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Contratos em espécie (prof Luis Renato)

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UFRGS – Faculdade de Direito
Direito Civil V – Contratos em espécie
Prof Luis Renato
[coloque o email do prof aqui]
Provas:
A1: 4 OUT 18
A2: 29 NOV 18
Rec: 13 DEZ 18
Os contratos típicos existem por conta das suas características serem repetidas reiteradamente. Como aquelas relações contratuais são sempre repetidas sempre que existir um negócio jurídico daquela natureza, o legislador já consegue se atrever a prever e regular a forma como elas acontecem/devem acontecer, evitando variações abusivas e mantendo, por consequência, uma segurança jurídica para os praticantes daquela modalidade de contrato.
Um contrato representa uma operação econômica. Quando essa transação se repete de maneira corriqueira, ela poderá ser tipificada. A estrutura típica de um contrato pode ser formada legal ou socialmente. No primeiro caso, é o legislador que irá definir, em lei, a estrutura dessa relação contratual. No segundo, por outro lado, existe apenas uma convenção social, sem previsão legal que regule a estrutura do contrato – a regra que rege a relação contratual é social.
A função dos contratos típicos é padronizar comportamentos econômicos e consequências jurídicas que são tão frequentes que o legislador se atreve a estruturar o seu esqueleto básico. A finalidade da tipificação dos contratos é a facilitação da sua execução.
Como a regra da tipicidade não é a regra principal, pois quem rege os contratos primariamente é a liberdade, a imensa maioria das normas que serão estudadas na cadeira de contratos em espécie serão regras dispositivas. Pode-se observar que, geralmente, elas iniciarão com “salvo disposição em contrário...”. Se as partes não acordarem nada diferente ou se não houver uma legislação específica que defina aquele assunto de maneira divergente, se recorre a essas normas do código civil.
Ainda existirão casos em que o código civil será invocado para solucionar problemas que surjam e que demandem uma maior intervenção para a solução de conflitos em decorrência da assimetria das partes. Se alguma das partes tiver em desvantagem em à outra por conta das características da relação contratual, essa parte com hipossuficiência terá maior assistência do direito.
A tipificação dos contratos não ocorre apenas no código civil, mas também em leis esparsas que tratam de assuntos específicos.
Os contratos são fonte de obrigações. Além das obrigações principais, haverão outras acessórias. A obrigação principal será sempre o núcleo do contrato e as acessórias serão aquelas que visam facilitar e/ou garantir a execução da obrigação nuclear. A classificação dos contratos típicos é feita a partir da obrigação principal (ou nuclear).
Obrigações de dar (compra e venda, permuta, estimatório, constituição de renda e doação)
A obrigação de dar nos contratos tem a finalidade de transferir propriedade. As partes desejam receber algo da outra e a finalidade maior dessa entrega é a transferência de propriedade. A essência fundamental dos contratos envolvidos nesse tipo de obrigação é justamente a transferência de patrimônios entre as partes.
Aqui, pressupõe-se que uma das partes é proprietária do bem almejado pela outra e tem os poderes sobre aquele bem (uso, gozo ou fruição e disposição) e está utilizando o poder de disposição.
A princípio considera-se que não há aumento de patrimônio, apenas a troca do tipo. Antes a parte tinha 100 mil em dinheiro e agora tem uma casa que vale 100 mil.
Obrigações de restituir (locação, comodato, mútuo e depósito)
É uma subespécie das obrigações de dar, na medida em que se refere a “dar de volta”. Diferentemente das obrigações de dar, uma das partes entrega o bem para a outra com a transferência apenas da posse, sem a transferência da propriedade. O núcleo da obrigação não é o “dar”, mas sim o “restituir” – o “dar” é apenas provisório. O poder usado é o de fruição do bem. E, ao término do contrato, ele estará utilizando um quarto poder, o de reivindicar a posse do bem. Ao poder de reivindicar a posse/propriedade de um bem corresponde o dever de restituir da outra parte.
Esse contrato faz com alguém esteja com a posse de um bem alheio, gerando uma obrigação acessória de zelo, cuidado, guarda, conservação, etc. – não basta restituir, deve restituir tal qual recebeu.
Obrigações de fazer (prestação de serviços, mandato, cominato, corretagem, agência, transporte e empreitada)
Existem outras obrigações acessórias, mas o objetivo principal é que haja uma atuação da outra parte. Na maioria dos casos, há uma obrigação de entrega conexa com a obrigação principal, mas ainda existem diversos casos em que existe apenas a obrigação de fazer.
Obrigação mista (distribuição)
Existem mais de uma obrigação principal (é dúplice, tanto de dar quanto de fazer). Uma das partes se obriga a dar e a outra se obriga a fazer (obrigações de natureza diversa com correlação de importância entre elas).
Devemos tomar cuidado com algumas situações em que, por conta do populacho, se confunde uma obrigação de dar com uma de fazer. Por exemplo, comumente falamos que iremos “fazer um pagamento”, porém isso significa “dar o dinheiro”.
Obrigações de garantir (fiança e seguro)
Invariavelmente é o que assegura uma outra obrigação de fazer ou de dar. Será sempre um contrato secundário, vinculado a um principal (nunca será um contrato autônomo).
A obrigação principal é garantir o adimplemento, mesmo que o devedor não o faça.
Obrigação de acertamento (transação e compromisso)
Não são contratos que refletem transações econômicas, mas contratos que visam solucionar problemas de operações econômicas.
Por exemplo, quando haja um litígio e as partes optam pela arbitragem.
Obrigação natural (jogo ou aposta)
Reconhece-se a existência do contrato, mas diferentemente dos outros que geram obrigações, estes geram obrigações naturais. Essas obrigações não são ilegais, mas são inexigíveis. Elas não podem ser cobradas judicialmente, apesar de serem reconhecidas. Por isso, são chamadas de obrigações naturais.
COMRPA E VENDA (Art. 481 e seguintes – CC/02)
O art. 481 define o contrato de compra e venda como sendo o instrumento pelo qual um dos contratantes se obriga a transferir o domínio/propriedade de um bem, ao passo que o outro se obriga a pagar um determinado preço ajustado.
A compra e venda no sistema brasileiro gera a obrigação de transferir a propriedade, mas não a transferência em si. A transferência da propriedade dependerá de um ato posterior (logo, podemos concluir que o ato de transferir a propriedade por conta de um contrato de compra e venda é uma forma de adimplemento de obrigações contratuais).
Há uma separação entre o título aquisitivo (contrato) e o modo de aquisição.
A transferência da propriedade se dá de duas formas:
Pela tradição (entrega) no caso de bens móveis;
Pelo averbamento no registro do imóvel no caso de bens imóveis.
Embora haja essa separação, ela não é absoluta. Para que a aquisição da propriedade seja boa, o contrato deve ser bom. Caso haja defeito no contrato, isso contaminará a aquisição da propriedade, que também será defeituosa.
Além disso, se a transferência da propriedade fosse simultânea com o contrato, seria impossível a venda de coisas que ainda não existem (por exemplo, apartamentos na planta, safra futura, etc.).
Para que se possa identificar uma compra e venda, é necessário verificar a existência dos elementos essenciais desse tipo de transação (o que caracteriza o contrato é a transação econômica que ele representa):
Consentimento
Assim, como todo negócio jurídico, deve haver a convergência de interesses das partes. Consentimento, genericamente falando, é um mútuo acordo. O que caracteriza o consentimento na compra e venda é o fato de ele se referir sobre a transferência da propriedade e sobre o recebimento do valor correspondente.
Se uma das partes estiver equivocada quanto à finalidade do contrato, haverá um defeito neste negócio jurídico. Da mesma forma, se houver coação para o consentimento, haverá um defeito de validade.
Assim,as partes devem, claramente, ter consciência da finalidade daquele negócio jurídico.
Objeto
O objeto de uma das partes será sempre uma COISA (aquela que deverá transferia a propriedade). Coisa tem que, necessariamente, ser tangível, que possa ser transferida de forma real, física.
Existem bens intangíveis (são bens e não coisas) que não podem ser entregues fisicamente para o “comprador”. Nesses casos, não haverá compra e venda, mas cessão de direitos. Na prática, utiliza-se o termo “compra e venda” para definir essas transações porque 90% das normas são iguais às da compra e venda, mas é bom entender que, tecnicamente isto é equivocado. Entretanto, na cessão de direitos, como se trata de bens intangíveis, eles serão sempre bens móveis e receberão tratamento adequado a essa modalidade (sem necessidade de consentimento do cônjuge, por exemplo).
Por outro lado, a outra parte deverá entregar dinheiro para a obtenção da propriedade. Se o adquirente entregar uma outra coisa ao alienante, esse contrato será de permuta e não de compra e venda.
COMPRA E VENDA SEMPRE SERÁ COISA POR DINHEIRO.
Exatamente por conta da separação entre o título aquisitivo e o modo de aquisição é que além de ser lícita, possível e determinada (ou determinável), a coisa (o objeto da compra e venda) a ser alienada pode ser futura ou até mesmo alheia. Essas regras estão previstas nos art. 483 e 1.268
A venda por quem não seja o proprietário se denomina “venda non domino”.
Quanto ao objeto “preço”, ele poderá ser determinado ou indeterminado inicialmente. Quando ele for indeterminado, deve-se estabelecer um parâmetro pelo qual o preço será definido posteriormente:
Essa determinação pode ser feita por terceiro (exemplo: dois homens contratam a venda de uma obra de arte por valor indeterminado, que será dado posteriormente por um especialista);
Outra forma de estabelecer esse preço é a utilização de uma cotação oficial (exemplo: vende-se sacas de soja pelo preço dado pela bolsa de valores em um dia futuro);
Pode-se ainda utilizar a fixação de um índice (exemplo: venda de um apartamento por tantos CUB – custo unitário básico – que será ajustado futuramente no dia da transação);
Quando haja ausência de preço, utiliza-se o preço médio de mercado ou o preço que o sujeito vende habitualmente (essa regra é mais aplicável às transações comerciais, pois há habitualidade do empresário).
