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CAPÍTULO 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivo de aprendizagem: � Identificar a perspectiva atual do conhecimento. � Reconhecer o processo da aprendizagem na era das relações. � Comparar a perspectiva do conhecimento de acordo com os modelos de ciência em cada época e suas implicações na educação atual. 36 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR 37 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? 1 Contextualização O estudo sobre o conhecimento deve ser entendido não só pela perspectiva atual da educação, mas pelo seu contexto na história. As formas de conceber o conhecimento de uma época não sustentam os dias de hoje. Há uma relação intrínseca do paradigma científico com os modelos educativos. Nesse aspecto, as formas de conhecimento ressignificado nos ambientes de aprendizagem precisam atender aos novos desafios sociais e isso requer que o conhecimento seja pautado numa perspectiva dinâmica, reflexiva e crítica, fundamentada nos valores humanos. 2 Aprender e Ensinar na Era Das Relações: Quais Conhecimentos Nos Trouxeram Até Aqui? Para a maioria dos estudiosos da área, o conhecimento serve para que os sujeitos compreendam o mundo em que vivem e o transformem em benefício de uma coletividade. No entanto, os saberes em tempos anteriores eram conduzidos apenas como uma adaptação ao meio, ou seja, as pessoas eram educadas com o propósito de atender aos moldes sociais de uma determinada cultura, já que o conhecimento estava agregado às práticas de trabalho. Esta forma de conhecimento nos serviu como meio de sobrevivência ao longo dos anos, afinal, era substancial passar às gerações atividades que garantissem as necessidades básicas, por exemplo, a caça, a pesca, o plantio, entre outros. O conhecimento aplicado aos nossos antepassados serviu para que aprendêssemos a construir formas de tornar eficientes o transporte, a alimentação, a moradia, a comunicação, entre outros. E nossos saberes atuais, ou seja, o que hoje estamos discutindo, pesquisando e transformando, servirão como escada para as futuras gerações, trazendo as próximas evoluções. Para você ter uma ideia dos avanços, considerando apenas o conhecimento agregado às comunicações que foi transmitido de geração em geração, até alcançarmos a comunicação atual, analise o texto ilustrativo a seguir: As formas de conceber o conhecimento de uma época não sustentam os dias de hoje. Há uma relação intrínseca do paradigma científico com os modelos educativos. 38 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR FIGURA 1 – EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO FONTE: Disponível em: <https://tenhaumatoalha.wordpress.com/2015/02/20/da- pedra-a-internet-o-desenvolvimento-da-comunicacao/>. Acesso em: 15 maio 2018. 39 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? FIGURA 2 – EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO FONTE: Disponível em: <https://tenhaumatoalha.wordpress.com/2015/02/20/da- pedra-a-internet-o-desenvolvimento-da-comunicacao/>. Acesso em: 15 maio 2018. 40 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR O conhecimento, então, vem sendo construído desde a gênese da história atendendo às demandas atuais, mas atrelado a um modelo de ciência, a um paradigma. No contexto educacional não é diferente, somos influenciados pela história e por meio dela constituiremos novas formas de conceber os saberes. Vamos entender então a evolução do conhecimento, destacando como e por que evoluímos para a era das relações. Para tanto, precisamos compreender o modelo de ciência de cada época que influenciou na forma de conceber o conhecimento. Somos influenciados pela história e por meio dela constituiremos novas formas de conceber os saberes. 3 A Era Orgânica (Idade Média) Entre os anos de 450 a 1400, a ideia de mundo que se instaurava na Europa da Idade Média e em grande parte de outros continentes era a orgânica, ou seja, reforçava-se a relação entre natureza, homem, espírito e matéria. Esse modelo de ciência colocava Deus como centro de tudo. A estrutura científica que predominava nessa visão de mundo orgânica estava assentada no naturalismo aristotélico e na fundamentação platônico-agostiniana, e depois tomista, que consideravam de maior significância as questões referentes a Deus, à alma humana e à ética. Naquela época, o objetivo principal da filosofia era servir de base à teologia e tinha como causa de suas preocupações religiosas a salvação da alma após a morte. Esse pensamento foi denominado Teocentrismo. [...] Foi uma época em que também predominava o autoritarismo na organização social – o respeito cego às autoridades, aos textos bíblicos e gregos. Foi também um período de muita repressão, no qual muito pouco se inovou em termos de desenvolvimento científico. Aquele que inovava, tentando discordar dos textos bíblicos, arriscava-se a morrer na fogueira para expiar bruxarias e alquimistas associados às reais novidades (MORAES, 2010, p. 33). O entendimento de mundo desta época era vinculado às leis divinas, trazendo circunstâncias de aproveitamento e manipulação das informações. Podemos dizer que este modelo científico limitava a expansão do conhecimento, uma vez que as leis divinas eram obedecidas sem questionamentos. Após os séculos XVI e XVII, o modelo de ciência medieval já não sustentava as demandas sociais impostas pelo pensamento teocentrista, passando a exigir fortes mudanças. A ideia de um mundo orgânico e espiritual perdeu forças para a perspectiva de mundo máquina, que surgiu pela influência da física e astronomia, desenvolvidas por Copérnico, Galileu e Newton (MORAES, 2010). 41 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? 4 Era Material (Idade Moderna) Esse modelo de ciência coloca o homem como centro de tudo. “[...] o homem como senhor do mundo podia transformar a natureza, explorá-la, e ela deveria servi-lo, ser escravizada e obedecer” (MORAES, 2010, p. 33). Tinha como principal objetivo a exploração da natureza, devendo atender às necessidades humanas a qualquer preço. Nesse contexto, o valor excessivo ao racionalismo reflete não só nas atitudes das pessoas, como em sua relação com a natureza, com o sagrado, consigo próprio e os outros. A visão do mundo máquina deu origem a um novo método de investigação, defendido por Francis Bacon, que envolve a descrição matemática da natureza. O espírito desse modelo mudou profundamente a compreensão da natureza e o objeto de investigação que, desde a antiguidade, objetivava a sabedoria, a ordem natural, a vida em harmonia com o universo e a realização da ciência para maior glória de Deus (MORAES, 2010, p. 34). Esse período passou a ser chamado de Revolução Científica, quando Nicolau Copérnico (1473-1543) questionou a Bíblia, se opondo à ideia geocêntrica, derrubando um paradigma de mais de mil anos, ao apresentar que a Terra e o ser humano não eram mais o centro do mundo, e sim o Sol. Descartes e Newton foram também dois grandes colaboradores da era material (mundo máquina) da Idade Moderna. Uma era que teve seus vínculos fortes com o racionalismo e a fragmentação do conhecimento. Entendia-se que para conhecer algo era preciso fragmentar o objeto de estudo em muitas partes até chegar ao ponto inicial. Essa lógica repercutiu em muitas áreas do conhecimento, pois foi a maneira de entender o mundo daquela época. Atualmente, na educação, podemos perceber essa influência fragmentada na estrutura curricular, que apresenta os conhecimentos em disciplinas, conteúdose temas. Uma forma eficiente de organizar o estudo, que serviu para o contexto daquela época, e que continua vivo em muitas escolas brasileiras até hoje. A visão do mundo máquina deu origem a um novo método de investigação, defendido por Francis Bacon, que envolve a descrição matemática da natureza. 