasivas, mas os resultados iniciais destas técnicas necessitam de maio- res seguimentos35. A crioablação aparentemente fornece segurança razoável em séries de pacientes selecionados, com cerca de cinco anos de se- guimento. A taxa de doença residual em bi- ópsias pós-tratamentoé baixa e de significa- do clínico incerto. Recentemente, um estudo randomizado comparou os resultados entre pacientes com lesões tratadas por crioabla- ção por via percutânea ou laparoscópica, re- latando igual segurança oncológica, porém maior praticidade e menores efeitos colate- rais com as técnicas percutâneas35. Uma recente meta-análise publicada pela American Urological Association (AUA) revelou uma maior taxa de recor- rências locais e um decréscimo nas chan- ces de sobrevida com terapias ablativas em comparação com nefrectomia parcial, sugerindo que estar terapias sejam indica- das seletivamente, levando estes achados em consideração30. Adrenalectomia: quando indicar? A incidência de metástases adrenais em câncer de rim varia entre 4,3% a 5,7%36. O Câncer de rim 18 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU estádio clínico da doença se correlaciona diretamente com a incidência de acometi- mento, sendo este de 40% nos tumores T4, 7,8% nos T3 e 0,6% nos T1-2. Tumores do pólo superior e lesões com grande volume (> 7cm) são responsáveis por aproximada- mente 58,6% dos tumores que acometem as adrenais. Além disso, a remoção da glândula adrenal se faz necessária quando ela estiver alterada em tamanho ou densidade no exa- me de imagem36. Tumor renal com trombo em veia cava A extensão de trombos tumorais para a veia cava ocorre em 3% a 10% dos tumores renais, podendo ocasionar eventualmente edema de membros inferiores, varicocele (que não se altera com o decúbito), alteração de função do rim comprometido ou mesmo embolias pulmonares3. A ressonância nuclear magnética (RNM) substituiu a cavografia como exame de elei- ção na avaliação do trombo de cava, mas a TC com alta resolução pode ser suficiente. Raramente há indicação de ecografia tran- sesofágica em casos de extensão torácica. A invasão da parede da veia cava é um fator prognóstico mais importante do que o nível de extensão do trombo (sobrevida de 69% versus 25% nos casos sem e com invasão, respectivamente)38. A presença de linfono- dos comprometidos também é fator deter- minante de recorrência e óbito. Figura 1. Classificação do trombo de veia cava, conforme sua extensão cranial (níveis - 1: peri-renal 2: sub-hepático, 3: intra- hepático e 4: intra-atrial – adaptado de Novick, A. C. Renal malignancy - Open surgery)37 Nível 1 Nível 2 Nível 3 Nível 4 19 Um campo cirúrgico adequado é neces- sário para o controle precoce dos vasos e a minimização das chances de embolia e sangramento. Após a ressecção/remoção do trombo tumoral, pode ser necessária a reconstrução da cava com enxertos (peri- cárdio bovino, próteses), ou mesmo a ca- vectomia em casos selecionados. Nos casos de extensão intra-atrial, pode ser necessária circulação extra-corpórea com hipotermia e abertura do átrio pela equipe de cirurgia cardíaca39. Ressecção de metástases (metastasectomias) O melhor tratamento para as metásta- ses de carcinoma renal ainda é a ressec- ção cirúrgica das mesmas, quando isto for possível. A maior série retrospectiva da li- teratura incluiu 278 pacientes. As taxas de sobrevida em cinco anos para pacientes com ressecção completa das metástases foram de 44% (n=141), 14% para pacien- tes após ressecção incompleta (n=70), e somente 11% para pacientes não operados (n=67). A análise multivariada demons- trou que foram fatores prognósticos fa- voráveis: recorrência em sítio único (pul- monar), ressecção completa, tempo para a recorrência maior que 12 meses. As le- sões solitárias do cérebro apresentam pior prognóstico. Quando se considerou recor- rências múltiplas, a cada ressecção de me- tástases a chance de sobrevida em cinco anos assemelha-se aos resultados obtidos com a ressecção inicial da primeira recidi- va. Em conclusão, a metastasectomia pode estar indicada em pacientes com lesões passíveis de ressecção, independentemen- te de haver recidivas prévias40. Tratamentos sistêmicos na doença metastática Cerca de 20% dos pacientes com tumo- res renais são metastáticos ao diagnósti- co. Adicionalmente, conforme o estágio inicial uma proporção significativa dos pacientes tratados com intenção curativa desenvolverá metástases durante o segui- mento oncológico. Estudos com vários esquemas de quimioterapia citotóxica mostraram que as drogas convencionais não apresentam eficácia no câncer renal. Nenhum protocolo com quimioterapia convencional atingiu respostas objetivas em >10% dos casos41. Até 2005, os esquemas de primeira li- nha para o tratamento de doença sistêmica contemplavam protocolos de imunotera- pia. Em 2000 uma meta-análise com 4216 pacientes concluiu que o interferon alfa (IFN) forneceu um benefício modesto de sobrevida comparado aos outros tratamen- tos imunoterápicos, sendo definido como o modelo com o qual novos tratamentos te- riam de ser comparados42. Uma análise mais recente da Cochrane, com 58 estudos de imunoterapia revelou