O preço, então, poderá ser determinado futuramente, mas nunca poderá ser deixado à arbitrariedade de apenas um dos contratantes.
Todas essas regras estão previstas nos art. 485 a 489 – CC/02.
Forma
A forma, em qualquer negócio jurídico, deve ser a externalização do consentimento (por qualquer modo). As partes devem externar de alguma forma o interesse em realizar aquele negócio jurídico.
A regra geral é a de liberdade de forma (art. 108 – CC/02). Entretanto, em alguns casos, a forma é ad substantia, ou seja, uma forma essencial prevista em lei (elementar) para que o negócio exista. Por exemplo, a compra e venda de um bem imóvel deve obedecer a uma forma prevista para que possa ter sua existência reconhecida.
A exceção, então, ocorre na compra e venda de imóveis, que deve ser feita por escritura pública.
A exceção da exceção fica por conta dos imóveis que custem menos de 30 salários mínimos, que ficam dispensados dessa formalidade das escrituras públicas.
Uma outra hipótese aparece na lei 9.514/97, que sistematizou que entidades têm autorização para financiar imóveis. Os contratos de compra e venda de imóveis que envolverem qualquer uma dessas entidades também não dependerá de escritura pública, uma vez que o próprio contrato já faz as vezes dela.
Nossa próxima tarefa é determinar quais são os requisitos de validade do contrato de compra e venda.
No plano da existência tratamos dos substantivos (o contrato que existe), mas precisamos ir mais além para estudarmos a estrutura do contrato de compra e venda. Precisamos adentrar o plano da validade (que trata dos adjetivos – qualidades que o contrato apresenta para sabermos se é bom ou viciado, ou seja, os requisitos de legitimação)
Sujeitos
Ascendente-descendente
A primeira regra de legitimação (que atesta a validade do contrato de compra e venda) é a chamada compra e vende de ascendente para descendente (ou de pai para filho). Nessa modalidade, o código civil tenta proteger a herança dos mais descendentes. Para evitar que haja um beneficiamento de um dos futuros herdeiros em detrimento dos demais, para que haja a venda de um bem do ascendente para o descendente, é exigível que haja o consentimento dos demais herdeiros e também do cônjuge. Caso esse consentimento não seja dado, essa transação será anulável (deve ser suscitada). A única exceção à essa regra ocorre nos casos em que o regime de separação de bens do casal é de “separação obrigatória” (ou seja, aquela que a lei determina que seja estabelecido dessa forma, não é da vontade do sujeito). Essa vedação está prevista no art. 496 – CC/02.
O prazo para que os interessados suscitem a invalidade dessa transação é de dois anos.
Condôminos
A próxima situação ocorre entre condôminos. Quando o bem for indivisível, é necessário que haja uma ação judicial a fim de obrigar os demais condôminos a vender o bem na sua totalidade, mas isso somente poderá ser feito após cinco anos, pois nesse período o condomínio é obrigatório, a fim de evitar o ingresso de um estranho no condomínio. Quando se tratar de bens divisíveis, o condômino poderá vender a sua parte, mas deverá dar preferência para os demais condôminos. Para não burlar a preferência, deve-se oferecer aos demais condôminos pelas mesmas condições que se ofereceria a um terceiro (“tanto por tanto”). O pressuposto lógico para isso é que já exista uma oferta ou até mesmo uma proposta feita por terceiros, senão não haverá um parâmetro para definir um parâmetro inicial. A oferta aos demais condôminos, então, deverá ser detalhada a fim de conscientizá-los suficientemente das condições propostas.
O prazo para a resposta desses condôminos não é previsto em lei, mas analogamente se aplica a regra da lei do inquilinato, ou seja, 30 dias. Caso nenhum desses condôminos manifestar interesse dentro desse prazo, pode-se vender o bem sem risco de invalidade.
E quando todos estiverem interesse, como se define quem, dentre eles terá a preferência? Quem terá a preferência entre os que têm preferência?
Quem tenha feito mais benfeitorias ao bem;
Quem tenha o maior quinhão;
Cada um compra proporcionalmente
Caso essa preferência não seja respeitada ou tenha sido burlada e algum condômino tenha interesse, ele deverá entrar com ação adjudicatória. Nessa ação, o condômino interessado irá depositar judicialmente o valor da compra do bem e aquela transação de compra e venda será ineficaz perante ele – isso serve de garantia para o condômino interessado.
Entretanto, também serve de garantia para o vendedor. Como ele comprou o bem, o alienante tem o dever de entrega-lo, mas como isso será impossível, ele poderá pedir o desfazimento do negócio e a restituição do valor das perdas e danos negativos (o que perdeu) e positivos (o que deixou de ganhar) – isso ocorre porque o negócio existe e é válido, mas não é eficaz. Caso o negócio tivesse um problema de validade, só haveria o pagamento das perdas e danos negativos.
O prazo para o protocolo da ação adjudicatória é de 180 dias após o registro da venda do bem – prazo decadencial (art. 504 – CC/02).
Cônjuges (art. 499 – CC/02)
A compra e venda entre cônjuges poderá ocorrer desde que o bem esteja fora desse regime de comunhão. Isso é válido para qualquer um dos regimes de bens.
Um exemplo disso são os bens recebidos por doação ou por testamento em que haja uma cláusula expressa indicando que aquele bem não comunicará ao cônjuge do favorecido.
Vedações (art. 497 – CC/02)
Algumas pessoas não podem realizar compra e venda de determinados bens. Isso visa principalmente proteger o patrimônio de pessoas que tenham seus bens geridos por terceiros.Por exemplo, um tutor não pode comprar os bens do tutelado.
Efeitos
Todo contrato é fonte de obrigações, logo, seus efeitos dizem respeito a formação de obrigações para as partes contratantes.
As obrigações se dividem em primárias e secundárias. As obrigações primárias são aquelas essenciais para a formação do negócio, aquilo que animou as partes para aquela transação, enquanto as obrigações secundárias são acessórias e, algumas vezes até indesejadas, mas são conexas. Em alguns outros casos, as obrigações secundárias podem até mesmo ser acordadas entre as partes de modo a garantir a melhor execução das normas contratuais.
Algumas obrigações secundárias são decorrentes da lei e outras tantas da vontade das partes.
As obrigações secundárias podem ser preparatórias. Elas não são desejadas, mas sem elas é impossível a realização do contrato. Por exemplo, a transferência do bem acarreta recolhimento de taxas e impostos.
Via de regra, cabe ao interessado os ônus advindos da obrigação. No exemplo dado acima, se o comprador deseja que a transferência da propriedade seja feita, é ele quem deve recolher as taxas e impostos.
Obrigações primárias:
Na compra e venda, as obrigações primárias são justamente aquelas relacionadas com o objeto, ou seja, transferir a propriedade e pagar o preço.
Obrigações secundárias:
Preparatórias:
Custos da propriedade
Vícios redibitórios (defeito oculto que afeta a qualidade ou a quantidade do bem)
Evicção (garantia que o agente que faz um contrato oneroso que transfira a posse/propriedade dá à outra parte de que ela vai receber o bem e não correrá o risco de perde-la por conta de vícios).
Outras obrigações que sejam acordadas entre as partes.
Modalidades
Ad corpus/ ad mensuram
Originalmente seriam aplicadas para imóveis rurais, mas foram estendidas para os imóveis urbanos.
Essa modalidade só se refere à compra e venda de imóveis.
Nem sempre a área do imóvel corresponderá àquela registrada na sua matrícula e isso faz com que se compre um imóvel com x metros quadrados e na verdade ele tem x-1.
Se ficar identificado que o ânimo do adquirente era o imóvel comprado independente da área, mesmo que essa informação esteja equivocada ela será irrelevante (ele deseja o corpo do imóvel em si – ad corpus).
Por outro lado, há casos em que o adquirente compra o imóvel justamente por causa das suas medidas (ele deseja a área do imóvel – ad mensuram). Nesses casos, qualquer alteração de medida será relevante.
Jurisprudencialmente, se não é possível identificar a motivação do adquirente, quando a diferença da área declarada e a real seja menor do que 5%, há uma presunção de que a transação foi ad corpus. A contrario sensu, quando a diferença for maior do que esses 5%, há uma presunção de que a transação foi ad mensuram.
Nesses casos, deve-se completar a área que faltar (complemento in natura). Caso isso não seja possível – principalmente nos imóveis urbanos – indeniza-se a diferença ou desfaz-se o negócio.
Essas regras estão previstas no art. 500 – CC/02.
Amostra
No caso de compra e venda por amostra, o bem entregue (que não será vistoriado) deve ter exatamente as mesmas características do bem amostrado. Aumenta-se a possibilidade dos vícios redibitórios, mesmo por vícios aparentes. Se os bens não tiverem as mesmas características da amostra, mesmo que o defeito seja aparente, pode-se devolver ao vendedor.
Regra prevista no art. 484 – CC/02.
Coletiva
Os bens coletivos se caracterizam não só por ser composto por mais de uma parte, mas por terem uma utilidade ou função maior na sua totalidade.
Nos casos defeito da individualidade, a garantia é reduzida. O defeito de uma parte não permite o desfazimento do negócio inteiro, pois a coletividade pode suprir essa falta.
Obviamente não se perde o direito à restituição, indenização, etc.
Regra do art. 503 – CC/02.