42 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR FIGURA 3 – REFLEXÕES E TEORIAS FONTE: Disponível em: <http://philosophia-ensinomedio. blogspot.com/2014/>. Acesso em: 6 jul. 2018. FIGURA 4 – REFLEXÕES E TEORIAS FONTE: Disponível em: <https://terrademordor.wordpress. com/2011/08/03/isaac-newton-e-o-tetris/>. Acesso em: 6 jul. 2018. Conheça um pouco mais sobre os estudos de Descartes e Newton para compreender a influência da era material na produção do conhecimento: 43 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? QUADRO 1 – ERA MATERIAL RENÉ DESCARTES (1596-1650) ISAAC NEWTON (1642-1727) Filósofo, matemático francês, foi considerado o fundador da ciência moderna, pai do racionalismo moderno. Fundamentava-se na razão como única base segura para que possamos compreender o homem e a natureza. Afirmava que era preciso decompor uma questão em outras mais fáceis até chegar a um grau de simplicidade suficiente para que a resposta ficasse evidente. Para ele, a natureza funcionava de acordo com as leis mecânicas exatas. Foi o físico inglês Isaac Newton que completou o pensamento de Descartes, dando a visão do mundo como máquina perfeita ao desenvolver uma completa formulação matemática da concepção mecanicista da natureza. Ele trouxe também outras contribuições, entre elas, o cálculo infinitesimal, o desenvolvimento das leis de reflexão e refração luminosa e a teoria sobre a natureza corpúscula da luz. De acordo com Newton, Deus criou as partículas materiais, a força entre elas e as leis fundamentais do movimento. Tudo isso funciona como uma máquina governada por leis imutáveis que controla a natureza e leva a ciência a pressupor a existência do determinismo universal, ou seja, o universo funciona sempre da mesma maneira. FONTE: Adaptado de Moraes (2010, p. 38). O universo mecanicista trouxe muitas contribuições para a compreensão do conhecimento, por exemplo, o processo lógico-dedutivo que está presente na matemática. E desse determinismo universal surgiu o conhecimento utilitário e funcional, abrangendo a ideia de que o mundo deveria ser entendido e modificado pela técnica. “Ao servir de base para a Revolução Industrial, a técnica aumentou também o poder de manipulação do homem sobre a natureza, e a atividade humana foi, aos poucos, abrindo espaço para o processo de industrialização” (MORAES, 2010, p. 39). 44 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Ao acompanharmos a evolução dos fatos, observamos a supervalorização dos conhecimentos técnico-científicos, que repercutiram positivamente para grandes descobertas científicas, mas que, por outro lado, desprezaram o conhecimento dos saberes sensíveis e estéticos, relacionados à consciência de um todo integrado. O conhecimento, especialmente o científico, desligou- se (muitas vezes, reconheça-se, por especificidades metodológicas e objetivas) de percepções harmônicas do mundo, de percepções que levavam em conta os sentidos diários do homem comum ou, ao menos, a ele se ligavam ou lhe faziam referência (DUARTE JR, 2004, p. 173). As implicações deste modelo de ciência vêm causando, até hoje, impactos em nossas vidas, como também nas mais diferentes áreas do conhecimento. Vamos entender como essa era influenciou o conhecimento nas mais diferentes áreas: QUADRO 2 – INFLUÊNCIA DA ERA MATERIAL PARA O CONHECIMENTO Biologia Medicina Psicologia Educação A atual farmacoterapia ainda é newtoniana no sentido de operar sob apenas um ponto de vista. Entende o corpo humano como um mecanismo complicado constituído por órgãos físicos, substâncias químicas, enzimas e receptores de membrana. No entanto, essa visão é incompleta, pois ignora as forças vitais que animam a bioquímica ligada uma às outras. A visão do corpo humano como uma máquina complexa ainda prevalece na medicina tradicional, que não considera com a devida seriedade as dimensões psicológicas das doenças e suas influências na matéria corporal. Atualmente sabemos que a noção de saúde é um fenômeno multidimensional, envolvendo a sensação de integridade física, mental, espiritual, em busca de um equilíbrio entre tudo aquilo que compõe o nosso organismo e entre este meio ambiente. É essa sensação de integridade e equilíbrio que se perdeu em nossa cultura ao longo desses 300 anos. Na escola, continuamos limitando nossas crianças nos espaços reduzidos às suas carteiras. Apesar de estudiosos apontarem novos caminhos para a educação, a escola atual continua influenciada pelo universo estável e mecanicista de Newton, pelas regras metodológicas de Descartes, pelo determinismo mensurável, pela visão fechada de um universo linearmente concebido, que divide conhecimentos em assuntos, especialidades e subespecialidades. FONTE: Adaptado de Moraes (2010, p. 51). 45 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? Apesar das críticas anteriormente apontadas e das influências presentes na linha tradicional, alguns estudiosos já concebem o sujeito em sua inteireza, entendendo, por exemplo, a correlação entre mente, corpo e emoção, num todo integrado. Entenda esta afirmação na leitura complementar a seguir: OS INDICADORES SOMÁTICOS Damásio realizou várias experiências com pessoas que tinham lesões cerebrais no lóbulo pré-frontal para demonstrar sua tese de que as emoções têm um papel essencial na racionalidade humana. Uma das experiências constituiu em observar pacientes que apresentavam esse tipo de lesão e compará-los com pacientes saudáveis para medir a condutividade de sua pele ao mostrar a ambos os grupos a mesma sequência de fotografias. Essas fotografias incluíram imagens banais, como publicidade e fotografias, além de imagens perturbadoras (violência, sangue, acidentes, sexo etc.). Os resultados obtidos por Damásio foram contundentes: enquanto as fotografias perturbadoras provocavam uma alta resposta na condutividade da pele das pessoas saudáveis, não houve uma resposta importante nas pessoas com lesões cerebrais. Apesar de estas pessoas entenderem perfeitamente, em nível racional, o horror dessas fotografias, não mostraram nenhuma resposta emocional. Um dos pacientes entendeu perfeitamente que diante dessas fotografias ele não apresentava nenhuma reação emocional e, mesmo assim, não mostrou nenhum sinal de perturbação. Segundo Damásio: “A redução das emoções pode ser uma causa igualmente importante de comportamento irracional”. O raciocínio, sem emoções, deixa de ser raciocínio. Os pacientes perdem a capacidade de escolher o plano de ação mais favorável, apesar de manterem intactas as capacidades mentais analíticas. Não basta saber analisar, é preciso saber sintetizar e escolher, ou seja, tomar decisões. FONTE: Damásio (1996 apud AGÜERA, 2008, p. 84). “A redução das emoções pode ser uma causa igualmente importante de comportamento irracional”. O raciocínio, sem emoções, deixa de ser raciocínio. 