Câncer de rim 20 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU que as respostas objetivas são da ordem de 12%, com apenas 4% dos pacientes al- cançando respostas completas, geralmente fugazes, não se evidenciando casos de po- tencial curativo. A sobrevida mediana dos pacientes foi de 13 meses43. No entanto, dois estudos randomizados, um com interleucina em altas doses, o outro com a combinação de IL-2/IFN/5-fluoroura- cil sugerem maior eficácia comparados ao IFN com ou sem vimblastina. Cerca de 6% dos pa- cientes atingem remissão completa da doença com esquemas de altas doses de IL-2, sendo que aproximadamente 80% destes mantêm-se em remissão da doença por mais de dez anos, o que talvez esteja associado à cura clínica44-46. Estes esquemas são associados ao maior custo, toxicidade e complexidade, implicando em uma necessária seleção dos pacientes. Recentemente, identificou-se que a ex- pressão de anidrase carbônica no tecido tumoral indica uma maior probabilidade de resposta clínica à interleucina-2, sendo sugerida a realização do estudo imunohisto- químico para esta proteína na peça cirúrgica quando se contempla a realização do trata- mento45. A imunoterapia com IL-2, devido à elevada toxicidade e às baixas taxas de res- posta objetiva, somente é oferecida a pacien- tes com bom estado de saúde e alta motiva- ção, cientes dos resultados publicados até o momento na literatura oncológica47. Em 2005, a compreensão sobre a biologia molecular dos carcinomas de células renais levou à aprovação de drogas que viriam a modificar completamente o panorama do seu tratamento sistêmico. Foram aprovadas para uso clínico moléculas com ação sobre proteínas-chave na via metabólica associa- da ao gene do VHL e ao VEGF, com impor- tante papel na angiogênese tumoral destas neoplasias (Figura 2). Estas moléculas, po- rém, mostraram eficácia nos carcinomas de células renais convencionais (células cla- ras), não apresentando taxas de resposta si- milar em outros subtipos histológicos (por exemplo, papilar e sarcomatóide)47. O desenvolvimento destas terapias de alvo molecular elevaram as taxas de respos- tas objetivas para >40%. Apesar de respos- tas completas serem virtualmente inexis- tentes, e da doença usualmente progredir após um período de resposta inicial, estas drogas apresentaram um excelente perfil de tolerabilidade, com aumento das taxas de sobrevida geral e específica. O sunitinibe e o sorafenib são drogas que inibem direta- mente os receptoresde VEGF e PDGF, blo- queando as ações destas moléculas sobre os mesmos. O bevacizumab é um anticorpo com ação direta sobre o VEGF, enquanto que o temsirolimus inibe a via da mTOR, uma molécula que regula a transcrição da proteína HIF em resposta à hipóxia48. O everolimus é um inibidor da via do mTOR, havendo sido recentemente aprovado para uso especialmente após a falha de citocinas de primeira linha de tratamento49. 21 fatores de risco : Sem nefrectomia anterior KPS < 80 Hemoglobina baixa Cálcio corrigido alto LDH alto Figura 3. Sobrevida de pacientes com câncer renal metastático de acordo com os critérios de Motzer. (Adaptado de Motzer, R. J., J Clin Oncol, 1999)50 Pr op or çã o de s ob re vi da 1.0 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 0 fatores de risco (164 pacientes, 30 vivos) 1 ou 2 fatores de risco (348 pacientes, 23 vivos) 3, 4 ou 5 fatores de risco (144 pacientes, 1 vivo) 10 11 12 13 14 15 16 170 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Anos após terapia sistêmica Câncer de rim Figura 2. Esquema simplificado das vias moleculares associadas à angiogênese tumoral no carcinoma de células renais (Adaptado de Bini, R., et al. Lancet)47 Estímulos celulares (ex.: fatores de crescimento) Temsirolimus FKBP PI3-K Akt PTEN Raptor Célula tumoral Inativação do gene supressor de tumor VHL VHL Normoxia e gene VHL normal Degradação de HIF mediada por proteossomas Hipóxia Translação mRNA Ativação transcricional de genes-alvo HIF Ciclina D1 c-Myc HIF-α p705gK mTORC1 mLSTS G8L 4E-BP1 HIF-α HIF-α HIF-α Bevacizumabe VEGFOH OH VHL OH HIF-α HIF-α HIF-α VEGFR PDGF Célula endotelial PDGFR Sunitinibe Sorafenibe 4E-BP1 eIF-4E eIF-4E ? ?? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? HIF-α ? Crescimento e sobrevivência da célula E3 Ligase A seleção da terapia de alvo molecular a ser iniciada no cenário de doença metas- tática baseia-se nos resultados dos estudos clínicos disponíveis até o momento e nos guidelines das sociedades oncológicas in- ternacionais (por exemplo, NCCN, ESMO e EAU). Os critérios de Motzer50 são utiliza- dos para estratificar os pacientes com neo- plasia renal metastática em grupos de baixo risco, risco intermediário e risco elevado de progressão, e tomam por base cinco crité- rios clínicos (níveis de hemoglobina, cálcio, DHL, escala de Karnofski, nefrectomia pré- via)50 (Figura 3). 