Peculiaridades
Exceção do contrato não cumprido – regra geral do art. 476 e reiterado no art. 491 – não tem nenhuma diferença da regra geral, mas o código reitera a sua aplicação;
Exceção de inseguridade – Se o bem é adquirido para ser pago em prestações, o alienante não pode deixar de entregar o bem por conta da falta do pagamento integral (regra da exceção do contrato não cumprido). Entretanto, se – após o contrato – o alienante verificar situações que possam comprometer o adimplemento do contrato, ele poderá pedir meios de garantia. Essa regra é colocada de maneira genérica no art. 477, mas depois é descrito com peculiaridades para a compra e venda no art. 495 (somente poderá ser alegada essa exceção nos casos de insolvência).
Teoria dos riscos
Cláusulas especiais (pactos adjetos) – art. 505 e seguintes do CCB
Esse grupo de cláusulas têm a finalidade de, em alguma medida, alterarem a função típica da compra e venda. Com a inclusão de alguma dessas cláusulas altera-se a finalidade principal do contrato de compra e venda.
Retrovenda
Quando inserimos esta cláusula, criamos uma condição resolutiva (um evento futuro e incerto que dá fim a um negócio jurídico) que obriga o comprador a vender de volta ao proprietário originário no caso de sua ocorrência.
Essa cláusula nasceu no direito romano, pois naquela época não existia a hipoteca (que incide sobre bens imóveis), mas apenas o penhor (que incide sobre bens móveis). Era uma forma de negócio jurídico indireto, ou seja, utiliza-se um negócio para garantir o pagamento de outro.
Atualmente, por conta das diversas formas de garantir pagamentos, essa forma de aplicação foi caindo em desuso. A retrovenda, hoje, só é utilizada para a sua finalidade óbvia, ou seja, a venda com o interesse futuro de recomprar o bem.
Na prática, não é um instrumento muito utilizado, pois – como dito anteriormente – não atende mais à sua finalidade inicial.
Existem quatro condições para a sua utilização:
Só pode ser aplicada às compra e vendas de bens imóveis;
O preço da retrovenda deve ser exatamente o mesmo da venda (com correções monetárias) somado ao valor das benfeitorias necessárias (as benfeitorias úteis só integrarão o preço quando o “re”comprador concordar com elas) – o preço é preestabelecido;
O prazo máximo para a recompra é de três anos. As partes podem estabelecer prazos menores, mas nunca maiores. Isso gera para o primitivo vendedor um direito de exigir a compra e, caso a outra parte se recuse a vender, ele poderá abrir uma ação consignatória, com pagamento em juízo e a sentença substituindo a escritura de compra e venda do imóvel;
Este direito de recompra pode ser vendido para terceiros. Além disso, ele é oponível erga omnes. Mesmo que o comprador primitivo venha a vender o bem antes do fim do prazo para recompra, o novo comprador estará sujeito aos efeitos dessa cláusula (direito de sequela).
Compra e venda a contento ou sujeita à prova
É muito utilizada nas compra e vendas mercantis. A cláusula é colocada a fim de criar uma condição suspensiva. O futuro comprador somente efetivará a compra caso, passado o período de testes, a qualidade alegada pelo vendedor se comprove.
Na venda a contento, gostar ou não do produto é uma questão subjetiva, enquanto na venda sujeita à prova o atingimento ou não dos elementos combinados inicialmente é objetivo (se sobrevier a prova e ficar comprovado o atingimento daqueles elementos, a compra será efetivada, mesmo que o comprador tenha desistido).
As responsabilidades do comprador, enquanto não transcorrer o período de testes, são as de um comodatário.
Preferência ou preempção
É a cláusula que ocorre com maior frequência. Ela cria, para o comprador primitivo, a obrigação de dar preferência da revenda para o vendedor primitivo.
Difere da retrovenda, pois aqui a revenda depende meramente da vontade do comprador primitivo e não de uma condição resolutiva.
Os únicos casos em que a preferência é a regra são os dos condôminos e dos locatários. Para todos os demais casos, para que haja a obrigatoriedade de preferência, deve haver a inserção dessa cláusula no contrato de compra e venda.
Existemalgumas exigências para esta regra:
Para exercer a preferência, deve-se cobrir o valor que foi ofertado pelo terceiro que desejar comprar o bem, ou seja, deve haver uma proposta inicial para que haja um parâmetro de igualdade (regra geral para a aplicação da preferência);
Essa cláusula, diferentemente da retrovenda, serve tanto para bens móveis quanto para bens imóveis (é muito comum que ela seja usada para a compra e venda de ações);
O prazo máximo determinado pela lei é “aquele para que se possa exercer o direito de preferência”. Essa expressão não é muito clara, por isso há algumas correntes que tentam explica-la. Uma dessas correntes entende que é o prazo que o sujeito teria para protocolar uma ação judicial (180 dias para bens móveis ou 2 anos para bens imóveis). Entretanto, na prática, o que ocorre é que “quando for vender, deve-se dar a preferência”.
Há um segundo prazo – para a manifestação da aceitação de preferência. A lei estabelece que os prazos serão definidos pelas partes, mas no silêncio do contrato, o prazo será de 3 dias para bens imóveis e 60 dias para bens imóveis. Na prática, é muito usual a determinação de prazos contratualmente;
Essa cláusula gera, diferentemente da retrovenda, um direito pessoal e personalíssimo, ou seja, não é oponível erga omnes e somente poderá exercido entre as partes que contrataram originariamente (no caso de não ter sido dada a preferência, cabe apenas ação de indenização por perdas e danos) – não há direito de sequela. Esse é mais um fator que comprova a necessidade de dar preferência independente do prazo de 180 dias/2 anos.
Venda com reserva de domínio
Ocorre muito nas vendas de varejo. A cláusula determina que a entrega (tradição) não transfere a propriedade. A transferência da propriedade fica condicionada à quitação do bem comprado a termo, ou seja, caso o comprador não pague as parcelas corretamente, o vendedor poderá reaver o bem.
Existem algumas condições para sua incidência:
É aplicável apenas para bens móveis (pois a transferência dos bens imóveis não se dá com a tradição de qualquer forma);
Esse bem móvel deve ser infungível (não pode ser substituído por outro). Alguns bens são infungíveis por natureza, mas outros são juridicamente infungíveis. Podemos criar esse artifício citando uma característica que o torne único, por exemplo, o número de série.
Para que a compra e venda com reserva de domínio possa surtir efeitos (inclusive com oposição erga omnes), o contrato deverá estar registrado em cartório, a fim de tornar pública aquela vinculação.
Caso o comprador não pague, o vendedor poderá abrir uma ação de cobrança para exigir o pagamento ou desfazer o contrato e abrir uma ação de busca e apreensão.
Se ele decidir pela busca e apreensão, o comprador devedor deverá ser interpelado. Embora a mora seja ex re, para desfazer o contrato, o devedor deve ser interpelado, constituindo mora para esse fim específico, ou seja, tornando a mora em ex persona.
Venda sobre documentos
Só se aplica às vendas mercantis e atende a uma peculiaridade delas. Essas vendas geralmente possuem um tempo muito grande entre a entrega do bem e o pagamento (pois depende de transporte, preparo, etc.) e o vendedor necessita do dinheiro para poder fazer capital de giro.
O vendedor documenta a venda e apresenta essa documentação a uma instituição bancária, que adianta o pagamento. Com isso, a instituição financeira passa a ter o direito de receber o pagamento do comprador.
Não é meramente uma cessão de crédito porque não é um fato superveniente, mas uma cláusula estabelecida inicialmente no contrato.
Nessa modalidade contratual, o comprador não pode reclamar da qualidade do produto ao vendedor primitivo e desfazer a compra, pois o direito de recebimento já não é mais dele, mas da instituição financeira.
PERMUTA (art. 533 do CCB)
Se diferencia da compra e venda pelo fato de ser uma troca de um bem por outro. Primeiro que não precisa ser dinheiro e segundo que não precisa ser coisa. Podemos trocar bens por coisas, coisas por coisas ou bens por bens.
Historicamente, a compra e venda copiava a permuta, mas no código civil, a lógica se inverte, pois as regras da compra e venda são aplicadas às permutas, com algumas exceções.
Quanto às obrigações secundárias, ambas as partes devem dividir as custas de transferência de propriedade, pois ambos têm interesse em entregar um bem/coisa.
Outra regra que se altera é a que se refere às transferências entre ascendentes e descendentes. Na permuta, somente é necessário o consentimento do cônjuge e dos demais futuros herdeiros quando houver desproporção entre os bens/coisas permutadas.
ESTIMATÓRIO (art. 534 e seguintes do CCB)
É um contrato com intermediação, mas no fim das contas é uma forma diferente de se realizar uma compra e venda. Antigamente, chamava-se de “venda por consignação”.
Esse contrato servia para algumas hipóteses em que o comprador desejasse ficar com o bem disponível para ser vendido sem que tivesse a obrigação de comprar do fornecedor a totalidade deles, mas apenas aqueles que fossem repassados de fato. Aqueles que não forem repassados poderiam ser devolvidos.
Há um espaço entre uma compra e venda e outra.
As partes desse contrato são chamadas de consignante e consignatário (apesar de não ser mais um contrato de “consignação”).
Para que haja a consignação, há o pressuposto de que o consignante entregue o objeto ao consignatário. Isso faz com que ele seja classificado como um contrato real.
O contrato estimatório pressupõe o trânsito dos bens, ou seja, só se aplica a bens móveis.
A primeira obrigação do CONSIGNANTE é estimar o preço que ele deseja receber. A sua segunda obrigação é a de ceder a disposição do bem (é uma parcela do poder de propriedade, ou seja, o poder de dispor). É tão forte isso que o consignante não pode vender o bem enquanto o contrato estiver em validade (se ele quiser vender o objeto, deverá usar o consignatário como intermediário).
O CONSIGNATÁRIO, por outro lado, terá obrigações alternativas, ou seja, aquelas que podem ser adimplidas de mais de uma forma (o devedor pode escolher, dentre as formas estipuladas, como irá adimplir suas obrigações). O consignatário pode vender, comprar ou devolver o objeto.
