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MICROBIOLOGIA ANTIBIÓTICOS E RESISTÊNCIA BACTERIANA: AÇÃO DOS ANTIBIÓTICOS NORMAL EM RELAÇÃO AS BACTÉRIAS: Os B-lactâmicos se ligam as proteínas de membrana plasmática, chamadas de proteínas ligadoras de Penicilina (PBP), que funcionam como enzimas necessárias à síntese de peptídeoglicano da parede bacteriana. A ligação do antibiótico à PBP inibe sua função enzimática e bloquei a síntese bacteriana. As autolisinas degradam esta parede e o bloqueio da síntese ira culminar na sua destruição, levando à morte bacteriana. (destruição da membrana bacteriana). Os B-lactâmicos alcançam as PBP dos GP e precisam atravessar os canais proteicos, que são as porinas na membrana externa dos GN a fim de atingir seu espaço periplasmático, onde se localizam as PBP desses últimos. MECANISMO DE RESISTÊNCIA BACTERIANA: Os principais mecanismos de resistência bacteriana aos betalactâmicos são: 1 - Produção de uma betalactamase – enzima capaz de clivar o anel betalactâmico; 2 - PBP com baixa afinidade pelo antibiótico; 3 - “Porinas” que dificultam ou impedem a passagem do antibiótico. A parede bacteriana é um componente estrutural essencial para a vida das bactérias, ao evitar a sua lise por osmose. Está disposta sobre a superfície da membrana plasmática e sua composição difere entre Gram-positivos e Gram-negativos . A parede das bactérias Gram-positivas (Streptococcus sp., Staphylococcus sp., Enterococcus sp., Peptostreptococcus sp., Clostridium sp. etc.) é formada apenas por uma camada de peptidoglicanas, com uma espessura entre 20-80 nm. A parede das bactérias Gram-negativas (Haemophilus sp., Moraxella sp., família Enterobacteriaceae, Pseudomonas sp., Bacteroides sp. etc.), por outro lado, é constituída por uma dupla camada, uma mais interna, de peptidoglicanas, com espessura de apenas 1 nm, e uma membrana externa, contendo o Lipopolissacarídeo (LPS). Entre a membrana externa e a camada de peptidoglicanas, está o espaço periplásmico. A resistência de uma bactéria a um determinado antibiótico pode ser “intrínseca”, quando é decorrente da própria natureza do microorganismo, ou “adquirida”, quando surge a partir de uma mutação de um gene bacteriano. Fragmentos de material genético (DNA) ex-tracromossomiais, denominados plasmídeos, podem ser transferidos de uma bactéria para outra por um processo chamado conjugação bacteriana. As bactérias entram em contato e então o plasmídeo passa através de uma estrutura tubular – o pilli sexual – que comunica os citoplasmas bacterianos – Figura 3. É curioso que esta troca de material genético pode ocorrer entre bactérias da mesma espé-ie ou de espécies diferentes (até entre Gram-positivos e Gram-negativos), disseminando genes de resistência antibiótica. 1.2.1 – Betalactamases: As betalactamases são enzimas capazes de inativar um determinado antibiótico betalactâmico, por hidrolisar o seu anel principal. Tais enzimas podem clivar predominantemente as penicilinas (penicilinases), as cefalosporinas (cefalosporinases) ou qualquer uma das duas (betalactamases). Um exemplo clássico de penicilinase é a produzida pela maioria das cepas de Staphylococcus aureus, responsável pela sua resistência a todas as penicilinas, menos as do grupo da oxacilina. Como esta bactéria não produz nenhuma cefalosporinase, costuma ser sensível à maioria das cefalosporinas, principalmente as de 1a geração (ex.: cefalexina, cefalotina). A Klebsiella pneumoniae também produz uma penicilinase que a torna resistente à maioria das penicilinas, mas não às cefalosporinas. A produção de betalactamases é o principal mecanismo de resistência dos Gram-negativos aos antibióticos betalactâmicos. Algumas cepas de Haemophilus influenzae, Moraxella catarrha-lis, Proteus mirabilis, Salmonella sp. e Shigella sp. Produzem betalactamases plasmídio-codificadas (principais exemplos: TEM-1, TEM-2 e SHV-1) que os torna resistentes às penicilinas e às cefalosporinas de 1a geração, mas não às cefalosporinas de 2a, 3a e 4a gerações e aos carbapenêmicos. Para exemplificar, citamos o exemplo do H. in6fluenzae – atualmente cerca de 15-30% das cepas são resistentes à amoxicilina, mas não ao cefuroxime (cefalosporina de 2a geração). Nas últimas décadas, com o uso indiscriminado das cefalosporinas nos hospitais, tem surgido cepas de Gram-negativos da família Enterobacteriaceae com resistência a todos os betalactâmicos, com exceção dos carbapenêmicos (ex.: imipenem) pela produção de “novas” betalactamases. Dois exemplos podem ser citados: uma betalactamase cromossomo-codificada induzível, encontrada em cepas de Enterobacter sp., Proteus indol-positivo, Serratia sp. E Citrobacter sp.; betalactamases plasmídiocodificadas de espectro estendido, encontradas em cepas de E. coli e K. pneumoniae. O bastonete Gram-negativo anaeróbio Bacteroides fragilis é resistente à maioria dos betalactâmicos por conta de uma betalactamase. A cefoxitina e os carbapenêmicos resistem à ação da enzima, sendo, portanto, eficazes contra a bactéria. A associação de antibióticos betalactâmicos com inibidores da betalactamase (clavulanato, sulbactam, tazobactam) tem ampliado significativamente o espectro desses antibióticos, tanto para Gram-positivos (como o S. aureus) como para Gram-negativos (como H. influenzae, Enterobacteriaceae e Bacteroides fragilis). Os exemplos serão abordados adiante. Infelizmente, já existem cepas de Enterobacteriaceae que produzem betalactamases plasmídio-codificadas que resistem à ação desses inibidores. 1.2.2 - Outros Mecanismos de Resistência Um mecanismo importantíssimo de resistência aos betalactâmicos é a presença de uma PBP com baixa afinidade pelo antibiótico. Ou seja, apesar do antibiótico não ser clivado por nenhuma betalactamase, ele não consegue inibir a PBP, simplesmente por se ligar fracamente a esta proteína. Este é o mecanismo de resistência do S. aureus MRSA (Meticillin Resistant S. Aureus), do “pneumococo” resistente à penicilina (e cefalosporinas) e do Enterococcus fecalis aos betalactâmicos, especialmente às cefalosporinas e ao aztreonam. No caso de “pneumococo” com resistência intermediária à penicilina, altas doses do medicamento podem tornar a bactéria sensível a este antibiótico! Finalmente, o último mecanismo de resistência digno de nota é a presença de “porinas” que dificultam ou impedem a passagem do betalactâmico, que, portanto, não pode atingir o seu sítio de ação (aPBP). Só para relembrar,este mecanismo de resistência só pode existir em bactérias Gram-negativas, pois são aquelas que possuem uma membrana externa em sua parede bacteriana – Figura 2. A penicilina G e a oxacilina são ineficazes contra a maioria dos Gram-negativos, justamente por não conseguirem atravessar as “porinas” da membrana externa, o que não acontece com as aminopenicilinas (ampicilina, amoxicilina) e outras penicilinas de nova geração – razão pela qual são penicilinas de espectro ampliado para os Gram-negativos. Um outro exemplo importante de resistência “porina-mediada” é o do bastonete Gram-negativo Pseudomonas aeruginosa. Por este mecanismo, esta bactéria é resistente naturalmente à maioria dos betalactâmicos, excetuando-se as penicilinas antipseudomonas (carbenicilina, ticarcilina, piperacilina, mexlocilina), as cefalosporinas antipseudomonas (ceftazidime, cefoperazona, cefepime) e os carbapenêmicos (imipenem, meropenem, aztreonam). A bactéria P. aeruginosa também pode produzir betalactamases. 1.3 - Classificação e Espectro AntiBacteriano Os antibióticos betalactâmicos são classificados em: (1) penicilinas; (2) cefalosporinas; e (3) carbapenêmicos. Estas classes têm uma pequena diferença no aspecto químico – ver Figura 1 – mas fundamentalmente apresentam importantes divergências no espectro antibacteriano. O que é MIC? Para compreender alguns conceitos que serão comentados a seguir, você deve ter uma ideia da definição de MIC. É a concentração mínima (em μg/ml) necessária para um antibiótico inibir o crescimento bacteriano in vitro. Considera-se um antibiótico eficaz na prática clínicaquando atinge uma concentração plasmática pelo menos quatro vezes superior ao MIC. 1.3.1 – Penicilinas As penicilinas podem ser divididas da seguinte forma quanto ao espectro antibacteriano: 1 - Penicilina G: Também chamada de benzil-penicilina, é considerada a droga mais eficaz contra determinados (1) cocos Gram-positivos, como Streptococcus pyogenes (grupo A), Streptococcus agalactiae (grupo B), Streptococcus do grupo viridans e Streptococcus pneumoniae (o “pneumococo”); 2) bacilos Gram-positivos, como Listeria monocytogenes; (3) cocos Gram-negativos, como Neisseria meningitidis; (4) anaeróbios de boca e orofaringe, mas não o Bacteroides fragilis; e (5) espiroquetas, como Treponema pallidum e Leptospira interrogans. A penicilina G geralmente tem um efeito apenas bacteriostático contra Enterococcus fecalis. De uma forma geral, os