22 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU Um estudo prospectivo, randomizado de fase 3 comparando sunitinibe e interferon alfa revelou um ganho de sobrevida media- na para o braço de terapia alvo molecular (26,4 versus 21,8 meses)51; adicionalmente, 42% dos pacientes no braço de sunitinibe chegaram a atingir três anos de sobrevida após o início do tratamento (figura 4). Há várias alternativas para o tratamen- to sistêmico do câncer renal em primeira ou segunda linha. Atualmente a terapia de primeira linha em pacientes com doença metastática sintomática ou em progressão de risco baixo ou intermediário contempla sunitinibe52 ou bevacizumab+IFN53, 54. O es- tudo de fase 3 com sunitinibe na primeira linha demonstrou medianas de 11 meses de sobrevida livre de progressão, 26 meses de sobrevida geral e 47% de resposta objetiva51. Já os dois estudos de fase 3 com bevaci- zumab associado a interferon mostraram medianas de aproximadamente 8,5 a 10 meses de sobrevida livre de progressão, 19 meses de sobrevida geral e 31% de resposta objetiva53,54. Levando-se em conta o perfil de eficácia do sunitinibe e o fato do bevacizu- mab até o momento desta edição não haver sido aprovado pela Agencia Nacional de Vi- gilância Sanitária (ANVISA) para uso em câncer renal, consideramos que o sunitinibe é o padrão de tratamento em primeira linha para tumores de baixo risco ou de risco in- termediário. O temsirolimus é a primeira escolha em pacientes com doença de alto ris- co55, segundo as recomendações do Na- tional Comprehensive Cancer Network (NCCN)39 e European Association of Urology (EAU) (tabela 4)19 O sorafenibe costuma ser utilizado como segunda linha de tratamento, após falha de citocinas56,57, enquanto o everolimus apresenta-se como opção nos casos de falha dos inibidores de tirosina-quinase49,57. As novas drogas de alvo molecular apre- sentam perfis de toxicidade peculiares. Dentre os efeitos colaterais mais comuns podemos relatar fadiga (>60% dos pacien- tes), anorexia, hipertensão arterial, síndrome mão e pé, estomatite, diarréia, dor abdomi- nal e sangramentos viscerais. Mais raramen- te, redução da fração de ejeção e hipotireoi- dismo podem ocorrer48. 1.0 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 So br ev id a Gl ob al (p ro ba bi lid ad e) 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 Tempo (meses) Nº de mortes/ Nº com risco 0/375 44/326 38/283 48/229 42/180 14/61 4/2 0/375 61/295 46/242 52/187 25/149 15/53 1/1 Sunitinibe: IFN-α: Sunitinibe (n = 375) Mediana: 26,4 meses (IC 95%: 23,0 a 32,9) IFN-α (n = 375) Mediana: 21,8 meses (IC 95%: 17,9 a 26,9) Hazard ratio = 0,821 (IC 95%: 0,673 a 1,001) P = 0,051 Figura 4. Probabilidade de sobrevida geral com sunitinibe versus interferon-α (adaptado de Motzer, et al. Journal of Clinical Oncology, 2009)52 23 Câncer de rim Tabela 4. Recomendações de tratamento sistêmico, no carcinoma renal metastático - EAU 19 Tratamento Primeira linha Segunda linha Grupo de risco ou tratamento prévio Risco baixo ou intermediário Risco alto Falha a citocinas Falha a inibidores do VEGFR Falha a bloqueadores da mTOR Agente recomendado Sunitinibe Bevacizumab + Interferon alfa (IFN) (opção) Temsirolimus Sorafenibe Everolimus Estudos clínicos O ácido zoledrônico na dose de 4 mg IV a cada quatro semanas pode ser útil no caso de metástases ósseas, reduzindo o nú- mero de eventos ósseos adversos (em 61%) e melhorando a qualidade de vida destes pacientes58. Na ocasião do diagnóstico de um tumor renal metastático, é importante que o pa- ciente receba uma abordagem multidis- ciplinar, incluindo também a opinião do oncologista clínico. A avaliação de cada caso em particular permitirá que o pa- ciente possa receber o melhor tratamen- to, considerando-se as várias alternativas existentes. Papel da nefrectomia em tumores de rim metastáticos A cirurgia citoredutora para tumor de rim metastático em pacientes selecionados tem função no tratamento dos sintomas locais, na melhora da qualidade de vida e parece melhorar a resposta ao tratamento sistêmi- co com citocinas. A publicação combinada dos dois grandes estudos (EORTC - estudo 30947 e SWOG – estudo 8949) mostrou um benefício na sobrevida e no tempo de progressão da doença, favorável à cirurgia associada ao tratamento sistêmico (imuno- terapia com interferon) sobre o tratamento sistêmico exclusivo em pacientes com boas condições clínicas59,60. A sobrevida média no tratamento combinado foi de 13,6 meses, enquanto que na imunoterapia isolada foi de 7,8 meses28. Os poucos dados existentes na era do tratamento com drogas-alvo molecu- lar indicam que também neste cenário a nefrectomia parece ser importante, no entanto não há estudos randomizados a respeito. Em conclusão, a nefrectomia radical em pacientes com doença metastática está in- dicada quando os mesmos apresentam bom desempenho físico, ausência de comorbi- dades significativas, doença primária resse-cável, ou em caráter paliativo; há evidências de que a nefrectomia está relacionada a uma maior resposta terapêutica a citocinas e a drogas alvo molecular. 