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Lúpus Eritematoso Sistémico Profª Anniele Martins Definição A gravidade da doença é variável: desde formas leves e intermitentes até quadros graves e fulminantes. As taxas de morbidade e de mortalidade estão aumentadas em pacientes com LES quando comparadas com as da população geral. É uma doença inflamatória, crônica, multisistêmica. De natureza autoimune , é caracterizada por um desequilíbrio do sistema imunológico com formação aumentada de auto-anticorpos. Apresenta alterações da resposta imunológica, com presença de anticorpos dirigidos contra proteínas do próprio organismo. Sua evolução é crônica, caracterizada por períodos de atividade e de remissão (sem manifestações). Epidemiologia • A prevalência do LES é estimada em 40 a 50 casos por 100 mil habitantes. • Parece ser mais comum nas áreas urbanas do que nas rurais. • A predominância do sexo feminino, numa relação de 9 mulheres para 1 homem, indica um efeito do hormônio estrogênio. • Nas crianças, em que o efeito deste hormônio é mínimo, a relação entre os sexos feminino e masculino é de 3:1, e nos idosos, de 8:1. • O início da doenca̧ ocorre entre os 16 e 55 anos em 65% dos pacientes; antes dos 16 anos, em 20%; e depois dos 55 anos, em 15%. Os avanços terapêuticos ocorridos nas últimas décadas melhoraram significativamente a evolução da doença. Entretanto, remissão completa e permanente é rara. Etiologia Genéticos e imunológicos – associação com o HLA-DR2, DR3 e alterações imunológicas em familiares assintomáticos. Ambientais – As infecções po-dem intensificar respostas imunes indesejáveis. Uso de fármacos, exposição a luz solar (radiação UV) estimulam o aparecimento da doenças. Em um terço dos pacientes, as manifestações dermatológicas são precipitadas pela exposição solar. Hormonais: predomínio em mulheres jovens, exacerbação da doença no início e final da gravidez, incidência maior na puberdade após a menarca, níveis aumentados de prolactina. Emocionais: o estresse parece influenciar o desencadeamento da atividade da doença. Embora a causa do LES não seja conhecida, admite-se que a interação de fatores genéticos, hormonais e ambientais participe do desencadeamento desta doença. Patogênese Alteração imunológica Aumento da produção de anticorpos e formação do complexo antígeno-anticorpo. Ação dos macrófagos e várias enzimas causando lesão tecidual e deposição destes nos tecidos. Quadro Clínico • Sinais e sintomas gerais ocorrem em qualquer fase da doenca̧ em 53%-77% dos casos, caracterizados por adinamia, fadiga, perda de peso, diminuição de apetite, febre, mialgia e artralgia. • São inespecíficos e podem estar ligados à atividade da doenca̧ ou a fenômenos intercorrentes, como infecção ou fibromialgia (presente em cerca de 22% dos indivíduos com LES. • A febre merece atenção especial e deve ser cuidadosamente investigada, pois tanto pode ser resultado da atividade da doença, como de um quadro infeccioso associado, situações que merecem abordagens diagnósticas e terapêuticas completamente diferentes. Manifestações músculo-esqueléticas • A maioria dos pacientes com LES tem poliartrite intermitente, com sintomas que podem ser discretos ou incapacitantes. • Predominam nas pequenas articulações das mãos, punhos e joelhos. Deformidades articulares desenvolvem-se em apenas 10% dos indivíduos e são mais comuns nas mãos: dedos em pescoço de cisne e o desvio ulnar dos dedos. A artropatia de Jaccoud é uma condição caracterizada por frouxidão das estruturas periarticulares que afeta todas as articulações, especialmente as das mãos. Desvio ulnar dos dedos, subluxação das metacarpofalangianas é usualmente o primeiro sinal, seguindo- se dedos em pescoço de cisne, em botoeira e polegar em “Z”. Manifestações músculo-esqueléticas • Nos pés podem ocorrer hálux valgo, dedos em martelo e subluxação das metatarsofalangianas. • Deformidades semelhantes podem ser encontradas na artrite reumatoide, entretanto erosões ósseas não são observadas no lúpus. • A persistência de dor, edema e calor em apenas uma articulação, principalmente no joelho, no ombro ou no quadril, levanta a suspeita de osteonecrose ou artrite séptica. A prevalência de osteonecrose é aumentada em doentes com lúpus (10%) principalmente naqueles que usam corticoides. O quadril (cabeça do fêmur) é a articulação mais frequentemente envolvida. Manifestações cutâneas • O comprometimento cutâneo no LES é bastante comum, ocorrendo em 70%-80% dos pacientes durante a evolução da doença e constituindo a manifestação inicial em cerca de 20% dos casos. • As lesões são polimorfas e podem ser específicas ou inespecíficas. Constituem 3 dos 11 critérios estabelecidos para a classificação do LES: lesões discoides, eritema ou rash malar e fotossensibilidade. • A fotossensibilidade está presente em cerca de 50% dos pacientes, pode ser precipitada pelos raios ultravioleta e acontece, geralmente, após exposição exagerada à luz solar ou até mesmo à lâmpada fluorescente. • Além da reação cutânea, alguns pacientes desenvolvem exacerbação das manifestações sistêmicas ao se exporem aos raios ultravioleta. Manifestações cutâneas • Deve-se estar atento ao diagnóstico diferencial de lesões cutâneas de fotosensibilidade causadas por substâncias químicas. • A expressão lúpus eritematoso cutâneo