germes Gram-negativos (com exceção do gênero Neisseria e de alguns anaeróbios de boca e orofaringe) possuem resistência natural à penicilina G, pois esta substância não atravessa as “porinas” da membrana externa dessas bactérias, não atingindo, portanto, o seu sítio de ação. A maioria dos Staphyloccocus aureus e estafilococos coagulase-negativos adquiriram, há muitas décadas, resistência à penicilina G, pela produção de uma penicilinase plasmídio-codificada. Mais recentemente, um grande percentual de N. gonorrhoeae também adquiriu resistência à penicilina G pela produção de penicilinase. Essas cepas, contudo, são sensíveis às cefalosporinas de 3a geração (ex.: ceftriaxo-ne). Nas últimas décadas, surgiram algumas cepas de Streptococcus pneumoniae com resis- tência intermediária (MIC entre 0,1-2 μg/ml) e outras com resistência alta (MIC > 2 μg/ml) a todas as penicilinas e cefalosporinas. O me- canismo é a aquisição de uma PBP de baixa afinidade para as penicilinas e cefalosporinas. Este percentual em nosso meio está por volta de 15-20% para resistência intermediária e < 5% para resistência alta. A penicilina G é mal absorvida pelo trato GI e, portanto, deve ser ministrada por via parenteral. Existem três preparados de penicilina G: (1) penicilina G cristalina, por via venosa, reser- vada para infecções mais graves que indicam internação; (2) penicilina G procaína (Despa- cilina®), por via intramuscular, para infecções de gravidade intermediária (ex.: erisipela); e (3) penicilina G benzatina (Benzetacil®), uma preparação de liberação lenta, administrada por via intramuscular, cujo efeito perdura por cerca de dez dias. Esta última é reservada para as seguintes infecções: faringoamigdalite es- treptocócica, impetigo estreptocócico e sífilis sem acometimento do SNC. 2 - Penicilina V (Pen-ve-oral®): Também denominada fenoximetil-penicilina, tem uma única vantagem sobre a penicilina G – tem uma excelente absorção por via oral. Portanto, pode ser utilizada no tratamento ou profilaxia de in- fecções por bactérias sensíveis à penicilina G. 3 - Penicilinas Penicilinase – Resis- tentes: São penicilinas semi-sintéticas com capacidade de resistir à penicilinase produzi- da pelo Staphylococcus aureus. Os principais exemplos são: oxaci-lina, meticilina e nafcili- na. Em nosso meio, a única droga deste grupo utilizada na prática é a oxacilina, enquanto a meticilina é importante apenas para os tes- tes de antibiograma. Atualmente, a oxacilina é considerada a droga mais eficaz contra o S. aureus, excluindo-se apenas as cepas MRSA. Estas últimas têm aumentado com frequên- cia em nossos hospitais. O mecanismo de re- sistência, como vimos, é a aquisição de uma PBP de muito baixa afinidade aos betalactâ- micos. Estas bactérias são sensíveis apenas aos antibióticos glicopeptídeos (vancomici- na, teicoplanina). Por ser mal absorvida pelo trato GI, a oxacilina deve ser administrada por via venosa. 4 - Aminopenicilinas: A este grupo per- tencem a Ampicilina e a Amoxicilina (Amoxil®, Flemoxon®, Velamox®). Estes antibióticos, ao contrário da penicilina G, penicilina V e oxacilina, conseguem atravessar as “porinas” da mem- brana externa dos Gram-negativos, tendo, por- tanto, relativa eficácia contra várias cepas de H. influenzae, M. catarrhalis, E. coli, P. mirabilis, Salmonella sp. e Shigella sp. (esta última sen- sível apenas à ampicilina). Mantém também a eficácia contra os Gram-positivos, porém não superior a da penicilina G. O Enterococcus fecalis, uma bactéria totalmente resistente às cefalosporinas, ao aztreonam e à oxacili- na, mantém um certo grau de sensibilidade à ampicilina/amoxicilina (MIC entre 1-4 μg/ml) e à penicilina G (MIC entre 2-8 μg/ml). O mecanismo de resistência do enterococo é muito dependente da afinidade do betalac- tâmico ao receptor PBP. As aminopenicilinas são facilmente hidrolisadas pelas penicilinases ou betalactamases produzidas por uma série de bactérias: o próprio S. aureus e estafiloco- cos coagulase-negativos, algumas cepas de H. influenzae, M. catarrhalis, E. coli, P. mirabilis, Salmonella sp. e Shigella sp. Como vimos ante- riormente, cerca de 15-30% dos H. influenzae medgrupo residência médica 8 da comunidade são resistentes à ampicilina/ amoxicilina devido à produção de penicilinase, porém sensíveis ao cefuroxime (cefalosporina de 2a geração). A Pseudomonas aeruginosa é resistente às aminopenicilinas pela ação de suas betalactamases e pela presença de “pori- nas” de muito baixa permeabilidade. Enquanto a ampicilina possui uma absorção pelo trato GI imprevisível, a amoxicilina tem uma biodisponibilidade de praticamente 100%. Por isso, esta última tem uma grande eficá- cia quando administrada por via oral, inclusive atingindo níveis séricos bem acima da MIC das cepas de “pneumococo” com resistência inter- mediária à penicilina. 5 - Carboxipenicilinas: A este grupo per- tencem a Carbenicilina e a Ticarcilina. Apesar de serem menos eficazes contra os Gram-posi- tivos do que a penicilina G e as aminopenicilinas, têm o espectro ampliado para alguns germes Gram-negativos produtores de betalactamase, como Enterobacter sp., Proteus indol-positivo e Pseudomonas aeruginosa. A ticarcilina é 2-4 vezes mais eficaz do que a carbenicilina contra P. aeruginosa. 6 - Ureidopenicilinas: A este grupo per- tencem a Mezlocilina e a Piperacilina. São mais eficazes do que as carboxipenicilinas contra Enterobacteriaceae e P. aeruginosa. A mezlocilina é uma das únicas penicilinas com espectro anti-Klebsiella pneumoniae (porém é inferior às cefalosporinas para combater esta bactéria). A piperacilina é a penicilina com maior atividade contra P. aeruginosa. 1.3.2 - Penicilinas + Inibidores de Betalactamase Como vimos até agora, o principal meca- nismo de resistência aos betalactâmicos tan- to por parte dos Gram-positivos (S. aureus) quanto dos Gram-negativos (H. influenzae, M. catarrhalis, E. coli, K. pneumoniae, P. mirabilis, Enterobacter sp., Serratia sp., Bacteroides sp., P. aeruginosa etc.) é a produção de betalac- tamases. Associando inibidores da betalacta- mase (clavulanato, sulbactam ou tazobactam) a determinadas penicilinas, podemos ampliar sobremaneira o espectro destes antibióticos. As duas primeiras associações – amoxicilina- -clavulanato (Clavulin®) e ampicilina-sul- bactam (Unasyn®) – têm eficácia garantida contra Gram-positivos (incluindo S. aureus oxacilina-sensível), Gram-negativos e anaeró- bios (incluindo Bacteroides fragilis), sendo excelentes drogas para o tratamento de in- fecções comunitárias polimicrobianas do tipo pneumonia aspirativa, pé diabético infectado, sinusite crônica. Estes agentes são ineficazes contra P. aeruginosa e algumas cepas de En- terobacteriaceae, que produzem betalacta- mases que resistem ao efeito dos inibidores. As outras associações do mercado – ticarci- lina-clavulanato (Timentin®) e piperacilina- -tazobactam (Tazocin®) – têm um espectro ampliado para P. aeruginosa, sendoexcelen- tes drogas para o tratamento de infecções nosocomiais, como a pneumonia. 1.3.3 - Cefalosporinas Em meados da década de 40, Giuseppe Brot- zu (cientista italiano) descobriu o efeito antibac- teriano do fungo denominado Cephalosporium acremonium. O seguimento de suas pesquisas por cientistas da Universidade de Oxford permi- tiu o isolamento de três substâncias antimicro- bianas produzidas por este fungo. Uma delas – a cefalosporina C – é a base de todas as cefalos- porinas fabricadas nos dias atuais. Aí vai uma importante regra: nenhuma cefalosporina é eficaz contra o Enterococcus fecalis, exceto o ceftobiprole (cefalosporina de 5a geração)!! As cefalosporinas podem ser divididas da seguinte forma quanto ao espectro antibacteriano: 1 - Cefalosporinas de 1a Geração: São representadas pela Cefalotina (Keflin®) e Cefazolina (Kefazol®) – formas por via pe- renteral – e pela Cefalexina (Keflex®) e Cefa- droxil (Cefamox®) – formas por via oral. Esses antibióticos são eficazes contra a maioria dos germes Gram-positivos, incluindo o S. aureus oxacilina-sensível, mas são efetivos apenas contra poucos Gram-negativos, como algumas cepas de E. coli, Proteus mirabilis e Klebsiella pneumoniae. São ineficazes contra S. aureus MRSA, S. pneumoniae resistente à penicili- na, e contra N. meningitidis, N. gonorrhoeae, H. influenzae, M. catarrhalis, Enterobacter sp., Serratia sp., Proteus indol-positivo, Pseudomo- nas aeruginosa e Bacteroides fragilis. A cefalo- tina e a cefazolina são muito utilizadas para profilaxia antibiótica per-operatória e podem ser usadas no tratamento de infecções de pele e tecido subcutâneo (neste caso, menos eficazes que as penicilinas). A cefalexina e o cefadroxil são as drogas de escolha para o tra- tamento oral de infecções estafilocócicas de pele e subcutâneo, já que em nosso mercado não há análogos da oxacilina por via oral. São opções para o tratamento da cistite bacteriana (E. coli ou K. pneumoniae). 