24 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU Tratamento adjuvante e neoadjuvante Não há indicação de quimioterapia, imuno- terapia, terapia com drogas alvo molecular ou radioterapia adjuvantes após cirurgia definiti- va19. A neoadjuvância com drogas alvo mole- cular tem sido sugerida em casos selecionados de doença irressecável, mas há preocupações quanto à cicatrização e ao sangramento tran- soperatório. A maioria dos especialistas sugere evitar o uso de inibidores da tirosina quinase durante as duas semanas que antecedem e que sucedem o procedimento cirúrgico19. DIRETRIZES DO TRATAMENTO DOS TUMORES RENAIS 1. A observação de lesões sólidas ou císticas renais pode ser considerada nas situações especiais de lesões pequenas (<3,0cm), com crescimento lento e em pacientes com co- morbidades severas, desde que cientes dos riscos associados a esta conduta; (NE 3) 2. A nefrectomia radical por via aberta ou la- paroscópica é o padrão-ouro do tratamento do câncer de rim >4cm; a seleção da técnica depende das características do paciente e do tumor; (NE 2) 3. A nefrectomia parcial está indicada nos tumores <4cm e nos cistos complexos de localização favorável. A via laparoscópica é uma opção viável em casos seleciona- dos; (NE 3) 4. Nos pacientes submetidos à nefrectomia radical, a linfadenectomia regional ou mes- mo ampliada podem ser realizadas em pa- cientes com comprometimento linfonodal macroscópico; nos demais casos, a linfade- nectomia hilar é suficiente; (NE 2) 5. Terapias ablativas podem ser consideradas em lesões periféricas de pacientes orientados e motivados. (NE 3) 6. A adrenalectomia ipsilateral está indicada quando a glândula estiver alterada ou em tu- mores extensos de polo superior; (NE 2) 7. A metastasectomia pode estar indicada em pacientes selecionados com lesões ressecáveis, com intenção curativa ou paliativa; (NE 1) 8. A nefrectomia radical em pacientes se- lecionados com tumores metastáticos está indicada na paliação de sintomas e em asso- ciação a tratamentos sistêmicos na busca de uma melhor resposta clínica; (NE 1) 9. A primeira linha do tratamento sistêmico de pacientes com doença metastática inclui drogas alvo molecular, com potencial de melhora na qualidade de vida e na sobrevida livre de doença, mas sem perspectivas cura- tivas. Imunoterapia com interleucina-2 em altas doses pode ser indicada com intenção curativa em pacientes muito selecionados com bom estado clínico. (NE 1) 25 REFERÊNCIAS 1. 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Trata-se da segunda neoplasia maligna gêni- to-urinária em frequência, com aumento da incidência ao longo dos anos, com pico dos 50 aos 70 anos, sendo três vezes mais comum no homem que na mulher. Os fatores de risco para o desenvolvimento do CaB relacionam- se basicamente com exposição química ou ambiental como exposição a aminas aromá- ticas, nitritos, fenacetina, acroleina e arsênico. Todavia, o fator ambiental mais importante é o tabagismo. A outra causa importante é a irritação crônica da bexiga com cateteres de demora e irradiação pélvica1. PATOLOGIA Mais de 90% dos CaB são carcinomas uro- teliais, 5% carcinoma de células escamosas e menos de 2% adenocarcinomas. Desde 1998, após o Consenso da Sociedade Internacional de Uropatologia os tumores uroteliais foram classificados em quatro categorias: papiloma, tumor urotelial papilífero com baixo poten- cial de malignidade, carcinoma urotelial papi- lífero de baixo grau e carcinoma urotelial pa- pilífero de alto grau2. A maioria dos tumores superficiais é diagnosticada como estágio Ta, T1 ou tumor in situ. Todavia, de 50% a 70% destes tumores irão recorrer e 10% a 20% irão progredir para doença invasiva da muscular própria da bexiga (T2-4)3. Figura 1. Câncer de Bexiga – Estadiamento Classificação TNM Mucosa Lâm. própria Muscular Gordura Ta T1 T2a T2b T3 Fonte: União Internacional contra Câncer, 1998 30 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU Presença de Cis O Cis apresenta um comportamento imprevisível, com altas taxas de recidiva, progressão e metástases4. Pode ocorrer na forma focal ou difusa, associado ou não a lesões papilíferas. Os Cis estão associados em 50% dos casos aos tumores pT1 de alto grau e raramenteaos pTa. Pacientes com Cis focal têm cerca de 8% de probabili- dade de desenvolver doença invasiva, en- quanto que na forma difusa esta evolução ocorre em 78% dos casos. O Cis apresenta taxa de recidiva de 63% a 92%5. A presen- ça de Cis isoladamente classifica a lesão como de alto risco e, como demonstrado na figura 2, a probabilidade de progressão dos tumores superficiais aumenta na pre- sença do Cis. Figura 2. Carcinoma superficial de bexiga Carcinoma in situ Fonte: Davis, J Urol. 167:494, 2002. 1.0 .9 .8 .7 .6 .5 .4 .3 .2 .1 0.0 Pr og re ss ão 0 60 120 180 240 Meses T1 G1-3 – Cis T1 G1-3 + Cis APRESENTAÇÃO CLÍNICA Hematúria microscópica ou macroscó- pica, indolor e intermitente, é o sintoma e o sinal mais comum em CaB, ocorrendo em 75% dos pacientes. Sintomas irritativos do trato urinário inferior como polaciúria, ur- gência e disúria, constituem a segunda apre- sentação mais frequente de CaB, ocorrendo em 25% dos casos, nestes especialmente as- sociados a carcinoma in situ ou a tumores invasivos. DIAGNÓSTICO DO CaB Cistoscopia Cistoscopia é a conduta padrão no diag- nóstico e acompanhamento do CaB. A pre- sença de lesão compatível com CaB na cis- toscopia correlaciona-se com presença de câncer ao exame anátomo-patológico em mais de 90% dos casos6. No entanto, a cis- toscopia