Durante o período em que o objeto estiver em seu poder, é o consignatário que sofrerá os riscos por ele, mesmo que o proprietário ainda seja o consignante.
Além disso, embora o consignatário tenha a disposição do objeto, ele não é proprietário e por isso eles não podem ser objeto de sequestro, penhora, arrecadação em processos falimentares, etc.
DOAÇÃO (art. 538 e seguintes do CCB)
Faz-se a transferência da propriedade de forma gratuita. As regras dos contratos de doação são subsidiárias para todos os contratos gratuitos, assim como as regras da compra e venda são subsidiárias para os contratos onerosos.
A doação é um contrato!!! Sendo um contrato, é necessário que exista um mútuo acordo, um consentimento. Pode parecer que não é um contrato por não haver obrigações por parte do donatário, mas é sim necessário que ele demonstre a sua vontade em aceitar a doação.
Trata-se de um contrato unilateral, pois há obrigações apenas para uma das partes, o doador. A doação se diferencia do testamento justamente pela existência da convergência de vontades, não presente neste último negócio jurídico.
Consentimento
De um lado do consentimento temos a liberalidade, ou seja, a forma específica do consentimento do doador. É um ato praticado sem que haja uma causa. Na liberalidade, cria-se uma obrigação sem que haja uma causa para tanto. O que temos aqui são motivos (elemento subjetivo interno ao doador, que não contamina o ato).
Nas causas, o interesse atingido com o adimplemento da obrigação é o da outra parte, enquanto, nos motivos, os interesses atingidos são os do próprio praticante.
A liberalidade consiste em concordar em se empobrecer a fim de enriquecer o outro. Nos contratos onerosos, a causa de um é o interesse do outro, ao passo de que nos contratosgratuitos a liberalidade faz as vezes da causa, ou seja, não é a causa.
Por outro lado, ao donatário cabe aceitar ou não a doação. Essa aceitação, via de regra, deve ser expressa, mas nada impede que ela seja tácita.
Há algumas hipóteses em que o donatário não tem condições de manifestar a aceitação:
Nascituro – por motivos óbvio, o nascituro não pode manifestar a aceitação, por isso o CC determina que ela deve ser feita expressamente pelos pais.
Menores ou incapazes – apesar de poder manifestar-se, não têm poder para tal, demandando seus representantes legais para fazê-lo. Aqui a aceitação pode ser tácita. O silêncio presume a aceitação (o representante deve dizer expressamente “não”).
Por aperfeiçoamento da condição – a doação só se efetivará quando uma condição preestabelecida for atingida (evento futuro e incerto, ou seja, condição).
Prole eventual – a doação é feita em favor dos eventuais filhos que venham a nascer (se a prole vier a existir, a doação se efetiva)
Doação propter nuptiae – a doação só se efetiva quando ocorrer o matrimônio (pode-se inclusive ser mais específico e determinar quem deve ser o cônjuge a fim de efetivar a doação).
Objeto: 
Pode ser feita doação de coisas e bens móveis ou imóveis;
Forma:
O contrato de compra e venda deve sempre ser formal (com contrato público ou privado, de acordo com o caso).
A exceção é a doação manual, também chamada de doação de pequeno valor (presentes, lembrancinhas e afins). Como a liberalidade pressupõe o empobrecimento do doador e o enriquecimento do donatário, a expressão “pequeno valor” é subjetiva, dependendo do patrimônio do doador. Se não houver o empobrecimento relevante do doador, é uma doação de pequeno valor.
Requisitos
Ascendentes-descendentes
É dispensável a concordância do cônjuge e dos demais descendentes porque o CCB traz um mecanismo de defesa dos demais herdeiros – é um controle do patrimônio. Todo patrimônio se divide em duas parcelas – uma delas se chama de parcela legítima, que são necessariamente passadas aos herdeiros legítimos (por isso são chamados de herdeiros necessários, pois não podem ser afastados pelo autor da herança); a outra se chama parcela disponível, pois é aquela que o autor da herança dispõe da maneira que desejar.
Se durante a vida o ascendente fizer doações para os descendentes, esses valores serão considerados adiantamentos de legítimos. Quando o autor da herança morrer e os herdeiros forem partilhar os bens aquele valor doado é “trazido à colação” da parcela necessária para que haja uma compensação para os demais herdeiros que não receberam adiantamento. Se o valor final da partilha for inferior ao do adiantamento, o herdeiro que se beneficiou da doação deverá entregar aos demais o valor correspondente às suas parcelas.
Se na hora de fazer a doação, o autor da futura herança desejar doar uma parte da parcela disponível, o testador deve deixar expresso que o donatário está dispensado da colação. É importante ressaltar que o valor dispensado da colação deve caber dentro do valor da parcela disponível. O que não couber dentro dela será levado à colação normalmente.
De cônjuges para terceiros
Para que um cônjuge possa doar qualquer bem do patrimônio do casal, ele depende da outorga conjugal, uma forma de homologar a aceitação da doação feita por um dos cônjuges.
Quando o marido quer doar, ele precisa da outorga uxória (da esposa) e quando a esposa quer doar, ela precisa da outorga marital (do marido).
A recusa não é discricionária, deve ser fundamentada. Caso o doador não receba uma outorga suficientemente fundamentada, ele pode abrir uma ação suspensória de outorga.
Nos regimes de separação absoluta, não há necessidade de outorga (Art. 1648 CCB).
Além da situação genérica citada acima, existem outras três que dispensam a outorga:
- Propter nuptias para filho;
- Doação para que o filho se estabeleça financeiramente ou para facilitar as circunstâncias para que o filho possa casar-se;
- Doação remuneratória (doação motivada pela gratidão a alguém que o doador sinta que esteja em dívida).
Entre cônjuges
Se o bem é comunicável entre os cônjuges, um cônjuge não pode doar para o outro.
Somente os bens não comunicáveis entre os cônjuges é que podem ser doados entre eles.
Ao cúmplice do adultério
A doação feita por um cônjuge a seu cúmplice no adultério é nula e deve ser requerida até dois anos depois da morte do doador ou do divórcio.
Entidade futura
Uma fundação é criada por patrimônio doado (ela só existirá após a doação). É uma doação condicional, que somente se aperfeiçoa se a entidade futura se constituir de fato em até dois anos.
Tutor ou curador
Só podem receber doações dos curatelados/tutelados se tiverem autorização judicial e não podem, nem com autorização judicial, realizar doações do patrimônio do tutelado/curatelado.
Objeto
Dois requisitos para a validade da doação:
Doação universal
O doador se desfaz de todo o seu patrimônio. Essa doação só é válida se o doador resguardar patrimônio suficiente para manter seu sustento. Isso é feito fazendo a doação da nua propriedade (doa-se a propriedade apenas com o poder de disposição sem as vestes de seus poderes de gozo e fruição).
Doação inoficiosa
Quando for feita a doação, ela não pode exceder a parcela disponível, ou seja, sem afetar a parcela legítima (no máximo 50% do patrimônio). A doação que extrapolar a parcela disponível é chamada de inoficiosa, pois é invalidada proporcionalmente para que se faça caber dentro da parcela disponível.
Isso só se aplica para doações a não herdeiros, pois caso o donatário seja herdeiro do doador, usa-se a ideia de adiantamento de legítimo.
Modalidades
Pura
Até agora estudamos a doação pura, modelo básico. Entretanto há algumas modalidades que a altera.
Doação onerosa
Todo contrato é um negócio jurídico bilateral, ou seja, deve ter convergência de vontades de duas partes. Quando essas vontades se fundem, elas devem estabelecer as obrigações do contrato. Quando as obrigações se dividem entre as partes, o contrato será bilateral. Por outro lado, se as obrigações se concentrarem em apenas uma das partes, o contrato será unilateral.
Nos contratos unilaterais, como a doação, somente uma das partes terá obrigações. Entretanto o donatário poderá ter que dispender algum tipo de esforço para que a doação se concretize. Não é uma obrigação em sentido técnico, mas apenas uma forma de comportamento, um ônus do donatário – a obrigação é um vínculo jurídico que faz com que o credor tenha o poder de cobrar o devedor (o não cumprimento prejudica o credor), enquanto no ônus não traz um vínculo entre os sujeitos tão forte, fazendo apenas com que o bônus seja retirado em caso de não cumprimento do ônus (o não cumprimento prejudica o “devedor”). O não cumprimento do encargo do donatário importa no desfazimento da doação.
Essas doações são chamadas de onerosas, modais ou com encargos.
Se o ônus for tão oneroso ou até mesmo proporcional ao bônus da doação, caracteriza-se a compra e venda. Deve haver uma desproporção entre o ônus e o bônus, para que se caracterize a doação.
Doações motivadas
O motivo subjetivo da doação é irrelevante. A exigência é apenas de que o animus donandi esteja presente, ou seja, o doador queira de fato realizar a doação e não a realize acreditando estar realizando outro tipo de negócio jurídico.
Exceto na hipótese do art. 140 – CCB. Existem dois motivos expressamente citados pelo código civil como determinantes para doações.
Doação remuneratória
A doação é feita motivada por algum sentimento de dívida do doador para com o donatário. Isso é importante porque se posteriormente verificar-se que o fato motivador do sentimento da dívida era falso, pode-se desfazer a doação.
Por merecimento
Semelhante ao anterior, mas aqui o motivo é a premiação de um ato do donatário por intermédio da doação.
Doação condicional
É condicionada à ocorrência de um fato futuro e incerto. A ocorrência do fato condicional aperfeiçoa a doação (cláusula comefeito suspensivo).
Doação por subvenção periódica
É uma doação com trato continuado, ou seja, que ocorre a cada período de tempo, se prolongando no tempo (contrato diferido no tempo).