2 - Cefalosporinas de 2a Geração: Es- sas cefalosporinas possuem um espectro mais ampliado para Gram-negativos, quando com- parados às de 1a geração. São subdivididas em: (1) subgrupo com atividade anti-Haemophilus influenzae, do qual participa principalmente o Cefuroxime (Zinacef®); e (2) subgrupo com atividade anti-Bacteroides fragilis, do qual par- ticipa a Cefoxitina (Mefoxin®). Na verdade, este último subgrupo foi reclassificado como uma outra categoria de betalactâmicos – as cefamicinas – pelo fato de serem produzidos por um outro micróbio: uma bactéria chamada Streptomyces lactamdurans. Falemos do cefu- roxime: é uma droga de extrema eficácia con- tra H. influenzae, M. catarrhalis e N. gonorrhoeae, devido à sua estabilidade às betalactamases produzidas por estas bactérias (principalmente a TEM-1). Quando comparadas às cefalospori- nas de 1a geração, podemos dizer que é mais efetiva contra Streptococcus pneumoniae e medgrupo residência médica 9 Streptococcus pyogenes, porém menos efetiva contra o S. aureus oxacilina-sensível. É bas- tante eficaz contra N. meningitidis. Em relação aos Gram-negativos entéricos, a sua eficácia é relativa e não deve ser considerada na terapia empírica. O cefuroxime é muito utilizado no tra- tamento das infecções respiratórias comunitá- rias, pela sua eficácia antipneumocócica e anti- -hemófilo. Falemos da cefoxitina: é uma droga bastante eficaz contra Bacteroides fragilis, mais efetiva do que o cefuroxime contra as enterobactérias, porém menos efetiva contra H. influenzae, M. catarrhalis e os cocos Gram-positivos. Um problema limitante da ce- foxitina é a sua alta capacidade de induzir be- talactamases pelas bactérias da família Ente- robacteriaceae. Na prática é muito usada como antibiótico profilático para cirurgias abdominais e pélvicas e como opção para o tratamento de infecções por anaeróbios e Gram-negativos (flora mista). Existem cefalosporinas de 2a geração por via oral. Os principais exemplos são: Cefuroxime Axetil (Zinnat®), Cefaclor (Ceclor®) e Cefprozil (Cefzil®). O espectro dessas drogas é semelhante ao do cefuroxime. 3 - Cefalosporinas de 3a Geração: São caracterizadas pela sua estabilidade às beta- lactamases produzidas pelos germes Gram- -negativos entéricos. Em relação às cefalospo- rinas de 1a geração, são menos ativas contra os Gram-positivos, apesar de terem uma efi- cácia comparável às cefalosporinas de 2a ge- ração contra o S. pneumoniae. Em comparação com as cefalosporinas de 1a e 2a gerações, são muito mais ativas contra os Gram-negativos entéricos. Em relação ao espectro anti-Gram- -negativo, podemos dividir as cefalosporinas de 3a geração em: (1) subgrupo sem atividade anti-Pseudomonas; e (2) subgrupo com ativi- dade anti-Pseudomonas. As drogas do primeiro subgrupo são representadas por Ceftriaxone, (Rocefin®), Cefotaxima (Claforan®) e Cefo- dizima (Timencef®). Têm uma excelente co- bertura contra S. pneumoniae, H. influenzae, M. catarrhalis e Enterobacteriaceae (E. coli, Klebsiella pneumoniae, Proteus sp., Enterobac- ter sp., Serratia sp. e Citrobacter sp.). Por isso, são drogas utilizadas para o tratamento de pneumonia comunitária, meningite bacteria- na e infecções nosocomiais não causadas por P. aeruginosa, Acinetobacter sp. ou S. aureus. Infelizmente, o uso indiscriminado das cefalos- porinas de 3a geração nos hospitais induziu o aparecimento de enterobactérias com resis- tência a todos os betalactâmicos, menos os carbapenêmicos. Os principais exemplos são algumas cepas multirresistentes de Enterobac- ter sp., Proteus indol-positivo, Serratia sp. e Ci- trobacter sp. As drogas do subgrupo anti-Pseu- domonas são representadas por Ceftazidime (Fortaz®) e Cefoperazona. A cefoperazona tem a desvantagem de ter perdido a estabili- dade contra as betalactamases produzidas pe- las enterobactérias e, portanto, o seu uso tem sido abandonado. O ceftazidime tem uma co- bertura para Enterobacteriacea, H. influenzae e M. catharralis comparável ao ceftriaxone, porém é ineficaz contra a maioria dos germes Gram- -positivos, principalmente o S. aureus (mesmo as cepas oxacilina-sensíveis). A maior vanta- gem desta droga é a ação anti-Pseudomonas aeruginosa, sendo indicada sempre no intuito de combater esta bactéria. As cefalospori- nas de 3a geração por via oral são: Cefixime (Cefnax®) e Cefpodoxime (Orelox®). Podem ser utilizadas para completar alguns tratamen- tos iniciados no hospital para infecções noso- comiais por Enterobacteriaceae. 4 - Cefalosporinas de 4a Geração: Per- tencem a este grupo duas drogas: Cefepime (Maxcef®) e Cefpiroma (Cefrom®). Em sua estrutura química (Figura 1), possuem um amônio quaternário de carga positiva, ligado ao anel cefalosporínico. Isto confere duas pro- priedades a essas cefalosporinas: (1) passam com facilidade pelas “porinas” de P. aeruginosa; e (2) têm menor afinidade às betalactama- ses cromossomo-codificadas induzíveis pro- duzidas por algumas cepas multirresistentes de Gram-negativos entéricos (Enterobacter sp., Proteus indol-positivo, Serratia sp. e Citro- bacter sp.). Estas drogas são reservadas para os casos de infecção nosocomial por Gram- -negativos multirresistentes. Algumas cepas de P. aeruginosa são resistentes ao ceftazidime, mas não às cefalosporinas de 4a geração. *Ceftazidime + Avibactam (Avycaz): o avibac- tam é um novo inibidor de betalactamase que se mostrou útil em associação ao ceftazidime, ampliando o espectro de ação desta cefalos- porina de 3a geração contra Enterobactérias produtoras de Betalactamases de Espectro de Estendido (ESBL) e algumas cepas de Klebsiella pneumoniae Produtoras de Carbapenemases (KPC), além de Pseudomonas com MIC eleva- do contra o ceftazidime isoladamente. Está sendo estudado em infecções urinárias e intra- -abdominais por estes germes.5 - Cefalosporinas de 5a Geração: Nos últimos anos, foram desenvolvidas novas cefalosporinas dotadas de características quí- micas especiais que ampliaram seu espectro de ação, tornando-as intrinsecamente resis- tentes a diversas betalactamases e, desse modo, potencialmente eficazes no tratamento de infecções por germes como Pseudomo- nas MDR, Enterococo Resistente à Vancomi- cina (VRE) e S. aureus Resistente à Meticilina (MRSA). Em conjunto, elas têm sido chamadas de cefalosporinas de “5a geração”, mas existe controvérsia a respeito desta classificação... Seja como for, o Ceftobiprole (Zevtera) se mos- trou útil nas infecções de partes moles por todos aqueles germes (incluindo enterococo), sendo “não inferior” à combinação de ceftazi- dime com vancomicina. Outra vantagem des- ta droga parece ser uma baixa probabilidade de induzir resistência... O Ceftolozane, quando combinado ao Tazobactam (Zerbaxa), está sen- do estudado nas infecções por Gram-negati- vos do trato urinário e da cavidade abdominal, incluindo enterobactérias ESBL+. A Ceftarolina (Zinforo) tem o mesmo espectro de ação que o ceftriaxone (cefa de 3a), mas também é ativa medgrupo residência médica 10 contra o MRSA. Suas principais indicações têm sido as infecções de partes moles e a pneumo- nia comunitária. 1.3.4 - Carbapenêmicos e Monobactâmicos 1 - Carbapenêmicos: Os antibióticos car- bapenêmicos são Imipenem (Tienam®) e Me- ropenem (Meronem®). Essas drogas são extre- mamente resistentes à clivagem pelas betalac- tamases das bactérias Gram-positivas e Gram- -negativas, incluindo os anaeróbios. Além disso, são eficazes contra Pseudomonas aeruginosa, mas utilizando um canal diferente (em vez da “porina”) para transpassar a membrana externa desta bactéria. Como resumo, podemos listar o espectro do Imipenem e Meropenem: Gram-positivos, incluindo S. aureus oxacili- na-sensível e várias cepas de Enterococcus fecalis. Gram-negativos, incluindo todos os produto- res de betalactamase, P. aeruginosa e Acine- tobacter sp. Anaeróbios, incluindo Bacteroides fragilis. Quais são as bactérias resistentes ao Imipe- nem/Meropenem? São basicamente cinco: (1) S. pneumoniae com resistência alta à penicilina; (2) S. aureus MRSA; (3) Enterococcus faecium; (4) Stenotro- phomonas maltophilia; (5) Burkholderia cepacia. No caso da S. maltophilia, o mecanismo de resis- tência é a produção pelo cromossoma da bacté- ria de uma betalactamase carbapenem-hidroli- sante. No caso das outras quatro, o mecanismo não depende de betalactamases, mas sim da baixa afinidade da PBP pelos betalactâmicos. Infelizmente, já existem cepas Enterobacter sp., Serratia sp. e Bacteroides fragilis que produzem betalactamases carbapenem-hidrolisantes. O mecanismo de resistência de algumas cepas de Pseudomonas aeruginosa aos carbapenêmicos é diferente. Pela pressão de seleção natural exer- cida pelo antibiótico, proliferam-se cepas com permeabilidade reduzida ao carbapenêmico. Importante! Para evitar o fenômeno da resistência indu- zida, sempre que o Imipenem ou Meropenem forem prescritos para tratar uma suposta in- fecção por P. aeruginosa, é necessário que se associe um outro antibiótico, como por exem- plo a amicacina, visando destruir todas as ce- pas da bactéria. Os preparados de Imipenem já vêm associa- dos à cilastatina, um inibidor da enzima tubular renal di-hidropeptidades I. Esta enzima normal- mente degrada a molécula de Imipenem, redu- zindo os níveis urinários desta substância e au- mentando a chance de necrose tubular aguda. 