46 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Atualmente, já se entende que problemas emocionais podem trazer danos à saúde, ou seja, o mundo mental interfere no mundo físico. Mas este conhecimento não surgiu de um dia para o outro. Décadas de estudos,de questionamentos, e principalmente a partir da tese de Einstein, derrubavam a visão de mundo centrado numa perspectiva fragmentada e mecanicista da ciência moderna, para uma perspectiva de totalidade indivisa. Todo esse movimento começou com dois artigos que revolucionaram o pensamento moderno. Um deles sobre a teoria da relatividade da simultaneidade de acontecimentos e o outro sobre a maneira de conceber a radiação eletromagnética que caracterizava a teoria dos fenômenos atômicos. [...] Com a teoria da relatividade surgiu uma nova noção de estrutura da matéria ao se descobrir que massa é energia, modificando, assim, a ideia de um corpo rígido. [...] O mundo passou então a ser concebido em termos de movimento, fluxo de energia e processo de mudança (MORAES, 2010, p. 59). Nesse sentido, precisamos entender o movimento dos fatos por meio da construção histórica, pela qual se estruturam os saberes, os contextos e as conexões que variam entre o permanente e o transitório. Assim, vamos entender o conhecimento a partir dos dois modelos de ciência e seus respectivos paradigmas que influenciaram a educação. QUADRO 3 – PERSPECTIVAS DO CONHECIMENTO Perspectiva mecanicista (era material) Perspectiva de totalidade (era das relações) Acreditava-se que as descrições científicas eram objetivas, isto é, independentes do observador humano e do processo de conhecimento. Este modelo de ciência excluía o pensador de seu pensar, o construtor de sua obra. Nesta perspectiva, o conhecimento científico poderia alcançar a certeza absoluta e final. Esta perspectiva considera que o observador influencia o objeto a ser observado. Ambos possuem uma interação e o reconhecimento da participação pessoal é inescapável. Existe, portanto, uma interdependência entre o observador, processo de observação e o objeto observado. O conhecimento é um produto de uma relação indissociável entre essas três variáveis que constituem um único sistema, devendo ser tratado como partes integrantes do mesmo todo. Nessa perspectiva o conhecimento científico baseia- se em teorias (pontos de vista) e não em verdades absolutas. Nesse sentido, devemos reconhecer o pensamento humano como um modo de ver o mundo e não uma cópia verdadeira da realidade como ela é. FONTE: Adaptado de Moraes (2010). 47 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? É importante salientar que os fatos históricos e sua repercussão no mundo não têm começo, meio e fim, mas processos que coexistem e se ressignificam conforme os contextos e demandas sociais de uma determinada época. Isso quer dizer que uma era não se encerra para que nasça outra. Ao contrário, elas dependem umas das outras, pois os saberes transitam em ciclos, de um modelo científico ao outro, de um paradigma ao outro. Afinal, o que se discute na atualidade, sobre a inteireza do ser humano, mente, corpo e espírito, desvalorizado na era mecanicista, já fez parte de nossa história na Idade Pré-moderna. Na Idade Pré-moderna, o conhecimento absorvia os saberes do intelecto e os saberes sensíveis numa relação harmoniosa, da arte com a ciência, corpo e mente, interior e exterior, sujeito e objeto, num processo dialógico. Retomando esses valores perdidos na Idade Moderna, a era das relações emerge dos impactos tecnológicos e ressignifica os saberes do contexto atual. Vamos compreender melhor no próximo tópico a era das relações no contexto educativo. Atividades de Estudos: 1) Descreva quais características diferenciam o conhecimento entre a era material (Idade Moderna) e a era das relações (atualmente): ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ _____________________________________________________ 2) Aponte as contribuições positivas e negativas da visão mecanicista trazida por Descartes e Newton para o modelo educacional de hoje. _______________________________________________ _____________________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _______________________________________________ _____________________________________________________ 48 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR A educação de pequena árvore Nos anos 30, numa sociedade cheia de preconceitos, o índio cherokee Pequena Árvore cresce sob os cuidados dos avós e dos ensinamentos de seu povo. As diferenças com a educação local o obrigam a frequentar uma escola tradicional e a mudar de nome, mas nada é suficiente para tirá-lo de suas origens. 5 Era das Relações e os Sujeitos da Aprendizagem O contexto sobre o que é conhecimento, na era das relações, insere o sujeito como principal responsável de seu processo, tornando-se um pesquisador e transformador do seu ambiente. O entendimento de um determinado assunto abrange muito mais que uma área, pois envolve contextos, significados históricos e culturais. Nesse aspecto, a fragmentação não sustenta os saberes integrados, uma vez que um saber fragmentado é um saber frágil. Não queremos dizer que todo aprendizado anterior não seja válido, pelo contrário, é essencial, mas é preciso reconstruí-lo, ressignificá-lo às novas demandas sociais. E isso traz uma nova posição dos sujeitos que ensinam e aprendem. O poder atual está na teia de relações representada pelo conjunto de informações e conhecimentos disponíveis, está nos poderes da mente sobre a força bruta, o que, em última instância, significa que o poder está sendo transferido para o ser humano, o indivíduo, compreendido como um ser de relações, como tudo o que existe na natureza (MORAES, 2010, p. 210). Morin (1998) salienta que sujeito é o núcleo de todos os conhecimentos, ciências e saberes. Reconhece a relação consciente e complexa entre sujeito e objeto, sendo ao mesmo tempo, objetivo e subjetivo, em vários sentidos e níveis. Nesse sentido, então, o conhecimento possui duas dimensões do saber, que se relacionam ao objeto de estudo e ao sujeito. Estamos caminhando em direção a uma Era das Relações, que envolve a unicidade com o real, com o eu, a integração do homem com a natureza, a crença na inexistência de partes distintas e o prevalecimento de formas mais elevadas de cooperação entre viventes e não viventes. É uma era de autoconsciência, de respeito ao espírito humano e à diversidade cultural (MORAES, 2010, p. 210). O conhecimento possui duas dimensões do saber, que se relacionam ao objeto de estudo e ao sujeito. 