convencional não detecta cerca de 25% de tumores pequenos, inclusive Cis, o que demonstra que quando o exame é ne- gativo ainda assim pode haver neoplasia em percentual significativo de casos7. Marcadores tumorais Com o propósito de diminuir a necessi- dade de exames invasivos (cistoscopia) no acompanhamento de pacientes tratados, diversos marcadores moleculares de CaB detectáveis na urina e no sangue têm sido 31 Tabela 1. Métodos diagnósticos para seguimento clínico Métodos Citologia BTA NMP 22 Fish Sensibilidade Baixo grau: 7% a 17% Alto grau: 53% a 90% 50% a 80% Não invasivo: 50% Invasivo: 90% 70% a 86% Especificidade 90% a 98% 50% a 75% 85% 66% a 93% Câncer de bexiga utilizados. Entretanto, a citologia urinária continua sendo o exame mais empregado na atualidade (tabela 1). Exames de imagem A ultrassonografia abdominal (US) apre- senta alta sensibilidade na detecção de tu- mores vesicais com mais de 0,5cm, sendo de utilidade por seu baixo custo e por não ser invasiva8. A possibilidade de se encontrar tu- mor urotelial no trato urinário superior em casos de CaB situa-se em torno de 1% a 4%. Nos CaB de alto grau a ocorrência de tumor no trato urinário superior pode se elevar a cerca de 10%9. Portanto, a investigação do aparelho urinário superior em CaB deve ser reservada a pacientes de alto risco, com o emprego da urografia excretora, ou prefe- rencialmente, pela tomografia computadori- zada (TC). A ressonância magnética (RNM) fica reservada para casos especiais como alergia ao contraste e insuficiência renal10. ESTADIAMENTO DO CaB O objetivo do estadiamento é determinar a extensão locorregional ou sistêmica da do- ença, com o objetivo de melhor planejamen- to terapêutico. Exames clínicos A ultrassonografia de abdome total não detecta tumores vesicais menores que 0,5cm, assim como a extensão tumoral na parede vesical ou adenomegalias, não de- vendo, por estas razões, ser utilizada de ro- tina para o estadiamento. A TC ou a RNM abdominal e pélvica são utilizadas rotinei- ramente nos tumores invasivos para avaliar a extensão local do tumor e na pesquisa de metástases intra-abdominais. Entretanto, a acurácia no estadiamento do tumor ve- sical da TC é de cerca de 55%11 e a RNM falha em detectar metástases linfonodais em 15% dos pacientes12. A tomografia por emissão de pósitrons (PET) tem sido utili- zada para avaliação de resposta pós QT ou pós radioterapia13. A radiografia de tórax deve ser realizada rotineiramente na pes- quisa de metástases pulmonares, podendo ser, eventualmente, complementado com TC. A probabilidade de se encontrar lesões ósseas em pacientes com CaB invasivo está ao redor de 5%, portanto a cintilografia 32 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU óssea não é empregada de rotina no esta- diamento, sendo reservada a pacientes com sintomas sugestivos de comprometimento ósseo ou fosfátase alcalina elevada14. Estadiamento O sistema TNM, da União Internacional Contra o Câncer15 deve ser empregado, já que é aceito universalmente. Tabela 2. Classificação TNM da UICC, 2002 TX – O tumor primário não pode ser avaliado. T0 – Não há evidência de tumor primário. Ta – Carcinoma papilífero não invasivo. Tis – Carcinoma in situ: “tumor plano”. T1 – Tumor que invade o tecido conjuntivo subepitelial. T2 – Tumor que invade músculo T2a – Tumor que invade a musculatura superficial (metade interna) T2b – Tumor que invade a musculatura profunda (metade externa) T3 – Tumor que invade tecido perivesical T3a – microscopicamente T3b – macroscopicamente (massa extravesical) T4 – Tumor que invade qualquer uma das seguintes estruturas: Próstata, útero, vagina, parede pélvica ou parede abdominal T4a – Tumor que invade próstata, útero ou vagina T4b – Tumor que invade parede pélvica ou parede abdominal N – Linfonodos Regionais NX – Os lifonodos regionais não podem ser avaliados N0 – Ausência de metástase em linfonodo regional N1 – Metástase, em um único linfonodo, com 2 cm ou menos em sua maior dimensão. N2 – Metástase, em um único linfonodo, com mais de 2 cm até 5cm em sua maior dimensão, ou em múltiplos linfonodos, nenhum com mais de 5cm em sua maior dimensão. N3 – Metástase em linfonodo com mais de 5cm em sua maior dimensão. M – Metástase a distância MX – A presença de metástase a distância não pode ser avaliada. M0 – Ausência de metástase a distância M1 – Metástase a distância 33 PROGNÓSTICO DO CaB A evolução do tumor de bexiga depen- de de características anátomo-patológicas como o grau histológico e invasão linfo- vascular e presença de carcinoma in situ (Cis). Ademais, características do tumor relacionadas à multifocalidade, tamanho e aspecto endoscópico, estadiamento e tem- po de recidiva após tratamento também influenciam o prognóstico. Como regra ge- ral, quanto mais profunda a invasão da pa- rede vesical e mais indiferenciado o tumor, pior é o prognóstico. O risco de progressão após a cistectomia radical ou radioterapia pélvica para os tumores invasivos depende, predominantemente, do estádio patológico e é maior durante os primeiros dois anos do tratamento, reduzindo-se consideravel- mente após o terceiro ano16. CÂNCER DE BEXIGA SUPERFICIAL Ressecção