Via de regra, a doação cessa com a morte do doador. Entretanto a lei permite que o doador autorize a continuação da doação mesmo após a morte (cláusula de continuidade).
Por outro lado, a morte do donatário sempre será extintiva da doação (não existe sucessão da doação por regra geral, apenas em casos muito específicos).
Doação com cláusula de reversão
O objeto da doação incorpora o patrimônio do donatário e, em caso de morte dele, o patrimônio passa para seus sucessores.
A cláusula de reversão determina que em caso de morte do donatário, o objeto da doação deverá retornar ao patrimônio do doador, mesmo que ele tenha vendido esse objeto.
Doação conjuntiva
É feita em favor de mais de um donatário (para um grupo de donatários). O doador estabelece a proporção que caberá a cada donatário e, no silêncio do doador, considera-se que todas as partes são iguais.
Se a doação conjuntiva é feita para um casal, cada um recebe 50%. Em regra, se fossem casados em regimento de separação absoluta, a morte de um deles faria com que o outro não recebesse a sucessão, sendo passada direto aos descendentes. Entretanto, a doação conjuntiva não é passível de sucessão imediata, ou seja, se um cônjuge morrer, o objeto da doação irá para o outro e somente depois para os descendentes.
Revogação
É a forma de extinção dos contratos benéficos (doação, por exemplo).
A revogação pode estar baseada nos benefícios ou na confiança.
Em alguns contratos, a revogação pode ser imotivada. Em outros, por outro lado, a revogação deve ser ensejada, a fim de criar um ambiente de segurança para o contratante. A revogação da doação deve sempre ser motivada:
O CCB prevê duas hipóteses de revogação:
Descumprimento do encargo
Somente o doador pode exigir o cumprimento do encargo (nunca seus sucessores), exceto se o encargo se referir a um beneficiário público ou “encargo com interesse público” (por exemplo, recebeu uma doação com o encargo de construir uma praça no bairro). Nesses casos, o MP tem legitimidade para exigir o cumprimento do encargo. Essa legitimidade é sucessiva, ou seja, o MP só pode exigir quando o doador não o fizer por estar morto.
Revogação por ingratidão
Por atos que a lei permita a revogação (art. 557 – CCB):
Homicídio ou tentativa de homicídio do donatário contra o doador;
Lesão corporal do donatário contra o doador;
Injúria, calúnia ou difamação do donatário contra o doador;
Negação de alimentos.
Essa lei está sendo interpretada exemplificativamente, na prática.
O importante é salientar que essas causas são as mesmas de deserdação.
Os três primeiros motivos são considerados quando praticados contra o doador ou contra seus descendentes, ascendentes ou cônjuge.
Os alimentos podem ser familiares, conjugais ou decorrentes de ilícitos. Existe um quarto tipo de alimentos que é decorrente da doação, fugindo à regra geral. Se após a doação o doador precisar de alimentos e seu alimentante não os prestar, o doador deve prestá-los (não prestando, caracteriza-se a ingratidão e a doação pode ser revogada).
A revogação por ingratidão pode ser pedida a partir da ocorrência do fato, a partir do descobrimento da ocorrência do fato ou do conhecimento da autoria do fato.
A ação revocatória da doação é personalíssima, ou seja, somente o doador pode praticá-la. Para iniciar a ação, somente o doador é parte legítima, mas em caso de falecimento dele no decurso do processo, os sucessores podem prosseguir como partes.
Se o donatário já tiver vendido o bem recebido em doação, a ação revocatória irá se converter em perdas e danos. É uma ação pessoal, não real.
É uma ação irrenunciável – não se pode abrir mão, mesmo expressamente por contrato.
Essas hipóteses de revogação por ingratidão somente se aplicam nas doações puras. As demais somente poderão ser revogadas por não cumprimento dos encargos ou outros motivos (por exemplo, a não ocorrência de condição).
CONSTITUIÇÃO DE RENDA (art. XXX e seguintes do CCB)
É uma modalidade suis generis. Na prática não é um contrato específico. Pode ser considerada como doação e assim deveria ser tratada sob essas regras ou é um contrato de direito real e deveria ser regida sob as regras do direito real.
COMODATO (art. 579 e seguintes do CCB)
Todos os contratos gratuitos comportam uma modalidade onerosa (vide a doação onerosa – a doação é a mais gratuita das modalidades de contrato e mesmo assim tem uma versão com encargos).
O comodato, entretanto, nunca poderá ser oneroso, pois se converteria em locação. A locação é a cessão da posse de bens com algum tipo de contrapartida. O comodato, para ser tipicamente considerado como tal, deve ser necessariamente gratuito.
O comodato é um contrato real e começa após a entrega do bem. A entrega não é uma obrigação a ser executada, mas a ação que deflagra a vigência do contrato.
O contrato de comodato pressupõe que o objeto entregue seja infungível, ou seja, não possa ser substituído por outro similar. Essa infungibilidade pode ser material ou jurídica (com uso de números de série ou similares).
O comodato, por definição, então, é o empréstimo gratuito de bens infungíveis e se inicia com a entrega do objeto (art. 579 – CCB).
No caso de bens de tutelados/curatelados, só se pode fazer comodato com autorização judicial.
Não é um contrato solene, aceitando a forma verbal.
Contrato de comodato interessado
Continua sendo gratuito, mas é feito como instrumento de um contrato oneroso. É conexo com o contrato oneroso de modo a permitir que ele possa ser executado.
Obrigações do comodatário
O comodatário tem obrigações intermediárias e outras finais.
A obrigação intermediária é a do uso adequado e usar “como se fosse seu” (essa expressão deixa claro que o objeto não pertence ao comodatário e que também que ele deve zelar por ele de acordo com o que se espera do sujeito médio).
Dentro dessa ideia de uso adequado como se fosse seu, o custeio das despesas ordinárias é encargo do comodatário e isso não caracteriza um pagamento ao comodante. Além disso, a regra geral do direito civil prevê que o possuidor de boa fé tem direito às indenizações das benfeitorias necessárias e úteis e direito de retirar as voluptuárias. O comodatário certamente é um possuidor de boa fé. Entretanto ele terá direito à indenização apenas das necessárias, alterando a regra geral. As alterações úteis e voluptuárias somente poderão ser feitas com autorização do comodante, sob pena de não ser indenizado por elas.
Existe ainda um dever de conservação que é mais exacerbado. Aqui, não é simplesmente como se fosse seu, mas tratar melhor do que se fosse seu. Isso significa que, havendo uma situação de risco, deve-se preferir salvar primeiro os bens dados em comodato (mesmo que seja um caso fortuito). Essa norma está regulada no artigo 583.
A obrigação final é a de devolver o objeto da forma que estava, considerando o desgaste natural, obviamente.
Além disso, a devolução deve ser feita no prazo estipulado. Se o contrato tiver prazo determinado, o objeto deve ser devolvido no prazo previsto. Caso seja indeterminado, o comodante deve notificar o comodatário da devolução, dando-lhe um prazo (esse prazo será utilizado para constituição de mora).
Prazo de utilidade
Contrato de comodato com prazo indeterminado que gera uma expectativa ao comodatário de manter o contrato até o atingimento de uma finalidade específica ensejadora do negócio praticado.
Se no curso do prazo determinado ou do prazo de utilidade houver necessidade do comodante, ele poderá reaver o objeto desde que haja determinação judicial.
O contrato também será extinto em caso de morte do comodatário (é um contrato com intuitu personæ). Em caso de morte do comodante, os herdeiros devem manter o contrato.
A regra geral do direito civil prevê que sem cláusula expressa ou determinação legal, a solidariedade não é presumida.Entretanto, no comodato a regra se inverte, pois as obrigações – via de regra – serão solidárias e deverá haver cláusula expressa que determine o afastamento da solidariedade.
LOCAÇÃO
I – Conceito
Contrato pelo qual uma das partes (locador) se compromete a fornecer o uso e o gozo de uma coisa infungível, mediante remuneração à outra parte (locatário), que se obriga a restituir o bem depois de um certo lapso de tempo.
II – Legislação
Móveis – Código civil (art. 565 e seguintes) – locação sem finalidade específica.
Imóveis
Rurais – Estatuto da terra (4.504/64)
Arrendamento
Parceria
Urbanos – Lei do inquilinato (Lei 8.245/91)
Ela se aplica a imóveis residenciais ou não dentro da cidade.
Residenciais
Não residenciais
Por temporada (até 90 dias)
Essa lei tem cinco casos em que a sua aplicação é excepcionada:
Imóveis públicos (em que o Estado seja locador). Nesses imóveis, a locação será regulada por legislação específica. Diferente situação ocorre quando o Estado estiver alugando um imóvel, pois será regulado pela lei do inquilinato;
Vagas de garagem. A lei do inquilinato se aplica, mas com as regras cogentes. Pode-se então aplicar normas de locação de bens móveis para regular contratos de locação de bens imóveis (garagens).
Apart-hotéis
Contratos de shopping centers: são contratos a parte, com características mistas e autônomas. Entretanto, o mesmo dispositivo (art. 54 – Lei 8.245/91) que determina a não aplicação da lei do inquilinato nos diz que ele só se refere às normas de direito material (as regras processuais da lei do inquilinato se aplicam à locação de imóvel em shopping center).
Build to suit: são imóveis construídos para uma locação específica, com instalações e estruturas específicas para atender aquele determinado fim (por exemplo, um imóvel construído com a finalidade de atender um locatário que deseja utilizá-lo para abrir uma loja de automóveis). Esse tipo de locação é excepcionado pelo mesmo dispositivo que regula a locação em shoppings (art. 54 – Lei 8.245/91). Posteriormente, para dar uma maior garantia quanto ao valor do aluguel, criou-se o art. 54A
III – Elementos
Consentimento
Mais de 10 anos
Se o contrato de locação tiver duração superior a 10 anos, deve haver a vênia conjugal (ambos os cônjuges deverão assinar o contrato, tanto da parte locadora quanto da parte locatária).