49 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? Nesse aspecto, as novas pautas para a educação, no que diz respeito ao conhecimento, sugerem o resgate dos valores humanos, em consonância com a natureza, e tudo que a envolve. Essa integração do homem, natureza e universo também implica nas diferentes áreas do saber, uma vez que prioriza uma consciência coletiva em busca de melhorias para o mundo. “[...] alguns tipos de conhecimentos são mais valiosos que outros, e as diferenças formam a base para a diferenciação entre conhecimento curricular ou escolar e conhecimento não escolar” (YOUNG, 2007, p. 1293). O individualismo, a fragmentação e a desarticulação dos saberes, portanto, inserem o conhecimento a uma regressão, visto que o movimento que ascende ao processo da inteligência da razão e da criação, da era relacional, exige do sujeito o pensamentode qualidade superior, em busca da unicidade, inteireza e diálogo. A Era das relações indica, portanto, uma nova fase de evolução da humanidade, em que prevalece o poder do indivíduo e das sociedades. Demonstra a predominância nos novos cenários dos mais diferentes sistemas de comunicações, caracterizados pelos sistemas não só tecnológicos e interpessoais, mas também intra e transpessoais, cujas explicações também foram dadas pela própria física quântica ao esclarecer o funcionamento do pensamento individual e coletivo (MORAES, 2010, p. 210). Diante disso, como a educação pode facilitar esta transição entre a era material e a era relacional, contribuindo para tornar o mundo mais justo, equilibrado e consciente de seu papel na produção do conhecimento para benefício de todos? Não é uma tarefa simples, mas é preciso começar, é preciso estruturar todo um fazer pedagógico em consonância com os valores pretendidos. Nesse sentido, vamos compreender como é educar para a era das relações: FIGURA 6 – A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA ERA DAS RELAÇÕES E AS NOVAS PAUTAS Autonomia, cooperação e criticidade. Trazendo um enfoque mais reflexivo nas práticas pedagógicas. Vivências de trabalho em grupo na busca de soluções para problemas propostos. Uma proposta educativa que reflita e englobe tanto dimensões materiais quanto espirituais que busque a superação dos problemas sociais. Operações de reciprocidade, complementaridade e correspondência, incentivando o diálogo e a troca dos saberes. Educar para a diversidade, para a cidadania, criando ambientes de aprendizagens que facilitem a vivência dos processos intuitivos e criativos, possibilitando a autoconfiança e capacidade de gerenciar conflitos. Preparar os indivíduos para que reconheçam a interdependência dos processos individuais e coletivos, para a transpessoalidade dos contatos entre os seres vivos, entre o ser humano e o mundo da natureza da qual ele é integrante. FONTE: Moraes (2010, p. 198). 50 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Assim, o sujeito de que necessitamos para superar a crise do conhecimento não pode mais ser entendido como aquele que reproduz seus saberes, mas aquele que idealiza, cria, pensa e transforma seu entorno, em benefício de todos, atendendo às leis da natureza e o respeito ao próximo. [...] se as escolas devem cumprir um papel importante em promover a igualdade social, elas precisam considerar seriamente a base de conhecimento do currículo, mesmo quando isso parecer ir contra as demandas dos alunos (e às vezes de seus pais). As escolas devem perguntar: “Este currículo é poderoso?” Para crianças de lares desfavorecidos, a participação ativa na escola pode ser a única oportunidade de adquirirem conhecimento poderoso e serem capazes de caminhar, ao menos intelectualmente, para além de suas circunstâncias locais e particulares. Não há nenhuma utilidade para os alunos em se construir um currículo em torno da sua experiência, para que este currículo possa ser validado e, como resultado, deixá-los sempre na mesma condição (YOUNG, 2007, p. 1297). Para tanto, o conhecimento deve servir para elevar o aluno, tornando-o um sujeito sensível às fragilidades do mundo, buscando de forma consciente uma cultura planetária, lançando seu olhar ao universo e ao particular ao mesmo tempo, pois um dos maiores desafios da educação atual é a tarefa do conhecimento lógico conceitual, mas também expandir sua área de atuação para os campos corporais e sensíveis que herdamos com a existência (DUARTE JR., 2004). Assim, o sujeito de que necessitamos para superar a crise do conhecimento não pode mais ser entendido como aquele que reproduz seus saberes, mas aquele que idealiza, cria, pensa e transforma seu entorno, em benefício de todos, atendendo às leis da natureza e o respeito ao próximo. A Idade Moderna aspira a um tipo de conhecimento, supostamente livre da interferência dos sentidos e sentimentos, centrado na ´razão pura´. Razão hipertrofiada, já que pretende responder pelos mais íntimos setores de nossa vida, desconsiderando o saber sensível e embotando o desenvolvimento da sensibilidade dos indivíduos. Essa ´anestesia´ que sofre o homem contemporâneo precisa ser revertida através de uma educação da sensibilidade. O que possibilitaria a criação de uma razão mais ampla, na qual os dados sensíveis fossem levados em conta, gerando conhecimentos mais abrangentes. É este o tema desta obra de Duarte Júnior. DUARTE JÚNIOR, João-Francisco. O sentido dos sentidos: a educação (do) sensível. 3. ed. Curitiba: Criar, 2004 51 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? Vamos conhecer uma escola que conseguiu romper os paradigmas de uma sociedade pautada nas regras impostas por um sistema tradicional, transformando por meio dos saberes sensíveis uma comunidade de alunos, bem como todo um projeto educativo. Acompanhe a pesquisa a seguir: 6 Os Sujeitos da Aprendizagem e o Atual Paradigma Educacional a Partir da Escola da Ponte (OFFIAL, 2012) Querida Alice... Era uma vez um reino encantado junto ao mar. Encantado porque uma fada má havia transformado todos os seus habitantes em pássaros. No reino encantado havia cidades e, para além dos muros das cidades, outras cidades e outras escolas. Essas escolas de aprender a voar eram quase todas iguais. E iguais a essas eram outras escolas dentro das cidades das aves (PACHECO, 2010, p. 18). Nessa epígrafe, retirada do livro Para Alice com amor, José Pacheco conta um pouco da trajetória do projeto que chamou de “Fazer a Ponte”. Essa obra relata, por meio de metáforas, as experiências do autor nos tempos anteriores à entrada de Alice, sua neta, na escola. O educador descreve como eram as escolas em que havia trabalhado, relembra o cotidiano escolar, os problemas e os desafios que encontrou na longa jornada rumo ao desejo de uma escola de qualidade. Os personagens dessa história são pássaros: pássaros bons, pássaros encantados, pássaros com limitações, pássaros diferentes, pássaros inteligentes, pássaros tristes, pássaros felizes. Vivem em um reino encantado junto ao mar e frequentam uma escola de pássaros, onde recebem aulas de piação, aulas de voo, sendo os manuais iguais para todos. Lá, há, também, abutres, com suas “almas empedernidas”, os papagaios, falsos negrelas, e muitos outros pássaros insensíveis. Todos obedecem aos comandos e às regras de uma fada muito má (metáfora usada para indicar o método). Na história, antes de Alice entrar na escola, todos seguiam os mesmos manuais, repetiam as mesmas lições. Os alunos (pássaros) não eram valorizados pela diferença, muito menos pela sua experiência sociocultural. Pelo contrário, tinham que se submeter a métodos e padrões preestabelecidos. Os manuais aos quais se refere eram ultrapassados e longe da realidade dos alunos. Mesmo não fazendo sentido, esses manuais tinham que ser seguidos obrigatoriamente. Periodicamente esses alunos eram submetidos a testes. Esses testes, aplicados igualmente a todos, no mesmo espaço e tempo, limitavam os alunos aos mesmos padrões. 