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INTRODUÇÃO Ao longo do tempo, fomos conhecendo um pouco mais sobre a estruturação do psiquismo. A psicanálise propõe uma visão ampla sobre a compreensão da mente. Dentro da sua definição, apresenta como a mente humana funciona. Freud conceituou três estruturas de personalidade, são elas: Neurose; Psicose; Perversão. Trataremos neste trabalho o entendimento da última estrutura. Popularmente, o termo é utilizado para indicar uma espécie de “desvio sexual”. A perversão estrutura-se sobre uma vontade de transgredir a ordem natural das coisas, de perturbar a norma social. O conceito Perversão passou por diversas definições ao longo da história, compreendemos que os comportamentos que eram vistos como perversos variam de acordo com o tempo e espaço em que eles eram percebidos na sociedade, tais comportamentos eram rejeitados ou supervalorizados. A Psicanálise, em 1986, adotando o termo Perversão, herdou conteúdos da sexologia, onde um sujeito era dito perverso devido a comportamentos sexuais anormais, ou seja, que desvia da norma heterossexual, atos sexuais não-incestuosos, etc. Freud no ensaio escrito sobre Perversão rejeita a perspectiva psiquiátrica da época (perverso como “tarado” ou “desgenerado”) mas, considerar perverso como desvio da norma, impediu a possibilidade da Perversão enquadrar-se em uma estrutura universal. Ao longo de algumas escritas de Alberti (2005) Freud defende a Perversão como o negativo da neurose, escrevendo sobre esse assunto nos Três Ensaios sobre a Sexualidade. A sexualidade Perversa é uma sexualidade infantil em um adulto, sem o reconhecimento de proibições, sem recalques. Freud determinou dois tipos de Perversão: perversões do objeto e perversões do alvo. Perversões do objeto, como descritas no texto “Definição de Perversão”, Perversões do objeto é entendida como ”[...]fixação em um objeto em detrimento dos demais[...]” (p.5) e as Perversões do alvo “[...] relações sexuais como objeto não humano [...]” (p.5). As Perversões do alvo se divide em três tipos: Prazer visual; Prazer de sofrer ou fazer sofrer; Prazer pela superestimação. Só por volta de 1915 que Freud propõe muitas atualizações no entendimento sobre Perversão. A partir daí, houve a compreensão de Perversão como “organização do eu”, dentro disso, Freud afirma que ela se constrói após a renegação - diferente da renegação na Psicose - à castração, fixando-se na “sexualidade infantil”. A diferenciação da Perversão como desvios sexuais começa a tomar força quando surge no DSM-III, o conceito parafilias, restringindo assim o campo das disfunções sexuais. Klein aproxima o conceito de Perversão ao de Psicose. Junto com isso, Klein afasta a ideia de “incurabilidade”. Mas só Lacan, retira o conceito Perversão dos desvios e torna-a uma estrutura. O psicanalista Stoller, publicou um livro chamado Sex and Gender, sendo a diferenciação de sexo para gênero, isso fez com que a Psicanálise utilizasse do termo Perversão. No manejo clínico da perversão, o paciente tem uma grande resistência ao buscar por uma análise, pois a prática de perversão tem o poder de assegurar o gozo, sendo sintomas experimental e muitas vezes com uma sensação triunfal e não penosa. Segundo Otto Kernberg, é preciso focalizar a atuação ou expressão das fantasias inconscientes na transferência, pois o sujeito pode tentar seduzir o analista a ser um de seus espectadores na realização de suas fantasias pervas a medida que envolve o mesmo. A prática clínica com a perversão requer uma atenção especial ao manejo de transferência e aos sentimentos produzidos na relação contratransferencial, e de que as particularidades desta clínica podem exigir muita vezes que o analista experimente, a máxima exigência ética da psicanálise, que pressupõe a neutralidade e a abstinência. Freud e a perversão Ao buscarmos na teoria Freudiana aparições do termo perversão, vemos que existem três momentos onde este tipo de personalidade será caracterizada. O primeiro, define que a perversão seria um movimento libidinal oposto ao da neurose, onde afirma-se que “a neurose é o negativo da perversão”. Este axioma pode ser encontrado nos três ensaios sobre a sexualidade, de 1905, com posteriores citações em outros artigos. Num segundo momento, Freud adiciona o complexo de Édipo como um núcleo embasador para a personalidade perversa, assim