2 - Monobactâmicos: O único antibiótico monobactâmico é o Aztreonam (Azactam®). Trata-se de um antibiótico betalactâmico mo- nocíclico com atividade apenas contra Gram- -negativos aeróbicos – um espectro semelhan- te ao dos aminoglicosídeos. Não é eficaz contra nenhum Gram-positivo ou anaeróbio. Entre os Gram-negativos, não é ativo contra Acineto- bacter sp. e Stenotrophomonas maltophilia. Al- gumas cepas de P. aeruginosa podem se tornar resistentes quando este antibiótico é utilizado como monoterapia. 1.4 - Toxicidade e Formas de Administração Pode usar na Gestante? De uma forma geral, os betalactâmicos são bem tolerados na gravi- dez. Como era de se esperar, os que entraram mais recentemente no mercado ainda estão sendo testados quanto a esse aspecto. A toxicidade das penicilinas pode ser resumi- da da seguinte forma: (1) são drogas cujo efeito adverso mais frequente e importante é a hiper- sensibilidade, geralmente cutânea – a alergia à penicilina ocorre em até 10% dos pacientes, mas anafilaxia em apenas 0,05%, com fatalida- des de 5-10%. Eosinofilia e febre medicamen- tosa são complicações relatadas; (2) a nefrite intersticial aguda alérgica e a anemia hemolítica autoimune e outras citopenias podem ocorrer raramente; (3) a penicilina G em altas doses (> 30 milhões U/dia com boa função renal ou > 18 milhões U/dia com disfunção renal) pode levar a efeitos adversos no SNC, como convulsões e mioclonia; (4) a carbenicilina e a tircacilina podem prolongar o tempo de sangramento e predispor a hemorragia; (5) a ticarcilina em altas doses pode levar à sobrecarga sódica. A toxicidade das cefalosporinas pode ser resumida da seguinte forma: (1) hipersensibi- lidade cutânea, em 1-5% dos casos, mas em 5-15% dos pacientes com relato de alergia às penicilinas; (2) Coombs direto positivo, mas anemia hemolítica é muito rara, bem como outras citopenias; (3) cefalosporinas não mais utilizadas, como moxalactama, cefamandol e cefoperazona podem prolongar o TAP e levar ao sangramento, por interferirem com o meta- bolismo da vitamina K; (4) diarreia pela toxina do Clostridium difficile; (5) efeito dissulfiram- -símile com a ingestão de etanol. Entre os carbapenêmicos e monobactâmicos, destaca-se o pequeno risco de convulsões do imipenem (em 0,9% dos casos), sendo que este antibiótico deve ser evitado em pacientes pre- dispostos. Os outros efeitos são semelhantes aos das penicilinas e cefalosporinas. doses Penicilina G dose intermediária: 8-12 milhões U/dia; dose alta: 18-24 milhões U/dia – seis tomadas (4/4h). medgrupo residência médica 11 Penicilina V (PEN-VE-ORAL®) 250-500 mg VO 6/6h (8/8h é aceitável). Obs.: 250 mg = 400.000 U. Oxacilina 1-2 g IV 4/4h. Ampicilina 1-2 g IV 6/6h. Amoxicilina (AMOXIL®, FLEMOXON®, VELAMOX®): - 500 mg VO 8/8h; 1 g IV 8/8h (Velamox®); - 750 mg VO 12/12h (Flemoxon®). Amoxicilina-clavulanato (CLAVULIN®) 0,5-1 g VO/IV 8/8h. Ampicilina-sulbactam (UNASYN®) 1,5-3 g IV 6/6h. Ticarcilina-clavulanato (TI-MENTIN®) 3,1 g IV 6/6h ou 4/4h. Piperacilina-tazobactam (TAZOCIN®) 3,375 g IV 6/6h. Cefalotina (KEFLIN®) 1 g IV 6/6h. Cefazolina (KEFAZOL®) 1,5 g IV 6/6h. Cefalexina (KEFLEX®) 0,5-1 g VO 6/6h. Cafadroxil (CEFAMOX®) 0,5-1 g VO 12/12h. Cefuroxime (ZINACEF®) 0,75-1,5 g IV 8/8h. Cefuroxime axetil (ZINNAT®) 250-500 mg VO 12/12h. Cefaclor (CECLOR®) 250-500 mg VO 8/8h. Cefprozil (CEFZIL®) 250-500 mg VO 12/12h. Cefoxitina (MEFOXIN®) 1 g IV 8/8h a 2 g IV 4/4h. Ceftriaxone (ROCEFIN®) 2-4 g IV 1x/dia (a dose de 4 g/dia pode ser dividida em duas tomadas). Cefotaxima (CLAFORAM®) 1 g IV 8/8h a 2 g IV 4/4h. Cefozidima (TIMECEF®). Cefixime (CEFNAX®) 200-400 mg VO 12/12h. Cefpodoxime (ORELOX®) 100-200 mg VO 12/12h. Ceftazidime (FORTAZ®) 1-2 g IV 8/8h. Cefepime (MAXCEF®) 1-2 g IV 12/12h. Cefpiroma (CEFROM®) 1-2 g IV 12/12h. Imipenem (TIENAM®) 500 mg IV 6/6h. Meropenem (MERONEM®) 0,5-1 g IV 8/8h. Aztreonam (AZACTAM®) 1 g IV 8/8h a 2 g IV 6/6h. 2 - GLICOPEPTÍDEOS 2.1 - Mecanismo de Ação Os glicopeptídeos, representados pela van- comicina, teicoplanina e telavancina, são an- tibióticos bactericidas que agem se ligando a pontos específicos da cadeia de peptidoglica- nas, bloqueando a síntese desta macromolé- cula (por impedir a adição de novassubunida- des ao polímero). Ou seja, sem necessitar da PBP, esses antibióticos são capazes de inibir a síntese da parede bacteriana, levando à morte do micro-organismo. Não têm absolutamente nenhum efeito nos Gram-negativos, por não ultrapassarem a membrana externa dessas bactérias – Figura 2. A vancomicina é produ- zida por Streptomyces orientalis. 2.2 - Mecanismo de Resistência O primeiro caso de resistência à vancomicina foi relatado em 1988, com cepas de Enteroco- ccus faecium na França. Desde então o Entero- coco Resistente à Vancomicina (VRE) começou a ser isolado em diversas partes do mundo e hoje encontra-se disseminado. O mecanismo de resistência desta bactéria é a troca de um ami- noácido da subunidade peptidoglicana que passa a não mais reconhecer o glicopeptídeo. Este não parece ser o mecanismo de resistência descrita para os estafilococos. Os primeiros a mostrarem este problema foram os coagulase negativos (S. epidermidis). Uma cepa de S. aureus MRSA foi isolada no Japão em 1996 e depois nos EUA e Europa, sendo chamada de S. aureus VIRSA. Na verdade, esta cepa tem resistência intermedi- ária e é extremamente rara (casos isolados no mundo). O mecanismo parece ser uma parede bacteriana mais espessa, necessitando maior concentração antibiótica para ser inibida. 2.3 - Espectro AntiMicrobiano Os glicopeptídeos, por não ultrapassarem a membrana externa dos Gram-negativos, não medgrupo residência médica 12 têm eficácia alguma contra estas bactérias. Em compensação, os germes Gram-positivos são naturalmente sensíveis. Os glicopeptídeos são os únicos antibióticos confiáveis para o trata- mento de infecções por S. aureus, MRSA e por S. epidermidis (coagulase-negativo) nosocomial, muito incriminado na infecção de próteses e ca- teteres. Como já comentamos, existem muitas cepas resistentes de E. faecium, algumas de E. fecalis – essas bactérias são denominadas VRE (Vancomicin Resistent Enterococci). Infelizmen- te, surgiram cepas de S. epidermidis e S. aureus com resistência intermediária – o S. aureus VIR- SA. Para evitar que a resistência a esta bactéria de alta virulência venha a se tornar um grave problema de saúde pública, devemos reservar o uso da vancomicina apenas para casos selecio- nados da prática médica. A vancomicina oral é o antibiótico de segunda linha para o tratamento da diarreia por Clostridium difficile (a primeira escolha é o metronidazol oral). É importante ressaltar que antibióticos no- vos, do grupo dos derivados da pristinamicina (quinupristina e dalfopristina), que agem no citoplasma bacteriano, são eficazes contra o E. faecium e E. fecalis resistentes aos glicopep- tídeos, e ainda são opções contra o S. aureus MRSA (exceto para tratamento de pneumonia nosocomial). O S. aureus VIRSA pode ser com- batido com uma nova classe de antibióticos – as oxazolidinonas, representadas por uma droga chamada linezolida. 2.4 - Toxicidade e Formas de Administração Pode usar na gestante? A vancomicina oral (tratamento de segun- da linha na infecção por C. difficile) não tem absorção sistêmica, portanto, é segura na gestação. Todavia, os estudos realizados com vancomicina IV não descartam a possibilidade de toxicidade fetal, e o uso nesta situação deve ser individualizado. A teicoplanina não deve ser usada na gestação, e a telavancina ainda não foi plenamente estudada, devendo, por conse- guinte, ser evitada por gestantes. Os principais paraefeitos da vancomicina são a nefrotoxicidade (aumentos da creatinina sérica > 50% do valor de base, sem outra explicação plausível, devem ser encarados como indício de lesão renal pelo fármaco, que então deve ser suspenso), neurotoxicidade (especialmente lesão do nervo vestibulococlear), neutropenia (rara e reversível) e hipersensibilidade (incluindo a “síndrome do homem vermelho”, um flush em face e tronco, pruriginoso, desencadeado pela infusão rápida demais da droga, geralmente em < 1h). A teicoplanina e a telavancina também possuem nefro e neurotoxicidade, porém estas são comparativamente menores e menos fre- quentes do que com a vancomicina. A “síndro- me do homem vermelho” é rara com o uso de teicoplanina, mas também pode acontecer. doses Vancomicina (VANCOCINA®) 1 g IV 12/12h. Teicoplanina (TARGOCID®) 6 mg/kg IV 12/12h. Telavancina (VIBATIV®) 