Condomínio
Quando se tratar de aluguel de bem em condomínio, deverá haver o consentimento da maioria (não é considerado por cabeça, mas por quinhão).
Objeto
Esse tipo de contrato é a versão onerosa do comodato. Isso faz com que o bem deva ser infungível e não consumível (não pode perder sua natureza pelo uso). Além disso, esse objeto pode ser alheio (sublocação).
Forma
A locação tem forma livre, ou seja, pode assumir qualquer forma (escrita, verbal, por escritura pública ou instrumento particular, etc.).
Quando houver a necessidade de uma forma específica, sob penalidade de inexistência do negócio, chamamos de forma ad substantiam (a forma do contrato é elementar, sem ela o contrato não existe – pelo menos na modalidade que se pretenderia).
No contrato de locação, apesar de haver liberdade de forma, existe a forma ad probationem: o contrato existe, vale e produz alguns efeitos, mas para que ele produza TODOS os efeitos desejados, ele deve seguir uma forma específica. (Por exemplo: um contrato de aluguel de imóvel que traga uma cláusula expressa determinando a sua eficácia perante terceiros em caso de compra e venda. Para que esse contrato tenha eficácia perante terceiros, ele deve ser registrado em escritura pública. Para ser REGISTRADO, ele deve ser ESCRITO – sem essa forma, o contrato não terá esse efeito específico).
IV – Obrigações
Do locador (art. 22 – Lei 8.245/91, de modo EXEMPLIFICATIVO)
Ceder a posse do bem (dessa obrigação decorrem outras secundárias, que visam garantir a boa execução da obrigação principal):
Garantir a manutenção do uso pacífico do bem (os problemas de turbação de posse, são resolvidos por meio de ações possessórias, de legitimidade do locador). O locatário pode litigar na omissão do locador, com direito de regresso contra ele;
Vícios redibitórios. O locador tem a obrigação de sanar os vícios redibitórios;
Evicção. Quando o locador não poderia ter alugado o bem porque surgiu um elemento que comprovava a impossibilidade jurídica para tanto. O locatário perde o bem e o locador tem que sanar a evicção.
Apresentar relatórios de vistorias. É uma proteção do locador, a fim de garantir que ele possa cobrar a devolução do bem nas condições adequadas.
Dar recibo de quitação para o locatário sempre que ele pagar os alugueres (a quitação deve ser específica, ou seja, discriminar exatamente o que está sendo incluído no pagamento).
Pagar as taxas de administração (não pode ser repassada para o locatário).
Pagar o seguro (só pode ser passada para o locatário com cláusula expressa, pois originalmente é uma obrigação do locador).
Pagar as despesas extraordinárias do condomínio (despesas extraordinárias são aquelas que visam a manutenção da propriedade de modo a se incorporar a ela). As despesas ordinárias se referem ao cotidiano do condomínio (por exemplo: salário de funcionários ou indenizações trabalhistas posteriores ao período de locação, consumo de água, luz ou gás, etc.).
Do locatário
Pagar o aluguel como contrapartida à cessão da posse. Além de pagar, deve-se pagar em dia (ou no dia do vencimento).
A lei determina que não se pode fazer o pagamento antecipado (não se paga para usar, usa-se para depois pagar). Além disso, se não houver data convencionada, presume-se que é o sexto dia útil do mês subsequente.
Essa regra tem exceções:
Aluguel por temporada (com duração de no máximo 90 dias): permite-se o pagamento antecipado (pagar para usar);
Quando o locatário não der garantia ao locador: quando não houver garantia por parte do locatário, o locador está autorizado a inverter a regra a fim de proteger a satisfação do pagamento.
Garantia
O aluguel pode ser objeto de garantia. A lei determina quais são as garantias admissíveis e estabelece que somente poderá ser exigida uma dessas formas.
Calção real (há uma impropriedade da lei, pois calção é um gênero e a lei o utiliza como espécie)
Usa-se um bem móvel ou imóvel que é dado como garantia da locação (diferencia-se do penhor porque neste o bem garantidor deve ser entregue ao beneficiário, enquanto a calção não depende de entrega do bem). Diz-se que o bem dado em garantia é afeto ao aluguel. A calção real pode ser qualquer bem (móvel ou imóvel), inclusive dinheiro. O valor máximo que pode ser calcionado é o correspondente a três aluguéis.
Fiança:
É uma garantia fidejussória entre fiado e fiador. Não é uma coisa que responde pelo inadimplemento, mas uma pessoa.
Deve-se prestar atenção aos casos previstos na lei da impenhorabilidade dos bens de família. Apesar da regra da impenhorabilidade, há uma exceção que permite a penhora em casos de fiança de locação.
O fiador não pode sair a qualquer momento da fiança. A revogação é semelhante à doação, devendo ser motivada. Um dos motivos específicos para a revogação de fiança é o fato de o contrato de locação transpor o tempo previsto de duração e passar a vigorar em prazo indeterminado. Entretanto, após a revogação, o fiador ainda responde por 120 dias.
Seguro fiança:
É uma modalidade de fiança contratada. Enquanto a fiança comum é um contrato gratuito, o seguro fiança é um contrato oneroso (o segurado-fiado paga uma mensalidade para que a empresa se comprometa a pagar a fiança em caso de inadimplemento).
Cessão fiduciária:
Quando o locatário dá cotas de um fundo de ações para garantir a locação.
Agora voltemos às contrapartidas das obrigações do locador.
Informar ao locador quando da ocorrência de um fato turbador da posse. Se ele não informar o locador, ele ainda assim não se libera daquela obrigação de garantir a posse pacífica. Somente não será responsabilizado civilmente pelos fatos dos quais não estivesse ciente(o locatário deve informar o locador sobre o fato com a finalidade de constituir mora).
Permitir que se façam as reformas necessárias (é um dever do locador que garante um direito de manutenção do bem por parte do locador). Se as reformas durarem mais de 10 dias, o locatário tem direito de redução proporcional do valor do aluguel. Além disso, se a reforma durar mais de 30 dias o locatário poderá romper o contrato sem que seja multado.
Usar o bem de modo adequado. Isso significa usá-lo para o fim adequado (geralmente o que é acordado entre as partes, residencial, comercial, etc.). Além disso, engloba também a conservação do bem com o cuidado devido.
Permitir a devolução do imóvel do modo em que foi recebido (restituir o imóvel do modo em que foi recebido).
Durante o período de locação, o locador tem o direito de fazer vistorias. Assim, o locatário tem o dever de permitir a realização dessas vistorias.
Pagamento das obrigações ordinárias de condomínio, além de se submeter às regras condominiais.
Benfeitorias
Necessárias: sem elas, a utilização do bem se torna inviável (exemplo: reparar o telhado que caiu);
Úteis: independente da apreciação das partes, objetivamente agrega valor ao bem (exemplo: construir uma garagem);
Voluptuosas: mesmo que agreguem valor ao bem, é subjetivamente avaliada pelas partes, podendo o proprietário não aprová-las.
As benfeitorias necessárias feitas pelo locatário, mesmo sem autorização do locador, devem ser indenizadas por ele (se o locador não autorizar, a benfeitoria deve ser desfeita e o bem devolvido na forma que estava). Por outro lado, as benfeitorias úteis e voluptuosas devem ser autorizadas pelo locador. Quando autorizadas, as benfeitorias úteis geram direito de indenização e as voluptuosas geram o direito de retirar ou deixar o bem.
Quando houver o direito de indenização, o locador terá o direito de retenção, ou seja, ele não será obrigado a devolver o bem até que receba o valor que é devido.
Direito de preferência: previsto na lei do inquilinato (direito de preferência legal).
Assim como no condomínio, o locatário tem direito legal de preferência.
Permanece a regra do tanto por tanto, ou seja, ele deve pagar o mesmo ou cobrir a proposta dada inicialmente por outro interessado ou feita pelo locador de maneira global.
Neste caso a lei estabelece um prazo diferente para exercício da preferência: 30 dias.
Ainda, aceita a proposta de preferência, se não for efetivado o negócio deverá ser indenizado o vendedor.
Por se tratar de um direito de preferência legal, a ação cabível quando esse direito for violado é adjudicatória. Entretanto, esse é um efeito ad probationem: o contrato deve ser escrito e registrado com ao menos 30 dias de antecedência. Se não respeitar essa forma, locador tem o direito de preferência, mas caso não respeitado, não terá direito a ação adjudicatória, apenas indenizatória.
Concorrência de preferências
Quando houver um locador e um condômino, quem terá preferência dentre os que têm preferência? O condômino, pois isso não alteraria a locação (o condômino é “coproprietário” do bem, assim, não poderá ser utilizado o argumento de que o novo dono não deseja o locatário por não haver um novo dono).
Alterações no contrato
Sublocação
A sublocação só é possível porque a posse é transmitida ao locatário (natureza do contrato de locação). Nas sublocações, o locatário se torna locador de um terceiro, firmando um subcontrato.
Autorização
Para que a sublocação valha, é necessário que o locador primitivo autorize. Até mesmo para que o locador tenha ciência de quem irá receber a oferta preferencial de compra.
O locatário deve notificar previamente o locador, que deverá responder negativa ou positivamente em até 30 dias. A aceitação pode ser expressa ou tácita – no caso de silêncio, configura-se a aceitação tácita (hipótese de aceitação não expressa).
Valor
O valor da sublocação deverá sempre ser inferior ou igual o valor da locação. Se houver rateio entre locatário e/ou sublocatários, a soma dos valores individuais não deve ultrapassar o valor da locação.
Caso ultrapasse esse valor, o sublocatário está liberado de pagar proporcionalmente o excedente.