é aplicada a pacientes com lesões cutâneas produzidas pelo lúpus eritematoso (LE), independente de o comprometimento ser exclusivamente cutâneo ou uma manifestação da doença sistêmica. • As lesões foram classificadas em 3 formas: LE cutâneo crônico, LE cutâneo subagudo e LE cutâneo agudo. Manifestações cutâneas • A erupção malar chamada eritema ou rash malar, eritema ou rash em asa de borboleta ou em vespertílio apresenta-se como eritema na região malar e no dorso do nariz, dando o aspecto de “asa de borboleta”, transitório ou mais persistente. Pode ser precipitada pelo sol, e o edema local é frequente. • Geralmente, poupa o sulco nasolabial e seu aparecimento acompanha os períodos de atividade da doença. Pode ainda apresentar- se como erupção maculopapular discreta e descamativa, e cura sem deixar cicatriz. Manifestações cutâneas • Paniculite lúpica, lesões bolhosas, vasculite e alopecia são consideradas lesões inespecíficas. • Outros tipos de lesões agudas são as máculas, pápulas ou placas eritematosas, algumas vezes com tonalidade violácea, que podem apresentar leve descamação. As lesões não são pruriginosas e primariamente ocorrem em áreas expostas ao sol, como face, tórax, ombros, face extensora dos braços e dorso das mãos, regredindo sem atrofia. Subagudo • A erupção é frequentemente fotossensível, ou seja, desencadeada ou exacerbada pela exposição solar, podendo também ser induzida por pesticidas e inseticidas, por metais pesados e por outros elementos, como tabaco, alimentos, medicamentos (hidroclorotiazida, anti-histamínicos, bloqueadores de canal de cálcio, naproxeno, contraceptivos orais, estrógenos) e infecções. • Inicialmente, apresenta-se como uma pápula ou pequena placa eritematosa levemente descamativa. Na variante papuloescamosa, as lesões progridem e confluem formando placas psoriasiformes em arranjo muitas vezes reticulado; na variante anular ocorre progressão periférica das lesões, com eritema e fina descamação na borda. Ocasionalmente surgem hipopigmentação e telangiectasias no centro das lesões anulares. Crônico • Caracterizado por lesões maculosas ou papulosas, eritematosas, bem definidas, com escamas firmes e aderentes à superfíciedas lesões. Podem ocorrer na ausência de manifestações sistêmicas. Comumente, em sua evolução, essas lesões tornam-se mais infiltradas e confluentes, formando placas recobertas por escamas espessas e ceratose, que se estende para o interior do folículo piloso dilatado. Os locais mais acometidos são: o couro cabeludo, o pavilhão auricular, a região torácica anterior e a porção superior dos braços. Na face, as sobrancelhas, as pálpebras, o nariz e as regiões mentoniana e malar estão frequentemente envolvidas. • Ocasionalmente encontra-se uma placa disposta sob a forma de “asa de borboleta”, simetricamente localizada na região malar e no dorso nasal. As lesões cutan̂eas são crônicas, persistentes e podem regredir deixando áreas cicatriciais discrômicas, além de telangiectasias e alopecia cicatricial . Outras manifestações • Cardiovasculares – pericardite, miocardite e derrame pericárdio. • Pulmonares – pleurites no início ou durante a evolução da doença. Pode ocorrer hipertensão pulmonar, derrame pelural, fibrose, hemorragia e pneumonia aguda. • Renais- Proteinúria leve e insuficiência renal. • Trato gastrointestinal – disfagia, dor abdominal, náuseas e vômitos, úlceras orais. • Aparelho reprodutor - exacerbação do quadro durante a menstruação, ciclos irregulares e hipermenorréia. • Sistema nervoso – disfunção cognitiva, cefaleia, convulsão, meningite asséptica, AVE, coréia, neuropatia periférica. • Ocular – conjuntivite, vasculite retiniana, sensação de irritação e queimação nos olhos. Relato de Caso • Paciente do gênero feminino, com 51 anos de idade, casada, natural do Rio de Janeiro-RJ, compareceu na Clínica com encaminhamento para tratamento fisioterapêutico, tendo como diagnóstico lúpus eritematoso sistêmico associado com hipertensão arterial e cardiomegalia, queixando-se de dor no quadril, nos joelhos e nos tornozelos, sendo de maior intensi-dade no dimidio direito. • Sinais vitais: PA de 150x100 mmHg; FC de 90 bpm; FR de 16 rpm, com temperatura corporal aumentada (37°C) e IMC de 32,4, classificado como obesidade grau I, fazendo uso de Reuquinol 400 mg e Losartana potássica 50 mg. • Exame físico: Paciente com expansibilidade torácica normal e com padrão respiratório misto, tendo apresentado na ausculta murmúrio vesicular em ambos os hemitórax, sem ruídos adventícios. Na inspeção estática, ausência de (Figura 1), pele ressecada e presença de alterações vasculares (Figura 2), pilificação diminuída, cifose torácica, hiperlordose lombar, escápulas abduzidas, ombros em rotação interna, pés planos e em pronação. À palpação, referiu dor na face medial dos tornozelos (com maior intensidade no tornozelo direito), presença de edema nos joelhos (Figura 3) e nos tornozelos, com o sinal de cacifo positivo (Figura 4). Foi constatada diminuição na amplitude de movimento dos membros inferiores, na força muscular dos membros superiores e inferiores, além de alterações na marcha e no equilíbrio corporal. Em grupo, trace os objetivos e o tratamento fisioterapêutico. Ao final, algumas pessoas serão sorteadas para apresentar.
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