52 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Nessa caminhada, a escola encontrou mais interrogações que certezas: professores e alunos distantes da comunidade, exclusão social, indisciplina generalizada e a falta de um projeto coerente com a prática. Há escolas onde tudo é negação da cidadania. Nessas escolas, a solidão dos professores é da mesma natureza da solidão dos alunos, que passam de sala em sala, no ritmo pautado por uma campainha, e deparam com professores afáveis ou permissivos, uns exigentes, outros autoritários. Foram anos de persistênciaem busca de uma escola que se diferenciasse das tradicionais, desde a organização dos espaços até as alterações de modelos pedagógicos. Uma mudança na educação é algo complexo, principalmente porque envolve políticas educacionais, a comunidade, todo o corpo docente e, sobretudo, o apoio de todos esses envolvidos. Pacheco (2004) relata suas experiências no processo que chama de “fazer a Ponte”. Ele conta que na escola havia um grupo chamado de turma do lixão, eram jovens entre 13 e 15 anos. Essa turma não sabia ler, nem escrever e, conforme seu relato, não eram jovens violentos, eram violentados, pois, segundo o autor, a violência não nasce com a pessoa, aprende- se com ela. É a esse tipo de concepção escolar que um grupo de docentes da Escola da Ponte opôs-se e procurou transformar. Diante de tantos problemas, viu-se a necessidade de buscar alternativas de forma coletiva, e nessa procura, um grupo de formação deu início ao projeto. Com o desejo de tornar possível o sonho de uma escola mais humanizada, democrática, com professores e alunos participantes, solidários, críticos e autônomos, foram definidos os objetivos no grupo de formação, chamado de “círculo de estudos” (PACHECO, 2010). Esse era o nome adotado por grupos de professores que promoviam uma reflexão sobre as práticas pedagógicas. É necessário esclarecer que o processo de formação, em especial o “círculo de estudos”, partiu de um grupo de docentes preocupados com um contexto escolar bastante conturbado. Contaram com o apoio de professores, destinados a enfrentar desafios de repensar e transformar uma prática escolar. Por meio da reflexão e ação, conquistaram uma equipe de pensadores, abertos para repensar sobre sua prática. A formação continuada de docentes é considerada por Pacheco (2010) um meio e não um fim em si mesmo, as discussões devem servir para influenciar práticas, sair do papel, pois formação não se destina somente a capacitar os professores, estes são mediadores de formação em desenvolvimento que passam da identificação e valorização do saber à sua partilha, ou seja, as ideias e as possíveis soluções que se discutem em grupos de formação devem ser partilhadas e postas em prática. No modelo desse círculo de estudos não há um líder apenas, todos são atuantes e participantes do processo. Discutem formas de resoluções de conflitos 53 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? encontrados e vivenciados pelos próprios professores. Foi assim, por meio do círculo de estudos, que o Projeto da Ponte teve sua gênese. Os objetivos propunham mudanças quanto à diversificação das aprendizagens centradas em uma política de direitos humanos; quanto ao desenvolvimento da autonomia e da solidariedade, promovendo transformações nas estruturas de comunicação entre instituições e agentes educativos locais. Para isso, segundo Pacheco (2010), foi necessário questionar modelos de práticas pedagógicas, como também levar à comunidade valores humanos, pois uma prática escolar não se altera sem seus pares, professores, educandos e famílias. O modelo de formação utilizado na Escola da Ponte está ligado à resolução de reais problemas do cotidiano escolar e desenvolve-se com a participação crítica e reflexiva dos professores. Estes, integrantes desse círculo de estudos, compreendem que os modelos de formação devem ter direta conexão com a prática, partir da reflexão da ação, identificar os problemas, discutir, dialogar, tornar claros os objetivos e questionar possíveis soluções. Nessa esteira, os autores, Freire (1996) e Pacheco (2010), comungam da ideia de uma racionalidade reflexiva em torno da prática. Contudo, não há como sustentar uma prática sem teoria, assim como não há mudança ou intervenção da realidade sem a influência da prática, e diante disso, Freire sustenta que: Esta busca nos leva a surpreender, nela, duas dimensões: ação e reflexão, de tal forma solidárias, em uma interação tão radical que, sacrificada, ainda que em parte, uma delas, se ressente, imediatamente, a outra. Não há palavra verdadeira que não seja práxis. Daí que dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo (FREIRE, 1996, p. 89). A transformação dessa escola se deu a partir de problemas e experiências de uma prática mal resolvida com o apoio de grandes teóricos que marcaram a história da educação, a saber: Pestalozzi, Rogers, Montessori, Freire, Freinet, Decroly, dentre outros. A organização atual da escola é estruturada de acordo com seus princípios, pautada em uma educação solidária, responsável e autônoma. Devido a isso, os alunos são responsáveis pelo seu aprendizado: “O importante é permitir que as crianças descubram por si mesmas o conhecimento de que mais necessitam” (MORAES, 2010, p. 140). Dessa forma, os discentes são incentivados a pesquisar os conteúdos com os quais eles próprios se comprometem em estudar. Quem planeja é o aluno e a pesquisa é um dos principais recursos para auxiliar os estudos. “O importante é permitir que as crianças descubram por si mesmas o conhecimento de que mais necessitam” (MORAES, 2010, p. 140). 54 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR FIGURA 7 – GRUPO DE ESTUDOS FONTE: Offial (2012). A escola passou por várias mudanças. Rompeu com um modelo escolar no qual as aulas eram centradas no professor. Envolveu os alunos nas tomadas de decisões, coletivas e individuais. Permitiu ao aluno dirigir sua própria aprendizagem. Trocou uma organização hierárquica por uma escola com princípios democráticos e não autoritários. Nesse processo, a escola lidou com grandes desafios, a iniciar pelas diretrizes impostas pelo Ministério de Educação de Portugal (ME). Foram muitas lutas até alcançar a autonomia, apesar de ter vínculo estadual. No entanto, na base sólida do grupo de estudos, encontrou forças e apoio para dar continuidade ao projeto. Os poderosos de todos os tempos sabiam que a ponte tem sua pedra angular, mas ignoravam que uma pedra sozinha não se segura num arco. Nesse segredo residia a força da ponte. Poderia vergar sob o peso de uma moral caduca feita de tabus e superstições, mas não cedia. E, se havia quem quisesse destruir o ato criador das gaivotas da escola das aves, as pontes para o futuro da Escola resistiam na sólida consistência das pedras fundadoras (PACHECO, 2010, p. 58). Por meio dessa metáfora, o autor expressa que os obstáculos encontrados no percurso não foram suficientes para romper o desejo de “fazer a ponte”, pois o círculo de estudos, a qual se refere como “Pedra Angular”, foi o que sustentou e sustenta até hoje o projeto. A figura a seguir representa a dinâmica da formação de modelo escolar e o círculo de estudos do atual projeto. 