transuretral (RTU) A RTU é o procedimento padrão para diagnóstico, estadiamento patológico e tra- tamento do tumor superficial de bexiga. Ao iniciar o procedimento, deve-se realizar uma inspeção detalhada da uretra e de toda a bexi- ga. A RTU deve ser completa e o material res- secado deve incluir tecido muscular. Biópsias ao acaso não são recomendadas devendo-se realizá-las apenas em áreas suspeitas17. Após a RTU do tumor vesical, vários pa- râmetros são utilizados para identificar os pacientes com maior risco de recorrência e progressão (tabela 4), e então escolher o tipo de terapia intravesical. A RTU inicial pode subestadiar o tumor em bexiga entre 14% a 25% dos casos ou ser incompleta 37% a 54% deles18. Por essa razão, Câncer de bexiga Tabela 3 Patologia Ta, baixo grau Ta, alto grau T1, baixo grau T1, alto grau Cis Probabilidade de recorrência – 5 anos50% 60% 50% 50% a 70% 50% a 90% Probabilidade de progressão Mínima Moderada Moderada Moderada – alta Alta Fonte: NCCN, Bladder Cancer Guideline, 2009. 34 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU e 90% e risco de progressão de 30% a 50 % se tratados apenas com RTU. Nestes casos, indica- se terapia intravesical com BCG ou quimiote- rápicos (tiotepa, mitomicina C e adriamicina). BCG Agente mais recomendado para a terapia intravesical no regime sequencial20. O esque- ma mais empregado (indução) começa qua- tro semanas após a RTU, com uma aplicação semanal durante seis semanas, por duas horas de permanência na bexiga na dose de 40mg a 120mg (tabela 5). Após quatro semanas do término da in- dução, proceder a cistoscopia. Caso não apresente lesões, não há indicação de biópsia uma nova RTU (re-RTU), realizada entre quatro e seis semanas após, deve ser indica- da em ressecções incompletas e em todos os tumores de alto risco de recorrência como demonstra a tabela 4. Perfuração vesical durante RTUB Pequenas perfurações da bexiga durante a RTU ocorrem em aproximadamente 50% dos casos. Contudo, caso haja lesão intraperitoneal com necessidade de laparotomia e rafia vesical, os riscos de recorrência sistêmica aumentam19. Terapia intravesical Tumores uroteliais de risco intermediário e alto possuem índices de recorrência entre 60% Agente Mitomicina C BCG Dose 40mg 40mg a 120mg Início imediata 4 semanas Permanência intravesical 2 h 2h Regime Dose única 6 semanas (indução) e 3 semanas após três, seis, 12, 18, 24, 30 ou 36 meses Tabela 5. Classificação de risco para os tumores superficiais Baixo risco Tumor <3cm Tumor único Baixo grau pTa Ausência de Cis Sem recorrência Risco Intermediário Tumor >3cm Tumor Único ou Múltiplo Baixo grau pTa Ausência de Cis Recorrência intermediária Alto risco Tumor >3cm Tumor múltiplo Alto grau PT1 Presença de Cis Recorrência frequente Tabela 4. Classificação de risco para os tumores superficiais 35 Tabela 6. Esquemas de terapia intravesical Agente Tiotepa Adriamicina Epirrubicina Epodil Dose 30 a 60mg 30 a 90mg 30 a 80mg 100ml a 1% Duração 6/8 semanas Variável 8 semanas 4/12 semanas Manutenção Mensal* Não Não Mensal** Toxicidade Mielodepressão Cistite química Cistite química Cistite/mielodepressão *Opcional **Na opção pela duração inicial de quatro semanas Câncer de bexiga randomizada. Após a fase de indução, terapia de manutenção é recomendada em pacientes de alto risco, podendo ser utilizados ciclos de três semanas após três meses, seguidos de seis em seis meses, durante três anos21. Outra opção é a instilação mensal pelo período mínimo de um ano. O uso do BCG deverá ser reavaliado nas seguintes condi- ções: sangramento ativo, infecção urinária, reação prévia ao BCG, nos imunodeprimi- dos e nos pacientes portadores de algum tipo de prótese. Em casos de recorrência tu- moral, um segundo ciclo poderá ser empre- gado, porém outros agentes são disponíveis para utilização intravesical. Mitomicina C Estudo recente de metanálise mostrou que- da na taxa de recorrência com o uso de quimioterapia intravesical utilizada até 24 ho- ras após a RTU, sobretudo para tumor de baixo risco22. Dessa forma, utiliza-se mitomicina C na dose de 40 mg em 40 ml de água destilada, após certificarmos a ausência total de sangra- mento e mantendo-se na bexiga por um perío- do de duas horas (com sonda fechada). Outros agentes quimioterápicos Vários agentes quimioterápicos são con- siderados eficientes para terapia intravesical nos casos refratários ao BCG (Tabela 6). Cistectomia radical no tumor vesical superficial O papel da cistectomia precoce no T1 de alto grau mostra uma melhor sobrevida na- queles que sofreram cistectomia precoce (90% vivos em 10 anos), reduzindo-se para 36 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU 50% a 60% em dez anos quando a cistecto- mia é postergada por mais de dois anos23, como demonstra a figura 3. Como é difícil sabermos quais os pacientes que deverão ser operados precocemente, foi desenvolvido um estudo que evidenciou que nos casos onde o produto da re-ressecção obtiver novamente T1 de alto grau, o risco de progressão da do- ença é de 82%24. SEGUIMENTO DOS TUMORES SUPERFICIAIS Cistoscopia A primeira cistoscopia deve ser realiza- da no terceiro mês para todos os