O locatário não pode explorar economicamente a propriedade alugada.
Responsabilidade
A rigor, o locador não tem vínculo direto com o sublocatário. Entretanto, este fica subsidiariamente obrigado diante daquele (caso o locatário não pague, o sublocatário poderá ser cobrado), pois surge um vínculo pela cláusula que autoriza a entrada do sublocatário.
Numa eventual ação de despejo, o sublocatário não é réu, mas poderá ingressar como litisconsorte assistencial para o locatário, pois tem interesse direto (se o locatário for despejado, ele também será).
Cessão
Nesta modalidade, o locatário transfere integralmente as responsabilidades para um terceiro, deixando de integrar aquela relação contratual. Para que algum dos locatários solidários se retire do contrato, por exemplo, deve haver uma autorização do locador.
Em alguns casos, a lei admite a “cessão imprópria”, hipóteses em que a lei determina que o locador tem a obrigação de aceitar o sujeito que irá assumir o contrato. Vejamos:
Morte
Em casos de morte do locatário, o locador é obrigado a continuar a locação com o cônjuge, os herdeiros ou quem vivia com o locatário por dependência econômica.
Divórcio ou dissolução da sociedade conjugal
Se o locador se casar após o início do contrato de locação e posteriormente vier a divorciar-se, o locador terá que aceitar a cessão para o cônjuge, caso ele ficar residindo no imóvel.
Espólio
Se por algum motivo houver uma locação para alguma pessoa jurídica e o seu representante vier a falecer, o espólio da empresa permanecerá na titularidade cedida do contrato de locação
Extinção
Como se finaliza a relação contratual? Sendo um contrato, aplicam-se a eles as regras gerais de extinção.
Normal
- Por distrato;
- Mútuo acordo;
- Por inadimplemento de uma das partes;
- Resilição bilateral, para os contratos de trato sucessivo quando houver inadimplemento (os efeitos são prospectivos, ex nunc). Funciona de modo semelhante à resilição ordinária, mas os efeitos não retroagem.
Especial
Quando, mesmo não havendo inadimplemento e o contrato sendo de prazo indeterminado, uma das partes decida encerrar a relação contratual, ela pode decidir por fazê-lo sem precisar apresentar nenhuma justificativa. A essa forma de extinção contratual nós chamamos de resilição unilateral. Teremos aqui uma denúncia vazia do contrato (vazia de motivações).
Entretanto, lei considera que alguns contratos podem gerar uma dependência muito grande de uma das partes, tendo uma assimetria exacerbada em relação à outra parte. Por isso, em alguns casos, a lei transforma essa denúncia em “denúncia cheia” (com motivos que a justifiquem). Ambas as hipóteses existem para as locações, tanto residenciais quanto não residenciais, com tratamentos diversos para cada um dos casos.
Residencial
Se a locação for residencial, devemos averiguar os termos iniciais da contratação. Se o contrato de locação iniciar com prazo determinado, quando findar o prazo o contrato estará extinto (na prática, o que ocorre é que após transcorrido o prazo determinado, se nenhuma das partes se manifestar, o contrato convalesce de modo indeterminado). Se o contrato for de prazo determinado igual ou superior a trinta meses e depois se prolongar com prazo indeterminado, a parte que desejar extinguir o contrato apresentará denúncia vazia.
Se o contrato já se iniciar com prazo indeterminado ou se iniciar com prazo menor de 30 meses, a denúncia deverá necessariamente ser cheia.
A lei determina alguns motivos que são capazes de justificar a denúncia cheia:
Extinção do contrato de trabalho;
Para uso próprio – para se valer desse motivo, o sujeito deve:
Não possuir outro imóvel na localidade;
Não pode já ter feito uso dessa regra (pode até já ter feito, mas terá que comprovar judicialmente a necessidade de usar essa regra);
Realizaçãode obras (Cuidado, pois não são quaisquer obras. Já vimos que algumas obras de reparação são de responsabilidade do locador e que elas não podem importunar o locatário. Essas obras devem representar um aumento de mais de 20% da área, o que desconfigura a ideia de reparação, trazendo a ideia de modificação substancial do imóvel).
Se o locador for insincero em sua denúncia, não realizando o motivo que usou para a denúncia, ele deverá indenizar o locatário (ele não volta a morar no imóvel, mas obtém o direito de indenização)
Quando se passarem mais que cinco anos além do tempo do prazo estabelecido ou do início do contrato, quando se tratar de prazo indeterminado.
Se o contrato tiver prazo determinado, nunca o locador poderá retirar o locatário, mesmo que tenha denúncia cheia. Por outro lado, o locatário poderá sair antes do prazo determinado, gerando direito de indenização para o locador. Essa indenização não pode representar todo o período restante. Estabelece-se uma multa contratual ou, no silêncio do contrato, o juiz a fixará. Nada mais é que uma cláusula penal.
Se a cláusula penal for excessiva, o juiz poderá reduzi-la (subjetivamente, de acordo com as circunstâncias – quanto menor o tempo restante até o vencimento do prazo, menor a multa e vice-versa).
Existe uma exceção para a aplicação da multa para o locatário que sair antes do prazo. Quando o locatário sair por conta de transferência de emprego, ele ficará isento da multa (o interesse e a utilidade do contrato são usados para justificar a isenção).
Não residencial
A regra geral é a denúncia vazia, ou seja, não interessa a forma como o contrato se inicia – a qualquer momento o contrato pode ser extinto sem indenizações.
Entretanto, se o locatário tiver um motivo, ele pode encher a denúncia a fim de afastar a vontade do locador (a lógica se inverte – o locador não dá motivos para retirar, mas o locatário apresenta motivos para não sair).
A exceção da regra geral citada acima, será utilizada quando o locatário tiver ação renovatória (é a hipótese que a lei cria para dar garantia ao locatário que o comércio dele permanecerá naquele local).
As hipóteses que o locatário tem direito de ação renovatória são:
Contrato escrito e com prazo determinado;
O prazo deve ser de no mínimo cinco anos (Contados em um ou mais contratos, ou seja, podemos somar o tempo dos vários contratos para considerar esse tempo total de cinco anos, além dos intervalos existentes entre um contrato e outro por questões burocráticas);
O comércio deve ter, no mínimo, três anos no mesmo ramo.
Caso haja sublocatários, são os ocupantes efetivos do imóvel é que terão o direito de ação renovatória.
A ação renovatória deve ser proposta entre um ano a seis meses antes do vencimento do contrato (antes é pretempestiva e depois é intempestiva, decaiu o direito).
O fundo de comércio e a ação indenizatória só ocorrerão nesses casos.
Além disso, esses requisitos são de direito material.
Quando houver a ação renovatória, qual vai ser a defesa do locador? Só tem duas defesas possíveis. A primeira é formal, negando o preenchimento de algum requisito material para a propositura da ação ou a pretemestividade/intempestividade. A segunda defesa é a denúncia cheia para afastar a ação renovatória. Os motivos para a denúncia estão listados a seguir:
Execução de obras determinadas pelo poder público ou que aumentem o valor do bem;
O uso próprio para um fundo de comércio/negócio que o locador possua (deve haver um comércio; o comércio deve ter mais de um ano; deve ter um ramo diferente do explorado pelo locatário);
A existência de uma proposta melhor.
Exceto no caso de obras determinadas pelo poder público, a denúncia cheia vai justificar a retirada do locatário, mas trará a obrigatoriedade de nova ocupação em até três meses, sob penas de correrem indenizações por perdas e danos, inclusive com lucros cessantes.
No caso de melhor proposta de terceiro, mesmo que haja ocupação dentro dos três meses, sempre haverá o dever de indenizar perdas e danos.
Existe ainda uma hipótese de extinção que se aplica a ambos os tipos de imóveis (residenciais e não residenciais): a venda do imóvel.
Quando o contrato de locação não contiver cláusula que vincule um eventual comprador futuro com a locação corrente, a compra e venda acarretará na extinção, caso o novo proprietário assim o desejar.
Relembrando que essa cláusula deve ser expressa e o contrato deve ser registrado em cartório para dar publicidade ao ato (contrato escrito e registrado – condição ad probationem).
Peculiaridades
Solidariedade
Na locação, a solidariedade é imposta por lei, mesmo que não haja cláusula contratual neste sentido.
Revisão
A regra geral é de que só se faz a revisão de um contrato quando houver uma causa extraordinária. Nas locações há uma regra específica que autorizam locadores e/ou locatários a fazerem revisões contratuais a cada três anos (para mais ou menos).
O prazo de três anos é contado a partir da última fixação do valor do aluguel.
Regime diferenciado
Em caso de hospitais, estabelecimentos de ensino e entidades religiosas, a denúncia cheia só será justificada por execução de obras determinadas pelo poder público ou que visem aumentar a área em no mínimo 50% (na regra geral, são 20%).
Além disso, o prazo para despejo é maior.
Ações
A lei tratou de criar quatro ações específicas para os contratos de locação:
Ação renovatória (para obrigar o locador a renovar o contrato);
Ação revisional de aluguel (para aumentar ou diminuir o valor do aluguel quando haja necessidade);
Ação de consignação de aluguel (deposita-se o aluguel em juízo quando haja litígio acerca do valor ou problemas com a obtenção de recibo de pagamento);
Ação de despejo (qualquer ação do locador que vise rescindir o contrato de locação).
Diferença entre lei do inquilinato e CCB
Os artigos do CCB que tratam da locação têm apenas uma diferença entre as regras da lei de locações de imóveis urbanos.
Na lei do inquilinato, apenas o locatário pode pedir a extinção do contrato durante o período de vigência (para bens imóveis). Por outro lado, o CCB determina que ambas as partes poderiam fazer isso (para bens móveis).