10 mg/kg IV 24/24h. 3 - POLIMIXINAS O que é importante sobre... A polimixina B, derivada da bactéria do solo Bacillus polymyxa, é um antibiótico bactericida que atua como um detergente da membrana plasmática, atuando exclusivamente em ger- mes Gram-negativos. É usado como tratamen- to tópico de lesões cutâneas, otite externa etc. O seu uso parenteral é limitado pela toxicidade (irritabilidade, sonolência, ataxia, parestesias, nefrotoxicidade, rubor facial, distúrbios eletrolí- ticos, parada respiratória etc.). Alguns hospitais adotam a polimixina B para tratar infecções graves por Gram-negativos cujo antibiograma mostra sensibilidade apenas a este antimicro- biano (germes “Pan-resistentes” ou Pan-R). Outra droga dessa classe é a colistina, tam- bém chamada de “polimixina-E”. Esta droga vem sendo usada com as mesmas indicações que a polimixina B, em particular no tratamen- to da pneumonia associada à ventilação me- cânica causada por germes pan-R, onde deve ser feita tanto pela via intravenosa quanto pela via inalatória. OS ANTIBIÓTICOS PARTE II Antibióticos de Ação no Citoplasma Microbiano medgrupo residência médica 14 1 - MACROLÍDEOS e LINCOSAMIDAS 1.1 - Mecanismo de Ação Os macrolídeos e as lincosamidas são anti- bióticos bacteriostáticos (e raramente bacteri- cidas) que agem inibindo a síntese de proteínas do micro-organismo, por se ligar à subunidade 50S do ribossoma bacteriano. Os ribossomas são estruturas de ácido ribonucleico, formados por duas subunidades que, no caso das bacté- rias, são a 50S e a 30S. É nos ribossomas que se processa a etapa final da síntese proteica – ao se ligar na subunidade 50S, esses antibióticos impedem o processo de enlongação da cadeia peptídica. A eritromicina – o primeiro macrolí- deo – é produzido pela bactéria Streptomyces erythreus; a lincomicina – a primeira lincosa- mida – é produzida pela bactéria Streptomyces lincolnensis. A clindamicina é um derivado se- mi-sintético da lincomicina. 1.2 - Mecanismo de Resistência Existem diversos mecanismos possíveis de resistência microbiana aos macrolídeos e lico- samidas: (1) passagem impossibilitada pelas “porinas” dos Gram-negativos da família Ente- robacteriaceae, P. aeruginosa e Acinetobacter sp.; (2) alteração do sítio de ligação do antibióti- co na subunidade 50S; (3) efluxo ativo da droga pela membrana plasmática bacteriana. Estes dois últimos mecanismos são os mais impor- tantes no caso dos Gram-positivos que adqui- rem resistência a este grupo de antibióticos. 1.3 - Espectro AntiMicrobiano 1.3.1 - Macrolídeos Principais macrolídeos do mercado: Eritro- micina (primeira geração) e Azitromicina e Cla- ritromicina (nova geração). A Eritromicina é ativa contra a maioria dos Gram-positivos (S. pyogenes, estreptococos do grupo viridans, S. pneumoniae, S. aureus, L. monocytogenes, C. diphtheriae, C. perfringens), germes “atípicos” (L. pneumophila, M. pneu- moniae, C. pneumoniae, C. trachomatis), cocos Gram-negativos (N. gonorrhoeae, N. meningi- tidis), o agente da coqueluche (B. pertussis), da sífilis (T. pallidum) e da angiomatose bacilar (Bartonella hanselae). A sua eficácia é limitada contra H. influenzae, bastante reduzida contra Enterococcus fecalis e praticamente inexistente contra Bacteroides fragilis, Enterobacteriaceae, P. aeruginosa e Acinetobacter sp. A eritromicina é muito usada para tratar infecções estrepto- cócicas, gonocócicas e treponêmicas (sífilis) em pacientes alérgicos à penicilina.É a droga de escolha para o tratamento de infecções por Mycoplasma pneumoniae (por ser 50 vezes mais potente que as tetraciclinas), da coque- luche e da angiomatose bacilar. A resistência ao S. pneumoniae tem crescido recentemente, oscilando entre 10-15%, sendo maior entre as cepas resistentes à penicilina (40% entre as de resistência intermediária e 65% entre as de alta resistência). A emergência de cepas resistentes de S. pyogenes tem se tornado um problema em países que utilizam muito este antibiótico, como o Japão, Finlândia e Itália; porém, na maioria dos outros países, o percen- tual de cepas resistentes está abaixo de 5%. A eritromicina é ativa contra maioria das cepas de S. aureus oxacilina-sensível, porém o seu uso pode induzir uma rápida resistência desta bactéria. Já existem cepas de N. gonorrhoeae resistentes ao antibiótico. A Azitromicina e a Claritromicina possuem o mesmo espectro da eritromicina, mas com uma eficácia maior contra certos germes Gram- -negativos, como H. influenzae, M. catarrhalis e L. pneumophila. A azitromicina é mais ativa do que a claritromicina contra Gram-negativos, especialmente H. influenzae e M. catarrhalis. Por outro lado, a azitromicina é menos eficaz contra os Gram-positivos (S. pyogenes, S. pneumoniae e S. aureus) do que a claritromicina e até do que a própria eritromicina. Atualmente cerca de 15- 20% das cepas de S. pneumoniae são resisten- tes aos macrolídeos (a resistência a um implica resistência a todos). Curiosamente, a chance de resistência é maior nas cepas penicilina- -resistentes. A claritromicina ou a azitromicina são usadas em associação com o etambutol para o tratamento da infecção pelo complexo Mycobacterium avium e pacientes com SIDA. A associação claritromicina + amoxicilina + inibidor da bomba de prótons tem obtido os melhores resultados na erradicação do Helicobacter pylori na doença ulcerosa péptica. 1.3.2 - Lincosamidas As principais lincosamidas do mercado são: Clindamicina e Lincomicina (“droga obsoleta”). A Clindamicina possui uma atividade contra cocos Gram-positivos semelhante ao da eri- tromicina, incluindo S. pyogenes, estreptococos do grupo viridans, S. pneumoniae e S. aureus. Existe um importante grau de resistência cru- zada dessas bactérias entre a eritromicina e a clindamicina. Entretanto, algumas cepas de S. aureus resistentes à eritromicina podem ser sensíveis à clindamicina. Este antibiótico é um dos mais ativos contra Bacteroides fragilis, portanto faz parte do grupo dos antibióticos anaerobicidas clássicos, em conjunto com o metronidazol. Ao inibir intensamente a produ- ção de exotoxinas pelo S. pyogenes, a clindami- cina possui uma vantagem sobre a penicilina G no combate às cepas incriminadas na miosite e fasciíte necrosante. A clindamicina também possui atividade contra Toxoplasma gondii e Pneumocystis jiroveci (carinii), e pode ser usada como terapia alternativa para estes agentes nos pacientes alérgicos a sulfas. medgrupo residência médica 15 1.4 - Toxicidade e FormaS de Administração Pode usar na Gestante? Os macrolídeos eri- tromicina e azitromicina podem ser usados na gestante, com a preferência pela eritromicina nas formas não ligadas ao estolato. A claritro- micina não deve ser usada, pelo potencial efei- to teratogênico e pela falta de estudos. Existem importantes vantagens dos ma- crolídeos de nova geração sobre a eritromicina quanto às propriedades farmacocinéticas: (1) melhor biodisponibilidade, por resistir ao pH ácido do estômago; e (2) perfil de distribuição tecidual muito superior. A azitromicina, por exemplo, concentra-se cerca de 100 vezes nos tecidos, como no pulmão infectado e nas secre- ções respiratórias, aumentando sobremaneira a eficácia clínica desta droga no tratamento das infecções do trato respiratório superior e inferior. Além disso, uma vez impregnada no tecido, o efeito da azitromicina é mantido por dez dias. A claritromicina tem uma capacidade bem menor de concentração tecidual, quando comparada à azitromicina (6-8 vezes versus 100 vezes). O principal efeito adverso da Eritromicina é a intolerância gastrointestinal, decorrente do efeito motilina-símile de um de seus metabó- litos. Náuseas, vômitos, diarreia e dor abdo- minal podem ocorrer, sendo mais frequentes em crianças e adolescentes. Um outro efeito descrito é a hepatite colestática, especialmen- te com o preparado estolato de eritromicina. A eritromicina venosa (forma não encontrada em nosso meio) pode prolongar o QT e desen- cadear uma arritmia ventricular potencial- mente maligna chamada torsades des pointes. Uma das grandes vantagens da Azitromicina e Claritromicina sobre a eritromicina é a menor frequência e intensidade dos efeitos adversos gastrointestinais. No entanto, elas podem es- tar associadas à hepatite colestática, que pode ter um quadro prolongado quando a droga im- plicada é a azitromicina. A Clindamicina é o antibiótico mais associa- do à ocorrência de diarreia, aparecendo numa frequência de até 20% dos pacientes. A colite pseudomembranosa, causada pelatoxina do Clostridium difficile, pode ser precipitada por uma série de antibióticos, mas a clindamicina é o principal agente incriminado. Esta compli- cação pode ocorrer tanto com a terapia oral como com a parenteral. Falsa elevação das transaminases hepáticas pode ocorrer com o uso da clindamicina. doses Eritromicina (ERITROMICINA®, ERITREX®) 250-500 mg VO 6/6h. Azitromicina (ZITROMAX®, CLINDAL AZ®) 500 mg VO no 1o dia, depois 250 mg VO/dia do 2o ao 5o dia. Claritromicina (KLARICID®) 500 mg VO/IV 12/12h. Clindamicina (DALACIN®) 150-900 mg IV 8/8h ou 150- -450 mg VO 6/6h. 2- CLORANFENICOL 2.1- Mecanismo de Ação O cloranfenicol é um antibiótico bacterios- tático (e para certos micro-organismos, bacte- ricida) que age inibindo a síntese de proteínas do micro-organismo, por se ligar à subunidade 50S do ribossoma bacteriano, um mecanismo semelhante (mas diferente do ponto de vista biomolecular) dos macrolídeos e das lincosa- midas. O cloranfenicol é produzido pela bacté- ria Streptomyces venezuelae. 