55 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? FIGURA 8 – SÍNTESE DOS CONTRASTES ENTRE O CONCEITO DE CÍRCULO E A FORMAÇÃO DE MODELO ESCOLAR AO INVÉS DE UTILIZA-SE PROFESSOR (Formador Externo) COORDENADOR DE CÍRCULO (Monitor Interno) ALUNO PARTICIPANTE LIÇÃO REUNIÃO ENSINO ESTUDOS LIVRO DIDÁTICO MATERIAL DE ESTUDO CURRÍCULOS PLANO DE ESTUDO PERÍODOS ÉPOCA DE ESTUDO FONTE: Offial (2012). O esquema acima demonstra a mudança não só de nomenclatura, mas de transformação de uma prática. Percebe-se que, entre o primeiro modelo e o segundo, a diferença está na valorização do aluno e na sua inserção como sujeito principal no meio escolar. No modelo anterior, professores e currículos eram o centro do processo educativo. Hoje, nessa escola, o aluno expressa-se atuante e consciente no processo de sua formação. Não é raro encontrarmos práticas escolares baseadas no primeiro modelo, também não é raro vermos os mesmos problemasrepetirem-se e muito menos raro depararmo-nos com um estado de acomodação generalizado. Diante disso, Freire (1996) comenta que é necessário que o docente tenha a clareza do seu papel de educador e altere sua prática em benefício do aluno. Freire (1996) comenta que é necessário que o docente tenha a clareza do seu papel de educador e altere sua prática em benefício do aluno. 56 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Para o autor, pensar em benefício do aluno é “pensar certo”. O autor traz constantes indagações sobre o ato de ensinar e ressalta que é possível e, de certa forma urgente, que professores atuantes interfiram em sua realidade escolar, pois “[...] o mundo não é. O mundo está sendo” (FREIRE, 1996, p. 76). Todavia, mudanças não ocorrem de um dia para o outro, ainda mais quando se trata de um processo educacional, que é de tamanha complexidade. As alterações realizadas na Escola da Ponte concretizaram-se em parcerias, que eram os “pássaros bons, inovadores”: Foi o amor sempre presente no canto das almas sensíveis que comoveu as almas empedernidas dos abutres, dos papagaios, dos porquenãos, dos borogóvios e das falsas negrelas, e redimiu-as do pecado da ignorância e da maldade. A doce paciência das almas sensíveis ajudou os pássaros doentes a não terem medo da luz diurna, a não fechar os olhos à claridade (PACHECO, 2010, p. 85). Hoje, a Escola da Ponte é uma entidade pública estatal, de ensino básico, integrada com jardim de infância. Recebe alunos desde o 1º até o 9º ano. Em 2011, duzentos e vinte alunos frequentavam a escola. Os alunos são organizados em grupos heterogêneos, não há lugares fixos e todos trabalham em equipe, professores e alunos, todos com todos. Conforme os documentos pesquisados no site oficial, a escola organiza-se de acordo com a estrutura que segue: FIGURA 9 – ORGANIZAÇÃO EDUCACIONAL DA ESCOLA DA PONTE FONTE: Offial (2012). INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PLANO DE REGISTRO RELATÓRIO ÁLBUM COLETÂNEA DE TEXTO BIBLIOGRAFIAS FICHA DE AUTO-AVALIAÇÃO TESTE SELECIONADO PELOS ALUNOS REGISTRO DE DISPONIBILIDADE ATA COMUNICAÇÃO QUADRO DE SOLICITAÇÕES TESTE SOCIOMÉTRICO INVENTÁRIO DE ATITUDES INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS DIREITOS E DEVERES ASSEMBLEIAS COMISSÃO DE AJUDA BIBLIOTECA CAIXINHA DE SEGREDOS CAIXINHA DE TEXTOS INVENTADOS EU JÁ SEI EU PRECISO DE UMA AJUDA PROFESSOR TUTOR GRUPO DE RESPONSABILIDADES ARTICULAÇÃO CURRICULAR DIMENSÃO LÓGICO MATEMÁTICA DIMENSÃO LINGUÍSTICA DIMENSÃO ARTÍSTICA DIMENSÃO NATURALISTA DIMENSÃO IDENTIRÁRIA DIMENSÃO PESSOAL E SOCIAL NÚCLEOS INICIAÇÃO CONSOLIDAÇÃO APROFUNDAMENTO ESCOLA 57 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? Esta forma de organização demonstra uma proposta diferenciada, a qual, segundo os documentos, vai além dos dispositivos pedagógicos e o desenvolvimento curricular, pois a veiculação desses instrumentos torna possível o trabalho em grupo heterogêneo, a cooperação, a autonomia e a vivência de uma cidadania responsável. A organização curricular dessa escola articula-se por meio de dimensões Lógico Matemática, Naturalista, Linguística, Identitária, Artística, Pessoal e Social. Diferentemente de um currículo tradicional, na Escola da Ponte, os conteúdos a serem trabalhados são escolhidos pelos próprios alunos. Os critérios são selecionados pelos orientadores das dimensões, cada qual na sua área. Os conteúdos são fixados em murais para que os alunos visualizem e percebam o que precisam trabalhar. O Núcleo da Iniciação subdivide-se em três grupos: o grupo da Primeira Vez, o grupo dos Cientistas Malucos e o grupo das Seis Estrelas. A divisão desse núcleo em outros grupos dá-se por uma questão de espaço, pois não há um grande galpão que comporte todos os alunos, a intenção é a integração para que os alunos produzam e compartilhem as aprendizagens, suas dúvidas e experiências. Para um aluno avançar de núcleo precisa estar preparado, demonstrando características que se referem a responsabilidades, à autonomia, a relacionamentos, à criatividade, à autodisciplina, à persistência e à concentração nas tarefas, à participação em debates, ao comprometimento etc. Cada núcleo aprofunda esses saberes, levando em conta a faixa etária e o avanço de cada aluno em particular, sendo avaliados e observados no decorrer das atividades, dos projetos e das atitudes. Essa organização, por núcleos com diferentes idades, foi muito contestada pelo Ministério da Educação (ME) de Portugal, como também por educadores que não compreendiam a proposta, conforme se apresenta no fragmento de texto a seguir: Não acredito! Como é possível não estar colocado num 3º ou 4º ano! O miúdo contestou: O senhor não entendeu. O que eu disse foi que na minha escola não se faz como em outras, não se divide os meninos por turmas e por anos. Porque isso não interessa... O universitário cortou-lhe a palavra e atirou, num tom a roçar o cinismo: Está bem! Eu já ouvi essa ladainha. Vá lá! Diz em que ano estás! O moço respirou fundo e olhou na direcção do seu professor, como quem pergunta: o que hei-de fazer desta criatura? O professor encolheu os ombros. E o aluno que fazia a palestra respondeu: O senhor não sabe mesmo em que ano eu estou? Triunfante, o universitário usou o imperativo com ênfase redobrada: Não sei. Diz lá! O jovem obedeceu e disse: Estou no mesmo ano em que o senhor está – no ano de 1996! (PACHECO, 2010, p. 10). 