como já havia declarado que este também é base das neuroses. Por fim, ele traz num terceiro momento novas terminologias e explicações, onde fala sobre a recusa da castração e à associa ao conceito de clivagem do ego. A noção de que neurose e perversão possuem uma relação positivo/negativo é bastante apregoada nos primeiros estudos sobre a sexologia, sendo ambas consideradas consequências de um desenvolvimento “anormal” da sexualidade. Vale lembrar, que nesta época o modelo de sexualidade considerado “normal” era aquele onde o ato sexual tem a finalidade de procriação, praticado por indivíduos heterossexuais. Uma forma de pensamento claramente influenciada por questões morais e não necessariamente científicas, longe do que temos como conceitos de comportamentos sexuais atualmente. Assim como na neurose, o perverso terá uma fixação infantil num estágio pré-genital da organização da libido, tal fixação irá se tornar fonte de fantasias que irão se tornar eixo organizador da vida sexual do indivíduo. Tais fantasias coexistem tanto no neurótico quanto no perverso, a diferença é que o recalcamento que se dá como elemento fonte da neurose, não irá ocorrer no perverso e este não terá censura quanto aos apelos pulsionais que o influenciam. Assim, a pessoa perversa seria tudo aquilo que o neurótico almeja ser mas não é, devida as limitações impostas pelo superego. Se pensarmos que a maior diferença dos perversos para outras pessoas é o fato destes não terem limitações para suas fantasias, concluímos que todos temos uma certa perversão latente e que esta só não se aflora porque existem barreiras pautadas na moralidade, princípios e na boa convivência com o outro. Estes fatores vão ganhando força de influência em nossas vidas no decorrer do nosso desenvolvimento desde a infância e é justamente nesta fase que eles pouco nos influenciam, pois obviamente ainda estamos aprendendo-os. A psicanálise denomina essa fase inicial da sexualidade infantil como perverso-polimorfa, onde o bebê/criança tem múltiplas formas de buscar satisfação, em múltiplas áreas do corpo e com múltiplos objetos, sem nenhuma ou pouca limitação psíquica. A perversão é portanto, uma manutenção desta fase na vida adulta. Posteriormente Freud, considera a perversão ligada a fantasias infantis, onde encontra sua libido ligadas ao Complexo de Édipo. Pode se perceber nesse momento que a perversão, busca criar barreiras contra a psicose e a neurose. Alguns anosdepois, Freud passa a escrever sobre o dito Complexo de Édipo e desenvolve sua terceira e última definição da Perversão, e também sobre sua criação. Segundo os estudos de Freud sobre o Complexo de Édipo, a estrutura perversa nega a realidade da castração, ou seja não ocorrendo o recalque desse mecanismo defensivo, prevalecendo a existência desse mecanismo de defesa básico estruturado de experiências pré-edípicas. A continuação da recusa a castração causa no perverso confusões nos papéis e contorno sexuais, onde ocorrem continuação dos impulsos incestuosos, sem definição de limites, normas, e diferenças. Em 1927, Freud lança um artigo chamado Fetichismo, onde ele teoriza sobre a Perversão. Segundo ele, o Fetiche é uma resposta a ausência do pênis, considerando a ideia de universalização do pênis, e a recusa da castração, o inconsciente continua a acreditar na existência do pênis e a representação deste ocorre no fetiche. Freud utiliza o termo recusa tanto para a perversão como para a psicose, o que causa certa confusão entre ambos os mecanismos. Lacan então utiliza-se do termo rejeição para falar sobre o mecanismo de defesa do psicótico, relacionado à percepção. E avalia o fetiche como relacionado a crença da universalização do pênis. Freud em 1980, fala sobre a ideia de clivagem do ego em seu artigo inacabado A divisão do ego no processo de defesa, onde fala sobre o perverso negar a realidade, e constantemente nega a ideia de castração no contexto sexual. Dificilmente o perverso buscará a terapia, devido a seus sintomas serem fonte de prazer, e sua negação a realidade. REFERÊNCIAS ALBERTI, Sonia A perversão, o desejo e a pulsão Revista Mal-estar e Subjetividade, Fortaleza, 2005, p. 341 - 360 http://pepsic.bvsalud.org/pdf/malestar/v5n2/08.pdf FINK, Bruce, Introdução clínica à Psicanálise Lacaniana, 1a. ed. Rio de Janeiro, Ed. Zahar, 2018
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