2.2 - Mecanismo de Resistência A maioria das bactérias resistentes ao clo- ranfenicol produz uma enzima plasmídeo-codi- ficada capaz de acetilar a molécula de cloran- fenicol no citoplasma bacteriano, inativando-a. Um outro mecanismo possível é efluxo ativo da droga pela membrana plasmática da bactéria. 2.3 - Espectro AntiBacteriano O cloranfenicol é um antibiótico de amplo espectro para alguns Gram-positivos (S. pyoge- nes e S. pneumoniae, mas não S. aureus), alguns Gram-negativos (H. influenzae, N. meningitidis, N. gonorrhoeae, Salmonella sp., Shigella sp., mas não Enterobacteriaceae e P. aeruginosa) e anaeró- bios, incluindo o Bacteroides fragilis. É considera- do um antibiótico bactericida para os principais agentes causadores de meningite bacteriana (S. pneumoniae, H. influenzae e N. meningitidis), porém foi suplantado pela ceftriaxone, em vista de sua toxicidade potencialmente grave – ver adiante. É uma droga bastante eficaz contra Sal- monella tiphi – agente da febre tifoide, Rickettsia rickettsi – agente da febre maculosa – e contra Bacteroides fragilis, porém foi substituído por ou- tras drogas com menos potencial de toxicidade para tratar estas infecções. Atualmente, está indicado no tratamento da meningite bacteriana em indivíduos alérgicos à penicilina e à cefalospo- rina, na terapia da febre tifoide em populações de baixa renda e na dúvida diagnóstica entre menin- gococcemia e febre maculosa (ricketsiose). 2.4 - Toxicidade e Formas de Administração Pode usar na Gestante? O cloranfenicol é contraindicado na gestação, pela possibilidade de teratogênese. Não pode ser feito na lacta- ção, pelo risco da “síndrome do bebê cinzento” em neonatos (distensão abdominal, flacidez,cianose, colapso respiratório e morte). medgrupo residência médica 16 A toxicidade mais temida do cloranfenicol é a aplasia de medula. Existem duas formas de mielo- toxicidade pelo cloranfenicol: (1) a mais comum é dose-dependente e transitória, manifestando-se por uma citopenia leve a moderada, com graus variáveis de anemia ± neutropenia ± trombocito- penia; (2) a segunda é mais rara e idiossincrásica, ocorrendo 1 caso a cada 25.000-40.000 toma- das, porém é irreversível e quase sempre fatal. A reação idiossincrásica geralmente se manifesta semanas ou meses após o término da terapia com o antibiótico. E o colírio? São raríssimos os casos de aplasia de medula idiossincrásica pelo uso do colírio de cloranfenicol para o tratamento da conjuntivite bacteriana. Estima-se uma ocor- rência menor do que 1 caso a cada 440.000 usos. Numa série recente de 426 casos de aplasia de medula pelo cloranfenicol nenhum foi decorrente do colírio. Outros efeitos adversos relatados são intolerância GI, reações cutâneas de hipersensi- bilidade, neurite óptica etc. dose Cloranfenicol (QUEMICETINA®) 50 mg/kg/dia, dividido em quatro tomadas. 3 - TETRACICLINAS 3.1 - Mecanismo de Ação As tetraciclinas são antibióticos bacterios- táticos que agem inibindo a síntese proteica bacteriana, por se ligar na subunidade ribos- somal 30S (tal como os aminoglicosídeos), bloqueando a ligação do aminoacil-RNA trans- portador no complexo ribossoma-RNA mensa- geiro. A primeira tetraciclina – a oxitetraciclina – é derivada da bactéria Streptomyces rimosus. Os outros elementos do grupo são derivados semi-sintéticos desta substância. 3.2 - Mecanismo de Resistência Os dois principais mecanismos de resistên- cia às tetraciclinas são: (1) alterações da es- trutura ribossomal, reduzindo a afinidade do antibiótico pela subunidade 30S – principal dos Gram-positivos; e (2) efluxo ativo da droga pela membrana plasmática da bactéria – principal dos Gram-negativos. 3.3 - Espectro AntiBacteriano As principais tetraciclinas do mercado são: Tetraciclina e Oxitetraciclina (derivados hi- drofílicos), e Doxiciclina e Minociclina (deriva- dos lipofílicos). O espectro antibacteriano das tetraciclinas é o mesmo entre todos os seus congêneres, apesar dos derivados lipofílicos serem mais eficazes in vivo. As tetraciclinas são ativas contra S. pneumoniae e H. influenzae, podendo ser utilizadas como drogas alternati- vas (no caso, a doxiciclina) no tratamento da sinusite e exacerbações da bronquite crônica ou bronquiectasias. Contudo, diversas cepas de S. pneumoniae são resistentes às tetraci- clinas. Aquelas resistentes à penicilina são ainda mais resistentes às tetraciclinas. Esses antibióticos são eficazes contra N. meningiti- dis, N. gonorrhoeae e Bacteroides fragilis (ação anaerobicida), porém são consideradas drogas de segunda linha nessas infecções (no caso da meningite, não devem ser usadas por serem bacteriostáticas). A doxiciclina é o antibiótico de escolha para o tratamento das ricketsioses (ex.: febre maculosa), infecções por Chlamydia trachomatis (uretrite ou cervicite inespecíficas e o tracoma), e uma excelente alternativa aos macrolídeos para infecções por Mycoplasma pneumoniae e Chlamydia pneumoniae (germes causadores de pneumonia “atípica”). 3.4 - Toxicidade e Formas de Administração Pode usar na Gestante? Não, pelo risco de to- xicidade fetal. A absorção GI da tetraciclina e da oxitetraci- clina é reduzida em mais de 50% na presença de alimento. Nas crianças até 8 anos, as tetracicli- nas são contraindicadas, pois podem causar uma descoloração marrom amarelada nos dentes, com hipoplasia do esmalte – esta alteração é ir- reversível. Um outro motivo é o suposto prejuízo ao desenvolvimento ósseo na infância. As tetra- ciclinas podem causar ulcerações esofageanas ou gástricas, principalmente quando ingeridas sem líquido. A intolerância GI é um efeito adver- so bastante relatado. A diarreia é mais comum com os derivados hidrofílicos (ex.: tetraciclina), por serem mal absorvidos e modificarem a flo- ra intestinal. A colite pseudomembranosa pode ocorrer pela proliferação do C. difficile. A hepato- toxicidade (do tipo esteatohepatite) é rara, mas pode ser fatal em alguns casos. Outros efeitos adversos relatados são: aumento da relação ureia/creatinina nos nefropatas, descompen- sação da uremia, vertigens (com a minociclina), hipersensibilidade cutânea etc. doses Tetraciclina 250-500 mg VO 6/6h. Doxiciclina (VIBRAMICINA®) 100 mg VO/IV 12/12h. Minociclina (MINOMAX®, MINODERM®) 100 mg VO 12/12h. 4 - AMINOGLICOSÍDEOS 4.1 - Mecanismo de Ação Os aminoglicosídeos são antibióticos bacte- ricidas que agem inibindo a síntese de proteí- medgrupo residência médica 17 nas do micro-organismo, por se ligar irreversi- velmente à subunidade 30S do ribossoma bac- teriano, impedindo a inicialização da síntese peptídica. Incapaz de sintetizar suas próprias proteínas estruturais e enzimáticas, a bactéria morre. O antibiótico para atingir o seu sítio de ação, passa pela membrana plasmática atra- vés de um processo dependente de energia e oxigênio, inibido pela presença de cátions diva- lentes, anaerobiose e pH baixo. Por este moti- vo, os aminoglicosídeos perdem a sua atividade nas secreções pulmonares e coleções purulen- tas, ambientes de pH ácido. A necessidade de O2 para a sua atividade antibacteriana explica a total ineficácia contra bactérias anaeróbias. 4.2 - Mecanismos de Resistência Ao contrário dos betalactâmicos e outros antibióticos, os aminoglicosídeos são antibió- ticos que demonstraram uma relativa estabili- dade contra o desenvolvimento de resistência bacteriana, apesar de muitos anos de uso. Os dois principais mecanismos de resistência são: (1) inativação da droga no citoplasma por fosforilação; (2) impermeabilidade da membrana plasmá- tica à droga. O primeiro mecanismo depende de enzimas chamadas aminoglicosídeo-fos- forilases. O segundo mecanismo é o principal responsável por algumas cepas de P. aeruginosa resistentes – essas bactérias podem alterar a sua permeabilidade à droga. 