58 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Esse diálogo representa uma pequena parcela das vezes que a Escola da Ponte precisou provar e comprovar sua forma de organizar-se. Essa diferente organização desperta a curiosidade de pesquisadores inicialmente por não ter alunos divididos por séries, ao invés disso, núcleos. Em cada Núcleo, há professores das diferentes áreas para atender aos alunos na disciplina específica. Por isso, podemos perceber a variedade de áreas em um mesmo núcleo. Sobre isso, Pacheco esclarece e argumenta: Na Ponte, há muitos anos, concluímos que seria urgente extinguir o “professor único” nos primeiros quatro anos de escolaridade. O professor generalista possui “conhecimentos superficiais, que acarretam, quase automaticamente, comportamentos livrescos, repetitivos, ou reprodutores”. Na Ponte, o generalista foi substituído pelo mediador (PACHECO, 2010, p. 72). Dessa forma, todos os alunos podem trabalhar com todos os professores. Os alunos são organizados em grupos heterogêneos. Também não há lugar fixo, pois nessa escola há muita movimentação, variando conforme os grupos com os quais os alunos estão envolvidos, dentre eles, o das responsabilidades. Pacheco (2010) pontua a necessidade de um melhor aproveitamento dos espaços abertos para potencializar o convívio e expansão de aprendizagens. Ele percebe que o fato de a Escola da Ponte possuir menos paredes que as demais não indica que estão mais inseridos em um convívio que não seja a sua própria instituição. O autor traz à tona essa questão, mas não apresenta argumentos que legitimem essa fragilidade. Contrapondo essa análise, verificamos que há na Escola muitas atividades e projetos que contemplam aulas dinâmicas e fora do ambiente escolar. Apesar de a Escola da Ponte ser estadual, ela conquistou a autonomia com o Ministério da Educação para selecionar os professores. Sobre esse assunto, há contradição ao comparar a pesquisa de Santa Rosa (2008) e Mariana (2008) a respeito da seleção dos professores. Santa Rosa afirma que a escola possui autonomia para escolha dos docentes e Mariana cita que essa ação foi derrubada pelo ME. Considerando que as duas pesquisas foram concluídas no mesmo ano, a questão parece não estar resolvida, ou sofreualterações no decorrer do ano. No entanto, em entrevistas e conversas informais com professores, obtivemos informações de que a escola possui autonomia para a contratação dos professores. Os instrumentos pedagógicos e os instrumentos de avaliação são chamados também de dispositivos, ou seja, estratégias pedagógicas que ajudam o aluno não só a nortear seus estudos, como também seu processo de avaliação. Os instrumentos de avaliação são dispositivos para auxiliar no desenvolvimento Pacheco (2010) pontua a necessidade de um melhor aproveitamento dos espaços abertos para potencializar o convívio e expansão de aprendizagens. 59 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? contínuo do aluno. Diferentemente das escolas tradicionais, cuja avaliação baseia-se em apenas provas, testes, exercícios, na Escola da Ponte, o aluno pode escolher como e quando será feita a sua avaliação. Sobre esse tipo de avaliação, Freire nos diz: Os sistemas de avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm se assumindo cada vez mais como discursos verticais, de cima para baixo, mas insistindo em passar por democráticos [...] A questão que se coloca a nós é lutar em favor da compreensão e da prática da avaliação enquanto instrumento de apreciação do que-fazer de sujeitos críticos a serviço, por isso mesmo da libertação e não da domesticação. A avaliação em que se estimule o falar a como caminho de falar com (FREIRE, 1996, p. 116). O educador refere-se a uma avaliação que está a favor do aprendiz, pois ao lidar com o diálogo permite o aluno expressar-se com liberdade. Nessa prática, o aluno tem o direito de ser avaliado pelo que sabe. Os direitos, nessa escola, são sempre acompanhados de compromissos. Dessa forma, a liberdade vem sendo orientada pela responsabilidade. Todos têm compromisso em deixar em dia o plano da quinzena. Nesse plano, é o próprio aluno que orienta os conteúdos a serem estudados e pesquisados. Os professores são somente mediadores do processo ensino- aprendizagem. Interferem quando percebem o não comprometimento do aluno com os estudos, ou sempre que é requisitado para esclarecer dúvidas. O plano da quinzena é visto todos os dias e assinado pelo professor e no dia da tutoria é revisado pelo tutor de cada grupo. FIGURA 10 – PLANO DA QUINZENA FONTE: Offial (2012). 60 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Uma vez por semana, um tutor responsável por um determinado grupo acompanha o andamento das tarefas, pesquisas e exercícios que os alunos realizam no decorrer dela. Dessa forma, o tutor consegue estar mais próximo das necessidades do educando para auxiliá-lo no processo de aprendizagem. Cada aluno possui uma pastinha com um plano quinzenal e exercícios de acordo com o conteúdo estudado. Essa pastinha é verificada e assinada pelo tutor. Essa é uma prática, assim como as demais, que inclui todos da escola, inclusive os alunos especiais – quanto aos alunos “especiais”, para a escola, todos são especiais e realizam o mesmo tipo de trabalho, sendo respeitados pela diferença. Todos são tratados iguais e recebem o apoio de que necessitam (PACHECO, 2010). Na pesquisa de observação percebemos uma interação muito espontânea entre todos, não fazem distinção entre os que apresentam síndromes, ou qualquer tipo de comportamento diferente, não percebemos qualquer discriminação, pelo contrário, comprovamos a inclusão e o respeito entre eles. Há uma preocupação com o outro muito forte nessa escola. Sentimos que o coletivo é algo real entre os educandos e educadores, como se pode observar na figura a seguir: FIGURA 11 - GRUPOS DE AJUDA FONTE: Offial (2012). Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem que a escuta não se pode dar. Se discrimino o menino ou menina pobre, a menina ou menino negro, o menino índio, a menina rica; se discrimino a mulher, a camponesa, a operária, não posso evidentemente escutá-las, e se não as escuto, não posso falar com eles, mas a eles, de cima para baixo (FREIRE, 1996, p. 120). É nesse contexto que os alunos da Ponte se formam. Não pensando para um dia exercerem a cidadania, mas educados no exercício da cidadania, e isso o projeto político educacional enfatiza claramente. A educação para a cidadania, 61 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? FIGURA 11 - GRUPOS DE AJUDA FONTE: Offial (2012). segundo Freire (2009), implica em um movimento dinâmico, dialético na sua relação com a prática e a teoria, relacionada aos limites dos vínculos que homens e mulheres estabelecem entre si e com o mundo. Moraes (2010, p. 139) afirma: [...] além de reintegrar o sujeito na construção do conhecimento, resgata também a importância do processo ao reconhecer que pensamento e conhecimento, como tudo na natureza, estão em holomovimento. Ao mesmo tempo valoriza a experiência e o faz de um modo diferente, como um princípio básico na construção do conhecimento. Há uma imanência em todo o conhecimento que depende da ação do sujeito, de seus processos internos. A Escola da Ponte oportuniza aos educandos essa relação da prática com a teoria por meio de diferenciadas estratégias que chamam de dispositivos pedagógicos. No início de cada ano são discutidos em assembleia projetos, direitos e deveres, grupos de responsabilidades, dentre outros assuntos. No caso dos grupos de responsabilidades, segundo coordenadora da Dimensão Linguística, os alunos inscrevem-se para qual responsabilidade irão comprometer-se: biblioteca/material comum; bar; computadores e música; murais; recreio bom; correio da Ponte; visitas da Ponte; arrumação e material comum; jogos de mesa; terrário e jardim; jornal. Essa ação permite que o aluno desenvolva suas competências nas diversas áreas do conhecimento em uma conectividade com a realidade, ampliando sua cultura. Há, em todos os espaços, estantes com materiais para pesquisa. A escola adota diversificados livros didáticos para não se limitar a um só autor, pois a finalidade é que o aluno (participante) descubra outras fontes de um mesmo assunto. Há murais com desenhos dos alunos e dispositivos pedagógicos: “Pesquisa em casa”, “Eu já sei”, “Acho bem”, “Acho mal”, “Posso ajudar em”, “Clube dos leitores”, “Preciso de ajuda”. 