casos, pois pode existir ressecção incompleta da lesão primária ou recidiva tumoral precoce. A fre- quência com que as cistoscopias subsequen- tes devem ser realizadas está na dependên- cia dos fatores prognósticos de cada caso. A maioria das recidivas ocorre nos primeiros dois anos, razão pela qual após este intervalo os exames cistoscópicos tornam-se menos frequentes25. Exames de imagem O ultrassom tem sido utilizado em alguns centros como alternativa à cistoscopia para seguimento de tumores papilares de baixo risco. Entretanto, não existem estudos com- parativos com bom nível de evidência entre o ultrassom e a cistoscopia nesta situação. A presença de tumor urotelial do trato urinário superior concomitante ao tumor superficial de bexiga ocorre em menos de 5% dos casos. Assim, os exames de imagem devem foca- lizar, preferencialmente, os pacientes com maior risco. Exames como TC helicoidal e a RM tem recebido a preferência, pielografia ascendente também constitui uma alternati- va em casos selecionados26. CÂNCER DE BEXIGA INVASIVO Cistectomia radical com linfadenectomia pélvica A cistectomia radical com linfadenecto- mia pélvica é o tratamento principal no CaB músculo invasivo. Os principais fatores que determinam a evolução do CaB são a efici- ência da cistectomia e a extensão da linfade- nectomia. A cistectomia deve ser realizada com ressecção ampla, incluindo a gordura perivesical. No homem, deve ser realizada a cistoprostatovesiculectomia e na mulher a exenteração pélvica anterior, o que inclui útero, tubas uterinas, ovários, bexiga e pare- de vaginal anterior. A linfadenectomia deve remover todos os linfonodos da cadeia ilíaca comum, ilí- aca externa, fossa obturadora e hipogástri- ca, com extensão pré-sacral até a bifurca- ção aórtica. Margens cirúrgicas positivas reduzem as chances de cura em 2,7 vezes e aumentam em 11 vezes a possibilidade de recorrência local. Ademais, a retirada de mais de dez linfonodos reduz a possi- bilidade de recorrência pélvica em cinco vezes e duplica as chances de sobrevida 37 Câncer de bexiga em cinco anos27. Independente dos linfo- nodos ressecados mostrarem-se negativos ou positivos, a sobrevida é melhor e tam- bém reduz as possibilidades de recidiva local. Provavelmente, linfonodos com doença microscópica na pelve poderiam contribuir para recorrência tardia e redu- zir a sobrevida, pois as chances de sobre- vida estão diretamente relacionadas com a extensão da linfadenectomia e ao número de linfonodos ressecados (figura 4). Após a confirmação da invasão muscular pela RTU, a cistectomia deve ser realizada o mais breve possível. O retardo do tratamen- to, com demora maior do que três meses en- tre a RTUB e a cistectomia reduz em 27% as chances de sobrevida em cinco anos28. Tratamento da uretra A incidência de recorrência uretral após a cistectomia é de 8,1%29. As características mais importantes do tumor associadas à recorrência uretral no homem são: do-ença multifocal, Cis (5%), carcinoma uro- telial no trato superior, envolvimento do colo vesical e uretra prostática. Quando os ductos prostáticos estão envolvidos a recorrência surge em 67% dos casos. Os fatores de risco na mulher relacionam-se a Ca urotelial do colo vesical. É importan- te ressaltar que nas derivações urinárias cutâneas, nas quais a uretra permanece seca, a recorrência uretral aumenta. Se a biópsia de congelação intraoperatória da margem uretral for positiva, indica-se a uretrectomia total. Reconstrução urinária Existem basicamente dois tipos de de- rivação urinaria que podem ser utilizadas após a retirada da bexiga: derivações con- tinentes (ortotópicas e não ortotópicas) e Figura 4. Papel da linfadenectomia no câncer de bexiga invasivo Fonte: Herr. Clin Am North, 2005. 100% 80% 60% 40% 20% 0% 0 5 10 15 Anos N0, ≥10LN N0, <10LN N0, ≥10LN N+, <10LN N0, ≥10 nodos N0, <10 nodos N+, ≥10 nodos N+, <10 nodos Risco 106 107 32 23 Morte 46 68 23 22 5 anos 69% 52% 34% 9% P<.0001 Figura 3. Sobrevida de câncer específica (15 anos) dos pacientes submetidos a cistectomia precoce versus tardia no carcinoma superficial de bexiga Fonte: Herr J Urol 166, 1296, 2001 1.0 .8 .6 .4 .2 0.0 So br ev id a 0 60 120 180 240 Meses Cistectomia precoce (n=26) Cistectomia tardia (n=9) p=.03 38 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU incontinentes (derivação externa com ou sem conduto de alça intestinal). As deriva- ções incontinentes têm sido mais realizadas em virtude de sua facilidade técnica. A ureterostomia cutânea é uma derivação simples, geralmente indicada para pacientes debilitados e com baixa expectativa de vida. O problema mais crítico desta técnica refere- se ao elevado índice de estenose da boca anas- tomótica a pele e quando o comprimento de um dos ureteres é mais curto. A manutenção dos ureteres entubados com duplo J pode ser utilizada no sentido de evitar a estenose. O conduto ileal é a técnica incontinente de escolha, podendo o implante dos ureteres serem em separado (termino-lateralmente na alça - Bricker) ou unidos em boca única (termino-terminal - Wallace), com resulta- dos aparentemente semelhantes. Nos casos de pacientes submetidos à terapia de radia- ção