4.3 - Espectro AntiBacteriano Os aminoglicosídeos do mercado são Genta- micina, Tobramicina, Amicacina, Estreptomicina, Neomicina, Canamicina, Espectinomicina e Pa- ramomicina. Os aminoglicosídeos são drogas bastante eficazes contra a maioria dos aeróbios Gram- -negativos: Enterobacteriaceae (E. coli, Kleb- siella pneumoniae, Proteus sp., Enterobacter sp., Serratia sp. e Citrobacter sp.), Pseudomonas aeruginosa e H. influenza. São ineficazes con- tra Stenotrophomonas maltophilia, Burkholde- ria cepacia, aneróbios e a maioria dos germes Gram-positivos. O único Gram-positivo mode- radamente sensível aos aminoglicosídeos é o S. aureus oxacilina-sensível. Os aminoglicosídeos fazem sinergismo com os betalactâmicos no combate ao Enterococcus fecalis. O uso clínico dos aminoglicosídeos abrange o tratamento empírico de infecções graves por aeróbios Gram-negativos, geralmente em com- binação com outros antibióticos. Os principais exemplos são a sepse, infecções intra-abdomi- nais e algumas infecções do trato respiratório e urinário complicadas. Com o isolamento do germe e seu antibiograma, os aminoglicosídeos eventualmente são suspensos, deixando o tra- tamento baseado num outro antibiótico menos tóxico. São também muito usados visando o sinergismo bacteriano com os betalactâmicos, contra o E. fecalis (endocardite bacteriana su- baguda, sepse biliar) e Gram-negativos entéri- cos (pneumonia nosocomial). Existem algumas pequenas variações no seu espectro... Por exemplo, tobramicina e ami- cacina são mais eficazes contra P. aeruginosa; estreptomicina e amicacina são ativas contra Mycobacterium tuberculosis; paramomicina tem atividade moderada contra o protozoárioCryptosporidium sp. (causa de diarreia e es- teatorreia na SIDA). A neomicina é usada por via oral, complementando o tratamento da encefalopatia hepática aguda esporádica no paciente com cirrose. 4.4 - Toxicidade e FormaS de Administração Pode usar na Gestante? Não, pelo risco de toxicidade fetal. Os aminoglicosídeos estão entre os antibi- óticos com maior potencial de toxicidade. São basicamente nefrotóxicos e ototóxicos. O tipo de lesão renal induzida por esses antibióticos é a ne- crose tubular aguda, forma não oligúrica. A ototo- xicidade pode se expressar com a perda irreversí- vel da acuidade auditiva e/ou com labirintopatia. O efeito tóxico é dose-dependente e tempo- -dependente (aumenta com o uso prolongado), mas tem uma chance maior de ocorrer nos idosos, diabéticos, pacientes hipovolêmicos, desidrata- dos e nefropatas prévios. Um conceito de extre- ma importância: estudos recentes demonstra- ram que a toxicidade dos aminoglicosídeos pode ser bastante reduzida quando administramos a dose total diária em apenas uma tomada, sem, entretanto, comprometer a sua eficácia antibac- teriana. Isto vem de duas propriedades típicas dos aminoglicosídeos, não compartilhadas pelos outros antibióticos: (1) efeito bactericida mais intenso com altas concentrações plasmáticas – bem acima do MIC; (2) efeito pós-antibiótico, isto é, uma supressão persistente do crescimen- to bacteriano, mesmo após o antibiótico ter sido eliminado do organismo. doses Gentamicina 5 mg/kg IV 1x/dia. Amicacina 15 mg/kg IV 1x/dia. Estreptomicina 15 mg/kg IM 1x/dia. Tobramicina 5 mg/kg IV 1x/dia. medgrupo residência médica 18 5 - SULFONAMIDAS + TRIMETOPRIM 5.1 - Mecanismo de Ação As sulfonamidas, ou sulfas, foram os primei- ros antimicrobianos utilizados na história da medicina. Conceitualmente falando, não são considerados antibióticos, pois sempre foram drogas sintéticas e não produzidas por algum micro-organismo (como no caso das penicilinas e cefalosporinas). Em 1932, Gerhard Domagk, um cientista alemão, percebeu que uma subs- tância derivada de corantes industrializados – a sulfacrisoidina – tinha um efeito antibacteria- no em infecções estreptocócicas. A atividade antibacteriana do composto era proveniente de um metabólico – a sulfanilamida. Logo descobriu-se o porquê do efeito an- timicrobiano das sulfas. A sulfanilamida era uma molécula muito parecida com o PABA (Ácido Para-Amino Benzoico), um substrato utilizado pelas bactérias na síntese do ácido di-hidrofólico pela enzima di-hidropteroato sintetase. A sulfa ocupa o lugar do PABA no sítio enzimático, promovendo uma inibição competitiva da enzima. Sem ácido di-hidro- fólico, a bactéria não pode se proliferar, já que este serve como um cofator essencial na síntese de DNA. Como a sulfanilamida estava associada a efeitos adversos intoleráveis, a indústria farmacêutica trabalhou para sinteti- zar novos compostos sulfamídicos, de modo a ampliar o espectro antibacteriano, bem como reduzir os efeitos colaterais. O trimetoprim foi sintetizado a primeira vez na década de 50. O seu efeito antibacteriano é decorrente da inibição de uma importante enzima do metabolismo do ácido fólico – a te- tra-hidrofolato redutase. Esta enzima normal- mente converte o ácido di-hidrofólico em ácido tetra-hidrofólico – a forma ativa do cofator. Apenas no início da década de 70 observou- -se que esta droga potencializava o efeito da sulfa. Foi então criada e comercializada a fa- mosa associação sulfametoxazol-trimetoprim. Enquanto as duas drogas separadas têm efeito apenas bacteriostático, juntas alcançam poder bactericida. 5.2 - Mecanismo de Resistência Existem dois mecanismos de resistência principais às sulfonamidas: (1) aumento da produção de PABA pela bacté- ria; e (2) aquisição de uma di-hidropteroato sin- tetase de baixa afinidade para as sulfonamidas. O principal mecanismo de resistência do trime- toprim é a presença de uma tetra-hidrofolato redutase de baixa afinidade para a droga. Diver- sas cepas de patógenos Gram-positivos, como o S. aureus, e Gram-negativos, como N. gonorrho- eae e E. coli, desenvolveram resistência a um dos antibióticos da associação SMZ-TMP (ou aos dois), devido ao extenso uso deste fárma- co. Cerca de 10-30% das cepas de E. coli da comunidade são resistentes à associação, jus- tificando alguns casos de falha terapêutica da cistite bacteriana. O Enterococcus fecalis possui resistência natural às sulfas e ao trimetoprim. 5.3 - Espectro AntiBacteriano Vamos aqui dissertar apenas sobre a asso- ciação SMZ-TMP, já que é a mais importante em termos de prática médica. O espectro anti- microbiano desta combinação é bastante am- plo: a maioria dos Gram-positivos e Gram-ne- gativos são naturalmente sensíveis ao fárma- co. Pode ser indicado nas seguintes situações: (1) cistite bacteriana; (2) gastroenterite; (3) infecções respiratórias altas; (4) exacerbações do DPOC e das bronquiectasias. A grande limi- tação do uso de SMZ-TMP nestas condições é o aparecimento de cepas resistentes (pelos mecanismos descritos acima), o que foi bem documentado em relação a E. coli, H. influenzae, Salmonella sp. e S. aureus oxacilina-sensível. Em altas doses, é o agente mais eficaz contra a in- fecção pelo germe Pneumocystis jiroveci (causa de pneumonia na SIDA). Certos Gram-negativos são resistentes a todos os betalactâmicos (incluindo os carba- penêmicos), porém mantêm a sensibilidade à associação SMZ-TMP! Encontram-se neste grupo as bactérias Stenotrophomonas maltophlia e a Burkholderia cepacia, o primeiro um agente de importân- cia crescente da pneumonia nosocomial, e o segundo encontrado como causa de infecção respiratória em pacientes com fibrose cística. Os germes tipicamente resistentes a SMZ-TMP são Pseudomonas aeruginosa, Bacteroides fragi- lis, S. pneumoniae resistente à penicilina e Cam- pylobacter sp. O S. aureus MRSA tem sensibili- dade variável a SMZ-TMP – não devemos usar este antibiótico para tratar infecções graves por esta bactéria. 5.4 - Toxicidade e FormaS de Administração Pode usar na Gestante? A associação SMZ- -TMP é contraindicada de forma relativa no último trimestre da gestação e na lactação, de- vido ao risco de kernicterus para o recém-nato. Vale ressaltar que a infecção pelo HIV au- menta muito a frequência e a gravidade das reações adversas à associação SMZ-TMP. A incidência de efeitos colaterais oscila em tor- no de 6-8% nos indivíduos anti-HIV negativos, mas pode chegar a cifras entre 25-50% nos pacientes soropositivos para este vírus. Os efeitos adversos mais comuns são a hi- persensibilidade cutânea (rash eritematopapu- lar, prurido, síndrome de Stevens-Jonhson) e a intolerância gastrointestinal (náuseas e vômi- medgrupo residência médica 19 tos). Raramente podem ocorrer reações cutâ- neas mais graves, como a necrólise epidérmica tóxica e uma dermatite exfoliativa difusa, mais comuns no paciente anti-HIV positivo. As rea- ções hematológicas podem ser idiossincrásicas à sulfa (neutropenia, aplasia de medula) ou são dependentes de altas doses de trimetoprim (pancitopenia megaloblástica). Neste último caso, o uso do ácido folínico pode reverter total ou parcialmente o quadro hematológico. Em pacientes com deficiência de G6PD, a sulfa pode precipitar uma anemia hemolítica aguda. Um efeito curioso do trimetoprim em altas do- ses é a hipercalemia, explicada pela semelhan- ça do antimicrobiano com a molécula de amilo- ride (um diurético poupador de K). Casos raros de nefrite intersticial aguda e de cristalúria (por cristais de sulfa) foram relatados. doses Sulfametoxazol-trimetoprim (BACTRIM®) 800/160 mg (1 Bactrim F) VO 12/12h, para PCP: equiva- lente a 8-10 mg/kg/dia de TMP, dividido em quatro tomadas. 