62 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR No “Eu já sei”, os alunos (participantes) escrevem o tema dos assuntos em que já demonstram maior domínio. Essa prática auxilia aos demais colegas que apresentam dúvidas relacionadas ao mesmo assunto a ajudarem-se. Facilita, também, para o professor identificar os conteúdos que o educando conseguiu compreender e programar a avaliação. Esta é discutida em conjunto com o aluno sobre a forma de ser apresentada: oral, descritiva, PowerPoint etc. É o próprio aluno que deve perceber quando está seguro sobre o conteúdo que pesquisou. Embora, em alguns casos, o aluno precise de maior orientação e acompanhamento do professor até desenvolver por si só a autonomia e a responsabilidade para os estudos – é o exemplo dos alunos que iniciam na escola no grupo “Primeira Vez”. Em cada núcleo, há professores das diferentes áreas para atender os alunos na disciplina específica. Por isso, podemos perceber a variedade de áreas em um mesmo núcleo. E sobre isso, Pacheco (2010, p. 72) esclarece e argumenta: Na Ponte, há muitos anos, concluímos que seria urgente extinguir o “professor único” nos primeiros quatro anos de escolaridade. O professor generalista possui “conhecimentos superficiais, que acarretam, quase automaticamente, comportamentos livrescos, repetitivos ou reprodutores”. Na Ponte, o generalista foi substituído pelo mediador. Os fatores que levaramessa escola a conseguir legitimar um projeto coletivo de qualidade, sendo uma escola estadual, foi tese de doutorado de Santa Rosa (2008), a qual direcionou sua pesquisa na compreensão do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da Escola da Ponte por meio de análise documental e observações a campo. A pesquisadora procurou elencar os elementos matriarcais que estão presentes na prática dos envolvidos na Escola para a efetivação do PPP. Um projeto não se sustenta isolado, muito menos distante de seu contexto social. Eis aí sua fragilidade, o que não é o caso da escola em questão. Segundo a pesquisadora (2008), ela tem seus alicerces muito bem ancorados na coletividade de Líderes, Equipe e Família. Essa força humana em consonância com os princípios voltados à inclusão são os pilares da Ponte e que direcionam um PPP dialógico. Mariana (2008), também em sua tese de doutorado, identificou alguns componentes que ajudam a potencializar o projeto educativo da Ponte. Destaca três elementos que fortalecem uma educação integral, e que são desenvolvidos nessa escola, são eles: “a realização periódica de assembleias e a cogestão de escola pelos estudantes; o estímulo ao autodidatismo através da diluição do ensino seriado em grupos de estudos; o envolvimento da escola com a comunidade” (MARIANA, 2008, p. 116). As atividades não são separadas por turmas ou idades e partem do interesse dos alunos, e isso é muito positivo para o educando. 63 Capítulo 2 O Conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? Ambas pesquisadoras mencionadas reconhecem elementos que servem de referência para muitas escolas. A autonomia, a solidariedade, a fraternidade e a responsabilidade que dizem respeito a uma formação estética. Nesse aspecto, para entender a aquisição do conhecimento como principal foco da escola para o aluno, deve-se elencar quais os conhecimentos que se transformarão em instrumentos para que ele desenvolva a consciência e compreenda seu papel no mundo, pois o conhecimento é uma das condições eficazes para o aluno se apoderar de seu universo social. Nesse aspecto, as novas pautas na era das relações inserem o sujeito como atuante de seu processo de conhecimento, desenvolvendo autonomia, responsabilidade e relação dialógica com seus pares. Nesse aspecto, as novas pautas na era das relações inserem o sujeito como atuante de seu processo de conhecimento, desenvolvendo autonomia, responsabilidade e relação dialógica com seus pares. O Universo do conhecimentoI, com Edgar Morin: <https://www. youtube.com/watch?v=kzHjJd3cJCg> 7 Algumas Considerações Por mais que percebamos mudanças relacionadas ao contexto educativo, tentando um modelo educacional capaz de estimular os conhecimentos sensíveis e inteligíveis, ainda constatamos o quanto a escola se distancia dessa prática. Nesse sentido, a produção do conhecimento para esta nova era deve atender aos princípios pautados na autonomia, responsabilidade e formação de sujeitos ativos, críticos e transformadores de seu entorno, em benefício da sociedade e da natureza. Portanto, a desconexão entre currículo, prática pedagógica e contexto do aluno podem ser os vilões da aprendizagem, do conhecimento. E um ambiente educacional que não oferece ao aluno a pesquisa, a autonomia e a liberdade de escolha compromete a relação dialógica, que deve ser crítica, transformadora, pois é a partir do diálogo que se constroem, que se problematizam e que se encontram possíveis soluções. 64 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NO AMBIENTE ESCOLAR Referências AGÜERA, L. G. Além da inteligência emocional: as cinco dimensões da mente. São Paulo: Cengage Learning, 2008. DUARTE JÚNIOR, João Francisco. O sentido dos sentidos: a educação do sensível. 3. ed. Curitiba: Criar, 2004. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. _____________. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 48. ed. São Paulo: Cortez, 2009. MARIANA, F. B. Educação e ecologia: práticas de autonomia social ou renovados discursos do poder do capital transnacional? 2008. 180f. Tese. (Doutorado em Educação). Universidade de São Paulo. Faculdade de Educação. São Paulo, 2008. MORAES, M. C. O paradigma educacional emergente. Campinas/SP: Papirus, 2010. MORIN, E. Sociologia: A sociologia do microssocial ao macroplanetário. Sintra, Portugal: Europa América, 1998. OFFIAL, P. C. P. Formação de leitores do literário: uma experiência na Escola da Ponte. 2012. 135f. Dissertação. (Mestrado em Educação) – Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI, Itajaí, 2012. PACHECO, José. Escola da Ponte: formação e transformação da educação. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. SANTA ROSA, C. S. R. Fazer a ponte: para a escola de todos (as). 2008. 336f. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008. YOUNG, M. Para que servem as escolas? Educação & Sociedade. v. 28, n. 101. Campinas Sept./Dec. 2007. Disponível em: <http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302007000400002>. Acesso em: 1 maio 2018. A centralidade da Aprendizagem nas Práticas Educativas Escolares O conhecimento e a Era das Relações: Quais as Novas Pautas? A relação Professor-Aluno na Produção do Conhecimento Contextos Atuais e Desafios Sobre o Conhecimento na Escola
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