pélvica e com alça de íleo não elegível para reconstrução, está indicado o emprego de alça de cólon transverso. As derivações externas intestinais fre- quentemente são acompanhadas de refluxo e deteriorização do trato urinário superior em longo prazo. Uma boa adaptação a bolsa coletora está relacionada à escolha do local do estoma, as orientações dadas no período pré-operatório e ao cuidado que o paciente tem com a fixação na pele. As derivações continentes são procedi- mentos mais complexos que tem ganhado maior aceitação nos últimos 20 anos nos centros de referência. O tempo operatório é um pouco maior do que o necessário para confecção do conduto ileal, com um índice de complicações reportado nas grandes sé- ries como semelhante. A construção de neobexiga pode ser re- alizada utilizando alça ileal, segmento íleo- colônico, colon e eventualmente estômago. A variação mais utilizada tem sido a técni- ca de Studer. Deve ser utilizada em pacien- tes motivados, sem déficit grave de função renal e com boa habilidade para realização de cateterismo intermitente quando neces- sário. Alguns autores acreditam que a indi- cação de neobexiga ortotópica deva ser evi- tada em pacientes submetidos à cistectomia paliativa ou nos casos de doença linfono- dal extensa, onde supostamente existe um elevado índice de recorrência pélvica. Nos casos em que a uretra não está disponível, uma neobexiga com conduto cateterizável pode ser oferecida. Estudos comparativos têm mostrado que, apesar de intuitivamente melhor, a qualida- de de vida oferecida pelas neobexigas não difere significativamente daquela que ocor- re com o conduto ileal. A escolha da melhor derivação deve ser criteriosa e inclui carac- terísticas do paciente, da doença tratada e da equipe médica que atende o paciente. Cistectomia parcial A cistectomia parcial pode ser feita em ca- sos excepcionais e sempre acompanhada de 39 Câncer de bexiga linfadenectomia. Indicações restritas a tu- mor único de cúpula, ausência de carcinoma in situ em tumores não recidivados. Even- tualmente cistectomia parcial em tumores presentes em divertículos é opção válida. Estratégias de Preservação vesical Regimes terapêuticos empregando RTU ampla associada à radioterapia com quimio- sensibilizador (cisplatina) e quimioterapia adjuvante (methotrexate, vimblastina e doxor- rubicina, cisplatina - MVAC ou gemcitabina com cisplatina - GC) têm sido usados como tentativa de preservação da bexiga. A taxa de resposta deste tratamento alcançou 66% e 52% de sobrevida em dez anos para os tumores T2 e T3-4 respectivamente. Todavia, a cistectomia de resgate por falência desta estratégia ocorreu em 37% dos pacientes. Ao final de dez anos, a bexiga foi preservada em 56% dos T2 e 34% dos T3-4, respectivamente30. Radioterapia A radioterapia exclusiva pode ser utiliza- da em pacientes com indicação de cistecto- mia radical sem condições clínicas ou recusa de ser submetido ao tratamento cirúrgico. Quimioterapia Após a realização da cistectomia radical, cerca de 50% dos pacientes com doença invasiva desenvolverão metástases e mor- rerão em consequência da doença. Esta alta taxa está relacionada principalmente a micro-metástases presentes na ocasião do tratamento cirúrgico e não diagnostica- das pelos métodos de imagem atualmente disponíveis. A utilização da quimioterapia no câncer de bexiga invasivo objetiva o tratamento destas micro-metástases, com diminuição da recorrência tumoral e con- seqüente aumento da sobrevida. Os dois esquemas mais comumente utili- zados são o MVAC (metotrexate, vimblasti- na, doxorrubicina e cisplatina) e GC (genci- tabina e cisplatina). QT Neoadjuvante A quimioterapia neoadjuvante tem como vantagens o tratamento precoce de micro- metástases, a avaliação objetiva da quimios- sensibilidade do tumor, a administração de citostáticos na ausência da morbidade pós- operatória e o potencial de rebaixar o esta- diamento tumoral. Estudo de meta análise recente envol- vendo mais de três mil pacientes mostrou que a administração pré-operatória da qui- mioterapia (neoadjuvante) está associada ao aumento na sobrevida câncer específica em cinco anos de seguimento, sem acarretar aumento na morbidade ou dificuldade ope- ratória. Pacientes com estágio pT3 foram os que mais se beneficiaram31. Por outro lado, é importante a correta identificação daqueles pacientes com maior risco de recorrência tumoral, visto que o estadiamento clínico apresenta falhas. A utilização de quimioterapia 40 Diretriz do tratamento das neoplasias do trato Gênito-Urinário - SBU em todos os pacientes com câncer de bexiga no estágio T2 representa tratamento desne- cessário em 40% a 50% dos casos, com con- sequente exposição às toxicidades decorren- tes da administração dos quimioterápicos, além de atrasar a cistectomia em tumores quimiorresistentes. QT Adjuvante Estudos disponíveis para a avaliação da eficácia da QT adjuvante apresentam número inadequado de pacientes e problemas relacio- nados ao seu desenho ou critérios de inclusão. Estudos randomizados com grande número de pacientes ainda não demonstraram bene- fício no
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