6 - FLUOROQUINOLONAS 6.1 - Mecanismo de AçãoAs fluoroquinolonas são drogas bactericidas, derivados semi-sintéticos fluorados do ácido nalidíxico, que agem por inibição direta da sín- tese do DNA bacteriano. Esta classe de antibi- óticos age inibindo duas enzimas fundamentais para a replicação do DNA da bactéria – a DNA girase e a topoisomerase IV. 6.2 - Mecanismo de Resistência Existem dois principais mecanismos de resis- tência microbiana a fluoroquinolonas: (1) genes mutantes que codificam uma DNA girase e/ou uma topoisomerase IV de baixa afinidade pelo antibiótico; (2) genes mutantes que regulam expressão de canais instalados na membrana plasmática da bactéria, que promovem o eflu- xo do antibiótico. O uso das fluoroquinolonas pode induzir à resistência bacteriana... Isto tem sido observado no surgimento de cepas resistentes de S. aureus, P. aeruginosa e Cam- pylobacter jejuni. 6.3 - Espectro AntiMicrobiano As principais quinolonas do mercado são: - “Antigas” Fluoroquinolonas: Norfloxacina, Ofloxacina, Pefloxacina e Ciprofloxacina; - “Novas” Fluoroquinolonas: Levofloxacina, *Gatifloxacina, Moxifloxacina e Trovafloxacina. As fluoroquinolonas possuem um excelen- te espectro contra aeróbios Gram-negativos, como H. influenzae, M. catarrhalis, Neisseria sp., Enterobacteriaceae (E. coli, Klebsiella pneumo- niae, Proteus sp., Enterobacter sp., Serratia sp. e Citrobacter sp.), Shigella sp., Salmonella sp. e Pseudomonas aeruginosa. As “antigas” fluoro- quinolonas (Norfloxacina, Ofloxacina, Peflo- xacina e Ciprofloxacina) são consideradas as drogas de escolha para o tratamento da infec- ção do trato urinário, incluindo a pielonefrite. Um problema a ser lembrado é a não cobertura do Enterococcus fecalis, agente causador de al- guns raros casos de ITU na comunidade. Outra indicação comum é a gastroenterite bacteria- na. A Ciprofloxacina é a fluoroquinolona mais eficaz contra P. aeruginosa, sendo uma exce- lente opção para o tratamento de infecções supostamente causadas por este agente. A Legionella pneumophila (um cocobacilo Gram-negativo), bem como outros germes causadores de pneumonia comunitária “atípi- ca” (Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneu- moniae), são destruídos pelas fluoroquinolonas que, portanto, podem ser usadas como opção aos macrolídeos ou tetraciclinas para o trata- mento destas infecções. Em relação aos Gram-positivos, esta clas- se de antibióticos possui moderada eficácia contra S. aureus oxacilina-sensível. No entan- to, apenas as “novas” fluoroquinolonas (Le- vofloxacina, Gatifloxacina e Moxifloxacina) são ativas contra o restante dos cocos Gram- -positivos, incluindo o S. pneumoniae (“pneu- mococo”) com alta resistência à penicilina. Pela excelente cobertura antipneumocócica, anti-hemófilo, antimoraxela e antigermes atí- picos, as “novas” fluoroquinolonas têm sido chamadas de “quinolonas respiratórias”. São drogas altamente eficazes na pneumonia co- munitária grave. 6.4 - Toxicidade e FormaS de Administração Pode usar na Gestante? Estão sendo realiza- dos estudos sobre a segurança das fluoroqui- nolonas na gestação. Enquanto não são con- cluídos, consideramos estas drogas contraindi- cadas na gravidez. Os efeitos adversos mais comuns das fluo- roquinolonas são do aparelho gastrointestinal (náuseas, vômitos e anorexia), ocorrendo em 5-15% dos pacientes, seguidos pelos sintomas neurológicos (cefaleia, tonteira, insônia) e cutâ- neos (hipersensibilidade). *Gatifloxacin (Tequin®) – suspensa nos EUA e no Brasil – o principal problema de sua utilização é a possibilidade de causar alterações glicêmicas (hipo/hiperglicemia), sendo contraindicada em pacientes diabéticos ou indivíduos que apresentem fatores de risco para alterações glicêmicas (idosos, insuficiência renal e medicações concomitantes que também podem alterar a glicemia). medgrupo residência médica 20 O prolongamento do QT pode ocorrer e levar a uma arritmia ventricular polimórfica chama- da “torsades des pointes” (razão pela qual uma fluoroquinolona – sparfloxacina – foi retirada do mercado). Em crianças, as fluoroquinolonas devem ser evitadas, se possível, pelo seu provável efeito prejudicial na maturação da cartilagem articular. doses Norfloxacina (FLOXACIN®) 400 mg VO 12/12h. Ofloxacina (FLOXTAT®) 200-400 mg VO/IV 12/12h. Ciprofloxacina (CIPRO®) 200-400 mg IV 12/12h ou 500 mg VO 12/12h (trato urinário: 250 mg VO 12/12h). Levofloxacina (LEVAQUIN®) 250-500 mg VO/IV 1x/dia. Gatifloxacina (TEQUIN®) 400 mg VO/IV 1x/dia. Moxifloxacina (AVALOX®) 400 mg VO 1x/dia. 7 - METRONIDAZOL 7.1 - Mecanismo de Ação O metronidazol é um antibiótico singular em seu mecanismo de ação. Este mecanismo ex- plica por que apenas as bactérias anaeróbias estritas são sensíveis a este agente. Ao pene- trar no citoplasma bacteriano (o que faz com bastante facilidade), encontra um sistema en- zimático oxi-redutor, presente na mitocôndria apenas das bactérias anaeróbias estritas. A molécula de metronidazol passa para o seu es- tado “reduzido”, e com isso permite a entrada de mais e mais moléculas do composto no ci- toplasma da bactéria. O metronidazol funciona como um aceptor de elétrons, o que determina a formação de radicais livres altamente tóxicos ao DNA da bactéria. 7.2 - Mecanismo de Resistência A resistência ao metronidazol entre os anae- róbios é extremamente rara. 7.3 - Espectro AntiMicrobiano O espectro antibacteriano do metronidazol é exclusivo dos germes anaeróbios estritos. Os principiais exemplos são: Bacteroides fragi- lis, outros Bacteroides, Clostridium perfringens, Clostridium difficile, Peptostreptococcus, Pep- tococcus, Prevotella, Porphyromonas, Fusobac- terium nucleatum etc. É a droga de escolha por via oral para tratar a colite pseudomembranosa por C. difficile. Por não ser eficaz contra germes aeróbios ou microaerófilos, as infecções poli- microbianas, como os abscessos, só podem ser tratadas com metronidazol se este agente for associado a um outro antibiótico eficaz contra aeróbios Gram-positivos e/ou Gram-negativos, como os betalactâmicos. Além do espectro anaerobicida, o metroni- dazol é eficaz contra alguns protozoários, como Giardia intestinalis, Entamoeba hystolitica e Tri- chomonas vaginalis. 7.4 - Toxicidade e Formas de Administração Pode usar na Gestante? O metronidazol pode ser utilizado na gestante, quando extremamen- te necessário. A lactação pode ser prejudicada devido ao surgimento de um gosto amargo no leite materno. Efeitos adversos gastrointestinais não são incomuns com o metronidazol. O gosto metá- lico na boca é característico. Se houver con- sumo de etanol, o paciente pode “passar mal” devido ao efeito dissulfiram-símile. O efeito adverso mais característico deste antibiótico é a neuropatia periférica, que se manifesta com parestesias das extremidades. Convulsões po- dem ocorrer raramente. A droga pode também aumentar o efeito do warfarim, permitindo as complicações hemorrágicas deste anticoagu- lante. A urina pode ganhar uma cor marrom avermelhada durante alguns dias. dose Metronidazol (FLAGYL®) 500 mg VO/IV 6/6h ou 8/8h. 8 - “NOVOS ANTIBIÓTICOS” 8.1 - Estreptograminas Os agentes Quinupristina e Dalfopristina são derivados das estreptograsminas pristina- micina IA e IIB. São substâncias pertencentes à família química macrolídeos-lincosamidas-estreptograminas. Esses antibióticos agem em conjunto para inibir a síntese de proteínas ao formar um complexo com a subunidade 50S do ribossoma bacteriano – ação semelhantes aos macrolídeos e lincosamidas. Eles são comercializados de forma associada: quinupristina + dalfopristina (Synercid®). Têm um espectro voltado para os germes Gram-positivos, incluindo o Enterococcus faecium Vancomicina-Resistente (VRE), outros enterococos resistentes e o S. aureus resistente à oxacilina (MRSA) e mesmo algumascepas resistentes à vancomicina (VIRSA). É considerado o agente de escolha para tratar o E. faecium. 8.2 - Oxazolidinonas Os agentes deste grupo – a Linezolida e a Eperezolida – são substâncias sintéticas que agem inibindo a síntese proteica bacteriana mais uma vez por se ligar à subunidade 50S, mas neste caso bloqueando a sua interação com a subunidade 30S – o que os tornam diferentes dos outros antibióticos que atuam na subunidade ribossomal. Possuem um excelente espectro de cobertura para germes Gram-positivos, incluindo o S. aureus MRSA, S. aureus VIRSA, o pneumococo com resistência alta à penicilina e o enterococo VRE. 8.3 - Glicilciclinas A representante dessa classe de antibióticos na prática médica é a Tigeciclina (Tygacil®), um derivado da minociclina que, portanto, tem inúmeras semelhanças estruturais com as tetraciclinas. Seu mecanismo de ação é a inibição da síntese proteica por meio da ligação à subunidade ribossômica 30S, bloqueando a entrada de moléculas aminoacil-RNA (mecanismo idêntico ao das tetraciclinas). A ação desse antibiótico é predominantemente bacteriostática.
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