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Formação de gestores escolares

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na LDBEN. Ao longo desse período, com as dife-
rentes	versões	apresentadas	e	a	 incorporação	de	emendas,	Darcy	Ribeiro	
atenuou resistências e o mal-estar decorrente da estratégia empreendida, 
embora na base o documento continuasse sintonizado com a orientação 
política dominante (SAVIANI, 1997).
Cabendo	à	Câmara	a	decisão	final	sobre	o	texto	que	resultaria	na	nova	
LDBEN,	a	escolha	foi	pelo	Substitutivo	Darcy	Ribeiro,	havidas	algumas	mo-
dificações	que	não	comprometeram	sua	estrutura	e	sentido12.
Quanto aos dispositivos mais diretamente relacionados a diretrizes 
balizadoras da gestão democrática, à autonomia da escola e a condições, 
espaços e mecanismos de participação, o conteúdo da versão aprovada na 
Câmara	dos	Deputados	é	o	mesmo	que	figurava	no	Substitutivo	de	Darcy	
Ribeiro. Acerca de diretrizes sobre a matéria, lê-se no art. 3º da LDBEN que 
o ensino será ministrado, dentre outros princípios, pelo da “gestão demo-
crática do ensino público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas 
de ensino” (inciso VII).
Embora	esse	mesmo	dispositivo	tenha	figurado	no	PLS	nº	67/1992,	de	
autoria	de	Darcy	Ribeiro,	o	que	se	lia	no	art.	5º	deste	projeto	–	destinado	
ao estabelecimento de princípios da gestão democrática do ensino público 
– não aparecia mais no Substitutivo aprovado no Senado e, como referi-
do,	também	não	constou	na	lei	sancionada	em	1996.	Já	no	que	responde	
à autonomia da escola, ausente no PLS nº 67/1992, o tema ganhou lugar 
no art. 16 do Substitutivo, e o seu conteúdo foi igualmente preservado na 
LDBEN: “Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares 
públicas de educação básica que os integram progressivos graus de auto-
nomia	pedagógica	e	administrativa	e	de	gestão	financeira,	observadas	as	
normas	gerais	de	direito	financeiro	público”.
Por	fim,	acerca	de	espaços	e	mecanismos	de	participação,	são	referidos	
no	art.	14	da	LDB	(art.	15	do	Substitutivo	Darcy	Ribeiro)	o	projeto	político	
12 O projeto foi recebido na Câmara dos Deputados em 8 de março de 1996, seguindo tramitação sob a identi-
ficação	de	PL	nº	1.258/1988,	com	substitutivo.	A	aprovação	final	ocorreu	em	17	de	dezembro	de	1996,	tendo	
sido	relator	o	Deputado	José	Jorge	(PFL/PE).	A	sanção	presidencial	se	deu	em	20	de	dezembro	de	1996,	sem	
qualquer veto.
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pedagógico	(inciso	I),	em	vista	da	observância	da	participação	dos	profis-
sionais da educação na elaboração enquanto princípio da gestão democrá-
tica do ensino público, e os conselhos escolares ou equivalentes (inciso II), 
haja vista o princípio da participação das comunidades escolar e local. A 
figura	do	Conselho	Nacional	de	Educação	foi	mantida,	embora	tendo	sido	
mencionada uma única vez (§1º do art. 9º), sendo-lhe conferidas “funções 
normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei”.
Em suma, o processo que resultou na atual LDBEN desaguou em um 
conjunto compacto de normas sobre a gestão democrática do ensino pú-
blico na educação básica, as quais estão precisamente situadas nos artigos 
3º (inciso VIII) e 14, havendo importante associação com o conteúdo do 
art. 15. Outros dispositivos, como o art. 9º, que trata da elaboração do 
Plano Nacional de Educação, em colaboração com os estados, o Distrito 
Federal e os municípios, e o art. 12, que atribui às escolas a elaboração e 
execução de suas propostas pedagógicas, também expressam alguns enca-
minhamentos, ainda que de forma menos direta. 
Ademais, importa referirmos algumas ausências no texto aprovado, 
conforme sintetiza Mendonça (2000):
[a LDB] não incorporou a ideia de que a gestão democrá-
tica prevista para o ensino público se aplique a todas as 
instituições que recebam recursos públicos para sua manu-
tenção, bem como desconheceu a elaboração do planeja-
mento anual valorizando a experiência da comunidade e a 
possibilidade de escolha de dirigentes pela comunidade es-
colar, presentes no projeto da Câmara Federal (MENDON-
ÇA, (2000, p. 125).