MATERIAL PARA A 2ª PROVA
MÚTUO (Art. 586 e seguintes – CCB)
Conceito:
Contrato pelo qual o mutuante empresta coisa fungível ao mutuário, que devolverá posteriormente coisa do mesmo gênero, quantidade e qualidade.
Enquanto no comodato o comodante não precisa ser dono do bem, no mútuo é essencial que o mutuante seja o proprietário do bem, pois ele irá alienar essa propriedade ao mutuário (obviamente não se pode alienar a propriedade que não se detenha).
O mutuante transfere a propriedade da coisa para o mutuário (res perit domino – a coisa perece para o dono: será o mutuário quem sofrerá os efeitos do risco após a tradição).
Real: se aperfeiçoa com a entrega da coisa.
Unilateral
Gratuito, em regra geral
Oneroso (mútuo feneratício – art. 591)
Mesmo na modalidade onerosa, só haverá obrigações para uma das partes.
Sobre o mútuo feneratício podemos destacar a súmula 596 – STF, que diz que “não se aplica a lei usura às instituições financeiras”. Ou seja, os bancos estão livres para pactuar os juros conforme a prática do mercado, sob controle do BaCen.
Elementos
Consentimento
Mútuo macedoniano
É o mútuo feito a pessoa menor de idade. Não pode ser recobrado, mesmo para o fiador (é proibido o mútuo a menor, mas se for feito, não pode ser cobrado) – trata-se de obrigação natural, que existe é válida, mas ineficaz (não pode ser exigida judicialmente) – art. 588.
Menor de idade não pode ser mutuário. Mas há cinco casos em que o menor poderá ser cobrado (art. 589):
Ratificação: Se devidamente representado e assistido, a ratificação do assistente/representante ao mútuo realizado pelo menor irá validá-la. Cobra-se do menor, mas se ele não tiver patrimônio, cobra-se do representante/assistente que ratificou (subsidiariamente).
Alimentos: no caso de o pagamento dos alimentos não estar sendo pago e hajanecessidade do alimentando, o mútuo não precisará nem ser ratificado (se comprovada essa situação, poderá ser cobrado do menor ou do seu representante, que seria o titular do dever de alimentar).
Trabalho próprio: se o menor tiver renda própria, pode haver a cobrança do mútuo, porém limitada ao valor do patrimônio do menor (o que exceder não pode ser cobrado),
Benefício do menor: se ficar comprovado que o mútuo se reverteu em benefício do menor (e não por meros consumos aleatórios), pode-se cobrar normalmente.
Ocultação maliciosa da menoridade mal: se o menor ocultou maliciosamente a idade para obter o mútuo, ele não poderá se valer da regra que o protege.
Objeto
Fungível e consumível: com o uso se desgasta e desaparece; será devolvido outro de igual natureza, qualidade e quantidade.
$=reais; DL 857/69: geralmente se relaciona com dinheiro. No direito brasileiro, todas as negociações financeiras (inclusive o mútuo) só podem ser feitas na moeda de curso forçado, atualmente o real (essa regra foi criada pelo decreto lei 857/69). Entretanto há quatro exceções:
Importações/exportações: nessas transações, pode-se fazer transações em moeda estrangeira;
Câmbio: obviamente, a troca de moeda é necessária;
Residência e domicílio no exterior: se qualquer das partes – mutuante ou mutuário – tiver residência e domicílio, o contrato pode ser feito em moeda estrangeira (mesmo que haja qualquer alteração posterior nesse contrato – uma cessão de crédito, por exemplo –, ele poderá ser mantido em moeda estrangeira);
Forma: não há restrições ou exigências de forma.
Modalidades
Gratuito
Não significa que o mutuário não tenha obrigações, mas o cumprimento da sua obrigação não altera o seu patrimônio (durante o curso do contrato, o mutuante cede parte de seu patrimônio ao mutuário, mas ao fim, com a devolução desse patrimônio, o patrimônio do mutuário não diminui, pois só devolve exatamente o que lhe foi emprestado).
Oneroso (feneratício ou destinado a fins econômicos)
A contrario sensu, no mútuo oneroso, o mutuário deve entregar ao mutuante algo além daquilo que lhe foi emprestado. Os frutos do dinheiro são os juros, por isso, quando falamos em mútuos de dinheiro, nos referimos à modalidade dos juros. O mutuário deve entregar ao mutuante um valor de caráter remuneratório/indenizatório correspondente ao período em que a coisa deixou de estar à disposição dele.
O mútuo oneroso pode ser dividido em dois tipos:
Civil: qualquer mútuo não realizado por instituição financeira, independente da finalidade.
No mútuo civil, existe um limite para cobrança de juros (prevista por remissão – art. 406, CCB c/c art. 161, §1º – CTN); os juros do mútuo civil se limitam aos cobrados pela fazenda nacional (a variação da SELIC durante o período). Esses juros são chamados de compensatórios, ou seja, servem apenas para compensar o fato de um sujeito estar usando o patrimônio do outro. Obviamente, se o pagamento for atrasado, também haverá a cobrança de juros moratórios, que também será limitado à SELIC (o devedor vai pagar duas vezes a SELIC).
No mútuo civil não pode haver capitalização mensal (os juros serão cobrados na forma simples, não composta). Entretanto, a cada 12 meses os juros viram capital, ou seja, no aniversário da dívida ela será “atualizada” e os juros serão calculados pelo novo valor.
Financeiro: são aqueles feitos por uma instituição financeira (autorizada pelo BaCen).
Quanto de juros uma instituição financeira pode cobrar? Não há limite (não se submetem à taxa SELIC) e as taxas variam de acordo com o tipo da transação efetuada (cheque especial, cartão de crédito, empréstimo pessoal, etc.). Houve uma tentativa de limitar constitucionalmente os juros bancários à 12% a.a., mas isso foi derrubado. O fato de não haver limitação não significa, entretanto, que se possa cobrar juros abusivos (não devem exceder a média do mercado).
Quanto à capitalização, havia uma súmula do STF (121) que dizia que as instituições financeiras poderiam capitalizar os juros (os juros eram cobrados na forma composta). A MP 2.170/01 firmou esse sistema, permitindo a capitalização para períodos inferiores a um ano. Essa MP foi contestada por alegações de ser inconstitucional por se considerar que o assunto não era cabível para MP, mas está vigorando até hoje, pendendo de julgamento.
Prazo
Agrícola: colheita
Dinheiro: se não houver determinação das partes, 30 dias
Outras coisas: o prazo determinado pelo mutuante
Exceção de seguridade
Quando houver alteração econômica que ponha em risco a execução da obrigação, o credor pode pedir que o devedor apresente garantia (art. 590 – CCB), mesmo que não haja cláusula específica determinando isso.
DEPÓSITO
Conceito (art. 627)
Alguém que detém a posse ou a propriedade de um bem (depositante), o deposita sob a posse de outrem (depositário) para que o guarde e o mantenha para devolução posterior, quando for solicitada.
Via de regra, é unilateral, pois só traz obrigações para o depositário. Entretanto, pode aceitar a modalidade bilateral nos casos em que o depositário recebe uma remuneração para manter a guarda do bem depositado. Quando for unilateral, será gratuito e quando for bilateral, será oneroso.
Sempre que assumir a forma bilateral, logo onerosa, será um contrato comutativo, onde ambas as partes já conhecem exatamente quais serão as suas obrigações e direitos.
Em qualquer dessas modalidades, o contrato sempre será real, ou seja, só vigora a partir da entrega do objeto para o depositário (a entrega é elemento deflagrador).
Quanto à sua forma de execução, é um contrato de execução diferida, pois os deveres das partes são cumpridos em momento distinto ao da celebração do contrato, prolongando-se no tempo.
Quanto à sua forma, há quem defenda que é informal, não requerendo uma formalidade para que o contrato seja válido, mas depende da forma escrita para surtir alguns efeitos (ad probationem). Para quem pensa assim, há uma má interpretação do código, pois ele determina que o depósito voluntário só se comprova por escrito, levando-nos a entender que se trata de um contrato formal. Segundo essa corrente, o que o CC nos determina na verdade é que, caso haja um litígio acerca da avença, a comprovação do contrato se dará mediante a apresentação de algum documento escrito, não necessariamente um contrato formal.
Citemos como exemplo o caso dos guarda-volumes em aeroportos. Dificilmente se fazem contratos formais, o que não exclui a existência de um acordo entre as partes, logo, um contrato. Entretanto, caso seja necessário comprovar a avença, pode-se utilizar do canhoto concedido pelo atendente para que se comprove a propriedade do volume depositado na hora de retirá-lo (ou seja, um documento escrito).
Quanto à capacidade para celebrar o contrato de depósito, o depositário tem que ser pessoa capaz. O depositante, mesmo incapaz, pode contratar o depósito com o auxílio do assistente ou representante.
Caso o depositário se torne incapaz durante a vigência do contrato, o seu assistente/representante deve notificar o depositante para que o bem depositado seja retirado.
Na hipótese de o depositante não desejar recolher o bem, o assistente/representante deve encaminhá-lo a um depósito judicial.
O contrato de depósito (quando regulado pelo código civil) deve ter por objeto um bem móvel, corpóreo e infungível.
Elementos
Consentimento: o depositário deve ser maior e capaz. No caso de incapacidade superveniente, o contrato deve ser interrompido (o curador irá devolver o bem depositado, pois a incapacidade superveniente impede a continuidade do contrato).
Objeto: deve ser bem móvel, corpóreo e infungível.
Para os bens móveis fungíveis, o objeto depositado irá se misturar (por exemplo, o dinheiro depositado no banco). Esse depósito é conhecido como irregular, pois não segue as regras gerais desse tipo de contrato, mas do mútuo.
Forma: ad probationem. Deve ser comprovado mediante prova escrita.
Obrigações
Obrigações do Depositário
Guardar, zelar, proteger: o depósito tem esses objetivos

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