Em meio a análises que realçam, dentre outros aspectos, uma LDBEN 
cujo teor se voltou à sustentação da reforma educacional da década de 
1990	(KRAWCZYK;	VIEIRA,	2008),	ancorou-se	no	discurso	da	flexibilidade	
e da sintonia com as exigências do mundo moderno (SHIROMA; MORAES; 
EVANGELISTA, 2000) e da técnica e agilidade administrativa (OLIVEIRA, 
2008) e introduziu conceitos de gestão e de avaliação educacional e peda-
gógica	opostos	aos	defendidos	no	projeto	Jorge	Hage	 (ARELARO,	2000).	
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Também importa destacarmos o fato de que a lei da educação nacional não 
definiu	o	significado	e	a	extensão	da	gestão	democrática	do	ensino	públi-
co,	assim	como	assumiu	uma	posição	minimalista	em	relação	à	afirmação	
de mecanismos e espaços institucionais de participação. 
Assim, posto que a LDBEN dada à nação em 1996 não avançou rumo 
a mudanças estruturais quanto à maneira de distribuir o poder e a autori-
dade (PARO, 2007) e que foi atribuída aos sistemas de ensino a tarefa de 
normatizar a gestão democrática, não somente a questão da qualidade 
política	de	 tal	providência	se	coloca	como	um	desafio	para	o	avanço	na	
democratização da gestão, mas também o curso de algumas medidas en-
saiadas ou empreendidas no campo legislativo com vistas ao regramento 
da matéria no pós-LDBEN.
Gestão democrática da educação no pós-LDBEN
As diferentes questões que tocam o tema da gestão democrática do 
ensino público na LDBEN não se resumem, é claro, ao fato de terem ou 
não sido equacionadas no processo que resultou na lei aprovada em 1996. 
Afinal,	sabemos	que	o	tema	é	frequentemente	atravessado	por	novas	variá-
veis,	com	as	quais	despontam	novos	desafios	à	tarefa	de	democratização	da	
gestão. Como tema central do conteúdo da reforma educacional da década 
de 1990, por exemplo, elementos como o destaque à descentralização, a 
evocação à autonomia da escola e o apelo à participação da comunidade 
(KRAWCZYK;	VIEIRA,	2008;	OLIVEIRA,	2008;	NARDI,	2015a)	passaram	a	ser	
parte	do	modelo	de	gestão	carreado	pela	reforma,	tendo	sido	ressignifica-
dos e (re)funcionalizados com base em uma concepção gerencial.
Significa	dizer,	portanto,	que,	além	do	processo	que	desaguou	na	LD-
BEN e no que ela traz sobre a gestão democrática (o que inclui lacunas), 
importa considerarmos a concorrência de iniciativas complementares des-
tinadas a assegurar que determinadas opções e práticas endereçadas à de-
mocratização da gestão do ensino público adquiram selo formal.
Embora a tarefa de normatização da gestão democrática pelos siste-
mas de ensino seja parte dessa dinâmica e, portanto, constitua peça fun-
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damental do campo normativo da matéria,13	 verifiquemos	em	 iniciativas	
situadas na arena do Legislativo federal as propostas que têm visado a mo-
dificar	e/ou	a	ampliar	as	diretrizes	e	meios	atinentes	à	gestão	democrática	
na educação básica.
Nessa direção, a busca por proposições da Câmara dos Deputados 
que versassem sobre diretrizes para a gestão democrática, espaços e me-
canismos de participação e autonomia da escola pública, levou-nos a iden-
tificar	um	conjunto	de	13	projetos	de	lei.14 Os projetos versam sobre acrés-
cimos e/ou alterações na LDBEN, com maior incidência no art. 14 e menor 
no art. 15.
Em oito projetos apresentados a partir de abril de 1997, todos arqui-
vados ao longo do tempo, as proposições versaram sobre eleição de direto-
res de escolas públicas ou escolha de dirigentes escolares (pela comunidade 
ou por meio de concurso), constituição e/ou participação em conselhos 
escolares e organização estudantil.
Os	 demais	 projetos	 identificados,	 embora	 com	 enfoques	 distintos,	
foram apensados a um único (PL 8.011/2010, do Deputado Vitor Penido 
– DEM/MG) que dispõe, à parte da LDBEN, sobre o estabelecimento de 
diretrizes para seleção e indicação de diretores das escolas públicas de 
educação básica. Segundo a proposta, tal seleção,
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